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Thaynara Parente- 5° período de Medicina INTRODUÇÃO O diabetes melito (DM) representa um grupo de doenças metabólicas, com etiologias diversas, caracterizado por hiperglicemia, que resulta de uma secreção deficiente de insulina pelas células beta, resistência periférica à ação da insulina ou ambas. Atinge proporções epidêmicas, com estimativa de 425 milhões de pessoas com DM mundialmente. A hiperglicemia persistente está associada a complicações crônicas micro e macrovasculares, aumento de morbidade, redução da qualidade de vida e elevação da taxa de mortalidade. Então, esse metabolismo é ao qual serão submetidas todas as substâncias digeridas e absorvidas por nosso Sistema Digestório e ele é composto por uma série de reações de anabolismo (síntese) e catabolismo (degradação) de macromoléculas, no caso: proteínas, carboidratos e lipídios. E quem faz a regulação desse metabolismo são os hormônios, que nós podemos dividir em 2 grupos: um da insulina e outro dos hormônios contrainsulínicos. A classificação do DM baseia-se em sua etiologia. Os fatores causais dos principais tipos de DM – genéticos, biológicos e ambientais – ainda não são completamente conhecidos. DM tipo 1: - Tipo 1A: deficiência de insulina por destruição autoimune das células β comprovada por exames laboratoriais; - Tipo 1B: deficiência de insulina de natureza idiopática. DM tipo 2: perda progressiva de secreção insulínica combinada com resistência à insulina. DM gestacional: hiperglicemia de graus variados diagnosticada durante a gestação, na ausência de critérios de DM prévio. Outros tipos de DM: - Monogênicos (MODY); - Diabetes neonatal; - Secundário a endocrinopatias; - Secundário a doenças do pâncreas exócrino; - Secundário a infecções; - Secundário a medicamentos. OBS: Diabetes Mellitus tipo III, que envolve o SNC, além da diminuição na produção de insulina, é também observada a resistência dos receptores da insulina, sugerindo que a DA pode ser uma doença neuroendócrina associada à sinalização deste hormônio. O cérebro humano processa uma grande quantidade de carboidratos para produzir energia celular na forma de adenosina trifosfato, o cérebro não possui uma grande flexibilidade em termos de substratos para a produção desta energia, baseando-se quase exclusivamente na utilização de glicose. Esta dependência põe em risco o órgão, caso o fornecimento do substrato seja escasso ou interrompido, ou caso a capacidade de metabolizar a glicose se torne falha: o cérebro se torna incapaz de proteger as sinapses. Nesta situação, as células podem não funcionar corretamente, resultando em alterações cognitivas. A partir deste princípio básico, torna-se evidente uma possível ligação entre o diabetes e a Doença de Alzheimer (DA). Thaynara Parente- 5° período de Medicina FISIOLOGIA A insulina é um hormônio produzido nas células beta das ilhotas pancreáticas e parte da sua produção é liberada constantemente (em níveis basais) na circulação sanguínea, no entanto, sempre que a gente faz uma refeição, a taxa desse hormônio no sangue aumenta muito, formando um pico de insulina (estado pós-prandial). Isso acontece porque a glicose consegue entrar nas células beta do pâncreas através de uma proteína conhecida como GLUT-2 e, daí, estimula a secreção de insulina. Junto a isso, também que se descobriu que toda vez que a gente se alimenta, nosso corpo produz as chamadas incretinas, que são 2 peptídeos gastrointestinais, o GLP-1 (Glucose-Like Peptide 1) e o GIP (Glucose-dependent Insulinotropic Peptide), que são capazes de aumentar a resposta pancreática à glicose, liberando mais insulina. A partir disso daí, o que a insulina faz é se ligar ao seu receptor nas células do corpo e induzir a translocação de vesículas contendo a proteína GLUT4 para a membrana plasmática e o que essa proteína faz é justamente servir de canal para que a glicose adentre na célula. Mas, no final das contas, por que é tão importante a glicose entrar na célula? Por 2 motivos principais: a) é isso que permite a ocorrência da glicólise (principalmente nos hepatócitos e miócitos), que é o processo através da qual esse substrato é utilizado como principal fonte de energia para as atividades celulares; e b) porque é através disso que os hepatócitos conseguem pegar o excesso de glicose e armazená-lo sob a forma de glicogênio (glicogenogênese). Por outro lado, a insulina também estimula que parte desse excedente de glicose passe por um processo conhecido como lipogênese, que consiste em transformá-la em ácido graxo para que esse seja direcionado aos adipócitos, onde serão transformados em triglicérides. Os hormônios contrainsulínicos são 4: GLUCAGON (produção: células alfa do pâncreas); ADRENALINA produção: medula suprarrenal); CORTISOL (produção: córtex suprarrenal); GH (produção: adenohipófise). Lembrando: GLICOGENÓLISE-Quebra das reservas hepáticas de glicogênio em glicose. GLICONEOGÊNESE- Síntese de glicose a partir de molécular não glicídicas. OBS: Caso a liberação de ácidos graxos seja exagerada, o fígado vai utilizar o excesso para produzir corpos cetônicos e isso leva a um quadro de cetoacidose, um tipo de acidose metabólica. FISIOPATOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO Independentemente do nível glicêmico que estiver no sangue, como a célula não está tendo substrato para produzir energia, o corpo entende que a pessoa está em jejum e aí aumenta a atividade dos hormônios contrainsulínicos, estimulando a glicogenólise, a gliconeogênese e a lipólise. DM tipo 1 No Brasil, diabetes tipo 1 corresponde a cerca de 5- 10% dos casos, fazendo com que nós sejamos o 3º país no mundo em prevalência de DM tipo 1. É uma doença autoimune e poligênica, na qual os linfócitos T CD8+ invadem as ilhotas pancreáticas e atacam seletivamente as células beta, destruindo-as levando então, a uma produção insuficiente ou nula de insulina. A base patológica dessa doença parece estar em questões genéticas, uma vez que cerca de 90% dos diabéticos tipo I apresentam alterações nos genes do HLA (Antígeno Leucocitário Humano) - o MHC do homem - podendo ser o HLA-DR3 ou HLA-DR4. Porem nem todos os indivíduos com essas alterações desenvolveram DM, o que sustenta a ideia de que além de fatores genéticos, há também fatores ambientais (ainda não dominados) que influenciam os rumos da doença. A DM tipo 1 ainda pode ser subdividida em A e B, sendo que a diferença entre elas, são: • 1A são detectados autoanticorpos no sangue; • 1B por sua vez, essa detecção não é possível e ela é tida como idiopática. DM tipo 2 É a forma mais comum da doença, correspondendo a cerca de 90-95% dos casos. Mas aí, diferente do que vimos na 1, a DM tipo 2 não é uma doença autoimune, se tratando de um problema de bases genéticas que é precipitado por fatores ambientais e que pode se Thaynara Parente- 5° período de Medicina caracterizar por uma deficiência de secreção ou pela resistência insulínica (principal). Os fatores de risco - especialmente a obesidade visceral (central), uma vez que a gordura abdominal gera citocinas inflamatórias que dificultam a ação da insulina sobre os tecidos. Mas independente disso, a questão toda é que como a insulina não está atuando de forma eficiente, o corpo responde provocando hiperplasia e hipertrofia nas células beta, no intuito de aumentar muito a oferta de insulina e, assim, compensar a sua ineficiência e colocar a glicose para dentro da célula. Em uma fase inicial isso até que dá certo e o paciente consegue manter seu nível glicêmico normal. Contudo, esse estado de hiperprodução acaba levando as células beta a entrarem em exaustão e com o tempo elas vão parando de funcionar - é justamente porisso que nos estágios mais avançados, a DM 2 começa a se assemelhar com a DM 1, afinal elas se igualam no que tange à quantidade de células beta funcionantes. DM Gestacional É aquela que se desenvolve durante o período da gravidez, pois ocorre o desenvolvimento da placenta, que é um órgão capaz de produzir uma série de hormônios com efeito hiperglicemiante. Então, por si só, a gravidez já é uma condição potencialmente diabetogênica e isso, quando se associa com outros fatores de risco, acaba levando à diabetes. • FATORES DE RISCO PARA DM GESTACIONAL: Idade materna avançada Sobrepeso/obesidade História familiar de DM Crescimento fetal excessivo História de abortamento Hipertensão/Eclâmpsia Ovários policísticos Baixa estatura (< 1,5m) Outros tipos de DM Entre as outras causas de DM (menos frequentes) estão os defeitos genéticos, as doenças pancreáticas, infecções, entre outros. Desses, o mais comum é o MODY (Maturity- -Onset Diabetes of the Young), que consiste em uma doença genética de herança autossômica dominante, mas que não é autoimune. DM MODY altera a produção de alguns fatores que interferem na regulação da glicose e é justamente em cima disso que eles são classificados em 6 grupos: CLASSIFICAÇÃO GENE Mody 1 HNF4A Mody 2 (2º mais comum) GCK Mody 3 (mais comum) HNF1A Mody 4 IPF1 Mody 5 HNF1B Mody 6 NEUROD1 FATORES DE RISCO NÃO MODIFICÁVEIS Não caucasiano/Asiático Idade ≥ 45 anos Parente (1º grau) com DM MODIFICÁVEIS IMC ≥ 25 Obesidade central Sedentarismo OUTRAS DOENÇAS HAS Ovários policísticos Doença cardiovascular HDL < 35 ou TG > 250 RESISTÊNCIA INSULÍNICA ❖ Acantose nigricans Pré-diabetes. A acantose nigricans é uma lesão de pele hiperpigmentada decorrente de hiperinsulinemia e que normalmente aparece nas regiões de dobras (axila, pescoço, virilha, entre outros locais). Thaynara Parente- 5° período de Medicina QUADRO CLINICO DM Tipo I Acaba se manifestando mais cedo, de modo que a grande maioria dos pacientes com essa condição são diagnosticados ainda crianças ou adolescentes (geralmente entre os 10-15 anos). São pacientes magros. Os típicos 4 Ps da diabetes: ✓ Poliúria (aumento do volume urinário); ✓ Polidipsia (aumento da sede); ✓ Polifagia (aumento da fome); ✓ Perda ponderal. ❖ É importante nos atentarmos também de que por vezes o paciente DM 1 vai ter uma destruição grande e rápida das células beta, de modo que 1/3 deles podem iniciar o quadro já com cetoacidose diabética. DM tipo 2 A primeira grande diferença entre a DM 1 e a DM 2 é o estereótipo do paciente. Aqui, cerca de 80% dos pacientes são obesos pois, como vimos, a obesidade está relacionada à resistência insulínica. Mas além disso, como essa condição costuma ocorrer de forma mais progressiva e assintomática, o diagnóstico acaba sendo tardio, por volta dos 45 anos - que é quando o paciente começa a apresentar os sintomas clássicos (4 Ps) e também as complicações (sendo a principal, o estado hiperosmolar não cetótico). COMPLICAÇÕES Uma coisa que a gente precisa ter em mente é que altos níveis glicêmicos acabam comprometendo a estrutura vascular e por isso que é comum ouvir que “Diabetes causa doença de vaso!”. Mas a questão é que é justamente essa lesão vascular crônica que acaba levando a uma série de complicações, que nós podemos classificar em 2 grupos: Microvascular: O diabetes provoca lesão endotelial através do aumento da inflamação na parede vascular através do estresse oxidativo. O processo de forma crônica leva a alterações da vasodilatação e lesões graves como trombose e leitos vasculares incompetentes. • Retinopatia Diabética; • Nefropatia Diabética; • Neuropatia Diabética; • Pé Diabético. Macrovasculares: O processo macrovascular é semelhante ao microvascular, já que a diabetes também gera inflamação endotelial. A inflamação, juntamente com a glicolisação de proteínas e aceleração do processo ateroesclerótico propicia o aceleramento do processo aterotrombótico, gerando a longo prazo obstruções que levam a insuficiência sanguínea e comprometimento do leito vascular. • Doença Arterial Coronariana (DAC); • Doenças Cerebrovasculares; • Arteriopatia Periférica. ❖ OBS: Requer atenção também nos olhos e pés dos pacientes. OLHOS (FUNDOSCOPIA) DM está associada a erroa de refração, catarata, glaucoma e retinopatia diabética. Aumenta em 25x os riscos de perda visual. Parente (1º grau) com DM. PÉS- Inspeção Unhas Infecção fúngica Barotrauma Calos Pulsos- Pedioso dorsal Tibial posterior Sensibilidade Teste do monofilamento +1 Vibração (com diapasão ou biotensiômetro) Reflexo (tornozelo) Dolorosa. DIAGNOSTICO Além da anamnese e fatores de risco, história familiar, para fechar o diagnóstico são necessários exames laboratoriais, são eles: Glicemia de Jejum Paciente ficar em jejum por 8h e depois será colhida uma amostra de seu sangue para avaliar o nível glicêmico. IDEAL < 100mg/dL ; PRÉ-DIABETES 100-125mg/dL ; DIABETES ≥ 126mg/Dl. Thaynara Parente- 5° período de Medicina Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG) É um exame realizado em 3 etapas: • Realização de um glicemia em jejum; • Ingestão oral de 75g de glicose; • Coleta de amostra após 2h para medir glicemia. IDEAL < 140mg/dL ; PRÉ-DIABETES140-199mg/dL; DIABETES ≥ 200mg/dL Hemoglobina Glicada (HbA1c) É um exame com menor sensibilidade, mas que reflete o controle glicêmico do paciente nos últimos 2-4 meses. Pois parte da glicose circulante tende a se associar com a hemoglobina do sangue, tornando-a glicada. Assim, quanto maior for o nível glicêmico, mais desse composto haverá no sangue. E por que 2-4 meses? Porque é o tempo da meia-vida das hemácias! IDEAL < 5,7% PRÉ-DIABETES 5,7-6,4% DIABETES ≥ 6,5% TRATAMENTO Tratamento Não Farmacológico Corresponde a mudança do estilo de vida (MEV). Ele está indicado para todos os pacientes diabéticos ou pré-diabéticos e envolve: a) adequação alimentar através de dietas com baixo nível calórico; b) atividade física (150min/ sem); c) cessação do tabagismo, já que essa prática pode aumentar muitos os riscos DM. Tratamento Farmacológico ✓ Sensibilizadores à Insulina Compondo esse grupo estão 2 classes de drogas que atuam promovendo a diminuição da resistência insulínica: ❖ Biguanidas A única representante dessa classe é a Metformina, que, aliás, é o medicamento mais utilizado inclusive, a Metformina pode ser prescrita para os pré-diabéticos que tenham pelo menos 2 fatores de risco para DM. O principal efeito de todos é sobre o fígado, reduzindo a gliconeogênese hepática, que é a maior responsável pelos altos níveis glicêmicos no paciente diabético. Além disso, em menor escala, ela também retarda a absorção intestinal de carboidratos e aumenta a translocação de GLUT-4 na periferia (especialmente em células musculares), o que diminui a resistência insulínica. No entanto, é importante a gente se atentar de que seu uso é contraindicado quando o paciente apresenta: • Alguma insuficiência (renal, cardíaca…) • Acidose Grave • Gravidez Efeitos Adversos: • Gastrointestinais • Dor abdominal • Diarreia • Empachamento ❖ Glitazonas Também conhecida como Tiazolidinadiona (TZD), essa classe de fármaco tem como principal representante a Poliglitazona, que é a nossa segunda opção de droga quando o paciente tem contraindicação ou não respondeu bem à Metformina. As principais contraindicações para seu uso são: • Insuficiênciacardíaca (NYHA III ou IV) • Insuficiência hepática • Gravidez Efeitos Adversos: • Edema (por isso a contraindicação para IC, Insuficiência cardíaca • Ganho de peso (piora adesão ao tratamento) • Infecção em trato respiratório alto • Sinusite/Faringite. Thaynara Parente- 5° período de Medicina ✓ Secretagogos independentes da glicose ❖ Sulfonilureias Essa classe de drogas, juntamente com a das biguanidas, é uma das mais utilizadas no tratamento de pacientes diabéticos e as suas principais representantes são: 1ª geração Tolbutamida 2ª geração Gliclazida ;Glibenclamida 3ª geração Glimepirida O efeito desses medicamentos é sobre as células beta do pâncreas. Basicamente, o que eles fazem é bloque ar os canais de K+, o que leva a uma despolarização da membrana plasmática e consequente abertura dos canais de Ca+2. O influxo de cálcio, então, favorece a degranulação das vesículas com insulina, liberando o hormônio no meio externo. Quando a gente entende todo esse mecanismo, fica fácil convir de que as sulfonilureias só terão efeito nos pacientes que ainda tiverem células beta preservadas - aqueles em estágio mais avançado não se beneficiam. Como contraindicações, temos: • Insuficiência renal; • Insuficiência hepática; • Gravidez. Efeitos Adversos: • Hipoglicemia (pelo aumento de insulina - inclusive é por isso que devemos ter cuidado ao indicar esses medicamentos para idosos); • Ganho de peso (já que há um aumento do efeito insulínico). ❖ Glinidas Sendo representada principalmente pela Repaglinida e pela Nateglinida, essa classe de medicamentos atua de forma muito semelhante às sulfonilureias. Promovem a secreção de insulina pelo mesmo mecanismo de ação. A diferença entre elas é apenas o tempo de meia vida das drogas, que é bem menor no caso das glinidas. No que tange às contraindicações, tem-se apenas uma: gravidez. Efeitos Adversos: • Hipoglicemia (em me nor intensidade do que nas sulfonilureias) • Ganho de peso ❖ Inibidores de DPP-IV Essa classe é representada principalmente por 3 fármacos: Vildagliptina, Sitagliptina e Saxagliptina e ação deles se baseia em inibir a enzima DPP-IV, cuja função é degradar as incretinas que foram liberadas após a alimentação. ❖ Análogos da GLP-1 Sendo representada pela Exenatida e pela Liraglutida, principalmente, essa classe de medicamentos atua mimetizando uma das incretinas (no caso: o GLP-1) e, assim, estimulando a liberação de insulina. A sua administração deve ser subcutânea - diferente de todas as outras drogas que vimos até aqui (que são orais) - e o seu efeito depende dos níveis de glicose, ou seja: se a glicemia estiver baixa, elas não atuar, o que implica dizer que o risco de hipoglicemia é muito baixa.
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