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MILEK, C. M. - Processo ou Procedimento

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Processo ou Procedimento? 
 
 
10 de agosto de 2015 
 
 O processo dentro do estudo do Direito Processual Civil, pode ser definido como um conjunto 
de atos coordenados em juízo para a solução de uma lide. Sabe-se que o processo é um 
instrumento de solução de litígios da jurisdição, mas por enquanto nos manteremos nessa definição 
de conjunto de atos que são coordenados1, realizados em juízo com o intuito de solucionar um 
problema de ordem jurídica. 
 O processo se classifica em três categorias que são definidas a partir do caráter ou tipo da 
demanda que se busca. São estas classificações: 
 
1. Processo de Conhecimento: É o processo que busca a definição do direito ou quem tem 
razão. No direito italiano esse tipo de processo era definido como acertamento, ou seja, é o 
tipo de processo no qual se procura apenas definir a quem é favorável a vontade da lei. Por 
isso, pode se dizer que nesse tipo de processo as decisões são sempre teóricas buscando a 
sentença na vontade da lei. Um exemplo que pode ser usado para ajudar no entendimento 
desse processo é o de um acidente envolvendo dois veículos em via pública. Ambos os 
motoristas alegam que não foram responsáveis pelo acidente, dessa forma, vão a juízo 
(provocam a atuação da jurisdição) para sanar a dúvida. Após transitado em julgado, a dúvida 
está sanada e o processo encerrado. O juiz decidindo que A deve o conserto do veículo de B, 
o devedor quita a sua dívida se quiser. O processo que era de definição do direito já se 
encerrou. E, portanto, a demanda inicial foi atendida. 
2. Processo de execução: É o processo que busca a satisfação de um direito. Note que aqui 
não cabe a discussão a respeito de mérito2. O direito existe e será executado pelo Estado 
Juiz, nesses casos as decisões judiciais são práticas, ou seja, alteram o mundo dos fatos. 
Utilizando o mesmo exemplo citado no processo de conhecimento, decidido que A deve para 
B o conserto de seu veículo, o direito já existe e foi confirmado pelo Estado Juiz. A partir deste 
momento executa-se o direito, buscando no patrimônio de A o montante de dinheiro 
necessário para conserto do veículo de B, e assim sanando o direito que havia sido violado. 
 
1 Aqui vale a pena ressaltar que atos coordenados não são atos ordenados. Eles não precisam necessariamente respeitar uma 
ordem lógica. Um exemplo dessa exceção é a antecipação de provas, onde se registra em juízo as provas para que posteriormente se 
ajuíze a ação anexando o procedimento cautelar ao processo em questão. 
2 Caso o réu, após citado em processo de execução, queira buscar uma defesa ou contestação da razão do direito, este pode pedir 
os embargos à execução que é um dos tantos outros meios de defesa do executado no processo de execução. 
Por isso se diz de forma simples, porém muito assertiva, que as decisões dos processos de 
execução são práticas, pois alteram o mundo dos fatos. 
3. Processo Cautelar: Este tipo de processo é, em via de regra, um processo secundário, 
assessório ou auxiliar, porque visa buscar o afastamento do risco eminente à violação do 
direito. O processo cautelar pode ser conduzido juntamente com os processos de execução e 
conhecimento, já que ele resguarda o direito de riscos. Um exemplo que pode ilustrar isso é o 
caso da briga onde dois sujeitos entram em vias de fato por um balde de leite. Para que 
ninguém no calor da briga, por descuido, má-fé ou sem querer chute o balde onde se encontra 
o leite (o direito), afasta-se o balde do local da briga, se guarda em local seguro e após 
resolvida a “lide” o balde será entregue ao seu dono por direito. 
 
 
Já o procedimento nada mais é do que a roupagem, a aparência do ato processual, pode se 
definir o procedimento como a maneira através da qual o ato processual é manifesto. Como 
sabemos o processo é tridimensional, (ele ocorre em um determinado tempo, espaço e modo) o 
procedimento atua exatamente no âmbito do modo dentro da tridimensionalidade do processo. A 
petição que é um ato processual, por exemplo, deve respeitar as designações do procedimento 
previsto no artigo 282 do CPC, lembrando que a competência para legislar a respeito do 
procedimento é concorrente entre os estados membros do pacto federativo e a União3, já o 
processo é competência exclusiva da União4. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3
 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Art. 24, inciso XI. 
4
 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Art. 22, inciso I.

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