Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Filosofia do Direito no Tempo: Contrato Social e Estado Ético no Pensamento Moderno Essa teoria serviu de fundamentação para os estados modernos e boa parte do conteúdo explorado pelos autores chegou à atualidade. Por isso, há elementos dela ainda na constituição dos Estados. Contratualismo: doutrina política que considera o surgimento do Estado e/ou sociedade como resultante(s) de um pacto social. O pacto social não é um evento histórico, mas uma construção teórica. Principais pensadores: Thomas Hobbes (1588-1679) John Locke (1632-1704) Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) Esses autores estão vivendo o momento em que a história política está passando por momentos de turbulência. O Estado absolutista começa a ruir no período moderno até culminar no conjunto de revoluções burguesas, sendo a principal delas a Revolução Francesa. Alguns autores chegaram a viver as revoluções e outros foram influenciadores das revoluções. Essas revoluções chegam até o Estado contemporâneo. Hobbes tenta explicar a importância do Estado sem referência religiosa. Ele não acredita que os reis governam por uma força divina, mas que as razões de governar estão na própria natureza humana. Estado está em relação com a sociedade/povo. A ideia de Estado permite que haja uma ordem. Mas, o Estado precisa de recursos para estabelecer essa ordem. Além disso, o Estado presta um conjunto de outros serviços e oferece produtos: saúde, educação, vacina. Para fazer isso, o Estado cobra tributos, para ter recursos necessários para financiar esse tipo de serviço. Filosofia Contratualista Filosofia do Direito no Tempo: Contrato Social e Estado Ético no Pensamento Moderno No entanto, antigamente, a prestação do serviço ao povo era bastante limitada, ainda que os tributos sempre tenham sido cobrados. O tributo tinha um objetivo mais voltado para o atendimento dos próprios governantes. À medida que o Estado vai se reorganizando, ele precisa voltar-se para o atendimento do que o povo deseja. O Estado precisa se tornar mais robusto para atender o conjunto de demandas do povo, que vai aumentando ao longo do tempo. Hoje, há mais elementos vinculados a prestação de serviços e produtos do Estado. Há um comprometimento maior, que obriga ao Estado a cumprir aquilo que está determinado em lei. Quando se retira o Estado, tendo só os indivíduos, não se tem os direitos com as instituições sociais que podem ajudar na organização, como a religião, sindicatos. Os indivíduos estão ligados a sua própria sorte e vivendo de acordo com a sua própria natureza. Provavelmente, a situação seria caótica e o sujeito mais forte vai acabar se sobrepondo sobre os demais. É esse exercício mental que Hobbes fazia, para defender a importância do Estado. A forma como o Estado age é pesada no século XVI e XVII, mas a argumentação da época estava ligada que o governante tinha uma ligação direta com Deus. O que Hobbes alegava que não era essa a razão de se precisar do Estado, mas que essa razão estava na própria natureza do homem. Filosofia Contratualista Filosofia do Direito no Tempo: Contrato Social e Estado Ético no Pensamento Moderno A Teoria de Hobbes chamou muita atenção e outros filósofos se debateram sobre a mesma temática como Rousseau, Kant, Locke, Montesquieu. Portanto, a doutrina contratualista não se limita a um momento específico. Unidade temática: noção de contrato como elemento que permite a passagem da condição de natureza para o estado civil. Os indivíduos, em algum momento, segundo Hobbes, fizeram a passagem para o estado civil. Os outros autores também analisam esse ponto. Divergências: concepção de estado de natureza; razões e fundamentos do pacto social; finalidade do pacto. Cada um dos filósofos tem uma perspectiva diferente acerca da finalidade do pacto social. Principal questão: Por que precisamos do Estado? Há uma ética finalística, com uma ideia de constituição do Estado que responde a uma finalidade. Filosofia Contratualista T. Hobbes: Condição de igualdade e de liberdade na qual prevalece uma guerra de todos contra todos. J. Locke: Condição de liberdade e de igualdade na qual se verifica um estado pré- político e pré-social. J. J. Rousseau: Condição de liberdade na qual prevalece o instinto de autopreservação. Os indivíduos seriam ariscos e não violentos ou egoístas. Os indivíduos respondem ao que os instintos impõe. Autor x Estado da Natureza Filosofia do Direito no Tempo: Contrato Social e Estado Ético no Pensamento Moderno A ideia de liberdade e igualdade está presente em todos eles. Todos partem da ideia de que no Estado de Natureza os indivíduos são livres e iguais. Eles querem responder à pergunta de por que se precisa do Estado, buscando as razões nos próprios indivíduos. O Estado é pensado a partir de um contrato social e o indivíduo não pode celebrar contratos contra a sua vontade, ele precisa estar livre. A ideia de contrato também pressupõe igualdade. Os indivíduos precisam estar no mesmo patamar para que possam transacionar as regras do contrato. Portanto, a ideia de contrato pressupõe a ideia de um Estado Legítimo, ou seja, que esteja autorizado pelos próprios súditos, que reconhecem a autoridade do Estado. Palavras chaves: conflito generalizado do estado da natureza, guerra de todos contra todas. O Estado de natureza é guerra de todos contra todos, em outras palavras, o fato de os indivíduos não terem nenhum poder que faça com que eles se organizem, cada um está livre para fazer o que bem entende. Ao mesmo tempo, os indivíduos são impulsionados por uma força da natureza de preservar a sua própria vida. De um lado, há a existência da liberdade e, por outro, há a busca pelos meios de preservar a própria vida. Esses dois fatores podem levar a situação de conflito, porque todos são livres para fazer o que bem entendem, sem que haja nada para estabelecer a ordem entre eles. Por isso, Hobbes entende que se precisa de uma ordem que esteja separada desses indivíduos para conseguir estabelecer o que pode e o que não pode. Ex.: pode pegar o fruto da árvore aquele que chegou primeiro e com um limite pré-determinado. Filosofia Contratualista T. Hobbes Filosofia do Direito no Tempo: Contrato Social e Estado Ético no Pensamento Moderno Locke vai discordar completamente, porque ele entende que os indivíduos são seres dotados de racionalidade. Logo, ainda que não exista a ordem, os indivíduos podem se organizar e buscar se alimentar sem a existência de conflito. O que poderia gerar uma situação de conflito para o autor é se, eventualmente, um indivíduo tomar o fruto do outro e o indivíduo lesado querer fazer justiça. Tende-se a pensar mais com Locke, porque Hobbes entende que o conflito está na própria natureza humana: competição, desconfiança e glória. A competição visa o lucro, a desconfiança visa a segurança e a glória visa a glória. Quando estamos em sociedade, esses elementos estão organizados, porque as instituições vão organizar esse tipo de coisa. O que Hobbes está dizendo é que os elementos da própria natureza humana é que nos levam a criar uma situação conflituosa, que torna a vida praticamente impossível. É esse o motivo que leva o indivíduo, dotado de razão, perceber que não é possível viver nesse estado de natureza, celebrando um pacto social com o soberano e criando algumas condições. O soberano é o próprio Estado e Governo, que aparecem como a mesma coisa nesse momento da história. Entende que o Estado de Natureza é tido como pré-político, pré-social. Nesse Estado é possível que os indivíduos sejam dotados de algum grau de paz, harmonia. Já existe a ideia de propriedade como vida, liberdade e os bens. Nesse sentido, a propriedade se liga ao próprio sujeito, ela não é um objeto externo a ele. Na visão do filósofo, os bens se ligam aos indivíduos por meio do trabalho. Ex.: pichação. O recurso adquirido através do trabalho para deixar a casa esteticamente bonita faz com que a pichação seja um ataque o próprio indivíduo. J. Locke Filosofia doDireito no Tempo: Contrato Social e Estado Ético no Pensamento Moderno Para Locke, quando a propriedade é atacada, o indivíduo sofre muito, porque é como se ele mesmo fosse atacado. No estado de natureza, a propriedade existe porque os indivíduos têm vida, liberdade e bens constituídos por meio do trabalho, sendo assim precisa-se do Estado para dar maior proteção à propriedade. Apesar de a paz ser relativa, sempre haverá o sujeito que não vai respeitar e seguir a razão, atacando a propriedade do outro. Se a propriedade é atacada e ela é uma extensão do indivíduo, é normal que, na hora da vingança, o indivíduo aja com maior força do que o dano causado, se excedendo no ato e gerando conflito. Por isso, a vantagem do Estado é a proteção da propriedade e fazer justiça por meio do Direito, já que o vínculo do Estado está associado a própria norma. Para Locke, abre-se mão da liberdade natural, mas será constituída a liberdade civil, que é aquela que tem fronteira no que é determinado pela lei. A lei é o elemento que define até onde a liberdade pode chegar. Essa substituição de liberdade natural por liberdade civil dá muitas vantagens, uma delas é que as diferenças físicas e naturais se tornam irrelevantes. Aqueles que, por algum motivo, tentem brigar, por exemplo, estão atentando contra a liberdade e o Estado usa os seus recursos contra esses indivíduos para evitar que a propriedade seja usurpada. A noção de Estado de Direito é bem lockeana e o pacto social cria o Estado civil, que protege a propriedade. Locke Lei – Estado – Povo O Estado tem que ser o Estado de Direito. A lei também submete ao Estado, que só existe para proteger a propriedade. Quem está no comando são os indivíduos, que podem se exceder e não cumprir o pacto, devendo ser submetidos a punições. O Estado não pode ser arbitrário contra os indivíduos. Hobbes Estado – Lei – Súditos O Estado não se submete à lei e tem que resolver os problemas para a garantia da paz, porque a lei dificulta a ação Filosofia do Direito no Tempo: Contrato Social e Estado Ético no Pensamento Moderno Para Locke, diante de o governante ser um indivíduo, ele pode não cumprir o pacto social. Quando isso acontece, o povo tem o direito de resistir contra ele. Por isso, para o filósofo, o direito de resistência é o direito de se proteger contra governantes usurpadores que atentam contra o pacto social. Esse é o germe do que as constituições atuais têm como impeachment. No livro Origem da Desigualdade entre os Homens, Rousseau afirma que os homens não são bons, nem maus, porque não existe moral, uma construção civil. Os homens simplesmente respondem àquilo que os instintos impõem sobre eles. A passagem dos indivíduos para o estado de natureza deu-se de forma ilegítima. Portanto, os homens nascem livres, mas logo se veem presos a grilhões. Os grilhões são amarras sociais, portanto o que ele quer dizer é que os indivíduos naturalmente são livres, mas, ao entrarem em uma sociedade que foi constituída com base em uma grande mentira, existe um processo de usurpação da liberdade do indivíduo com o Estado como opressor, que não se constituiu de forma legítima. Não é possível, para ele voltar ao estado de natureza, mas há trechos da obra de Rousseau em que ele faz uma leitura apaixonada pelo estado de natureza. Ele entende que os indivíduos no estado de natureza responderiam apenas ao que os instintos colocam, sem preocupação com as superficialidades que a sociedade impõe sobre nós. Quando Rousseau propõe o pacto social, ele o faz como uma espécie de refundação do Estado. J. J. Rousseau Filosofia do Direito no Tempo: Contrato Social e Estado Ético no Pensamento Moderno É por isso que os revolucionários franceses se inspiraram muito neles. O Estado é opressor e coloca muitos tributos, mas não responde às demandas dos indivíduos, que estão empobrecendo enquanto os governantes estão cada vez mais ricos. A ideia de Rousseau é criar um Estado que é legítimo, desde que ele responda aos interesses do povo. Para isso, é necessário que os governantes estejam submetidos à vontade geral, o substrato comum de todas as vontades (bem-comum/interesse comum). Para Rousseau, o governo deve se submeter ao soberano. O povo é o soberano e o governo é o funcionário do povo. O povo é o chefe, por isso, há uma ideia de liberdade democrática no pensamento do filósofo. T. Hobbes: Todos os indivíduos renunciam a liberdade a fim de possibilitar o cumprimento da lei natural. J. Locke: A fim de resolver os inconvenientes do estado de natureza, os indivíduos realizam um pacto de consentimento, que garante a legitimidade do Estado. J. J. Rousseau: Refundação do Estado e da sociedade no qual todos alienam seu direito em favor da comunidade política. É preciso uma refundação do Estado. Garante-se a soberania popular. Os governos, como funcionários do povo, devem se submeter a vontade geral, comum. Autor x Pacto Social O pacto social é a forma usada para que os indivíduos saiam do estado de natureza e entrem no estado civil. Filosofia do Direito no Tempo: Contrato Social e Estado Ético no Pensamento Moderno Destaques de Hobbes Para Hobbes, a lei natural é diferente de lei natural. A lei natural encerra uma obrigação natural. O direito natural diz respeito a uma liberdade. Os indivíduos, no estado de natureza, são guiados por uma lei natural que é uma obrigação natural. Essa lei natural pensa nas leis da física, que não são possíveis de ser modificadas pela vontade do indivíduo. Ex.: Caso o indivíduo não coma, ele morre. Não há opção de dizer que não se tem fome. Para o filósofo, a pessoa obedece a essa lei natural no estado da natureza e ela tem a liberdade para fazer o que bem entender. O que traz problema seria exatamente essa liberdade. Logo, é preciso que o indivíduo abra mão do direito natural, a liberdade, para que se tenha o pacto social. Como Hobbes é absolutista, a liberdade é fazer aquilo que o soberano/ Estado permite, já que o objetivo do Estado é garantir o cumprimento do pacto, que tem como objetivo a paz. Para Hobbes, pactos sem espada são meras palavras. O pacto é a noção de lei, norma, ordem, regras. A espada é a possibilidade de punição, a coerção. A obrigação de buscar a paz é do Estado, que retira dos indivíduos a liberdade de fazerem o que bem entende. No entanto, o filósofo entende que há algumas questões que o indivíduo não pode abrir mão, porque faz parte de uma lei natural. O que se entende como legítima defesa atualmente, por exemplo, tem fundamento na própria lei natural. A legítima defesa é o indivíduo tentando se defender de uma agressão injusta. Filosofia do Direito no Tempo: Contrato Social e Estado Ético no Pensamento Moderno Destaques de Hobbes Há um ataque a própria condição natural e a reação é imposta pela natureza. Logo, não há como a legítima defesa ser proibida, porque o Estado estaria proibindo uma lei natural. Porém, o Estado pode decidir se libera armas ou não para a legítima defesa, porque está no campo da liberdade dos meios usados para o fim. T. Hobbes: Total submissão ao poder soberano (autocracia). Objetivo é garantir a segurança. J. Locke: O Estado possui poder limitado, regulado pela lei. Seu objetivo é proteger a propriedade (vida, liberdade e bens), ao povo deve se garantir o direito de resistência (resistir contra governos arbitrários). J. J. Rousseau: Soberania popular, governo submetido à vontade geral que representa o bem-comum. O objetivo do Estado é garantir a liberdade. Autor x Estado Civil Hobbes Entende que o objetivo é a paz Entende que os conflitos vêm da natureza humana e o Estado entra para garantir a paz. O Estado de Natureza é caracterizado pela guerra de todos contra todos Hobbes era defensor de um absolutismo. Para ele, uma vez estando sob a égide do pacto social não se deve sair, porque o estado de natureza é prejudicial. O Estado está acima da lei e a lei acima do povo. Resuminho! Locke Entende que o objetivo é a proteção da propriedadeEntende que os indivíduos são capazes de ter uma vida relativamente harmônica, no estado de natureza, mas não haveria mecanismo externo para a proteção da propriedade. Eventualmente, indivíduos poderiam atacar a propriedade um do outro, levando ao conflito. O Estado entra como um terceiro ator para resolver as situações de conflito. Para Locke, a propriedade envolve 3 elementos: liberdade, vida e bens. O Estado de Natureza possui paz e harmonia relativas, mas não há proteção da propriedade. Locke comenta desde uma perspectiva liberal. Portanto, o Estado não pode suplantar o direito dos indivíduos. A lei está acima do Estado e o povo. Rousseau Entende que o objetivo é a liberdade Rousseau foi o filósofo que encantou os revolucionários franceses e traz uma abordagem voltada para a liberdade humana. Ele entende que a necessidade de um novo estado é para se criar as condições adequadas a fim de se promover uma condição de fato na qual os indivíduos vivam livremente e o Estado garanta o exercício da liberdade. Defende a ideia de que no estado de natureza os homens viveriam livres e iguais. No entanto, à medida que os contingentes populacionais foram aumentando, se tornou impossível que os indivíduos vivessem nesse estado. Como não há possibilidade de voltar, Rousseau defende que se constitua um estado efetivamente legítimo. Resuminho!
Compartilhar