Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PAI E EU Al ienação do t rabalho TEXTO 4 Extraído da revista Caros Amigos Especial, Literatura Marginal, Ato I. Edson Veóca Emprego e Trabalho • 13 Era manhã, eu era menino. Meu pai caminhava por dentro do sol. Muitos outros pais o sol atravessavam. Partia meu pai para o trabalho braçal e pesado no norte de criar as crias sem que faltassem pão e farinha. Essa agonia cotidiana de anos, do rosnar incômodo do motor do ônibus lotado. Vezes eu via o olhar fixo de meu pai. E num de repente, de raio rachando as nuvens, de vento sudoeste apagando as velas, ele sacudia o crânio para afugentar os gritos deste cotidiano, as sombras do desemprego, as garras da ditadura. Esses pregos perfuravam-lhe a vida, os poros, os sonhos. Livre só era na mínima fração de chegar em casa tarde, esgotado, com cinco balinhas juquinha no bolso, e saber dos filhos vivos e dormindo. Ilu st ra çã o: Al cy 04•CA03TXT01P4.qxd 12.12.06 18:13 Page 13
Compartilhar