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FAECA – DOM BOSCO DE MONTE APRAZÍVEL LIDIANI MICHELETTI PACHECO A REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE IMÓVEIS URBANOS DA UNIÃO COMO GARANTIA DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE FRENTE A NOVA LEGISLAÇÃO FUNDIÁRIA – LEI 13.465 DE 2017 BACHARELADO EM DIREITO MONTE APRAZÍVEL 2020 LIDIANI MICHELETTI PACHECO A REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE IMÓVEIS URBANOS DA UNIÃO COMO GARANTIA DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE FRENTE A NOVA LEGISLAÇÃO FUNDIÁRIA – LEI 13.465 DE 2017 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado, na forma de Artigo Científico, à Banca Examinadora do Curso de Direito da FAECA Dom Bosco, sob a orientação do(a) prof. Rodolfo Souza Paulino, visando à obtenção do grau bacharel em Direito. Orientador: Prof. Rodolfo Souza Paulino MONTE APRAZÍVEL-SP 2020 LIDIANI MICHELETTI PACHECO A REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE IMÓVEIS URBANOS DA UNIÃO COMO GARANTIA DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE FRENTE A NOVA LEGISLAÇÃO FUNDIÁRIA – LEI 13.465 DE 2017 BANCA EXAMINADORA _________________________________________ Prof.(a) Dr.(a) _________________________________________ Prof.(a) Dr.(a) MONTE APRAZÍVEL-SP 2020 A justiça não consiste em ser neutro entre o certo e o errado, mas em descobrir o certo e sustentá-lo, onde quer que ele se encontre, contra o errado. Theodore Roosevelt https://www.pensador.com/autor/theodore_roosevelt/ AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por me mostrar o caminho e proteger minha caminhada. Aos meus familiares e amigos pelo incentivo, apoio e principalmente compreensão nos momentos em que mais necessitei, seja por estar ausente estudando, seja por precisar de palavras motivadoras, sendo grandes responsáveis por minha conclusão desta graduação. Agradeço imensamente a todos os professores, especialmente o orientador desta conclusão de curso, sem os quais não alcançaria este degrau onde cheguei com todo esforço e dedicação. RESUMO Esta pesquisa bibliográfica traz, entre seus objetivos, a interpretação do direito à propriedade no Brasil, bem como apresentar sinteticamente a legislação que, em sua linha histórica, tenderia levar a um resultado injusto o quesito moradia se não fosse tal direito assegurado com a Constituição Federal de 1988. Transcorre avaliação sobre a promoção do direito à moradia ante a uma legislação que visa, inclusive, combater inúmeras e seculares deficiências manifestadas nessa injusta distribuição de bens imóveis no país, valendo-se da Regularização Fundiária Urbana (REURB), promovendo a possibilidade de registrar imóveis em situação irregular. Regularização, essa, apoiada pela Lei Federal n° 13.465 de 2017, promovendo a obtenção legal de titularidade ao indivíduo que utiliza o imóvel sem dele ter a posse, por meio da REURB, tornando possível, assim, o direito garantido de propriedade e à Função Social da Propriedade exercida por seu ocupante. Assim se garante o aspecto da dignidade à qual merece a pessoa humana também pelo direito à moradia e à propriedade do imóvel, possibilitando o direito adquirido de registro de imóveis, estimulado pela REURB, promovendo repercussões econômicas e sociais e outros resultados que podem ser vistos como positivos ou negativos na atualidade, sendo necessário um cautelar controle quanto à integridade da legislação. Quanto aos ganhos econômicos, disponibilizam-se no recolhimento dos tributos municipais, também pelo Estado e pela União, justificando, assim, a regularização fundiária urbana e promovendo considerável e positiva movimentação econômica regional com essa reforma de imóveis regularizados. Enfim, nessa avaliação dos tributos arrecadados se reconhece a possibilidade de significativos ganhos sociais que, certamente, promoverão melhorias na infraestrutura urbana e, consequentemente, qualidade de vida da população. Palavras Chave: Regularização Imobiliária; Regularização Fundiária; Reurb. ABSTRACT This bibliographic research has as general objectives, in addition to interpreting the right to property in Brazil, to present, in summary, how its legislation could, historically, lead to an unfair result in terms of housing if it had not, as such, its right guaranteed by the Constitution Federal Government of 1988. It presents how the right to housing was promoted by legislation that aims, at the same time, to combat the secular deficiencies in the distribution of real estate in the country, adopting, therefore, the Urban Land Regularization (REURB), defining a property registry in irregular situation. This regularization, supported by Federal Law No. 13,465 of 2017, in order to promote a legal obtaining of ownership to the recognized owner of the property through REURB, making it possible to guarantee the right to property and the Social Function of Property exercised by its occupant. This guarantees the aspect of human dignity by guaranteeing the right to housing and property, enabling the acquired right to register properties, stimulated by REURB, promoting economic and social repercussions and other results that can be seen as positive. or negative at present, requiring careful control as to the integrity of the legislation. As for the economic gains, they can be obtained with the collection of taxes by the municipality, the State and the Union, which already justifies urban land regularization in the municipalities, thus promoting considerable and positive regional economic movement through the reform of regularized properties. Finally, this assessment of the taxes collected recognizes the possibility of significant social gains that will certainly promote improvements in urban infrastructure and, consequently, in the population's quality of life. Keywords: Real Estate Regularization; Land regularization; Reurb. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 9 1 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E DIREITO À PROPRIEDADE ..................... 11 2 A LEI FEDERAL N° 13.465/2017 ....................................................................................... 13 3 REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA (REURB) ..................................................... 15 3.1 Modalidades de Regularização Fundiária Urbana – REURB ..................................... 17 3.2 Legitimados para requerer a Regularização Fundiária Urbana.................................. 17 3.3 Registro de Imóveis ........................................................................................................... 18 3.4 Possíveis Prejuízos da Regularização Fundiária ......................................................... 20 4 BENEFÍCIOS SOCIAIS E ECONÔMICOS DO REGISTRO DE IMÓVEIS NA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA .......................................................................... 22 CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 24 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 25 9 INTRODUÇÃO Diante do cenário atual e acontecimentos recentes relacionados aos problemas que envolvem tanto a situação de moradia como a não garantia de sua função social em relação à propriedade, coloca em evidência um grande problema no país, que se tratada falta de moradia. É impossível tratar aqui de outro assunto que não sejam políticas habitacionais. Assim como a falta de planejamento, também a falta de estrutura nos municípios originou uma irregular e mal planejada urbanização, caracterizada por ocupações irregulares, insalubres, áreas de preservação permanente invadidas e comprometidas, quando não destruídas, superpopulação carente em microrregiões, violência, desemprego – ou trabalho informal irregular. Segundo levantamento do Ministério do Desenvolvimento Regional, encontramos no país 50% dos imóveis em alguma condição irregular. O déficit habitacional brasileiro, segundo último levantamento feito pelo IBGE no ano de 2015 era de 7,757 milhões de moradias e 84% das famílias afetadas possuem renda inferior a três salários mínimos, agravando consideravelmente a situação da população que é afetada direta e indiretamente. Este é o retrato atual das cidades, um aglomerado de favelas, cortiços, bairros e loteamentos irregulares, onde abrigam a maior parte da população urbana. Em contrapartida com imóveis vazios, fechados, lacrados, aguardando a valorização comercial. Assim, quando se fala em regularização fundiária se entende sobre um processo englobando medidas ambientais, sociais e urbanísticas com a finalidade de viabilizar um caminho real à garantia do direito fundamental da moradia, disponibilizando a todos oportunidades e direitos à moradia digna por meio da titularidade da propriedade onde são ocupantes por assentamentos informais e clandestinos, compondo ocupação de áreas em desacordo com a legislação, sendo um instituto necessário em todas a cidades do país. Pesquisando a nova legislação fundiária que originou da lei da Medida Provisória 759 de 2016, a Lei nº 13.465 de 11 de julho de 2017, revogou a Lei nº 11.977 de 2009 apresentando, a partir de então, novas e mais flexíveis regras com intuito de favorecer quem busca a regularização fundiária urbana e rural. Entre as 10 flexibilidades existentes se apresentam desde uma maior facilidade no registro, com a dispensa de certidões e, inclusive, preferência para ocupantes atuais do imóvel, até a possibilidade de alienação de imóveis da União, inclusive a título gratuito àqueles menos favorecidos economicamente avaliados (art. 86). Porém, como todas as transformações apresentadas em lei, sempre há os que se sentem beneficiados e os que se sentem prejudicados, ocorrendo também com esta conversão, composto pela exigência em relação ao poder público de ter uma postura proativa no processo de regularização, simplificando e desburocratizando o processo. Diante disso foi ajuizada no STF a ação de inconstitucionalidade ADI 5771, na qual pede que a nova Lei seja suspensa em sua integralidade. Diante disso, a procuradoria geral da República solicita suspensão cautelar da integralidade dessa lei, justificando que pode ocorrer uma privatização em massa de bens públicos caso a lei seja mantida integralmente sem revisão ou avaliações. Portanto, se reconhece, nessa postura, a necessidade de revisão É preciso rever o conceito de propriedade pública como sendo propriedade da Administração Pública, como mostram as estatísticas muitas terras da União estão sem uso e pessoas não tem onde morar. Apesar dos bens da União serem impenhoráveis, conforme o art. 730 e 731 do CPC, e para serem alienados devem seguir os requisitos do Código Civil, artigos 98 a 103. A função social dessas propriedades e o interesse coletivo devem ser resguardados, como reza o art. 5º, incisos XXII e XXIII da nossa Carta Magma, ou seja o direito à propriedade está garantido desde que atenta a função social da propriedade, para garantir o direito individual é necessário que os direitos da coletividade também sejam respeitados. 11 1 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E DIREITO À PROPRIEDADE Descrever a função social da propriedade leva à performance de um conceito jurídico aberto, cujo interesse manifestado seja o pessoal, particular e individual à propriedade privada. Direito esse visado sem, contudo, que se perca o notório caráter individual de liberdade, de forma a revitalizá-la em pretenso desejo de conquista da igualdade social, direito esse instituído junto à propriedade, que irá se aproximar da forma concreta do indivíduo adquirir sua posse. Enfim, possuidor é o que tem, “de fato, o exercício dos poderes inerentes ao proprietário”,1 É necessário que se cumpra essa função social da propriedade, caracterizada pelo modo que o titular da mesma manifestará a materialização de sua posse. A função social difere o proprietário caracterizado pela posse do proprietário caracterizado pela condição de possuidor. Este, quando no exercício de sua condição para adquirir a propriedade, o fará pela função social da posse, e não simplesmente por exercer a posse, como o anterior. Quando se compreende essa função, identifica que a mesma se manifesta pelo âmbito da tutela da propriedade, deixando, assim, de encarar a posse como direito tendencialmente absoluto, constituindo-a por uma ação legal em situação jurídica subjetiva complexa, ou seja, uma condição composta por direitos e deveres, também ônus e obrigações. Uma vez que o possuidor se torna reconhecido “proprietário” pela legislação em função social, o mesmo tem o dever de utilizar sua “propriedade” no interesse social, não se tratando de um direito. Define-se que seja aquele que cumpre uma função – a função social – o dito “funcionário”, e, não um “dono” – não um “proprietário”. Isso posto, entende-se que aquele que se reconhece o proprietário por função social, uma vez que não cumpra essa condição de uso, não terá mais sua posse como objeto de proteção jurídica. Quer dizer que esse direito de propriedade deverá ser composto da função social, tendo os contratos regidos por esse princípio, abrangendo aproveitamento adequado e claramente racional dos recursos naturais, 1 Cód. Civil, art. 1196. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10655278/artigo-1196-da-lei-n- 10406-de-10-de-janeiro-de-2002. Acesso em: 20/07/2020. 12 englobando desde a preservação do meio ambiente, até a detalhada observância das disposições regulamentadoras das relações trabalhistas. Também, como característica da função social, é preciso que se componha uma exploração favorável ao bem estar dos proprietários e seus trabalhadores. Tendo tais requisitos sido cumpridos, estará atendida essa necessária situação jurídica do proprietário, proporcionando que todos que assim procedam tenham assegurados seus direitos. Diante da premissa de que “nem todo possuidor é proprietário”, se depara com a necessidade de coerente proteção do ordenamento, já que a função social complementa a própria ideia do direito, devendo ser encarada por sua função social da posse que se torna de direito a ser exercida pelo proprietário. Portanto, valendo-se da função social da propriedade, a posse exercida pelo então proprietário tem o mesmo valor que a posse exercida pelo possuidor. Porém, diante dos tribunais, a função social não reconhece o indivíduo com posse como proprietário, uma vez que o mesmo, por não ter o exercício da posse, não pode tê-la considerada em possíveis ações possessórias, uma vez que o objeto das referidas demandas será sempre a tutela da posse. Assim sendo, a função social da posse acaba por conflitar a advocacia em direitos reais. 13 2 A LEI FEDERAL N° 13.465/2017 Antes da referida lei, políticas públicas adotadas eram limitadas nesse segmento e, ainda, se compunham de obstáculos a aquisição de direitos dos ocupantes quanto ao acesso às propriedades ocupadas, uma vez não acompanharem o previsto nem pela Constituição Federal Brasileira de 1988, nem pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Porém,em nome da consolidação do direito à propriedade, a legislação brasileira consolida esse direito de forma a contrariar inclusive as reais características da situação nacional, visando a garantia da aquisição de propriedade através da posse. Essa condição se manifesta na Medida Provisória n° 759/16, quando define como prestação de serviços públicos à população de baixa renda, a proposta de permanência dos ocupantes nos locais onde convivem, ou seja, integram socialmente, independentemente da forma como essa ocupação se deu, o que, para a maioria, foi de forma de posse indevida.2 Nessa premissa, a lei oferece uma resolução extrajudicial de conflitos, composta pela cooperação entre Estado e cidadão, determina a concessão de direitos reais à mulher, garante o direito à moradia digna e a propriedade e, em detrimento a realidade do país, foca sua determinação nas funções sociais municipais e à propriedade e justiça na ocupação e no uso do solo. Quando se fala que fere a condição precária do país, não se questiona o direito à propriedade e à digna moradia, mas apresenta uma realidade que está aquém das condições materiais e sociais em atender a todos que vivem nessa condição de posseiros. Contudo, a Lei 13.465/17 traz princípios que não podem ser ignorados, como o princípio da sustentabilidade econômica, social e ambiental, bem como uma ordenação territorial voltada à ocupação eficiente e funcional do solo, conforme determinado em seu art. 9º, § 1º. 3 A Regularização Fundiária Urbana se legitima como proposta de regularização dos núcleos urbanos informais existentes até 22 de dezembro de 2 Medida Provisória n° 759/16 Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2016/Mpv/mpv759.htm. Acesso em 15/07/2020. 3 TARTUCE, F. A Lei da Regularização Fundiária (Lei 13.465/2017): análise inicial de suas principais repercussões para o direito de propriedade. Pensar-Revista de Ciências Jurídicas, v. 23, n. 3, 2018. 14 2016, conforme prescrito em seu art. 9º, § 1º, da Lei 13.465/2017, não incidindo, porém, aos núcleos informais que surgirem depois da emergência dessa nova legislação. 4 A referida lei ainda reconhece núcleos urbanos informais consolidados que podem ser destinados à moradia de seus ocupantes, independentemente de serem imóveis públicos, privados ou mistos, urbanos ou rurais, prevendo, assim, a legitimação de loteamentos, condomínios ou conjuntos habitacionais irregulares ou clandestinos. Tais disposições se aplicam aos imóveis rurais, porém tendo determinado que sua unidade imobiliária seja com área inferior à fração mínima de parcelamento prevista na Lei no 5.868/72. Uma inovação da Lei 13.465/17 é a que garante ao ocupante acompanhar o procedimento para alcançar a garantia dos seus direitos.5 4 Idem 5 _______________ Apelação APL 16347976 PR 1634797-6 – Acórdão TJ – Pr. Lei no 5.868/72. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/busca?q=Art.+8%2C+%22a%22+da+Lei+5868%2F72. Acesso em 20/07/2020. 15 3 REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA (REURB) Regularização Fundiária Urbana (REURB) se trata de uma ação do Estado que visa simplificar procedimentos legais a aquisição da propriedade. Num cenário social de moradias encontrado no país, com suas especificidades, torna necessário que se descreva claramente o objetivo desse processo de Regularização Fundiária, destacando sua garantia de função social da propriedade conjuntamente ao direito de moradia, no intuito de devida resolução de problemas provenientes de outras condições legais.6 Com isso se harmonizam direitos, de forma que um não intercorra como detrimento ao outro. Portanto, nesse cenário propriamente dito se propicia uma desburocratização da regularização fundiária focada no respeito à Constituição Federal de 1988. Assim, voltado especialmente à dignidade da pessoa humana, manifestado na constituição, se compreende mais claramente esse direito à propriedade manifestado objetivamente na Lei 13.465/201710.7 Com a REURB se faz valer a preconização da Constituição do direito à moradia, à propriedade, por tratarem-se de direitos fundamentais e componentes dos direitos humanos, conforme acordo realizado por meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Para se concretizar essa legitimação, é proporcionado ao ocupante a oportunidade inclusive de acompanhar o andamento ativamente ao ponto de conseguir cobrar seus direitos. O conjunto de medidas que definem a REURB com seus procedimentos administrativos e jurídicos, envolvendo esferas ambientais e/ou sociais e urbanísticos, visando sua incorporação em núcleos urbanos informais, valendo-se do ordenamento territorial urbano que oferece a possibilidade de promoção à titulação de seus ocupantes. Isso se fortalece pelos artigo 13 da Lei 13.465/17, em seus incisos I e II, quando enuncia compreendê-la especificamente em duas modalidades, sendo a primeira a que reconhece a REURB de Interesse Social (REURB-S), definida como a regularização fundiária aplicável aos núcleos urbanos 6 REURB Regularização Fundiária Urbana e a Lei n° 13.465, de 2017. Disponível em: https://antigo.mdr.gov.br/images/stories/ArquivosSNH/ArquivosPDF/Publicacoes/cartilha_reurb.pdf. Acesso em 05/07/2020. 7 BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n° 13.465/2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13465.htm>. Brasília, 2017. Acesso em: agosto/2020. 16 informais ocupados, predominantemente, por população de baixa renda, assim declarados em ato do Poder Executivo municipal, e, a segunda, trata da REURB num Interesse Específico (REURB-E), aplicável aos núcleos urbanos informais ocupados por população não qualificada na primeira modalidade.8 Seja a primeira, seja a segunda modalidade levadas em questão, poucos são os pontos que as diferenciam conceitualmente. Inclusive se levar em conta a definição legal objetiva que gere uma identificação sobre a população “público alvo” desta questão, que deverá identifica-la como de baixa renda, sugerindo uma lei municipal para definir essa identificação num melhor contorno. Outra exigência destaca-se em relação ao tamanho dos lotes, definidos por exigências como uso público, mas que, pela Lei n° 13.465, alcançou maior flexibilidade, tendo maior flexibilização nessas regras em ambas as modalidades. Também, em se tratando do projeto urbanístico de regularização fundiária, a implementação dessa regularização se encontra prevista por etapas, o que também beneficia o ocupante de determinadas áreas, conforme art. 36, § 2°10. Portanto, cabe à Lei Municipal prever e determinar tal parcelamento com o intuito de não os permitir demasiadamente extensos. Também é importante levar em questão, neste quesito, que alguns parcelamentos se mostram inteiramente regularizados se valendo de ações isoladas de usucapião. Neste caso, a importância está pela existência de lotes esparsos, que, por sua vez, não comporiam uma única planta. Segundo o artigo 10 da mesma Lei, cabe à REURB identificar a existência de núcleos urbanos informais que possam ser regularizados a fim de organizá-los, assegurando a prestação de serviços públicos aos seus ocupantes, seja criando unidades imobiliárias compatíveis com o ordenamento territorial urbano, seja constituindo-os como direitos em favor dos seus ocupantes, que poderão se valer do acesso à terra urbanizada se comprovada sua condição social de baixa renda. Somados a esses objetivos, a REURB se obriga também a estimular resoluções extrajudicial de conflitos, garantindo direito social à moradia digna e às condições de vida adequadas. Quando esse objetivo se define de forma clara, a função social da REURB se define também por prevenir e desestimular formação de novos núcleos urbanos informais. 8 Idem 17Enfim, com a resolução de conflitos e, consequentemente, solução de problemas relacionados a ocupantes de áreas sem um título que lhe garantiria segurança jurídica para ocupação, a REURB apresenta soluções que adequem os parcelamentos à cidade regularizada com medidas urbanísticas, como a implantação de loteamentos sem atendimento das normas legais e realocação de moradias em face de estarem em locais sujeitos a desmoronamento e enchentes. Tais medidas ambientais visam superar problemas de assentamentos implantados em desacordo com a legislação urbana e de proteção ao meio ambiente. 3.1 Modalidades de Regularização Fundiária Urbana – REURB O art. 13 da Lei nº 13.465/2017 apresentam duas modalidades para a REURB, sendo uma de interesse social (Reurb-S) e outra de interesse específico (Reurb-E).9 Conforme disposto nesse artigo, a Reurb-S se aplica em núcleos urbanos informais, cuja área é ocupada predominantemente por uma população de baixa renda, declarados em ato do Poder Executivo Municipal, beneficiados pela isenção de custas e emolumentos. O art, 13 da Lei 13.465/2017“ destaca, a esse respeito, entre outras disposições, o registro da legitimação fundiária e o fornecimento de certidões de registro para os atos previstos neste artigo, desde que conduzam, em si, a função social do direito à propriedade.10 3.2 Legitimados para requerer a Regularização Fundiária Urbana A O artigo 14, por sua vez, dispõe para legitimar o requerimento à Reurb a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, diretamente ou por meio de entidades da administração pública indireta, bem como seus beneficiários, individual ou coletivamente, diretamente ou por meio de cooperativas habitacionais, associações de moradores, fundações, organizações sociais, organizações da sociedade civil de interesse público ou outras associações civis que tenham por 9 Idem 10 Idem 18 finalidade atividades nas áreas de desenvolvimento urbano ou regularização fundiária urbana, entre outros. A Reurb pode acontecer em fases, por etapas que atinjam primeiramente as áreas que não englobem áreas ambientalmente protegidas (art. 12, § 3º). Seja para áreas protegidas, seja para imóveis anteriores à 19 de dezembro de 1979 (Lei 6.766/1979), onde não é necessária a apresentação de qualquer estudo técnico (art. 69, § 2º), será o próprio município da área em questão que deverá realizar os apropriados estudos técnicos.11 3.3 Registro de Imóveis Para titular os ocupantes dos imóveis, tornando-os proprietários, é necessário que se transfira os direitos reais com o Registro de Imóveis. Se comparada à legislação anterior, destaca-se que tal regularização fundiária acontecia em fases, gradativamente, sendo o parcelamento do solo a primeira e a titulação dos ocupantes a segunda fase. Porém, na Lei 13.465/17 isso mudou-se por ter sido condensado em um único documento, eliminando as duas fases de anteriormente. Quando se aprofunda na pesquisa sobre a regularização fundiária, compreende-se que a mesma não objetiva exclusivamente regularizar a titulação dos ocupantes, apesar de ser um tema valorizado junto à evolução legislativa, mas sim traz também o concreto objetivo de verificar questões ambientais que envolvam essas ocupações, proporcionando considerável infraestrutura urbanística em seus núcleos habitacionais. As infraestruturas necessárias e cabíveis são definidas por estudos que constatarão não somente as obras necessárias para determinados locais, como também a viabilidade de os executar. Tratam-se, essas obras, do escoamento de águas pluviais, bem como iluminação pública, energia elétrica, limpeza urbana, entre outros. O direito à propriedade, contando com a proteção de seus possuidores desfavorecidos, necessita de alguns pormenores a serem observados para que possa ser concretizado. Destaca-se, entre eles, a “primeira averbação de construção residencial (até 70 m2)” 11 Idem 19 Finalmente, tanto em se tratando da REURB-S quanto da REURB-E, o interessado no registro de sua posse à propriedade não tem obrigatoriedade de demonstrar o pagamento de tributos nem das penalidades tributárias, sendo, nesta condição, “vedado ao oficial de registro de imóveis exigir sua comprovação para que siga ao procedimento de regularização, sob as penas da lei” (art. 13, §§ 2º e 6º, da Lei 13.465/2017).12 Como se compreende, estamos diante de poderosos instrumentos caracterizadores da moradia digna quando nos deparamos à legitimação fundiária e de posse, ao convertê-la em propriedade. Para que se concretize o direito à propriedade ou, no mínimo, o direito à posse, o registro de imóveis é indispensável, uma vez que não é(são) dono(s) aquele(s) que não registra(m) o imóvel. Também, para transmissão do imóvel, é crucial uma escritura pública de compra e venda registrada no fólio real. Registrar possibilita negócios jurídicos em geral, onde temos abrangidos contratos de compra e venda, locação, comodato entre outros, a fim de que aquele que compra conheça a existência de possível ônus real, onerando o imóvel desejado quando do pedido da certidão. Registro se conceitua pelo ato de registrar documentalmente, ação registral feita pelo registrador em documento oficial e legal expondo sinteticamente dados para transmissão da titularidade de um direito real de um imóvel como, por exemplo, num registro de escrituras de compra e venda. Dessa forma, os atos jurídicos que ingressam no fólio real imobiliário conferem eficácia erga omnes, publicidade e segurança jurídica aos titulares de bens imóveis, mormente a sua importância para a consolidação de direitos reais e também para a manutenção e viabilidade do sistema capitalista presente no Brasil. Também, quanto ao Direito das Sucessões, a discriminação dos ônus reais e modificações na natureza jurídica da relação entre particulares torna-se importante subsídio que futuramente facilitará a partilha da herança, quando o(s) herdeiro(s) em questão poderá(ão) receber a parte que lhe é devidamente justa por herança, sendo a propriedade em questão repartida em seu ônus igualmente entre os herdeiros. 12 Idem 20 O Ofício de Registro de Imóveis pode, inclusive, fornecer a certidão negativa de ônus diante do ato da negociação de um imóvel, comprovando a idoneidade de pessoas físicas e/ou jurídicas que estejam em negociação com o imóvel. Atualmente se repercute social e economicamente em se considerando o registro de imóveis, uma vez que, dentre vários meios, diversos benefícios podem ser alcançados pela regularização fundiária urbana (REURB). Para garantir o direito à propriedade, normas jurídicas e políticas públicas são utilizadas no processo de aquisição do imóvel pela REURB, quando desburocratiza para facilitar tal regularização com o registro de imóveis dos núcleos urbanos informais. 3.4 Possíveis Prejuízos da Regularização Fundiária Quando o Procurador Geral da República relata que os bens públicos vão se tornar privados não está garantindo os direitos da propriedade, não está garantindo a efetiva utilização desses imóveis, o direito à moradia nas áreas públicas ocupadas não depende mais da discricionariedade da Administração Pública e sim como um direito irrenunciável da moradia, como trata o art. 183 da Constituição Federal.13 Muito pelo contrário, diante do cenário atual e a crise que afeta os cofres públicos a alienação de imóveis da União vai aumentar a receita estadual, municipal e federal, pois além de haver a possibilidade de pagamentos pelos imóveis adquiridos, ainda, vai diminuir os gastos de imóveis federais abandonados e subutilizados. Além disso a União tem custos altíssimos com ações de reintegração de posse de imóveis que estão sobre posse clandestina e irregular. A suspensão integral da Lei 13.465 de 2017 acarretaria em mais prejuízos a regularizaçãofundiária, desde a vigência da nova Lei a regularização fundiária avançou altos índices. Assim, os objetivos da Regularização Fundiária se destacam no art. 10 da Lei nº 13.465/2017, definindo a importância de identificar os núcleos urbanos informais para que possam ser regularizados, determinando que se crie unidades imobiliárias compatíveis ao ordenamento territorial urbano, para não caírem em discrepantes amontoados sem mínimas condições em infraestrutura habitacional. Entre outros, 13 BRASIL. Constituição Federal de 1988. Artigo 13°. Dos direitos e garantias fundamentais. Dos direitos sociais. Disponível em: < http://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_17.03.2015/art_6_.asp>. Acesso em: agosto/2020. 21 também visa, principalmente, a promoção da integração social e, consequentemente, geração de emprego e renda. Dentre a diversidade de objetivos com foco social, se destaca, inclusive, o estímulo à resolução de conflitos extrajudicialmente. Assim, entre outros, vai se compondo a realidade da importância de uma consistente Regularização Fiduciária, aquela que deve se manifestar como recurso com medidas jurídicas, ambientais, sociais e urbanas a fim de atuar como instrumento de ação fundamental para atuação em áreas de habitação irregulares.14 Quando se avalia com olhar nos possíveis prejuízos, acaba por considerar insignificativas as possíveis taxas e impostos recolhidos que proporcionarão essa regularização fiduciária. Concluindo, define-se como a regularização fundiária urbana, uma vez ligada ao registro de imóveis, proporciona consideráveis ganhos à sociedade desde que se considere a amplitude do tema e que proporcionará, certamente, resultados positivos para o desenvolvimento social urbano em seus campos econômicos, sociais e de direito. 14 BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n° 13.465/2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13465.htm>. Brasília, 2017. Acesso em: agosto/2020. 22 4 BENEFÍCIOS SOCIAIS E ECONÔMICOS DO REGISTRO DE IMÓVEIS NA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA Ao contrário do olhar negativo sobre a regularização fundiária, a primeira revisão a ser feita em prol aos possíveis benefícios sociais e econômicos do registro de imóveis, aqui se reconhece a considerável importância do recebimento das taxas e impostos recolhidos, proporcionados por essa regularização fiduciária, uma vez que serão certamente reinvestidos como benefícios de onde foram recolhidos, sendo convertidos em ganhos não somente na área social, mas também na área de direito e econômica do Estado em geral. A maior representação de resultados positivos em comunidades urbanas estão no retorno dos impostos como benefício à própria população, e o registro de imóveis se destaca pela função de promover essa função social provinda da propriedade regularizada, uma vez que na falta dessa regularização, nem mesmo um parâmetro legal para cobrança de impostos seria possível. Portanto, a regularização fundiária urbana e o registro de imóveis devem promover ganhos econômicos para os municípios, ganhos esses que acontecerão concomitante ao recolhimento de tributos, refletindo na economia do município, do estado e, consequentemente, do país. Um imposto gerado por meio do registro de imóveis regularizados é o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).15 Além disso, há arrecadação de impostos por meio de emissão de alvarás para a autorização de funcionamento de negócios. Por meio do “Habite-se” é realizada a entrega de qualquer empreendimento por meio de certidão emitida pelas prefeituras em eventos de regularização, contando com vistorias do projeto de construção, atestados de construções adequadas, que apresentarão a legitimidade do imóvel como uma construção amparada por todas as exigências legais, definindo-o como regularizado e propício à moradia, ou seja, apto à habitação. Com esse foco social, captam-se necessários recursos (impostos) nesses processos, destacando-se, claramente, como benefícios sociais e econômicos do registro de imóveis na regularização fundiária urbana. Apesar de conflitante quanto ao ser positivo ou não, a regularização fundiária urbana nos municípios aplicada correta e justamente promoverá movimentação 15 Para que serve o IPTU? Mercado Imobiliário. Disponível em: https://direitosbrasil.com/para-que-serve-o- iptu/. Acesso em Agosto/2020. 23 econômica regional seja com a reformulação dos imóveis regularizados, seja com o surgimento indireto de postos de trabalho, movidos especialmente pelo aumento no consumo de produtos da construção civil. Até mesmo como giro considerável da economia, uma vez que imóveis regularizados ainda são beneficiados em sua construção ou reforma por financiamentos oferecidos, por exemplo, pela Caixa Econômica Federal, proporcionando geração de importantes emolumentos ao Estado. No quesito de fatores positivos da regularização fiduciária se encontra ainda a possibilidade dos agora proprietários poderem comercializá-los com segurança legal e, consequentemente, obter preço mais justo e digo. Apesar de, inicialmente, não haver lucros para os cartórios no caso dessa regularização, isso pode ser compensado a longo prazo, devido aumento significativo do número de imóveis registrados por eles, provenientes de averbações, registros de compra e venda, transferências, inclusive hipoteca, entre outros. Como positivo também deve ser citada a melhoria da qualidade de vida da população dos centros urbanos ao conquistarem estabilidade jurídica aos bens, minimizando consequentemente efeitos da desigualdade na distribuição de propriedade herdadas desde o período histórico do Brasil Colônia. Tais ganhos pecuniários dos tributos, inclusive, se convertem em produtos e serviços que refletirão na promoção do bem estar geral da população. O procedimento de registros também gera impactos sociais positivos com a promoção da qualidade de vida da população ao proporcionar melhorias na infraestrutura urbana com a implementação de serviços básicos necessários. O ingresso no fólio real dos documentos protocolados e aquisição de eficácia “erga omnes” – característica da constituição de direitos reais em cartório de registro de imóveis – promovem ganhos na área de direito com a promoção da segurança jurídica, proporcionada pelo registro oficial. Há, ainda, a consonância entre as esferas de direito e a social, uma vez que o registro de imóveis e a função social da propriedade abrangem toda a legislação vigente para atender às demandas dos cidadãos brasileiros. Enfim, em síntese, são muitas as possibilidades de benefícios sociais e econômicos proporcionada pelo registro de imóveis na regularização fundiária urbana, que devem ser estudados e promovidos conforme são interpretados nos diversos segmentos sociais urbanos. 24 CONCLUSÃO A importância de explanar o tema em questão neste artigo, mesmo que numa abordagem sintetizada, porém concisa, é tornar-se um subsídio de promoção à função social da propriedade. Quando se fala dessa função social, se fala de função definida e amparada pelos direitos internacionais (obtidos por meio da Organização das Nações Unidas (ONU) através da Declaração Universal dos Direitos Humanos) e dos nacionais (Constituição Federal de 1988), direitos esses com respaldo legal aos cidadãos do país desde 1822, ante a Proclamação da República, que definiu o registro dos bens imóveis em cartório como necessário e essencial. Por meio deste mecanismo se obtém ganhos em diversas esferas, principalmente as mais significativas social e economicamente avaliando. Taxas e impostos recolhidos, proporcionados por essa regularização fiduciária, são reinvestidos como benefícios de onde foram recolhidos, sendo convertidosem ganhos não somente na área social, mas também na área de direito e econômica do Estado em geral. A Regularização fiduciária tem a função de promover bem-estar para a população, contando com a estabilidade jurídica dos bens imóveis, aquecimento da economia local e promoção da saúde e da educação. De forma geral, os ganhos econômicos e sociais da regularização de imóveis são distribuídos, em suas devidas proporções, para a população, para o setor privado, para o município, para o Estado e para a União. 25 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA _______________ Apelação APL 16347976 PR 1634797-6 – Acórdão TJ – Pr. Lei no 5.868/72. 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