Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Victoria Chagas 1 MENINGITES BACTERIANA E VIRAL Victoria Chagas 2 MENINGITES BACTERIANA DEFINIÇÃO - Infecção purulenta das meninges e do espaço subaracnoide. Esta condição está relacionada a uma intensa reação inflamatória no sistema nervoso central, que se manifesta como rebaixamento do nível de consciência, convulsões, aumento da Pressão Intracraniana (PIC) e eventos isquêmicos. - Pelo frequente envolvimento do parênquima cerebral, o termo mais adequado para esta grave infecção seria meningoencefalite. - Diagnóstico precoce e terapia reduz morbidade e sequelas irreversíveis - Está dentro das doenças de Notificação compulsória EPIDEMIO - Crianças de 1 mês a 5 anos são responsáveis por 90% dos casos - Porém, pode se apresentar em qualquer idade - Mortalidade em 18-20% dos casos, chegando a 50% nos casos de meningococcemia (disseminação do patógeno pelo sangue) FISIOPATO E ETIOLOGIA • ETIOLOGIA - N. meningitidis (meningococo) e S.pneumoniae (pneumococo) responsáveis por 80% dos casos - Outros: H. influenzae, M. tuberculosis, Streptococcus sp. grupo B, Streptococcus agalactie, Listeria monocytogenes, S. aureus, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter sp. - A transmissão ocorre através do contato com secreções respiratórias do portador do agente, havendo necessidade de contato íntimo. - Período de incubação de 2 a 10 dias - O agente pode ainda atravessar a barreira hematoencefálica por: o Acesso direto (fraturas de crânio ou defeito congênito ou iatrogênica (punção lombar inadequada) o Contiguidade (otite, mostoides ou sinusites) o Hematogênica (ultrapassa barreira por ligação com receptores endoteliais, lesão endotelial ou áreas suscetíveis como o plexo coroide) o Derivações liquóricas • FISIOPATOLOGIA - Evento inicial é a colonização das vias aéreas superiores por patógenos ou pode ocorrer invasão do epitélio pelo agente e posterior disseminação. - A reação imune (inflamação intensa das meninges) a bactéria é responsável pelas manifestações neurológicas e complicações. - As citocinas aumentam a permeabilidade capilar, alterando a barreira hematoencefálica → permite edema cerebral do tipo vasogênico e o extravasamento de proteínas e leucócitos para o líquor → formação de exsudato espesso que pode bloquear a reabsorção de líquidos que pode levar a hidrocefalia e edema cerebral do tipo intersticial. - Perda de autorregulação cerebral → responsável pela perfusão adequada em casos de HAS - Pode acometer vasos ocasionando trombose e infarto cerebral isquêmico (edema tipo citotóxico) ou favorece a disseminação para cérebro, podendo aparecer abcessos. Victoria Chagas 3 CLÍNICA - Três síndromes concomitantes caracterizam a apresentação clínica das meningites bacterianas, sendo suspeita a tríade febre, irritação meníngea e cefaleia: ➢ SÍNDROME TOXÊMICA • Febre alta • Mal estar geral • Prostração • Eventualmente uma agitação psicomotora • Sinal de faget (muita febre pra pouca taquicardia) é comum • Nas meningocócicas, 40-60% cursam com petéquias e equimose (rash cutâneo) ➢ SÍNDROME DE HIPERTENSÃO INTRACRANIANA • Cefaleia intensa • Náuseas e vômitos • Fotofobia • Pode haver confusão mental • Convulsões em 30-40% ➢ SÍNDROME DE IRRITAÇÃO MENÍNGEA → ** Em neonatos ou crianças pequenas, sintomas podem estar ausentes em até 50% dos casos, manifestando com: choro intenso e persistente, agitação, febre, convulsões, abaulamento de fontanela, grito meníngeo e recusa alimentar. *** Meningococcemia → a infecção por meningococo pode levar a esse quadro também, sendo que 15-20% possuem evolução rápida e muitas vezes fulminante devido a septicemia meningocócica, apresentando: prostração intensa, palidez, sinais de toxemia, exantema e/ou petéquias, sufusões hemorrágicas, hipotensão, rebaixamento do sensório, associados ou não a quadro de meningite, com risco de evolução para choque, CIVD e óbito, compondo a Síndrome de Waterhouse-Friderichsen. Victoria Chagas 4 DIAGNÓSTI CO - Se suspeita: precaução gotículas (uso de máscara) e LCR se possível ➢ PUNÇÃO LOMBAR – RAQUICENTESE - Há algumas indicações de TC antes (tabela) - Contraindicação absoluta → presença de infecção no local da punção (piodermite) - ESTUDO DO LÍQUOR: • Pressão de abertura → medida em decúbito lateral, sendo >18mmHg em 90% dos casos • Coloração → turvo e de aspecto purulento (o normal é ser límpido e incolor) • Contagem de células → >500 células/mm3 com predomínio de neutrófilos (normalmente é 4 com predomínio de linfócitos e monócitos) • Bioquímica → Dosagem de glicose, proteínas, ureia, etc • Pesquisa de antígenos bacterianos → aglutinação por látex • Exame microbiológico → Bacterioscopia com Gram e cultura ➢ HEMOCULTURAS E BIÓPSIAS DE LESÕES CUTÂNEAS - Em casos de meningite associada à meningococcemia, as hemoculturas costumam ser positivas e a biópsia de lesões petequeais costuma revelar o micro-organismo, inclusive de forma rápida pelo método de Gram. ➢ NEUROIMAGEM - Evidenciam áreas de edema ou isquemia TRATAMEN TO ➢ MEDIDAS INICIAIS - Hospitalização imediata dos casos suspeitos - Isolamento respiratório por 24 hrs (meningococo ou haemophilus) → quarto privativo, máscara cirúrgica para profissionais/visitantes, transporte mínimo no hospital com máscara no paciente. - Coleta de amostras para exames - Hidratação com solução isosmolar (evitando hiper-hidratação que vai piorar o edema) - Notificação a secretaria de saúde ➢ ANTIBIOTICOTERAPIA - Deve ser tratada empiricamente conforme suspeita o mais precoce possível → ↓ morbidade - Ministrada por IV por 7-14 dias ou mais dependendo da evolução clínica - Deve ser ajustada de acordo com resultados dos testes de sensibilidade - Geralmente resposta costuma ser rápida, havendo melhora nas primeiras 6 hrs da febre e confusão mental. Já a irritação meníngea demora de 3-5 dias. - Quando há febre de evolução prolongada, pensar em complicações da meningite. Victoria Chagas 5 TRATAMEN TO ➢ GLICOCORTICOIDE - Reduzir a inflamação do SNC e diminuir sequelas - Tem benefício demonstrado na literatura para pneumococo e haemophilus - Iniciar entre 15-30 minutos antes do ATB ou junto com 1ª dose (após 6 hrs do ATB é inútil) • Dexametasona 10 mg IV 6/6hrs por 4 dias ** Se usar para pneumococo resistente a penicilina, deve se acrescentar rifampicina ao esquema de ATB pois o glicocorticoide diminui penetração da vancomicina no SNC. ➢ OUTROS - Quimioprofilaxia contactantes para quem teve contato íntimo em até 7-10 dias de contato → haemofilus por 4 dias, meningococo por 2 dias → rifampicina, ceftriaxone e ciprofloxacino. - Elevar cabeceira da cama - Manitol → diurese osmótica melhorando o edema cerebral em hipertensão intracraniana - Diazepam → para convulsões e hidantoína e fenobarbital para controle - Ventilação mecânica → presença de coma ou arritmias respiratórias. ** Vacinação → a principal prevenção (usadas na rotina para imunização de crianças <2 anos) *** Complicações possíveis: coma, choque séptico, comprometimento de pares cranianos,secreção inapropriada de ADH, empiema subdural, ventriculite, hidrocefalia e sequelas (cegueira, surdez, epilepsia, hemiplegia, retardo psicomotor e déficit intelectual. Victoria Chagas 6 VIRAL DEFINIÇÃO E EPIDEMIO - As meningites virais são entidades comuns e ocorrem em crianças maiores do que um ano, adolescentes e adultos jovens. - Os vírus mais comumente envolvidos são os da caxumba, o Epstein-Baar, acompanhando uma síndrome de mononucleose infecciosa, enterovírus, CMV e o HIV. - No lactente, a presença de meningite com o líquor claro nos faz sempre pensar em comprometimento sifilítico. - No adulto jovem e sexualmente ativo, a pesquisa de HIV é mandatória. - Causa mais comum de meningite asséptica - Comumente ocorre em surtos FISIOPATO E ETIOLOGIA - Nas meningites virais, os vírus atingem o SNC por via hematogênica (enterovírus) ou neuronal (HSV). - No caso dos enterovírus, ao passarem pelo estômago, são capazes de resistir ao pH ácido e prosseguem para o trato gastrointestinal inferior. - Outros vírus se replicam na nasofaringe e se disseminam em linfonodos locais. - Após os enterovírus se ligarem a receptores dos enterócitos, eles se replicam em uma célula suscetível, progridem para a placa de Payer (onde ocorre replicação mais intensa) e então uma viremia atinge coração, SNC, fígado, sistema reticuloendotelial. Acredita-se que os enterovírus atinjam o SNC através de junções íntimas endoteliais e posteriormente alcance o plexo coroide e o líquor. - A infecção causada pelo HSV (vírus herpes simples) atinge o SNC pela via neuronal, através do nervo trigêmeo e olfatório; ou ainda nos casos de meningite asséptica, o vírus se dissemina após uma lesão genital primária, ascendendo pelas raízes sacrais até a meninge. - O vírus pode ainda ficar latente nas raízes nervosas do trigêmeo e olfatório, reativando anos depois, causando encefalite ou quadros de meningite asséptica. CLÍNICA - Quadro clínico semelhante as outras meningites (febre, cefaleia, rigidez de nuca) - Em casos de enteroviroses, quadro com início agudo com: • Náuseas e vômitos • Diarreia (manifestações do TGI) • Tosse e faringite • Mialgia • Rash maculopapular – erupção cutânea - No exame físico observa-se – Bom estado geral associado aos sinais de irritação meníngea. - Em geral, cursa com bom prognóstico e a recuperação do paciente é completa. Tende a ser autolimitada, a duração do quadro é geralmente inferior a uma semana. DIAGNÓSTI CO - O diagnóstico etiológico é feito com cultura do líquor, sorologia pareada, com intervalo de 10 a 14 dias entre as amostras de sangue colhidas, coprocultura para vírus (na suspeita de enteroviroses) e cultura de secreções da nasofaringe (até três dias de início da doença). Victoria Chagas 7 DIAGNÓSTI CO ➢ PUNÇÃO LOMBAR (líquor) TRATAMEN TO - Na maioria das vezes é de suporte, com reposição hidroeletrolítica, remédios sintomáticos e controle das convulsões, quando presentes. - O isolamento respiratório deve ser feito em casos de meningite pelo vírus da caxumba enquanto durar o aumento das parótidas ou até nove dias a partir do início de doença. - Em caso de suspeita de Herpes, CMV e ECV pode usar Aciclovir EV (antiviral)
Compartilhar