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DIREITO PROCESSUAL CIVIL - JURISDIÇÃO

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Direito Processual Civil
JURISDIÇÃO
A jurisdição pode ser entendida como a atuação estatual que visa à aplicação do direito objetivo ao caso concreto, para resolver definitivamente uma situação de crise jurídica que gerará a pacificação social.
· Ao contrário do conceito clássico de jurisdição – que essa se presta a resolver um conflito de interesse entre as partes, substituindo suas vontades pela vontade da lei – pois nem sempre haverá um conflito de interesses a ser resolvido, bem com, nem sempre a atividade jurisdicional irá substituir a vontade das partes.
Jurisdição sob três aspectos distintos: poder, função e atividade:
· Poder jurisdicional: Permite o exercício da função jurisdicional que se materializa no caso concreto por meio da atividade jurisdicional. 
Como poder, a jurisdição representa o poder estatal de interferir na esfera jurídica dos jurisdicionados, aplicando o direito objetivo ao caso concreto e resolvendo a crise jurídica presente. 
· Poder jurisdicional não se limita a dizer o direito (juris-dicção), mas também de impor o direito (juris-satisfação).
Não adianta somente ocorrer a edição da norma jurídica (juris-dicção), mas é necessário tutelar concretamente o direito material, através da execução (juris-satisfação).
· Função jurisdicional: é o encargo atribuído pela Constituição Federal ao Poder Judiciário (função típica) em regra, e excepcionalmente, aos outros Poderes (função atípica) de exercer concretamente o poder jurisdicional.
Exemplos: função jurisdicional exercida pelo poder legislativo nos processos de impeachment do presidente da república, ou, nos processos administrativos conduzidos pelo poder executivo. 
Bem como, o poder judiciário exerce funções atípicas que são típicas dos demais poderes, exemplos: função administrativa (organização de concursos públicos) e função legislativa (elaboração de regimentos internos de tribunais).
· Atividade jurisdicional: são os atos praticados pelo agente estatal investido de jurisdição no processo. 
A função jurisdicional é concretizada por meio do processo. Durante o processo, o Estado, inerte, realiza a investidura de determinados sujeitos do poder jurisdicional para que possam, por meio da prática de atos processuais, exercerem concretamente esse poder. 
Esses sujeitos são os juízes de direito, e, por representarem o Estado no processo são chamados de Estado-juiz. 
EQUIVALENTES JURISDICIONAIS OU FORMAS ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS
O Estado não possui, por meio da jurisdição, o monopólio da solução dos conflitos, sendo admitidas pelo Direito outras formas para buscar a solução do conflito – chamadas de equivalentes jurisdicionais ou formas alternativas de solução de conflitos., são elas: autotutela, autocomposição (conciliação), mediação e arbitragem. 
	AUTOTUTELA
Forma mais antiga de solução dos conflitos, que é constituída pelo sacrifício integral do interesse de uma das partes envolvidas no conflito em razão do exercício da força pela parte vencedora (resulta na imposição da vontade da parte vencedora).
Esse tipo de equivalente jurisdicional remota as sociedades mais rudimentares, onde a força era o elemento determinante para a solução dos conflitos, sem se importar de quem realmente era o direito objetivo no caso concreto. No entanto, é preciso recordar, que ainda se encontra presente no nosso ordenamento jurídico, em caráter excepcional:
· Legítima defesa (art. 188, I, do CC)
· Apreensão do bem com penhor legal (art. 1467, I, do CC)
· Desforço imediato no esbulho (art. 1210, § 1º, do CC)
São permitidos pelo ordenamento jurídico, devido ao fato de o Estado não ser onipresente, sendo, portanto, impossível estar em diversos lugares ao mesmo tempo a fim de solucionar eventuais violações ao direito objetivo, possibilitando como solução para a resolução do conflito a utilização da força de um dos envolvidos.
Essa forma de solução de conflitos pode ser revista pelo Poder Judiciário, podendo o perdedor, pleitear para que eventuais prejuízos advindos da solução do conflito sejam revertidos.
Sendo, portanto, uma forma IMEDIATA de solução de conflitos, SEM caráter de DEFINITIVIDADE.
AUTOCOMPOSIÇÃO (CONCILIAÇÃO)
Corresponde ao sacrifício total ou parcial do interesse das partes envolvidas no conflito, mediante a vontade unilateral ou bilateral dos sujeitos. 
Ao contrário da jurisdição, inexiste uma decisão impositiva, mas há a valorização da autonomia da vontade das partes na solução dos conflitos.
A autocomposição divide-se em três: transação, submissão e renúncia.
· Transação: É o tipo mais comum, onde existe o sacrifício recíproco de interesses, sendo que cada parte abdica parcialmente de sua pretensão para que se atinja a solução do conflito – vontade bilateral das partes, pois quando um não quer não há transação.
· Renúncia e submissão: são atos de vontade unilateral, onde a solução decorre de ato da parte que abre mão de um direito que teoricamente seria legítimo. 
Na renúncia, o titular do direito pretendido abdica de tal direito, o que o faz desaparecer juntamente com o conflito, já na submissão o sujeito se submete a vontade da parte contrária, mesmo que fosse legítima sua resistência.
É importante observar que, tais equivalentes jurisdicionais, podem aparecer durante o processo judicial, onde a submissão é nomeada de reconhecimento jurídico do pedido, e renúncia e transação permanecem com o mesmo nome (art. 487, III, CPC/2015).
Papel desempenhado na autocomposição por transação: negociação e conciliação.
· Negociação: As partes chegam a uma transação sem a intervenção de um terceiro.
· Conciliação: Existirá a presença de um terceiro (conciliador) que atuará como intermediário entre as partes, este não tem o poder de decidir o conflito, mas de guiar as partes para uma solução amigável, propondo soluções.
MEDIAÇÃO
Mediação é a forma alternativa de solução de conflitos que tem como fundamento a vontade das partes, porém não deve ser confundida com a autocomposição.
AUTOCOMPOSIÇÃO X MEDIAÇÃO
1. Na Mediação, inexiste o sacrifício total ou parcial dos interesses das partes envolvidas na crise jurídica, existindo a preferência de em que há vínculo anterior entre as partes (exemplo: direito de família, vizinhança e societário). Já na conciliação, preferencialmente, a inexistência de vínculo anterior entre as partes (passaram a ter vínculo em razão da lide instaurada).
2. Previsão de solução com benefícios mútuos na mediação. Mediação é centrada nas causas do conflito. Preservar plenamente o interesse de ambas as partes envolvidas.
3. Diferente do conciliador, o mediador não propõe soluções do conflito às partes, mas conduz para que elas descubram as causas do conflito, possibilitando a sua remoção e solucionarem o conflito.
TRATAMENTO PROCEDIMENTAL DA CONCILIAÇÃO (AUTOCOMPOSIÇÃO) E MEDIAÇÃO
- CPC/2015 – Dos Conciliadores e Mediadores Judiciais
Ainda que constem nesse tópico as diferenças formais de conciliação e mediação, ambas são tratadas do mesmo modo em termos de estrutura e procedimento. 
· Centros judiciários de solução consensual de conflitos
Conforme art. 165, caput, CPC/2015, os tribunais deverão criar centros judiciários de solução consensual dos conflitos, que serão responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação, bem como pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar e estimular a autocomposição.
É retirada do juiz a tarefa de tentar junto às partes a conciliação e a medição, ainda que de forma residual o juiz possa continuar exercendo essa atividade no decorrer do processo, caso não obtenha êxito a tentativa nos centros jurídicos de solução consensual de conflitos.
- É considerada uma medida positiva, em razão de que, nem sempre o juiz é a pessoa mais indicada para exercer tal atividade, já que pode não possuir a técnica necessária, bem como pode ser acusado de prejulgamento devido a uma participação mais ativa no processo.
Bem como, os centros judiciários ficarão responsáveis pelo desenvolvimento, publicação e adoção de políticas voltadas à conciliação e a mediação– atividade essencial para a mudança da mentalidade litigiosa das partes e de seus advogados.
Esses centros são vinculados aos tribunais de segundo grau na Justiça Estadual e Federal, cabendo a eles definirem sua composição e organização, observando as normas do CNJ (§ 1º Art. 165 do CPC) – para que os centros não sejam excessivamente heterogêneos devido as regionalidades distintas de onde estiverem instalados, e assim, possibilitar uma maior conexão entre esses centros, mas deixando uma margem para esses tribunais atenderem as necessidades locais.
· Local físico da conciliação e mediação
Esse local seria os centros judiciários de solução de consensual de conflitos, para que as sessões não sejam realizadas na sede do juízo, diminuindo assim o aspecto de litigiosidade e formalidade associado ao Poder Judiciário, pois psicologicamente poderia deixar as partes mais tranquilas e facilitaria a solução consensual.
De fato, essa não seria a realidade de todas as comarcas (justiça estadual) seções (jf – capital) e subseções (jf – interior) do Brasil, devido a irrazoável e discrepante realidade que vivenciamos, visto que até mesmo as sedes dos juízos se encontram em precariedade, imagina pensar em criar um novo espaço.
Devendo então obedecer a regra do projeto de lei aprovado na Câmara, para que de forma excepcional possa se realizar as audiências ou sessões de conciliação ou mediação na sede dos próprios juízos – facilitando o acesso à justiça. 
Não se exclui o fato de que mesmo que o foro possuísse um local específico para a atuação dos centros judiciários de solução de conflitos, a sessão ocorresse na sede do juízo em um local considerado mais adequado.
Como o juiz não participa das audiências/sessões de conciliação e mediação, cabe somente ao Juiz coordenador do centro judiciário de solução de conflitos e cidadania supervisionar as atividades dos conciliadores e mediadores.
· Conciliador e Mediador
Conforme § 1º do Art. 167 do CPC, é requisito mínimo para a capacitação de conciliadores e mediadores, a aprovação em curso a ser realizado por entidade credenciada, sendo o parâmetro curricular definido pelo CNJ em conjunto com o Ministério da Justiça. 
O art. 11 da Lei 13.140/2015, diz que é necessário para atuar como mediador judicial, a pessoa que tenha graduação há pelo menos dois anos em curso de ensino superior de instituição reconhecida pelo MEC. 
Não se tem necessidade dos conciliadores e mediadores serem advogados, visto que não é necessário conhecimento jurídico para atuar nesse ramo.
Mas caso seja advogado, está impedido de exercer advocacia nesses juízos onde exerça suas funções de mediador/conciliador. 
Necessário distinguir juízo (vara) com foro, visto que a atuação do advogado-mediador/conciliador está liberada em varas não vinculadas à sua atividade de mediador e conciliador. Deve haver algum tipo de relacionamento entre o mediador/conciliador e o juiz da vara. 
Art. 172 do CPC prevê impedimento de 1 ano, contado do término da última audiência em que atuaram/representaram/patrocinaram qualquer das partes, sendo importante para evitar o aliciamento de clientes. Existem certos entendimentos que esses impedimentos sejam estendidos à sociedade de advogados a qual pertença o conciliador ou mediador.
Existe a possibilidade também do tribunal optar pela criação de quadro próprio de conciliadores e mediadores, a ser preenchido mediante concurso público de provas e títulos (requisito: ser possuidor de certificado emitido por entidade responsável por ministrar o curso de capacitação).
De acordo com o Art. 168 do CPC, as partes podem escolher, de comum acordo, o conciliador/mediador, inclusive sujeitos que não estejam cadastrados juntos ao tribunal ou câmara privada, sendo necessário apenas a capacitação mínima – ressalva-se, o art. 15 da lei 13.140/2015 que dispõe que os mediadores não estarão sujeitos a prévia aceitação das partes – mas não quer dizer que as partes estarão sujeitas a um mediador/conciliador contra suas vontades. 
§ 3º Art. 168 dispõe que sempre que recomendável, haverá designação de mais de um mediador ou conciliador, mas deve ser adotada com ressalvas, pois deve ser em situações excepcionais, pois pode demandar mais tempo para chegar a um resultado positivo. 
PRINCÍPIOS DAS FORMAS CONSENSUAIS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS
Apesar de serem formas consensuais de solução de conflitos distintas, a mediação e a conciliação são formadas pelos mesmos princípios, conforme Art. 166 do CPC.
Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada.
· Independência:
Os mediadores e conciliadores devem atuar de forma independente, sem sofrerem qualquer tipo de pressão interna ou externa.
· Imparcialidade:
O mediador e conciliador devem ser imparciais, não podendo de qualquer modo escolher um lado. Deve ser assegurado que valores e conceitos pessoais não interfiram no processo, bem como, jamais aceitando qualquer favor ou presente.
· Normalização do conflito:
Esse princípio foi suprimido do caput do art. 166 pelo legislador, no entanto, os princípios que norteiam a conciliação e mediação não dependem da vontade do legislador.
Do ponto de vista jurídico, a normalização ocorre quando este for solucionado, já do ponto de vista sociológico, existe essa normalização quando as partes estiverem satisfeitas com a solução consensual do conflito.
Desde princípio, decorrem os princípios da validação e do empoderamento:
- Os conciliadores e mediadores têm o dever de estimular os interessados a aprenderem a melhor resolver seus conflitos futuros em função da experiência de justiça vivida na autocomposição (EMPODERAMENTO). 
- Dever de estimular os interessados a se perceberem reciprocamente como seres humanos merecedores de atenção e respeito (VALIDAÇÃO).
· Autonomia da Vontade:
Para haver uma solução consensual do conflito é necessário autonomia da vontade das partes. Bem como, a vontade das partes não pode estar viciada (erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão, fraude contra credores e simulação), pois pode acarretar na nulidade do conflito.
· Confidencialidade:
Justifica-se como forma de otimizar a participação das partes e com isso aumentar as chances de obtenção de solução consensual. Visto que, as partes podem se encontrar retraídas e desconfiadas de aquilo que falarem poderá ser usado contra elas, atuando de forma tímida e prejudicando a solução consensual. 
Estende-se a todas as informações produzidas no curso do procedimento. No entanto, as partes podem optar que o teor da audiência seja utilizado para quaisquer fins, em razão do princípio da autonomia da vontade.
Ficam impedidos dessa forma, mediadores e conciliadores de atuarem como testemunhas, caso haja o andamento do processo.
· Oralidade:
As alegações das partes e do terceiro imparcial serão realizadas de forma oral. Possui três objetivos: conferir celeridade aos autos, informalidade dos atos e promover a confidencialidade (pois será escrito o mínimo possível).
A solução do conflito deve ser necessariamente escrita.
· Informalidade
A informalidade gera relaxamento e tranquilidade entre as partes.
· Decisão informada:
Dever do conciliador e do mediador de informar o jurisdicionado sobre todos os seus direitos e em que contexto fático ele está inserido. 
Como um conciliador/mediador não formado na área jurídica poderá proceder?
· Isonomia entre as partes:
EXCLUSIVO DA MEDIAÇÃO. Em razão de serem tratadas igualmente.
· Busca do consenso
EXCLUSIVO DA MEDIAÇÃO. O mediador deve buscar de forma cooperativa com as partes, a solução consensual do conflito. 
Devem ser adotadas técnicas de negociação: 
a. Separar as pessoas dos problemas.
b. Focar em interesses e não em posições.
c. Inventar opção de ganhos mútuos.
d. Insistir em critérios objetivos para a ponderação das opções criadas.
O principal aspecto a ser buscado.
· Cadastros: 
Os habilitados a atuarem como conciliador/mediador constarão em dois diferentescadastros: um nacional e outro regional a cargo dos tribunais de justiça do estado e federal.
A distribuição é feita de forma aleatória. Deve constar nos cadastros: número de causas que participou, sucesso ou insucesso da atividade, bem como outros dados que o tribunal acreditar serem relevantes.
Esses dados serão tornados públicos pelo menos uma vez ao ano. Para que:
a. Dar conhecimento do andamento dos trabalhos à população em geral;
b. Permitir uma análise estatística do trabalho individual e coletivo conduzido.
Tem como objetivo buscar meios alternativos de solução de conflitos.
· Remuneração do conciliador/mediador
Essa atividade é em regra, remunerada, com valores previstos em tabela fixada pelo tribunal, com parâmetros estabelecido pelo CNJ. 
Não será remunerada se os tribunais criarem quadros próprios através de concurso público, nem quando o conciliador/mediador aceitar trabalhar de forma voluntária.
São remunerados pelas partes. Caso haja o pedido de gratuidade da justiça, o Estado deverá arcar com o pagamento. Bem como, se o serviço for prestado por entidade privada, haverá uma parcela de audiências não remuneradas, que deverão ser suportadas por estas entidades. 
· Impedimento do conciliador e do mediador
Devem ser aplicadas as causas de parcialidade do juiz, por analogia.
Deve informar ao juiz por meio eletrônico se estiver impedido por impedimento ou suspeição (relação de parentesco).
Art. 172 CPC, o conciliador e mediador ficam impedidos, no prazo de 1 ano, contado do término da última audiência em que atuaram, de assessorar, representar ou patrocinar qualquer das partes. 
· Causas de exclusão
Depende de processo administrativo e pode ser devido a:
a. Agir com dolo ou culpa na condução da conciliação ou mediação, sob sua responsabilidade. 
b. Violar qualquer dos deveres de confidencialidade ou sigilo das audiências.
c. Atuar estando impedido ou suspeito. 
Pode o juiz os suspender no prazo de 180 dias ao verificar alguma dessas irregularidades. Dependendo de decisão fundamentada e comunicação ao tribunal para instauração de processo administrativo. 
· Solução consensual no âmbito administrativo
Art. 174. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios criarão câmaras de mediação e conciliação, com atribuições relacionadas à solução consensual de conflitos no âmbito administrativo, tais como:
I - dirimir conflitos envolvendo órgãos e entidades da administração pública;
II - avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio de conciliação, no âmbito da administração pública;
III - promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento de conduta.
· Conciliação e mediação extrajudiciais
Pode haver conciliação/mediação realizadas por outros meios, como através de profissionais independentes. 
ARBITRAGEM
É uma antiga forma de solução de conflitos, onde as partes, através de suas vontades, se submetem a decisão de um sujeito muito respeitado por elas, e suas decisões se tornam bastante valorizadas.
Ex: líder ancião religioso da comunidade
Tem como características:
· As partes são livres para escolher um terceiro de sua confiança, que será responsável pelo conflito de interesses;
· A decisão desse terceiro é impositiva (resolve o conflito independente da vontade das partes)
É disciplinada pela Lei de Arbitragem (Lei 9.307/1996) – privativa dos direitos disponíveis.
Este tipo alternativo de solução de conflitos não afronta o princípio da inafastabilidade da jurisdição (Art 5º, XXXV, CF). Possui a natureza de equivalente jurisdicional, mas não é considerado jurisdição propriamente dita.
Parcela da doutrina adota a ideia de que existe a jurisdição estatal (autocomposição, autotutela e mediação), e existe a jurisdição privada (arbitral).
ESCOPO DA JURISDIÇÃO
Escopo da jurisdição significa: os principais objetivos perseguidos com o exercício da função jurisdicional.
· Escopo jurídico: Aplicação concreta da vontade do direito – através da criação da norma jurídica – resolvendo-se o conflito/lide jurídico.
· Escopo social: Consiste em resolver o conflito de interesses, proporcionando às partes envolvidas a pacificação social – resolvendo-se a lide sociológica. 
· Escopo educacional: Diz respeito à função da jurisdição de ensinar aos jurisdicionados – não somente às partes envolvidas no processo – seus direitos e deveres.
· Escopo político: Possui três vertentes: 
1) Se presta a fortalecer o estado.
2) A jurisdição como último recurso em termos de proteção às liberdades públicas e aos direitos fundamentais, valores essencialmente políticos da sociedade.
3) Incentivar a participação democrática por meio do processo.
CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS
1) Caráter substitutivo:
Significa a substitutividade da jurisdição: A jurisdição substitui a vontade das partes pela vontade da lei no caso concreto, resolvendo o conflito existente entre elas e proporcionando a pacificação social.
Apesar de aparecer em grande parte das atuações jurisdicionais, não quer dizer que é essencial para a existência da jurisdição.
2) Lide:
É o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida. 
Trata-se de um fenômeno não processual, mas fático-jurídico, ocorrendo antes do processo. Não irá ser solucionada no processo, até porque o juiz resolve o pedido do autor e não a lide (já que pode ser totalmente resolvida ou só parcialmente).
Assim como o caráter substitutivo, também a LIDE não é essencial a jurisdição.
3) Inércia:
A movimentação inicial da jurisdição se dá pela provocação do interessado. O juiz não pode agir de ofício (Art. 2º CPC/15).
Após isso, surge o impulso oficial – onde garante o desenvolvimento do processo. 
4) Definitividade:
A solução do conflito por meio jurisdicional é a única que se torna definitiva e imutável. A coisa julgada material é fenômeno privativo das decisões jurisdicionais.
PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO
1. INVESTIDURA
O Estado concede ao juiz, o poder jurisdicional, para que o represente no exercício concreto da atividade jurisdicional, buscando uma solução para determinado caso.
No Brasil, existem três formas admitidas de investidura:
Concurso Público (Art. 93, I, CF)
Indicação pelo Poder Executivo, por meio do quinto constitucional (membros do Ministério Público ou Advogados, com mais de 10 anos de atividade e notável saber jurídico) – Art. 94, CF
Composição do Supremo Tribunal Federal, nomeados pelo Presidente (Art. 101, CF)
2. TERRITORIALIDADE 
Trata sobre a limitação do exercício legítimo da jurisdição. O Juiz terá jurisdição em todo território nacional, no entanto, para fins de funcionalidade as normas jurídicas limitam o exercício legítimo da jurisdição a um determinado território.
Devido a esse princípio, a atuação jurisdicional só será legítima dentro desses limites. Caso exista a verificação de ato processual fora desses limites, o juízo utilizará de carta precatória (dentro do território nacional – lhe falta competência) e de carta rogatória (fora do território nacional – pois lhe falta jurisdição).
Exceções:
A citação por correio (regra atual) poderá ser feita para qualquer comarca ou seção/subseção judiciária do país.
A citação, intimação, notificação...etc, qualquer ato executivo por oficial de justiça pode ser feito em comarca/seção judiciária próxima.
Em ação de imóvel situado em dois ou mais foros, poderá o Autor escolher um dos foros, e o juiz desse foro atuará também à parte do imóvel situado em outro foro.
Na penhora de bem imóvel, o juiz poderá realizar a penhora de imóvel e veículos automotores situados em qualquer local do Brasil
PROCESSO ELETRÔNICO – citação por meio eletrônico e penhora on-line.
3. INDELEGABILIDADE
Entendido sob dois pontos de vista, externo e interno.
· Externo: O Poder Judiciário recebeu a função jurisdicional da Constituição Federal, logo, não pode delegar, em regra, tal função a outros poderes ou órgãos que não façam parte do poder judiciário.
· Interno: O órgão jurisdicional não poderá delegar sua competência para outro órgão jurisdicional.
No caso de delegabilidade no ponto externo diz-se respeitoao exercício das funções atípicas pelos demais poderes. 
Já em ponto interno, é excepcionada quando:
· Expede-se carta de ordem pelo Tribunal, que delega sua função de produzir provas orais e periciais ao juízo de primeiro grau (em razão da falta de estrutura dos tribunais);
· Art. 102, CF, prevê que o STF delegue a função executiva de seus julgados ao juízo de primeiro grau, por meio de carta de ordem, também por falta de estrutura para a realização de tais atos.
Assumpção Neves não entende a carta rogatório e a carta precatória como espécies de exceções, visto que, não há de se falar de delegação se não há poder originalmente. São confirmações do princípio da indelegabilidade.
4. INEVITABILIDADE
Vinculação obrigatória dos sujeitos ao processo judicial, uma vez integrado a relação jurídica processual, ninguém poderá, por sua própria vontade, se negar a esse chamado jurisdicional.
Os sujeitos participantes dessa relação jurídica obrigatório, participam de um estado de sujeição, pois terão que suportar os efeitos da decisão jurisdicional, tornando os inevitáveis. 
CITAÇÃO É UMA ORDEM DE INTEGRAÇÃO AO PROCESSO E NÃO UM MERO CONVITE.
5. INAFASTABILIDADE
Art. 5º, XXXV, CF: “a lei não afastará da apreciação do Poder Judiciário, lesão ou ameaça de lesão a direito”.
O interessado em provocar o Poder Judiciário em razão de lesão ou ameaça de lesão a direito não é obrigado a procurar os meios administrativos para entrar com um processo.
Visto que não é necessário o esgotamento da via administrativa para se recorrer ao Poder Judiciário, podendo sim recorrer a via administrativa, bem como a via judiciária.
Exceção: Art. 217, parágrafo 1, prevê o esgotamento das vias de solução da Justiça Desportiva, como condição de buscar a tutela jurisdicional.
Pedido de benefício previdenciário, feito inicialmente no âmbito administrativo para se passar para o âmbito jurídico (interesse de agir).
Inexiste coisa julgada material em processo administrativo, pois, caso a parte encontrar-se ainda insatisfeita, poderá entrar com uma ação na via judicial pleiteando seu direito, nada interferindo na decisão administrativa (preclusão administrativa).
A decisão final sempre será a proferida pelo poder judiciário.
Outro ponto de vista desse princípio é: “Acesso a ordem jurídica justa” ou “Acesso à tutela jurisdicional adequada”:
· Deve-se ampliar o máximo possível o acesso ao processo.
· Assistência jurídica para os pobres, no termo da lei, para que tenham acesso ao Poder Judiciário, ex: Defensoria Pública.
· Tutela jurisdicional coletiva
· Respeito ao devido processo legal, efetivando o contraditório e a cooperação.
· Decisão com justiça (proferir a decisão mais justa dentre as possíveis ou aplicar a lei levando em consideração os princípios constitucionais de justiça e de direitos fundamentais).
· Eficácia da decisão, não adianta conter todas essas questões acima e mostrar-se ineficaz.
QUANTO MAIS DEMORAR UMA DEMANDA JUDICIAL, MENORES SÃO AS CHANCES DO RESULTADO DO PROCESSO SER EFICAZ.
6. JUIZ NATURAL
Ninguém será processado se não pela autoridade competente (Art. 5, LIII, CF).
É impossível escolher quem será o juiz do seu caso, sendo essa determinação de forma aleatória para todos os envolvidos no processo. 
Proíbe a criação de tribunais de exceção, não se podendo criar um juízo após o acontecimento de determinados fatos jurídicos com a exclusiva tarefa de julga-los, sendo que na época dos fatos já existia um órgão jurisdicional competente para o exercício de tal tarefa.
7. PROMOTOR NATURAL
Impede que o Procurador-Geral de Justiça faça designações discricionários de promotores ad hoc (para esta finalidade), eliminando a figura de acusador público de encomenda.
Referido princípio consiste na garantia de todo cidadão ser acusado por um órgão independente do estado, vedando-se, por consequência, a designação, inclusive, de promotores ad hoc.

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