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SISTEMA DE ENSINO DIREITO CIVIL Sucessões – Parte I Livro Eletrônico 2 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias Sumário Apresentação ................................................................................................................................... 4 Sucessões – Parte I......................................................................................................................... 7 1. Definição de Sucessão causa mortis ...................................................................................... 7 2. Abertura da Sucessão, Delação e Adição .............................................................................. 8 3. Princípio da Saisine e o Princípio da Indivisibilidade da Herança .................................... 8 3.1. Regra Geral e Nomenclaturas (Espólio, Herança, Monte-Mor e Acervo) ..................... 8 3.2. Situação do Legado e dos Frutos ....................................................................................... 10 3.3. Questão Especial ....................................................................................................................12 4. Aceitação e Renúncia da Herança ..........................................................................................12 4.1. Noções Gerais ..........................................................................................................................12 4.2. Forma de Aceitação ...............................................................................................................13 5. Cessão de Direito Hereditário (Renúncia Translativa) .......................................................16 5.1. Noções Gerais ..........................................................................................................................16 5.2. Cessão de Meação: Escritura Pública? .............................................................................. 17 6. Benefício de Inventário ........................................................................................................... 18 7. Vocação Hereditária ................................................................................................................. 18 7.1. Nomenclaturas: Incapacidade Sucessória, Incapacidade Testamentária Passiva, Legitimação ou Vocação Hereditária? ...................................................................................... 18 7.2. Regra Geral ...............................................................................................................................19 7.3. Exceção .....................................................................................................................................19 8. Exclusão da Sucessão..............................................................................................................20 8.1. Definição ..................................................................................................................................20 8.2. Indignidade (para Sucessão Legítima ou Testamentária) .............................................21 8.3. Deserdação (só para Sucessão Legítima) ........................................................................ 23 8.4. Classificação quanto à Fonte (Sucessão Legítima, Testamentária ou Irregular) ...24 8.5. Vedação à Sucessão Contratual (ao Pacto de Corvina) ................................................. 25 9. Meação, Herança e Legado ..................................................................................................... 26 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 3 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias 9.1. Distinção .................................................................................................................................. 26 9.2. Cálculo do Acervo Hereditário (Monte-Mor) ................................................................... 27 10. Classificação quanto aos Efeitos (Sucessão a Título Singular e a Título Universal): Herdeiro vs Legatário ..............................................................................................28 11. Espécies de Herdeiro............................................................................................................... 29 12. Legítima ..................................................................................................................................... 29 12.1. Definição ................................................................................................................................. 29 12.2. Exceções à Intangibilidade da Legítima .......................................................................... 30 13. Colação ...................................................................................................................................... 32 14. Sucessão Legítima .................................................................................................................. 33 14.1. Direito Real de Habitação ao Viúvo .................................................................................. 33 14.2. Sucessão Causa Mortis na União Estável ......................................................................34 14.3. Formas de Recebimento na Sucessão Legítima ............................................................34 Questões de Concurso .................................................................................................................42 Gabarito ........................................................................................................................................... 63 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 4 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias ApresentAção Olá, queridos amigos e queridas amigas!! Escute, desde logo: o ideal é você ler a teoria deste PDF e os comentários dos exercícios que estão ao final. Separei tudo de forma milimetricamente calculada para você estar prepara- do para enfrentar as provas. Mais uma recomendação: faça você mesmo o seu resumo ou seu próprio mapa mental. Não basta você ler o PDF; é fundamental você escrever o que você está aprendendo, pois isso é que faz você fixar a matéria. Escrever o que você estuda te ajudará também a treinar para as provas discursivas. Você é que precisa sistematizar o conhecimento. Não recomendo que você busque resumos ou mapas mentais feitos por outras pessoas, a não ser que, posterior- mente, você elabore o seu próprio resumo ou mapa mental. Eu, pessoalmente, prefiro fazer um resumo a fazer um mapa mental. Eu fixo mais assim. Fique, porém, à vontade para adotar a metodologia de sua preferência. Vamos em frente! Resumo Amigos e amigas, quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercícios. É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu apro- fundar o conteúdo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as questões. De nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familia- ridade com a bola. Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir às questões. O resumo desta aula é este: • Meação é a parte devida ao cônjuge sobre os bens comuns, os quais decorrem do regi- me de bens do casamento.É regido de direito de família; • Herança (em sentido amplo) é o quinhão devido ao herdeiro por força de uma sucessão causa mortis. É regido por direito sucessório; • Ao se deparar com um problema, é fundamental, antes de tudo, separar a meação do viúvo para, só depois, discutir a partilha dos bens do falecido na sucessão causa mortis; • Por ficção jurídica, a herança se transmite no momento da morte (Princípio da Saisine) – art. 1.784 do CC; • Até a partilha, a herança (em sentido amplo = todos os ativos e passivos do falecido) considera-se uma bem indivisível – art. 1.791 do CC; • Sucessão legítima ou ab intestato é a que decorre da lei e aplica-se aos bens em relação aos quais inexista testamento (válido e eficaz), conforme art. 1.788 do CC. O CC trata do tema nos arts. 1.829 e ss, além das normas gerais dos arts. 1.784 a 1.828; O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 5 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias • Sucessão testamentária é a que deriva de disposição de última vontade, formalizada, no direito brasileiro, por meio do testamento ou do codicilo. A disciplina da sucessão testamentária está nos arts. 1.857 e ss do CC, além das normas gerais dos arts. 1.784 a 1.828; • Há dois tipos de sucessores causa mortis: herdeiro (em sentido estrito) e legatário; • Herdeiro: é quem recebe a título universal. Receber a título universal é receber um o pa- trimônio ou a fração do patrimônio recebido, ou seja, receber uma herança (em sentido estrito). Ex.: recebo 10% do patrimônio de alguém; • Legatário: é quem recebe a título singular. Receber a título singular é receber uma coisa individualizada, ou seja, receber um legado. Ex.: recebo um determinado apartamento do Rio de Janeiro; • Tipos de herdeiro: − Herdeiro testamentário: sucede por testamento. Ex.: testador deixa 20% do seu patri- mônio ao João; − Herdeiro legítimo: sucede por lei. Pode ser dividido em: ◦ Herdeiro necessário, legitimário ou reservatário: tem direito à “legítima” de pleno direito (art. 1.846, CC). Veremos o que é legítima daqui a pouco. Os herdeiros ne- cessários são o cônjuge, os ascendentes e os descendentes, conforme art. 1.845 do CC; ◦ Herdeiro facultativo ou colateral: não tem direito à “legítima”. São os demais her- deiros legítimos, ou seja, os parentes colaterais até o 4ª grau; • Legítima ou reserva legitimaria corresponde à metade do patrimônio de uma pessoa que possui herdeiros necessários (arts. 1.789, 1.846 a 1.850 do CC); • O CC adotou o “sistema da liberdade de testar limitada”, de modo que, se o testador possui herdeiros necessários, ser-lhe-á vedado dispor, em testamento, de mais da me- tade de seu patrimônio. É que metade do patrimônio constitui a legítima ou a reserva legitimária (a qual pertence, de pleno direito, aos herdeiros necessários), ao passo que a outra metade é a porção disponível (da qual o testador pode dispor livremente; • Casos que excepcionam a proteção à legítima (e fazem o herdeiro necessário perder ou sofrer restrições sobre a legítima: − deserdação (art. 1.961 e ss, CC); − indignidade (art. 1.814 e ss, CC); − imposição de cláusula restritiva da propriedade com justa causa (art. 1.848, CC); • Proteção da legítima diante de atos antes da morte: − Doação inoficiosa (art. 549, CC); − Antecipação de legítima e colação (arts. 544 e 2.005 do CC); • Benefício de inventário: os herdeiros respondem “intra vires hereditatis” (dentro da força da herança), conforme art. 1.792 do CC; O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 6 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias • Na sucessão legítima, se houver descendentes e viúvo, a jurisprudência do STJ se fir- mou no seguinte sentido acerca da interpretação do art. 1.829, I, do CC: salvo no regime da separação legal (= regime da separação obrigatória), o cônjuge supérstite sempre concorrerá com os descendentes do de cujus sobre a porção da herança composta por bens particulares do de cujus. Em nenhuma hipótese ele concorre sobre a porção forma- da pelos bens comuns; • O direito real de habitação previsto para o cônjuge na forma do art. 1831 do CC se es- tende ao companheiro, de modo a garantir um direito real de habitação em igualdade de condições com o cônjuge. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 7 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias SUCESSÕES – PARTE I 1. Definição De sucessão cAusA mortis Sucessão Por ato inter vivos Ex.: cessão de crédito, assunção de dívida, venda de um bem etc. Por ato causa mortis Objeto do DIREITO DAS SUCESSÕES Conjunto de princípios segundo os quais se realiza a transmissão do patrimônio de alguém, que deixa de existir Direito das sucessões “é o complexo dos princípios segundo os quais se realiza a transfe- rência do patrimônio de alguém, que deixa de existir” (Clóvis Bevilaqua). “Direito das sucessões, ou hereditário, é o complexo dos princípios, segundo os quais se re- aliza a transmissão do patrimônio de alguém, que deixa de existir. Essa transmissão constitui a sucessão; o patrimônio transmitido é a herança; quem recebe a herança é herdeiro ou legatário” (Maria Helena Diniz). Com a morte de uma pessoa, as suas relações jurídicas continuam com todos os seus ele- mentos inalterados (título, preço, objeto, etc.), salvo um: o sujeito, que passa a ser o sucessor. A disciplina das sucessões causa mortis está nos arts. 1.784 e ss do CC. O fenômeno de alguém substituir (suceder) outrem em uma situação ou relação jurídicas pode dar-se: • Por ato inter vivos: é o caso das hipóteses de transmissão das obrigações (cessão de crédito, assunção de dívida, cessão de contrato - arts. 286 e ss, CC), a sub-rogação pes- soal (art. 346, CC) e transmissão de direitos reais e cessões de direitos; • Por ato causa mortis: é o objeto do Direito das Sucessões. Convém lembrar que uma “coisa” pode suceder outra por meio do fenômeno que conhe- cemos como sub-rogação real. Nesse caso, as características jurídicas que pesavam sobre a coisa sucedida passam para a nova. É o caso, por exemplo, de o juiz autorizar a troca de uma casa gravada com cláusula de inalienabilidade por outra nos termos do parágrafo único do art. 1.911 do CC: a cláusula restritiva da propriedade passará a gravar a nova casa, fenômeno que conhecemos como sub-rogação real. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 8 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias 2. AberturA DA sucessão, DelAção e ADição Abertura da sucessão Instante do surgimento do direito hereditário Ocorre no momento da MORTE Delação ou devolução hereditária Consiste na oferta da herança ao sucessor Ocorre no mesmo momento da abertura da sucessão Adição ou aquisição da herança Momento em queo herdeiro efetivamente adquire a titularidade da herança 2 correntes Adição ocorre no momento da aceitação da herança Ocorre no mesmo momento da abertura da sucessão, embora fique sujeita a espécie de condição resolutiva (renúncia ou aceitação) Há três fenômenos iniciais importantes no Direito Sucessório, conforme lembra Orlando Gomes (2012, p. 13): abertura da sucessão, delação e adição. Abertura da sucessão é o instante do nascimento do direito hereditário. Dá-se com a morte da pessoa. Delação ou devolução hereditária ocorre no mesmo momento da abertura da sucessão e consiste na oferta da herança ao sucessor. Adição ou aquisição da herança é o momento em que o herdeiro efetivamente adquire a titularidade da herança (que lhe havia sido “ofertada”). Para alguns doutrinadores, a adição ocorre no momento da aceitação da herança; para outros, dá-se no mesmo momento da aber- tura da sucessão, embora fique sujeita a uma espécie de condição resolutiva, que é a eventual não aceitação ou renúncia à herança. Preferimos seguir essa última corrente, pois o parágrafo único do art. 1.804 do CC, ao apontar para um efeito retroativo da renúncia à herança, demons- tra que juridicamente a aquisição da herança já havia ocorrido, mas foi, por ficção jurídica, apagada com a renúncia. 3. princípio DA sAisine e o princípio DA inDivisibiliDADe DA HerAnçA 3.1. regrA gerAl e nomenclAturAs (espólio, HerAnçA, monte-mor e Acervo) Princípio da saisine A propriedade e a posse de todo o patrimônio do falecido transmitem-se aos herdeiros legítimos e testamentários no momento da morte Herança = todo o patrimônio do de cujus = universalidade de direito = bem indivisível Cada herdeiro é titular de uma fração ideal dessa universalidade de direito Por essa razão, aplicam-se as regras do CONDOMÍNIO TRADICIONAL O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 9 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias Pelo princípio da saisine ou, em português, da saisina (droit de saisine)1, a propriedade e a posse de todo o patrimônio do falecido transmitem-se aos herdeiros legítimos e testamentá- rios no momento da morte (art. 1.784, CC). Por força do art. 1.791 do CC, todo o patrimônio do de cujus (ou seja, os ativos e os passi- vos) é considerada uma única coisa indivisível, o que caracteriza um exemplo de bem coleti- vo na modalidade “universalidade de direito” (art. 91, CC). Essa universalidade é chamada de herança (em sentido amplo), de acervo hereditário, de monte-mor ou de espólio (este último é mais utilizado quando se quer enfatizar a sua situação de sujeito de direito despersonalizado). Cada herdeiro é titular de uma fração ideal dessa universalidade de direito, razão por que o parágrafo único do art. 1.791 do CC estabelece que serão aplicadas as regras de condomí- nio, ou seja, as regras dos arts. 1.314 ao 1.326 do CC. Trata-se do princípio da indivisibilidade da herança. Metaforicamente, se considerarmos cada bem e cada dívida como uma batata, a morte do seu titular faz com que todas essas batatas se fundam em um grande purê de batata (que é o espólio). Cada herdeiro é titular de um “percentual” (fração ideal”) desse purê de batata. Com a partilha futura, será individualizado um pedaço desse purê de batata a cada herdeiro. 1 O princípio da saisine foi importado do direito francês. Como destaca o membro da Academia Brasileira de Letras Jurídicas Dulcydides de Toldedo Piza, a palavra saisine. - que tem origem no verbo francês “saisir” e que é uma palavra de origem germânica - significa tomar a posse ou empossar e remonta ao século XII, à época do direito feudal francês. Nesse direito medieval, o verbete exprimia a ficção jurídica de que, com a morte, imediatamente os herdeiros se empossavam (no sen- tido de tornarem-se donos e possuidores) dos bens do falecido, tudo conforme esta máxima recorrente no direito francês medieval: “le mort saisit le vif, son hoir le plus proche et habile à lui suceder”, que, conforme traduz o retrocitado professor, “o morto investe na posse de seus bens o seu herdeiro mais próximo” (Piza, 1985, p. 47). Esse brocardo é “encontrada no art. 318 da “Coutume de Paris”, segundo testemunho de Ambroise Colin e Henri Capitant (cf. Cours Élémentaire de Droit Civil Français, tome troisième, dixième Édition, p. 525/526 - Libraire Dalloz - 1950 - Paris) (...)” (Piza, 1985, p. 48). No direito inglês, grafa-se como “seisin” ou “seizin” (Piza, p. 49). É igualmente aceitável utilizar o verbete “saisina” (Piza, 1985, p. 52). 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Não há essa ficção jurídica para a coisa legada. Com a abertura da sucessão (morte do de cujus), o legatário recebe apenas o direito de pedir aos herdeiros legítimos ou testamentá- rios a coisa legada com os seus frutos (se for coisa certa). De fato, em regra geral, a posse e a propriedade do legado só serão transferidas aos legatários após ser verificada a solvência do espólio (Antonini, 2012, p. 2274) e após cessado qualquer litígio ou condição ou termo sus- pensivos (art. 1.924 do CC). Daí decorre consequências práticas, como lembra Orosimbo Nonato (1957-C, p. 15) citan- do Clóvis Beviláqua. Como a ficção jurídica da transmissão imediata da herança (princípio da saisine) só se aplica aos herdeiros legítimos ou testamentários, estes automaticamente assu- mem a propriedade e a posse dos bens do falecido sem necessidade de pedir ao juiz a imissão na posse, de modo que: (1) podem valer-se de interditos possessórios contra terceiros; (2) sucedem processualmente o falecido nas ações possessórias então em curso; e (3) garantem, no caso de sua morte, a transmissão imediata aos seus herdeiros de todos os direitos adquiri- dos por força da aludida presunção legal. 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A posse será do espólio (dos herdeiros legítimos e testamentários) até ser transferida ao legatário na etapa adequada do procedimento de inventário e partilha como fruto do exercí- cio do direito de pedir o legado aos herdeiros (legítimos ou testamentários). O legatário de coisa certa, pois, não pode forçar imitir-se na posse do bem logo após a morte (art. 1.923, § 1º, do CC). Apesar disso, o legislador assegura ao legatário o direito aos frutos produzidos pela coisa desde a morte do falecido (art. 1.923, § 2º, CC). Se deixo um determinado apartamento a al- guém, os aluguéis desse apartamento após minha morte até o momento em que a coisa seja entregue efetivamente ao legado pertencerão ao legatário: cabe, pois, ao inventariante “guar- dar” os aluguéis para entregar ao legatário no momento oportuno. É claro que o testador pode dispor em sentido contrário, afastando o direito aos frutos, pois se trata de direito disponível: o § 2º do art. 1.923 do CC é norma dispositiva, e não cogente (Antonini, 2012, p. 2274). Chamamos a atenção para o fato de que, no caso de legado de coisa certa sob condição suspensiva, o legatário só adquirirá a propriedade da coisa com o implemento dessa condição, e não com a morte do testador, tudo conforme arts. 125 e 1.923 do CC. Se, porém, o legado de coisa certa sob termo suspensivo, o legatário adquire a sua pro- priedade com a morte do falecido, mas só poderá exercer o seu direito após o implemento do termo na forma dos arts. 131 e 1.923 do CC. Nessa hipótese, o legatário só poderá exigir os frutos produzidos pela coisa após o implemento do termo suspensivo (art. 1.923, § 1º, CC). 2 Orosimbo Nonato, aludindo à inaplicabilidade do princípio da saisine previsto no art. 1.572 do CC/1916 (que corresponde ao art. 1.784 do CC/2002), realçava: “685. O traço diferencial mais colorido, entretanto, entre o herdeiro e o legatário é que este, com a morte do testador, adquire o só direito a pedir aos herdeiros instituídos a coisa legada (art. 1.690), ao passo que aquele, o herdeiro (legítimo ou testa- mentário), aberta a sucessão, se investe imediatamente no domínio e posse da herança (art. 1.572). Certo, desde o dirá da morte do testador, pertence ao legatário a coisa legada [na verdade, com o CC/2002, isso vale apenas para o legado de coisa certa], com os frutos, que produzir (...); mas o domínio e a posse da coisa legada não se lhe atribuem pela fictio iuris traduzida no art. 1.572. Estabelece o art. 1.572 [assim como o correspondente art. 1.784 do CC/2002) em favor do herdeiro legítimo e testamentário (não aludiu ao legatário) o droit de sasine. Por uma fictio iuris, aberta a sucessão, o domínio e a posse da herança transmitem-se imediatamente àqueles sucessores, ainda que nenhum ato nesse sentido pratiquem, e ainda com a sua insciência” (Nonato, 1957-C, p. 15). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 12 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias 3.3. Questão especiAl 3.3.1. Momento para Definição da Alíquota e do Valor de Avaliação dos Bens para Efeito de ITCD Princípio do saisine Momento do cálculo do ITCD Base de cálculo será o valor do bem no momento da avaliação, e não da morte A alíquota será a vigente no momento da sucessão Apesar do princípio da saisine, a definição da base de cálculo do ITCD deve corresponder ao valor dos bens do falecido na data da avaliação, conforme Súmula n. 113/STF (“O Imposto de Transmissão causa mortis é calculado sobre o valor dos bens na data da avaliação”). Não se leva em conta o valor à época da morte, por motivos práticos: é pouco operacional fazer essa avaliação retroativa. A alíquota, porém, por força do princípio da saisine, é definida de acordo com a lei da época da abertura da sucessão, conforme Súmula n. 112/STF (“O Imposto de Transmissão causa mortis é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da sucessão”). 4. AceitAção e renúnciA DA HerAnçA 4.1. noções gerAis Aceitação e renúncia da herança Não aceitação da herança = condição resolutiva Se o herdeiro não aceitar a herança, presume-se que a sucessão não ocorreu Se aceitar a herança, a transmissão se torna definitiva Apesar de, por força do princípio da saisine, a propriedade e a posse da herança se trans- mitir aos herdeiros no momento da morte, o art. 1.804 do CC deixa essa transmissão sob uma espécie de condição resolutiva: a não aceitação da herança3. Se o herdeiro não aceitar a herança, presume-se que a transmissão não ocorreu (art. 1.804, parágrafo, do CC). 3 Pontes de Miranda recorda que, como forma de explicar a ficção do princípio da saisine, “os intérpretes (e.g., E. AÇOLLAS, Manuel de Droit Civil, II, 192 s.) levantaram a questão da suspensividade ou resolutividade da aceitação: isto é, ou o herdeiro recebe com a condição suspensividade de aceitar, ou com a condição resolutiva de renunciar” (Miranda, 1984-LVI, p. 9). 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Além disso, pode haver algum motivo moral por meio do qual um herdeiro queira repudiar a herança. 4.2. formA De AceitAção Forma de aceitação Expressa Dá-se por escrito Lei não especifica o tipo de forma escrita Tácita Dá-se com a prática de atos próprios da qualidade de herdeiro Exemplos Ajuizamento da ação de inventário Formulação de pedido de habilitação no inventário Concordância com a avaliação dos bens e cessão de direito hereditário Atos oficiosos não exprimem aceitação A aceitação pode ser expressa ou tácita. 4.2.1. Aceitação e Expressa A aceitação expressa é aquela que se dá por escrito: não pode ser verbal. A lei não faz es- pecífica o tipo de forma escrita: pode ser uma declaração em instrumento particular, em escri- tura pública ou em uma petição subscrita pelo advogado com poderes de mandato específico para renunciar direitos. 4.2.2. Aceitação Tácita A aceitação tácita se dá em um único caso: a prática de atos próprios da qualidade de herdeiro (art. 1.805, CC). Agir como herdeiro é uma aceitação tácita. O art. 476 do Código Civil italiano tem definição perfeitamente aplicável ao sistema brasileiro: “A aceitação é tácita quan- do o chamado à herança pratica um ato que pressupõe, necessariamente, a sua vontade de aceitar e que não teria o direito de fazer senão na qualidade de herdeiro”. Trata-se de hipótese bem aberta, capaz de abranger diversas situações em que se pode inferir inequivocamente a aceitação da herança a depender do caso concreto. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meiose a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 14 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias Os principais exemplos são: o ajuizamento da ação de inventário ou de arrolamento, a formulação de pedido de habilitação no inventário, a concordância com a avaliação dos bens integrantes da herança e a cessão de direito hereditário. O § 1º do art. 1.805 é explícito em afirmar que não caracterizam aceitação tácita são os atos oficiosos (= atos desinteressados) que o senso comum exige diante da morte de um pa- rente, como realizar o funeral ou cuidar desinteressadamente dos bens deixados para evitar- -lhes a deterioração ou a ruína. Seria despropositado considerar que um filho que guarda o veículo ou a casa do seu faleci- do pai ou que promove o funeral pagando as pertinentes despesas tenha aceitado tacitamente a herança, pois aí se tem apenas uma conduta obsequiosa imposta pela moral. Eis a redação § 1º do art. 1.805: “Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória”. Igualmente o § 2º do art. 1.805 do CC é textual em afirmar que a cessão gratuita, pura e simples da herança4 para todos os demais coerdeiros não implica aceitação tácita, pois, nesse caso, o herdeiro está, na verdade, usando outras palavras para expressar uma renúncia abdica- tiva. Se eu digo “cedo todos meus os direitos hereditários para os demais coerdeiros”, isso é o mesmo que “renuncio aos meus direitos hereditários”. Afinal de contas, aí o quinhão renuncia- do vai para todos os demais herdeiros. Quanto a essa última ressalva (a do § 2º do art. 1.805 do CC), cabem dois esclarecimentos. De um lado, não estamos a tratar aí da hipótese de o herdeiro ceder o seu direito hereditário a uma pessoa determinada, pois aí não haverá uma renúncia abdicativa, e sim uma renúncia translativa (que, na verdade, é uma aceitação da herança seguida de uma cessão gratuita da herança a um herdeiro específico). De outro lado, quando o § 2º do art. 1.805 do CC afirma que “não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais coerdeiros”, deve-se inter- pretar restritivamente esse preceito para se restringir àqueles casos em que a cessão desin- teressada seja equivalente a uma renúncia abdicativa. Em outras palavras, essa cessão tem de gerar o mesmo efeito prático da renúncia abdicativa: o quinhão do herdeiro cedente tem de ir para aqueles que, no caso de renúncia abdicativa, seriam contemplados na sucessão legíti- ma na forma do art. 1.810 do CC. O dispositivo destina-se a “passar pano quente” sobre uma atecnia do herdeiro que, no lugar de manifestar uma renúncia abdicativa, manifesta ato jurídico de igual resultado prático: ceder gratuitamente e de forma pura e simples a sua quota para os demais coerdeiros. Se, porém, a cessão gratuita, pura e simples individualizar os herdeiros, não se aplica o § 2º do art. 1.805 do CC, pois aí as pessoas nominadas poderão ser contempladas, e não outros que, no regime da sucessão legítima, seriam aquinhoados. A título exemplificativo, suponha, após a morte do meu pai, cujos herdeiros de classe mais próxima seria eu e meus irmãos, eu manifesto esta vontade: “cedo gratuitamente meu quinhão 4 Cessão gratuita, pura e simples é a cessão sem cobrança de nenhuma remuneração e sem termo, condição e encargo. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 15 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias hereditário aos meus irmãos sem qualquer encargo, termo ou condição”. Se meus irmãos não aceitarem a herança nem o quinhão que eu lhes cedi, os meus sobrinhos não poderão reivindi- car o quinhão que eu cedi aos meus irmãos, dado o caráter personalíssimo da minha manifes- tação de vontade. Por isso, no exemplo em pauta, eu aceitei a herança e cedi o meu quinhão a outrem: houve, pois, o efeito prático de uma renúncia translativa, e não de uma renúncia abdicativa. Ainda no exemplo acima, suponha que eu tenha manifestado esta vontade: “cedo gratui- tamente meu quinhão hereditário aos demais herdeiros” ou – o que seria o mesmo – “cedo minha herança ao monte-mor”. Por força do § 2º do art. 1.805 do CC, aí se terá o mesmo efeito de uma renúncia abdicativa: meu quinhão irá para os herdeiros na forma das regras sucessão legítima. O mais técnico, porém, seria que eu ter manifestado uma renúncia da herança, e não uma cessão gratuita: o § 2º do art. 1.805 do CC tolerou essa atecnia. Questões Especiais Renúncia e aceitação da herança Questões especiais Necessidade de outorga conjugal para renúncia Renúncia abdicativa Prescinde de outorga conjugal Cessão de direito hereditário Atrai a necessidade de vênia conjugal Poderes do advogado para apresentar renúncia de herança nos autos É possível se a procuração com poderes especiais for feita por escritura pública (STJ) Necessidade ou não de Outorga Conjugal para a Renúncia de Herança O direito à sucessão aberta (= direito à herança) é um bem imóvel por determinação legal (art. 80, II, CC). Daí se indaga: a renúncia abdicativa à herança e a cessão do direito heredi- tário (renúncia translativa) depende ou não da vênia conjugal com fulcro no inciso I do art. 1.647 do CC? Entendemos que, no caso de renúncia abdicativa, não se deve aplicar o inciso I do art. 1.647 do CC, porque o consorte está apenas se recusando a confirmar a transmissão hereditá- ria ocorrida presumidamente com a morte do de cujus. Ele não está transferindo o seu direito hereditário a ninguém. Já no caso de cessão de direito hereditário (cessão de direito hereditário), há transmissão de um bem imóvel por determinação legal a atrair a necessidade de vênia conjugal. O tema, porém, é controverso. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 16 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias Poderes do Advogado para Apresentar Renúncia (Abdicativa) de Herança nos Autos A renúncia (abdicativa) é solene: tem de ser feita por escritura pública ou por termo judicial (art. 1.806, CC). Termo judicial é a própria parte assinar em juízo o termo de renúncia à herança. Daí se indaga: o advogado, munido de procuração com poderes específicos, poderia repre- sentar o herdeiro nesse ato de renúncia por termo judicial STJ admite que sim, desde que a procuração dada ao advogado tenha a assumido a mes- ma forma exigida pelo art. 1.806 do CC em razão do princípio do paralelismo das formas, tam- bém chamado de princípio da atração das formas, aplicada ao mandato (art. 657, CC). Logo, se a procuração dada pelo advogado foi por instrumento particular (o que é a praxe), a renúncia à herança apresentada pelo advogado não será válida nem deverá ser acolhida, pois a forma adotada pela procuração não foi escritura pública nem - o que não é comum para procuração ad juditia5 - por termo judicial. 5. cessão De Direito HereDitário (renúnciA trAnslAtivA) 5.1. noções gerAis Cessão de direito hereditário = renúncia translativa Direito hereditário pode ser alienado Sempre será feito por escritura pública É considerada transmissão de bem imóvel Se for onerosa, será fato gerador do ITBI Atraia necessidade de vênia conjugal O direito hereditário pode ser alienado, o que se perfaz por meio da cessão de direito here- ditário, conforme art.1.793 do CC. A forma do negócio tem de ser por escritura pública por força do art. 1.793 do CC. Como o direito à sucessão aberta (= direito à herança = direito hereditário) é um bem imóvel por determinação legal (art. 80, II, CC), tem-se que a cessão de direito hereditário caracteriza uma 5 É viável ser dado procuração por termo judicial: trata-se da chamada procuração apud acta. Todavia, ela é comum em audi- ências, quando a parte declara, com o devido registro na ata, que nomeia seu o advogado para representá-la nos autos. Vemos, porém, como não operacional, para efeito de renúncia à herança, a procuração apud acta, pois não há audiência. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 17 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias transmissão de bem imóvel, do que decorre que, se essa cessão for onerosa, teremos um fato gerador do ITBI. A cessão de direito hereditário (renúncia translativa) depende ou não da vênia conjugal com fulcro no inciso I do art. 1.647 do CC? Entendemos que sim, pois há transmissão de um bem imóvel por determinação legal a atrair a necessidade de vênia conjugal. 5.2. cessão De meAção: escriturA públicA? Cessão de meação Regra Instrumento particular ou escritura pública Exceção Cessão envolver de imóveis de valor superior a 30 salários mínimos (escritura pública)Controvérsia doutrinária Há casos em que, no processo de inventário, o viúvo quer transferir sua meação a um dos herdeiros. Nesse caso, indaga-se: a cessão da meação deverá ser feita por termos nos autos, por escritura pública ou por instrumento particular? A meação é a metade dos bens comuns pertencente ao cônjuge supérstite em razão do regime de bens do casamento. Não é herança e, portanto, ao tratarmos de uma cessão de meação, não estamos a falar aqui de cessão de direito hereditário art. 1.793 do CC (que exige escritura pública) nem de uma renúncia de herança, que, à luz do art. 1.806 do CC, pode ser feita por termo nos autos ou por escritura pública. Daí se segue que a cessão de meação não pode ser feita por termo nos autos (como se dá com as renúncias à herança). Discute-se, porém, se é necessário escritura pública para a cessão da meação não sob a ótica do art. 1.793 do CC (que é inaplicável), e sim sob a perspectiva do art. 108 do CC. O STJ entende que a cessão da meação, em regra, pode ser feita tanto por instrumento par- ticular quanto por escritura pública, salvo quando envolver imóvel de valor superior a 30 salá- rios mínimos, pois, nessa hipótese, a escritura pública seria obrigatória em razão da incidência do art. 108 do CC (que exige escritura pública para negócios jurídicos envolvendo direitos reais sobre imóveis de valor superior a 30 salários mínimos) (STJ, REsp 1196992/MS, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 22/08/2013). Ousamos, porém, pensar diferente. Temos por irrelevante se há ou não bem imóvel envol- vido na meação, pois esta é um bem coletivo na modalidade de universalidade de direito (art. 91 do CC) e, assim, ela deve ser considerada um bem (coletivo) móvel por se enquadrar em um O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 18 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias direito pessoal de caráter patrimonial nos termos do art. 83, III, do CC. É diferente do que se dá com a herança, que, apesar de também ser uma universalidade de direito, é considerada um bem imóvel por previsão legal expressa nesse sentido (art. 80, II, do CC). 6. benefício De inventário O Herdeiro não responde além das forças da herança. Em outras palavras, se o pai morre e só deixa dívidas, os filhos não terão de pagar essas dívidas, pois a dívida não passa aos fi- lhos além da força da herança. Trata-se do chamado benefício de inventário, segundo o qual os herdeiros respondem “intra vires hereditatis” (dentro da força da herança), tudo conforme o art. 1.792 do CC. 7. vocAção HereDitáriA 7.1. nomenclAturAs: incApAciDADe sucessóriA, incApAciDADe testAmentáriA pAssivA, legitimAção ou vocAção HereDitáriA? Nascidos ou concebidos têm legitimidade para a sucessão legítima ou testamentária Concepturo Só se concebido nos 2 anos seguintes à abertura da sucessão Exceções Incapacidade sucessória para pessoas em conflito de interesse ou em conflito moral (arts. 1.801 e 1.802, CC) Vocação hereditária Princípio da COEXISTÊNCIA Pessoa jurídica tem legitimidade só em sucessão testamentária Nos arts. 1.798 ao 1.803 do CC, indicam-se as pessoas e os entes que podem ter direito a participar de uma sucessão legítima ou testamentária. Trata-se, pois, do que o próprio Código Civil chama de “vocação hereditária”. Na doutrina, há certa discrepância de nomenclatura, com emprego de expressões como capacidade sucessória, legitimação sucessória, indisponibilidade relativa etc. (Simão, 2020, p. 1479; Gomes, 2012, pp. 29-38 e 97-100; Maluf e Maluf, 2013, pp. 124-125). Carlos Maximiliano (1952-B, pp. 542-543), à época do CC/1916, por exemplo, referia-se à incapacidade testamentária passiva ao tratar das hipóteses atualmente tratadas nos arts. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 19 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias 1.798 ao 1.803 do CC. O CC/1916 adotava essa nomenclatura ao tratar do assunto sob o ca- pítulo “Da Capacidade para Adquirir por Testamento” e ao valer-se de expressão como “são absolutamente incapazes de adquirir por testamento” (arts. 1.717 ao 1.720, CC/1916). Preferimos, porém, valer-nos de outras nomenclaturas, seja porque o CC/2002 (ao contrá- rio do CC/1916) não empregou a expressão capacidade sucessória para essas situações, seja em virtude de as referidas expressões não nos parecerem técnicas. De fato, capacidade nos faz reportar à capacidade de fato, que é aptidão para exercer, por si só, atos da vida civil. Não é disso que tratam os arts. 1.798 ao 1.803 do CC, os quais apenas se limitam a indicar quem tem direito de participar da sucessão causa mortis. Legitimação nos reporta à exigência de determinados requisitos para a prática de certos atos jurídicos. Também não é disso que se cuida nos arts. 1.798. ao 1.803 do CC. Entendemos que os arts. 1.798 ao 1.803 do CC tratam apenas de uma escolha legislativa em atribuir direitos ou não a determinadas pessoas, e não de lhe subtrair a aptidão para exer- cer, por si só, seus direitos (capacidade de fato), nem de impor-lhe exigências específicas para a prática de determinados atos (legitimação). Preferimos, pois, seguir a opção taxonômica do Código Civil para valer-nos da expressão “vocação hereditária” ao tratar dos referidos dispositivos, expressão essa mais condizente com a finalidade desses preceitos: a de atribuir direitos. 7.2. regrA gerAl Todas as pessoas já nascidas ou concebidas têm legitimidade para serem contempladas em sucessão legítima ou testamentária. Trata-se de uma decorrência do princípio da coexis- tência, segundo aqual o sucessor tem de coexistir no momento da morte do autor da herança. Essa é a regra geral do art. 1.798 do CC. Pessoas jurídica também pode ser contemplada em sucessão testamentária, desde que elas existam ao tempo da abertura da sucessão ou que se trate fundação a ser criada por de- terminação do testador (arts. 1.799, II e III, CC). 7.3. exceção 7.3.1. Concepturo ou Nondum Conceptus Há uma exceção ao princípio da coexistência: o concepturo (= nondum conceptus), que é aquele que sequer foi concebido, tem legitimação para a sucessão testamentária, desde que ele seja concebido nos dois anos seguintes à morte do testador (arts. 1.799, I, e 1.800 do CC) ou que ele tenha sido contemplado como fideicomissório (arts. 1.799, I, e 1.952 do CC). 7.3.2. Pessoas em Conflito de Interesse ou em Conflito Moral (Art. 1.801 e 1.802, CC) Para sucessão testamentária, os arts. 1.801 e 1.802 do CC impedem que determinadas pessoas sejam sucessores por dois motivos: garantir a plena liberdade de testar ou proteger a família. Testamento que os contemple é nulo (art. 1.802, CC). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 20 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias De um lado, por conta da necessidade de garantir a liberdade de testar, o art. 1.801 do CC deixa de outorgar o direito de ser sucessor pessoas que participaram do ato e, por isso, teriam um conflito de interesse com o testador. De modo mais específico, as seguintes pessoas não têm vocação hereditária: • Quem assinou escreveu o testamento a rogo, bem como seus ascendentes, seus irmãos ou seu cônjuge ou companheiro (art.1.801, I, CC); • O tabelião ou a autoridade perante quem se fizer ou se aprovar o testamento público, cerrado ou especial (art. 1.801, III, CC); • As testemunhas do testamento (art. 1.801, II, CC). De outro lado, por causa da necessidade de proteger a família, o concubino não goza de vocação hereditária na sucessão testamentária, salvo se o testador, sem culpa própria, já es- tiver separado de fato há mais de cinco anos (art. 1.801, III, CC). Nada impede, porém, que a deixa testamentária se reverta em proveito do filho do concubino, desde que o testador seja o pai (art. 1.803, CC). 8. exclusão DA sucessão 8.1. Definição Hipóteses de exclusão Indignidade (arts. 1.814 ao 1.818, CC) Hipóteses (rol taxativo) Homicídio doloso ou tentativa Crimes contra a honra Atos que atentem contra a liberdade de testar Depende de ação Prazo decadencial de 4 anos contados da morte do testador Legitimidade Sucessores MP (no caso de homicídio doloso/tentativa) Exceção Reabilitação Eficácia retroativa com flexibilização Evitar enriquecumento sem causa Proteger 3ºs de boa-fé Deserdação (arts. 1.961 ao 1.964, CC) Testamento + indicação da conduta Depende de ação Legitimidade Sucessores Prova do fato que ensejou a deserdação Prazo decadencial de 4 anos da abertura do testamento O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 21 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias Exclusão da sucessão diz respeito a hipóteses de herdeiros que, apesar de estarem dentro da ordem de vocação hereditária, serão impedidos de participar da sucessão causa mortis por causa de algum motivo legal. Há duas hipóteses de exclusão da sucessão: a indignidade e a deserdação. 8.2. inDigniDADe (pArA sucessão legítimA ou testAmentáriA) 8.2.1. Hipóteses Os arts. 1.814 ao 1.818 do CC disciplina a exclusão de sucessores (legítimos ou testamen- tários) por prática de ato de indignidade. As hipóteses estão taxativamente elencadas no art. 1.814 do CC, que escolheu os mais repugnantes atos que atentam contra a vida do testador (o homicídio doloso ou a tentativa), a sua honra (crime contra a honra) ou a liberdade de testar (obstruir o testador de testar). Con- vém transcrever o referido dispositivo: Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários: I – que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; II – que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro; III – que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade. As hipóteses têm de ser interpretadas restritivamente, pois se trata de regra restritiva de direito. 8.2.2. Legitimidade Processual para a Exclusão e Decadência A exclusão do herdeiro por indignidade não é automática! Depende de sentença a ser pro- latada em ação de exclusão por indignidade a ser proposta no prazo decadencial de 4 anos da morte do autor da herança (art. 1.815, CC). Nessa ação, terá de ser provada a ocorrência do fato indigno. A legitimidade processual para a propor essa ação é dos sucessores (herdeiros ou legatá- rios), admitido, porém, apenas na hipótese de indignidade por homicídio doloso ou sua tentati- va, que o Ministério Público também proponha a ação em razão do interesse de ordem pública envolvido na vida (art. 1.815, CC). 8.2.3. Reabilitação A indignidade é, em primeira análise, uma ofensa ao autor da herança, de maneira que a lei estabelece uma presunção de que este preferiria excluir o indigno da herança. 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Eficácia Retroativa com Flexibilizações Regra Geral: Atos e Frutos Anteriores A superveniência da sentença de exclusão do indigno tem eficácia retroativa com flexibi- lizações. Em regra, deve-se desfazer todos os atos praticados pelo indigno, como alienações, bem como se deve tratá-lo como se nunca tivesse sido herdeiro. Isso justifica o fato de o parágrafo único do art. 1.817 do CC obrigar o indigno a restituir todos os frutos percebidos dos bens da herança (como aluguéis de um imóvel), assegurado, porém, em nome da vedação ao enriquecimento sem causa, o seu direito a ser indenizado pe- las despesas havidas com a conservação desses bens. Entendemos que esses frutos são os valores líquidos, ou seja, o valor após a dedução das despesas de produção e custeio (ex.: o valor do aluguel após a dedução da comissão de corretagem), tudo para evitar o enriquecimen- to sem causa, no que se pode invocar a aplicação analógica do art. 1.216 do CC). Exceções Em nome da segurança jurídica, da tutela dos terceiros de boa-fé (de que decorre o concei- to de “propriedade aparente”) e do princípio da proteção simplificadado agraciado6, o efeito retroativo da sentença de exclusão por indignidade sofre flexibilizações. Em primeiro lugar, deixam-se incólumes os atos de mera administração praticados pelo indigno sobre os bens da herança, tudo para se proteger terceiros. Se, porém, o indigno tiver causado algum prejuízo, ele terá de indenizar (art. 1.817, caput, do CC). Em segundo lugar, protegem-se os terceiros que, de boa-fé, tiverem adquirido onerosa- mente bens do espólio. O art. 1.817, caput, do CC só protege as aquisições onerosas, pois, por um critério de justiça - expressado no princípio da proteção simplificada do agraciado -, não é razoável prestigiar alguém que recebeu “de graça” um bem do espólio em detrimento dos demais herdeiros. Trata-se da aplicação do princípio da substituição de fundamento do ato de vontade, pois o fundamento da propriedade do terceiro deixará de ser o contrato oneroso em si e passará a ser a boa-fé objetiva, que respalda o conceito de “propriedade aparente”7. 6 Artigo nosso sobre o assunto: https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-pa- ra-discussao/td254/view. 7 Artigo nosso sobre o assunto: https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-pa- ra-discussao/td270. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-discussao/td254/view https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-discussao/td254/view https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-discussao/td270 https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-discussao/td270 23 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias 8.3. DeserDAção (só pArA sucessão legítimA) 8.3.1. Noção Geral e Restrição a Herdeiros Necessários Especificamente em relação aos herdeiros necessários, os arts. 1.961 ao 1.965 do CC au- toriza o testador a, por testamento, deserdá-los, ou seja, a privá-los da legítima, desde que eles tenham praticado um dos atos torpes taxativamente elencados nos arts. 1.962 ao 1.963 do CC. Só pode ser por testamento; nenhuma outra forma é admitida (art. 1.964, CC). O testamento precisa especificar a conduta ensejadora da deserdação. É evidente que as hipóteses de deserdação não se aplicam aos herdeiros facultativos (os que não são necessários), pois, para eles, não há o direito à legítima. O autor da herança pode, imotivadamente, dispor da integralidade dos bens em favor de quem quer que seja, caso não tenha herdeiro necessário. A deserdação, pois, é uma forma de flexibilizar o direito dos herdeiros necessários à legítima. 8.3.2. Hipóteses As hipóteses autorizadoras da deserdação estão listadas nos arts. 1.962 e 1.963 do CC. Esses atos, além de abranger os de indignidade do art. 1.814 do CC, alcançam também hipó- teses adicionais que, por opção legislativa, não foram consideradas como dignas de se aliar à presunção legal implícita nas hipóteses de indignidade. Para esses atos adicionais, é preci- so que o autor da herança expresse seu desejo de excluir o herdeiro necessário por meio de testamento. Convém transcrever os retrocitados artigos: Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes: I – ofensa física; II – injúria grave; III – relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto; IV – desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade. Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes: I – ofensa física; II – injúria grave; III – relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou com o marido ou com- panheiro da filha ou o da neta; IV – desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave enfermidade. 8.3.3. Legitimidade Processual para a Exclusão e Decadência A exclusão dos herdeiros necessários por deserdação não é automática! Depende de sen- tença a ser proferida em ação de exclusão por deserdação a ser proposta pelo interessado. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 24 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias Não bastará o testamento com especificação da conduta digna de deserdação. É preciso que o interessado comprove a ocorrência desse fato em juízo (art. 1.965, caput, do CC). O prazo decadencial para a propositura da ação de deserdação é de 4 anos, contados da abertura do testamento (que é o momento em que os demais herdeiros tomaram, ainda que potencialmente, ciência do fato). 8.3.4. Revogação do Testamento como Desistência de Deserdar Como o testamento é, por natureza revogável, o autor da herança pode desistir de deserdar um herdeiro necessário, revogando o testamento em que previu a deserdação. 8.4. clAssificAção QuAnto à fonte (sucessão legítimA, testAmentáriA ou irregulAr) Classificação quanto à fonte Sucessão legítima Decorre da lei e aplica- se aos bens em relação aos quais inexista testamento Sucessão testamentária Deriva de disposição de ultima vontade formalizada por testamento Sucessão irregular Sucessão regida por normas próprias Quanto à fonte, podemos classificar a sucessão causa mortis em testamentária, legítima ou irregular. Sucessão testamentária é a que deriva de disposição de última vontade, formalizada, no di- reito brasileiro, por meio do testamento ou do codicilo. A disciplina da sucessão testamentária está nos arts. 1.857 e ss do CC, além das normas gerais dos arts. 1.784 a 1.828. Sucessão legítima ou ab intestato é a que decorre da lei e aplica-se aos bens em relação aos quais inexista testamento (válido e eficaz), conforme art. 1.788 do CC. O CC trata do tema nos arts. 1.829 e ss, além das normas gerais dos arts. 1.784 a 1.828. É possível haver as duas espécies de sucessão concomitantemente: sucessão testamen- tária em relação aos bens objeto da disposição de última vontade e sucessão legítima no tocante aos demais bens. A sucessão irregular ou anômala é entendida aquela que é regida por normas próprias e que, portanto, não segue os arts. 1.829 e seguinte do CC (Gonçalves, 2019, p. 46). A título de exemplos, podemos citar: • o art. 520 do CC estabelece que o direito de preferência não se transmite aos herdeiros, o que representa um exemplo de sucessão irregular ou anômala, porque prevê regra su- cessória diversa da prevista para a sucessão legítima; O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 25 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias • a transmissão dos direitos autorais para o domínio público no caso de o autor falecido não ter deixado herdeiros (art. 45, I, da Lei n. 9.610/1998): o direito autoral, pois, não se reverterá ao Poder Público por meio de herança jacente e vacante na forma das regras de sucessão legítima previstas nos arts. 1.819 ao 1.823 do CC; • o direito de acrescer em favor dos demais coautores na hipótese de um deles falecer sem deixar herdeiros (art.42, parágrafo único, da Lei n. 9.610/1998); • o art. 18, § 2º, do Decreto-Lei n. 3.438/1941 proíbe que sucessão em favor de cônjuge estrangeiro em terreno de marinha; • o art. 1º, § 2º, da Lei n. 6.858/1998 estabelece que, na hipótese de inexistir dependente ou sucessores, as verbas trabalhistas, de FGTS e de PIS-PASEP deverão ser revertidas respectivamente em favor do Fundo de Previdência e Assistência Social, do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou do Fundo de Participação PIS-PASEP. • o art. 2º, parágrafo único, da Lei n. 6.858/1998 fixa que, se não houver dependente ou su- cessor, deverão ser revertidas ao Fundo de Previdência e Assistência Social os valores devidos a título de restituição de Imposto de Renda (ou de outros tributos) bem como os valores de até 500 OTNs em aplicações financeiras ou em contas bancárias (desde que inexista outros bens a inventariar). 8.5. veDAção à sucessão contrAtuAl (Ao pActo De corvinA) Sucessão contratual É vedada no Brasil Proibição do pacto de corvina (art. 426, CC) Exceções a essa vedação Partilha dos bens do ascendente por ato entre vivos entre seus descendentes Deve respeitar a legítima Controvérsia Pacto antenupcial dispondo acerca da sucessão causa mortis no futuro, desde que não exceda metade dos bens. STJ não aceita. É vedado, em nosso direito, a “sucessão contratual” ou a “sucessão pactícia”, tendo em vista a proibição do pacto sucessório (também designado de pacto de corvina) no art. 426 do CC. Há duas situações apontadas como exceções a essa proibição. A razão de ser do interesse público contido na vedação ao pacto sucessório reside não apenas na imoralidade, mas também - entendemos - no fato de que contratos como esses po- deriam ser estímulos financeiros a homicídios, o que representa uma ameaça. Orosimbo No- nato, demonstrando que a repulsa a esse tipo de pacto remonta ao Direito Romano8, sublinha 8 O ex-Ministro do STF Orosimbo Nonato expõe que a repulsa ao pacto sucessório nem sempre foi uniforme ou constante na história, pois, além de os romanos terem insinuado flexibilizações (como a de admitir a divisão de bens feita pelo pai entre O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 26 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias que, entre outros motivos, o pacto de corvina contraria a ordem pública e os bons costumes pelo fato de “tal convenção, escreve Larombière, aludindo à opinião dos doutores, é verdadei- ramente bárbara, encerra voto homicida votum alicuius mortis” (Nonato, 1957, p. 29). A primeira é bem controversa. O STJ não a acolhe. Maria Helena Diniz não a admite, por considerá-la infratora do art. 426 e 1.655 do CC9. Essa primeira situação é aquela que envolve um pacto antenupcial em que os nubentes dispõem acerca da própria sucessão causa mortis no futuro, desde que não excedam à me- tade dos bens. O fundamento legal seria os arts. 546 (que admite doação em contemplação de casamento futuro em prol da eventual prole do casal) e 1.668, IV (que exclui da comunhão as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com cláusula de incomunica- bilidade). O STJ não admite essa estipulação acerca da sucessão futura dos cônjuges, consi- derando nula a cláusula do pacto antenupcial que exclui o cônjuge sobrevivente da sucessão causa mortis do outro (STJ, REsp 954.567/PE, 3ª Turma, Rel. Ministro Massami Uyeda, DJe 18/05/2011). A segunda apoia-se no art. 2.018 do CC10, que permite ao ascendente, por ato entre vivos, promover a partilha dos seus bens entre os seus descendentes, mas respeitando a legítima dos herdeiros necessários. Essa sucessão antecipada é a única exceção ao art. 426 do CC. Para Maria Helena Diniz, essa hipótese “embora apresente inconvenientes, porquanto apenas pode abranger bens presentes” (Diniz, 2013, p. 31). 9. meAção, HerAnçA e legADo 9.1. Distinção Sucessão contratual É vedada no Brasil Proibição do pacto de corvina (art. 426, CC) Exceções a essa vedação Partilha dos bens do ascendente por ato entre vivos entre seus descendentes Deve respeitar a legítima Controvérsia Pacto antenupcial dispondo acerca da sucessão causa mortis no futuro, desde que não exceda metade dos bens. STJ não aceita. os filhos para evitar discórdias familiares), o direito germânico acolhia os pactos sucessórios como perfeitamente válidos, “o que se explica pelos característicos dos seus institutos da família e da propriedade” (Nonato, 1957-A, pp. 24-25). 9 Veja os preceitos: “Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.” “Art. 1.655. É nula a convenção ou cláusula dela que contravenha disposição absoluta de lei.” 10 “Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários.” O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 27 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias Não se confunda meação e herança (em sentido amplo). A meação corresponde aos bens pertencentes a cada um dos cônjuges em virtude da ces- sação do regime de bens do casamento ou da união estável (a qual ocorre com a morte). É, pois, instituto de Direito de Família. Herança (em sentido amplo) refere-se ao conjunto de bens que pertencem ao de cujus. É, pois, instituto de Direito Sucessório. Assim, se o falecido era casado ao tempo da morte, apenas a sua meação é que integrará o monte-mor que será transmitido via sucessão causa mortis. A outra meação não integrará o acervo hereditário, por ser bem próprio do cônjuge supérstite. Herança em sentido amplo pode ser dividida em: (1) herança em sentido estrito e (2) lega- do. Trataremos desse assunto mais à frente ao cuidar de sucessão a título singular e a título universal. 9.2. cálculo Do Acervo HereDitário (monte-mor) Cálculo do acervo hereditário Somatório Relictum (bens em nome do falecido) - dívidas Bens colacionados (só para igualar quinhão sobre legítima) O acervo hereditário corresponde ao relictum (bens em nome do falecido) menos as dívi- das (incluídas aí as despesas do funeral), conforme se extrai do art. 1.847 do CC. Os credores do espólio possuem direito de excutir o relictum. Além disso, apenas para fins de igualar o quinhão devido a cada herdeiro necessário (e não para outros fins, nem mesmo - é óbvio - para pagar credores do de cujus), deve-se acrescer aí os bens colacionados (arts. 2.002 e 2.003, parágrafo único). Di-lo o art. 1.847 do CC, que realça que os bens colacionados são acrescidos ao cálculo do monte-mor só depois de apurado o patrimônio líquido deixado pelo de cujus. Pode-se resumir o espólio nesta equação: ACERVO PARTILHÁVEL + (RELICTUM – DÍVIDAS) + BENS COLACIONADOS É esse acervo que será partilhada entre os herdeiros necessários. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 28 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias 10. clAssificAção QuAnto Aos efeitos (sucessão A título singulAr e A título universAl): HerDeiro vs legAtário Classificação quanto aos efeitos Sucessão a título singularRecebe-se coisa especificada e individualizada Quem recebe a título singular = legatário Legado = coisa individualizada recebida pelo legatário Sucessão a título universal Recebe-se proporcionalmente um patrimônio ou uma fração dele Quem recebe a título universal = herdeiro Há duas formas de recebimento em uma sucessão: • A título universal: recebe-se proporcionalmente um patrimônio ou uma fração dele (=ati- vo e passivo). Ex.: recebo 20% do patrimônio de alguém; • A título singular: recebe-se coisa especificada e individualizada. Ex.: recebo um determi- nado apartamento do Rio de Janeiro. Na sucessão causa mortis, chama-se de legatário que recebe a título singular e de “legado” a coisa individualizada que ele recebe. Só é possível haver legatário na sucessão testamentá- ria, pois o testador pode individualizar algum bem. Denomina-se de herdeiro quem recebe a título universal e de herança (em sentido estrito) o patrimônio ou a fração do patrimônio recebido. O verbete “herança” é utilizado pelo legislador em dois sentidos: ora em sentido amplo, ora em sentido amplo. Cabe ao leitor intuir, em cada dispositivo, a qual sentido o legislador se re- mete. Em suma, podemos classificar a herança em sentido amplo (lato sensu) em: (1) legado e (2) herança em sentido estrito ou herança stricto sensu. A herança em sentido amplo se refere a toda massa patrimonial deixada pelo falecido e, nesse ponto, é sinônima de acervo hereditá- rio, monte-mor e outras expressões similares. Pode haver herdeiro na sucessão testamentária quando o testador deixa um patrimônio ou uma fração deste, caso em que se falará em herdeiro testamentário. Na sucessão legítima, só há herdeiro (que será chamado de herdeiro legítimo), pois a lei só prevê a repartição do patri- mônio do de cujus como um todo. Daí decorre que podemos classificar a sucessão causa mortis quanto aos efeitos des- ta maneira: • Sucessão a título singular: é aquela em que há um sucessor a título singular (ou seja, um legatário); • Sucessão a título universal: é aquela em que há alguém que sucede a título universal, ou seja, há um herdeiro. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 29 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias 11. espécies De HerDeiro Espécies de herdeiro Testamentário Sucede por testamento Legítimo Sucede por lei Herdeiro necessário Tem direito à “legítima” Herdeiro facultativo Não tem direito à “legítima” Há dois tipos de herdeiros: • Herdeiro testamentário: sucede por testamento. Ex.: testador deixa 20% do seu patrimô- nio ao João; • Herdeiro legítimo: sucede por lei. − Herdeiro necessário, legitimário ou reservatário: tem direito à “legítima” de pleno di- reito (art. 1.846, CC). Veremos mais à frente. Os herdeiros necessários são o cônjuge, os ascendentes e os descendentes, conforme art. 1.845 do CC; − Herdeiro facultativo ou colateral: não tem direito à “legítima”. São os demais herdei- ros legítimos, ou seja, os parentes colaterais até o 4ª grau, conforme art. 1.839 do CC. 12. legítimA 12.1. Definição Legítima Corresponde à metade do patrimônio de uma pessoa que possui herdeiros necessários Sistema da liberdade de testar limitada Princípio da intangibilida de da legítima Exceções Indignidade Deserdação Deserdação bona mente Cláusula restritiva de propriedade sobre legítima com justa causa Proteção da legítima em vida Colação Doação inoficiosa Redução testamentária O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 30 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias Legítima ou reserva legitimaria corresponde à metade do patrimônio de uma pessoa que possui herdeiros necessários (arts. 1.789, 1.846 a 1.850 do CC). O CC adotou o “sistema da liberdade de testar limitada”, de modo que, se o testador pos- sui herdeiros necessários, ser-lhe-á vedado dispor, em testamento, de mais da metade de seu patrimônio. É que metade do patrimônio constitui a legítima ou a reserva legitimária (a qual pertence, de pleno direito, aos herdeiros necessários), ao passo que a outra metade é a porção disponível (da qual o testador pode dispor livremente)11. Trata-se do princípio da intangibilida- de da legítima. Se, porém, o testador não possui herdeiros necessários, poderá dispor com absoluta liber- dade de seus bens. Poderá, inclusive, excluir os herdeiros colaterais mediante mera disposição integral de seu patrimônio sem os contemplar (art. 1.850 do CC). O princípio da intangibilidade da legítima não é absoluto, mas admite exceções, conforme veremos a seguir. 12.2. exceções à intAngibiliDADe DA legítimA 12.2.1. Indignidade O herdeiro necessário pode perder o direito à legítima no caso de indignidade, que está nos arts. 1.814 e ss do CC. Tratamos desse assunto em outro momento. 12.2.2. Deserdação O testador pode dispor livremente da legítima, se, em testamento, assim ele determinar me- diante declaração expressa de que o herdeiro necessário incorre em alguma das causas de de- serdação previstas nos arts. 1.962 e 1.963 do CC. Tratamos desse assunto em outro momento. 12.2.3. Deserdação Bona Mente: Cláusula Restritiva da Propriedade O testador pode gravar a legítima com uma cláusula restritiva da propriedade (inaliena- bilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade), desde que explicite uma justa causa no testamento (art. 1.911 do CC). Trata-se do que a doutrina designa de deserdação bona mente. Tratamos desse assunto em outro momento. 11 No Brasil, a porção disponível é fixa: sempre corresponde à metade dos bens do testador que possui herdeiros necessários. Em outras legislações, todavia, “a porção disponível é variável; o Código Civil português, p. ex., no art. 2.158, prescreve que a legítima dos filhos é de metade da herança, se existir um só filho, e de dois terços, se existirem dois ou mais, e, no art. 2.161, dispõe que, se apenas existem ascendentes que não sejam pai e mãe, consistirá a legítima deles na terça parte dos bens da herança” (DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro, volume 6: direito das sucessões. São Paulo: Saraiva, 2010. Pp. 13). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 31 de 64www.grancursosonline.com.br Sucessões – Parte I DIREITO CIVIL Carlos Elias 12.2.4. Proteção da Legítima em Vida Como forma de proteger a legítima, o ordenamento jurídico dispõe de algumas ferramen- tas, especialmente da colação (fruto da doação como antecipação de legítima), da doação inoficiosa e da redução testamentária. Doação como Antecipação de Legítima Doação a descendentes ou a cônjuge é antecipação da legítima e, por isso, tem de ser co- lacionada para efeito de igualar o quinhão devido a cada herdeiro necessário. A exceção corre à conta destas hipóteses: • estipulação diversa do doador, dispensando a colação12 (arts. 544 e 2.005 do CC); • doação remuneratória por serviços ao ascendente (art. 2.011 do CC); • descendente-donatário não era herdeiro necessário ao tempo da liberalidade (art. 2.005, parágrafo único, do CC). Por fim, alerta-se que não há adiantamento de legítima se doação for de descendente
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