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A RELAÇÃO MÃE-BEBÊ NA EDUCAÇÃO DE ARTES: UMA ABORDAGEM SOBRE A IMPORTÂNCIA DO OUTRO Gilmar do Nascimento Junior 1 Jadson Lucas de Jesus Ribeiro 2 Roquelina Nascimento da Anunciação 3 RESUMO A relação mãe-bebê é abordada no texto da Larissa Ornellas: “Berç(a)rte: Pressupostos teóricos de pesquisa científica em torno da relação primordial mãe-bebê”, onde ela dialoga com visões teóricas de grandes pesquisadores de diversas áreas, como psicanálise, neurociência e sociologia. A partir dos questionamentos expostos, traremos uma abordagem para o campo da educação, em especial de artes, com o objetivo de refletir e expandir os pensamentos sobre a temática. Palavras-chave: Educação de artes. Relação mãe-bebê. Psicanálise. INTRODUÇÃO Nesse estudo, iremos abordar alguns dos principais questionamentos presentes no texto da Larissa Ornellas: “Berç(a)rte: Pressupostos teóricos de pesquisa científica em torno da relação primordial mãe-bebê”, onde a autora faz uma profunda investigação teórica acerca da relação mãe-bebê, expondo diferentes abordagens e associando às questões da Teoria das Representações Sociais. Com o objetivo de expandir os pensamentos expostos no texto de Ornellas, iremos apresentar uma abordagem pensando nessa relação aplicada no ensino de artes e na cultura. Ao decorrer do texto de Ornellas, a relação mãe-bebê é apontada como essencial na formação de um sujeito completo e emancipado, visto que “o bebê humano não sobrevive sem ajuda de um semelhante, pois é na relação com este Outro primordial, a 1 Graduando no curso de licenciatura em Artes Visuais, gillmar37@gmail.com; 2 Graduando no curso de licenciatura em Artes Visuais, jadsonlribeiro@gmail.com; 3 Graduanda no curso de licenciatura em Artes Visuais, linanasci3000@gmail.com; mãe, que o infans - a criança que ainda não fala, que ainda não é capaz de se dizer - irá se constituir enquanto sujeito” (ORNELLAS, 2013, p. 115). Esse tipo de mediação do Outro, não se encerra na infância, podendo ser observada, por exemplo, nas relações entre educador e educando, num nível não tão profundo quanto o da mãe-bebê, mas com a mesma capacidade de gerar significados e de emancipar o sujeito para o mundo, para a sociedade. A autora aponta que quando surgem problemas, disfunções, uma ausência ou escassez de representações no campo do outro, nessa relação tão importante de mãe- bebê, isso pode gerar patologias, transtornos graves de desenvolvimento, uma série de problemas mentais ou na linguagem do indivíduo. Quando levamos isso para o campo da educação, em especial de artes, ao surgir problemas na relação entre o educador e educando, isso também acarretará em diversas deficiências no desenvolvimento intelectual do educando, principalmente na sua percepção de mundo. Como podemos perceber, é de suma importância zelar por uma relação mãe-bebê saudável para que assim possamos gerar sujeitos saudáveis, e do mesmo modo, precisamos nos ater a uma relação entre educador e educando observando suas particularidades com cuidado, para gerar sujeitos cada vez mais completos, independentes, capazes de perceber o mundo a sua maneira. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS A autora utiliza o pensamento de alguns dos grandes nomes da área, explorando seus principais estudos relacionados com a temática, buscando entender a importância da relação mãe-bebê “como um fenômeno a ser analisado amplamente a partir de uma visão bio-psíquico-social” (ORNELLAS, 2013, p. 115). Em seu decorrer, o texto abarca alguns dos principais questionamentos de Freud e sua dialética edipiana, ressaltando que “para Freud tudo ocorre em torno do primado do falo, da questão de ter ou não tê-lo” (ORNELLAS, 2013, p. 112), se referindo à dimensão comportamental do indivíduo na relação mãe-bebê. A autora ainda aborda Lacan, onde ele aponta “o complexo de castração como núcleo fundamental, através do qual mulher e homem se estruturam psiquicamente” (ORNELLAS, 2013, p. 109). São estas estruturas as detentoras do grande mistério sobre o que nós somos e por que nós somos. Outro ponto importante para as formulações teóricas do texto está nas visões de Lacan do eu ou do ego como "ideia de si mesmo como corpo próprio", a partir da qual a autora dialoga com o pensamento de MOREL: O reconhecimento da imagem de seu corpo pela criança necessita da mediação do Outro, incarnado pela mãe ou seu substituto. Este adulto, que fez da criança objeto de seu olhar e de seu desejo, estabelece a relação de posse da criança em relação a sua imagem ("este é você"). O eu se constitui pela identificação da imagem do corpo no espelho, sua consistência é então aquela de uma imagem. (MOREL, 2004, p.21 apud ORNELLAS, 2013, p. 111) Isso nos faz entender melhor como se forma a imagem do eu, esse “eu” que necessita do Outro para compreender-se no mundo. Tal necessidade não se encerra na infância e podemos pensar que, para além da formação da imagem de seu corpo, temos a formação da imagem do mundo ao nosso redor. A mediação se faz necessária em diversos aspectos da humanidade, e não seria diferente no campo das artes, onde uma boa mediação pode educar o olhar, fazendo com que o público consiga apreciar uma obra de arte nas suas diversas dimensões. Dentre tantos outros pensadores, a autora nos leva até Christine Durif-Bruckert em seu artigo: “O controle do corpo nutrido: retóricas da tomada movimento de despossessão do sujeito”, para tentar compreender “como os processos psicossociais e os mecanismos socioculturais se desenham na nossa sociedade moderna” (ORNELLAS, 2013, p. 115). É a partir desse trabalho que a autora vai dialogar com as teorias discutidas ao longo do texto, procurando entender “como a Teoria das Representações Sociais pode contribuir para a leitura da díade mãe-bebê inserida num tecido social” (ORNELLAS, 2013, p. 115). O lugar da mãe é problematizado nessa relação, trazendo questões que visam entender e expor a complexidade envolvendo a ideia de “mãe” e de “torna-se mãe”: Como responder ao imaginário social do ser "mãe" como lugar do "paraíso perdido", "plenitude", "completude", quando o que escutamos a partir do relato das mães-sujeitos desta pesquisa, é justamente, que o torna-se mãe representa um grande estado de conflitos psico-afetivos- sociais. (ORNELLAS, 2013, p. 116). Dentro dessa complexidade, a autora ainda recorre ao artigo de Denise Jodelet (1989) “a propósito dos jogos e estratégias de saber na Educação Terapêutica de pacientes”, trazendo assim os conceitos de pluridisciplinariedade e interdisciplinariedade para o texto, utilizados na pesquisa de Jodelet, onde é abordado o “saber experiencial” para destacar a vivência singular de cada mãe em seus relatos sobre ser mãe. A autora fala: "Procuraremos identificar como afirma a autora citada quais são as chaves conceituais susceptíveis de assegurar a interdisciplinariedade na compreensão do par mãe-bebê" (ORNELLAS, 2013, p. 117), deixando claro seu objetivo de explorar essa relação. Com seus pressupostos teóricos, o texto consegue apresentar muitos questionamentos ao redor da relação mãe-bebê, deixando clara sua complexidade. É notável como os estudos teóricos apresentados conversam entre si e são capazes de fortalecer os argumentos da autora. CONCLUSÃO A pesquisa nos mostra como a relação de um indivíduo com sua mãe pode gerar centenas de processos subjetivos e de problemáticas, se tratando do modo como o mundo é visto e vivido por esse sujeito. Pensando nisso, ao fazermos uma associação com sujeitos que não tiveram o ensino de arte desde sua infância, notamos o grande risco que corremos em criarmos sujeitos com pouco ou nenhum senso crítico, em relação às artes e também em relação à sociedade de modo geral, desta maneira, ficando exposto a ser facilmente manipulado por outros. Oensino da arte, assim como uma mãe, tem o poder de guiar e instruir esse sujeito para se tornar um cidadão pensante e questionador da vida em sociedade, sendo possuidor de uma visão ampla de mundo. No entanto, é preciso que haja um mediador, uma pessoa que vá exercer o papel de mãe, na medida em que transmite esse conhecimento. Esse papel fica a cargo dos professores, numa relação entre educador e educando que se assemelha a relação mãe-bebê, quando pensamos que existe esse “sujeito” que precisa de uma mediação para se tornar capaz de agir sobre o mundo de uma maneira particular. Portanto, é preciso pensar numa relação que seja saudável, a fim de protegermos os sujeitos de desenvolver possíveis patologias. Mas o que seria uma relação saudável? Ainda é difícil identificar os meios pelos quais podemos chegar a uma relação mãe- bebê, ou educador e educando, saudável, de maneira que não haja algum tipo de deficiência, ou ausência do Outro. Assim, devemos aprofundar mais essa discussão e desenvolver mais pesquisas a fim de esclarecer esses questionamentos e encontrar o caminho para relações mais completas e significativas. REFERÊNCIAS ORNELLAS, Larissa. Berç(a)rte: Pressupostos teóricos de pesquisa científica em torno da relação primordial mãe-bebê. In: ORNELLAS, Maria de Lourdes Soares. Representações sociais e educação: letras imagéticas. Salvador: EDUFBA, 2013, p. 103-119.
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