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Acordo Extrajudicial: O que é e como funciona

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ACORDO EXTRAJUDICIAL
O acordo extrajudicial é um instrumento por meio do qual duas ou mais partes em conflitos negociam os termos de resolução de modo consensual e sem necessidade de recorrer a um tribunal. Mesmo assim, um acordo desse tipo ainda é um procedimento formal e capaz de ter validade jurídica.
Para realizar um acordo extrajudicial, várias técnicas e metodologias podem ser aplicadas. As partes podem, ou não, estar representadas por advogados. E terceiros, como mediadores, conciliadores ou negociadores, podem participar do processo. Diferente de um acordo judicial, no entanto, esses mediadores não tem vínculo com o poder judiciário.
Como veremos ao longo deste artigos, esse tipo de acordo pode ser utilizado em diversas áreas do direito, como em conflitos:
· contratuais;
· consumeristas;
· trabalhistas;
· familiares;
· condominiais e de vizinhança;
· empresariais ou envolvendo negócios comerciais;
· entre tantas outras áreas.
Importa lembrar, no entanto, que tal arranjo só é possível em casos que envolvam direitos disponíveis. Isto é direitos que podem ser alvo de transação, do qual a pessoa pode dispor e que não tem, assim, caráter irrenunciável ou intransferível.
O que é um termo de acordo extrajudicial?
O termo de acordo é o documento que formaliza o que ficou consensuado entre as partes, após a negociação extrajudicial. Ele contém, portanto, os detalhes do acordo, as obrigações e compensações, e determina a vinculação jurídica entre as partes. Ele é considerado, portanto, um título executivo extrajudicial, na forma do Art. 784 do Novo CPC.
É, em última análise, o termo de acordo que garante os direitos e deveres dos envolvidos no conflito, para resolução da contenda. Por isso, ele precisa ser redigido com cuidado e seguindo os mesmos preceitos que balizariam um termo de acordo judicial.
Alguns itens que devem constar clara e expressamente na minuta do termo de acordo, são:
· identificação das partes envolvidas e da data do acordo;
· obrigação de pagar ou fazer que ficou acordada;
· como se dará o pagamento (frequência, parcelamento, meio de pagamento);
· natureza do pagamento (indenizatório ou salarial)
· procedimentos em caso de eventual mora, inadimplência ou descumprimento do acordado;
· eventuais cláusulas de liberação ou renúncia à ações futuras;
· assinatura das partes (não apenas de seus representantes) e, eventualmente, também de testemunhas.
Acordo extrajudicial tem validade jurídica? Como garantir que será cumprido
Sim, embora não tramite pelos meios tradicionais, um acordo extrajudicial não está à margem ou alheio à justiça. Se cumprir os requisitos previstos no ordenamento pátrio e for regido pela autonomia da vontade das partes, ele terá validade legal.
Para reconhecer o acordo extrajudicial e dar ainda mais segurança jurídica à essa operação, as partes poderem requerer ainda homologação judicial do procedimento. A homologação nada mais que é o encaminhamento do acordo à justiça, peticionando para que o juiz reconheça o consenso firmado entre as partes. Por meio da homologação, o acordo extrajudicial ganha força de título executivo judicial, conforme o CPC:
Art. 515.  São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título:
[…]
III. a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza;
Fundamentos legais do acordo extrajudicial
Há previsão – e até estimulo – à autocomposição e à realização de acordos em diferentes dispositivos legais. No Código de Processo Civil, art. 190, por exemplo encontramos que:
Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.
Para acordos judiciais trabalhistas, a principal base legal decorre da Reforma Trabalhista (Lei 13.467/17) que adicionou à CLT, entre outros, o artigo:
 Art. 855-B.  O processo de homologação de acordo extrajudicial terá início por petição conjunta, sendo obrigatória a representação das partes por advogado.            
§ 1o  As partes não poderão ser representadas por advogado comum.           
§ 2o  Faculta-se ao trabalhador ser assistido pelo advogado do sindicato de sua categoria.       
Vantagens em fazer acordo extrajudicial
Escolher o procedimento extrajudicial pode trazer uma série de benefícios, tanto para pessoas naturais quanto para pessoas jurídicas. Por isso, vamos separar essas vantagens a partir dessas duas frentes.
1. Vantagens de acordos extrajudiciais para empresas
Empresas que optam por estabelecer políticas de acordo e tornar esse um e-mail oficial de resolução de conflitos com parceiros, colaboradores e consumidores costumam obter benefícios como:
· economia com processos judiciais;
· mais celeridade na resolução das demandas;
· preservação da imagem da empresa;
· evita a imobilização de caixa em depósitos e bloqueios judiciais;
· mais flexibilidade no parcelamento de eventuais obrigações de pagar.
A depender do tipo de acordo extrajudicial realizado, as organizações podem ainda obter outros benefícios. É possível, por exemplo, que se incluam cláusulas de renúncia à ações futuras, o que reduziria o risco de enfrentar novas querelas.
2. Vantagens dos acordos judiciais para pessoas físicas
Já as pessoas físicas que optam por buscar a autocomposição e firmar acordos extrajudiciais podem obter:
· mais celeridade na resolução da demanda e acesso a eventuais indenizações ou compensações;
· mais flexbilidade para negociar a resolução, já que esta não dependerá da decisão de um juiz;
· preservação de relacionamentos e vínculos, principalmente em acordos que envolvem pessoas com relações anteriores;
Desvantagens em fazer acordo extrajudicial
Como você viu, o acordo extrajudicial pode trazer benesses para os envolvidos, mas é preciso tomar alguns cuidados.
Pessoas físicas, em geral, ao não submeter o conflito à avaliação do juiz, temem acabar por abdicar de alguns direitos, por falta de conhecimento jurídico. Isso pode ser facilmente minimizado buscando conhecimento sobre o tema ou procurando a ajuda de um profissional especializado.
Para pessoas jurídicas, a principal desvantagem é encontrada em casos muito complexos, quando há muitos pontos a serem discutidos, e pouca jurisprudência pacificada ou ausência de precedentes.
Significa, portanto, que para a maioria dos casos o acordo extrajudicial é uma ótima opção. Em questões de alta complexidade, entretanto, é recomendável analisar e ponderar também outros caminhos para a resolução do conflito.
Leia também:
· Acordo judicial: como funciona e qual o papel do advogado
· Advocacia extrajudicial: como funciona e onde atuar?
· Diligências jurídicas: o que são e quais os principais tipos?
· Comunicaçao de acordos: por que é importante padronizar?
Tipos de acordo extrajudicial mais comuns
Há muitas espécies de acordos extrajudiciais que podem ser firmados, a depender do tipo de negócio jurídico, área do direito ou relação que está em conflito. Alguns exemplos são:
· Acordo extrajudicial trabalhista
· Acordo extrajudicial consumerista
· Acordo extrajudicial em contratos
· Acordo extrajudicial em divórcios
· Acordo extrajudicial de alimentos
Veremos em detalhes cada um desses tipos, a seguir.
Acordo extrajudicial trabalhista
O acordo extrajudicial trabalhista é um método de resolução alternativo à Justiça do Trabalho. Ele foi regulado, no Brasil, por meio da Reforma Trabalhista (Lei 13.467/17). Segundo esse texto legal (artigos 855-B a 855-E), os acordos trabalhistas extrajudiciais podem ser firmados entre patrão e empregado, desde que:
· as partes tenham advogados distintos,e não um advogado comum – podendo, o empregado, ser representado por advogado do sindicato de sua categoria;
· a homologação do acordo seja protocolada por meio de petição conjunta à Vara do Trabalho competente;
É importante lembrar que há algumas ressalvas, relacionadas a prazos, que foram firmadas por meio da Lei 13.467/17. Dentre elas, as mais importantes são:
· Os procedimentos de homologação de acordo extrajudicial trabalhista não cessam o prazo de 10 dias (contados a partir do término do contrato), para que seja feito o pagamento dos valores constantes do instrumento de rescisão ou recibo de quitação, em caso de extinção do contrato de trabalho (Art. 855-C);
· São suspensos os prazos de prescrição trabalhista a partir do pedido de homologação do acordo. A suspensão se aplica apenas aos direitos que estão contemplados no acordo. Caso a homologação seja negada, a contagem de prazo é retomada no dia útil seguinte ao do trânsito em julgado da decisão em sentido negativo (Art. 855-E).

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