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Conexões Mata atlantica vai a escola

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Conexões
● Capa
● Apresentação
● Objetivos do módulo
● Olá
● Quem escreve
● 1 - Extraordinária biodiversidade
● 1.1 - Felinos e vida vegetal
● 1.2 - Sons e cheiros
● 1.3 - Um azul que se compõe com o verde
● 2 - Mobilizando significados
● 2.1 - Mito da natureza intocada
● 2.2 - A natureza é útil?
● 3 - Povos originários e manejos sustentáveis
● 3.1 - Mitos e lendas
● 3.2 - Plantas que alimentam, plantas que curam
● 3.3 - Restauração de sentidos
● Pratique e Compartilhe
● É isso aí
● Referências
VOCÊ
JÁ
VIU
100%
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#capa
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#apresentacao
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#objetivos-do-modulo
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#ola
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#quem-escreve
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#1---extraordinaria-biodiversidade
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#1.1---felinos-e-vida-vegetal
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#1.2---sons-e-cheiros
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#1.3---um-azul-que-se-compoe-com-o-verde
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#2---mobilizando-significados
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#2.1---mito-da-natureza-intocada
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#2.2---a-natureza-e-util?
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#3---povos-originarios-e-manejos-sustentaveis
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#3.1---mitos-e-lendas
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#3.2---plantas-que-alimentam,-plantas-que-curam
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#3.3---restauracao-de-sentidos
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#pratique-e-compartilhe
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#e-isso-ai
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APRESENTAÇÃO DO MÓDULO
Que tal desafiarmos nossos jovens a estabelecerem conexões sensíveis e
particulares entre os conteúdos apontados na BNCC – Base Nacional Comum
Curricular e os aspectos de seu cotidiano? A ideia é provocar olhares que
ampliem significados e habilidades investigativas por meio de um
aprofundamento analítico sobre a realidade. Desse modo, incentivamos a busca
por resoluções e aperfeiçoamentos de processos produtivos que visem minimizar
impactos socioambientais e melhorar as condições de vida em âmbito local,
regional e/ou global para todos os seres vivos.
Competências e habilidades a serem desenvolvidas de acordo com a BNCC
(BRASIL, 2018): EM13CNT203, EM13CNT206, EM13CNT301, EM13CNT302.
OBJETIVOS DO MÓDULO:
 apresentar as causas da SOS Mata Atlântica e suas particularidades;
 reforçar a importância do exercício da cidadania a partir de vivências
pessoais;
 compreender políticas públicas como ferramenta fundamental para a
conservação e restauração da Mata Atlântica;
 ressaltar a educação ambiental como imprescindível para o envolvimento
jovem e a importância da Política Nacional de Educação Ambiental para o
ensino;
 perceber as interferências negativas e positivas do ser humano na natureza
e buscar conscientizar os estudantes para a necessidade da preservação e
conservação da biodiversidade, considerando parâmetros qualitativos, a
partir da observação da vida e do cotidiano;
 discutir as consequências das mudanças climáticas e meios de mitigá-las;
 promover atividades didáticas que despertem as sensibilidades em relação
aos seres vivos e a compreensão das relações entre a dinâmica da vida
silvestre e as necessidades de ações humanas, para garantir a
sobrevivência das espécies;
 compreender a relevância das práticas dos povos tradicionais em relação
aos valores e à visão de futuro;
 possibilitar aos educadores e estudantes um processo contínuo de
Alfabetização Científica (AC);
 favorecer discussões por meio de situações-problema com temas
relacionados às Ciências da Natureza;
 propiciar uma leitura crítica dos fenômenos e a investigação científica, a
partir de atividades de pesquisa, com base na realidade local do estudante;
 possibilitar sistematizações por meio de tabelas como instrumentos na
construção de raciocínios investigativos.
A Fundação SOS Mata Atlântica foi criada em 1986 e tem como missão inspirar a
sociedade em defesa da Mata Atlântica, uma floresta megadiversa. Hoje, a
Fundação tem três causas principais: Restauração da Floresta, uma prática que
envolve a recuperação gradual da floresta e sua biodiversidade; Áreas protegidas,
que visa ampliar e fortalecer as Unidades de Conservação; Água limpa, que busca
recuperar rios e bacias hidrográficas na Mata Atlântica. Para atingir seus
objetivos, a Fundação trabalha com a promoção de políticas públicas, advocacy,
comunicação, mobilização e educação ambiental.
Considerando essas causas, como podemos estimular nossos estudantes a
elaborarem soluções criativas e a se tornarem cidadãos comprometidos com as
questões socioambientais? A partir da articulação entre as questões trazidas pela
SOS Mata Atlântica e as que estão presentes nas unidades temáticas Vida e
evolução e Terra e Universo, da BNCC (BRASIL, 2018), apresentaremos sugestões
de práticas que ajudem a provocar novos olhares para o cotidiano. Acreditamos
que é possível desenvolver o engajamento do jovem nas causas de defesa da
Mata Atlântica, a partir da simplicidade dos acontecimentos de um quintal, do
jardim, da rua ou da praça mais próxima.
Este módulo propõe-se a desvelar significados, promovendo habilidades
investigativas, para que os estudantes estejam sensíveis às aprendizagens,
considerando que o afeto é o desencadeador de ações transformadoras e
significativas.
QUEM ESCREVE
Massumi Guibu
Mestranda pela Faculdade de Educação da USP, formada em Arquitetura e Urbanismo pela USP e em Pedagogia pelo Instituto Singularidades.
Sou Massumi Guibu, arquiteta e pedagoga e, com essa aproximação entre
profissões, busco provocar reflexões, considerando perspectivas abrangentes,
bem como mobilizar práticas que contemplem vários aspectos socioambientais
em encontros produtivos, generosos e qualificadores entre todos os seres vivos.
Por trabalhar em escolas públicas há 16 anos, entendo ser possível sensibilizar
olhares a partir do cotidiano, de lugares pouco observados, de vidas que nos
rodeiam, mas que não são valorizadas, de saberes que podem vir das culturas
familiares e de escutas atentas sobre as falas dos estudantes.
EXTRAORDINÁRIA BIODIVERSIDADE
A Mata Atlântica é o lar de mais de 20 mil espécies vegetais, 384 mamíferos e
1.025 espécies de aves, que estão seriamente ameaçados (BRASIL, 2021).
Esse bioma já cobriu cerca de 15% das terras brasileiras. Além do Brasil, a Mata
Atlântica também ocorre no Paraguai e Argentina.Acompanhe os dados do
Relatório anual 2020 da SOS Mata Atlântica, na figura a seguir.
Figura 1 - Relatório anual 2020 da SOS Mata Atlântica
Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica (2020, p. 9).
#PraCegoVer
Card de fundo cinza com seis círculos de tamanhos variados e coloridos. No
canto esquerdo, um círculo com parte do mapa do Brasil em cinza-claro com
alguns estados destacados em verde. Em letras verdes e brancas, lê-se: Presente
em 17 estados, 15 por cento do Território Brasileiro. Abaixo à direita, um círculo
maior com dois círculos menores sobrepostos. No círculo maior, desenhos que
representam uma fábrica com torres soltando fumaça, uma estrada com um
trator, silos de armazenagem de grãos e um cata-vento eólico. No primeiro círculo
menor, representação de um gráfico em pizza e na proporção maior está escrito
80 por cento do PIB Nacional. No segundo círculo menor, metade é branca,
simbolizando uma nuvem com gotas verdes. Outra metade é verde, e está escrito
60 por cento do abastecimento Nacional de Água. Na parte central esquerda, um
círculo ligeiramente grande, com o desenho da vista panorâmica de uma cidade
com edifícios de tamanhos e formatos variados. Junto à informação: 3 dos
maiores centros urbanos do Continente Sul-Americano. Sobreposto na base, um
círculo menor com o desenho de um ícone de grupo de pessoas, e lê-se 72 por
cento da população brasileira. Na base à direita, uma tabela com desmatamento
observado de 1995 a 2019, em hectares e taxas anuais.
Tanta riqueza a ser coletada e usufruída, originalmente ao longo de toda a costa
brasileira, acabou sendo o grande motivo do seu triste destino: a destruição
rápida e voraz de grande parte da biodiversidade ali presente. Restaram como
testemunha desse apogeu apenas 12,4% da cobertura original, considerando
áreas a partir de 3 hectares.
E por que devem ser conservadas?
O que a Mata Atlântica significa para o Brasil e para o mundo?
O que a Mata Atlântica tem a ver conosco?
Para que serve mantermos esse bioma?
Essas questões não têm respostas únicas e sim muitos argumentos que
desejamos mobilizar a partir de aproximações interdisciplinares, com vistas a
construir um sentido e a buscar resoluções para os problemas e para as
perguntas acima formuladas.
FELINOS E VIDA VEGETAL
Os livros didáticos e praticamente todos os currículos do Ensino Médio
apresentam muitos dos conteúdos que serão abordados nos módulos deste
curso. Portanto, partimos do princípio de que nossa contribuição será provocar
algumas reflexões e relembrar práticas de sensibilização e estudo, ressaltando a
importância da integração de conceitos e investigação da realidade.
Daremos início a este módulo com uma proposta simples: propor aos estudantes
que analisem e descrevam as possíveis articulações entre a vida vegetal e animal
na Mata Atlântica. A intenção é provocar uma busca de articulações entre
aspectos: de um lado, informações que privilegiam um olhar para os animais
magníficos e significativos da Mata Atlântica; de outro, relações complexas entre
a dispersão de sementes e a dieta alimentar.
No bioma Mata Atlântica, existem 384 espécies de mamíferos com os mais
diversos regimes alimentares! Sem termos uma pretensão classificatória ou
quantitativa, mas com a ideia de ampliar o olhar dos estudantes, que tal
perguntarmos a eles como os hábitos dos animais se relacionam com a
dispersão de sementes? Por exemplo, podemos oferecer aos estudantes alguns
dados sobre a onça-pintada: um magnífico felino, cujo macho adulto pode chegar
a 130 kg, com o comprimento de até 2,40 m e 0,80 m até a cernelha, nome dado
ao encontro entre as escápulas e o pescoço de quadrúpedes. Esse é um animal
muito territorialista, necessitando de cerca de 22 a 150 m², superpondo áreas
com a presença de até três fêmeas. Como a maioria dos felinos, a onça-pintada
tem hábitos crepusculares e se alimenta exclusivamente de outros animais,
sendo esse aspecto muito importante para o equilíbrio ecológico.
Informações como essas podem incentivar os estudantes a pesquisar sobre os
animais que compõem a dieta alimentar de cada um deles, na formulação de
hipóteses de onde e como vivem, da quantidade de espécies da Mata Atlântica e,
claro, por onde caminham e espalham as sementes que ingerem.
NA PRÁTICA
Atividade: Relações entre a onça-pintada e a dispersão de sementes
No levantamento de informações sobre felinos, podemos encontrar informações
genéricas relacionadas às espécies semelhantes. Nesse caso, é interessante pedir
aos estudantes que investiguem se a onça da Mata Atlântica tem as mesmas
características daquelas provenientes de outras regiões, e propor que organizem uma
tabela com as principais presas da onça pintada, a saber, veados, queixadas, catetos,
tatus e jacarés.
Depois, incentive os estudantes a investigarem qual ou quais desses animais têm no
seu regime alimentar a ingestão de sementes e, mais amplamente, de frutos que
contenham sementes. Dentre esses, indique que o grande dispersor de sementes é o
queixada, pois parte importante de sua alimentação são frutos. A onça que se
alimenta de queixadas auxilia, indiretamente, a dispersão de sementes por meio de
suas fezes, colaborando para a perpetuação da Mata Atlântica!
Uma proposta simples como essa já é capaz de possibilitar o desenvolvimento de
habilidades apresentadas pela BNCC (BRASIL, 2018), como a EM13CNT206, que
salienta a importância da preservação e conservação da biodiversidade, que
acaba por impactar a sustentabilidade do planeta. Assim como vai ao encontro
da habilidade EM13CNT301, ao estimular o estudante a criar questões, elaborar
hipóteses e modelos explicativos.
Essa é somente uma sugestão dentre muitas possibilidades de auxiliarmos os
estudantes a compreenderem os delicados equilíbrios ecológicos da Mata
Atlântica. Vamos adiante com mais algumas propostas de sensibilização!
SONS E CHEIROS
Que sentidos utilizamos para pesquisar sobre a Mata Atlântica? Na realidade,
somos uma sociedade e cultura eminentemente visuais, aspecto que se
apresenta inclusive nas mais triviais expressões da nossa língua: “ver pra crer”, “vi
e não gostei”, “veja lá se não vai fazer bobagem”, “vejo que está bem-disposta”,
“ver com os próprios olhos”, “a visão de mundo”, “jogar luz sobre algo”, visão
nítida, perspectiva, observação, evidências, ponto de vista etc. Portanto, a ideia
aqui é propor a exploração de aspectos da natureza, utilizando outros sentidos, a
fim de aprofundar percepções, subjetividades e memórias que possibilitem aos
estudantes expandirem seus conhecimentos e realizarem registros de suas
descobertas, por meio de outras linguagens.
Para isso, podemos propor algumas estratégias, partindo do princípio de que a
Mata Atlântica possui uma incrível paisagem verdejante e diversa. Note como o
Ministério do Meio Ambiente a define:
A Mata Atlântica é composta por formações florestais nativas
(Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também
denominada de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta;
Floresta Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional
Decidual), e ecossistemas associados (manguezais, vegetações
de restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves
florestais do Nordeste). (BRASIL, [2021], on-line)
É possível dizer que as vegetações diversas que acompanham características
climáticas de campos de altitude, brejos interioranos, manguezais, restingas e
ilhas oceânicas compõem duas outras camadas complementares: uma paisagem
olfativa e outra paisagem sonora!
Então, que tal propormos aos alunos que ampliem o uso dos sentidos para
fazerem descobertas sobre a natureza? Uma paisagem olfativa tem presente o
cheiro de mato, do vento que traz chuva, das folhas pisadas e em decomposição,
da serrapilheira, de certas argilas, de umidades e fungos, dos florescimentos, às
vezes com odores discretos, outras vezes com perfumes inebriantes que se
espalham por grande parte da mata. Para além do usufruto e deleite, podemosentender que o olfato pode se traduzir também como estratégias evolutivas para
alguns seres vivos.
Você pode chamar a atenção do estudante para o fato de que as plantas
produzem flores e seus odores sinalizam aos seus parceiros, apoiadores nas
estratégias de disseminação, que estão prontas para lançar os pólens. Destaque
como o mundo vegetal conta com as parcerias imprescindíveis de insetos!
Abelhas, vespas, besouros, toda sorte de insetos que podem ser atraídos pelo
cheiro e, claro, também pelas cores, mas aqui estamos nos concentrando em
falar da paisagem olfativa! Há, ainda, aracnídeos que, aproveitando a isca
odorífera das flores, nelas se abrigam e ficam à espreita de algum inseto
desavisado para poder dar o bote!
NA PRÁTICA
Atividade: Paisagem olfativa
Que tal desafiar os estudantes a buscar, seja em suas casas, seja na vizinhança,
plantas floridas e, a partir disso, produzir um levantamento dos tipos de vidas que
circulam no entorno delas? É interessante lançar o desafio de classificarem as
espécies encontradas pelo seu nome científico, registrando também o tamanho da
planta onde foram encontradas essas formas de vida, o formato da folha, em qual
orientação nasceu a flor (voltada para qual direção) e em que contexto de insolação
(se na sombra, meia-sombra ou pleno sol). É também interessante solicitar que
façam conjecturas sobre os odores das plantas e busquem memórias que essa
experiência olfativa possa despertar.
Uma sugestão é utilizar guias de identificação de plantas como esse: Guia ilustrado
para identificação das plantas da Mata Atlântica.
Segundo Barbeitos (2011, p. 2), “o odor é memorizado num processo de
aprendizado, sendo importante na seleção alimentar e em processos e
experiências emocionais”. Nesse artigo, a autora revela que o sentido do olfato
pode produzir percepções sensoriais capazes de gerar conceitos sobre o mundo,
sobre nós mesmos e os outros, ou seja, pode desencadear conexões remotas, de
alguma impressão do passado, e vínculos afetivos que constroem memórias.
http://www.lcb.esalq.usp.br/sites/default/files/publicacao_arq/978-85-7975-204-9.pdf
http://www.lcb.esalq.usp.br/sites/default/files/publicacao_arq/978-85-7975-204-9.pdf
Ao estimular percepções a partir de outros sentidos, uma atitude consciente
como a do experimento proposto vai ao encontro do que Daston (2017) nos diz.
Essa pesquisadora observa que um futuro adulto, um especialista, pode trazer em
sua história memórias de observações, ainda que imprecisas, mas que poderão
compor e trazer familiaridade e percepção a fortiori, reforçando a importância do
conhecimento tácito. A ideia é tentar introduzir um hábito: usar muitos sentidos
para construir memórias que possam vir a ser significativas. Portanto, trabalhar
olfatos, articulando similaridades com mecanismos presentes na Mata Atlântica,
como em qualquer mata, poderá produzir memórias significativas e íntimas,
capazes de contribuir com a valorização da natureza como um todo.
Dessa forma, retomamos o desenvolvimento das habilidades da BNCC, com foco
na área de Ciências da Natureza e suas tecnologias (BRASIL, 2018, p. 537):
Significa, ainda, criar condições para que eles possam explorar
os diferentes modos de pensar e de falar da cultura científica,
situando-a como uma das formas de organização do
conhecimento produzido em diferentes contextos históricos e
sociais, possibilitando-lhes apropriar-se dessas linguagens
específicas.
NA PRÁTICA
Atividade: Elos e sensações
Quando você ouve ou lê a frase "nós somos a Mata Atlântica", o que vem à sua
mente? Convido você a assistir ao vídeo Nós Somos a Mata Atlântica para conhecer
e refletir sobre como estamos conectados a ela.
Peça aos estudantes que fechem seus olhos e escutem a mensagem do vídeo. Em
seguida, pergunte a eles quais sensações eles sentiram e como imaginam o cenário
do vídeo.
Depois, reproduza o vídeo novamente. Dessa vez, com seus olhos abertos, os
estudantes devem comentar se o vídeo se aproxima ao que imaginaram quando
estavam com os olhos fechados. O vídeo contém aproximadamente 3 minutos, por
isso reserve 6 minutos no total para reproduzi-lo duas vezes.
E quanto à paisagem sonora da Mata Atlântica? Aqui, podemos nos reportar às
imagens divulgadas no mundo inteiro, em 2020, sobre a primeira onda da
pandemia do coronavírus, quando foi constatado o quanto o isolamento humano
beneficiou as populações silvestres! Imagens de animais tomando ruas, braços
de mar e parques demonstram o quanto o ser humano costuma constranger a
vida silvestre e, ao ficar “aprisionado” em casa, ampliou a liberdade para outras
vidas!
NA PRÁTICA
Atividade: Vidas silvestres
Uma das vidas silvestres que mais se fizeram notar e que aumentaram sua presença
nos espaços urbanos foram os pássaros. Desafie seus estudantes a produzirem uma
lista de pássaros que possam ser observados ou apenas ouvidos a partir de suas
janelas. Caso os estudantes não os conheçam, poderão descrevê-los para depois, em
sala de aula, descobrirem seus nomes. Nessa descrição, é válido constar o nome da
https://www.youtube.com/watch?v=J0iQf21GBpA
árvore onde estão pousados, se estão solitários ou em bando e, se possível, sua
ordem de grandeza.
Se não houver possibilidade de observação por suas janelas, peça aos estudantes
que procurem uma árvore na rua, em alguma praça ou, se possível, em um parque.
Lembre-se de alertar o estudante a ficar parado por, ao menos, 15 a 20 minutos,
atento, em atitude de observação, tentando ouvir ou visualizar algum pássaro. Outra
sugestão é perguntar para a família e vizinhos sobre as aves locais. Essas tentativas
são parte importante dos processos de pesquisa.
Ademais, você pode indicar um site para pesquisa, de construção coletiva, como o
Wikiaves , que é supervisionado por ornitólogos profissionais, sendo bastante
confiável. Nele, é possível realizar buscas de espécies de aves, utilizando filtro por
lugar, por exemplo: pássaros presentes na cidade de Santana de Parnaíba, em São
Paulo. Nesse caso, aparecerá uma listagem dos pássaros do local e, ao clicar sobre
algum específico, abrirá a página com os dados, fotos e, principalmente, o canto.
Essa pesquisa pode significar uma imersão no universo ornitológico brasileiro, que é
de uma riqueza imensa! No Brasil, conforme registra o Wikiaves, entre observadores
profissionais e amadores, são quase 40 mil pessoas em uma colaboração de
ciência-cidadã. Além disso, trata-se de uma ferramenta acessível e de fácil manuseio!
O birdwatching, traduzido entre muitos amadores pelo simpático termo “passarinhar”,
acaba produzindo muitos registros fotográficos e sonoros, que são organizados
nessa grande base de dados gratuitos sobre as aves brasileiras.
A proposta dessa simples atividade pode colaborar para o desenvolvimento de
habilidades como a EM13CNT203 (BRASIL, 2018, p. 543), isto é “avaliar e prever
efeitos de intervenções nos ecossistemas, nos seres vivos e no corpo humano,
interpretando os mecanismos de manutenção da vida com base nos ciclos da
matéria e nas transformações e transferências de energia”.
https://www.wikiaves.com.br/
Mais verde, por favor
As florestas são a morada de muitas espécies, além de garantir água e ar limpos!
O aplicativo Aqui tem Mata? informa a existência de remanescentes de Mata
Atlântica no país, oferecendo a busca por municípios e a visualização de dados
por meio de mapas interativos e gráficos que trazem informações sobre o estado
de conservação de florestas, mangues, restingas etc., além de apresentar as
áreas protegidas.
Aproveite também para baixar a cartilha Aqui tem Mata? e se inspire nas
atividades, para desenvolver ações com os estudantes, para estimular o diálogo
sobre o meio ambiente e a Mata Atlântica — sua história, situação, biodiversidade
e a importância de protegê-la.
Outras propostas serão indicadas nos próximos blocos, no sentido de ampliar a
sensibilidade e a conexão dos estudantes com as causas de preservação da
riqueza querepresentam as áreas protegidas de Mata Atlântica.
UM AZUL QUE SE COMPÕE COM O VERDE
Vale lembrar aos estudantes que, além do oceano ser responsável pelo equilíbrio
climático do planeta, muitos cientistas teorizam que ele é responsável pela
origem da vida na Terra e pesquisam organismos marinhos para elucidarem
melhor essa hipótese. Também é importante salientar que o oceano foi o gerador
do oxigênio necessário para que muitos dos organismos da Terra sobrevivessem,
como afirmado neste trecho:
O fitoplâncton que vive nas águas superficiais do oceano produz
oxigênio através da fotossíntese. Parte desse oxigênio é liberado
na atmosfera. Ao longo do tempo geológico, o oxigênio emitido
https://www.aquitemmata.org.br/
https://www.aquitemmata.org.br/#/cartilha
pelo oceano foi suficiente para permitir que formas de vida que
respiram oxigênio evoluíssem. (UNESCO, 2020, p. 43)
Ou seja, o oxigênio produzido pelo fitoplâncton do oceano contribui, até hoje, com
aproximadamente 50% desse elemento tão fundamental para a vida terrestre!
Nesse sentido, um dos encaminhamentos dos Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável pautados pela UNESCO — sigla em inglês para a Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura — aponta que o
desenvolvimento de uma Cultura Oceânica poderá contribuir para a ampliação
das reflexões em torno do tema, assim como para orientar ações relacionadas à
exploração do oceano nas próximas décadas. Acompanhe os princípios
essenciais da Cultura Oceânica (UNESCO, 2020, p.19):
1. A Terra tem um Oceano global e muito diverso.
2. O Oceano e a vida marinha têm uma forte ação na
dinâmica da Terra.
3. O Oceano exerce uma influência importante no clima.
4. O Oceano permite que a Terra seja habitável.
5. O Oceano suporta uma imensa diversidade de vida e de
ecossistemas.
6. O Oceano e a humanidade estão fortemente
interligados.
7. Há muito por descobrir e explorar no Oceano.
NA PRÁTICA
Atividade: Inspire e expire
Relembrando os estudantes que o oceano ocupa 71% da superfície da Terra e que
produz cerca de 50% do oxigênio que respiramos, proponha ao grupo que façam um
exercício muito simples. Peça que inspirem profundamente e expirem; em seguida,
peça que inspirem profundamente e expirem mais uma vez. Diga ao grupo que uma
dessas respirações só foi possível por conta do oceano!
É importante destacar a relação existente entre o oceano e a nossa Mata
Atlântica: a evaporação das águas se elevam em forma de nuvens, que encontram
encostas e se precipitam em forma de chuvas. Relembre os estudantes sobre o
alto índice pluviométrico da Mata Atlântica, que se situa em nove das doze
regiões hidrográficas do Brasil (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA, 2021). Para
citar algumas, a Bacia do Rio São Francisco, do Rio Paraíba do Sul, do Rio Doce,
do Rio Ribeira do Iguape e do Rio Paraná, impactando diretamente a vida de
aproximadamente 145 milhões de brasileiros, isto é, 70% da população brasileira
(FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA, 2021)!
Desse modo, vale reforçar junto aos estudantes que cuidar da Mata Atlântica é
cuidar da nossa água, a qual chega em nossas torneiras, favorece plantações e,
consequentemente, possibilita a chegada do alimento às nossas mesas!
Mas, note que muitos brasileiros vivem longe do oceano. Por que os moradores
de regiões interioranas de nosso país, que, portanto, estão distantes da costa
litorânea, devem se preocupar com a questão do oceano? Aqui começam
desafios a serem propostos aos estudantes: como vidas interioranas, distantes
do oceano, afetariam ou seriam afetadas em qualidades e responsabilidades em
relação a essa gigantesca massa de água salgada? Como os habitantes do
interior do Brasil podem ajudar o oceano e a Mata Atlântica?
É uma relação direta! A grande maioria dos rios da Mata Atlântica desemboca no
oceano. Veja só que um estudo publicado pela National Geographic (PARKER,
2021) ressalta que “os rios são os principais condutores dos resíduos plásticos
aos oceanos”. Esse artigo cita que a revista científica Science Advances publicou
recentemente que “80% dos resíduos plásticos são distribuídos por mais de mil
rios” e que a maior parte deles provém de pequenos rios, diferentemente do que
se acreditava antes. Aportam ainda informações de que rios tropicais despejam
plásticos no mar de forma contínua, o que nos faz pensar sobre a densidade
demográfica em torno das bacias (PARKER, 2021, on-line).
O entendimento de que pequenos rios podem ser condutores de resíduos
plásticos e que, em época de chuvas, maiores quantidades desses resíduos
acabam caindo em rios, acende um alerta. Cientistas marinhos, segundo o artigo,
argumentam, há anos, sobre a necessidade de conter resíduos plásticos em terra,
de onde se originam, para assim proteger os sistemas de água doce e oceano.
Como o Brasil possui 70% da população concentrada em nove das doze regiões
hidrográficas brasileiras, devemos nos preocupar com o destino desses resíduos
a partir de cada lugar, ainda que sem relação direta de proximidade com o oceano
(PARKER, 2021, on-line).
Procure estimular e divulgar: se cada uma das pessoas que mora no interior do
território brasileiro cuidar dos rios que estão à sua volta, certamente significará
um comprometimento com a qualidade do meio ambiente imediatamente ao
redor, mas tendo no horizonte uma missão maior, uma missão oceânica! Toda
pequena ação pode ajudar a dinamizar um círculo virtuoso de defesa e proteção
do meio ambiente e das vidas do planeta!
NA PRÁTICA
Atividade: Reciclar e criar
Uma atividade sensibilizadora é pedir para os estudantes, ao separarem, em suas
casas, o lixo orgânico do reciclável, que acumulem o plástico produzido por uma
semana para perceberem o quanto produzem de resíduos e analisarem suas
implicações e possíveis impactos. Em um registro alternativo, usando a linguagem
das artes, os estudantes podem produzir, a partir do lixo plástico acumulado, algum
trabalho autoral, como uma composição inspirada no trabalho de Vik Muniz, artista
brasileiro de renome internacional, que se destacou por produzir arte a partir de
materiais descartados.
Acessem, particularmente, a série de trabalhos Lixo Extraordinário. O pedido mínimo é
escrever o próprio nome criativamente! Fotografar e postar, por exemplo, utilizando o
recurso da ferramenta digital https://padlet.com/ , para que todos possam visualizar
as criações da turma!
Assista ao Trailer do documentário Lixo Extraordinário , com 3 minutos e 28
segundos de duração.
Essas e outras experiências simples podem ajudar a formar futuros cidadãos
participativos e comprometidos com o meio ambiente.
MOBILIZANDO SIGNIFICADOS
A Mata Atlântica marcou profundamente muitas dinâmicas socioculturais, pois a
história de sua ocupação, e quase destruição, envolve muitas relações humanas e
culturais em intensidades e problemáticas distintas, que impactaram e impactam
https://padlet.com/
o futuro desse bioma. Desde a chegada dos portugueses, o extrativismo e a
escravização de indígenas e africanos deixaram marcas nos processos de
destruição do bioma, mas também núcleos de resistência e de manejos
respeitadores dos ciclos naturais e das outras vidas presentes (FUNDAÇÃO SOS
MATA ATLÂNTICA, 2021).
Fique por dentro
A Mata Atlântica é reconhecida como um Patrimônio Nacional pela Constituição
Federal, o único bioma protegido por uma lei específica, a Lei nº 11.428, de 22 de
dezembro de 2006 . É também uma reserva da biosfera mundial em documentos
da UNESCO (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA, 2021), descrita como a primeira
unidade da Rede Mundial de Reservas da Biosfera declarada no Brasil. Para mais
informações, acesse o Portal da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica .
MITO DA NATUREZA INTOCADA
O que a natureza significa para você? Não há dúvidas de que as qualidades
agregadas à palavra natureza são reveladoras de conceitos importantes sobre a
vida, tais como:
Estética
Justiça
Bem-estar
No entanto, parecem ser valores que estãodistantes do cotidiano e da vida
urbana, considerando que o modo contemporâneo de viver se pauta em uma
construção histórica das relações entre seres humanos e natureza.
Com o crescimento das populações urbanas e novas demandas das atividades
urbano-industriais, uma visão foi construída a partir da compreensão de natureza
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm
https://rbma.org.br/n/
como apartada das relações com o cotidiano. Acompanhe o que Diegues (2001,
p. 13) nos traz sobre o mito da natureza intocada:
A concepção dessas áreas protegidas provém do século
passado, tendo sido criadas primeiramente nos Estados Unidos,
a fim de proteger a vida selvagem (wilderness) ameaçada,
segundo seus criadores, pela civilização urbano-industrial,
destruidora da natureza. A ideia subjacente é que, mesmo que a
biosfera fosse totalmente transformada, domesticada pelo
homem, poderiam existir pedaços do mundo natural em seu
estado primitivo, anterior à intervenção humana.
O autor prossegue nos dizendo que, segundo essa concepção, a natureza estaria
protegida em “ilhas”, áreas preservadas e isoladas de uma má influência humana,
delimitadas para que mantivessem o mito do paraíso perdido, um lugar onde
pudéssemos admirá-la, ou seja, “[…] um lugar desejado e procurado pelo homem
depois de sua expulsão do Éden” (DIEGUES, 2001, p.13), refazendo um
pensamento místico-simbólico. Nesse sentido, o crescimento desordenado das
cidades, ainda sem os manejos necessários que garantissem qualidade de
higiene e bem-estar, fundaram uma nostalgia romantizada desse lugar idílico, no
qual tudo é harmônico e puro, pelo fato de não ter sido tocado pelo ser humano.
O pesquisador nos alerta que esse lugar intocado não existe no planeta! E nos
revela que biogeógrafos afirmam serem as regiões naturais (como a nossa
Amazônia, por exemplo) áreas extensivamente manipuladas por seres humanos.
As grandes extensões que, aparentemente, estão intocadas e bastante
conservadas, onde a vida silvestre e natural está ativa e em suas dinâmicas
próprias, na verdade foram, ou ainda são, áreas de manejo por modos de vida e
culturas “tradicionais”. Nessas culturas, os ciclos biológicos e os recursos
naturais são profundamente respeitados. Segundo o autor, estudos revelam que
os lugares mais bem conservados, na contramão do raciocínio das “ilhas
isoladas” do contato humano, são testemunhos de um manejo saudável,
respeitoso e equilibrado, pelo conhecimento e práticas sensíveis a um contexto
muito maior de vidas e valores para além daqueles centrados apenas sob o olhar
humano. Uma valorização das relações “[…] entre homem e o meio — não o meio
restritamente físico, mas, ainda e sobretudo, o amplamente ecológico — de modo
a assegurar o equilíbrio regional” (DIEGUES JÚNIOR, 1960 apud DIEGUES, 2001, p.
15).
Fique por dentro
Assista ao vídeo Entrevista Erika Guimarães (Projeto Parques Nacionais) para
conhecer mais sobre a proposta desse projeto e quais são os benefícios de ter
uma proximidade com a natureza. Reserve aproximadamente 4 minutos para
isso.
Uma consequência diretamente ligada à concepção da natureza como um lugar
distante do convívio urbano — protegida e potente por estar isolada, e que nunca
se extinguirá — não é mais do que um pensamento mágico. Portanto, se as
pessoas não refletirem sobre suas ações e tomarem para si partes dessas áreas
para produção, não se preocuparão se esse manejo poderá causar danos
ambientais, uma vez que estará referenciado apenas na produtividade humana,
https://www.youtube.com/watch?v=qsY9H9VMQ_w
desconsiderando valores não monetários, ou seja, valores éticos e respeito
socioambiental.
com você
@Massumi Guibu
Então, como ampliar a conscientização ambiental dos estudantes sobre esses
aspectos?
Na rotina escolar e em casa, a natureza costuma ser pouco reconhecida, ou melhor,
pouco considerada em seus afazeres cotidianos. Acompanhe nesse vídeo o que a
autora propõe em relação às possíveis ações para essa mobilização e sensibilização
dos estudantes na sala de aula.
NA PRÁTICA
Atividade: Mito da natureza intocada
A partir das questões trazidas por Diegues (2001) sobre o mito da natureza intocada,
que tal propor aos estudantes um levantamento das vidas não humanas que habitam
a casa? Lagartixa, opilião, aranha, pernilongo, mosquito, abelha, vespa, borboleta,
barata etc. Uma simples atividade de observar e registrar, em uma tabela, o local e
horário em que o animal foi encontrado pode trazer uma discussão interessante ao
grupo. O registro das emoções provocadas por esses encontros também pode revelar
aspectos importantes sobre a relação que os estudantes têm com a natureza em
geral.
Para saber mais sobre o assunto, leia o livro O mito moderno da natureza intocada, de
Antonio Carlos Diegues.
Quando provocamos o estudante a desenvolver diferentes percepções, a notar o
que poderia ser considerado ameaça ou sujeira dentro do seu lar e transformá-lo
em material de estudo e observação, a ser registrado de modo sistematizado e
didático, podemos estar estimulando-o a construir e avaliar comportamentos
humanos e não humanos sob uma perspectiva científica, auxiliando a
constituição de um futuro cidadão participativo, contemplando o que indica o
EM13CNT301 sobre
Construir questões, elaborar hipóteses, previsões e estimativas,
empregar instrumentos de medição e representar e interpretar
modelos explicativos, dados e/ou resultados experimentais para
construir, avaliar e justificar conclusões no enfrentamento de
situações-problema sob uma perspectiva científica. (BRASIL,
2018, p. 545)
A NATUREZA É ÚTIL?
Quando pensamos na natureza, será que entendemos o ser humano como
hierarquicamente superior? No Dicionário Houaiss (2001, p. 2816), útil significa
“que pode ter ou tem algum uso; que serve ou é necessário para algo; que traz
proveito vantagem; de que resulta o que se espera; proveitoso, profícuo,
vantajoso”.
Ao problematizarmos sobre a utilidade da natureza e a superioridade do ser
humano, a questão a ser pensada é até que ponto o ser humano se sente detentor
do destino do planeta Terra, como se tudo e todas as outras vidas não tivessem
sentidos próprios?
Retomando, mais uma vez, o período de pandemia, logo no seu início, quando os
lockdowns eram respeitados pelo impacto causado pelo vírus e sua letalidade, a
natureza, ou o não humano, reagiu de modo surpreendente. Devido ao
silenciamento das cidades, reflexo da imobilidade imposta, pudemos observar em
várias partes do mundo a vida silvestre adentrando espaços urbanos, como que
reconquistando espaços.
Fique por dentro
Imagens foram capturadas no mundo: cervos invadindo ruas do Japão, javalis na
Itália, macacos na Tailândia. Leia a reportagem Imagens: quando os animais
invadem os espaços urbanos, no meio da pandemia e assista ao vídeo de dez
segundos na página Notícias da UOL (2020). Pelas imagens poderíamos nos
questionar: será que nós não somos a pandemia para a vida silvestre?
Basta pararmos a intensidade sem limites das atividades humanas/urbanas que,
quase imediatamente, outras vidas “invadem” todos os espaços. Será que
podemos entender como uma reinvindicação dos não humanos, uma espécie de
revanche, uma reocupação dos espaços urbanos pela natureza?
A natureza e o planeta oferecem muitas condições para a manutenção e
sobrevivência de toda a humanidade. Desenvolver tecnologias, alimentação,
saúde e habitação para todos os humanos é um grande desafio! E metas foram
conquistadas! Chegamos a um momento em que, como nos convoca a SOS Mata
Atlântica, devemos repensar o que desejamos para um desenvolvimento
sustentável. Observem um dos aspectos abordados: “A SOS Mata Atlântica atua
para mobilizar o poder público, instituições privadas, proprietários de terra e a
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2020/04/14/imagens--quando-os-animais-invadem-os-espacos-urbanos-no-meio-da-pandemia.htmhttps://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2020/04/14/imagens--quando-os-animais-invadem-os-espacos-urbanos-no-meio-da-pandemia.htm
sociedade civil com o objetivo de restaurar a floresta” (FUNDAÇÃO SOS MATA
ATLÂNTICA, 2021, Nossas causas, on-line).
Um estudo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
(FAO), em 2016, demonstrou que a produção mundial de alimentos é suficiente e
poderia alimentar 7,3 bilhões de pessoas, a população do planeta Terra. No
entanto, destacam que uma a cada nove pessoas no mundo passam fome
(IANDOLI, 2016).
Segundo esse artigo, a produção mundial de alimentos é mais que suficiente para
alimentar o mundo todo — o problema está nos interesses e nas políticas de
distribuição. A justificativa de que mercados crescentes demandam mais áreas
produtivas, por exemplo, é o motor da destruição cruel de grande parte de nossas
matas! A ameaça que vive a Mata Atlântica é um dos motivos mobilizadores da
Fundação quando busca articular proprietários de terra, iniciativas privadas e
sociedade civil, em uma ação proativa no combate ao desmatamento. Os
importantes serviços ambientais prestados por esse bioma são fundamentais
para a produção agrícola, como a oferta de água e a regulação do clima.
Pesquisando mais uma vez no Dicionário Houaiss (2001), vamos entender a
diferença entre mata e mato, uma diferença sutil na escrita e na fala, mas que
revelam profundas diferenças e interpretações. Conforme esse dicionário: mata é
uma área coberta de plantas silvestres de portes variados; floresta (conjunto de
árvores); enquanto mato é vegetação constituída de plantas não cultivadas, de
porte médio e geralmente sem qualquer serventia; qualquer planta sem serventia;
floresta, bosque; qualquer lugar afastado das cidades; interior; roça; campo.
Por que essas definições foram apresentadas aqui? Talvez porque apresentem
uma transição cultural, de valores hierarquizantes, quando uma área com vida
vegetal, que certamente está ligada a uma articulação de outros sentidos e vidas,
passa a ser considerada sem serventia. Sem serventia para quem? Inúteis apenas
às necessidades humanas! Reparem que a supremacia do utilitarismo aos
humanos encampa significados, desqualificando tudo o que não nos é útil, do
ponto de vista humano apenas.
A insensibilidade e descaso, que fundam ações agressivas a tudo o que não é útil,
vem sendo construída há muito tempo. O pensamento colonial ainda vigente,
onde o extrativismo e imediatismo são a tônica, deve ser combatido. A Fundação
aponta que “Desde a chegada dos portugueses até meados do século XX, o
bioma foi destruído por ciclos econômicos predatórios de extração de madeira e
de produção e exportação de açúcar, ouro e café para a Europa” (FUNDAÇÃO SOS
MATA ATLÂNTICA, 2021, on-line).
As sensibilidades devem ser recuperadas para que se constitua uma cultura de
defesa da biodiversidade presente em nossas matas, que estão terrivelmente
ameaçadas.
Dando continuidade e aprofundamento aos conceitos ligados à natureza,
trabalharemos para desconstruir uma concepção fundamental e geradora de
interpretações hierarquizantes: a construção da ideia de que não somos parte da
natureza, de que o ser humano compreende a natureza como algo externo ao
humano e, portanto, cruelmente objetificada. Um objeto a ser domesticado,
domado, sem existência própria, a não ser quando serve às ambições humanas,
para ser usada como recurso apenas a favor dos humanos. E, perversamente,
quando nos é inconveniente, como, por exemplo, chuvas em excesso ou em falta,
muitas vezes decorrência das inábeis intervenções humanas, a natureza se torna
nosso algoz, e somos vítimas de sua violência.
Figura 2 - Entendendo os rios voadores
Fonte: elaborado pela autora.
12345
Clique em cada um dos números para verificar os detalhes:
#PraCegoVer
Imagem com fotografia de satélite da América do Sul com desenho de setas
sobre ela, que indicam a movimentação dos “rios aéreos” sobre o continente. Ao
centro da imagem, do topo à base, os seguintes países de norte a sul: Venezuela,
Costa Rica, Suriname, Colômbia, Equador, Brasil, Peru, Bolívia, Paraguai, Chile,
Uruguai e Argentina. Na parte esquerda, na cor cinza-claro, vê-se a Cordilheira dos
Andes, abrangendo Peru, Bolívia, Chile e Argentina. Em destaque, a Amazônia
Brasileira na cor verde-escuro. No topo direito, sobre o Oceano Atlântico, há o
início de um esquema de setas que representa um caminho que segue para a
esquerda sobre a Amazônia, faz uma curva para a direita na altura da Cordilheira
dos Andes e trifurca-se nas direções do Uruguai/Argentina, Sul e Sudeste do
Brasil. Sobre o caminho indicado pelas setas, há círculos brancos com a
numeração de um a cinco, na cor preta: 1 – sobre o Oceano, 2 – sobre a
Amazônia, 3 – sobre a divisa do Brasil e Peru, 4 – sobre a Bolívia margeando a
Cordilheira dos Andes e 5 – sobre o Centro-Oeste do Brasil, onde a seta se divide
em três em direção ao Sul do continente, Sul e Sudeste do Brasil.
Os rios aéreos, um serviço ecossistêmico prestado pelo oceano e pelas matas,
não são reconhecidos, ou, se o são, são desprezados em nome de benefícios
monetários de curto prazo para pouquíssimos interessados.
NA PRÁTICA
Atividade: Percepções
Uma maneira de sensibilizar os estudantes para essa questão é propor que percebam
a presença de atividades de outros seres vivos, não humanos, em horários diferentes
numa mesma região, anotando dados como sons, temperatura, presença de
vegetação e o que significou para cada um realizar esse experimento. Que emoções
foram suscitadas? Quais memórias foram ativadas? A ideia é mobilizar a atenção dos
estudantes para ações naturais aparentemente inexpressivas, como insetos
polinizadores na cidade.
Sabemos que a rua asfaltada, servida com água e luz, é um dos valores mais
importantes para o cidadão urbano. No entanto, a presença de arborização
urbana, que ajuda na absorção das águas pluviais, diminui a temperatura local e,
de quebra, oferece conforto visual e pode promover outras vidas não humanas, é
componente importante ao bem viver, à qualidade de vida, com valores subjetivos
e emocionais, que podem tentar suprir o déficit de natureza. Esse é um termo
linguístico cunhado pelo jornalista americano Richard Louv (2016) para descrever
a sensação de desconexão das pessoas com a natureza, percebida de forma
crescente nos agrupamentos urbanos. Ao propor aos estudantes que prestem
atenção a significados subjetivos em vivências simples, há um desejo em
promover um tema de relevância sociocultural, com vistas a imprimir memórias
ainda que imprecisas, como quer Daston (2017, p. 96), mas que, em um momento
futuro, sejam acionadas e possam compor intencionalidades participativas.
Assim, podemos auxiliar nossos jovens a sonhar com cidades mais generosas,
mais sustentáveis e harmônicas com as vidas, que promovam o bem viver.
POVOS ORIGINÁRIOS E MANEJOS SUSTENTÁVEIS
Conforme Diegues (2001), os biogeógrafos apontam que os lugares mais bem
preservados de vida silvestre foram historicamente manejados por populações
tradicionais que tinham grande respeito pelos ciclos da vida e, com sensatez,
retiravam o necessário às suas sobrevivências sem desequilibrar o ambiente.
Vamos nos aproximar daqueles que, mesmo sofrendo, atualmente, grandes
restrições, constituem-se em 29 povos (Kaingang, Guarani, Ñandeva, Krenak,
Terena, entre outros), ocupando 196 terras indígenas dentro do bioma da Mata
Atlântica, que mantêm sabedorias reveladoras de uma relação de respeito e
equidade entre todas as vidas ali presentes (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA,
2021).
Com isso, pretendemos retomar um dos objetivos do módulo, ao sensibilizar a
interface entre o ser humano e a conservação, na medida em que, ao trazer
narrativas do ponto de vista dos indígenas, podemos entender como a percepção
de natureza traz um caráter socialmente construído por outros valores e
sensibilidades.
Desse modo, atendemos ao que nos solicitaa habilidade EM13CNT206 da BNCC
(BRASIL, 2018), ao propor a avaliação dos efeitos da ação humana sustentável,
assim como a habilidade EM13CNT302, ao promover debates em torno de temas
científicos e/ou tecnológicos de relevância sociocultural.
MITOS E LENDAS: SUBJETIVIDADES SOCIOAMBIENTAIS
Os Mbya e os Ñandeva se identificavam como guaranis e, até as primeiras
décadas do século XX, constituíam a maioria da população no litoral de São Paulo
(ISA – INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2008, p. 2). Nas décadas de 1960 e 1970,
os Mbya e os Ñandeva, em casamentos mistos, predominavam numericamente
na faixa litorânea do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo, conforme descreve o
ISA – Instituto Socioambiental (2008), sempre nas regiões montanhosas da Mata
Atlântica.
Nos séculos XVIII e XIX, os grupos Guarani que não se
submeteram aos encomenderos espanhóis nem às missões
jesuíticas, refugiando-se nos montes e nas matas subtropicais
da região do Guaîra paraguaio e dos Sete Povos, aparecem na
literatura com o nome genérico de Cainguá, Caaguá, Ka’ayguá ou
Kaigua. Kaygua provém de ka’aguygua, que significa “habitantes
das matas”. (ISA – INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2008, p. 2)
Mbya foi traduzido como “gente” ou “muita gente num só lugar”. Já o termo
Ñandeva significa “nós”, “todos nós” ou “nossa gente”, porém “perante as
instituições da sociedade nacional, identificam-se como Guarani” (ISA –
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2008, p. 2).
Em sua crença, os Mbya vão se deslocando “em busca da terra sem mal (yvy
marãey), da terra perfeita (yvyju miri)”. Grupos familiares caminham para um
“novo” lugar, levando junto sua cultura e experiências de vida e de sobrevivência.
Essa cosmologia fez com que os guaranis fossem considerados “índios errantes
ou nômades”. Do ponto de vista dos brancos, é um povo que se “recusa a brigar
por terra”, reforçando a tese difundida entre os oportunistas interessados em
suas terras, de que “não lutavam por ela” (ISA – INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL,
2008, p. 5).
Segundo esse artigo, antropólogos alertam que essa era uma estratégia de
sobrevivência desses povos, uma tolerância e diplomacia cultivada após contatos
sistemáticos com brancos, desde os tempos coloniais, que promoveram, e
promovem até hoje, perseguições culturais e físicas. Esse fato fez com que
desenvolvessem mecanismos para guardar e viver suas tradições culturais e
religiosas, sobrevivendo enquanto etnia, “[…] mais do que a submissão a um
processo contínuo de aculturação, uma estratégia de autopreservação” (ISA –
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2008, p. 5).
O Mbya e o Ñandeva são dialetos do idioma Guarani, que pertencem à família
Tupi-Guarani, tronco linguístico Tupi. Há variações dialetais no idioma Guarani,
com variações na pronúncia e nas sílabas tônicas — a maioria das palavras
guarani é oxítona – sobretudo quando ocorrem casamentos mistos, como
acontece no litoral de São Paulo e Santa Catarina.
Os Guarani Mbya praticam plenamente sua língua, mantendo-a viva, transmitindo
oralmente suas tradições e conhecimentos, sendo um forte elemento de sua
identidade. Desde 1997, vêm sendo implantadas escolas bilíngues em suas
terras, encontrando reações favoráveis e contrárias, pois observa-se que crianças
alfabetizadas muito novas perdem a fluência na língua materna (ISA – INSTITUTO
SOCIOAMBIENTAL, 2008).
Os Mbya têm, por meio das palavras, relações espirituais, que são pronunciadas
em ocasiões especiais como revelações divinas aos dirigentes espirituais – ayvu
porã, expressão traduzida por “belas palavras”, reveladora da importância das
palavras para sua língua (ISA – INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2008, p. 4).
Ailton Krenak, em um depoimento ao podcast Tom da Mata (TOM DA MATA,
2020), entende a floresta como um ambiente autorrestaurador, que promove
saúde e bem-estar. Revela que conversava com um pajé — um parente guarani,
como Ailton a ele se refere — com quem comentou sobre a luta contra o vírus da
Covid-19. No pensamento guarani, uma guerra externa ao corpo contra algo que
nos faz mal não tinha sentido. Os pajés ensinam que devemos mergulhar dentro
de “uma floresta interior”, uma floresta dentro nós e, bem ao fundo dessa floresta,
encontraremos uma mata. Em suas palavras, “[...] além do corpo grande da
floresta bem no fundo tem mata [...]” (TOM DA MATA, 2020). E, dentro dessa
mata, bem lá no fundo, tem cura, e essa cura é feita em silêncio.
Ainda que não alcancemos toda a cultura e práticas em jogo nessas palavras, fica
revelada a dimensão do significado da mata para esse povo. Podemos
reconhecer nesse processo algo como uma meditação curativa, praticada pelo
povo guarani. Esses caminhantes, que foram mal interpretados por muito tempo
como pessoas desapegadas e que não lutam por suas terras, permanecem fiéis à
sua cultura, que carregam por meio das belas palavras, transmitidas oralmente,
enquanto caminham em busca de um novo lugar.
NA PRÁTICA
Atividade: Paisagem olfativa
Como aproximar e sensibilizar nossos estudantes às causas dos povos originários?
Que tal promover um lugar de escuta, que coloque indígenas como portadores de
cultura? Apresente imagens de jovens indígenas contemporâneos produzindo sons,
cantando e tocando instrumentos em suas línguas de origem. A aposta é usar outro
sentido, no caso a audição, antes de aportarmos referenciais culturais.
Para promovermos a possibilidade de aumentar a escuta, com menos preconceitos e
pré-avaliações por parte de nossos estudantes, a sugestão é realizar atividades de
sensibilização com os jovens para treinarem os ouvidos, abrindo escutas para várias
línguas diferentes. É interessante promover essa sensibilização, porque coloca o
estudante em um lugar de curiosidade por outras culturas, com o objetivo de
“prevenir” qualquer preconceito em relação às culturas indígenas, além de
surpreendê-los com a complexa cultura e história que os povos originários carregam,
bem como com a descoberta de seus manejos socioambientais sustentáveis.
Fique por dentro
A antropóloga Lilia Schwarcz (2020) entrevista o ambientalista e líder indígena
Ailton Krenak sobre alguns temas contemporâneos de fundamental importância
para as reflexões e debates em sala de aula, como a lama tóxica no Rio Doce,
coronavírus e a Constituição de 1988. Você precisará de aproximadamente 28
minutos para assistir ao vídeo, que está disponível neste link:
https://www.youtube.com/watch?v=GIz0hRuRXqc
PLANTAS QUE ALIMENTAM, PLANTAS QUE CURAM: PESQUISA NAS UNIVERSIDADES VALIDANDO
CONHECIMENTOS ANCESTRAIS
Para ampliar ainda mais a reflexão e discussão do grupo de estudantes sobre o
conceito de “natureza útil”, que tal iniciar a aula perguntando a eles quem toma
chás ou misturas de ervas para melhorar de uma gripe, de uma dor de estômago
ou de uma indigestão? Você perceberá que essa é a realidade de 80% da
população de países em desenvolvimento que utilizam práticas tradicionais de
cura e que destas, 85% representam o uso de plantas medicinais, segundo a OMS
– Organização Mundial de Saúde (NUPPLAMED, 2021, p. 23). Ou seja, são
substâncias provenientes de uma rica sociobiodiversidade vegetal, muitas delas
presentes na Mata Atlântica, ocupada por cerca de “[...] 200 povos indígenas, e
por diversas comunidades, como quilombolas, caiçaras e seringueiros, que
reúnem um inestimável acervo de conhecimentos tradicionais [...]” (NUPPLAMED,
2021, p. 23), conhecimentos que são fonte de estudo de várias instituições, como
a Universidade Federal do Paraná, em seu Núcleo de Pesquisa Científica e
Educacional de Plantas Medicinais (Nupplamed). O artigo nos apresenta
pesquisas atuais que indicam a existência de cerca de 450 espécies de árvores
em apenas um hectare de Mata Atlântica, mas no bioma todo concentram-se
milhares de espécies vegetais, algumas delas endêmicas, que só existem na
região.
Com essa imensa riqueza vegetal, práticas do uso de plantas medicinais no
tratamento e, também, na prevenção de problemas de saúde têm grande
relevância. Esse conhecimentoculturalmente acumulado está no horizonte de
pesquisas acadêmicas que desejam estudar os princípios ativos e possibilidades
de aproveitamentos para a indústria farmacêutica e alimentícia (NUPPLAMED,
2021).
Entretanto, a retirada dessas plantas da mata para a pesquisa deve seguir
protocolos compatíveis com a conservação, com técnicas de baixo impacto
ambiental. Os pesquisadores elaboraram uma “extratoteca” — uma biblioteca de
extratos vegetais — que permite geração de amostras a serem testadas, para que
sejam possíveis identificações de novos recursos genéticos e bioquímicos, para
uso farmacológico para diversas doenças. A bióloga Juliana Maurer,
coordenadora da Nupplamed, entende que “o potencial das espécies vegetais da
Mata Atlântica é um mecanismo também para ajudar na conservação de um dos
biomas mais ricos, importantes e ameaçados do planeta” (NUPPLAMED, 2021, p.
23-24).
Outra iniciativa, a partir dos conhecimentos tradicionais, são as PANCs – Plantas
Alimentícias Não Convencionais, um termo cunhado aqui no Brasil, pelo biólogo
Valdely Kinupp, educador do Instituto Federal AM, que estimula o reconhecimento
de plantas que podem servir de alimento!
Em um vídeo de 2018, sobre seu livro Plantas alimentícias não convencionais
(PANC) no Brasil, Kinupp nos conta que, em nosso país, existem
aproximadamente 10 mil plantas que servem como alimento. Em seu livro,
sistematizou o conhecimento de plantas que estão fora do grande circuito da
indústria de sementes. O autor nos sensibiliza sobre o acesso condicionado dos
mercados àquilo que é comestível, ligado a grandes empresas mundiais que
ditam o que deve ser consumido, passando por cima de culturas locais. Por
exemplo, o sistema bancário oferece uma linha de crédito para serem plantados
pés de maçã, fruta de origem asiática e europeia. No entanto, não existe crédito
se você quiser plantar pés de jaracatiá, árvore frutífera, típica da Mata Atlântica,
com grande possibilidade de produção de frutos para serem consumidos in
natura, assim como para produção de compotas, além de outras receitas
tradicionais. (KINUPP, 2018). O pesquisador também explicita que, em relação às
verduras, estamos condicionados a um universo limitado, muito restrito a uma
culinária estrangeira, que historicamente desvalorizou muito as possibilidades
alimentícias locais.
Valdely Kinupp também cita o Déficit de Natureza, termo cunhado pelo jornalista
já citado Richard Louv (2016), sobre pessoas que não querem colocar os pés na
terra, que têm medo de planta, têm medo da aranha, que fica na teia e jamais vai
sair dela. Aliás, vale lembrar que as aranhas promovem o controle de pernilongos
e que a grande maioria desses aracnídeos não é venenosa. Na alimentação,
também encontramos esse déficit de natureza, que faz as pessoas se
preocuparem com o biológico do alimento, mas não com o agroquímico, o
agrotóxico que vem junto. As PANCs estão por aí, nas ruas, nos terrenos baldios,
e têm grande capacidade de adaptação a muitas situações, além de serem
“alimentos funcionais, no sentido de que funcionam mesmo e são gostosos,
nutritivos e versáteis na culinária” (KINUPP 2018), pois, em geral, são fáceis de
manejar e cozinhar, como nos conta o pesquisador!
NA PRÁTICA
Vamos então desafiar nossos estudantes a pesquisar um pouco mais sobre as
PANCs? A sugestão é pedir que façam um pequeno apanhado e saiam em busca de
algum exemplar. Eles podem fotografar e registrar as condições locais — por
exemplo, se está em local úmido ou seco, onde se enraizou, qual a insolação, se está
isolada ou se está prolífica. Em uma etapa posterior, poderiam experimentar,
eventualmente, o uso culinário!
O objetivo aqui é estimular no estudante uma atitude crítica em relação a grandes
condicionamentos históricos na cultura alimentar e que não nos damos conta!
Uma sugestão é disponibilizar um guia de identificação das PANCs como esse: Guia
prático de PANC.
Questionar condicionamentos coloniais — que são colonizadores de valores e
que, historicamente, instituíram um certo desprezo hierarquizante a que culturas
originárias e tradicionais foram vítimas — pode ser muito potente para a
recuperação de subjetividades e valores caros a essas culturas em um processo
valioso de resgate, como o promovido pelas pesquisadoras da Universidade
Federal do Paraná e o pesquisador Valdely Kinupp. Essa proposta ressalta um
conteúdo apresentado pela BNCC (BRASIL, 2018, p. 537) que nos motiva: “O
desenvolvimento dessas práticas e a interação com as demais áreas do
conhecimento favorecem discussões sobre as implicações éticas, socioculturais,
políticas e econômicas de temas relacionados às Ciências da Natureza”.
RESTAURAÇÃO DE SENTIDOS: SAÚDE E NATUREZA
https://institutokairos.net/wp-content/uploads/2017/08/Cartilha-Guia-Pr%C3%A1tico-de-PANC-Plantas-Alimenticias-Nao-Convencionais.pdf
https://institutokairos.net/wp-content/uploads/2017/08/Cartilha-Guia-Pr%C3%A1tico-de-PANC-Plantas-Alimenticias-Nao-Convencionais.pdf
A partir das reflexões do bloco anterior, propomos uma nova experimentação,
dessa vez, bastante relacionada às memórias que temos de contato com a
natureza.
NA PRÁTICA
Atividade: Memória
Podemos iniciar essa atividade com uma simples pergunta aos estudantes: Alguma
árvore já foi importante para você ou para algum de seus familiares? Se não
trouxerem no momento, peça a eles que perguntem a seus familiares e amigos.
Contextualizar e informar características específicas das plantas que são citadas
como exemplo é uma boa estratégia para um engajamento mais pessoal, que
pode promover atravessamentos sensíveis, como nos diz Larrosa (2014). Para o
autor, quando você é tomado pelas experiências — quando chegam ao seu corpo
— podem ser desencadeadoras de muitas outras memórias.
Para ajudá-los a despertar o interesse pela atividade supracitada, oferecemos
aqui uma história pessoal, uma lembrança marcante: lembro-me de três lindas
paineiras-rosa, com caules cheios de espinhos; eram árvores urbanas que podiam
crescer de 15 a 30 metros de altura — segundo Lorenzi (1992), uma altura de um
prédio de aproximadamente 8 andares — e ter seus caules com até 1 metro e 20
centímetros de circunferência. Uma das características dessa linda árvore
brasileira da Mata Atlântica, usada na arborização de praças e canteiros de São
Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás, é ter crescimento rápido.
Então, continuando: se você mora em uma região que tenha paineiras, já observou
a época em que “voam” algodões de seus frutos, as painas, que, em outros
tempos, eram usados para o preenchimento de travesseiros? Essas “plumas”
vegetais são a estratégia dessa árvore para dispersar suas sementes, que são
levadas pelo vento e, assim, espalham novas vidas. Durante anos, a partir de
maio/junho dependendo do clima em geral, era possível viver essa experiência de
acompanhar a florada, a queda das flores, o crescimento do fruto e a paina que
voava. Junto a essa lembrança de tamanha beleza está a intenção de preservar
essa árvore e de “cumprimentar” cada uma delas quando passo pela cidade.
Esse é um exemplo de que quando compartilhamos uma vivência afetiva e
pessoal, repleta de informações biológicas amplas, subjetivas até, estamos
estimulando repertórios — memórias que eventualmente podem ser despertadas
— que podem servir de gancho para novas conexões. Acompanhar a vida de
outros seres vivos pode nos relembrar de conexões que podem estar
adormecidas ou mesmo latentes em nossas memórias.
Acompanhe um bate-papo sobre outras possibilidades a partir de mais um exemplo de compartilhamento de vivência afetiva com a bióloga
convidada Érika Guimarães.
Érika Guimarães
fiqueiverde
Conheça as Plantas medicinais indígenas , de Menezes e Filho (2017), um legado
de povos tradicionais do Ceará, validados por pesquisadores da UFCE.
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#
https://sosma.isesp.edu.br/pluginfile.php/4721/mod_scorm/content/5/modulo-conexoes/index.html#http://www2.ipece.ce.gov.br/SWAP/swapii/salvaguardas/PLANTAS_MEDICINAIS_INDIGENAS.pdf
Árvores, no ambiente urbano, são tão marcantes que podemos considerá-las
pistas daquilo que tinha existência antes do asfalto, das ruas e das habitações; no
caso de São Paulo e dos outros 3.429 municípios brasileiros, em 17 estados,
ocupamos o que foi parte da Mata Atlântica (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA,
2021). Não seria potente e interessante restaurarmos relações que eram tão
importantes e talvez até essenciais aos seres humanos, das quais foram se
distanciando, abandonando ou se desconectando dos valores menos
consumistas, reconectando ao usufruto e à fruição da vida simples, que podem
surgir em pequenos acontecimentos, reduzidos, mas ainda presentes em nossos
cotidianos?
Retomo o que sinaliza Richard Louv (2016), autor de A última criança na natureza,
quando conceitua o déficit de natureza, principalmente na infância. Ainda que
nossos estudantes não estejam dentro do espectro tratado por Louv, podemos
fazer um paralelo e observar que algumas famílias têm por hábito superproteger
seus filhos, passando uma mensagem de que a natureza é nociva, bem como
revela um modo higienista de tratá-la, no qual a terra, a chuva, a poça, as plantas
com espinhos só significam perigos, sujeiras, doenças. Uma certa assepsia é
divulgada como um valor maior, significando ambientes saudáveis e controlados,
amplamente veiculados nas campanhas publicitárias, geradores de consumos
que impactam diretamente o meio ambiente. E, talvez, mais nocivo ao acesso a
uma experiência corporal de fato que vai sendo mediado por uma realidade
virtual, distanciando ainda mais nossas vivências e nossos atravessamentos com
a natureza.
Devemos estimular nossos estudantes a restaurar sentidos, para que possam
entender o significado profundo da existência da Mata Atlântica e, desse modo,
defendê-la em sua integridade e potência. Restauração, no Dicionário Houaiss
(2001), remete a um “conserto de coisas desgastadas pelo uso; reparo; restauro”;
e, também, “retorno a uma situação ou estado anterior; reparação”. Que tal
restaurarmos as sensibilidades, talvez gastas pela poluição urbana, sonora e
visual, e reparar os fragmentos de percepções sobre as muitas vidas que
acontecem em nossa volta, sem hierarquias, de modo respeitoso e gentil?
NA PRÁTICA
Então, propomos novamente, que convide os estudantes a olhar de suas janelas e
mapear seus territórios. Será que eles conseguem localizar uma árvore ou mais
árvores próximas de onde estão, a uma distância a pé? Peça a eles que pesquisem o
nome da árvore e, se possível, recolham uma folha caída ou a fotografem. Se a árvore
estiver no quintal ou na calçada, peça que a descrevam e o que está no seu entorno,
se há outras vidas vegetais ao seu redor, se conseguem nomear essas vidas, definir
as cores e suas gradações, sem coletar ou sem causar prejuízo às plantas, além de
organizar esses dados de modo a produzir um gradiente de tons. Para ampliar um
pouco mais as observações, em qualquer dos casos, peça a eles para atentarem se
há pequenos animais presentes, se conseguem observar a presença (ainda que
circunstancial e de passagem) de pássaros, insetos, aracnídeos, musgos, líquens,
fungos, bem como observar se, a partir desse ser vivo, há um encadeamento de
outras vidas e outras dinâmicas que se inter-relacionam. Esses dados podem ser
analisados em sala de aula, levando em conta conceitos trabalhados na área de
ciências da natureza e suas tecnologias.
Se conseguirmos mobilizar sentidos para essa escala tão reduzida, mas que
alerta para aspectos que talvez estivessem invisibilizados no cotidiano, quem
sabe consigamos marcar subjetividades de futuros cidadãos sensíveis às causas
socioambientais.
Respire, inspire
Novas alianças em sucessivos empoderamentos são muito bem-vindas na defesa da
Mata Atlântica. Assista aos vídeos da SOS Mata Atlântica sobre a Costa dos Corais e
entenda a história da vida de Ana Paula e a história de Duda . Elas promovem
relações equilibradas com o ecossistema marinho. Reserve aproximadamente 9
minutos para assisti-los.
PRATIQUE E COMPARTILHE
A forma escolarizada em que são apresentadas várias alternativas com uma
resposta correta é utilizada como suporte mediador, que auxilia a mobilização de
várias informações, para fazer o estudante pensar sobre o que estão estudando,
sem que o foco esteja apenas e tão somente em um único aspecto. Todas as
alternativas, com inclusão de clichês, são ganchos para discussões,
posicionamentos, sensibilidades socioambientais, produtos e resultados de
construções culturais.
Contextualizando: as questões a seguir procurarão trazer, do cotidiano trivial,
situações-problema, para que provoquem reflexões, bem como mobilizem
questões trazidas pelas competências e habilidades do módulo, por exemplo,
implicações éticas e socioculturais. Nessa primeira questão, a partir de um
acontecimento simples, valores estão em jogo, além de conteúdos que buscam
https://www.youtube.com/watch?v=tQzApzRRdU4
https://www.youtube.com/watch?v=knaRYqX7k6s
um entendimento sobre manejos a favor da conservação e da avaliação dos
efeitos de uma simples ação humana em diálogo sensibilizador (EM13CNT206).
Como você percebeu, nos conteúdos levantados até aqui, várias narrativas
permeiam todas as culturas e, na urbana, uma das máximas amplamente
veiculados nas mídias é sobre uma certa higiene, um entendimento muito
higienizado em relação àquilo que se considera ambiente saudável. Por
exemplo, quando está em plena produção de frutos, uma goiabeira branca, uma
árvore brasileira e da Mata Atlântica, espalha ao seu redor muitas goiabas que
caem da árvore. Seu vizinho reclama que a árvore suja seu quintal e pede para
você podá-la. Diante desse pedido, o que fazer:
Você faz a poda dos galhos que invadem o terreno de seu vizinho.Você pensa em cortar a
árvore para evitar problemas.Você faz uma mediação, explicitando a importância da árvore,
típica da Mata Atlântica, tanto para usufruir dos frutos quanto para as vidas que à sua volta
acontecem, como pássaros e insetos, e propõe que, durante a temporada das frutas, uma
lona pode ser aberta sob a árvore.Você oferece uma geleia feita com os frutos.Você não liga
e deixa que a temporada passe e os problemas sejam esquecidos.
Contextualizando: na próxima questão, o objetivo é mobilizar e rever eventuais
preconceitos a que povos originários estão sujeitos. Em uma situação real, estão
em jogo valores distintos, nos quais parte da sobrevivência de um povo está
simbolizada na venda das pequenas esculturas. É o retrato de um cruel processo
de aculturação que ronda muitas etnias, principalmente aquelas que estão em
contato mais intenso com as não indígenas. É um exercício para colocar nosso
estudante em contextos diversos, com clichês, para provocar análises, debates,
temas de relevância sociocultural, o que vai ao encontro do que diz a
EM13CNT302. Ao analisar, repensar posições a partir de um debate franco pode
ajudar a estruturar lutas antirracistas e valorização cultural ancestral.
Você observa urubus voando em círculos que depois pousam em algum prédio e
o usam como poleiro alto. Vamos nos aproximar de conhecimentos sobre esse
bicho, um animal malquerido de nossa fauna e muito importante para o meio
ambiente. Comece a fazer conjecturas acerca desse fato e:
I - Você entende que eles estão planando e aproveitando as correntes de ar
ascendentes, portanto economizam energia e fazem um grande deslocamento.
II - Você pensa que algum animal morreu e eles estão se aproximando para
devorar a carniça.
III - Você teme que alguém da casa a qual o urubu sobrevoou vai morrer.
IV - Você presta atenção onde estão sobrevoando, pois vão atacar algo, já que
são carnívoros.
V - Você acha que é sinal de mau agouro.
Diante das opções apresentadas, assinale a alternativa correta.
I e V estão corretas.II e III estão corretas.IV e V estão corretas.I e II estão corretas.III e V
estãocorretas.
Contextualizando: na questão final, há um entrelaçamento de muitas
complexidades. Nesse acontecimento real e maravilhoso, podemos pensar como
colocar em prática manejos adequados do patrimônio que a Mata Atlântica
abarca. É uma celebração e uma constatação de que saberes respeitadores de
ciclos naturais e manejos sensíveis podem produzir encantamentos presentes da
Natureza para todos. E como valorizar e proteger esses preciosos presentes? A
partir das provocações apresentadas em cada item/possibilidade, podemos
proporcionar ao estudante um reencontro com conceitos e atitudes que pautam
vários princípios para proteção da Mata Atlântica. Você, educador, poderá achar
óbvia (e, de algum modo, são óbvias), mas essas simplificações são apenas
motivações para gerar reencontros com aspectos desenvolvidos nesses
conteúdos!
Um Pau-Brasil foi localizado no município de Itamaraju, no sul da Bahia. O
botânico Ricardo Cardim visitou o local e atestou, estimando que tenha 600
anos, com diâmetro de 7,13 m e com uma altura de 45 m. Esse gigante se
localiza em uma área totalmente preservada, com outras árvores de grande
porte, situação perfeita para que ficasse abrigado e protegido, segundo o
botânico. Situa-se em um assentamento rural do MST – Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra. (PAU-BRASIL com 600 anos é descoberto na
Bahia. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=BWOrKen3YlM
). Esse assentamento, que curiosamente se chama Pau-Brasil, tem um Plano de
Desenvolvimento Sustentável. As 51 famílias assentadas fazem a coleta de
sementes, produção de mudas e identificação de espécies, com o objetivo de
criar um viveiro de mudas nativas da Mata Atlântica. Pretendem produzir cacau
no sistema cabruca. A cabruca é um sistema agroflorestal, um plano de manejo
da produção em que o cacau é cultivado sob a sombra de espécies nativas da
floresta original. Esse sistema é importante, pois favorece a manutenção da
biodiversidade ao evitar a retirada de árvores nativas da Mata Atlântica.
(Pau-Brasil com mais de 600 anos é preservado por famílias Sem Terra em
assentamento no extremo sul da Bahia, 2020. Disponível em:
https://mst.org.br/2020/12/11/pau-brasil-com-mais-de-600-anos-e-preservado-
por-familias-sem-terra-em-assentamento-no-extremo-sul-da-bahia/ ).
A partir desses dados, que atitude você teria:
Uma árvore tão importante deve ser protegida sem acesso a público algum.Por ser tão
única, deveria ser criado um ambiente com receptivo para ser explorado comercialmente,
gerando renda para a comunidade.Um plano de manejo deve ser ampliado para que a
saúde ambiental no seu entorno seja monitorada e, depois de muitos dados levantados e
avaliados, começar a discutir com a comunidade ações com caráter didático e pedagógico
para a comunidade local e do entorno. Somente após essas etapas, avaliar se valem a
pena, ou não, ações de baixo impacto.Abrir uma trilha para facilitar o acesso e a visitação,
gerando renda para sua manutenção.Construir acessos a várias alturas da árvore para o
público poder observar os vários extratos da mesma.
https://www.youtube.com/watch?v=BWOrKen3YlM
https://mst.org.br/2020/12/11/pau-brasil-com-mais-de-600-anos-e-preservado-por-familias-sem-terra-em-assentamento-no-extremo-sul-da-bahia/
https://mst.org.br/2020/12/11/pau-brasil-com-mais-de-600-anos-e-preservado-por-familias-sem-terra-em-assentamento-no-extremo-sul-da-bahia/
CONFIRMAR
É ISSO AÍ
Queridos educadores, espero ter mobilizado alguns sentimentos e compreensões
com base nesse tema tão precioso que é a Mata Atlântica. Respeitá-la e
reverenciá-la pode fazer parte do nosso cotidiano, valorizando as pequenas
manifestações a partir de aspectos que estão presentes à nossa volta, porém
invisibilizadas e distanciadas do nosso olhar muitas vezes bastante urbanizado.
Aproximações com as principais causas da Fundação SOS Mata Atlântica foram
os grandes parâmetros utilizados como eixos que costuraram as
intencionalidades e competências estimuladas pela BNCC. Essa atitude poderá
alavancar percepções de conteúdos complexos que compõem uma trama de
ações necessárias à sua proteção e, portanto, sua sobrevivência. Espero ter
cativado mais defensores para a proteção desse bioma tão importante para o
Brasil e tantos brasileiros, e para a luta por cidadanias ativas, defensoras de
políticas públicas sensíveis e potentes.
 Lembrem-se das importantes inter-relações das vidas, vegetais, animais,
humanas, de modo não hierarquizado, com um olhar socioambiental.
 As várias camadas de sensibilização em relação à belíssima Mata: a
paisagem visual, a paisagem olfativa e a sonora.
 Toda pequena ação é valiosa e coloca nosso estudante em um lugar
empoderado de participação e responsabilidade – por exemplo, o sabão do
óleo reciclado.
 Ser mobilizado pelos questionamentos do Mito da Natureza Intocada,
transformar o significado da natureza, que pode estar em pequenas
manifestações no nosso cotidiano.
 Sempre valorizar a cultura dos povos ancestrais e tradicionais, que
demonstram grande sabedoria e sensibilidade aos ciclos naturais em suas
práticas e usos.
REFERÊNCIAS
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https://rosalux.org.br/wp-content/uploads/2017/06/Bemviver.pdf. Acesso em: 4
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A MARÉ | Duda. Fundação SOS Mata Atlântica. São Paulo. 2019. 1 vídeo (3 min e
26 seg). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=knaRYqX7k6s.
Acesso em: 4 ago. 2021.
A MARÉ | Ana Paula. Fundação SOS Mata Atlântica. São Paulo. 2019. 1 vídeo (3
min e 48 seg). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tQzApzRRdU4.
Acesso em: 4 ago. 2021.
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BARBEITOS, A. Angola-Portugal. Representações de si e de outrem ou o jogo
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BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2018.
Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/historico/BNCC_EnsinoMedio_em
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BRASIL. Biomas. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, [2021?]. Disponível em:
https://antigo.mma.gov.br/biomas/mataatl%C3%A2ntica_emdesenvolvimento.ht
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BRASIL. Lei n. 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Dispõe sobre a utilização e
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Brasília: Presidência da República, 2006. Disponível em:
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https://www.youtube.com/watch?v=5urhvu0euhg&t=1s. Acesso em: 4 ago. 2021.
ENTREVISTA Erika Guimarães (Projeto Paruqes Nacionais). Parque Nacionais. [S.
l.]. 2019. 1 vídeo (3 min e 56 seg). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=qsY9H9VMQ_w. Acesso em: 4 ago. 2021.
FLORES, T. B. et al. Guia ilustrado

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