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Unidade 1 História da Engenharia de Segurança do Trabalho Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoras ROSIVANY GOMES A AUTORA Rosivany Gomes Olá. Sou a professora Rosivany Gomes. Sou mestre em Biociência e Pedagoga, com uma experiência técnico-profissional na área de Segurança, Saúde e Meio Ambiente. Também atuo como consultora em SMS para empresas que precisam se adequar às exigências legais na área de Saúde, Segurança e Meio Ambiente. Ao longo da minha vida acadêmica pude coordenar curso de MBA em Sistema de Gestão Integrado em SMS e atuar em diferentes segmentos da Educação, desde educação básica, cursos técnicos, cursos de graduação e pós-graduação. Durante essa jornada, desenvolvi habilidades e competências como educadora, aprimorando meus conhecimentos em Metodologia Ativa, Aprendizagem Baseada em Projetos e Ensino a Distância e Educação em Ambientes Virtuais com o projeto “Recomendação de materiais didáticos baseada em estilos cognitivos de aprendizagem”. Destaco na minha sólida carreira na área de Gestão Educacional os prêmios de coordenador inspirador e prêmio educação inovação e desenvolvimento de projetos educacionais pela implantação e coordenação de projetos educacionais baseados em metodologias ativas e por desenvolver a cultura digital na minha equipe e nos alunos de cursos presencial e nas plataformas de EAD. Atualmente me dedico à formação técnica profissional e elaboração de materiais educacionais, aplicando a aprendizagem, associando teoria à prática – aprender fazendo. ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Evolução da engenharia de segurança .................................................10 Contextualizando a segurança do trabalho ................................................................. 10 Evolução da formação profissional .................................................................................... 16 Engenharia de Segurança do Trabalho moderna ................................................... 17 Segurança do trabalho no Brasil .......................................................................................... 18 Aspectos econômicos, políticos e sociais ..........................................20 Contexto histórico .......................................................................................................................... 20 Aspectos econômicos ................................................................................................................. 21 Aspectos políticos ..........................................................................................................................23 Aspectos sociais ..............................................................................................................................25 História do prevencionismo .........................................................................29 Sintetizando a história ..................................................................................................................29 Prevencionismo pré-Revolução Industrial .................................................................... 31 Prevencionismo pós-Revolução Industrial ...................................................................33 Revolução 4.0 .....................................................................................................................................35 Entidades públicas e privadas ...................................................................38 Conceitos legais .............................................................................................................................. 38 Direitos e deveres prevencionistas ................................................................................... 39 O papel do serviço especializado em engenharia e medicina do trabalho (SESMT)................................................................................................................................................... 41 Serviço especializado em engenharia e medicina do trabalho – entidades privadas ......................................................................................................44 Serviço especializado em engenharia e medicina do trabalho – entidades públicas ......................................................................................................44 Terceiro setor ......................................................................................................................................45 7 UNIDADE 01 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 8 INTRODUÇÃO A segurança do trabalho é hoje uma atividade multidisciplinar que engloba um conjunto de normas e procedimentos preventivos que tem como finalidade antecipar, reconhecer e avaliar os riscos existentes no ambiente ocupacional. A história do prevencionismo vem percorrendo uma longa estrada e tem como principal objetivo a prevenção de acidentes, doenças ocupacionais e doenças do trabalho. Face aos danos e custos originados pelos acidentes de trabalho e pelas doenças ocupacionais, as empresas precisaram compreender a necessidade da prevenção e adequação às exigências legais. Segundo o guia de leis trabalhistas, as Normas Regulamentadoras (NR), relativas à segurança e medicina do trabalho, são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (PANTALEAO, 2019). Os profissionais da área de segurança atuam nas empresas tanto para o cumprimento da legislação pertinente, pois o não cumprimento acarretará ao empregador a aplicação das penalidades, quanto para atender as novas demandas neocapitalistas. Para atender essa demanda, normas regulamentadoras estão sendo atualizadas pela comissão tripartite, adequando assim os equipamentos de segurança que se tornam cada vez mais anatômicos e resistentes. Mas, e as pessoas, acompanharam toda essa evolução? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo prevencionista! A engenharia de segurança do trabalho é um processo em permanente construção, que exige dos profissionais da área de segurança, técnico de segurança do trabalho, engenheiro de segurança, médico e enfermeiro do trabalho conhecimentos multidisciplinares, como leis, decretos, normas e procedimentos relacionados à saúde e segurança do trabalhador, que em função dos milhões de acidentes de trabalho e milhares de óbitos, mostra que jamais serão suficientes. Introdução à Engenharia de Segurança doTrabalho 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Descrever a evolução da Engenharia de Segurança do Trabalho. 2. Conhecer os aspectos econômicos, políticos e sociais que norteiam o prevencionismo. 3. Discernir a história do prevencionismo no Brasil e no mundo. 4. Diferenciar os aspectos da segurança de trabalho nas entidades públicas e privadas e o trabalho do SESMT. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 10 Evolução da engenharia de segurança INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de conhecer e analisar o contexto histórico da Segurança do Trabalho, as perspectivas para o futuro da segurança e saúde do trabalho e compreender o papel da Engenharia de Segurança no contexto econômico, político e social. Contextualizando a segurança do trabalho Querido(a) aluno(a), estamos prestes a iniciar nossa jornada rumo à Engenharia de Segurança do Trabalho, mas precisamos primeiro estabelecer o que é trabalho. Para Sussekind (2002, p. 1), em seu curso de Direito do Trabalho, a definição de trabalho é: “toda energia humana, física ou intelectual, empregada com um fim produtivo, constitui trabalho”. Figura 1 – Carteira de trabalho Fonte: https://bit.ly/2KAuU30. Acesso em: 16 dez. 2020. Assim, podemos chamar de trabalhadores todos os seres humanos, homens e mulheres que exercem uma atividade que tenha por finalidade o seu sustento, estando inseridos no mercado de trabalho por meio de uma relação contratual; que pode ser formal, quando o trabalhador tem um contrato de trabalho registrado mediante carteira de trabalho pela consolidação das leis do trabalho (CLT) ou estatutário, quando seu Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 11 contrato é registrado em uma entidade pública. Esse trabalhador também pode exercer seu trabalho nos setores informais, quando não há um contrato de trabalho registrado na carteira de trabalho. Dessa forma, a relação do homem com o trabalho pode ser encontrada na história da humanidade de forma muito marcante em seus acontecimentos e em suas mudanças, tanto nas relações sociais entre os homens como na relação do homem com o meio. A relação do homem com o meio é um importante registro da evolução da humanidade. Por isso, Walter Bazzo analisa o desenvolvimento das relações humanas e afirma que: Analisando a história, logo percebemos que ela é de fato permeada de significativos desenvolvimentos que marcaram profundamente o destino da humanidade. O controle do fogo, a domesticação dos animais, a invenção da agricultura, a criação de cidades, o desenvolvimento da imprensa ou a construção de um avião comercial estão aí para comprovar esta interpretação. (BAZZO, 2006, p. 66) Na pré-história, o homem apresenta uma relação extrativista com o meio e sua energia é consumida no trabalho de retirar do ambiente o fruto de sua sobrevivência. Ele precisava ir em busca da caça, do alimento, do abrigo estando exposto a diferentes situações de risco e vulnerabilidade. Ainda na pré-história, no período Neolítico, o homem começa a busca por PROTEÇÃO, por mais SEGURANÇA em relação ao meio com o qual ele interage. Essa busca o leva a desenvolver habilidades em talhar a pedra e posteriormente os metais para fabricar suas armas de caça e de proteção. É também nesse momento histórico que o homem trabalha na terra, cultivando, domesticando animais e produzindo alimentos e se tornam sedentários, formando pequenos grupos familiares com o mesmo objetivo (SILVA, 2019). Sendo assim, podemos ver nesse momento que o trabalho para o homem é uma relação dele com o meio e com os outros. É pela força do trabalho que o homem constrói suas primeiras comunidades. Além Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 12 disso, a formação da comunidade também foi uma forma de gerar mais segurança e conforto. Os homens agora saíam para caçar em bandos com as armas confeccionadas por eles enquanto as mulheres e crianças cultivavam a terra e cuidavam dos animais (SILVA, 2019). Diante disso, o homem não parou nas cavernas e continuou evoluindo, agregando conhecimento e aplicando suas descobertas para produzir mais e sentir-se socialmente mais seguro. A força vital era a sua maior fonte de energia, até que o homem começou a dominar a energia da natureza, primeiro o fogo, depois a água e o vento. Figura 2 – Sociedade pré-histórica Fonte: Pixabay No estudo do ambiente de trabalho é preciso avaliar os pontos de tensão e os conflitos que fazem com que os homens criem novas relações de trabalho. Dessa forma, primeiramente analisemos pela ótica do trabalho, partindo da pedra lascada, passando pelos metais até o domínio do conhecimento técnico, com a construção de máquinas, ainda que rudimentares. Depois, por uma ótica social, partindo de uma sociedade caçadora/coletora, passamos para uma sociedade rural até chegarmos em ambientes urbanos, com novas relações de produção para obter lucro e consumo capitalista. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 13 O trabalho realizado atualmente encontra-se dentro de um contexto histórico. Um exemplo da evolução das relações de trabalho é compararmos o trabalho de um artesão medieval, que nele concentrava- se todo o trabalho de criar, planejar e modificar as peças produzidas, com a indústria metalúrgica atual, onde há linha de produção mecanizada, objetivando a produtividade e a empregabilidade no setor. Assim, vemos o homem começar a gerar o contrato de trabalho, pois o trabalho não era mais para garantir a sobrevivência, e sim para garantir o salário e o lucro, ou seja, o homem trabalha para outro homem e recebe algo em troca (BAZZO, 2006). Figura 3 – Contrato de trabalho Fonte: pixabay Contudo, caso o desenvolvimento do trabalho do empregado não tivesse o êxito esperado pelo contratante, nada lhe era devolvido. Assim, a falta de segurança era responsabilidade do trabalhador e não de quem contratava o trabalho. Mas quando o homem começou a pensar na qualidade de vida no trabalho? Na sua segurança enquanto trabalha? Essa visão de segurança baseada em um contrato de trabalho é muito tardia em relação à classe trabalhadora, embora haja registro gerado pelo conhecimento científico, como o que vemos em aproximadamente 350 a.C. sobre a segurança no trabalho, quando Aristóteles estudou os danos causados à saúde dos trabalhadores em forma de enfermidades e principalmente como evitá-las. Depois, a literatura reporta os estudos de Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 14 Hipócrates, o pai da medicina, a respeito do envenenamento por chumbo realizados no século XV e, séculos depois, em Roma, volta-se a falar sobre envenenamento com enxofre, zinco e vapores ácidos. Nesses escritos, os autores relatam fatos acontecidos, porém a Engenharia de Segurança do Trabalho vai surgir para desenvolver a técnica de prevenção com o objetivo de gerar maior qualidade de vida aos trabalhadores, e para os empregadores um aumento na produtividade e nos resultados positivos em sua gestão organizacional. Embora durante séculos os marcos da Segurança do Trabalho, como quando Bernardino Ramazzini descreve doenças relacionadas a 50 profissões e por seu trabalho ele é considerado o Pai da Medicina do Trabalho (MACEDO, 2012), estejam ligados a ações corretivas, a Engenharia de Segurança do Trabalho trabalha para avaliar os riscos por meio de métodos qualitativos e quantitativos, de forma que se possa controlar o aparecimento de doenças ocupacionais e evitar acidentes. Dessa forma, a Engenharia de Segurança tem o apoio dos demais profissionais da prevencionista, como o médico do trabalho, que auxilia da gestão de segurança analisandoe acompanhando a saúde do trabalhador mediante exames médicos ocupacionais (admissional, periódico, retorno ao trabalho ou mudança de função e o demissional) que ajudam em diagnósticos precoces. Outro aspecto importante que devemos destacar na Engenharia de Segurança do Trabalho é a prevenção de acidentes de trabalho, que além de garantir a integridade física, mental e social do colaborador, deve ser vista como um bom investimento de capital, já que garante a continuidade das operações e redução com os custos do acidente. Atualmente, podemos destacar a função do engenheiro de segurança do trabalho de produzir e manter atualizado o Perfil Profissional Previdenciário (PPP), documento que registra as atividades desenvolvidas pelos trabalhadores da empresa e que é utilizado para a análise da rescisão do contrato por desligamento e concessão de benefícios por incapacidade, usado durante a perícia realizada pelos médicos do INSS para comprovação do nexo causal. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 15 A Engenharia de Segurança do Trabalho só é hoje uma realidade porque foram necessários mais de 100 anos, desde a primeira lei que garantia segurança aos trabalhadores, para que a proteção dos trabalhos atingisse a todos os povos. Foi apenas no século XX, depois da Primeira Guerra Mundial, quando aconteceu a Conferência da Paz, onde foi criada a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1919, com o início das suas operações, impactando o mundo. Em 1958 e 1959, em Conferência Internacional do Trabalho, foi estabelecida a Recomendação no 112 para os serviços de saúde ocupacional. ACESSE: Para saber mais sobre a Convenção 155 da OIT, conhecida como “Convenção sobre Saúde e Segurança dos Trabalhadores - 1981”, clique aqui. Podemos destacar na gestão da Saúde e Segurança do Trabalho (SST), realizada pela Engenharia de Segurança do Trabalho, a atenção às recomendações estabelecidas pela OIT em níveis globais e o atendimento às Normas Regulamentadora Nacionais, priorizando as práticas organizacionais que proporcionem aos trabalhadores a vivência do conceito de saúde estabelecido pelas Organizações Mundiais de Saúde (OMS), que estabelece saúde como bem-estar físico mental e social e não apenas ausência de sintomas, por meio dos exames ocupacionais. Sendo assim, a engenharia de segurança deve estar atenta às condições ergonômicas e de conforto ofertadas aos colaboradores, principalmente para os postos de trabalho que exigirem um desgaste psicofisiológico do trabalhador, reduzindo situações que levem aos conflitos e ao estresse. Uma boa prática organizacional para reduzir esses efeitos é o uso de meritocracia como reconhecimento e qualificação profissional. Em um aspecto mais operacional, a Engenharia de Segurança do Trabalho deve priorizar as medidas de controle coletivas e organizacionais ou administrativas, utilizando-se das medidas individuais como complementadoras no processo de antecipação, reconhecimento, avaliação e controle de risco previsto pela NR 9. (BRASIL, 2016) Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho http://www.sstonline.com.br/convencao-155-um-tratado-de-prevencao/ 16 Evolução da formação profissional Assim como as máquinas e os processos evoluíram, a formação profissional também precisou evoluir, saindo do Assistente de Segurança do Trabalho, passando pelo Auxiliar de Segurança do Trabalho até chegarmos no Técnico de Segurança do Trabalho e Engenheiro de Segurança do Trabalho. Vamos conhecer o conceito de cada um desses profissionais. • Auxiliar Técnico de Segurança no Trabalho: é o profissional responsável por promover a segurança e prevenção de riscos. Ele orienta os funcionários a utilizar os EPIs de forma correta, estabelece normas de segurança, informa sobre meios de prevenção de acidentes, inspeciona áreas de trabalho a fim de verificar as condições do ambiente e verifica equipamentos usados para determinar possíveis fatores de risco. O profissional trabalha diretamente com a área de saúde e segurança em empresas (Empregos.com.br, 2015). • Técnico de Segurança do Trabalho: o profissional de Segurança do Trabalho pode atuar em empresas, brigadas de incêndio e instituições públicas e privadas. Sua meta é preservar a segurança dos trabalhadores a partir de programas de prevenção, como a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), que visa a precaução de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho (BRASIL, 2017). • Engenheiro de Segurança: desenvolve, testa e supervisiona sistemas, processos e métodos produtivos, gerencia atividades de segurança no trabalho e do meio ambiente, gerencia exposições a fatores ocupacionais de risco à saúde do trabalhador, planeja empreendimentos e atividades produtivas e coordena equipes, treinamentos e atividades de trabalho (BRASIL, 2017). Se desde os primórdios da sociedade o engenheiro é importante no dia a dia de uma sociedade, seja planejando ou executando projetos, também na área de segurança é fundamental para a procura de soluções, para a concretização de ideias ou mesmo para a administração dos serviços Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 17 necessários à execução da gestão de segurança. Não seria diferente na engenharia moderna, que se caracteriza pelo uso de ferramentas de gestão atreladas à aplicação de conhecimentos científicos para a solução de problemas (ALVIM, 2006). Engenharia de Segurança do Trabalho moderna A engenharia de segurança que vemos hoje está inserida em uma nova cultura organizacional, que iniciou durante uma reunião em Londres em 1946, onde foi decidido pelos vinte e cinco países representantes criar uma organização internacional, International Organization for Standardization (ISO), que tem como objetivo facilitar a coordenação de normas industriais. Através da ISO foi possível estabelecer como gerenciar os negócios ao longo do processo e não por resultados. Hoje, podemos dizer que todos os segmentos vêm se preocupando com a Segurança e Saúde Ocupacional para reduzir e controlar acidentes de trabalho. As organizações querem ainda servir os clientes com produtos de qualidade, garantir a prevenção no uso de máquinas e equipamentos e qualquer tipo de erro. Junto com a ISO, a norma OHSAS 18001 fortalece o desenvolvimento da política de segurança, possibilitando a padronização das regras que devem ser respeitadas por todos, acrescentando os terceiros em uma conduta de equidade e postura prevencionista. Sendo assim, atualmente, a condução de um Sistema de Gestão da Saúde e Segurança Ocupacional é um elemento fundamental da estratégia organizacional. A implementação de um Sistema de Gestão Integrada permite à organização proteger sua força de trabalho e outras pessoas sob seu controle, cumprir os requisitos legais e facilitar o aprimoramento contínuo. A ISO 45001 é um futuro real na área da Segurança do Trabalho. É a nova norma internacional para uma Gestão da Saúde e Segurança que embora seja semelhante à OHSAS 18001, a nova norma ISO 45001 aproxima a gestão de Segurança do Trabalho a um sistema de gestão integrada (SGI). Mas qual a finalidade de gerir um Sistema Integrado? Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 18 Depois de verificar o quanto eram custosos os gastos com acidentes e doenças do trabalho, as empresas descobriram que investindo na prevenção e no controle de perdas, elas reduziriam custos, pois estariam evitando possíveis acidentes e doenças ocupacionais e seus custos com afastamento e benefícios, além de garantir uma boa reputação com os stakeholders, que reconhecem um ambiente mais seguro como um ambiente mais produtivo. DEFINIÇÃO: Stakeholder: é o que chamamos de parte interessada. Caso queira saber mais sobre esse termo, clique aqui. Segurança do trabalho no Brasil A história da Segurançado Trabalho acompanha a Revolução Industrial nos países europeus e nos EUA e não seria diferente no Brasil. Porém, como nos demais países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, a Revolução Industrial no Brasil ocorreu de forma tardia, por volta de 1930, e não tardou para que o país fosse um dos que registrava o maior número de acidentes e mortes no trabalho (MACEDO, 2012). Foi apenas após a Constituição Federal de 1988 que a legislação trabalhista começou a se adequar, embora desde 1943 existissem leis para reger as relações de trabalho, como a Consolidação das Leis trabalhista (CLT), e posteriormente a Lei de Planos de Benefícios da Previdência Social. Em 1978 foram aprovadas Normas Regulamentadoras, Capítulo V, Título II, da CLT Relativo à Segurança e Medicina do Trabalho. Em dezembro de 1997 foi alterado o Capítulo V da CLT (relativo à Segurança e Medicina do Trabalho) (BARSANO & BARBOSA, 2018). Hoje são 37 Normas Regulamentadoras em vigência após as últimas revisões, com significativas alterações na NR1 e por consequência na NR9, em que altera as responsabilidades do empregador, e a revogação da NR2. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho https://www.ibccoaching.com.br/portal/o-que-significa-stakeholder-e-o-seu-papel-dentro-de-uma-empresa/ 19 IMPORTANTE: O Brasil não é o primeiro país a flexibilizar a legislação aplicada à segurança. Outros países buscam essa flexibilização decorrente do processo de globalização, mas sem alterar os direitos absolutos relativos à segurança e saúde do trabalho. A legislação brasileira ainda permite que estados e municípios estabeleçam uma legislação aplicada à Segurança do Trabalho desde que não alterem a legislação Federal (BARSANO & BARBOSA, 2018). Consultando o site do ENIT, você encontrará na íntegra todas as normas regulamentadoras vigentes, com suas devidas alterações textuais. Figura 4 – Normas Regulamentadoras NR1 NR-1 - DISPOSIÇÕES GERAIS E GERENCIAMENTO DE RISCOS OCUPACIONAIS (NOVO TEXTO) Início de vigência - 1 (um) ano a partir da publicação da Portaria SEPRT nº 6.730, de 9 de março de 2020 NR2 Revogada pela Portaria SEPRT n.º 915, de 30 de julho de 2019, publicada no DOU de 31/07/2019 NR7 Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO NR9 Programa de prevenção de riscos ambientais/alterada para: avaliação e controle das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos Fonte: Elaborada pela autora. RESUMINDO: Conhecer as raízes, ou seja, a história da origem de determinados temas sempre nos enriquece de conhecimentos. E foi o que esta unidade lhe proporcionou, através de uma viagem no tempo sobre SST. Vimos que a gestão é elemento essencial para a gestão de Segurança do Trabalho. Em um contexto global, as relações de trabalho se modificaram frente a modificações sofridas no mercado, em destaque o neoliberalismo, com uma busca por produtividade e lucro, além da terceirização dos serviços. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 20 Aspectos econômicos, políticos e sociais INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de conhecer os aspectos econômicos, políticos e sociais que estão envolvidos com os eventos históricos do prevencionismo. Como você imagina que viviam as pessoas que tiveram que migrar do campo (área rural) para as cidades (área urbana)? Como era a distribuição de renda entre a população? E a política? Existia direita e esquerda? Como a política afeta o desenvolvimento do prevencionismo? Entender os aspectos políticos, sociais e econômicos é necessário para entender os surgimentos das leis e dos procedimentos de segurança, e é isso que faremos neste capítulo. Vamos viajar juntos pelo tempo. Contexto histórico Como vimos no capítulo anterior, o trabalho existe na história da humanidade acompanhando a formação e o desenvolvimento das sociedades e suas relações com o meio. Inicialmente, temos uma relação harmônica entre os povos nômades e coletores, que depois desenvolveram a capacidade de confeccionar peças de forma artesanal até a chegada da Revolução Industrial, na qual nos dedicaremos mais detalhadamente no capítulo seguinte. A Revolução Industrial pode servir de marco, onde o conhecimento técnico se torna um diferencial nas relações de trabalho (VIERA, 2019). As relações de trabalho na idade média foram a responsável pela formação da escravidão. “Um homem poderia se tornar escravo como resultado de guerras, de condenações penais, do nascimento etc.” (VIERA, 2019, s.p.). E hoje ainda existe trabalho escravo ou em condições semelhantes a que era imposta aos escravos? Como você definiria essas condições ou as exemplificaria vivenciadas pelos diferentes tipos de escravos desde a história antiga, no Egito, na Grécia, em Roma e até os negros africanos escravizados pelos os navegadores europeus? Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 21 Para respondermos questões como essas, vamos conhecer um pouco mais sobre os aspectos econômicos, políticos e sociais. Aspectos econômicos Como descrever os aspectos econômicos que envolvem a relações de trabalho e a Segurança do Trabalho? É simples, precisamos analisar as perdas e os custos com os afastamentos por acidentes e doenças ocupacionais. Mas será que esses valores sempre foram levados em consideração ou podemos apontar que quando investir na segurança é mais lucrativo que pagar pelos custos dos afastamentos? Podemos dividir os aspectos econômicos em dois períodos, o período pré-industrial e pós-industrial, por isso é tão importante nos dedicarmos ao estudo da Segurança do Trabalho após a Revolução Industrial. No período pré-industrial, a morte ou os acidentes nos ambientes de trabalho eram comuns devido aos inúmeros perigos enfrentados pelos trabalhadores que eram tratados com fatos corriqueiros, sem grande impacto econômico. As políticas econômicas da época estavam mais preocupadas com os prejuízos gerados pelas guerras e pelas doenças por falta de condições básicas de saúde. Mesmo em condições precárias de trabalho, exposição a condições de risco eminente, como o trato com animais e epidemias que assolavam as cidades, era vital para a economia que o trabalho não parasse, muito menos era possível ter gasto com a prevenção dos acidentes ou com a qualidade de vida. O período industrial iniciou-se com a produção de teares para a indústria têxtil e a máquina a vapor, espalhando-se por toda a Europa, América do Norte e, posteriormente, na segunda metade do século XX, nos países da Ásia, África e América do Sul. Porém, embora temporalmente separadas, as condições relacionadas à Segurança do Trabalho são muito semelhantes, pois foi apenas após a Revolução Industrial que a Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 22 Segurança do Trabalho ganha inquietação e significado em função do sistema econômico. Mas o que mudou na economia após a Revolução Industrial? Por que agora era economicamente viável investir em segurança? Como você profissional de Segurança do Trabalho explicaria as vantagens de investir em condições mais seguras de trabalho e qualidade de vida? Essa resposta pode ser dada entendendo que os investimentos feitos pelo poder público no processo de industrialização tinham como finalidade tirar os países da condição de subdesenvolvimento, que requer além das indústrias uma sociedade com um poder de compra, ou seja, o aumento da renda per capita e melhores condições de vida. Uma sociedade industrializada que não investe nas condições de trabalho é uma sociedade com saldo negativo em relação aos custos com acidentes e doenças do trabalho. Quando um trabalhador era afastado do sistema de produção, havia uma redução na produção da empresa e consequentemente dos lucros, além da paralisação da produção pelo tempo que levasse o afastamento do acidentado ou que fosse treinado outro para ficar em seu lugar.EXPLICANDO MELHOR: Para entender melhor, vamos assistir a um clássico do cinema “Tempos modernos” do autor e diretor Charles Chaplin. No filme podemos observar que o trabalhador é quase parte da máquina, parte da engrenagem da produção. Para o trabalhador, o afastamento também era economicamente prejudicial, pois mesmo com as legislações já implementadas, que garantiam o direito à previdência social, as indenizações não eram suficientes para manter o padrão de vida. Fica claro que obtemos um resultado negativo com os custos dos acidentes e das doenças ocupacionais, que superam os benefícios do processo industrializado. Por isso, a saúde e a segurança do trabalhador estão ligadas ao triângulo Empresa, Estado e Trabalhador (BARSANO & BARBOSA, 2018). Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 23 Atualmente, a comissão tripartite tem a função de avaliar e propor medidas para implementação da Convenção nº 187 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no país (PANTELÃO, 2009). Figura 5 - Comissão tripartite Estado Empresa Trabalhador Fonte: Elaborada pela autora. Aspectos políticos Ao analisar os diversos aspectos que envolvem a segurança do trabalho, percebemos a evolução dos valores morais e sociais dentro da cultura organizacional. Grande parte das mudanças organizacionais foi impulsionada por pensamentos políticos, atendendo as pressões de diversos fatores e agentes sociais, principalmente os aspectos econômicos. Não diferente da abordagem econômica capitalista, que em princípio trata o trabalhador como a parte do processo produtivo, sem direitos legais trabalhistas ou sociais, após a Revolução Industrial, junto com os pensamentos marxistas, o trabalho ganha valor político e social, podendo acompanhar os movimentos operários que lutam contra a sociedade industrializada capitalista. No entanto, ambos, capitalismo e socialismo, falharam na construção de uma política prevencionista e protetiva ao trabalhador. Podemos definir tecnicamente o ambiente ocupacional como um local que expõe os trabalhadores aos riscos inerentes às suas atividades, como os riscos químicos, físicos e biológicos, causadores de acidente e doenças ocupacionais, além daqueles relacionados ao ambiente de trabalho que podem induzir ou estimular o aparecimento de doenças do trabalho, cabendo ao Estado regulamentar os requisitos legais para Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 24 garantir aos trabalhadores o direito de exercer suas atividades de forma segura e com qualidade de vida. REFLITA: A pergunta agora é: o estado é capaz de garantir o valor da vida humana? Para responder a essa pergunta é preciso analisar os diferentes cenários políticos que nos são apresentados no passado e na atualidade. A Revolução Francesa era baseada nos ideais de liberdade e igualdade que tinha a burguesia e os trabalhadores lutando contra um governo monarquista. O conceito de igualdade deveria ser concedido por um político constituinte com representes da burguesia e do povo (SILVA, 2019). Foi nesse cenário que aconteceu a criação do conceito de direita. Aqueles que defendiam a monarquia sentavam-se à direita da câmara, e os que defendiam a burguesia e trabalhadores sentavam-se à esquerda da câmara. Atualmente, ainda usamos na política os conceitos de direita e esquerda, mas não mais pelo local que se encontram posicionados no plenário, mas pela posição que assumem diante da sociedade, a favor ou contra as governantes, sem que necessariamente estejam do lado dos direitos dos trabalhadores. No Brasil podemos acompanhar os movimentos econômicos, políticos e sociais que levaram a um posicionamento político em prol dos direitos dos trabalhadores. Ainda no tempo do Brasil Colônia, com a sociedade que aceitava o trabalho escravo com naturalidade, com as atividades econômicas concentradas nos engenhos de açúcar e mineração, assim como o poder político que era orquestrado pelos senhores de engenho juntamente com os remanescentes da corte imperial, não havia espaço para uma política voltada para a igualdade social e direitos iguais. Mesmo após a abolição, as desigualdades sociais se mantiveram, fruto de uma política formada por uma burguesia latifundiária. A Revolução Industrial no Brasil era estimulada por políticas latifundiárias e uma burguesia que entendiam que esse era o caminho para ultrapassar a posição de país subdesenvolvido, no qual vemos uma Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 25 sociedade massacrada pelo mercado, sem direitos trabalhistas, mesmo já havendo um movimento protecionista na Europa. Vemos trabalhadores brasileiros, homens, mulheres e crianças trabalhando em condições insalubres e precárias. Apenas após a Segunda Guerra Mundial surgem no Brasil leis de proteção ao trabalhador no governo de Getúlio Varga (1945), sem muitas portarias regulamentadoras. Após esse período, podemos destacar a Portaria nº 3.237/72, que regulamenta a obrigatoriedade do SESMT, baseada na Recomendação OIT 112, e a Portaria nº 3.214/78, que instituiu, junto ao extinto Ministério do Trabalho e Emprego, as Normas Regulamentadoras. Até a Constituição Federal de 1988, as empresas encontravam dificuldades em implementar as ações que atendessem aos requisitos legais constituintes das NRs, assim como o governo em fiscalizar. Na década de 1990, temos a publicação da Portaria MTE 02/92, constituindo um sistema tripartite constituído por cinco representantes do governo, cinco dos empregadores e cinco dos empregados, incluindo a participação dos poderes políticos representados pelo Ministério da Saúde, Previdência e Assistência Social. Foram longos anos até chegarmos nas últimas atualizações propostas pelas forças políticas atuais que propuseram fortes mudanças nos direitos trabalhista e previdenciário, incluindo alterações textuais e revogação de algumas NRs. Isso muito se deve à existência de forças políticas conservadoras, muito influenciadas pelos efeitos econômicos e seus representantes. Aspectos sociais Os estudos socioeconômicos nos mostram que a Revolução Industrial gerou mais que uma sociedade mecanizada, mas também abriu novas fontes de trabalho, emprego melhorias e soluções tecnológicas. Mas como toda mudança, ela também apresenta aspectos negativos em relação à industrialização que envolve problemas sociais. Isso porque os trabalhadores muitas vezes eram tratados piores que escravos, já que os Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 26 escravos tinham seus senhores para comercializá-los e, por isso, tinham valor monetário. Já o trabalhador custava pouco e poderia ser facilmente trocado por um mais acessível economicamente. Não era socialmente e muito menos economicamente viável cultivar políticas prevencionistas. REFLITA: Supondo que um homem vivesse cerca de 50 a 60 anos na primeira Revolução Industrial. Se ele trabalhasse dos 15 aos 50 anos seriam 35 anos de trabalho, considerando que crianças e idosos apresentam produtividade negativa, seriam 35 anos de vida produtiva. Agora, considere que essa mesma pessoa sofresse um acidente e ficasse incapacitado aos 30 anos de idade, seriam menos 15 anos de produção. Sem contar os acidentes que levavam a morte. Então eu te pergunto, quanto vale a vida humana? Não muito diferente do cenário atual, valia o quanto podia produzir, portanto era aceitável o trabalho infantil nas fábricas. Atualmente não existente em termos oficiais, mas ainda sendo combatido tanto para o cumprimento dos dispositivos legais como por uma parte da sociedade. Vemos então que o trabalho tinha suas regras estabelecidas pelo empregador, que se beneficiava da lei da oferta e da procura para modificar as regras dos contratos de trabalho. Por isso, foi preciso o posicionamento político do Estado para estabelecer regras às condições de trabalho, mas que ainda não preconizava um visão de segurançano trabalho e sim uma ordem econômica e social (MATOS & MASCULO, 2011). Podemos destacar diversos aspectos encontrados no ambiente de trabalho que impactavam diretamente na saúde e segurança e também no ambiente e suas relações sociais como: falta de saneamento básico, ausência de higiene e organização, inexistência de proteção jurídica do trabalhador e degradação ambiental (MORAES, 2009). As pressões sociais levaram a manifestações públicas contra o trabalho desumano, levando ao surgimento da Lei de Prevenção da Saúde e da Moral (1802), que estabelecia a proteção dos trabalhadores, porém não teve efeitos práticos por falta de instrumentos para a sua Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 27 aplicação efetiva. A legislação limitava a um máximo de doze horas de trabalho diário e proibia o trabalho noturno, a limpeza das paredes e a ventilação dos dormitórios, mas não estabelecia restrições quanto à idade mínima de admissão. Ou seja, a política prevencionista vem atrelada aos valores morais da sociedade. O direito do trabalho foi gradativamente estabelecendo critérios de segurança no trabalho, passando a viver com outras normas, muitas delas de origem sindicalistas, como a proteção ao desemprego e negociações coletivas. Aquele que é considerado um marco na legislação prevencionista da era industrial “Lei da fábrica” (FACTORY ACT, 1833), proibia o trabalho noturno aos menores de 18 anos; as fábricas deveriam ter escolas, que deveriam ser frequentadas por todos os trabalhadores menores de 13 anos; a idade mínima para o trabalho era de 9 anos e um médico deveria atestar que o desenvolvimento físico da criança correspondia a sua idade cronológica, além de definir uma jornada de trabalho diária de 12 horas. A lei foi ainda ampliada em 1867, estipulando a proteção de máquinas e controle de poeiras nocivas. A inspeção médica nas fábricas iniciou em 1897, com a adoção de leis de compensação (MATOS & MASCULO, 2011). No século XX vemos um movimento globalizado na busca de unificar conceito relativos à responsabilidade social e segurança. A criação da OIT teve um papel relevante contra as questões do trabalho, tanto no âmbito humanitário, lutando contra as situações injustas e degradantes de trabalho, quanto econômicas e políticas. Assim como os demais países que tiveram uma Revolução Industrial mais tardia, o Brasil ainda esbarra em fatores sociais, políticos e econômicos que limitam a aplicação e o cumprimento das exigências legais e políticas do prevencionismo. Como consequência, a sociedade ainda se faz valer dos seus direitos trabalhistas por vias civis e criminais mediante ações judiciais. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 28 RESUMINDO: Quando se contextualiza a Segurança do Trabalho, não podemos apenas abordar os aspectos físicos do trabalhador, pois envolvem também aspectos econômicos, políticos e sociais, como vimos neste capítulo. As legislações trabalhistas precisam garantir a segurança física do trabalhador, evitando os acometimentos de acidentes e doenças ocupacionais e combater o desemprego e as desigualdades sociais. Não somente é uma forma de garantir direitos para o trabalhador e sua família, mas também seu papel na sociedade, não podendo ser tratado como produtos descartáveis, valendo-se da lei da oferta e da procura. Além disso, ainda podemos citar inúmeros aspectos econômicos envolvidos na mão de obra como um todo. As questões econômicas, de certa forma, impulsionaram o avanço protecionista no intuito de reduzir os custos com acidentes e doenças ocupacionais. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 29 História do prevencionismo INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você conhecerá alguns marcos importantes da caminhada prevencionista, mostrando sua relevância econômica, política e social até chegarmos ao século XX com suas modernidades na revolução 4.0. Sintetizando a história A história prevencionista pode ser descrita como envolvente e reveladora, que nos motiva cada vez mais conhecer e entender os processos que envolvem um contexto histórico e social, principalmente quando evidenciamos saltos que envolvem os conhecimentos técnicos científicos e transformações tecnológicas inovadoras. O advento das máquinas foi apenas o primeiro marco dessa longa jornada. Depois da primeira Revolução Industrial, tivemos ainda o descobrimento do poder energético dos combustíveis fósseis, o surgimento dos bancos e processadores de dados até a incrível habilidade de transformar uma imagem digital em produtos 3D, que atrelados à inteligência artificial proporcionam ao mundo um avanço nas relações do homem com o meio. O vice-presidente da CNI, Paulo Afonso Ferreira, afirma em seu artigo para a agência de notícias CNI, no portal da indústria, que o Brasil precisa estar preparado para enfrentar os avanços tecnológicos, e destaca a evolução das máquinas e os impactos na humanidade: Por muito tempo temia-se o avanço tecnológico e não tínhamos a noção de onde poderíamos chegar. Falava-se em substituir o homem pela máquina, mas o que podemos perceber é que houve uma integração entre eles. O maior patrimônio das empresas é seu capital intelectual e de seus colaboradores. O ser humano, principalmente dotado de conhecimento, será sempre necessário na concepção de produtos, serviços e na interface com a máquina. (FERREIRA, 2017, on-line) Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 30 Figura 6 – Globalização tecnológica Fonte: pixabay Como antecipar, reconhecer avaliar e prevenir os novos riscos presentes nos ambientes de trabalho transformados pelas as inovações tecnológicas? Esse é o grande desafio do profissional prevencionista no mercado atual. Há uma necessidade em desenvolver novas habilidades e competências para adequar os novos postos de trabalho, automatizados, conectados, globalizados sem abrir mão da humanização desses setores. REFLITA: A NR 24 trata das condições sanitárias e do conforto nos locais de trabalho, estabelecendo condições mínimas de higiene e conforto no ambiente ocupacional. Logo no item 24.2.1 é estabelecido que as instalações sanitárias devem ser dotadas de lavatórios (local para lavar as mãos e fazer assepsia). Com a tecnologia, esse lavatório atualmente pode ser dotado de torneiras com acionamento automático e secadores com sensores de presença e secagem por circuito de ventilação de ar. Todo esse sistema evitaria a contaminação dos colaboradores ao tocar nos dispositivos de acionamento dos lavatórios e secadores. Vejam como a tecnologia pode ser positiva para o prevencionismo. E você? Como você adequaria a NR24 aos avanços tecnológicos em prol do prevencionismo? Agora que já exercitamos nossas habilidades e competências na gestão de SST, vamos embarcar no conhecimento dos marcos históricos Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 31 que separamos para vocês antes, durante e depois da Revolução Industrial até chegarmos aos dias de hoje. Prevencionismo pré-Revolução Industrial Assim como a história do trabalho está diretamente ligada à história do homem, o mesmo podemos dizer que os acidentes de trabalho fazem para da humanidade, assim como as doenças ocupacionais fazem parte da história do trabalho e consequentemente do homem. Ao longo da história o trabalho, o causador de acidentes tem sido como o trabalho dos escravos, que era exigido o exercício até a exaustão na construção de cidades e monumentos, greco-romanos ou os antigos artesãos medievais, que tinham suas mãos lesionadas na confecção e modelagem de peças. Nesse mesmo período, podemos pontuar o registro em papiros egípcios e greco-romanos a ocorrências de doenças ocupacionais, algumas ligadas aos agentes químicos e trabalhos manuais e as tentativas de preveni-las. Figura 7 – Doenças ocupacionais Fonte: pixabay Os avanços nos conhecimentos científicos à aplicação detécnicas não ocorreram em um único momento, muitos desses avanços estão ligados a filósofos e pensadores. Alguns marcos que podemos destacar são os escritos de Hipócrates, Aristóteles e Platão, referindo- se a trabalhadores das minas de estanho, doenças de corredores e deformações do esqueleto em certas profissões, respectivamente. Chumbo, zinco e mercúrio eram alguns dos elementos tóxico presente nas minas e causador de doenças ocupacionais. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 32 VOCÊ SABIA? O prevencionismo aparece nos escritos do filósofo Galeno no século II, fazendo menções de contaminação por substâncias tóxicas presentes nas minas e recomenda o uso de máscaras de bexigas. Seus conhecimentos científicos também eram usados para solucionar problemas com os artefatos produzidos, baseados em seu funcionamento, fenômenos físicos e químicos até chegarmos à construção de máquinas que aplicavam todo esse conhecimento adquirido para otimização dos recursos e do meio. No entanto, não vemos o prevencionismo seguir a mesma linha temporal na história, considerando a higiene e segurança ocupacional um estudo recente, levando a acreditar que o prevencionismo tomou importância na era moderna, apenas no período pós-Revolução Industrial. A idade média chega e a ausência prevencionista na sociedade europeia no período pré-revolução, que estava mais preocupada com as perdas e mortes ocorridas em função de guerras e epidemias, também. O fato é que os trabalhadores das minas continuaram morrendo por intoxicação ou que os operadores da imprensa sofreram lesões ou perda total dos membros nas prensas não era um assunto relevante. VOCÊ SABIA? O chapeleiro louco de Alice no País das Maravilhas era exposto ao mercúrio durante a confecção de feltro, que resultava na instabilidade emocional e irritabilidade (SILVEIRA; VENTURA; PINHEIRO, 2004). A idade moderna é marcada por importantes acontecimentos históricos, com a queda da Bastilha e a Revolução Francesa, mas na história prevencionista ela se destaca pela obra de Bernadino Ramazzini, que em seu livro De Morbis Artificum Diatriba descreve os agravos à saúde do trabalhador, sendo o primeiro a descrever detalhadamente sobre doenças ocupacionais. O destaque para esse estudo era a forma Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 33 que o autor usou para coletar seus dados clínicos, perguntando a cada paciente: “Qual seu trabalho?”, o que lhe possibilitou medidas preventivas (MACEDO, 2012). Mas afinal, o que leva os empregados e empregadores a se importarem efetivamente com a saúde e segurança no trabalho? Isso nós iremos descobrir estudando os eventos que ocorreram após a Revolução Industrial. SAIBA MAIS: Na Alemanha, e depois na França, houve eventos coletivos de intoxicação que levaram as pessoas a dançar até a morte. Clique aqui para mais informações. Prevencionismo pós-Revolução Industrial Historicamente podemos definir que a Revolução Industrial ocorre no século XVIII, na Europa e depois segue para a América do Norte. Como marco histórico, podem destacar a invenção da máquina a vapor (1784), que trouxe um grande aumento da produtividade e ampliando o consumo de bens. Porém, não apenas benefícios foram gerados pela revolução, mas também um grande custo para os trabalhadores, principalmente os acidentes causados pela falta de treinamentos e proteção para as máquinas, agora tão importantes para o processo produtivo, e que muitas vezes levavam à morte. Quando não era o óbito o produto do ambiente de trabalho insalubre, era a perda da audição devido aos elevados níveis de ruído, sem contar os problemas de saúde pública gerada pela má condição de higiene nos ambientes. Respondendo à pergunta do item anterior: mas afinal, o que leva os empregados e empregadores a se importarem efetivamente com a saúde e segurança no trabalho? A chegada das máquinas torna mais visível a até então distorcida linha que separava as classes sociais, de um lado os trabalhadores, Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho https://youtu.be/f3wstFD9b7w 34 pobres e de outro os empregadores, ricos. Para o pobre, a máquina é um competidor de sua força de trabalho, enquanto que para os ricos ela era a fonte de mais lucro e menos gastos. A falta de uma legislação protecionista e o aumento da concentração populacional urbana gerou uma pressão social que obrigou políticos e legisladores, primeiramente na Inglaterra, com a lei de “saúde Moral dos aprendizes” e depois em outros países europeus introduzirem normas jurídicas, com a lei que protegiam os acidentados e seus dependentes criados na Alemanha em 1884. À medida que as fábricas ganhavam novas proporções, o acometimento de doenças ocupacionais e não ocupacionais cresciam, até que em 1832 John Marshall contratou o primeiro médico a atuar em suas fábricas. Logo após, em 1833, foi decretado o Factory Act, considerada a primeira legislação abrangendo as condições de trabalho nas fábricas. Somente em 1844 é que foram acrescentados os itens referentes às proteções com máquinas e o registro de acidentes (MORAES, 2009). Com o surgimento de novos pensamentos, os chamados pensamentos liberais, faz aparecer novos estudos que incluíam a Ciência Social (1833) e Higiene Social (1838), que estimulam a ampliação legal da Segurança do Trabalho e proporcionam as modificações em leis já existentes, como a proteção para máquinas e a ventilação mecânica para controlar a poeira dos ambientes. REFLITA: Você consegue relacionar o prevencionismo com os conhecimentos científicos? Pois é assim que podemos entender o surgimento das leis que irão criar uma cultura prevencionista. Elas surgem a partir de uma pressão social acompanhada pela evolução do conhecimento. No momento que o homem é pressionado, seja por condições de trabalho sub-humanas, no caso dos pobres, ou por cobranças da sociedade, no caso dos ricos, o homem se vê necessitado de buscar novos conhecimentos, esse conhecimento proporciona o surgimento de pensamentos prevencionistas que se materializam nas leis e posteriormente na constitucionalização desses direitos e deveres. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 35 No Brasil, a grande frequência de acidentes acompanhada pelas doenças ocupacionais, ainda subnotificadas, é mais alta do que em outros países, principalmente quando comparado com os países europeus (FILGUEIRAS, 2017). Levando em conta que o processo industrial no Brasil iniciou tardiamente, quando os países europeus já adotavam medidas prevencionista, era de se esperar que o Brasil já despontasse para os avanços industriais prevencionistas, mas como podemos ver, isso não aconteceu, como ainda não acontece. Embora as transformações europeias tenham influenciado o direito trabalhista, junto com a entrada na Organização Internacional do Trabalho (1919), foi apenas após a Segunda Guerra que as primeiras leis de proteção ao trabalhador surgiram. Os fatos marcantes foram a Consolidação das Leis Trabalhista (CLT, 1943), a criação da Associação Brasileira de Prevenção de Acidentes (ABPA, 1945), a Fundacentro (1966), a obrigatoriedade dos Serviços Médicos e de Higiene e Segurança do Trabalho (1972) e a publicação das primeiras Normas Regulamentadoras (1978) (MATOS & MASCULO, 2011). Revolução 4.0 Acompanhe o infográfico e descubra as principais características das Revoluções industriais ocorridas desde da primeira revolução no século XVIII até a Revolução 4.0, no século XXI. Figura 8 – Evolução da indústria 1ª Revolução 1.0 2ª Revolução 2.0 3ª Revolução Revolução 4.0 Mecanização Energia hidráulica Energia a vapor Produção em massa Linha de montagem Eletricidade Computação e automação Inteligência articial Sistemas cibernéticos Fonte: Elaborada pela autora. A revolução 4.0 é um movimento de desenvolvimento, que está transformando os processos industriaistradicionais nos apresentando a indústria do futuro, a qual é de extrema importância a sua discussão, para que possamos nos adaptar a essa nova onda. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 36 A indústria 4.0 é o um conceito de “fábricas inteligentes” que desenvolvem estratégias que permitam alinhar as novas tecnologias aos meios de produção. O conceito da Indústria 4.0 está baseado no uso de tecnologia e automação que podem permitir máquinas a se adaptarem às mudanças nas etapas de produção, tornando cada etapa independente através de sistemas cibernéticos. Você deve estar se perguntando, qual a relação com a história do prevencionismo? Na revolução 1.0, foi preciso estabelecer os critérios de saúde e segurança nas indústrias; na revolução 2.0, o prevencionismo aparece voltado para ações globalizadas para atender às instituições internacionais OIT e ONU; na revolução 3.0, as ações prevencionistas se voltam para incorporação do cuidado com o meio ambiente por meio das políticas de SMS e desenvolvimento sustentável. E na Revolução 4.0? São os novos capítulos que deveremos escrever para adequar as mudanças nas relações de trabalho geradas pela Revolução 4.0. Haverá mudanças acompanhadas por desemprego e queda dos salários em função da substituição e extinção de alguns cargos nas indústrias, mas também haverá a criação de novas empresas e novas indústrias, porém com um número reduzido de novos empregos, que surgiram principalmente para atender a demanda de criatividade e desenvolvimento de novas ideias. Torna-se então indispensável, para entrar na concorrência das inovações, as empresas entrarem em modelos de gestão que auxiliem a tomada de decisão e as estratégias de negócio, adotando medidas proativas em sua gestão de saúde e segurança que se inicia no processo de seleção e contratação de profissionais que demonstrem habilidades prevencionistas, como a consciência da importância de cumprir regras de segurança até na formação continuada de seus colaboradores, investindo em treinamentos e capacitações para atuarem com segurança diante das novas tecnologias e assim atendendo as expectativas dos stakeholders. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 37 RESUMINDO: O prevencionismo embora devesse aparecer na história de forma linear, devido a ocorrências de acidentes desde as primeiras relações de trabalho, aparece tardiamente, em função de pressões sociais e conhecimento científico. A Revolução Industrial é um marco nessa história e podemos usar como base a divisória em um período pré- revolução, em que não há ações legais e jurídicas a favor da segurança do trabalhador e o período pós-revolução, com os movimentos sociais gerando forte apelo e respostas políticas e legais para as condições de trabalho. Vimos ainda que o prevencionismo não é algo estático, já criado que se estabelece com as atuais leis e normas, ele precisa estar em constante atualização e adequação às novas formas de relação de trabalho. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 38 Entidades públicas e privadas INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você conhecerá o conceito de entidades públicas e privadas e os aspectos relevantes sobre a Saúde e Segurança do Trabalho, em especial sobre o SESMT. Conceitos legais Atualmente, a prevenção de acidentes de doenças do trabalho está presente em diferentes setores de trabalho, com inúmeras leis criadas para garantir as condições de higiene, e segurança do trabalho. Vários setores estão envolvidos no processo de prevencionismo, todos com o objetivo de garantir e gerar melhorias nas condições de trabalho no Brasil. Como é a aplicação dessas leis pelas entidades públicas e privadas? Existem diferenças no âmbito legal? E a administração e fiscalização dessas entidades? Para responder a essas perguntas, é preciso estabelecer os conceitos de entidades públicas e privadas. Hely Lopes Meireles explica que Entidade é a pessoa jurídica, pública ou privada. As entidades são classificadas em estatais, autárquicas, fundacionais e paraestatais, que podem atuar em vários setores, inclusive com entidades prevencionista (MAFRA, 2005). As entidades estatais e entidades autárquicas são pessoas jurídicas de direito público. As entidades fundacionais são pessoas jurídicas de direito público ou privado. As entidades fundacionais particulares podem ser criadas por autorização legal, enquanto que as fundações públicas são criadas por lei. As entidades empresariais são pessoas jurídicas de direito privado, sob a forma de economia mista ou empresas públicas. As entidades paraestatais são pessoas jurídicas de direito privado, são os conhecidos sistemas autônomos (SESI, SENAC, SENAI). Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 39 Vamos primeiro tratar dos deveres constituídos às atividades empregadoras, assim como seus direitos, conforme o estabelecido à legislação do trabalho. Por fim, meramente didático, abordaremos em uma segunda parte os direitos e deveres dos empregados. Direitos e deveres prevencionistas As entidades públicas e privadas, segundo o código de trabalho vigente em nosso país, apresentam direitos e deveres do empregador para a prevenção e reparação de acidentes e doenças profissionais, destacando: Art. 281 O empregador deve assegurar aos trabalhadores condições de segurança e saúde em todos os aspetos relacionados com o trabalho, aplicando as medidas necessárias, tendo em conta princípios gerais de prevenção. Na aplicação das medidas de prevenção, o empregador deve mobilizar os meios necessários, nomeadamente nos domínios da prevenção técnica, da formação, informação e consulta dos trabalhadores e de serviços adequados, internos ou externos à empresa. Os empregadores que desenvolvam simultaneamente atividades no mesmo local de trabalho devem cooperar na proteção da segurança e da saúde dos respetivos trabalhadores, tendo em conta a natureza das atividades de cada um. A lei regula os modos de organização e funcionamento dos serviços de segurança e saúde no trabalho, que o empregador deve assegurar. Art. 282 O empregador deve informar os trabalhadores sobre os aspetos relevantes para a proteção da sua segurança e saúde e a de terceiros. O empregador deve consultar em tempo útil os representantes dos trabalhadores, ou os próprios trabalhadores, sobre a preparação e aplicação das medidas de prevenção. O empregador deve assegurar formação adequada, que habilite os trabalhadores a prevenir os riscos associados à respetiva atividade e os representantes dos trabalhadores a exercer de modo competente às respetivas funções. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 40 Art. 283 O empregador é obrigado a transferir a responsabilidade pela reparação prevista neste capítulo para entidades legalmente autorizadas a realizar este seguro. A responsabilidade pela reparação dos danos emergentes de doenças profissionais resultantes da prática de assédio é do empregador. O empregador deve assegurar o trabalhador afetado de lesão provocada por acidente de trabalho ou doença profissional que reduza a sua capacidade de trabalho ou de ganho a ocupação em funções compatíveis. As entidades públicas e privadas devem assegurar aos trabalhadores o direito à igualdade no acesso ao emprego, no trabalho e na formação profissional, direito à igualdade e não discriminação, condições de trabalho, proibição de discriminação e assédio, além da aplicação dos instrumentos de regulamentação coletiva e regulamentos internos. Podemos destacar ainda os direitos no código do trabalho para a prevenção e reparação de acidentes e doenças profissionais, do qual destacamos: Art. 281 O trabalhador tem direito a prestar trabalho em condições de segurança e saúde. Os trabalhadores devem cumprir as prescrições de segurança e saúde no trabalho estabelecidas na lei ou em instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho,ou determinadas pelo empregador. Art. 282 Em cada empresa, os trabalhadores são representados na promoção da segurança e saúde no trabalho por representantes eleitos com essa finalidade ou, na sua falta, pela comissão de trabalhadores. Art. 283 O trabalhador e os seus familiares têm direito à reparação de danos emergentes de acidente de trabalho ou doença profissional. A garantia do pagamento das prestações que forem devidas por acidentes de trabalho que não possam ser pagas pela entidade responsável, nomeadamente por motivo de incapacidade econômica, é assumida pelo Fundo de Acidentes de Trabalho, nos termos da lei. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 41 O papel do serviço especializado em engenharia e medicina do trabalho (SESMT) Apesar de existir hoje no Brasil uma legislação prevencionista, que sofre atualizações e adequações às mudanças nas relações de trabalho, veremos a importância do SESMT e de sua constante busca pela melhoria das condições de saúde e segurança no ambiente de trabalho. Aqui destacamos a relação tripartite, governo, empresa e empregador que apesar de investirem na saúde e segurança do trabalho os trabalhadores ainda sofrem com as consequências da exposição aos agentes de riscos ocupacionais em ambientes laborais, assim como as condições inseguras que ainda são responsáveis por acidentes no trabalho. EXPLICANDO MELHOR: Um motorista está direcionando sua carga por uma rodovia pública até seu destino, quando durante o trajeto ele nota que os comandos de frenagem não estão funcionando com 100% de sua capacidade. Nesse caso dizemos que o motorista está em uma condição insegura - situações presentes no ambiente de trabalho e que colocavam em risco a integridade física e/ou a saúde das pessoas, são defeitos, falhas, irregularidades técnicas e falta de recursos de segurança. Acontece sem a interferência do trabalhador, pois ele está vulnerável a essas condições – mesmo que ele chegue ao destino sem que ocorra um acidente. As condições inseguras podem ser agravadas por atos inseguros – relacionados à falha humana – caso o motorista tenha ingerido bebida alcoólica ou faça uma ultrapassagem em local proibido, por exemplo. Não podemos ignorar as novas tecnologias e novas atividades- profissões que surgem continuamente e com elas condições de trabalho diferenciadas, porém não menos causadoras de doenças ocupacionais, como o estresse ocupacional, a síndrome de Bornout, os Distúrbios Osteomolecular Relacionadas ao Trabalho (DORTs). Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 42 Para que os trabalhadores possam atuar em seu ambiente de trabalho que atenda às condições de saúde e segurança do trabalho, é necessário um constante processo de formação e informação acerca de direitos e deveres para evitar a falta de saúde e segurança em detrimento do lucro. VOCÊ SABIA? A NR04 determina a obrigatoriedade da implantação do SESMT em que não abrange a proteção de agentes públicos que atuam em uma relação de trabalho não celetista, ficando esses susceptíveis à falta de comprometimento do Estado em adotar políticas de saúde e segurança. Nossa legislação trabalhista é compostas de leis referentes à proteção à saúde do trabalho em esfera Federal, Estadual, Distrital e Municipal, não ficando as entidades desobrigadas ao cumprimento destas em detrimento a outras, entre elas podemos destacar a Constituição Federal, o Código Penal Brasileiro, a CLT, o Estatuto dos Servidores Públicos e a Portaria 3.214/78, que regulamenta as NRs, que entre outros requisitos legais estabelece que os empregadores implementem o SESMT estando este submetido às ordens da empresa e à fiscalização da Secretaria do Trabalho (extinto MTE). A normativa especifica em seu item 4.1: As empresas privadas e públicas, os órgãos públicos da administração direta e indireta e dos poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, manterão, obrigatoriamente, Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, com a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. (BRASIL, 2016) Porém, a norma não estabelece que a implementação e manutenção do SESMT sejam apenas para empresas que possuem contrato de trabalho no que rege a CLT, desobrigando assim, de forma equivocada, a implementação do SESMT nos órgãos públicos da administração direta e indireta, e poderes Legislativo e Judiciário ficam desobrigados. Outra questão que fragiliza a implementação do SESMT é a terceirização permitida. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 43 Esse tendencioso pensamento por parte do Estado aumenta a importância do SESMT em empresas privadas que esperam que os profissionais ligados a este serviço realizem milagres prevencionistas em função de sua gestão, cobrando resultados mesmo mantendo o serviço provido de poucos investimentos ou mesmo mantendo-os apenas para atendimento à obrigação legal, ao invés de ampliar suas ações na implantação de uma política de segurança do trabalho, com ações que efetivamente previnam os trabalhadores de acometimentos de doenças e acidentes ocupacionais. O SESMT é composto por profissionais da área de Saúde e Segurança do Trabalho. a. Engenheiro de Segurança do Trabalho: engenheiro ou arquiteto portador de certificado de conclusão de curso de especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho, em nível de pós- graduação. b. Médico do trabalho: médico portador de certificado de conclusão de curso de especialização em Medicina do Trabalho, em nível de pós-graduação, ou portador de certificado de residência médica em área de concentração em saúde do trabalhador ou denominação equivalente, reconhecida pela Comissão Nacional de Residência Médica, do Ministério da Educação, ambos ministrados por universidade ou faculdade que mantenha curso de graduação em Medicina. c. Enfermeiro do trabalho: enfermeiro portador de certificado de conclusão de curso de especialização em Enfermagem do Trabalho, em nível de pós-graduação, ministrado por universidade ou faculdade que mantenha curso de graduação em enfermagem. d. Auxiliar de enfermagem do trabalho: auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem portador de certificado de conclusão de curso de qualificação de auxiliar de enfermagem do trabalho, ministrado por instituição especializada reconhecida e autorizada pelo Ministério da Educação. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 44 e. Técnico de Segurança do Trabalho: técnico portador de comprovação de registro profissional expedido pelo Ministério do Trabalho (BRASIL, 2016) Serviço especializado em engenharia e medicina do trabalho – entidades privadas Nos setores privados, os profissionais além de serem mal remunerados, muitos têm suas funções desviadas ou não é permitido que exerçam sua função com autonomia em relação ao empregador e aos trabalhadores e servem para que a empresa tenha alguém a quem possa delegar a responsabilidade pela falta de condições seguras na empresa. Para evitar essas práticas equivocadas em setores privados, o Estado, mediante fiscalização do trabalho, exercida pelas Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs), orientam, notificam e até mesmo autuam as empresas de forma a garantir o real cumprimento da legislação. Serviço especializado em engenharia e medicina do trabalho – entidades públicas Não apenas os trabalhadores com contratos de trabalho regidos pela CLT são acometidos por acidentes e doenças ocupacionais. Os trabalhadores não celetistas que atuam em entidades públicas são expostos a acidentes e doenças ocupacionais em total descaso do Estado para com seus servidores, que em diversos setores atuam em condições inseguras, inadequadas em exposição ao risco iminente de óbito. A ausência do SESMT aumenta o número de afastamento de servidorespúblicos acometidos por acidentes e doenças do trabalho, aumentando o gasto previdenciário com auxílio-doença. Embora o Estado tenha consciência da responsabilidade pelos danos causados aos servidores, ainda há a omissão por parte das entidades públicas. Alguns passos vemos ser dados em função da disponibilidade de vagas em concursos públicos para profissionais do SESMT, que assim poderá realizar, como as entidades privadas, a implementação do SESMT. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 45 Essa nova conduta por parte do Estado contribuirá para a redução das estatísticas de acidentes de trabalho além da redução de gastos previdenciários em virtude dos afastamentos por acidentes e doenças ocupacionais. Podemos ainda, certamente, esperar um aumento na produtividade e eficiências dos serviços públicos, visto que por experiências das entidades privadas em seus resultados, o trabalhador mais saudável representa mais rendimento de suas atribuições. Terceiro setor Atualmente é uma realidade na economia global o aumento da atuação das organizações do terceiro setor, o que leva ao crescimento de trabalhadores atuando em organizações sem fins lucrativos. E como funciona a legislação trabalhista prevencionista no terceiro setor? DEFINIÇÃO: O terceiro setor é formado pelas organizações privadas que desenvolvem atividades em favor da sociedade, sem fins lucrativos, chamadas de ONGs, que atuam independente dos demais setores, mesmo que possam receber investimentos ou trabalhar em parceria com demais setores (ALBUQUERQUE, 2006). Entre as entidades do terceiro setor podemos apresentar contratos trabalhistas que regem o trabalho de organizações obedecendo às regras da CLT, observando os elementos que caracterizam a relação de emprego, tais como pessoalidade, continuidade, remuneração e subordinação hierárquica. Devemos ter em mente que para a legislação brasileira são considerados trabalhadores também os contratos de trabalho por prazo indeterminado, contrato de trabalho por prazo determinado (contratação desde que a natureza e a transitoriedade do trabalho fundamentam a predeterminação do prazo, prevista na CLT), contrato de aprendizagem, prevista pela Constituição Federal, assim como a CLT autoriza a contratação de menores – entre 14 e 18 anos de idade –, desde que na condição de aprendizes, com contrato de trabalho especial e em consonância com Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 46 os requisitos da Lei nº 10.097/2000 e o trabalho autônomo: realizado por pessoa física e em caráter de não exclusividade. O RPA é a maneira legal de realizar pagamento para qualquer pessoa física que preste serviço pontual a uma empresa ou organização e que não possua emissão de notas fiscais. O que nós precisamos agora é agregar as normas de saúde e segurança, unificando essa nova gestão às normas existentes. RESUMINDO: As entidades podem ser divididas pelo direito administrativo em entidades públicas e privadas. Para a legislação prevencionista essa divisão abre um grande abismo na implementação de políticas de saúde e segurança prevencionista do trabalho, sendo as entidades públicas e privadas obrigadas por lei a constituírem o Serviço de Engenharia e Medicina do Trabalho (SESMT) para aquelas que estabelecem contratos de trabalho baseados na CLT, porém ficando desobrigadas as entidades públicas com contratos não estabelecidos pela CLT a constituírem o SESMT. No entanto, os servidores estatutários também estão expostos a acidentes e doenças ocupacionais, o que aumentam os ônus do Estado, que acaba tendo seus recursos previdenciários aplicados em benefícios a trabalhadores afastados por acidentes e doenças do trabalho. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 47 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, A. C. Terceiro setor: história e gestão de organizações. São Paulo: Summus Editorial, 2006. ALVIM, M. B. A relação do homem com o trabalho na contemporaneidade: uma visão crítica fundamentada na Gestalt-Terapia. Estudos & Pesquisas em Psicologia, Brasília, v. 6, n. 2, out. 2006. Disponível em: https://bit.ly/3mye0ze. Acesso em: 22 set. 2020. BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Segurança do Trabalho: guia prático e didático. São Paulo: Editora Saraiva, 2018. BAZZO, W. A. Introdução à engenharia: conceitos, ferramentas e comportamentos. Trinidade: Editora UFSC, 2006. BRASIL. Classificação Brasileira de Ocupações. 2017. Ministério do Trabalho. Disponível em: https://bit.ly/3gNNcf3. Acesso em: 27 abr. 2021. BRASIL. ENIT. NR 4 – Serviços especializados em engenharia de segurança e em medicina do trabalho. 2016. Disponível em: https://bit.ly/305hNvW. Acesso em: 2 out. 2020. EMPREGOS.COM.BR. 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Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho Evolução da engenharia de segurança Contextualizando a segurança do trabalho Evolução da formação profissional Engenharia de Segurança do Trabalho moderna Segurança do trabalho no Brasil Aspectos econômicos, políticos e sociais Contexto histórico Aspectos econômicos Aspectos políticos Aspectos sociais História do prevencionismo Sintetizando a história Prevencionismo pré-Revolução Industrial Prevencionismo pós-Revolução Industrial Revolução 4.0 Entidades públicas e privadas Conceitos legais Direitos e deveres prevencionistas O papel do serviço especializado em engenharia e medicina do trabalho (SESMT) Serviço especializado em engenharia e medicina do trabalho – entidades privadas Serviço especializado em engenharia e medicina do trabalho – entidades públicas Terceiro setor
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