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Victoria Chagas 1 MENINGITES • MENINGITE: processos infecciosos que acometem as meninges (dura, aracnoide e pia) e o espaço subaracnoide onde se encontra o LCR – função neurológica normal • MENINGOENCEFALITE: meningite que acomete parênquima cerebral, podendo ser por via hematogênica, contiguidade ou via direta – alteração na função neurológica ROTINA DO LÍQUOR NAS MENINGITES Victoria Chagas 2 Victoria Chagas 3 MENINGITE BACTERIANA O QUE É? - A meningite bacteriana é uma infecção purulenta das leptomeninges e do espaço subaracnoide. - Relacionada a uma intensa reação inflamatória no SNC, que se manifesta como rebaixamento do nível de consciência, convulsões, aumento da Pressão Intracraniana e eventos isquêmicos. - A meningite bacteriana aguda (MBA) é uma emergência clínica - Pelo frequente envolvimento do cérebro, termo mais adequado seria meningoencefalite. - Diagnóstico precoce e terapia reduz morbidade e sequelas irreversíveis - Está dentro das doenças de Notificação compulsória EPIDEMIO - Crianças de 1 mês a 5 anos são responsáveis por 90% dos casos - Porém, pode se apresentar em qualquer idade - Mortalidade em 18-20% dos casos, chegando a 50% nos casos de meningococcemia (disseminação do patógeno pelo sangue) - Fatores de risco gerais incluem → sinusite/otite aguda ou crônica (por disseminação de contiguidade), IVAs recentes, viagem África subsaariana, TCE penetrante e cirurgia - Há alguns fatores de risco para meningite pneumocócica → pneumonia pneumocócica, alcoolismo, diabetes, esplenectomia, TCE de base de crânio, fistula liquórica e anemia falciforme ETIOFISIO PATOLO GIA ➢ ETIOLOGIA - N. meningitidis (meningococo) e S. pneumoniae (pneumococo) responsáveis por 80% dos casos - Pneumococo é a causa mais comum da meningite em adultos → quase 50% dos casos notificados - Os bacilos gram-negativos entéricos causam meningite em indivíduos com doenças crônicas e debilitantes como diabetes, cirrose e alcoolismo, ou com ITU crônica. - Listeria está geralmente nos extremos de idade (RN e idosos), imunodeprimidos e alcoolismo FAIXA ETÁRIA AGENTES MAIS COMUNS NEONATOS Streptococcus agalactiae – gram + Listeria monocytogenes – gram + Bacilos gram-negativas entéricas como Escherichia Coli (principal) 3 MESES 18 ANOS Neisseria Meningitidis (meningococo) – gram - Streptococcus pneumoniae (pneumococo) – gram + Haemophilus influenzae tipo b (Hib) – gram - - Antes havia predomínio do Hib sobre o meningococo, porém, devido à vacinação anti-Hib ↓ incidência 18 OS 50 ANOS Pneumococo se torna mais frequente Meningococo (assume a 2ª posição no ranking) Hib como o menos frequente dos 3 > 50 ANOS Pneumococo (principal) Meningococo Listeria monocytogenes Bacilos gram-negativos entéricos IDOSOS E IMUNOSSUPRIMIDOS Pneumococo Meningococo Listeria (o mais comum em linfoma e transplantados) Bacilos gram negativos (ex.: Pseudomonas aeruginosa) → alcoólatras, diabéticos, ITU crônica e estrongiloidíase disseminada PROCEDIMENTOS NEUROCIRÚRGICOS Staphylococcus aureus Staphylococcus epidermidis Bacilos Gram negativos (ex.: Pseudomonas) Victoria Chagas 4 ETIOFISIO PATOLO GIA ➢ FISIOPATOLOGIA - O agente pode atravessar a barreira hematoencefálica por via: • Hematogênica – ultrapassa barreira por ligação com receptores endoteliais, lesão endotelial ou áreas suscetíveis como o plexo coroide • Acesso direto – TCE, defeito congênito ou iatrogênica (punção lombar inadequada) • Contiguidade – otite, mastoides ou sinusites • Derivações liquóricas - A meningite bacteriana espontânea tem como evento inicial a colonização das vias aéreas superiores por germes patogênicos → como meningococo, pneumococo e hemófilo tipo B - Invasão do epitélio pelo agente → disseminação pela corrente sanguínea - Microrganismos alcançam plexo coroide → invade espaço subaracnoide → multiplica no líquor - O líquor, por apresentar poucas imunoglobulinas e complemento, é um sítio favorável - A lise de bactérias + elementos da parede → produção de citocinas inflamatórias (TNF-a e IL-1) - Essa reação imune do hospedeiro causa: • Alteração da permeabilidade da barreia hematoencefálica → edema cerebral • Permite extravasamento de proteínas e leucócitos pro líquor → exsudato - Esse exsudato pode bloquear reabsorção podendo levar a hidrocefalia • Perda da capacidade de autorregulação cerebrovascular - Fundamental para preservar perfusão cerebral quando alteração da PA - Se ocorrer hipofluxo cerebral → pode levar a alterações isquêmicas - Se aumento excessivo → piora do edema cerebral • Processo inflamatório pode acometer vasos sanguíneos por contiguidade (vasculite) ocasionando trombose e AVC isquêmica ou favorecendo processo infeccioso para o cérebro, podendo levar a abcessos cerebrais • Além disso, a migração de leucócitos resulta em degranulação e liberação de metabólitos tóxicos que geram edema citotóxico, crises epilépticas e até mesmo acidente vascular. - A consequência desses eventos é o aumento da pressão intracraniana e até mesmo coma. . Victoria Chagas 5 CLÍNICA - Três síndromes concomitantes caracterizam a apresentação clínica das meningites bacterianas, - Tríade suspeita: FEBRE, IRRITAÇÃO MENÍNGEA E CEFALEIA: ➢ SÍNDROME TOXÊMICA • Queda do estar geral • Febre alta • Prostração • Eventualmente uma agitação psicomotora • Sinal de faget (muita febre pra pouca taquicardia) • Nas meningocócicas, 40-60% cursam com petéquias e equimose (rash cutâneo) ➢ SÍNDROME DE HIPERTENSÃO INTRACRANIANA • Cefaleia intensa • Náuseas e vômitos • Convulsões em 30-40% • Fotofobia • Pode haver confusão mental ➢ SÍNDROME DE IRRITAÇÃO MENÍNGEA • Rigidez de nuca • Sinal de Kernig • Sinal de Brudzinski • Sinal de Laségue ** Em neonatos ou crianças pequenas, sintomas podem estar ausentes em até 50% dos casos, manifestando choro intenso e persistente, agitação, febre, convulsões, abaulamento de fontanela, grito meníngeo e recusa alimentar. ** Em idosos a febre e convulsões são os sinais inicias *** Meningococcemia → a infecção por meningococo pode levar a esse quadro também, sendo que 15-20% possuem evolução rápida e muitas vezes fulminante devido a septicemia meningocócica, apresentando: prostração intensa, palidez, sinais de toxemia, exantema e/ou petéquias, sulfusões hemorrágicas, hipotensão, rebaixamento do sensório, associados ou não a quadro de meningite, com risco de evolução para choque, CIVD e óbito, compondo a Síndrome de Waterhouse-Friderichsen. Victoria Chagas 6 DIAGNÓS TICO - Se suspeita: precaução gotículas e isolamento do paciente (máscara para todos em contato) - Diagnóstico CLÍNICO + análise do LCR (confirmatório) - Entretanto, não se deve atrasar o tratamento se não tiver possibilidade de fazer a punção ➢ PUNÇÃO LOMBAR - Há algumas indicações de TC antes (tabela) - Fazer fundoscopia pode ajudar a ver papiledema - Contraindicação absoluta → presença de infecção no local da punção (piodermite) - Contraindicação relativa → coagulopatias (<50 mil ↑risco), abcessocerebral, trombocitopenias - Complicações → dor, infecção, hemorragia, lesões estruturais, cefaleia - ESTUDO DO LÍQUOR: • Exame microbiológico → Bacterioscopia com Gram e cultura • Pressão de abertura → a pressão normal é 18mmHg, estando > na meningite bacteriana • Coloração → turvo e de aspecto purulento (o normal é ser límpido e incolor) • Contagem de células → >500 células/mm3 com predomínio de neutrófilos (>70%) • Bioquímica → glicose diminuída, proteínas aumentadas - Eritrócitos geralmente ausentes, apenas se punção traumática • Pesquisa de antígenos bacterianos → aglutinação por látex • PCR → detecta o DNA bacteriana → pouco disponível • VDRL pode ser solicitado ➢ HEMOCULTURAS E BIÓPSIAS DE LESÕES CUTÂNEAS o Hemocultura → meningite associada à meningococcemia as hemoculturas costumam ser + o Se tiver lesão cutânea (rash) fazer biópsia → costuma revelar o micro-organismo ➢ OUTROS o Glicemia sanguínea para comparar com a glicemia do líquor (normal é ser 2/3 da sanguínea) o Neuroimagem → solicitado em algum momento da evolução do paciente, podendo evidenciar áreas de edema ou isquemia TRATA MENTO ➢ MEDIDAS INICIAIS - Hospitalização imediata dos casos suspeitos - Isolamento respiratório por 24 hrs (meningococo ou haemophilus) → quarto privativo, máscara cirúrgica para profissionais/visitantes, transporte mínimo no hospital com máscara no paciente. - Notificação compulsória - Iniciar tratamento o mais rápido possível com ATB - Coleta de amostras para exames Victoria Chagas 7 TRATA MENTO ➢ ANTIBIOTICOTERAPIA - Deve ser tratada empiricamente conforme suspeita o mais precoce possível → objetivo de início em até 60 minutos da chegada no pronto-socorro → ↓ morbidade • Adultos – Ceftriaxone – 2 g de 12 em 12 horas por 7 dias • Criança – Ampicilina (400 mg/kg/dia de 6 em 6 horas) + cefotaxima (300 mg/kg/dia de 6 em 6 horas) OU ceftriaxone (100 mg/kg/dia podendo ser dose única ou em 2x) - Ministrada por IV por 7-14 dias ou mais dependendo da evolução clínica - Deve ser ajustada de acordo com resultados dos testes de cultura - Geralmente resposta costuma ser rápida → melhora nas primeiras 6 hrs da febre e confusão mental. Já a irritação meníngea demora de 3-5 dias. - Quando há febre de evolução prolongada, pensar em complicações da meningite. - Casos suspeitos ou confirmados de meningite por meningococo ou Haemophilus devem permanecer em precaução respiratória contra gotículas (isolamento) durante primeiras 24h de ATB ➢ GLICOCORTICOIDE - Reduzir a inflamação do SNC e diminuir sequelas - Tem benefício demonstrado na literatura para pneumococo e haemophilus - Iniciar entre 15-30 minutos antes do ATB ou junto com 1ª dose • Dexametasona 10 mg IV 6/6hrs por 4 dias ** Se usar vancomicina para pneumococo resistente a penicilina, deve se acrescentar rifampicina ao esquema de ATB pois o glicocorticoide diminui penetração da vancomicina no SNC. Victoria Chagas 8 TRATA MENTO ➢ OUTROS - Elevar cabeceira da cama - Hidratação com solução isosmolar (evita hiper-hidratação que piora edema) - Ventilação mecânica → presença de coma ou arritmias respiratórias. ▪ Manitol → diurese osmótica - melhora o edema cerebral em pacientes com HIC ▪ Diazepam → para convulsões e hidantoína e fenobarbital para controle ** Sequelas neurológicas, incluindo surdez, deficiência mental, espasticidade e/ou paresia e convulsões ocorrem em 15 a 25 % dos sobreviventes → Crianças devem ser submetidas a avaliação auditiva no momento da ou logo após a alta. ** Uma nova punção lombar após 72h de tratamento é classicamente indicada para avaliar a evolução das alterações inflamatórias do líquor, bem como para demonstrar a esterilização do mesmo ➢ QUIMIOPROFILAXIA - A quimioprofilaxia somente está indicada para contatos próximos de casos suspeitos de meningococo (Neisseria meningitidis) e Haemophilus influenzae (se paciente <4 anos sem vacina ou com imunossupressão) - Os profissionais de saúde devem ser tratados apenas se contato com secreções, como na intubação, reanimação boca-a-boca ou LCR. • Rifampicina – de 12 em 12 por 2 dias • Ceftriaxone e ciprofloxacino - dose única – mais fácil ** Vacinação → a principal prevenção (usadas na rotina para imunização de crianças <2 anos) MENINGITE VIRAL O QUE É? - As meningites virais são entidades comuns e ocorrem em crianças >1 ano, adolescentes e adultos jovens. - Os vírus mais comumente envolvidos são os da caxumba, o Epstein-Baar, acompanhando uma síndrome de mononucleose infecciosa, enterovírus, CMV e o HIV. - Causa mais comum de meningite asséptica - Comumente ocorre em surtos EPIDEMIO - Virais no geral ocorre mais em <5 anos - A meningite por herpes vírus costuma afetar indivíduos 20-50 anos - Incidência se eleva no outono e primavera Victoria Chagas 9 ETIOFISIO PATOLO GIA - Os enterovírus representam 80-85% dos casos - Arbovírus são comuns no Brasil, geralmente em imunocomprometidos – dengue + déficit neurológico - Nas meningites virais, os vírus atingem o SNC por via hematogênica (enterovírus) ou neuronal (HSV). • ENTEROVÍRUS - No caso dos enterovírus, ao passarem pelo estômago, são capazes de resistir ao pH ácido e prosseguem para o trato gastrointestinal inferior. - Após os enterovírus se ligarem a receptores dos enterócitos, replicam em uma célula suscetível, progridem para a placa de Payer (onde ocorre replicação mais intensa) e então atingem SNC - Acredita-se que os enterovírus atinjam o SNC através de junções íntimas endoteliais e posteriormente alcance o plexo coroide e o líquor. • HÉRPES VIRUS (HSV) - A infecção causada pelo HSV (vírus herpes simples) atinge o SNC pela via neuronal, através do nervo trigêmeo e olfatório; ou ainda nos casos de meningite asséptica, o vírus se dissemina após uma lesão genital primária, ascendendo pelas raízes sacrais até a meninge. - O vírus pode ainda ficar latente nas raízes nervosas do trigêmeo e olfatório reativando anos depois, causando encefalite ou quadros de meningite asséptica. CLÍNICA - Quadro clínico semelhante as outras meningites (febre, cefaleia, rigidez de nuca) - Em casos de enteroviroses, quadro com início agudo e manifestações do TGI: • Náuseas e vômitos • Diarreia • Tosse e faringite • Mialgia • Rash maculopapular – erupção cutânea - No exame físico - sinais de irritação meníngea (podem ser mais leves) - Em geral, cursa com bom prognóstico e a recuperação do paciente é completa. - Tende a ser autolimitada, a duração do quadro é geralmente inferior a uma semana. - Como o parênquima cerebral é geralmente poupado, não ocorre manifestações neurológicas como delirium, confusões, convulsões e déficits neurológicos focais – pensar em encefalites e dxx DIAGNÓS TICO - O diagnóstico etiológico é feito com: • Cultura do líquor – de rotina • Sorologia pareada (com intervalo de 10 a 14 dias entre as amostras de sangue colhidas), • Coprocultura para vírus (suspeita de enteroviroses) • Cultura de secreções da nasofaringe (até três dias de início da doença) TRATA MENTO - Na maioria das vezes é de suporte → remédios sintomáticos - Não é de notificação compulsória- O isolamento respiratório deve ser feito em casos de meningite pelo vírus da caxumba enquanto durar o aumento das parótidas ou até nove dias a partir do início de doença. - Em caso de suspeita de Herpes, CMV e ECV pode usar Aciclovir EV (antiviral) – a cada 8 horas por 14-21 dias (depende do quadro do paciente) Victoria Chagas 10 MENINGITES POR OUTRAS ETIOLOGIAS NEUROTOXOPLASMOSE O QUE É? - É uma manifestação grave da toxoplasmose provocada pelo protozoário Toxoplasma gondii - A neurotoxoplasmose é a infecção mais comum do sistema nervoso central (SNC) em pacientes com HIV positivo que não estão recebendo profilaxia adequada. - Transmissão → oral e congênita → ingestão de carne crua/malcozida, fezes de gatos, vertical CLÍNICA - Varia de acordo com topografia das lesões cerebrais - Habitualmente possui curso subagudo, com duração de 2 a 3 semanas - A forma congênita da doença é responsável por lesões cerebrais em recém nascidos e pode cursar com → coriorretinite, hidrocefalia/microcefalia, calcificações e retardo do desenvolvimento - Em pacientes imunossuprimidos com a doença adquirida pode ter sinais neurológicos como: • Cefaleias – 50 a 55% • Alterações sensoriais – 50 a 90% • Hemiparesia e outros sinais focais como ataxia e lentificação motora – 60% • Confusão mental – 50% • Febre – 47% • Sinais meníngeos – 10% • Convulsões – 30% - A manifestação no serviço de emergência mais comum é de déficit motor focal, em geral hemiparesia ou hemi-hipostesia, associado à confusão mental, que se instala no decorrer de alguns dias, ou ainda de forma súbita, com cefaleia, febre e ataxia. DIAGNÓS TICO - Necessária a concomitância de uma clínica compatível + exames de imagem - O diagnóstico definitivo requer biópsia cerebral, mas na maioria dos casos esta é evitada e apenas diagnóstico presuntivo é realizado. • TC ou RM → mostram lesões nodulares que podem ser únicas ou múltiplas, ovaladas, predominantemente profundas. - Lesões são cercadas por um halo de edema acentuado, que pode ser evidenciado no contraste → captação formando imagens com reforço anelar de 1 a 2 cm de tamanho com sinais de sangramento intralesional, e são associados a edema significativo - RM é mais sensível, mas deve ser feita só se TC for inconclusiva. • PCR/sorologia→ A reação em cadeia da polimerase (PCR) para toxoplasma gondii tem alta especificidade – chegando a 96% –, porém tem baixa sensibilidade (50-90%) e resultado pode demorar alguns dias. • LCR → líquor não é coletado de rotina, sendo normal em 20-30% dos casos - O diagnóstico presumido de neurotoxoplasmose pode ser realizado em paciente com AIDS (com contagem de linfócitos CD4 <100 cells/mm3), desde que sejam observados os três critérios: • Sorologia positiva para toxoplasma gondii (anticorpos IgG); • Não realização de profilaxia para neurotoxoplasmose; • Presença de imagem típica com realce anelar do contraste. - Se esses três critérios estão presentes, a chance de o diagnóstico ser neurotoxoplasmose é de 90%. Victoria Chagas 11 TRATA MENTO - O tratamento da neurotoxoplasmose deve ser iniciado de forma empírica em todos os pacientes, exceto nos seguintes casos: lesões grandes que precisam de descompressão externa e biópsia; lesões sugestivas de linfoma na TC lesão única e sorologia negativa para toxoplasma gondii. - A terapia é realizada com sulfadiazina + pirimetamina + ácido fólico por pelo menos 6 semanas • Sulfadiazina (100mg/kg de peso/dia, 4-6g) dividida em 4 doses • Pirimetamina (dose de ataque de 100-200mg no 1º dia; manutenção de 50-75mg/dia) • Ácido folínico (10-15mg/dia). - Após esse tratamento a profilaxia secundária é indicada em doses menores das mesmas medicações → obrigatória, já que a taxa de recorrência, sem ela, é de 60% e, com uso de profilaxia secundária, de 20%. - A profilaxia 2ª pode ser descontinuada em pacientes assintomáticos que tenham concluído o tratamento inicial e que mantenham uma contagem de células CD4> 200 por pelo menos 3 meses. - Nova imagem deve ser solicitada após 2 semanas do início do tratamento ou antes caso paciente apresente pior clínica. - Em pacientes que não apresentam melhora clínica ou radiológica após 10º a 14º dia do início da terapia, deve ser levantada a hipótese de diagnóstico alternativo e a biópsia cerebral deve ser considerada. NEUROCRIPTOCOCOSE O QUE É? - Definida como infecção do sistema nervoso central causada pelo fungo encapsulado Cryptococcus neoformans, a neurocriptococose é uma entidade clínica comum em pacientes com AIDS ou pacientes com algum grau de imunossupressão. - Em pacientes imunocompetentes é considerada rara EPIDEMIO E PATO LOGIA - A criptococose é a causa mais frequente de meningite oportunista na AIDS. - Doença causada pelo fungo Cryptococcus spp → fungo saprófito encontrado no solo, em frutas secas e cereais e nas árvores, é isolado nos excrementos de aves, principalmente pombos. - Tal levedura apresenta tropismo para o sistema nervoso central em decorrência, principalmente, da imunidade ineficaz, sendo a meningoencefalite sua forma mais comum de apresentação. - Os casos de meningite não tratados evoluem a óbito em semanas a meses. - A alta morbidade, sobretudo, ocorre nos pacientes com contagem de células TCD4 menor que 100/mL, vista em pacientes HIV positivo. - Geralmente afeta primariamente os pulmões com período de incubação de 6 meses, podendo disseminar por meio da via hematogênica para o SNC, pele e olhos. - A micose abrange duas entidades: o Criptococose oportunista – em imunossuprimidos causada principalmente C. neoformans o Criptococose 1ª de hospedeiro aparentemente imunocompetente, endêmica em área tropicais e subtropicais, predominantemente por C. neoformans gatti CLÍNICA - Pode manifestar-se com uma meningite subaguda ou crônica (mais longa), caracterizada por: • Febre • Dor no peito • Rigidez de nuca • Cefaleia • Náuseas e vômitos • Confusão mental e rebaixamento do nível de consciência • Alterações de visão. - Outros sinais neurológicos: ataxia, alteração do sensório e afasia. - Pode ocorrer evolução para torpor ou coma. - Além disso, o impacto sistêmico é frequente, podendo haver envolvimento pulmonar (consolidação lobar, infiltrados nodulares ou intersticiais) e cutâneo (pápulas umbilicadas semelhantes às lesões de molusco contagioso). Victoria Chagas 12 DIAGNÓS TICO - Suspeitar em paciente imunocomprometidos como AIDS, transplantados e neoplasias • LCR - A punção lombar dever ser realizada se suspeita (caso não tenha contraindicações) - Recomenda-se a realização de teste de aglutinação com látex ou, quando disponível, ensaio de fluxo lateral (LFA) no líquor (sensibilidade superior a 98%, especificidade superior a 99%) - A tinta da China também confirma a doença, mas apresenta sensibilidade ao redor de 80% - A cultura do líquor confirma o diagnóstico, mas demora cerca de 7 dias - A HIC não controlada é responsável pela maioria das mortes por meningite ou meningoencefalite criptocócica nas 2 primeiras semanas após tratamento → pressão liquórica sempre avaliada • Outros: - Os exames de neuroimagem podem evidenciar em alguns casos lesões expansivas (criptococoma), infartos corticais e lacunares, hidrocefalia, cerebrite e/ou meningite, edema difuso e pseudocistos gelatinosos → geralmente menos específicos TRATA MENTO - O tratamento é dividido em três fases: indução, consolidação e manutenção. • Indução (pelo menos 2 semanas) - AnfotericinaB 0,7mg a 1mg/kg/dia + flucitosina 100mg/kg/dia dividida em 4 tomadas diárias. - Na ausência de flucitosina, pode ser usado fluconazol 800mg/dia dividido em 2 tomadas diárias - O término da fase de indução e início da consolidação é recomendado somente quando o paciente apresentar cultura para fungos negativa LCR após 2ª semana e/ou melhora clínica. • Consolidação (pelo menos 8 semanas) → Fluconazol 400mg a 800mg/dia • Manutenção (pelo menos 12 meses) → Fluconazol 200mg/dia. - Cabe ressaltar que os pacientes portadores de condições de imunossupressão deverão ser submetidos à fase de manutenção do tratamento por 12 a 24 meses - Em AIDS - 12 meses e 2 contagens de LT-CD4+ superiores a 200 céls/mm³ com intervalo de 6 meses Victoria Chagas 13 NEUROTUBERCULOSE O QUE É? - Tuberculose do sistema nervoso central (TBSNC) ou neurotuberculose é uma grave infecção bacteriana causada pelo Mycobacterium tuberculosis que geralmente atinge as meninges, porém também pode afetar o cérebro ou a medula espinhal. - É muito difícil de diagnosticar sendo difícil de prevenir e tratar, apresentando alta mortalidade. - A meningite tuberculosa evolui lentamente em semanas ou meses EPIDEMIO - A TBSNC é uma forma grave e incapacitante da tuberculose que representa cerca de 6,3% (entre 5 a 10%) dos casos de tuberculose fora dos pulmões. - É mais comum entre crianças e imunossuprimidos (como no HIV) - O envolvimento do sistema nervoso central (SNC) na tuberculose é mais frequente em crianças com idade entre seis meses e seis anos, contudo, pode ocorrer em qualquer idade. ETIOFISIO PATOLO GIA - Geralmente é consequência de uma tuberculose pulmonar que se espalhou para outros órgãos, mas pode ocorrer de forma isolada. - A Mycobacterium tuberculosis é um bacilo aeróbico, imóvel, não formador de esporos, resistente a ácidos que infecta primariamente a humanos, capaz de cruzar a barreira hematoencefálica - É capaz de entrar e se replicar dentro de macrófagos e outras células fagocitária CLÍNICA - É um quadro mais arrastado – insidioso, subagudo ou crônico - Os sintomas típicos envolvem: • Febre e sudorese vespertina (geralmente mais baixa) • Dor de cabeça/cefaleia • Meningismo (torcicolo) • Alteração progressiva do nível de consciência e comprometimento dos pares cranianos • Convulsões podem ocorrer • Hidrocefalia é uma complicação frequente na meningite tuberculosa - A esses sintomas somam-se os de tuberculoses em outras partes, como tosse com muco e sangue, dor torácica, suor noturno, perda de peso, fraqueza e náusea quando atingem pulmões - Os casos clássicos se caracterizam por enfermidade febril subaguda dividida em três fases: • Estágio l → dura de uma a duas semanas, com sinais inespecíficos como mal-estar, dor de cabeça, astenia, febre e alterações de personalidade. Paciente pode estar lúcido. • Estágio ll → achados neurológicos mais evidentes, como meningismo, cefaleia contínua, vômitos, letargia, confusão, paresias, plegias, estrabismo, ptose e HIC. • Estágio lll → enfermidade evolui rapidamente de forma paralisante, com letargia, coma, convulsões e frequente paralisia de metade do corpo. - A tendência é de os pacientes morrerem 5 a 8 semanas depois de terem começado os sintomas. DIAGNÓS TICO - O diagnóstico é muito difícil porque os bacilos demoram de uma a duas semanas para crescerem em cultura típica → geralmente quando já existem seríssimas sequelas - O diagnóstico é realizado pelo líquor e pode mostrar celularidade aumentada (variar de 5 a 2.000 cél/µL), proteinorraquia elevada (40% dos casos pode chegar a 500 mg/dL), embora raramente possa ser normal, glicose diminuída (4 a 40 mg/dL – hipoglicorraquia) e aumento de lactato -A pesquisa de BAAR raramente é positiva (sensibilidade de 5%30%) - A cultura permite o diagnóstico definitivo, entretanto demora de 30 a 120 dias https://pt.wikipedia.org/wiki/Meningismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Torcicolo Victoria Chagas 14 TRATA MENTO - O tratamento padrão envolve um 2 meses de terapia indutiva antibiótica inicial, incluindo isoniazida, rifampicina, pirazinamida e etambutol (RIPE) - É seguido de 7 a 10 meses adicionais de isoniazida e rifampicina (RI) como manutenção - No primeiro estágio é útil uso de dexametasona durante as primeiras 6 a 8 semanas. - Complicações como hidrocefalia, tuberculomas e abcessos podem exigir neurocirurgia. Prognóstico → A taxa de mortalidade é de 18% quando o diagnóstico e tratamento começam na fase I, 34% na fase II e 72% na fase III. O prognóstico é pior quando quatro ou mais sintomas apareceram 4 ou mais semanas antes do tratamento (80% de mortalidade). ** Pode ser prevenida por 10 anos com vacina bacilo Calmette Guerin (BCG) - 85% de eficiência. https://pt.wikipedia.org/wiki/Isoniazida https://pt.wikipedia.org/wiki/Rifampicina https://pt.wikipedia.org/wiki/Pirazinamida https://pt.wikipedia.org/wiki/Etambutol https://pt.wikipedia.org/wiki/Isoniazida https://pt.wikipedia.org/wiki/Rifampicina https://pt.wikipedia.org/wiki/Dexametasona https://pt.wikipedia.org/wiki/Mortalidade
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