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Cecília Correia Odontologia Primeiros Socorros @cecicorreiaa_ | UFPE Emergências médicas no consultório odontológico 01 Lipotimia e Síncope A lipotimia é definida como um mal-estar passageiro, caracterizado por uma sensação angustiante e iminente de desfalecimento, com palidez, sudorese aumentada, zumbidos auditivos e visão turva, sem necessariamente levar à perda total da consciência. É a sensação de desmaio, sem que esse efetivamente ocorra. O termo síncope, por sua vez, é tido como a perda repentina e momentânea da consciência, causada pela súbita diminuição do fluxo sanguíneo e da oxigenação cerebral, ou ainda por causas neurológicas ou metabólicas. Seja qual for a causa, os quadros geralmente são benignos, de curta duração, e regridem de forma espontânea ou em resposta a manobras bastante simples realizadas pelo dentista. O termo síncope pode incluir algumas entidades nosológicas, sendo as de maior interesse para o cirurgião-dentista: É a mais comum das síncopes, sendo desencadeada por fatores emocionais (ansiedade aguda, dor repentina e inesperada, visão de sangue, visão da seringa ou agulha, etc.) ou não emocionais (fome, debilidade física, ambiente quente e úmido). É precedida de sinais sugestivos de reação vagal, tais como palidez cutânea, sudorese fria, fraqueza, bradicardia, respiração superficial, pulso fino e queda da pressão arterial. Síncope vasovagal Ocorre em indivíduos com "pavor" à cadeira do dentista. A reação de adaptação ao estresse prepara o organismo para "lutar ou fugir", aumentando o fluxo sanguíneo para os músculos esqueléticos. Quando a vasodilatação periférica é acompanhada de uma diminuição da frequência cardíaca, o débito cardíaco inadequado resulta na perda de consciência. Síncope vasodepressora Na hipoglicemia aguda, na hipotensão ortostática e na insuficiência adrenal aguda, a perda da consciência pode confundir o profissional quanto ao diagnóstico diferencial em relação às síncopes mais comuns. Outras situações Avalie o grau de ansiedade do paciente, condicionando-o ao tratamento. Em pacientes muito ansiosos, considere uma sedação mínima; Se o paciente apresentar história de doença sistêmica, direcione a anamnese para o problema, não hesitando em trocar informações com o médico que o acompanha; Oriente-o a se alimentar antes das consultas, pois o estado de jejum predispõe à hipoglicemia, um possível fator para a indução da síncope vasovagal; Para a prevenção da lipotimia e da síncope, o cirurgião-dentista deve atenuar ou eliminar qualquer fator predisponente, sendo sugeridos os seguintes cuidados: Prevenção Cecília Correia Odontologia Primeiros Socorros @cecicorreiaa_ | UFPE Emergências médicas no consultório odontológico 02 Evite estímulos visuais estressores (sangue, seringas e agulhas, instrumental cirúrgico, limas endodônticas, brocas, etc.); Faça com que a anestesia local seja o menos traumática possível, evitando a dor no local da punção pelo uso correto do anestésico tópico; No atendimento aos idosos, evite hiperestender a cabeça e tome cuidado de não apoiar sua mão ou cotovelo na região do pescoço. Interrompa o atendimento e remova todo o material da boca do paciente; Avalie o grau de consciência por meio de estímulo físico e verbal; Coloque-o deitado de costas, com os pés levemente elevados em relação à cabeça (10 ou 15 graus); Afrouxe as roupas; Libere a passagem de ar inclinando cuidadosamente a cabeça para trás; Monitorize a respiração e o pulso; Aguarde 2 a 3 minutos para que haja a melhora do mal-estar ou mesmo a recuperação da consciência; Se a recuperação da consciência não ocorrer após 3 minutos, solicite socorro móvel de urgência. Enquanto aguarda, administre oxigênio e monitorize os sinais vitais. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Protocolo de atendimento Hipoglicemia Um indivíduo é considerado em estado de hipoglicemia quando os níveis de glicose no sangue encontram-se abaixo dos valores mínimos normais (60 mg/100 ml). É uma condição que pode ocorrer em indivíduos diabéticos (mais comum) ou não diabéticos. Embora provoque vários sintomas, o problema da hipoglicemia é o fornecimento inadequado de glicose ao cérebro, com prejuízo em suas funções. A causa mais frequente de hipoglicemia é a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, que dificulta a liberação de glicose pelo fígado. Também pode ocorrer de forma espontânea no estado de jejum ou durante esforço físico extenuante. Indivíduos que fazem uso contínuo de medicamentos como aspirina, anti-inflamatórios não esteroides, betabloqueadores não cardiosseletivos, entre outros, também são candidatos a ter episódios de hipoglicemia. Os sinais e sintomas iniciais produzidos pela epinefrina e pelo glucagon, hormônios regulatórios que são acionados em resposta ao declínio repentino da glicose sanguínea. O paciente hipoglicêmico apresenta ansiedade, nervosismo, taquicardia, sudorese, palidez, frio, dilatação das pupilas, sensação de fome, náusea, vômito e desconforto abdominal. Em um estágio mais avançado, a sintomatologia é decorrente da redução da glicose no cérebro: atividade mental anormal, alteração no humor, depressão, choro, tontura, cansaço, fraqueza, dificuldade de fala, falta de coordenação motora, dor de cabeça, coma, respiração difícil, etc. Cecília Correia Odontologia Primeiros Socorros @cecicorreiaa_ | UFPE Emergências médicas no consultório odontológico 03 O glicosímetro permite a análise imediata da glicemia Na consulta inicial, investigue se o paciente apresenta história prévia de algum episódio de hipoglicemia, mesmo não sendo diabético; Oriente-o a não aparecer às consultas em jejum alimentar; No atendimento de diabéticos, procure obter o máximo de informações sobre o controle da doença: resultados do último exame de glicemia, medicação de uso contínuo, história de complicações recentes, etc.; No dia do atendimento, certifique-se de que o paciente tomou sua medicação; Procedimentos nos quais há expectativa de limitação da função mastigatória no período pós-operatório pedem um diálogo prévio com o médico; Frente a pacientes extremamente ansiosos ou apreensivos, considere um protocolo de sedação por meio do uso de benzodiazepínicos, via oral, ou pela inalação da mistura de óxido nitroso/oxigênio, se for habilitado. Prevenção A escolha do protocolo para o tratamento da hipoglicemia aguda na clínica odontológica vai depender do estado de consciência do paciente. Protocolo de atendimento Interrompa imediatamente o atendimento e remova todo o material de sua boca; Coloque-o em uma posição confortável; Administre carboidratos por via oral, até os sintomas desaparecerem; Mantenha-o sob observação por 20 a 30 minutos, antes de dispensá-lo com um acompanhante adulto; Investigue as causas da hipoglicemia. Paciente consciente e responsivo Solicite um serviço móvel de urgência; Mantenha-o deitado de costas com os pés elevados; Libere as vias aéreas e avalie a respiração e o pulso; Coloque um sachê de açúcar líquido instantâneo debaixo da língua, ou entre o lábio e os dentes anteriores inferiores; Em caso de hipoglicemia severa, administre uma ampola com 10 ml de uma solução de glicose a 25% (IV), em injeção lenta, caso esteja habilitado a aplicações intravenosas; Enquanto aguarda o socorro, monitorize os sinais vitais; Investigue as causas da hipoglicemia. Paciente inconsciente Cecília Correia Odontologia Primeiros Socorros @cecicorreiaa_ | UFPE Emergências médicas no consultório odontológico 04 Hipotensão ortostática É caracterizada por uma queda brusca da pressão arterial, que pode ocorrer quando o paciente, deitado de costas, assume rapidamente a posição em pé, ficando sujeito à síncope. É considerada como a segunda maior causa de perda transitória da consciência na clínica odontológica. Na maioria das vezes, não está relacionada aos estresse emocional e não é considerada uma situação grave. A ação gravitacional do levantamento repentino para a posição ortostática (em pé) normalmente leva o sangue a se represar em territóriovenoso dos membros inferiores. A diminuição transitória subsequente do retorno venoso e do débito cardíaco resulta em redução da pressão arterial. A causa mais comum de hipotensão ortostática sintomática é a hipovolemia secundária devida ao uso abusivo de diuréticos (furosemida) ou associada ao emprego de medicamentos vasodilatadores (verapamil, nifedipina, diltiazem), usados no tratamento da hipertensão arterial, angina de peito ou insuficiência cardíaca congestiva. Outras condições ou fatores podem ser considerados como predisponentes à hipotensão ortostática, tais como: A incidência da hipotensão ortostática guarda uma relação direta com a idade do paciente, já que é comum em idosos e rara em crianças. Idade Pacientes portadores de varizes ou outros defeitos circulatórios dos membros inferiores possuem um acúmulo excessivo do sangue venoso nessa região. Defeitos venosos das pernas A gestante pode demonstrar duas formas de hipotensão por mudança brusca de posição. A primeira ocorre usualmente durante o primeiro trimestre da gestação, no momento em que ela se levanta da cama pela manhã, sem reincidência ao longo do dia. A segunda forma ocorre geralmente ao final do terceiro trimestre e é provocada pela compressão do útero gravídico sobre a veia cava inferior, o que diminui o retorno venoso dos membros inferiores. Gravidez Como o paciente pode permanecer durante horas na posição reclinada, ao final do tratamento pode ocorrer a hipotensão ortostática. Paciente deitado por muito tempo Cecília Correia Odontologia Primeiros Socorros @cecicorreiaa_ | UFPE Emergências médicas no consultório odontológico 05 Você tem tomado alguma medicação de forma contínua nos últimos dois anos? Você alguma vez já desmaiou ou já teve convulsões? A prevenção deve ser baseada fundamentalmente na história médica e na condição física do paciente, conhecidas na consulta inicial. Essas informações ajudam a investigar a possibilidade de essa situação vir a ocorrer e, assim, a tomar medidas necessárias para evitá-la. O valor normal da Pressão Arterial sistólica é 10 mmHg a mais no paciente em pé do que comparado à posição supina. Da mesma forma, a frequência cardíaca normalmente é acelerada na posição em pé, cerca de 5 a 20 batimentos por minuto a mais do que a obtida com o paciente deitado. Prevenção Protocolo de atendimento Avalie o estado de consciência do paciente. Chacoalhe levemente seus ombros e pergunte se ele está bem. Se não houver resposta, coloque-o novamente deitado de costas, mantendo os pés elevados; Propicie a passagem de ar (manobra de Chin Lift); Avalie os sinais vitais; A suplementação de oxigênio pode ser feita a qualquer tempo, durante ou após a perda da consciência; Após a recuperação, dispense-o com um acompanhante adulto. Convulsões O início de uma convulsão, não raramente, é precedido por auras, ou seja, sensações incomuns de natureza visual, olfatória, gustativa ou auditiva, ou ainda pela forte premonição de que a crise convulsiva está prestes a ser desencadeada. Tão logo surge essa aura, o paciente subitamente perde a consciência e cai no chão, e é nesse momento que acontece a maioria das injúrias físicas. A fase convulsiva ou ictal tem início com a extensão rígida da musculatura das extremidades e do tronco. Como os músculos da respiração também são envolvidos, há dificuldade respiratória e cianose, evidenciando uma inadequada ventilação. Essa é a fase tônica da convulsão e dura cerca de 10 a 20 segundos. A fase clônica da convulsão é caracterizada por movimentos alternados de relaxamento muscular e contrações violentas, acompanhadas por uma respiração ruidosa. Durante essa fase, uma secreção bucal na forma de espuma pode ser notada, resultado da mistura de ar e saliva. A duração usual da fase clônica é de aproximadamente 2 a 3 minutos. As convulsões com duração maior do que 3 minutos, ou repetitivas, podem se constituir em uma situação de risco ao indivíduo, devido à hipertermia e acidose tecidual. Porém, os casos fatais são raros, ocorrendo apenas nas crises muito prolongadas (mais do que 30 minutos), sem recuperação da consciência. Cerca de 65% dos indivíduos apresentam convulsões idiopáticas, ou seja, cujas causas não podem ser totalmente identificadas. Os 35% restantes têm convulsões decorrentes de causas conheci- Cecília Correia Odontologia Primeiros Socorros @cecicorreiaa_ | UFPE Emergências médicas no consultório odontológico 06 das, como: febre alta, hipoglicemia, desidratação grave, retirada brusca de certas drogas, estresse emocional, traumatismos cranianos acidentais, etc. Em alguns indivíduos, as crises podem ser desencadeadas por luzes piscantes, certos tipos de ruídos, leitura prolongada, privação de sono e fadiga. Protocolo de atendimento Se o paciente estiver na cadeira odontológica, deitado de costas, abaixe-a o mais próximo possível do chão. Remova os objetos cortantes ou pontiagudos que estejam ao redor. Solte as gravatas, lenços e colarinhos das camisas, para facilitar a respiração. Agora, gire cuidadosamente o paciente para o lado em que você se encontra, colocando-o deitado de lado. Com essa manobra, você libera as vias aéreas e a passagem de ar, além de evitar que ele aspire a saliva ou o conteúdo gástrico, em caso de regurgitação. Não tente colocar nada entre as arcadas, nem forçar qualquer instrumento na tentativa de descerrar os dentes. Durante a crise, não restrinja os movimentos da vítima, mas proteja a cabeça contra lesões físicas, usando um anteparo macio. Anote o tempo que durou o episódio convulsivo. Solicite o SAMU caso a convulsão durar mais do que 3 minutos ou a vítima apresentar cianose desde o início da crise. Se a convulsão for muito demorada ou repetitiva, administre midazolam 15 mg, por via oral, ou uma ampola de diazepam 10 mg, via intramuscular ou intravenosa, em injeção lenta. Cessada a convulsão, mantenha o paciente em repouso por 10 a 15 minutos, sob observação. Administre oxigênio (6 a 8 L/min) e monitorize sinais vitais. Após a recuperação, sob os cuidados de um acompanhante adulto, dispense o paciente, referenciando-o para avaliação médica imediata. Referência DE ANDRADE, Eduardo Dias; RANALI, José. Emergências médicas em odontologia. Artmed Editora, 2009.
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