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– Diabetes Mellitus A diabetes mellitus é um distúrbio de metabolismo intermediário caracterizado por hiperglicemia persistente, decorrente de deficiência na pro- dução de insulina ou na sua ação, ou em ambos os mecanismos. O que é o metabolismo intermediário? esse metabolismo é ao qual serão submetidas todas as substâncias digeridas e absorvidas por nosso Sistema Digestório e ele é composto por uma série de reações de anabolismo (síntese) e catabolismo (degradação) de macromoléculas, no caso: proteínas, carboidratos e lipídios. E quem faz a regulação desse metabolismo são os hormônios, que nós podemos dividir em 2 grupos: um da insulina e outro dos hormônios contrainsulínicos. A Diabetes Mellitus, ou simplesmente DM, é uma das principais doenças da prática médica e a sua prevalência vem aumentando com o tempo, de modo que estima-se que ela acometa mais de 415 milhões de pessoas em todo o mundo. Desses, cerca de 80% se encontra em países ainda em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, onde a estimativa é de que haja mais de 12 milhões de pessoas acometidas. A insulina é um hormônio produzido nas células beta das ilhotas pancreáticas e parte da sua produção é liberada constantemente (em níveis basais) na circulação sanguínea, no entanto, sempre que a gente faz uma refeição, a taxa desse hormônio no sangue aumenta muito, formando um pico de insulina (estado pós-prandial). Isso acontece porque a glicose consegue entrar nas células beta do pâncreas através de uma proteína conhecida como GLUT-2 e, daí, estimula a secreção de insulina. Junto a isso, também que se descobriu que toda vez que a gente se alimenta, nosso corpo produz as chamadas incretinas, que são 2 peptídeos gastrointestinais, o GLP-1 (Glucose-Like Peptide 1) e o GIP (Glucose- dependent Insulinotropic Peptide), que são capazes de aumentar a resposta pancreática à glicose, liberando mais insulina. A partir disso daí, o que a insulina faz é se ligar ao seu receptor nas células do corpo e induzir a translocação de vesículas contendo a proteína GLUT- 4 para a membrana plasmática e o que essa proteína faz é justamente servir de canal para que a glicose adentre na célula. Mas, no final das contas, por que é tão importante a glicose entrar na célula? Por 2 motivos principais: a) é isso que permite a ocorrência da glicólise (principalmente nos hepatócitos e miócitos), que é o processo através da qual esse substrato é utilizado como principal fonte de energia para as atividades celulares; e b) porque é através disso que os hepatócitos conseguem pegar o excesso de glicose e armazená-lo sob a forma de glicogênio (glicogenogênese). Por outro lado, a insulina também estimula que parte desse excedente de glicose passe por um processo conhecido como lipogênese, que con- siste em transformá-la em ácido graxo para que esse seja direcionado aos adipócitos, onde serão transformados em triglicérides. Já os hormônios contrainsulínicos são 4: Desses, o glucagon é o mais relevante no que tange à ação contrainsulínica, que basicamente consiste em se opor à insulina. Ou seja, enquanto a insulina é estimulada pela hiperglicemia a retirar glicose do sangue, o glucagon é estimulado pela hipoglicemia (jejum) a aumentar os níveis de glicose no sangue. Além disso, os hormônios contrainsulínicos também atuam sobre os lipídios estimulando o processo de lipólise, que consiste em quebrar os triglicérides para liberar ácido graxo e esses, então, poderem ser utilizados pelas células como fonte de energia através da beta-oxidação. – A DM é decorrente de um problema na produção ou na ação da insulina. no final das contas tudo vai levar a uma mesma situação: a glicose não vai entrar na célula. Dessa forma, independentemente do nível glicêmico que estiver no sangue, como a célula não está tendo substrato para produzir energia, o corpo entende que a pessoa está em jejum e aí aumenta a atividade dos hormônios contrainsulínicos, estimulando a glicogenólise, a gliconeogênese e a lipólise. Contudo, existem vários mecanismos que podem levar a um quadro como esses e é justamente em cima dessa diferença que a gente consegue clas- sificar a diabetes em vários tipos. A classificação do DM baseia-se em sua etiologia. Os fatores causais dos principais tipos de DM – genéticos, biológicos e ambientais – ainda não são completamente conhecidos. • DIABETES MELLITUS TIPO 1 O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) e uma doença autoimune, poligênica, decorrente de destruição das células β pancreáticas, ocasionando deficiência completa na produção de insulina. Estima-se que mais de 88 mil brasileiros tenham DM1 e que o Brasil ocupe o terceiro lugar em prevalência de DM1 no mundo, segundo a International Diabetes Federation. Embora a prevalência de DM1 esteja aumentando, corresponde a apenas 5 a 10% de todos os casos de DM. E mais frequentemente diagnosticado em crianças, adolescentes e, em alguns casos, em adultos jovens, afetando igualmente homens e mulheres. Subdivide-se em DM tipo 1A e DM tipo 1B, a depender da presença ou da ausência laboratorial de autoanticorpos circulantes, respectivamente. • DIABETES MELLITUS TIPO 2 O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) corresponde a 90 a 95% de todos os casos de DM. Possui etiologia complexa e multifatorial, envolvendo componentes genético e ambiental. Trata-se de doença poligênica, com forte herança familiar, ainda não completamente esclarecida, cuja ocorrência tem contribuição significativa de fatores ambientais. Dentre eles, hábitos dietéticos e inatividade física, que contribuem para a obesidade, destacam-se como os principais fatores de risco. O desenvolvimento e a perpetuação da hiperglicemia ocorrem concomitantemente com hiperglucagonemia, resistência dos tecidos periféricos a ação da insulina, aumento da produção hepática de glicose, disfunção incretinica, aumento de lipólise e consequente aumento de ácidos graxos livres circulantes, aumento da reabsorção renal de glicose e graus variados de deficiência na síntese e na secreção de insulina pela célula β pancreática. Sua fisiopatologia, diferentemente dos marcadores presentes no DM1, não apresenta indicadores específicos da doença. Em pelo menos 80 a 90% dos casos, associa-se ao excesso de peso e a outros componentes da síndrome metabólica. Na maioria das vezes, a doença é assintomática ou oligossintomatica por longo período, sendo o diagnostico realizado por dosagens laboratoriais de rotina ou manifestações das complicações crônicas. Com menor frequência, indivíduos com DM2 apresentam sintomas clássicos de hiperglicemia (poliuria, polidipsia, polifagia e emagrecimento inexplicado). Raramente a cetoacidose diabética consiste na manifestação inicial do DM2. Os consagrados fatores de risco para DM2 são: história familiar da doença, avançar da idade, obesidade, sedentarismo, diagnostico prévio de pré-diabetes ou diabetes mellitus gestacional (DMG) e presença de componentes da síndrome metabólica, tais como hipertensão arterial e dislipidemia. E mandatário para indivíduos com sinais e sintomas coleta de exames para confirmação diagnostica de DM2. Ainda que assintomáticos, a presença de fatores de risco já impõe rastreamento para diagnóstico precoce. – A principal causa de morbimortalidade em indivíduos diabéticos são as doenças ateroscleróticas cardiovasculares, bem como também são as maiores contribuintes pelos custos diretos e indiretos de diabetes. Doenças cardiovasculares (DCV) são responsáveis por até 80% das mortes em portadores de diabetes mellitus tipo 2 (DM2) (doença metabólica multifatorial, definida pelo aumento da taxa de glicose devido à resistência do organismo à insulina ou deficiência da produção desse hormônio pelo pâncreas). Dentre as complicações macrovasculares do DM2, destacam-se a doença arterial coronariana (DAC), a doença cerebrovasculare a doença arterial periférica (DAP). A frequência e magnitude de eventos cardiovasculares decorrentes de DM2 faz com que esta patologia seja considerada um equivalente de DCV5. A DM2 é considerada fator de risco independente para DCV e encontra-se frequentemente associada a outros fatores, tais como sedentarismo, obesidade, hipertensão arterial sistêmica (HAS), histórico familiar de DCV, dislipidemias (DLP), entre outros. É fundamental uma abordagem multidisciplinar para o diagnóstico precoce da ocorrência associada entre diabetes e outras doenças, bem como a implementação de intervenções terapêuticas a fim de reduzir o risco cardiovascular e de elaborar medidas preventivas desse quadro. O excesso de gordura na região abdominal (adiposidade central) tem maior capacidade preditiva para o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC) do que a massa corporal. Sam e cols., avaliando indivíduos com DM2, encontraram uma associação entre maior adiposidade visceral e maior número de partículas de VLDL-c e LDL-c, mais largas partículas VLDL-c e menores LDL-c e HDLc, independentemente do IMC. Este padrão de lipoproteínas tem sido – relacionado com aumentado risco para aterosclerose e DCV. A elevada prevalência de HAS em indivíduos com DM2 pode ser atribuída ao fato de que a hiperinsulinemia compensatória decorrente da resistência à insulina nesses pacientes promove a ativação do sistema nervoso simpático e reabsorção tubular de sódio, ocasionando a resistência vascular periférica e a elevação da pressão arterial. A proporção de AVC e DAC em diabéticos atribuída à HAS é 75% e 35%, respectivamente. Uma possível explicação para o maior risco de DCV encontrado em muitos diabéticos hipertensos é a ausência da redução noturna da pressão arterial, forte preditor para mortalidade cardiovascular. • DM TIPO 1 Por conta da própria fisiopatologia de ser uma doença autoimune, a DM tipo I acaba se manifestando mais cedo, de modo que a grande maioria dos pacientes com essa condição são diagnosticados ainda crianças ou adolescentes (geralmente entre os 10-15 anos). E normalmente eles são magros (lembra que a obesidade tá relacionada com a resistência insulínica da DM 2) e vão desenvolver um quadro agudo e clássico, apresentando os típicos 4 Ps da diabetes: Poliúria (aumento do volume urinário); Polidipsia (aumento da sede); Polifagia (aumento da fome); Perda ponderal. Se o paciente é diabético, ele tem uma hiperglicemia, daí, com mais glicose no sangue, mais glicose é excretada através da urina. E como ela é uma substância osmoticamente ativa, o paciente acaba perdendo mais água através do trato urinário (poliúria). A partir daí, ele começa a desidratar e é isso que explica o aumento da sensação de sede (polidipsia). Por outro lado, o fato de as células não estarem recebendo glicose para produzir energia é interpretado pelo corpo como sendo um estado de jejum, levando, então, ao aumento da sensação de fome (polifagia). Além disso, esse mesmo estado de jejum também acaba estimulando os hormônios contrainsulínicos que, entre outras coisas, promovem a lipólise, levando à perda ponderal. Por fim, temos que essas pacientes costumam apresentar uma glicemia > 200mg/dL com presença de autoanticorpos (ICA, IAA, Anti- GAD65, Anticorpo Antitirosina-Fosfatase IA-2 e IA- B2, Znt8…) e também não respondem bem aos antidiabéticos orais e sem insulina vão acabar desenvolvendo cetoacidose. Além disso, uma última característica da DM 1 é o peptídeo C < 0,1 ng/dL ou ausente. Só para a gente entender melhor isso, o peptídeo C é um componente da pró-insulina que é liberado quando ocorre a quebra dessa molécula. No entanto, como aqui praticamente não há produção do hormônio, os níveis de peptídeo C são geralmente indetectáveis. • DM TIPO 2 A primeira grande diferença entre a DM 1 e a DM 2 é o estereótipo do paciente. Aqui, cerca de 80% dos pacientes são obesos pois, como vimos, a obesidade está relacionada à resistência insulínica. Mas além disso, como essa condição costuma ocorrer de forma mais progressiva e assintomática, o diagnóstico acaba sendo tardio, por volta dos 45 anos - que é quando o paciente começa a apresentar os sintomas clássicos (4 Ps) e também as complicações (sendo a principal, o estado hiperosmolar não cetótico). Nesses pacientes normalmente nós vamos encontrar uma glicemia < 200mg/dL, sem autoanticorpos, mas com peptídeo C (> 0,1ng/dL). Além disso, esses pacientes ainda costumam responder bem a antidiabéticos orais e dificilmente evoluem para uma cetoacidose. O diagnóstico de diabetes requer uma anamnese buscando os 4 Ps característicos, mas também a presença de eventuais complicações e de fatores de risco, como erro alimentar e sedentarismo, por exemplo. Por outro lado, se o paciente já tiver sido diagnosticado, é imprescindível que a gente o questione sobre o início da doença, episódios de hipoglicemia e também sobre o atual tratamento que ele vem realizando. – Contudo, para fechar o diagnóstico são necessários exames laboratoriais, são eles: - Glicemia de Jejum - Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG) - Hemoglobina Glicada (HbA1c) • GLICEMIA DE JEJUM Nesse exame, basta o paciente ficar em jejum por 8h e depois será colhida uma amostra de seu sangue para avaliar o nível glicêmico. • TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA À GLICOSE (TOTG) O TOTG, também chamado de TTGO, é um exame realizado em 3 etapas: - Realização de um glicemia em jejum; - Ingestão oral de 75g de glicose; - Coleta de amostra após 2h para medir glicemia. ⬧ HEMOGLOBINA GLICADA (HBA1C) Por fim, a HbA1c é um exame com menor sensibilidade, mas que reflete o controle glicêmico do paciente nos últimos 2-4 meses. Parte da glicose circulante tende a se associar com a hemoglobina do sangue, tornando-a glicada. Assim, quanto maior for o nível glicêmico, mais desse composto haverá no sangue. A partir disso daí, nós poderemos cair em 3 situações diferentes: O DM2 e uma das principais doenças crônicas que podem ser evitadas por meio de mudanças no estilo de vida e intervenção não farmacológica. Estudos epidemiológicos e intervencionistas sugerem que a perda de peso seja a principal forma de reduzir o risco de diabetes. Ha evidencias crescentes de que os alimentos e seus componentes podem ser implementados na prevenção e no controle do DM2. Incentivar a perda de peso estruturada em um plano alimentar reduzido em calorias associado a prática de atividade física e de suma importância para aqueles com alto risco de desenvolver DM2 com sobrepeso ou obesidade. Com base em estudos de intervenção, os padrões alimentares que podem ser uteis aqueles com pré- diabetes incluem um plano alimentar mediterrânico e um plano alimentar de baixo teor calórico. Reduzir a ingestão de calorias e modificar o estilo de vida podem beneficiar adultos com sobrepeso ou obesos com DM e também aqueles em risco de desenvolver diabetes. REFERÊNCIAS: DIRETRIZES SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES
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