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DIREITO DAS SUCESSÕES
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Amanda Muniz Oliveira
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Cristiane Lisandra Danna
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Bárbara Pricila Franz
Marcelo Bucci
Revisão de Conteúdo: Priscilla Camargo
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2018
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
OL48d
 Oliveira, Amanda Muniz
 Direito das sucessões. / Amanda Muniz Oliveira – Indaial: 
UNIASSELVI, 2018.
 142 p.; il.
 ISBN 978-85-53158-56-0
1.Direito civil – Brasil. 2.Direito das sucessões – Brasil. II. 
Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 347
Impresso por:
Amanda Muniz Oliveira
Doutoranda em Direito pela Universidade 
Federal de Santa Catarina - UFSC e Mestra em 
Direito pela mesma Universidade. Natural de Montes 
Claros – MG, obteve o bacharelado em Direito no ano 
de 2013, pelas Faculdades Santo Agostinho (FADISA) - 
MG. É pesquisadora do “Núcleo de Estudos Conhecer 
Direito – NECODI” (UFSC) e do Grupo de Pesquisa 
“Modelagem e Compreensão de Sistemas Sociais: Direito, 
Estado, Sociedade e Política” (UFSC), no qual participa do 
Projeto de Pesquisa “Lilith: Direito das Mulheres”. Dedica-
se a pesquisas interdisciplinares na área de Direito e Arte, 
com ênfase em Rock, Literatura e Cultura Pop. Também 
se dedica aos estudos de epistemologia jurídica, 
sociologia do conhecimento, métodos e teorias das 
ciências humanas, direitos das mulheres e direito 
e gênero. Possui experiência nas áreas de Direito 
Civil, Hermenêutica Jurídica, Ética Profi ssional 
e Metodologia da Pesquisa.
Sumário
APRESENTAÇÃO ..........................................................................07
CAPÍTULO 1
Introdução ao Estudo do Direito das Sucessões ................ 09
CAPÍTULO 2
Da Sucessão Legítima ................................................................. 51
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
Da Sucessão Testamentária ...................................................... 85
Inventário e Partilha ............................................................... 119
APRESENTAÇÃO
A presente obra dedica-se a um importante tema do direito civil: o direito 
sucessório na sociedade contemporânea. Muito embora quase não se pense na 
morte e na finitude de nossa existência terrena, o fim da vida de um indivíduo 
gera diversos efeitos jurídicos, sobre os quais o jurista e os herdeiros do falecido 
devem ter ciência. 
Iniciamos o tema a partir de uma introdução geral ao direito das sucessões, 
adotando como objetos de estudo conceitos e finalidades específicos desta 
área, além de identificar as relações sucessórias e reconhecer as hipóteses de 
aplicação deste ramo do direito. Neste primeiro capítulo, veremos ainda questões 
relativas aos sucessores e à herança. 
O segundo capítulo tem como tema central a sucessão legítima, conforme 
estabelecida pelo Código Civil. Aqui, estudamos as características e efeitos 
da sucessão legítima e identificamos suas hipóteses de aplicação, conforme a 
vocação hereditária. Também aprendemos a reconhecer os herdeiros legítimos e 
a ordem de sucessão.
O terceiro capítulo trata da sucessão testamentária, realizada de acordo com 
a vontade individual do falecido, manifesta em testamento. Além de apresentar 
as características e efeitos da sucessão testamentária, vamos diferenciá-la 
da sucessão legítima, nos atendo aos diversos tipos possíveis de testamento, 
bem como ao conhecimento sobre quem pode testar e quem pode receber por 
testamento. 
O quarto e último capítulo aborda os trâmites processuais relativos ao 
inventário e à partilha, que determinarão o quinhão final de cada herdeiro. 
Estudaremos o procedimento do inventário judicial e do extrajudicial, além da 
aplicação da lei civil para efetivação dos procedimentos estudados. 
Esta obra pretende, assim, facilitar o estudo do direito sucessório, tema 
de grande relevância no direito civil e no mundo contemporâneo, a partir de um 
viés simples, objetivo e direto. O leitor encontrará atividades de estudo, dicas de 
leituras complementares e algumas notícias atuais relacionadas aos assuntos 
estudados, tudo isso visando uma interação didática e acessível. 
Amanda Muniz Oliveira.
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
DAS SUCESSÕES
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
  Compreender os principais conceitos do direito sucessório, identifi cando suas 
funções e características.
  Analisar as relações sucessórias e reconhecer as hipóteses de aplicação do 
direito das sucessões.
10
 DIREITO DAS SUCESSÕES
11
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A morte, atualmente, é um tema evitado nas reuniões familiares e nas mesas 
de bar. Difi cilmente, os indivíduos se sentem à vontade para tocar neste delicado 
assunto, cercado de incertezas e insegurança. A relação do ser humano com a 
morte possui contornos variados, que dependem do tempo e do espaço no qual 
determinada sociedade se insere. 
Na antiguidade, por exemplo, os mesopotâmicos enterravam seus mortos 
com cuidado, cercando-os de suas marcas distintivas (bens, insígnias de família, 
comidas preferidas), enquanto os hindus cremavam os corpos e lançavam às 
cinzas ao vento, indicativo de que aquela pessoa já não pertencia a este mundo, 
tendo alcançado o eterno. Os gregos também cremavam os seus, mas guardavam 
as cinzas, que poderiam ter dois destinos: as pessoas comuns tinham suas cinzas 
lançadas a valas, enquanto os heróis eram glorifi cados com uma cremação em 
suntuosas piras funerárias.
Já na alta Idade Média europeia (séc. V ao XII), a morte era um assunto 
doméstico e íntimo. Encarada como um fato natural da vida, os mortos eram 
envoltos em sudários, com a face exposta, e enterrados nas igrejas, onde obteriam 
proteção dos santos em sua passagem. Na baixa Idade Média (séc. XII ao XV), 
emerge uma nova relação com a morte, marcada pela incerteza, pelo medo, e 
pela preocupação com as condutas realizadas em vida, já que estas defi niriam o 
destino fi nal das almas – céu ou inferno. O corpo do morto passa a ser intolerável, 
precisando ser oculto no que hoje conhecemos por caixões.
O século XVIII, com o advento do romantismo, passa a idealizar a morte, 
vendo nela uma passagem. A morte se torna um assunto laico, os cemitérios se 
separam das Igrejas e as sepulturas passam a ser individualizadas. O século XIX 
ressignifi ca a ideia de luto, tornando insuportável a perda de alguém próximo. No 
entanto, é no século XX que a morte passa a ser vista como assunto proibido, 
momento em que se passa a morrer longe de casa (geralmente em hospitais ou 
asilos) e o corpo é velado, também, fora do ambiente doméstico.
A morte, assim, vestida de preto e munida de uma longa foice, torna-se 
um tabu. Negada, evitada e ignorada, ainda assim ela teima em perseguir a 
humanidade. Conhecida como Hades (deus grego do mundo inferior), Samael (anjo 
da morte na cultura judaica), Shinigami (anjo da morte nipônico) ou simplesmente 
associada à fi gura do Grim Reaper (ceifador), amplamente difundida na cultura 
pop, a morte permeia o imaginário social, gerando consequências práticas a 
diversos ramos do saber. E com o Direito, não seria diferente. 
12
 DIREITO DAS SUCESSÕES
É a partir da visita da morte que se inicia o ramo do direito civil a ser estudado 
neste material: o direitosucessório. Neste capítulo, nós veremos algumas noções 
introdutórias ao direito das sucessões, como a transmissão causa mortis, o que é 
a herança e quem são os sucessores.
2 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
Etimologicamente, a palavra sucessão relaciona-se diretamente com a ideia 
de substituição, de troca. Nas relações jurídicas, as sucessões (substituições) 
podem abranger tanto bens quanto indivíduos, conforme os exemplos a seguir. 
Imagine, pois, que Eduardo tenha recebido um imóvel, mediante doação. 
O bem, entretanto, veio gravado com cláusula de inalienabilidade (art. 1.911 do 
Código Civil), sendo, portanto, impossível de vendê-lo. Caso seja de interesse de 
Eduardo, essa cláusula poderá ser “trocada” mediante decisão judicial: ele poderá 
revestir outro imóvel com a inalienabilidade e, assim, dispor do bem 
doado, antes obstruído. Este fenômeno é chamado de sub-rogação 
real, e nada mais é que a sucessão (substituição) de um bem por outro. 
Com relação ao sujeito, teremos dois tipos de sub-rogação: a 
feita por ato entre pessoas vivas (inter vivos), como no caso do pai 
que se obriga a pagar dívida de fi lho incapaz de quitar o débito; e 
aquela originada a partir da morte de um indivíduo, titular de direitos e 
obrigações, a ser substituído por seus herdeiros. Neste sentido, o direito 
sucessório se dedica, integralmente, a regulamentar “a substituição do 
sujeito (ativo ou passivo) de uma relação jurídica em razão do óbito do 
seu titular” (FARIAS, ROSENVALD; 2015, p. 4).
O direito das sucessões refere-se à transferência da herança, 
ou do legado, por morte de alguém, ao herdeiro ou legatário, seja por 
força de lei, ou em virtude de testamento. A sucessão, no questionado 
ramo do Direito Civil, tem, pois, como pressuposto, do ponto de vista 
subjetivo, a morte do autor da herança.
O direito
sucessório 
se dedica, 
integralmente, 
a regulamentar 
“a substituição 
do sujeito (ativo 
ou passivo) de 
uma relação 
jurídica em razão 
do óbito do seu 
titular” (FARIAS, 
ROSENVALD; 
2015, p. 4).
13
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
É importante destacar desde já que, como qualquer outro ramo do direito, 
o direito sucessório encontra-se limitado pelos preceitos constitucionais. Como 
exemplo, podemos mencionar o limite do patrimônio a ser transmitido por 
testamento; embora seu dono seja livre para deixá-lo a quem desejar, ele não 
poderá deixar todos os seus bens a determinado indivíduo, pois isso viola a 
dignidade de seus herdeiros necessários, parte de seu núcleo familiar. Neste 
diapasão, Farias e Rosenvald (2015, p. 16) afi rmam:
Os direitos e garantias constitucionais podem, outrossim, servir 
para uma mitigação ao exercício dos direitos sucessórios, 
obstando o recebimento da herança ou legado, como no exemplo 
da indignidade e da deserdação do sucessor, por conta de 
eventual conduta ignóbil contra o autor da herança. A justifi cativa 
é lógica: se um sucessor se comporta mal em desfavor do titular 
do patrimônio, mostra-se atentatório à dignidade do proprietário 
permitir que se mantenha o direito à herança.
As regras do direito sucessório, assim, encontram limites na esfera constitucional, 
sempre em observância ao princípio basilar da dignidade da pessoa humana. Além 
disso, não podemos nos esquecer de que a titularidade de bens é um fenômeno social 
e, como tal, gera consequências. Por isso, é possível falar em uma função social da 
sucessão, uma vez que “a transmissão patrimonial de alguém que faleceu gera a 
conservação das unidades econômicas, em prol da proteção de seu núcleo familiar” 
(FARIAS, ROSENVALD; 2015, p. 20). Sobre o assunto, Monteiro (2009, p. 8) afi rma:
Ocorreria, sem dúvida, improdutivo dispêndio de energias se 
essas unidades devessem desaparecer pela morte das pessoas 
que as criaram e as mantiveram, impondo-se-lhes a restauração 
por outros homens. A sociedade tem, por isso, o maior interesse 
na subsistência da herança, porque, com a sucessão, sobrevivem 
tais unidades, sem solução de continuidade, em benefício geral.
O direito sucessório, desta forma, pode ser compreendido como um 
desdobramento do direito de propriedade. Inclusive a Constituição Federal de 
1988 reconhece o direito à sucessão (art. 5º, XXX) após o direito à propriedade 
privada (art. 5º XXII). Os bens adquiridos em vida, assim, não se perdem, mas 
são transmitidos à linhagem do antigo dono, ou a pessoa por ele querida. 
No Código Civil de 2002, a sucessão é regulamentada em quatro 
partes: 1) sucessão em geral, na qual são estabelecidas as regras gerais da 
sucessão; 2) sucessão legítima, relativa a sucessão originada por força de lei 
independentemente da vontade do falecido; 3) sucessão testamentária, que trata 
da transmissão de bens oriunda da vontade do autor da herança; e 4) inventários 
e partilhas, que se referem aos procedimentos para divisão dos bens. 
Neste capítulo, nós estudaremos as normas gerais da sucessão, a começar 
sobre a transmissão causada pela morte.
14
 DIREITO DAS SUCESSÕES
3 TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS
A sucessão se inicia com a morte da pessoa natural (art. 1.784 CC), 
que poderá ocorrer de forma real (art. 6º Código Civil) ou presumida 
(art. 22 do Código Civil). A morte real ocorre quando há comprovação 
do óbito da pessoa, sendo considerado o momento de sua morte a 
cessação das atividades cerebrais (morte encefálica, conforme Lei nº 
9.434/97). Já a morte presumida se dá quando a pessoa desaparece 
sem deixar notícias ou representantes, tornando-se ausente. Conforme 
Gonçalves (2012, p. 37-38):
Ausente é a pessoa que desaparece de seu domicílio sem dar 
notícia de seu paradeiro e sem deixar um representante ou 
procurador para administrar-lhe os bens (CC, art. 22). Protege 
o Código, através de medidas acautelatórias, inicialmente o 
seu patrimônio, pois quer esteja ele vivo, quer esteja morto, é 
importante considerar o interesse social de preservar os seus 
bens, impedindo que se deteriorem ou pereçam (arts. 22 a 25). 
Prolongando-se a ausência e crescendo a possibilidade de que 
haja falecido, a proteção legal volta-se para os herdeiros, cujos 
interesses passam a ser considerados (arts. 25 a 38).
Assim, a lei autoriza os herdeiros do ausente, num primeiro 
momento, a ingressarem com o pedido de abertura de 
sucessão provisória. Se, depois de passados dez anos da 
abertura dessa sucessão, o ausente não tiver retornado, ou 
não se tiver confi rmação de sua morte, os herdeiros poderão 
requerer a sucessão defi nitiva, que também terá a duração 
de dez anos. Pode-se, ainda, requerer a sucessão defi nitiva, 
provando-se que o ausente conta 80 anos de idade, e que de 
cinco datam as últimas notícias dele (CC, art. 38).
O ausente, pois, é uma exceção dentro do sistema sucessório, 
tendo em vista que se admite a abertura de sua sucessão 
simplesmente em razão de seu desaparecimento, sem que se 
tenha certeza de seu falecimento
Para que a sucessão seja considerada aberta, a morte deverá, assim, ser 
comprovada com o atestado de óbito. Em casos excepcionais, nos quais o corpo 
não pôde ser encontrado (como no caso de naufrágios e incêndios), a Lei dos 
Registros Públicos (Lei nº 6.015/73) prevê um procedimento de justifi cação; 
além disso, o próprio Código Civil (art. 7º, I e II) caracteriza tais situações como 
hipóteses de morte presumida, a ser declarada sem decretação de ausência, 
usando expressão genérica: “se for extremamente provável a morte de quem 
estava em perigo de vida”. 
Comprovada a morte do indivíduo e aberta a sucessão, “os bens e as 
dívidas, os créditos e os débitos, os direitos e as obrigações, as pretensões e 
ações de que era titular o falecido, e as que contra ele foram propostas, desde 
A sucessão se 
inicia com a morte 
da pessoa natural 
(art. 1.784 CC), 
que poderá ocorrer 
de forma real (art. 
6º Código Civil) ou 
presumida (art. 22 
do Código Civil). 
15
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
que transmissíveis(GONÇALVES, 2012, p. 36)”, são transmitidos aos herdeiros. 
Esse conjunto de ativos e passivos é o que chamamos de herança. Trata-
se, portando, de erro achar que a herança compreende apenas os bônus e os 
benefícios oriundos do patrimônio do falecido; ela engloba, na verdade, todas as 
suas relações jurídicas não personalíssimas. 
Agora, pensemos na seguinte hipótese: o Sr. e a Sra. Banks estão em sua 
BMW, rumo à praia, junto de seus fi lhos Carlton e Ashley. Por um descuido, o 
veículo colide com um caminhão e toda a família vem a falecer. Como se dá a 
sucessão neste caso?
Trata-se de um exemplo clássico de comoriência, ou seja, a morte 
simultânea do indivíduo e de seus herdeiros. A comoriência, na verdade, é uma 
fi cção jurídica, pois em casos como o descrito acima não há como estabelecer 
quem faleceu primeiro, o que geraria diversos problemas relativos a sucessão. 
A regra está elencada no artigo 8º do Código Civil que assim preceitua: “Art. 
8º - Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo 
averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão 
simultaneamente mortos”. 
O principal efeito da comoriência é que um não herda do outro. Neste sentido, 
Gonçalves (2012, p. 41) exemplifi ca: 
por conseguinte, se morre em acidente casal sem descendentes 
e ascendentes, sem saber qual morreu primeiro, um não herda do 
outro. Assim, os colaterais da mulher fi carão com a meação dela; 
enquanto os colaterais do marido fi carão com a meação dele. 
Ainda sobre a comoriência, nada impede que o sujeito e seus herdeiros 
venham a óbito ao mesmo tempo, mas em lugares diferentes. Levando em 
consideração o exemplo da família Banks, considere-se que no exato momento do 
acidente de carro, a fi lha primogênita do casal, Hilary, estava escalando os Alpes 
suíços e sofre um acidente fatal. Mesmo estando geografi camente distantes, não 
há como determinar quem faleceu primeiro, razão pela qual ocorre a comoriência. 
Ainda sobre a transmissão causa mortis, temos o princípio de saisine, 
“segundo o qual o próprio defunto transmite ao sucessor a propriedade e a posse 
da herança. (GONÇALVES, 2012, p. 42)”. Saisine vem do francês, posse, e refere-
se a uma fi cção jurídica que considera que o falecido, ao morrer, deixou seus 
herdeiros na posse de seu patrimônio, que não pode fi car sem dono. Inclusive, 
uma das consequências deste princípio é de que “o herdeiro que sobrevive ao de 
cujus, ainda que por um instante, herda os bens por este deixados e os transmite 
aos seus sucessores, se falecer em seguida. (GONÇALVES, 2012, p. 45).
 
16
 DIREITO DAS SUCESSÕES
Todavia, cumpre salientar que por força do art. 1.791 do Código Civil, por 
mais que os herdeiros sejam considerados possuidores da herança do de cujus, 
está só será individualizada quando houver a partilha. Até lá, seus direitos serão 
indivisíveis. 
Em decorrência deste mesmo princípio, as normas sucessórias a serem 
aplicadas nas sucessões serão aquelas vigentes ao tempo da abertura 
sucessória (art. 1.787, CC). Inclusive, o Supremo Tribunal Federal sumulou o 
seguinte entendimento: “Súmula 112 do Supremo Tribunal Federal: o imposto de 
transmissão causa mortis é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura 
da sucessão”.
Por fi m, pertinente indagar: em que lugar se abre a sucessão?
O artigo 1.785 do Código Civil estabelece que a sucessão será 
aberta no último domicílio do falecido. A redação do artigo 48 do Código 
de Processo Civil estabelece as regras para abertura do inventário:
Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é 
o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o 
cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação 
ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações 
em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no 
estrangeiro.
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio 
certo, é competente:
I - o foro de situação dos bens imóveis;
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;
III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos 
bens do espólio.
Vejamos agora as diferentes espécies de sucessões e sucessores.
O artigo 1.785 
do Código Civil 
estabelece que 
a sucessão será 
aberta no último 
domicílio do 
falecido.
Atividades de Estudos:
1) No Direito Brasileiro, considera-se que a morte da pessoa natural 
se dá:
a) Com parada cardíaca.
b) Com a declaração de ausência. 
c) Com parada cardiorrespiratória.
d) Com morte cerebral.
17
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
2) Seiya e Saori, namorados de infância, sofrem grave acidente em 
um cruzeiro na Grécia, sendo considerados mortos na tragédia 
ainda que seus corpos não tenham sido encontrados. Neste 
caso, pergunta-se: há comoriência? Por quê?
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4 SUCESSORES
O ordenamento jurídico brasileiro conta com dois tipos principais 
de sucessões: a legítima, decorrente da própria lei, e a testamentária 
que decorre diretamente da vontade individual do falecido (art. 1.786 
do Código Civil), manifesta em testamento ou codicilo. Ressalte-se 
que, caso o testamento venha a caducar ou ser eivado de nulidade, a 
sucessão a se realizar será a legítima. É possível que os dois tipos se 
misturem, tendo o autor da herança testado apenas sobre parte dos 
bens. Os restantes também serão distribuídos conforme as regras da 
sucessão legítima. 
Desta forma, é possível inferir as diferentes espécies de sucessores. 
Os herdeiros legítimos serão aqueles indicados pela lei (art. 1.829 CC); já 
os testamentários são aqueles indicados no testamento do de cujus, sem 
que qualquer bem em específi co lhe tenha sido destinado. Caso o testador 
individualize coisa a ser entregue e alguém, teremos uma outra espécie de 
sucessor, o legatário. Temos ainda os herdeiros necessários (descendentes, 
ascendentes e cônjuge, conforme o art. 1.845 CC), e o herdeiro universal, que 
receberá a herança em sua totalidade.
É importante destacar que apesar da sucessão testamentária se originar da 
vontade individual do falecido, o artigo 1.789 do Código Civil estabelece que, caso 
ele tenha herdeiros necessários, poderá testar apenas sobre metade da herança. 
Além disso, como salienta Gonçalves (2012, p. 48):
O ordenamento 
jurídico brasileiro 
conta com dois 
tipos principais 
de sucessões: a 
legítima, decorrente 
da própria lei, e 
a testamentária 
que decorre 
diretamente da 
vontade individual 
do falecido. 
18
 DIREITO DAS SUCESSÕES
Se o testador for casado no regime da comunhão universal de 
bens, o patrimônio do casal será dividido em duas meações, 
e só poderá dispor, em testamento, integralmente, da sua, se 
não tiver herdeiros necessários, e da metade, correspondente 
a um quarto do patrimônio do casal, se os tiver.
Quanto aos efeitos, podemos classifi car as sucessões em a título universal, 
quando o sucessor herda parte ou totalidade da herança; e em a título singular, 
quando o sucessor herda um bem específi co, chamado de legado. Conforme 
Gonçalves (2012, p. 49): “Legatário, portanto, não é o mesmo que herdeiro. 
Este sucede a título universal, pois a herança é uma universalidade; aquele, 
porém, sucede ao falecido a título singular, tomando o seu lugar em coisa certa e 
individuada”.
Sabe-se, desde já, que os parentes, cônjuges, legatários e herdeiros 
testamentários tem direito à herança, mas existem exceções? Para esclarecer 
tal questão, vejamos, agora, a legitimidade para suceder, também chamada de 
vocação hereditária. 
4.1 Legitimidade ParaHerdar e 
Suceder (Vocação Hereditária) 
Para suceder, o Código Civil em seu art. 1.798 apresenta a seguinte regra 
geral, válida para herdeiros legítimos, testamentários e legatários: “Legitimam-se 
a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da 
sucessão”. Infere-se, portanto, que o nascituro e demais pessoas vivas possuem 
legitimidade genérica para atuar como sucessores, sendo excluídos os indivíduos 
mortos quando da abertura da sucessão, os animais, as coisas inanimadas e as 
entidades místicas. 
No caso específi co do nascituro, sua legitimidade para suceder advém de 
sua personalidade jurídica condicionada, que só se efetuará mediante nascimento 
com vida. Por essa razão, caso nasça sem vida, não irá gerar efeitos sucessórios, 
como se nunca tivesse existido, não recebendo e nem transmitindo direitos. Como 
afi rma Gonçalves (2012, p. 80), “Nesse caso, a herança ou quota hereditária será 
devolvida aos herdeiros legítimos do de cujus, ou ao substituto testamentário, se 
tiver sido indicado, retroagindo a devolução à data da abertura da sucessão”. 
Além dos requisitos genéricos para suceder (pessoa viva ou nascituro), a 
sucessão testamentária, criada por vontade do próprio autor da herança, admite 
como herdeiros testamentários ou legatários, ainda:
19
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
Art. 1.799 [...] 
I - os fi lhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo
testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão;
II - as pessoas jurídicas;
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada
pelo testador sob a forma de fundação”.
Assim, o primeiro inciso permite que os legatários e testamentários sejam 
fi lhos não nascidos de pessoas indicadas pelo falecido. Trata-se de uma condição 
suspensiva que poderá ou não se realizar quando da abertura da sucessão. 
Imaginemos, por exemplo, que Sirius escreve, em testamento, que sua moto 
Harley Davidson deverá ser entregue ao fi lho ainda não nascido de seu afi lhado 
Harry. Temos, aqui, três possibilidades, quando da abertura da sucessão: 1) Harry 
não existe no momento indicado; 2) Harry está vivo (pode ainda vir a ter um fi lho, 
legatário) ou alguma mulher está grávida de seu fi lho (o legatário foi concebido); 
3) Harry teve seu fi lho, Alvo, já vivo quando da abertura da sucessão. Cada uma 
destas hipóteses enseja uma possibilidade jurídica diferente. 
Na primeira hipótese, Harry pode ter morrido antes da abertura da sucessão 
de Sirius. Neste caso, a disposição é inefi caz e o legado (a moto) passará aos 
herdeiros legítimos do de cujus, já que não há possibilidade da pessoa indicada 
como legatário vir a existir. 
Na segunda hipótese, pode ser que Harry esteja vivo mas ainda não tenha 
fi lhos quando da abertura da sucessão de Sirius; se este for o caso, o Art. 1.800 
§4º estabelece um prazo de dois anos para que o fi lho de Harry (legatário de 
Sirius) seja concebido. Se depois deste prazo o legatário ainda não for gerado, o 
legado passa a seus herdeiros legítimos. Caso o fi lho de Harry (Alvo, o legatário) 
já tenha sido concebido, receberá o bem indicado por Sirius se nascer com vida.
Neste caso, após a partilha, o bem do futuro legatário (Alvo, fi lho de Harry) 
fi cará sob os cuidados de um curador, que deverá ser a pessoa cujo fi lho o testador 
esperava ter como sucessor (no caso de nosso exemplo, Harry; art. 1.800, caput 
e §1º, CC) ou os curadores indicados nos arts. 1.775 e 1.797 do CC.
Na terceira hipótese, Alvo, já nascido, recebe seu legado imediatamente. 
Em síntese, Gonçalves (2012, p. 83) explica:
aberta a sucessão que benefi cia a prole eventual, a herança é 
posta sob administração, permanecendo nessa situação até que 
a condição se cumpra ou haja a certeza de que não pode cumprir-
se. A certeza de que o nascimento não poderá ocorrer se dá 
quando morre o progenitor, indicado pelo testador do concepturo 
20
 DIREITO DAS SUCESSÕES
instituído, ou quando ele for declarado impotente, por exemplo, 
numa ação de anulação de casamento ou em ação de impugnação 
de paternidade presumida, ou, ainda, na hipótese prevista no § 4º 
do art. 1.800, ou seja, se decorridos dois anos após a abertura da 
sucessão, não for concebido o herdeiro esperado.
O segundo inciso refere-se às pessoas jurídicas, de qualquer tipo (simples, 
empresárias, de direito público ou privado), desde que tenham seu ato constitutivo 
inscrito no respectivo registro – ou seja, desde que tenham personalidade (art. 
45, CC). É admitido, porém, que as pessoas jurídicas em formação sejam 
comparadas à situação do nascituro, com personalidade condicional; se os atos 
para sua criação estiverem em andamento, portanto, admite-se sua legitimidade 
para herdar, a ser confi rmada quando da inscrição efetiva do ato constitutivo. 
Já o terceiro diz respeito especifi camente à criação de fundações, que 
podem ser originadas tanto por escritura pública quanto por testamento (art. 62, 
CC). Se a fundação já existe quando da abertura da sucessão, o de cujus poderá 
testar em benefício dela com base no inciso II; o inciso III é específi co para ato de 
constituição da fundação. Assim, conforme Gonçalves (2012, p. 88-89):
Por ainda não existir a pessoa jurídica idealizada pelo testador, 
aberta a sucessão os bens permanecerão sob a guarda 
provisória da pessoa encarregada de instituí-la, até o registro 
de seus estatutos, quando passará a ter existência legal. 
Justifi ca-se a regra pelo fato de o testador efetivar a dotação 
de bens para a instituição da fundação, instituição esta que 
interessa à sociedade em virtude dos fi ns nobres que deve ter 
tal espécie de pessoa jurídica (CC, art. 62, parágrafo único).
Estabelecidos os indivíduos aptos a herdarem quando da sucessão 
testamentária, necessário conhecer aqueles que não podem ser nomeados 
herdeiros testamentários e nem legatários:
Art. 1.801 Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários: 
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu 
cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa 
sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco 
anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, 
perante quem se fi zer, assim como o que fi zer ou aprovar o 
testamento.
Com exceção do caso do concubino, ao qual faremos comentários mais 
detalhados a seguir, tais proibições baseiam-se em questões de segurança, no 
intuito de evitar que a vontade real do testador seja, de alguma forma, alterada 
por aquele que a escreve.
21
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
O inciso primeiro refere-se ao indivíduo que escreve as disposições 
testamentárias a rogo, ou seja, a pedido do falecido. Na situação de escrevente, 
tal pessoa poderia facilmente benefi ciar a si ou a parentes próximos, dada a 
oportunidade. Os descentes do escritor também são proibidas de fi gurarem 
como herdeiros testamentários, por força do art. 1.802, parágrafo único do CC. 
O segundo inciso refere-se às testemunhas, também no intuito de assegurar a 
veracidade das informações e garantir os últimos desejos do defunto.
O inciso terceiro, a seu turno, fundamenta-se, conforme Gonçalves (2012, p. 
92), “na proteção da família legítima” e na coibição do adultério. Trata-se de proibir 
que o/a concubino/a (amante), ou seja, homem e mulher que mantêm relações 
não eventuais entre si, mas são impedidos de casar (art. 1.727, CC), herde parte 
do patrimônio a ser deixado por seu parceiro. A herança testamentária será legal, 
entretanto, se o testador estiver separado de fato há mais de cinco anos.
Em 2017, foi lançado nos cinemas o fi lme “Professor Marston 
e as mulheres maravilhas”, obra baseada na história real do Doutor 
em Psicologia e Professor de Harvard, Wiliam Marston, que junto de 
sua mulher Elizabeth Marston (também Doutora em Psicologia por 
Harvard),criou o Detector de Mentiras (polígrafo) e a famosa Mulher-
Maravilha, personagem dos quadrinhos, em 1941. O casal mantinha 
uma relação poliafetiva e consensual com Olive Byrne, uma ex-aluna 
que virou acadêmica. Dirigido por Angela Robinson, seu elenco conta 
com Luke Evans, Rebecca Hall e Bella Heathcote.
Apesar de se tratar de dispositivo legal em vigor, não podemos esquecer 
que a realidade social já se modifi cou de maneira grandiosa, sendo possível hoje 
encontrar novas disposições familiares que, na informalidade e longe da proteção 
do Direito, se fundamentam no poliamor – união entre três ou mais pessoas. 
Desta forma, não é incomum encontrar decisões judiciais que reconhecem direitos 
sucessórios oriundos do concubinato, por exemplo, a divisão da pensão por morte 
do de cujus, entre sua esposa e sua concubina: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. 
PENSÃO POR MORTE DE SEGURADO. CONCUBINATO. 
POSSIBILIDADE. 1 - Por mais que esteja em nosso 
ordenamento prestigiada a monogamia, não se pode fechar os 
olhos à realidade deixando desamparada a concubina, que, não 
obstante a inexistência de vínculo formal com o servidor, estava 
22
 DIREITO DAS SUCESSÕES
em igualdade de condições com a esposa. Este entendimento 
não traz consignada a validação da duplicidade de relações 
maritais; pretende-se, apenas, guiado pelo senso de justiça, 
regular as consequências das circunstâncias fáticas, evitando-
se deixar à margem da proteção jurídica a concubina, que tinha 
vida em comum sob o mesmo teto more uxório com o servidor, 
embora não com exclusividade (AG 2005.04.01.056483-2/RS, 
Rel. Des. Federal Luiz Carlos de Castro Lugon, DJU 14-06-06, 
p. 490) (grifos nossos).
EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. 
ESPOSA E CONCUBINA. RATEIO. POSSIBILIDADE. 1. Para 
a concessão do benefício de pensão por morte, no caso de 
companheira, há necessidade de comprovação de união 
estável. 2. Na hipótese, ainda que verifi cada a ocorrência 
do concubinato impuro, não se pode ignorar a realidade 
fática, concretizada pela longa duração da união do falecido 
com a concubina, ainda que existindo simultaneamente dois 
relacionamentos, razão pela qual é de ser deferida à autora o 
benefício de pensão por morte na quota-parte que lhe cabe, a 
contar do ajuizamento da ação (TRF4, AC 2000.72.04.000915-
0, Quinta Turma, Relator p/ Acórdão Luiz Antonio Bonat, D.E. 
15/09/2008) (grifos nossos).
Assim, pode ser que o art. 1.801, III, CC sofra alterações consideráveis nos 
próximos anos. Importante mencionar que, caso o fi lho do concubino/a também 
seja fi lho do testador, terá direito à herança (art. 1.803, CC).
O Art. 1.801, III, do Código Civil] proíbe benefício testamentário 
em favor da concubina, ou do concubino, do testador casado, 
incorporando argumentos preconceituosos e estigmatizantes.
Coloca-se o dispositivo na mesma linha de tratamento da 
proibição de doação à concubina (CC, art. 550)¹, mantendo o 
tratamento preconceituoso existente de há muito.
Malgrado o concubinato não tenha merecido tratamento 
de entidade dotada de natureza familiar, consoante a opção 
legislativa (CC, art. 1.727) e o consensus omnium jurisprudencial², 
o dispositivo é de duvidosa razoabilidade porque está retirando do 
testador a liberdade sobre a sua porção disponível (a legítima dos 
herdeiros necessários e a meação do cônjuge ou companheiro estão 
preservadas). Não custa lembrar que se trata da parcela disponível 
do patrimônio do titular, já restringida pela legítima, pertencente 
23
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
aos herdeiros necessários. Esta parte disponível (insista-se) do 
patrimônio poderia ser testada (ou doada) para qualquer pessoa, por 
mais estranha que seja. Entretanto, não pode ser para a concubina.
Trata-se de disposição legal excessivamente moralista e 
preconceituosa, explicitando uma exacerbada preocupação com o 
adultério e ignorando as novas formas de composição de núcleos 
familiares, baseadas no afeto. Proíbe-se uma pessoa casada de 
dispor, gratuitamente, de seu patrimônio em favor de seu concubino 
ou de sua concubina. Com isso, o sistema termina promovendo 
uma interdição parcial de uma pessoa plenamente capaz, pois retira 
do titular o direito de livre dispor de seu patrimônio, como se fosse 
incapaz para tanto.
Enfi m, é uma tentativa de desestímulo do concubinato³.
Há, sem dúvidas, uma infl uência da moral cristã, que repugnava 
as formas de constituição de família apartadas dos rituais do Código 
Canônico. Prova disso é que a proibição vem de tempos longínquos, 
nos quais a ciência jurídica sofria a ascendência da Religião. 
Assim, atravessaram as Ordenações Alfonsinas (Livro IV, Título 13), 
Manuelinas (Livro IV, Título 8) e Filipinas (Livro 4o, Título 66)4 para 
ganhar cores bem nítidas no Código Civil de 1916 (art. 1.177).
A título de curiosidade, vale a lembrança de que o Código de 
1916 apenas proibia o testamento em favor da concubina do homem 
casado, e não do concubino da mulher casada, demonstrando 
absoluta discrepância de tratamento entre os sexos5. Ou seja, uma 
mulher casada poderia testar para o seu concubino; o homem 
casado, não.
Mantendo a proibição de testamento em benefício da concubina, 
a legislação brasileira ignora toda a evolução da matéria no direito 
comparado, deixando de perceber que os mais contemporâneos 
Códigos Civis não apresentam norma semelhante, como se pode 
notar no português, no italiano, no francês e no alemão.
Conquanto a atual redação legal (CC, art. 1.801, III) enseje 
algum nível de dúvida, por conta da imprecisão, prevalece a 
compreensão de que a proibição alcança todas as pessoas casadas, 
independentemente do gênero sexual, a partir de uma interpretação 
sistêmica e fi nalística.
24
 DIREITO DAS SUCESSÕES
Não incide a vedação, todavia, se o testador já estiver separado 
de fato, independentemente de prazo, porque, no caso, já se permite 
a constituição de uma união estável, consoante previsão expressa do 
§ 1o do art. 1.723 do Código Civil6. Isso porque, malgrado o inciso III 
aluda ao prazo de cinco anos de separação de fato, para convalidar o 
testamento em favor da concubina, a interpretação sistêmica com o § 1º 
do art. 1.723 do mesmo Codex conduz à fatal conclusão de que basta a 
simples separação de fato, independentemente de qualquer prazo, para 
que se caracterize a união estável e esteja afastada a proibição legal.
Nesse diapasão, inclusive, sedimentou-se no Enunciado 269 da 
Jornada de Direito Civil: “a vedação do art. 1.801, inciso III, não se aplica 
à união estável, independentemente do período de separação de fato”.
A orientação sedimentada na jurisprudência superior é 
exatamente no sentido de reconhecer que a simples separação de 
fato, independentemente de qualquer prazo, convalida o testamento, 
por conta da recategorização jurídica, na medida em que o 
concubinato se transforma em união estável. Veja-se:
A separação, de fato, do testador descaracteriza a 
existência de concubinato e, por corolário, afasta a 
pretensão da recorrente de ver nulo o testamento, por 
força da vedação legal de nomeação de concubina 
como legatária. (STJ, Ac. unân. 4ª T., REsp 1.338.220/
SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15.5.14, DJe 22.5.14).
De nossa parte, defendemos que o dispositivo deve ser 
interpretado com mais proximidade à realidade social do país, bem 
como liberto de preconceitos morais. Com isso, a proibição não 
deve alcançar o concubinato de boa-fé (objetiva ou subjetiva), por 
caracterizar uma verdadeira união estável putativa.
Ora, a pessoa que participa de uma relação afetiva sem ter 
ciência de que a sua relação é concubinária (ou seja, sem saber que 
o seu companheiro é casado ou tem uma união estável anterior, sem 
ruptura da convivência, caracterizando um paralelismo) deve ter a 
sua dignidade protegida da mesma forma que a pessoa enganada. 
É a proteção da boa-fé subjetiva. Por igual, quando todas as partes 
envolvidas no paralelismosabem e aceitam a situação, impõe-se a 
proteção. Isso porque, nesse segundo caso, está presente a boa-fé 
objetiva. Até porque a confi ança (legítimas expectativas) de todos é 
a mesma e reclama justa tutela jurídica. Nessa trilha, entendemos 
que, presente a boa-fé (objetiva ou subjetiva), é possível emprestar 
25
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
efeitos típicos do Direito das Famílias e do Direito das Sucessões 
às uniões extramatrimoniais em que um dos companheiros sofre um 
dos impedimentos matrimoniais7. Caracterizar-se-á uma verdadeira 
união estável putativa, decorrente da boa fé. E, bem por isso, em 
se tratando de união estável putativa, entendemos que a melhor 
interpretação aponta na direção do afastamento da incidência 
do dispositivo sub examine, sob pena de desvio interpretativo e 
elastecimento indevido de uma proibição legal.
Em sede jurisprudencial, já são colhidas manifestações diversas 
em sede de nossos Tribunais de Justiça, como o do Rio Grande do 
Sul8, Santa Catarina9 e Minas Gerais10. A posição do Superior Tribunal 
de Justiça, no entanto, é refratária à tese, mantendo o tratamento 
da união estável putativa como mero concubinato11, indicando a 
irrelevância da boa-fé.
1 Art. 550, Código Civil: “A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode 
ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois 
anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.”
2 Veja-se a posição dominante do Superior Tribunal de Justiça: “A orientação 
jurisprudencial desta Corte é fi rme no sentido de que a relação concubinária, 
paralela a casamento válido, não pode ser reconhecida como união estável, 
salvo se confi gurada separação de fato ou judicial entre os cônjuges” (STJ, 
Ac. unân. 3a T., AgRg no REsp 1.235.648/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas 
Cueva, j. 4.2.14, DJe 14.2.14).
3 Tentando justifi car a ratio do dispositivo legal, Carlos Roberto Gonçalves 
afi rma que “a vedação complementa a série de dispositivos destinados a 
proteger a família legítima e coibir o adultério”, GONÇALVES, Carlos Roberto, 
cf. Direito Civil Brasileiro, cit., p. 81.
4 Constava, preconceituosamente, das Ordenações Filipinas: “se algum 
homem casado der a sua barregã coisa móvel ou de raiz, ou a qualquer outra 
mulher, com que tenha carnal afeição, sua mulher poderá anular e haver para 
si a coisa que assim foi doada”.
5 Mais surpreendente era a justifi cativa da disparidade de tratamento: “o 
legislador visou evitar escandalosas investigações a respeito da vida íntima 
de mães de família”, MAXIMILIANO, Carlos, cf. Direito das Sucessões, cit., 
p. 513.
6 Art. 1.723, § 1o, Código Civil: “A união estável não se constituirá se ocorrerem 
os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no 
caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente”.
7 Mais incisiva e direta, Maria Berenice Dias, corroborando da ideia aqui 
defendida, assegura que negar a união estável putativa não atende aos 
ditames elementares de justiça e de ética (aliás, uma das diretrizes do 
Código Civil). E dispara: “o casamento, embora nulo, mas realizado de boa-
fé, produz todos os efeitos jurídicos até que seja desconstituído. No mínimo, 
em se tratando de união estável constituída em afronta aos impedimentos 
legais, há que se invocar o mesmo princípio e reconhecer a existência de 
uma união estável putativa. Estando um ou ambos os conviventes de boa-fé, 
é mister atribuir efeitos à união”. DIAS, Maria Berenice, cf. Manual de Direito 
das Famílias, cit., p. 164. 
8 “União estável. Situação putativa. Affectio maritalis. Notoriedade e publicidade 
26
 DIREITO DAS SUCESSÕES
do relacionamento. Boa-féda companheira. [...] 2. Tendo o relacionamento 
perdurado até o falecimento do varão e se assemelhado a um casamento 
de fato, com coabitação, clara comunhão de vida e de interesses, resta 
induvidosa a affectio maritalis. 3. Comprovada a notoriedade e a publicidade 
do relacionamento amoroso havido entre a autora e o de cujus, é cabível o 
reconhecimento de união estável putativa, quando fi ca demonstrado que a 
autora não sabia do relacionamento paralelo do varão com a mãe da ré” (TJ/
RS, Ac. 7a Câm. Cív., ApCív. 70025094707 comarca de Gravataí, Rel. Des. 
Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, j. 22.10.08, DJRS 30.10.08). 
9 “2. Embora seja predominante, no âmbito do Direito de Família, o 
entendimento da inadmissibilidade de se reconhecer a dualidade de 
uniões estáveis concomitantes, é de se dar proteção jurídica a ambas as 
companheiras em comprovado o estado de recíproca putatividade quanto 
ao duplo convívio com o mesmo varão, mostrando-se justa a solução que 
alvitra a divisão da pensão derivada do falecimento dele e da terceira mulher 
com quem fora casado” (TJ/SC, Ac. 4a Câmara de Direito Civil, ApCív. 
2009.041434-7, Rel. Des. Eládio Torret Rocha, j. 10.11.11).
10 “Direito das Famílias. União estável contemporânea ao casamento. União 
dúplice. Possibilidade de reconhecimento face às peculiaridades do caso. 
Ao longo de vinte e cinco anos, a apelante e o apelado mantiveram um 
relacionamento afetivo, que possibilitou o nascimento de três fi lhos. Nesse 
período de convivência afetiva – pública, contínua e duradoura – um cuidou 
do outro, amorosamente, emocionalmente, materialmente, fi sicamente 
e sexualmente. Durante esses anos, amaram, sofreram, brigaram, 
reconciliaram, choraram, riram, cresceram, evoluíram, criaram os fi lhos e 
cuidaram dos netos. Tais fatos comprovam a concreta disposição do casal 
para construir um lar com um subjetivo ânimo de permanência que o tempo 
objetivamente confi rma. Isso é família. O que no caso é polêmico é o fato de 
o apelado, à época dos fatos, estar casado civilmente. Há, ainda, difi culdade 
de o Poder Judiciário lidar com a existência de uniões dúplices. Há muito 
moralismo, conservadorismo e preconceito em matéria de Direito de Família. 
No caso dos autos, a apelada, além de compartilhar o leito com o apelado, 
também compartilhou a vida em todos os seus aspectos. Ela não é concubina 
– palavra preconceituosa – mas companheira. Por tal razão, possui direito a 
reclamar pelo fi m da união estável. Entender o contrário é estabelecer um 
retrocesso em relação a lentas e sofridas conquistas da mulher para ser 
tratada como sujeito de igualdade jurídica e de igualdade social. Negar a 
existência de união estável, quando um dos companheiros é casado, é solução 
fácil. Mantém-se ao desamparo do Direito, na clandestinidade, o que parte da 
sociedade prefere esconder. Como se uma suposta invisibilidade fosse capaz 
de negar a existência de um fato social que sempre aconteceu, acontece 
e continuará acontecendo. A solução para tais uniões está em reconhecer 
que ela gera efeitos jurídicos, de forma a evitar irresponsabilidades e o 
enriquecimento ilícito de um companheiro em desfavor do outro” (TJ/MG, Ac. 
unân. 5a Câm. Cív., ApCív. 1.0017.05.016882-6/003 – comarca de Almenara, 
Rel. Desa. Maria Elza, j. 20.11.08, DJMG 10.12.08).
11 “A relação concubinária, paralela ao casamento válido, não pode ser 
reconhecida como união estável, salvo se confi gurada a separação de fato ou 
judicial entre os cônjuges” (STJ, Ac. unân. 6a T., AgRg no REsp. 1.147.046/ 
RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 8.5.14, DJe 26.5.14).
FONTE: Farias e Rosenvald (2015, p. 91-94).
27
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
Por fi m, o art. 1.801, IV, CC proíbe que outros possíveis participantes da 
feitura do testamento (tabelião, comandante, escrivão), atuem como herdeiros 
testamentários ou legatários, evitando, novamente, o abuso de confi ança. 
Caso, ainda assim, as pessoas proibidas de herdar como testamentários ou 
legatários sejam contempladas mediante simulação ou interposição, as disposições 
testamentárias relativas a esses indivíduos serão nulas (art. 1.802, CC). 
Conforme Gonçalves (2012, p. 95):
 
Simulação é uma declaração falsa, enganosa, davontade, 
visando aparentar negócio diverso do efetivamente 
desejado. Proclama coerentemente o art. 167 do novo 
diploma que ‘é nulo o negócio jurídico simulado’, conquanto 
possam permanecer os efeitos do ato dissimulado, se 
válido for na substância e na forma.
A simulação ocorrerá quando o testador afi rmar ser devedor de obrigação 
que não existe, ou falsamente afi rmar que prometeu a venda de alguma coisa já 
tendo recebido por ela o pagamento.
Já a interposição de pessoas (Art. 167, §1º, I CC) benefi cia de forma 
direta um terceiro, capaz de suceder mediante sucessão testamentária, mas 
indiretamente gera algum bônus para o não legitimado. Assim, por exemplo, se 
para recompensar Eduardo, que escreveu o testamento a rogo, o falecido Hughes 
deixa herança para Alphonse, irmão de Eduardo, essa disposição será nula. No 
caso de ascendentes, descendentes, irmãos, cônjuge ou companheiro do não 
legitimado, a presunção é absoluta e dispensa provas (art. 1.802, CC).
 Falaremos agora dos indivíduos excluídos da sucessão.
28
 DIREITO DAS SUCESSÕES
Atividade de Estudos:
1) Levando em consideração o Artigo 1.801 do Código Civil, avalie 
a seguinte situação: Mufasa, moribundo, pede para que Scar, 
seu irmão, escreva o seu testamento. Na qualidade de herdeiro 
legítimo, Scar herda, após a morte de Mufasa, metade de seu 
patrimônio. Pergunta-se: a herança de Scar é válida? Por quê? 
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29
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
4.2 Os EXcluídos da Sucessão
Segundo Gonçalves (2012, p. 127), a sucessão baseia-se na afeição 
entre de cujus e herdeiro, ainda que de forma pressuposta. Assim, caso 
o sucessor cometa ato atentatório contra esta afetividade, poderá ser 
penalizado e excluído da sucessão. O art. 1.814 do CC elenca taxativamente 
os casos capazes de tornar o herdeiro indigno, ou seja, excluído:
Art. 1.814 São excluídos da sucessão os herdeiros 
ou legatários:
I - que houverem sido autores, coautores ou 
partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, 
contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu 
cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da 
herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu 
cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou 
obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus 
bens por ato de última vontade.
O inciso I refere-se ao homicídio doloso do falecido ou de algum de seus 
familiares, incluindo a tentativa e a participação indireta no crime. Apesar de não 
abordar especifi camente o auxílio ao suicídio do autor da herança, esta hipótese 
também deve ser enquadrada já que nos termos do Código Penal vigente, trata-
se de crime de igual gravidade. 
Já o segundo inciso refere-se à prática efetiva de crime contra a honra do 
morto. Neste caso, não há que se falar em exclusão do herdeiro por tentativa de 
cometer tal ato. No caso de denúncia caluniosa contra o falecido, esta deve ter 
sido efetuada em juízo criminal, dispensada a necessidade de condenação do 
de cujus. Diferentemente do inciso anterior, os crimes contra a honra só geram 
exclusão de herdeiro se tiverem sido cometidos contra o próprio morto ou contra 
seu cônjuge ou companheiro. 
Por fi m, o inciso III diz respeito às situações nas quais a vontade do autor 
da herança é, por algum motivo, suprimida. Monteiro (2009, p. 65) aponta alguns 
exemplos: “a) o herdeiro constrange o de cujus a testar; b) ou então impede-o 
de revogar testamento anterior; c) suprime testamento cerrado ou particular dele; 
d) urde ou elabora um testamento falso; e) cientemente, pretende fazer uso de 
testamento contrafeito”.
Independentemente de relações de parentesco, qualquer indivíduo que 
cometa alguma dessas atitudes será considerado herdeiro indigno. Para que a 
efetivação da exclusão ocorra, entretanto, além de praticar um dos atos transcritos 
Caso o sucessor 
cometa ato 
atentatório contra 
esta afetividade, 
poderá ser 
penalizado e excluído 
da sucessão. O art. 
1.814 do CC elenca 
taxativamente os 
casos capazes de 
tornar o herdeiro 
indigno.
30
 DIREITO DAS SUCESSÕES
acima, o herdeiro não pode ter sido perdoado pelo falecido e é preciso que haja 
uma sentença judicial declaratória de indignidade. Sobre o perdão do herdeiro 
indigno, diz o Artigo 1.818, caput e parágrafo único do CC:
Art. 1.818 Aquele que incorreu em atos que determinem a 
exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido 
o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro 
ato autêntico.
Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, 
contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, 
ao testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no 
limite da disposição testamentária.
Desde já se percebe que o perdão deve ser manifesto em ato solene expresso, 
no próprio testamento ou em ato autêntico, não admitindo arrependimento. 
Uma leitura atenta do parágrafo único acima transcrito apontará, ainda, para a 
possibilidade de perdão tácito. Tal situação ocorre nos casos em que a ofensa foi 
cometida contra o de cujus antes de sua morte e ele, ciente do ocorrido, ainda 
assim resolve contemplar o ofensor em testamento. Seus direitos, porém, fi cam 
limitados ao que for expresso pelo autor da herança.
Ato autêntico: 
é qualquer declaração, por instrumento público ou particular, 
autenticada pelo escrivão. Não têm valor, para esse fi m, escritura 
particular; declarações verbais ou do próprio punho, embora 
corroboradas por testemunhas; cartas, ou quaisquer outros 
atos que revelem reconciliação ou propósitos de clemência. 
Não é necessário que o ato seja lavrado exclusivamente 
para reabilitar o indigno. Mesmo que o ato autêntico tenha 
objetivo diverso, como doação ou pacto antenupcial, pode o 
hereditando inserir o seu perdão. Pode fazê-lo até em ata de 
casamento (GONÇALVES, 2012, p. 143).
No que se refere à sentença declaratória de indignidade, cabe ressaltar que 
a ação cabível deve ser ajuizada apenas após a morte do autor da herança, pois 
é somente neste momento que o indivíduo se torna herdeiro indigno; caso o réu 
(herdeiro indigno) venha a falecer no curso do processo:
31
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
Extingue-se a ação, por efeito do princípio da personalidade 
da culpa e da pena. A morte do indigno acarreta a transmissão 
dos bens herdados, dos quais vinha desfrutando desde o 
falecimento do de cujus, aos seus próprios sucessores, visto 
que a indignidade só produziria efeitos depois de declarada por 
sentença, e tal pena não deve ir além da pessoa do criminoso 
(GONÇALVES, 2012, p. 141).
“A indignidade é, portanto, uma sanção civil que acarreta a 
perda do direito sucessório. Segundo Clóvis Beviláqua, ‘é a privação 
do direito, cominada por lei, a quem cometeu certos atos ofensivos à 
pessoa ou ao interesse do hereditando’” (GONÇALVES, 2012, p. 128).
A exclusão do herdeiro produz uma série de efeitosjurídicos, sendo os 
principais 1) a pessoalidade; 2) a retroatividade e 3) a impossibilidade do herdeiro 
indigno gerir os bens herdados pelos fi lhos menores.
Quanto à pessoalidade, os efeitos oriundos da exclusão atingem apenas a 
pessoa que efetivamente cometeu algum dos atos elencados no art. 1.814 CC, 
pois como sanção que é, não pode ultrapassar a fi gura do delinquente. Desta 
forma, o art. 1.816 do CC preceitua: “os descendentes do herdeiro excluído 
sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão”. 
Imaginemos que Theodoro, já idoso e viúvo, venha a falecer. Seus únicos 
herdeiros são Max e Walter, sendo que Max é casado e possui duas fi lhas (Helga 
e Anna). Após a morte de Theodoro, se descobre que seu fi lho Max o assassinou, 
com doses regulares de veneno, para que todos achassem que a morte chegara 
de causas naturais. Realizado o processo de exclusão de Max, por indignidade, 
a parte que lhe caberia deverá ser transmitida a quem? A seu irmão Walter, ao 
Estado, ou a suas duas fi lhas, Helga e Anna? 
Observe o esquema a seguir:
32
 DIREITO DAS SUCESSÕES
FIGURA 1 – EXCLUSÃO DO HERDEIRO INDIGNO
FONTE: A autora
Neste caso, os bens deverão ser herdados por Helga e Anna, já que a exclusão 
gera efeitos personalíssimos, o que para o herdeiro indigno signifi ca uma espécie 
de morte fi cta. A este fenômeno, chamados sub-rogação: Helga e Anna sub-rogaram 
para si a herança de seu pai, Max. Sobre o assunto, Gonçalves (2012, p. 144) afi rma:
A situação do excluído equipara-se à do herdeiro pré-morto: 
embora vivo, será representado por seus descendentes, como 
se tivesse morrido. Os bens que deixa de herdar são devolvidos 
às pessoas que os herdariam, caso ele já fosse falecido na data 
da abertura da sucessão. Se o de cujus, por exemplo, tinha 
dois fi lhos e um deles foi excluído por indignidade, tendo prole, 
a herança será dividida entre as duas estirpes: metade fi cará 
com o outro fi lho, e metade será entregue aos descendentes 
do excluído, que herdarão representando o indigno. 
Esta regra, entretanto, comporta exceções. Usando o mesmo exemplo citado, 
caso Helga e Anna fossem diretamente contempladas em testamento, a parte de 
seu pai indigno, (Max) deveria ser acrescida ao total da herança para partilha, 
ou seja, elas não iriam sub-rogar a parte de Max, mas sim repartir diretamente 
com seu Tio Walter a distribuição dos bens. Voltaremos a abordar o assunto no 
Capítulo 2, quando trataremos diretamente da ordem de vocação hereditária. 
O segundo efeito gerado pela exclusão do herdeiro indigno diz respeito à 
retroatividade, pois ele será fi ctamente considerado morto quando da abertura da 
sucessão, conforme explicado anteriormente. Uma das principais consequências 
deste efeito é a de que, caso tenha usufruído da herança antes de ser considerado 
indigno, deverá restituir aquilo que percebeu, com direito a indenização por 
eventuais benfeitorias úteis (necessárias a conservação do bem; Art. 1.817, 
Parágrafo único, CC).
33
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
O terceiro efeito refere-se ao usufruto ou administração dos bens dos fi lhos 
menores que receberam a sua parte da herança, sendo proibido, ainda, que o 
indigno um dia, a herde. Para melhor entender, usaremos novamente o exemplo 
de Theodoro, Max e suas fi lhas Helga e Anna. 
Tendo Max sido considerado indigno e a sua parte sendo transmitida 
diretamente para suas fi lhas crianças, Helga e Anna, ele não poderá usufruir nem 
administrar o que as meninas herdarem. E se eventualmente as duas falecerem 
antes de Max, ele também não poderá herdar nenhum dos bens que originalmente 
eram de Theodoro e foram a elas transmitidos, seja em razão da indignidade 
de Max (que gerou o efeito de sub-rogação), seja em razão de disposição 
testamentária específi ca (que não gera sub-rogação, conforme já explicado).
Questão a ser enfrentada diz respeito à validade dos atos praticados por herdeiro 
que posteriormente é declarado indigno. Mais uma vez valendo-me do exemplo de 
Max, o indigno, proponho o seguinte cenário: antes da sentença judicial declarando-o 
indigno, Max, tido até então como herdeiro legítimo, vende o conservado e luxuoso 
Chevrolet Impala 1967 de Theodoro para Simone, colecionadora de carros antigos, 
que nada sabia sobre o crime de Max (ou seja, ela estava de boa-fé). Uma vez 
excluído da sucessão por sentença, o que acontecerá com a venda deste bem? 
Sobre o tema, diz o Artigo 1.817 do Código Civil: 
São válidas as alienações onerosas de bens hereditários a 
terceiros de boa-fé, e os atos de administração legalmente 
praticados pelo herdeiro, antes da sentença de exclusão; 
mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o direito de 
demandar-lhe perdas e danos.
Portanto, apesar da retroatividade ser um dos efeitos da exclusão declarada 
em sentença, ela não atinge os atos de disposição já praticados pelo herdeiro 
indigno. Tais atos devem ser relativos a negócios onerosos e fi rmados de boa-
fé. No caso da venda pactuada entre Max e Simone, caso Simone soubesse da 
indignidade e ainda assim comprasse o Impala, o carro deveria ser devolvido à 
herança para partilha entre os herdeiros. Se, ainda, no lugar de vender, Max o 
tivesse doado, o bem necessariamente voltaria para a herança do falecido, ainda 
que Simone estivesse de boa-fé, pois a doação é ato gratuito, não oneroso. 
Importante pontuar que não se deve confundir exclusão com deserdação, pois 
apesar de similares, há uma diferença crucial entre ambas. A exclusão é realizada 
por força da lei, em observância a suposta vontade do de cujus; já a deserdação 
advém diretamente da vontade do morto, que explicitamente afasta do rol de 
herdeiros alguém em específi co em disposição testamentária (art. 1.964, CC).
Estudaremos, agora, questões relativas à herança.
34
 DIREITO DAS SUCESSÕES
5 HERANÇA 
Conforme mencionado anteriormente, a herança abrange os 
ativos e passivos do indivíduo morto. Considera-se que com a morte 
do titular do patrimônio, abre-se a sucessão e a herança é transmitida 
aos herdeiros, tudo a um só tempo. Por força do Artigo 1.791 e seu 
parágrafo único, a herança é considerada um todo unitário e indivisível, que 
só será repartida entre os herdeiros no momento da partilha. Por esta razão, 
os direitos de propriedade e posse dos herdeiros são regulados pelas normas 
aplicáveis ao condomínio.
A herança abrange 
os ativos e passivos 
do indivíduo morto.
Herança: A herança (Erbschaft, como preferem os alemães) 
é o conjunto de relações jurídicas, ativas e passivas, patrimoniais 
pertencentes ao falecido e que foram transmitidas aos seus 
sucessores, por conta de sua morte, para que sejam partilhadas 
(FARIAS; ROSENVALD; 2015, p. 31).
Na prática, isso signifi ca que cada herdeiro tem direitos e deveres iguais no 
que se refere à herança, não podendo dispor sobre parte específi ca e determinada. 
Entretanto, é possível que um dos herdeiros venda ou ceda a parte a que tem direito, 
sem especifi car nenhum tipo de bem ou que parte seria esta. O que é vendido é o 
próprio direito à sucessão que fora aberta, sendo este inclusive considerado bem 
imóvel (art. 80, II, CC). Trata-se da cessão de direitos hereditários (Art. 1.793 e 
seguintes), que pode operar-se de forma gratuita ou onerosa a partir da morte do 
autor da herança, ainda que o inventário não tenha sido aberto, e enquanto persistir 
a indivisibilidade da herança (ou seja, até a partilha). 
Como o direito à sucessão é considerado bem imóvel, a cessão de direitos 
hereditários tem como requisitos de validade escritura pública e autorização 
do cônjuge (Art. 1.793, 1.647 caput e inciso I, e 166, IV); na escritura, deve 
ser informado se foi realizada a título gratuito ou oneroso. Uma vez realizada, 
“O cessionário assume o lugar e a posição jurídica do cedente, fi cando sub-
rogado em todos os direitos e obrigações, como se fosse o próprio herdeiro, 
recebendo, desse modo, na partilha,o que o herdeiro cedente haveria de receber” 
(GONÇALVES, 2012, p. 65). Como a cessão tem por objeto os direitos e não 
a qualidade de herdeiro em si, qualquer possibilidade de acréscimo que passe 
existir após sua celebração não será aproveitada pelo cessionário. 
35
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
Exemplifi quemos. Rick falece e deixa um total de R$ 120.000,00 reais a ser 
dividido entre seus fi lhos Beth, Summer e Jerry, de forma que ao fi m da partilha 
espera-se que todos recebam partes iguais (total da herança – 120.000 – divididos 
por três herdeiros em condições iguais = 40.000 para cada herdeiro). 
Jerry cede seu direito a esta herança para um terceiro (Morty), de forma 
que é esperado que os R$ 40.000,00 reais de Jerry serão de Morty, ao fi nal da 
partilha. Todavia, Summer recusa sua parte na herança. Por isso, o total não mais 
será dividido por três herdeiros, mas por apenas dois; isto signifi ca que, se antes, 
Jerry tinha uma expectativa de herdar R$ 40.000,00 reais, sua expectativa, com a 
renúncia de Summer, será de R$ 60.000,00 reais. Mas como ele cedeu os direitos 
hereditários referentes aos R$ 40.000,00, Morty, em regra, só terá direito a esses 
mesmos R$ 40.000,00. 
Grafi camente, a situação originariamente pactuada entre Jerry e Morty seria 
a seguinte:
FIGURA 2 – CESSÃO DE DIREITOS SUCESSÓRIOS
FONTE: A autora
Entretanto, a situação que realmente aconteceu foi a seguinte:
36
 DIREITO DAS SUCESSÕES
FIGURA 3 – CESSÃO DE DIREITOS SUCESSÓRIOS COM RECUSA DE UM HERDEIRO
FONTE: A autora
Observe que Beth receberá os R$ 60.000,00 a que tem direito, acrescido dos 
R$ 20.000,00 que sobram da parte de Morty. Essa situação poderia ser modifi cada 
caso cessante e cessionário acordassem em sentido contrário; assim, os lucros 
advindos da renúncia de Summer passariam para Morty, mas como nada foi 
acordado sobre isso, os lucros passam para os outros herdeiros (no caso, Beth).
Além disso, ainda sobre cessão de direitos hereditários, caso um dos herdeiros 
queira obter a parte a ser cedida onerosamente, ele terá direito de preferência sobre 
qualquer terceiro estranho. Se for gratuita, essa preferência é perdida. 
Apesar de ser considerada um bem indivisível, os herdeiros possuem 
responsabilidade para com a herança, que, como abordado, pode englobar as 
dívidas do falecido. Por força do Art. 1.792 CC, porém, a responsabilidade dos 
herdeiros para com eventuais débitos do morto limita-se às forças da herança, 
não podendo atingir o patrimônio pessoal do herdeiro. 
Assim, imagine que John falece e deixa herança para seus fi lhos Dean e Sam. 
A herança é avaliada em R$ 100.000,00 reais, mas John havia contraído dívida de 
empréstimo bancário no valor R$ 150.000,00 reais. Desta forma, o valor deixado 
(R$ 100.000,00 reais) irá cobrir parte da dívida, mas os R$ 50.000,00 reais que 
ainda permanecerem em aberto não poderão ser cobrados dos herdeiros Dean e 
Sam, já que ultrapassa os limites da herança. Como afi rma Gonçalves (2012, p. 
61): “Só serão partilhados os bens ou valores que restarem depois de pagas as 
dívidas, isto é, depois de descontado o que, de fato, pertence a outrem”.
Vejamos agora como se dá a abertura do inventário.
37
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
5.1 ABertura do Inventário
 
O inventário e a partilha, mencionados de forma recorrente ao 
longo deste capítulo, compõem um “procedimento especial de jurisdição 
contenciosa previsto no Código de Processo Civil para que seja efetivada 
a transmissão da herança” (FARIAS, ROSENVALD; 2012, p. 36).
O inventário e a 
partilha compõem 
um “procedimento 
especial de jurisdição 
contenciosa previsto 
no Código de 
Processo Civil para 
que seja efetivada 
a transmissão da 
herança”. 
Inventário e Partilha:
Trata-se de um procedimento bifásico-escalonado, por meio 
do qual o patrimônio transferido por conta da morte do titular 
será avaliado, bem como serão detectados os sucessores e 
eventuais credores (primeira parte, chamada inventariança), 
para que seja procedida a divisão entre eles, de acordo com 
o quinhão de cada um (segunda fase, denominada partilha). O 
objetivo do inventário é ‘a descrição dos bens do falecido, bem 
como a verifi cação dos seus possíveis herdeiros, a separação 
da meação do cônjuge supérstite, conforme o regime de 
bens do casamento, o pagamento das dívidas do de cujus, 
habilitando-se credores, e a partilha do acervo remanescente, 
atendido o eventual imposto de transmissão’, como ponderam 
Arruda Alvim, Araken de Assis e Eduardo Arruda Alvim 
(FARIAS; ROSENVALD, 2015, p. 36).
O procedimento deve ser iniciado em até dois meses da abertura da 
sucessão, prorrogáveis a pedido das partes (art. 611, Código de Processo Civil). 
A inobservância deste prazo pode gerar sanção fi scal, com imposição de multa no 
imposto a ser recolhido. O foro competente será o de último domicílio do falecido 
(art. 48, Código de Processo Civil); além disso, conforme Gonçalves (2012, p. 69):
Requerimento de abertura do inventário será instruído 
obrigatoriamente com certidão de óbito do de cujus e com a 
procuração outorgada ao advogado que assinar a petição. 
Tendo sido deixado testamento, o respectivo instrumento 
deverá ser também anexado à inicial, além de qualquer outro 
documento de interesse dos herdeiros. 
38
 DIREITO DAS SUCESSÕES
Aberto o inventário, o juiz deverá nomear inventariante, ou seja, um 
representante dos bens do espólio deixado de herança, cuja função principal 
será administrá-los. O inventariante deverá ser capaz e não poderá ter interesses 
contrários ao do espólio. Suas declarações presumem-se verdadeiras, sob pena de 
sanções criminais. A lei estabelece uma lista a ser seguida por ordem, para escolha 
do inventariante:
Art. 617 O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que 
estivesse convivendo com o outro ao tempo da morte deste;
II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do 
espólio, se não houver cônjuge ou companheiro sobrevivente 
ou se estes não puderem ser nomeados;
III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse 
e na administração do espólio;
IV - o herdeiro menor, por seu representante legal;
V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confi ada a administração 
do espólio ou se toda a herança estiver distribuída em legados;
VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VII - o inventariante judicial, se houver;
VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante 
judicial.
Esta ordem deve ser obedecida e só será quebrada por razões bem 
fundamentadas pelo juiz. Entretanto, caso haja motivo para requerer o afastamento 
do inventariante, é possível solicitá-lo. O artigo 622 do Código de Processo Civil 
elenca um rol exemplifi cativo de motivos plausíveis para tal afastamento:
Art. 622 O inventariante será removido de ofício ou a 
requerimento:
I - se não prestar, no prazo legal, as primeiras ou as 
últimas declarações;
II - se não der ao inventário andamento regular, se suscitar 
dúvidas infundadas ou se praticar atos meramente 
protelatórios;
III - se, por culpa sua, bens do espólio se deteriorarem, 
forem dilapidados ou sofrerem dano;
IV - se não defender o espólio nas ações em que for citado, 
se deixar de cobrar dívidas ativas ou se não promover 
as medidas necessárias para evitar o perecimento de 
direitos;
V - se não prestar contas ou se as que prestar não forem 
julgadas boas;
VI - se sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio. 
Instaurado o inventário e nomeado inventariante, inicia-se o procedimento 
judicial que irá avaliar o total de ativos e passivos presentes no espólio do morto; 
após quitação das dívidas, restando bens, será feita a divisão entre os herdeiros, 
que podem, ainda, aceitar ou renunciar a herança. 
39
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
5.2 Da Aceitação da Herança
Com aabertura da sucessão, a herança passa automaticamente, 
por força de lei, aos herdeiros. Todavia, eles não são obrigados a aceitá-
la, motivo pelo qual é possível que o indivíduo renuncie a herança.
Neste sentido, a aceitação da herança, na verdade, não passa 
de uma confi rmação, já que desde a morte do autor da herança ela é 
transmitida aos herdeiros. Assim, uma vez aceita (confi rmada), ela 
continua sendo propriedade dos herdeiros; ou seja, “a aceitação tem [...] 
efeito retro-operante. Os direitos hereditários não nascem com ela, mas 
retroagem, automaticamente e ex vi legis, à data do óbito do autor da 
herança” (GONÇALVES, 2012, p. 101).
Existem diversas espécies de aceitação, que podem ser classifi cadas: 1) 
Quanto à forma (expressa, tácita ou presumida); e 2) Quanto ao agente (aceitação 
pelos sucessores, por mandatário e gestor de negócios, por tutor ou curador de 
heranças, e pelos credores). 
A aceitação expressa é aquela manifestada por declaração escrita (art. 
1.805, CC), de caráter público ou privado. A aceitação tácita advém dos atos 
praticados pelos herdeiros, excluídos “os atos ofi ciosos, como o funeral do falido, 
os meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória” e “a 
cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais coerdeiros” (art. 1.805, § 
1º e § 2º). Como afi rma Gonçalves (2012, p. 103):
A aceitação tácita resulta de qualquer ato que demonstre 
intenção de adir a herança, como a intervenção no inventário, 
representado por advogado, concordando com as declarações 
preliminares e avaliações; a cessão de seus direitos a 
outrem; a participação em defesa dos interesses do espólio; 
o apossamento de bens a este pertencentes ou outros atos.
Pode-se afi rmar que há aceitação tácita quando o sucessor 
pratica atos que ultrapassam a simples conservação e 
administração da herança e que implicam necessariamente a 
intenção de aceitar e que só poderia praticar na qualidade de 
herdeiro. Já se decidiu que simples requerimento de abertura 
de inventário, por si só, não traduz o propósito de aceitar a 
herança, por se tratar de obrigação legal do herdeiro.
A aceitação será presumida quando um interessado em saber se o herdeiro 
irá ou não aceitar a herança, solicita ao juiz, após 20 dias da abertura da 
sucessão, que forneça um prazo não maior que 20 dias para o herdeiro manifestar 
sua aceitação ou renúncia; se passado o prazo o herdeiro permanecer silente, a 
aceitação será presumida (art. 1.807, CC). 
Com a abertura 
da sucessão, a 
herança passa 
automaticamente, 
por força de lei, aos 
herdeiros. Todavia, 
eles não são 
obrigados a aceitá-
la, motivo pelo qual 
é possível que o 
indivíduo renuncie
a herança.
40
 DIREITO DAS SUCESSÕES
O art. 1.809 do Código Civil estabelece que, caso o herdeiro morra antes de 
manifestar sua aceitação, o direito de aceite passa a seus próprios sucessores, 
exceto se houver sido estabelecida algum tipo de condição suspensiva para o 
herdeiro original. Exemplifi quemos. 
Mary morre e deixa um testamento segundo o qual sua mansão irá para 
Abbadon se, e somente se, ele ganhar o concurso de melhor violinista da cidade. 
Entretanto, Abbadon morre antes de sequer poder se inscrever no concurso, 
deixando duas fi lhas, Amara e Eva. Como a herança de Abbadon dependia de 
condição suspensiva (vencer o concurso), Amara e Eva não poderão aceitá-la 
porque a condição já não mais pode ser cumprida.
 
A situação seria outra, entretanto, se Mary tivesse deixado diretamente a 
mansão para Abbadon. Falecendo antes de expressar sua aceitação, Amara e 
Eva deveriam 1) aceitar a herança de Abbadon; 2) Aceitar a herança de Mary 
como parte da herança de Abbadon. 
A aceitação também pode ser realizada por mandatário do herdeiro, 
ou seja, por procurador. Com relação ao gestor de negócios, entretanto, 
há controvérsias. A gestão de negócios é um tipo de ato unilateral que gera 
obrigação extracontratual e ocorre:
Quando uma pessoa, sem autorização do interessado, 
intervém na administração de negócio alheio, dirigindo-o 
segundo o interesse e a vontade presumível de seu dono 
(CC, art. 861). A intervenção é motivada por necessidade ou 
por utilidade, com a intenção de trazer proveito para o dono 
(GONÇALVES, 2012, p. 107).
Em tese, nada impede o gestor de manifestar aceitação de herança, no 
intuito de prevenir prejuízos ao herdeiro. A herança poderá, ainda, ser aceita pelo 
tutor ou curador de incapaz, com a devida autorização judicial (art. 1.748, II; art. 
1.781, CC).
Por fi m, os credores dos herdeiros endividados podem aceitar a herança 
em nome deles, quando a renúncia lhes for prejudicial. A aceitação deve ser feita 
nos autos do inventário, mediante autorização judicial (art. 1.813 CC). Se após o 
pagamento das dívidas sobrar algum patrimônio, será distribuído entre os demais 
herdeiros, excluído o renunciante. Segundo Gonçalves (2012, p. 108):
Tendo em vista que a transmissão da herança se dá no mesmo 
instante da abertura da sucessão (CC, art. 1.784), a renúncia 
da herança por parte do herdeiro pode consistir em fraude 
aos seus credores. Assim, por exemplo, se o de cujus deixa 
vultoso patrimônio a três fi lhos, que é prontamente aceito por 
41
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES Capítulo 1 
dois deles mas não pelo terceiro, que o repudia porque não 
possui bens penhoráveis, contraiu dívida de elevado valor e 
percebe que o seu quinhão na herança paterna será absorvido 
pelo credor, pode este requerer ao juiz que o autorize a aceitá-
lo em nome do renunciante, evitando, assim, a consumação 
da fraude. Procura o devedor, ao renunciar ao seu quinhão, 
evitar que seja ele totalmente utilizado na satisfação do crédito 
daquele. Repudiando-o, haveria a devolução aos seus irmãos 
– solução esta a que dá preferência.
 A aceitação é juridicamente caracterizada como um negócio jurídico 
unilateral e puro, pois não pode depender de termos ou condições (art. 1.808 CC). 
É irretratável (art. 1.812, CC), embora possa vir a ser anulada se for descoberto, 
posteriormente, que o aceitante não é herdeiro. Nesse caso, a herança é devolvida 
a quem lhe tenha direito. 
A aceitação é, ainda, indivisível, pois não é possível que se aceite parte da 
herança. Essa indivisibilidade, porém, pode ser afastada caso a mesma pessoa 
seja herdeira legítima (fi lho do morto, por exemplo) e legatária (receba, em 
testamento, um bem específi co, como uma casa). Nesta hipótese, o herdeiro pode 
optar por aceitar apenas a herança legítima e renunciar ao legado ou vice-versa 
(Art. 1808, §1º, CC). Além disso, a indivisibilidade também é mitigada nos casos 
em que o mesmo sujeito seja herdeiro legítimo e testamentário; poderá optar pela 
parte deixada em testamento e renunciar a parte que lhe é legítima, ou fazer o 
contrário (art. 1.808, §2º, CC).
Por outro lado, o herdeiro pode renunciar à herança ganha com a abertura da 
sucessão, conforme veremos a seguir.
5.3 Da RenÚncia da Herança 
Assim como a aceitação, a renúncia é um negócio jurídico unilateral 
cujos efeitos retroagem até a abertura da sucessão. Tendo uma vez 
renunciado, o inventário e a partilha desenvolvem-se como se o 
renunciante jamais tivesse sido herdeiro. A renúncia tem como efeitos a 
exclusão do renunciante do trâmite sucessório, de forma que sua parte 
é redistribuída entre os demais herdeiros (art. 1.829, II, CC).
Diferentemente da aceitação, a renúncia só pode ser expressa, devendo ser 
manifestada em instrumento público ou termo judicial, nos autos do inventário e 
partilha (art. 1.806, CC), sob pena de invalidade absoluta do ato. Uma vez emitida, 
é irrevogável, assim como a aceitação (art. 1.812, CC).
A renúncia tem como 
efeitos a exclusão 
do renunciante do 
trâmite sucessório, de 
forma que sua parte 
é redistribuída entre 
os demais herdeiros 
(art. 1.829, II, CC).
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 DIREITO DAS SUCESSÕES
Entretanto, é possível falar em dois tipos de renúncia: a abdicativa e a 
cessão. 
A renúncia

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