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PAI E EU
Al ienação do t rabalho
TEXTO 4
Extraído da revista Caros Amigos Especial,
Literatura Marginal, Ato I.
Edson Veóca
Emprego e Trabalho • 13
Era manhã, eu era menino.
Meu pai caminhava
por dentro do sol.
Muitos outros pais
o sol atravessavam.
Partia meu pai
para o trabalho braçal e pesado
no norte de criar as crias
sem que faltassem pão e farinha.
Essa agonia cotidiana de anos,
do rosnar incômodo do motor
do ônibus lotado.
Vezes eu via
o olhar fixo de meu pai.
E num de repente,
de raio rachando as nuvens,
de vento sudoeste apagando as velas,
ele sacudia o crânio
para afugentar os gritos deste cotidiano,
as sombras do desemprego,
as garras da ditadura.
Esses pregos
perfuravam-lhe a vida,
os poros, os sonhos.
Livre só era
na mínima fração
de chegar em casa tarde, esgotado,
com cinco balinhas juquinha no bolso,
e saber dos filhos vivos
e dormindo.
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