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Cidadania e 
os movimentos populares
A utopia do possível
A maioria das famílias indigentes vive no campo. O estudo que o Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Apli-
cadas) elaborou indica que os 167 milhões de hectares de terras improdutivas do Brasil poderiam transformar 
em consumidores 4,2 milhões de famílias indigentes. Essas famílias correspondem à metade das que têm renda 
inferior ao custo da cesta básica (cerca de R$168,00 variando regionalmente). O levantamento foi feito com base 
em dados fornecidos por proprietários de terra ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). 
Segundo o Ipea, 51% das famílias indigentes do Brasil vivem no meio rural e 55% em municípios com menos de 
50 mil habitantes. Uma pesquisa da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) 
indica que a renda média de famílias assentadas no Brasil é de quatro salários mínimos. (SOUZA, Herbert)
O s movimentos populares, sociais específicos ou político-partidários são organizações que reúnem o povo com a finalidade de lutar para atingir objetivos comuns ou garantir certos direitos, como os movimentos de lavradores que lutam por terra, de moradores de um bair-
ro, vila ou favela que se articulam para conseguir casa própria, rede de esgotos, transportes, posto de 
saúde, luz ou creche para as crianças; grupos de costura, clubes de mães e grupos de teatro, artesa-
nato, música ou poesia são outros exemplos de mo-
vimentos populares; enquanto movimento político 
refere-se a agrupamento de pessoas dentro de um 
partido político ou uma organização pró-partidária, 
tendo em vista a conquista do poder político segun-
do um programa e uma ideologia.
Partidos políticos
As pessoas têm diferentes opiniões políticas. 
É comum encontrar, em uma mesma família, pa-
rentes próximos com preferências políticas até contrárias entre si. Há quem prefira os militares no 
poder e seja contra as greves dos trabalhadores. Outros apoiam as lutas dos trabalhadores e sonham 
com um Brasil mais justo. Por que as pessoas discutem tanto política? Por que não pensam todos do 
mesmo modo? Por que há tantos candidatos em eleições para um mesmo cargo?
Por que cada candidato diz uma coisa diferente? Por que é assim?
Numa sociedade democrática como a nossa, cada um tem o direito de manifestar sua opinião, 
de escolher seu projeto político.
Vamos com calma, essa diferença de opiniões políticas não é bem democracia; é, sim, o resulta-
do de uma sociedade desigual, dividida em diferentes classes sociais em que todas as pessoas vivem. 
Manifestação popular.
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O fato de os candidatos e os políticos pensarem de modo diferente uns dos outros 
não deve ser entendido como sinal de esplendor democrático. 
Os motivos são outros:
 Cada grupo de políticos representa interesses de classes diferentes. Como 
a classe mais forte é a proprietária das indústrias, das terras e dos bancos, é 
ela que conta com maior número de políticos na defesa de seus interesses.
 Cada partido político representa os interesses e as aspirações de uma 
parte da sociedade; por isso é chamado partido.
 A meta de todo partido é chegar ao poder e, assim, favorecer a parte da 
sociedade que ele representa.
 Um partido que representa a menor parte da sociedade pode, muitas vezes, 
ser o partido com maior número de votos numa eleição; basta ele contar 
com os recursos que decidem eleições: dinheiro, meios de comunicação 
de massa, apoio da máquina estatal, publicidade sofisticada etc.
Isso pode ser comprovado pelo fato de os trabalhadores serem a maioria da 
 população, mas, os que menos têm poder político. Quantos operários há no Con-
gresso Nacional? Quantos deputados estaduais defendem a causa dos assalariados 
de baixa renda? Quantos governadores estão do lado dos que moram nas favelas?
O ideal seria que todos pudessem manifestar sua opinião e escolher seu pro-
jeto político. Mas que espaço os operários ocupam na televisão, nas emissoras de 
rádio e nos jornais? “Todo poder emana do povo”, diz a Constituição Brasileira, 
mas, na verdade, emana mais dos que controlam, de fato, o poder político.
“O poder econômico determina o social e o político” (PLATÃO).
A Constituição de 1988 garantiu a 
liberdade de organização partidária no 
Brasil. Seguindo as normas estabelecidas 
pela lei, qualquer grupo de cidadãos pode 
formar um partido político. Além dessa 
medida, a Constituição estabeleceu outras 
garantias importantíssimas para o funcio-
namento da democracia, como as eleições 
diretas em todos os níveis: vereadores, pre-
feitos, deputados estaduais, governadores, 
deputados federais, senadores e presidente 
da República e, a partir da emenda consti-
tucional, a reeleição para os cargos do Exe-
cutivo. 
Movimento estudantil
Os estudantes desenvolvem uma atividade política própria. Ela é realizada 
por meio de movimentos estudantis, constituídos pelas várias entidades que con-
gregam alunos de diferentes níveis de ensino.
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A manifestação política é uma forma de pressionar o governo para rea-
lizar ações como a reforma agrária.
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Na maioria das escolas de 2.º grau existia um grêmio estudantil, órgão de 
representação, organização e mobilização dos estudantes. Criados por iniciativa 
dos próprios alunos, eles eram independentes da diretoria da escola. Extintos no 
final dos anos 1960, os estudantes secundaristas ficaram sem uma entidade que os 
representasse e praticamente sem nenhuma atuação política.
Nos últimos anos, começaram a ser articulados alguns movimentos visando 
organizar novamente agremiações estudantis nas escolas de Ensino Médio e Funda-
mental. Citamos a seguir algumas formas de participação política dos estudantes: 
 promover palestras e debates sobre questões de interesse dos alunos, 
como conjuntura política nacional, problemas internacionais, reforma 
do ensino, política partidária, temas históricos, culturais, artísticos e 
religiosos;
 organizar a mobilização dos alunos em caso de desrespeito a seus di-
reitos, de aumento extorsivo das anuidades, de mudanças curriculares 
arbitrárias e de defesa dos direitos dos funcionários da escola;
 promover mostras de filmes, peças de teatro, exposições de desenhos, pin-
turas, esculturas e artesanato, concursos literários sobre temas de interesse 
atual;
 editar o jornal dos alunos da escola;
 organizar competições esportivas, excursões, visitas a museus e cidades 
históricas, acampamentos;
 vincular os estudantes aos movimentos populares e sindicais, de modo a 
trazer à escola os reais problemas do nosso povo;
 escrever às autoridades públicas queixas, reclamações e reivindica-
ções, bem como manifestações de apoio quando agem em benefício da 
coletividade.
No passado, o movimento estudantil secundarista foi bem combativo. Os vá-
rios grêmios das escolas de um município formavam a União Municipal dos Estu-
dantes Secundários, ou algo semelhante com outro nome. Em nível estadual, havia 
entidades como a União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes) ou a União 
Gaúcha dos Estudantes Secundaristas (Uges). As entidades estaduais eram congre-
gadas na União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). A Ubes tem sede no 
Rio de Janeiro, juntamente com a União Nacional dos Estudantes (UNE). A UNE é 
o órgão de representação nacional dos estudantes do Ensino Superior, foi fundada em 
1937 sob a ditadura de Vargas; ela carrega uma gloriosa história de lutas em defesa 
não apenas do movimento estudantil, mas dos interesses do povo brasileiro. 
[...] Em muitos momentos da vida nacional os estudantes se converteram em verdadeiros 
“pontas de lança” de uma sociedade amordaçada, reprimida e oprimida, atuando no sen-
tido de desencadear movimentos de caráter mais amplo e que desembocaram em sérias 
transformações políticas no País. Bastam alguns exemplos [...] para comprovar isso: na 
campanha pelaentrada do Brasil na luta contra o nazifascismo, no início da década de 
1940; na campanha pelo estabelecimento do monopólio estatal do petróleo e a criação da 
Petrobras; nos protestos contra a ditadura, nos anos de 1966 a 1968; em todos, foi decisiva 
a participação dos estudantes, ou seja, eles, enquanto componentes de um movimento, 
assumiram o papel de fenômeno político de primeiro plano. (MENDES JR., p. 8, 1981)
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Organização popular
Na zona rural, um dos movimentos populares mais expressivos é o Movi-
mento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O “Sem terra”, como é conhe-
cido, nasceu em 1982 e visa agrupar todos os agricultores expulsos de suas terras: 
lavradores, assalariados, arrendatários, meeiros etc. Ele está presente em todos os 
estados do Sul do país, em mais de 30 municípios, com muitos núcleos de sem-
terra em cada um deles. Os homens do campo organizados no MST lutam pela 
reforma agrária baseada no princípio: terra nas mãos de quem nela trabalha. 
Outra organização importante é o Movimento Popular de Saúde (Mops), 
que congrega profissionais da saúde (médicos, enfermeiros etc.) que trabalham 
em comunidade. Os militantes desse movimento não se restringem a atender o 
povo doente; procuram, antes, conscientizar o povo a respeito das causas sociais 
e políticas de suas enfermidades e de como o movimento popular pode ajudar a 
erradicar essas causas.
Exemplo: em um bairro pobre, muitas crianças têm barriga grande e manchas 
amarelas pelo corpo; esses sinais indicam a presença de vermes na barriga – como as 
lombrigas –, por causa da água contaminada que bebem e da falta de rede de esgotos. 
Não adianta o médico receitar purgantes para expelir os vermes do intestino se a po-
pulação não se organiza para reivindicar do governo água tratada e esgoto.
Além dos movimentos populares que acabamos de citar, há muitos outros 
espalhados por todo o país, como os movimentos específicos de índios, de negros 
e de mulheres, os movimentos pastorais, os movimentos sindicais, os movimentos 
políticos, e assim por diante. 
 Movimentos específicos: são organizações que lutam pelos interesses de 
certos grupos sociais que sofrem discriminação, como é o caso dos gru-
pos União e Consciência Negra, União das Nações Indígenas, Comissão 
de Mulheres de Nova Iguaçu etc.
 Movimentos pastorais: são articulações ligadas às igrejas, como as Co-
munidades Eclesiais de Base, a Comissão Pastoral da Terra e a Pastoral 
Operária.
 Movimentos sindicais: são os órgãos de representação das categorias 
profissionais. Há sindicatos patronais e sindicatos de trabalhadores.
 Movimentos políticos: são os que agrupam pessoas em um partido po-
lítico ou uma organização pró-partidária, tendo em vista a conquista do 
poder político segundo um programa e uma ideologia.

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