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DOCÊNCIA EM SAÚDE CARNAVAL: TURISMO E NEGÓCIOS 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842c Carnaval: turismo e negócios / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 111p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-234-3 1. Carnaval – História. I. Portal Educação. II. Título. CDD 394.250981 2 SUMÁRIO 1 ORIGEM DO CARNAVAL .......................................................................................................... 4 2 PERÍODO DE DURAÇÃO DO CARNAVAL.............................................................................. 12 3 O CARNAVAL NO BRASIL ...................................................................................................... 15 3.1 Entrudo ..................................................................................................................................... 18 3.2 Zé-Pereira ................................................................................................................................. 21 3.3 Bailes ........................................................................................................................................ 23 3.4 Fantasias e Máscaras .............................................................................................................. 26 3.5 Corso ........................................................................................................................................ 29 3.6 Cordões, Ranchos e Blocos ................................................................................................... 31 3.7 As Grandes Sociedades .......................................................................................................... 33 3.8 As Escolas de Samba .............................................................................................................. 36 3.9 O Carnaval na Bahia ................................................................................................................ 41 3.10 O Carnaval de Pernambuco-Recife ........................................................................................ 42 4 MONTANDO A ESCOLA DE SAMBA ...................................................................................... 45 4.1 Primeiras Providências para a Montagem da Escola: Contratação do Carnavalesco e a Escolha do Enredo ......................................................................................................................... 45 4.2 Compondo o Samba Enredo................................................................................................... 46 4.3 Elaborando os Figurinos, Pesquisando os Materiais e Executando as Peças Pilotos ..... 47 4.4 Reproduzindo as Fantasias nos Ateliês ................................................................................ 49 4.5 Elaborando os Carros Alegóricos e o Inicio o Trabalho no Barracão ................................ 50 4.6 Lançando o CD Oficial Contendo os Sambas Enredos, o Início dos Ensaios nas Quadras, o Excesso de Trabalho e a Geração de Empregos ......................................................... 52 4.7 Convivendo com as Adversidades Culturais, a Inclusão Social e os Trabalhos na Reta Final ............................................................................................................................................ 54 3 4.8 Transportando os Carros Alegóricos do Barracão para a Concentração .......................... 60 4.9 É Chegado o Grande Dia do Desfile Oficial ........................................................................... 62 5 O JULGAMENTO DOS QUESITOS DA ESCOLA DE SAMBA ................................................ 69 5.1 Enredo ..................................................................................................................................... 71 5.2 Samba Enredo ......................................................................................................................... 75 5.3 Bateria ...................................................................................................................................... 79 5.4 Fantasia .................................................................................................................................... 82 5.5 Alegorias e Adereços .............................................................................................................. 85 5.6 Mestre-Sala e Porta-Bandeira ................................................................................................. 91 5.7 Comissão de Frente ................................................................................................................ 94 5.8 Evolução ................................................................................................................................... 99 5.9 Harmonia ................................................................................................................................ 102 5.10 Conjunto .................................................................................................................................. 104 6 FINAL DO DESFILE NA DISPERSÃO ................................................................................... 106 7 O CARNAVAL COMO TURISMO E NEGÓCIO ....................................................................... 108 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................ 111 REFERENCIAS .................................................................................................................................. 114 4 1 ORIGEM DO CARNAVAL Conhecida mundialmente como uma das maiores festas popular do mundo e, sem dúvida alguma no Brasil a maior e que sobrevive e se renova ao tempo e espaço, o carnaval ainda possui as suas origens indefinidas, sendo objeto de estudos de muitos pesquisadores, no sentido de remontar a sua origem à antiguidade, aos mitos e ritos egípcios, gregos e romanos, sendo assim, a história do Carnaval começa há mais de quatro mil anos antes de Cristo, com festas promovidas no antigo Egito, como as festas de culto a Ísis. Figura 01: Fotos do final do século XIX e início do século XX. Fonte: Bem Paraná. Então, desde essa época as pessoas já pintavam os rostos, dançavam e bebiam. Porém, há a necessidade de se considerar que muitas outras manifestações populares possuíam origens em comum, no entanto com conceitos diferenciados, conforme cita Felipe Ferreira em sua obra denominada O Livro de Ouro do Carnaval Brasileiro: 5 “(...). É claro que a festa carnavalesca é a maior celebração de felicidade do planeta. Algo que nós, brasileiros, conhecemos como poucos outros povos, alias. Resta também pouca dúvida com relação à ligação entre as celebrações festivas das antigas civilizações e as loucuras da folia contemporânea. Apesar disso, não dá pra se afirmar que já existia Carnaval no Antigo Egito ou nas civilizações greco-romanas, como muita genteboa já escreveu por aí. Exemplificando melhor: as festas em homenagem à deusa Ísis egípcia ou ao deus Baco romano, entre outras tantas, não são festas carnavalescas nem precursoras somente do Carnaval, mas sim de todos os tipos de festas públicas populares que o mundo conheceu depois delas, incluindo as festas juninas, os rodeios e até mesmo o Natal ou Halloween. Ou seja, muitas dessas festas possuem uma origem em comum, mas não são necessariamente Carnavais, do mesmo modo que o homem e o chimpanzé possuem uma mesma origem mas não são, obviamente, a mesma coisa. (FERREIRA, 2004, p.16-17)”. Contudo, não podemos desprezar as considerações efetuadas por diversos estudiosos no assunto, que definem a origem do carnaval como obscura e indefinida, nesse sentido, sendo possível que as suas raízes se encontrem principalmente nos eventos relacionados aos acontecimentos religiosos primitivos e rituais agrários, na época da colheita de grandes safras, pagão, que homenageava o início do ano novo e o ressurgimento da natureza, por meio de comemorações dos cultos rituais, em louvação ao afastamento das coisas, mas que prejudicava o processo do cotidiano como: o inverno, as enchentes, as tempestades, etc. Não obstante, esse mesmo povo homenageava o que entendia como o bem ofertado pela natureza, como por exemplo: o término das enchentes, a chegada da primavera, o pôr do sol, etc. Portanto, tais homenagens eram realizadas em forma de cantos e danças em torno de uma fogueira, com o objetivo de espantar as forças negativas ocultas que prejudicavam o plantio. Dentre esses cultos, existem versões ditas que as primeiras manifestações ocorreram no Antigo Egito, com a procissão do boi Ápis que consistia numa procissão em que um boi era enfeitado, o seu chifre pintado e seu corpo envolvia-se fitas coloridas, assim, percorria as ruas da cidade com uma criança sobre o seu lombo, sendo assim, o mesmo era seguido por grupo de pessoas fantasiadas e mascaradas. Essa farra durava sete dias, e nessas comemorações havia muita dança, canto, banquetes e diversão, era literalmente a festa para a carne. Também nesse período havia a celebração das sacéias babilônicas, que duravam em torno de cinco dias e que era 6 caracterizada pela inversão do papel social e de seus valores. Sendo assim, os escravos é quem davam as ordens aos seus donos e um prisioneiro era escolhido para exercer o papel de rei. Então, podemos concluir que, ainda que, de forma velada e indiretamente já se exercia uma espécie de punição e penitência aos prazeres da carne como a luxúria, o sexo, a comilança a bebedeira, etc., porém, com um detalhe, o verdadeiro rei oferecia como holocausto o escravo nas sacéias babilônicas, conforme afirma FERREIRA (2004, p. 20): “(...) Durante o período festivo, o novo “rei” exibia-se no trono, comia as mais finas iguarias e dormia com as esposas reais. No último dia o escolhido era despojado de suas roupas, chicoteado e, por fim enforcado. Um triste fim que marcava o retorno da sociedade às regras normais de conduta” Também existiam as denominadas festas pagãs, como o culto à deusa Ísis durante a primavera, que ultrapassou as fronteiras pela bacia do Mediterrâneo no mundo antigo. A deusa Ísis como uma figura paradigmática de mãe, sendo considerada protetora das crianças, e era invocada a deusa da castidade para superar grandes e pequenas tragédias do dia-a-dia, sendo assim, essa comemoração não se configura somente em uma manifestação de bacanais e orgias, conforme afirma Hiran Araújo em seu livro denominado Carnaval – Seis Milênios de História (2003, p. 4). Assim, a cidade toda lotava com o povo aparecendo em massa para ver a procissão e os mesmos se disfarçavam com trajes diversos de soldados, caçadores, gladiadores, sábios, filósofos, mestre, ou mesmo travestidos de mulheres, na seqüência linear da procissão vinham os sacerdotes, os músicos e o povo em geral. E o principal foco do rito consistia em levar uma espécie de maquete de navio sobre rodas e lançá-la ao mar como oferenda à deusa, que também era tida como a protetora dos navegadores. Essa festa era denominada de Navigium Isidis (o Barco Lançado) ou ploiaphesia (Festa do Barco Lançado). Outra prática comum era a de incorporar charretes em forma de pequenos navios às procissões em outras comemorações, como as Pantenéias (espécie de sistema filosófico que 7 identifica à divindade com o mundo e segundo o qual Deus é o conjunto de tudo o que existe), que aconteciam em Atenas, conforme FERREIRA (2004, p.19), onde também encontramos a seguinte citação: “(...). É a presença, nas festas, desses pequenos barcos com rodas que acabou por fazer com que alguns pesquisadores considerassem tais celebrações como um exemplo de folia carnavalesca da Antiguidade, ao imaginar que o nome “Carnaval” teria origem em carrus navalis, ou seja, um carro em forma de navio. Hipótese que, anos mais tarde, foi suplantada por outra teoria que associa a palavra Carnaval à carne vale, ou “adeus carne” (...)”. Contudo, a figura do arquétipo do rei Momo é uma das formas de Dionísio, conhecido como o deus Baco (que num primeiro momento possui esse apelido por ser romano e num segundo momento ele é morto e renasce da coxa de Zeus, para ganhar o status de grego, pois o grego não aceitava interferências de outras culturas em sua cultura), patrono do vinho e do seu cultivo, logo, faz remontar a origem do carnaval para a Grécia arcaica, para os festejos que honravam a colheita. E se comemorava essa prática greco-romana na Antiguidade, contextualizada nas transgressões, exageros e inversões de regras sociais, isso tudo com muita alegria, comilança e bebedeira, sendo, portanto, na mais ampla concepção da palavra uma verdadeira farra ou bagunça. Assim sendo, as principais dessas comemorações além das dionisíacas acima mencionadas, que eram celebradas no mês de março, as chamadas calendas de março (primeiro dia de cada mês romano, na antiguidade), que marcavam o início do ano da Antiga Roma, essas festas dionisíacas festejavam o deus Dionísio e eram caracterizadas por procissões e mascarados cobertos de peles e galhos, disfarçados de animais. Existiam também as festas denominadas de lupercais e as saturnais. (FERREIRA, 2004, p.19). As festas lupercais aconteciam no mês de fevereiro e eram realizadas em honra ao deus Pã (também conhecido como Luperco), protetor dos rebanhos, festa essa caracterizada por sacerdotes do deus e segundo o seu rito, consistia em correrem seminus por toda cidade batendo galhos de árvores em quem estivessem em seu caminho, tal açoite se dava, no sentido de se acreditar que tal ato, trazia a fecundidade às mulheres mais jovens e facilitava o parto às 8 grávidas. Diante disso, seguia-se um grande cortejo com a presença de charretes enfeitadas e pessoas mascaradas em que reinava uma grande licenciosidade. (FERREIRA, 2004, p.19). Já as comemorações saturnais, aconteciam aos redores de Roma, em meados de dezembro, cujo objetivo principal era o de celebrar o fim do ano lunar, todo seu contexto festivo era dedicado a Saturno, conhecido como o deus da agricultura e das sementes, assim, este divertimento relacionava cantos e danças com trocas de presentes e grandes comilanças e bebedeiras. (FERREIRA, 2004, p.20). Sendo assim, não é apenas uma coincidência ou por mero acaso que essas festas que se davam aos deuses Saturno, Luperco e Dionísio acontecerem entre os meses de dezembro e março, período em que hoje brincamos o carnaval, mesmo porque era o período de término de um ciclo solar e o início de um novo tempo, conforme afirma FERREIRA (2004, p.20). Na Era Cristã, a Igreja começou a tentar conter esses excessos e essas inversões dos padrões tidos como “normais” do povo nestas festas pagãs. Uma solução foi à inclusão do período momesco no calendário religioso. Os cristãoscostumavam iniciar as comemorações do Carnaval na época de Natal, Ano Novo e festa de Reis. Contudo, estas se acentuavam no período que antecedia a terça-feira gorda (assim chamada porque era o último dia em que os cristãos comiam carne antes do jejum da quaresma, no qual também havia, tradicionalmente, a abstinência de sexo e até mesmo das diversões, como circo, teatro ou festas). Antecedendo, portanto, a Quaresma, o Carnaval ficou sendo uma festa que termina em penitência na quarta feira de cinzas. Sendo assim, a própria definição do termo carnaval, como já relatamos neste trabalho, é de origem incerta e indefinida, no entanto já era encontrado no latim medieval, como carnem levare ou carnelevarium, palavras estas, dos séculos XI e XII, que significava terça-feira gorda a véspera da quarta-feira de cinzas, ou seja, à hora em que começava a abstinência da carne durante os quarenta dias, relembrando os dias de jejum e provações que Jesus Cristo passou no deserto, sendo que no passado, como mencionado acima os fiéis da igreja católica eram proibidos, inclusive de comerem carnes. 9 Essa história pode classificá-la assim como “oficial”, foi proclamado a partir de uma deliberação do papa Gregório I no ano de 604. Portanto, os fiéis deveriam se abstiver da vida normal numa determinada época do ano para se dedicarem única e exclusivamente as questões espirituais, no sentido de purificação e libertação da alma dos pecados carnais, oriundos das franquezas espirituais, também dos excessos e das inversões dos valores sociais. Há de se frisar que o termo quaresma ou quaresmeira surge desse evento conforme cita FERREIRA (2004, p.24): “Por causa disso o período ficou com o nome de “quadragésima” ou “quaresma”. A usança foi-se espelhando, até que no ano de 1.091, época do papa Urbano II, foi realizada uma reunião dos representantes da Igreja – chamada de Símbolo de Benevento – na qual se decidiu, entre muitas outras coisas, que estava na hora de se escolher a data oficial para o período da Quaresma. O primeiro dessa seqüência de dias passa a ser chamado de Quarta-feira de Cinzas, em vista do costume, que até hoje perdura, de se marcar a testa dos fiéis com uma cruz feita com as cinzas de uma fogueira, em sinal de penitência”. Daí ser encontrada em nossos dicionários a definição para o termo carnaval como os três dias que antecedem a quarta-feira de cinzas, conforme o Minidicionário Ediouro, (1999, p.145) define-se: carnaval s.m. 1. Os três dias que antecedem a quarta-feira de cinzas. 2. A festa popular que se realiza nesse dia. Já no Pequeno Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa Ilustrado: carnaval s.m. 1. Os três dias que antecedem a quarta-feira de cinzas; entrudo. Encontramos ainda, na Nova Enciclopédia Barsa (1996, p. 204): Carnaval. Período de festa popular compreendido, segundo o calendário cristão, entre o dia de Reis e a Quaresma, com destaque para os três dias que precedem à quarta-feira de cinzas. Podemos, então, definir que é a partir dessa deliberação da igreja católica é que o carnaval se firma, no sentido de conceito e da definição da data oficial, bem como o evento do ritual das cinzas, simbolicamente no sentido de concretizar como um ato de queimar as impurezas dos pecados gerados pela carne, por meio da abstinência e dos sacrifícios carnais, libertando o espírito dos prazeres da carne, como a farra, a bebedeira, a comilança e o sexo. 10 Remetendo assim, aos quarenta dias e as quarenta noites que Jesus Cristo foi tentado e perseguido pelo diabo no deserto. No tocante as máscaras mais famosas e tradicionais que sobrevivem ao tempo e ao espaço são as confeccionadas em Veneza e Florença, muito utilizadas pelas damas da nobreza no século XVIII, no sentido de se caracterizar como o símbolo máximo da sedução. Outra curiosidade que aparece nessa época e que se tornaram os três grandes ícones românticos do carnaval são os personagens do Carnaval: a Colombina, o Pierrô e o Arlequim, que tem origem na Comédia Italiana, companhia de atores que se instalou na França para difundir a Commedia dell'Arte. Assim sendo, o discurso poético se dá em torno do Pierrô que é uma figura ingênua, sentimental e romântica, por sua vez o mesmo é apaixonado pela Colombina, que era uma caricatura das antigas criadas de quarto, sedutoras e volúveis. Ela é a amante de Arlequim, rival do Pierrô, que representa o palhaço farsante e cômico, segundo Monique Cardoso, em seu artigo “História do Carnaval”. Figura 02: O carnaval de Veneza reúne, até hoje, os mais elegantes mascarados da Europa. Fonte: http://www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/57HistCarn.htm 11 Na Europa um dos principais rituais de Carnaval foi o Entrudo. A palavra vem do latim e significa início, começo, a abertura da Quaresma. Existe desde 590 d.C., quando o carnaval cristão foi oficializado. O povo comemorava comendo e bebendo para compensar o jejum. Mas, aos poucos, o ritual foi se tornando bruto e grosseiro e o máximo de sua violência e falta de respeito aconteceu em Portugal, nos séculos XVII e XVIII. Homens e mulheres atiravam água suja e ovos das janelas dos velhos sobrados e balcões. Nas ruas havia guerra de laranjas podres e restos de comida e se cometia todo tipo de abusos e atrocidades, conforme menciona ARAÚJO (2.003, p.38). Concluímos então que o carnaval é uma miscelânea de festividades populares que ocorrem em diversos países e regiões católicas nos dias que antecedem o início da quaresma, principalmente do domingo da qüinquagésima à chamada terça-feira gorda, data oficial do carnaval brasileiro, contudo há de se frisar que, muito embora façam parte do contexto do carnaval à música, a dança, o disfarce, a folia, a inversão de valores, a desordem, a alegria coletiva, a farra, a bagunça, etc. O mesmo possui características peculiares em cada país que o projetou, inclusive em várias cidades brasileiras, como por exemplo: Rio de Janeiro – RJ (que para quem não conhece, existem várias formas de manifestações carnavalescas tradicionais e não somente o desfile de escolas de samba que o tornou conhecido mundialmente), Salvador, BA, Recife e Olinda, PE. 12 2 PERÍODO DE DURAÇÃO DO CARNAVAL Conforme Miniweb (2008) o carnaval é uma festa popular que ocorre nas regiões católicas, mas sua origem é obscura e indefinida, portanto, os dias exatos do início e fim da estação carnavalesca variam de acordo com as tradições nacionais e locais, logo, têm-se adaptado e se alterado no tempo e no espaço. Já o calendário gregoriano, utilizado oficialmente na maior parte do mundo, o Carnaval é uma festa móvel porque é indicado pelo domingo de Páscoa, também no intuito de não coincidir com a páscoa dos judeus. Assim, para saber em que dia cairão as duas festas, determina-se primeiro o equinócio (ponto da órbita da terra em que se registra igual duração do dia e da noite: verifica-se no dia 21 de março e 23 de setembro) da Primavera (no Brasil é Outono). Não se pode esquecer que o calendário segue as estações do ano de acordo com o hemisfério norte, onde foi criado. O primeiro domingo após a lua cheia posterior ao equinócio da primavera é o domingo de Páscoa. Mediante a essa regra, o domingo de carnaval cairá sempre no 7º domingo que antecede à Páscoa. A quaresma tem início na quarta-feira de cinzas e como o próprio nome diz, tem duração de 40 dias, conforme menciona ARAÚJO (2003, p. 29). Assim, em Munique e na Baviera (Alemanha), ela começa na festa da Epifania, 6 de janeiro (dia dos Reis Magos), enquanto que na Colônia e na Renânia, também na Alemanha, o carnaval começa às 11h11min do dia 11 de novembro (undécimo mês do ano). Por outro lado na França, à celebração se restringe à terça-feira gorda e à mi-carême, quinta-feira da terceira semana da quaresma. Nos Estados Unidos, festeja-se o carnavalprincipalmente de 6 de janeiro à terça-feira gorda (mardi-gras em francês, idioma dos primeiros colonizadores de Nova Orleans, na Louisiana), enquanto na Espanha a quarta-feira de cinzas se inclui no período momesco, como lembrança de uma fase em que esse dia não fazia parte da Quaresma. (Miniweb, 2008). No Brasil, até a década de 1.940, sobretudo no Rio de Janeiro, as festas pré- carnavalescas iniciavam-se em outubro, na comemoração de Nossa Senhora da Penha, crescia durante a passagem de ano e atingia o auge nos quatro dias anteriores às cinzas, ou seja: 13 sábado, domingo, segunda e terça-feira gorda. Não obstante, hoje em dia, tanto em Recife (Pernambuco), quanto em Salvador (Bahia), o carnaval inclui a quarta-feira de cinzas e dias subseqüentes, chegando atualmente inclusive a incluir o sábado de Aleluia. Concluímos, portanto, diante do exposto que o carnaval por ironia ou não do destino, o carnaval se organiza no sentido de datas permanentes, a partir de uma deliberação da igreja católica e o mesmo a cada ano que se passa vem ganhando forças, se adaptando, se ajustando a cada realidade e cultura. Também podemos considerar que, oficialmente quem concretiza o carnaval para o mundo é a igreja católica, diante das afirmações acima mencionadas e da necessidade de justificar os desejos do povo, visto que era uma maneira de manter a tradição antiga e agradar os mesmos, porém com uma nova roupagem e encontrando uma forma de ser perdoados, através das Cinzas e da penitência pelo processo da quaresma, dos exageros dos prazeres carnais cometidos e pela a inversão dos valores sociais. Estes cultuados pelas festas pagãs, estas vistas pela igreja como manifestações com caráter de celebrações demoníacas, onde se encontravam os mascarados e fantasiados. Ressaltamos também que essa concepção de que todo o excesso, alegria coletiva, desordem, farra, inversão de valores caricatura, humor, ou seja, a manifestação maior do lado “dionisíaco” e não “apolíneo” do ser humano ser considerado um “carnaval” é antiga, conforme cita FERREIRA (2004, p.22): “(...). Ela surge já nos primeiros anos depois de Cristo, quando os chamados Pais da Igreja (geralmente bispos que evangelizavam nos primeiros séculos do cristianismo, como Santo Ambrósio, Santo Agostinho e São Jerônimo) se recusavam a perceber a diferença entre as várias festas pagãs que aconteciam no final e início do ano. Todas essas celebrações com máscaras e fantasias eram vistas igualmente como manifestações demoníacas e por eles denominadas genericamente de “paganismo”, outro nome para “bagunça”, “folia” ou “carnaval”. Até o século XVIII, todas as festas que aconteciam nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro – como as saturnais, os ritos de inversão, as festas de loucos e os carnavais – eram vistas como se fossem uma mesma e, muitas vezes, condenável manifestação do populacho, ou seja, um “carnaval”. Essa maneira de pensar chegou até nós e ganhou muita força a partir de meados do século XX. Nessa época, um estudioso russo chamado Bakhtin resolveu pesquisar o trabalho de Rabelais, escritor francês muito famoso que viveu no século XVI. Essa pesquisa acabou se transformando num livro que foi publicado em inglês, na década de 1960, no qual Bakhtin, entre outras coisas, falava sobre a idéia de “carnavalização”. Para ele, as aventuras que Rabealis nos contava em sua série de livros sobre as peripécias dos gigantes Gargântua e de seu filho Pantagruel seriam uma verdadeira enciclopédia da cultura popular do século XVI na Europa. As cenas relatadas no livro mostram histórias exageradas, com situações que falam de um mundo 14 divertido, cheio de personagens amalucados, um mundo que parece funcionar ao contrário daquilo que conhecemos normalmente. (...). A esse conjunto de comportamentos ele deu o nome de “carnavalização”. Quer dizer, para Bakhtin, a carnavalização não está ligada somente ao período do Carnaval e as suas festas. Para ele, o mundo carnavalizado é um mundo de festas do povo, das brincadeiras grosseiras e das inversões típicas das brincadeiras populares do fim da Idade Média. Essa barafunda entre o conceito de “carnaval” e o de “carnavalização” vai fazer com que as duas idéias acabem se misturando, influenciando alguns estudiosos que acabam por concluir que onde tem festa, exagero e inversão, também tem carnaval. Porém, isso não é necessariamente verdadeiro. O espírito da carnavalização, estudado por Bakhtin, pode se manifestar em qualquer época do ano e em qualquer lugar seja nas comemorações da Segunda Guerra Mundial na Europa ou na festa de Purin entre os judeus. Já o carnaval é uma coisa diferente se apresenta como uma festa com data determinada, que acontece em certos países e em determinadas cidades do planeta. Por exemplo, em suma, “no Carnaval existe carnavalização, mas nem toda a carnavalização é um Carnaval”. 15 3 O CARNAVAL NO BRASIL Na intenção de afastar o monoteísmo e o tédio do cotidiano, desde os tempos da colônia e do Império, no Brasil. Devido à demora do progresso e o “vasto tempo ócio” tudo era motivo para festas e comemorações, sendo assim, possuía o objetivo principal distrair a corte e a plebe, diante desse fato, montavam-se eventos de caráter religioso como as procissões. Por outro lado qualquer acontecimento na corte em Portugal, ou aqui, era motivo de serem comemorados com festas, passeatas e desfiles, segundo afirma ARAÚJO (2003, p.51). Porém, por causa das atuais maneiras de se brincar o Carnaval muita gente pensa que esta festa tem origem na cultura trazida pelos escravos africanos. Entretanto, ao contrário disso, o carnaval brasileiro se origina no entrudo português e aqui chegou com as primeiras caravelas da colonização. Figura 04: “Carnaval de 1.880”, litografia de Ângelo Agostini: em cima, à esquerda, entrudo em uma casa de família; à direita, batalha de água. Fonte: (Barsa – Macropédia - v.3.p.453). Uma característica marcante de importância antropológica e social ímpar é que o carnaval brasileiro também acontece paralelamente com a evolução histórica. Como não havia 16 um gênero próprio peculiar e genuíno brasileiro de música carnavalesca, inicialmente as brincadeiras eram acompanhadas pela Polca. Na seqüência, o ritmo que definiria a brincadeira passou a ser direcionado pelas quadrilhas, valsas, tangos, e o maxixe, sempre executados somente com a composição musical instrumental, sem a poesia ou letra. Assim, em 1.880 é que vão surgir às produções musicais cantadas, que num primeiro momento eram cantadas por coros, pelas pastoras, etc. Então, se firmam, criam identidade, ganham projeções e invadem os salões. Figura 05: Chiquinha Gonzaga (1847–1934) – a pioneira da cantiga carnavalesca. Compôs para o carnaval de 1899 a marcha rancho “Ô abre alas”. Fonte: Livro “O Carnaval Carioca Através da Música” (1980, p.87). 17 A primeira música feita exclusivamente para o carnaval foi uma marcha denominada: "Ó abre alas", composta para o cordão Rosa de Ouro pela irreverente e revolucionária em sua época, maestrina Chiquinha Gonzaga em 1.899 e inspirada pela cadência rítmica dos ranchos e cordões. Desde então este gênero, rapidamente caiu no gosto popular (ALENCAR, 1980, p. 84). Assim, se popularizaram como música carnavalesca: samba, marcha-rancho, batucada e samba enredo, que permaneceram como o ritmo que os cariocas mais gostavam, portanto, passou a animar os carnavais cariocas. Elas sobreviveram por um longo tempo, se consagrando como um fenômeno cultural e musical específico, logo, se firmou como gênero. Os concursos promovidos pela Rádio Nacional, a cada ano tornavam-se disputadíssimos, portanto, grandes composições se consagravam e ganhavam os bailes e as ruas como as clássicas: Cidade Maravilhosa, Mamãe eu quero e Jardineira. Logo, não sepoderia associar a alegria do Rio de Janeiro sem os cânticos do povo, nos bailes, nas casas de shows, teatros, praças e ruas. Porém, aos poucos as marchinhas tão populares e que eram tocadas nas rádios no início da década de 60, foram sendo substituídas pelos samba enredo e no final dos anos 60, as rádios, as gravadoras de discos e a recente televisão ganhava espaço, não obstante passava a promover a transmissão do ponto alto do carnaval que era o desfile das escolas de samba, para todo país, exaltando o aspecto visual (Enciclopédia Barsa, 1996, p. 454). Portanto, o carnaval brasileiro recebeu também muitas influências das mascaradas italianas e somente no século XX e dos elementos africanos, considerados fundamentais para seu desenvolvimento, principalmente no tocante as origens do samba, que é definido como uma dança e música de origens africanas, desenvolvidas no Rio de Janeiro para uns e para outros na Bahia, mas comuns em um ponto, no sentido de classificá-lo como um gênero carnavalesco e genuinamente brasileiro. Há de se frisar que não se sabe exatamente quando surgiu o samba enredo, conforme afirma Edigar de Alencar, em sua obra denominada O Carnaval Carioca Através da Música (1980, p. 51): “Não se pode precisar exatamente a data em que teria surgido o primeiro samba-enredo. Mas com a oficialização do carnaval em 1935, foi regulamentado o desfile das escolas de samba. E 18 em meio às normas a que se obrigariam estava a de versarem seus enredos na História do Brasil. É, pois, a partir daquele ano que aparece a nova modalidade de samba. Diga-se, entretanto, que de início tais sambas permanecem quase desconhecidos. Não são gravados nem editados e apenas a Escola os executa e canta nos seus desfiles. Parece que o primeiro samba-enredo que consegue sobreviver ao carnaval é Tiradentes (1.955), de Estanislau Silva, Décio Carlos e Penteado”. E hoje, é uma das manifestações mais populares do país, sendo festejado em todo o território nacional, e, com essa mistura de costumes e tradições tão vastas e ecléticas, o Carnaval do Brasil é um dos mais famosos do mundo e com esse diferencial, todos os anos, atrai milhares de turistas dos cinco continentes. Ao contrário do que acontecia em sua época de ouro, do fim do século XIX até a década de 1950, nem um décimo do povo participa hoje ativamente do carnaval. Contudo, o carnaval brasileiro ainda é considerado um dos melhores do mundo, se não o melhor, quer seja pela avaliação dos turistas estrangeiros como por boa parte dos brasileiros que amam essa parte de nossa cultura, principalmente o público jovem que não conseguiu contemplar a glória do carnaval verdadeiramente popular. Como declarou Luís da Câmara Cascudo, etnólogo, musicólogo e folclorista, "o carnaval de hoje é de desfile, carnaval assistido, paga-se para ver. O carnaval, digamos, de 1.922 era compartilhado, dançado, pulado, gritado, catucado. Agora não é mais assim, é para ser visto" (Miniweb, 2008). 3.1 Entrudo O Entrudo desembarcou no Brasil em 1641, na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente no dia 31 de março, num Domingo de Páscoa e realizou-se na Rua Direita (hoje conhecida como 1º de março). Alguns estudiosos consideram esse evento como o primeiro desfile carnavalesco, ou seja, o Marco Zero do Carnaval Carioca, em homenagem ao rei Dom João IV, restaurador do trono de Portugal. Animado pelas músicas do licenciado João Fernandes de Souza, à luz de archotes (facho revestido de breu que se acende para iluminar), nas ruas 19 cheias de gente, desfilaram 161 cavaleiros encamisados (cobertos por longas camisas brancas) com dois carros alegóricos evocativos à coroação de El Rey Dom João IV, que foi o primeiro monarca português a favor da restauração (libertação de Portugal do domínio espanhol) (ARAÚJO, 2003, p.51). Figura 06: “Dia do Entrudo”, desenho de Jean-Batiste Debret. Fonte: Fundação Raimundo Ottoni de Castro Maia, Rio de Janeiro (Barsa – Macropédia –v.3.p.453). Portanto, o entrudo foi importado dos Açores de Portugal. Assim como do seu local de origem, era uma festa cheia de inconveniências da qual participavam tanto os escravos quanto as famílias brancas. Sendo ele o precursor das festas de carnaval, trazido pelo colonizador português, caracterizava-se pela forma grosseira, suja e violenta de se expressar o carnaval. Contextualiza-se na maneira mais generalizada de brincar no período colonial e monárquico, contudo, também a mais popular. Manifestava-se em lançar, sobre os outros foliões, baldes de água, esguichos de bisnagas e limões de cheiro (feitos ambos de cera), pó de cal (uma brutalidade, que poderia cegar as pessoas atingidas), vinagre, groselha ou vinho e 20 vários outros líquidos que estragavam roupas e sujavam ou tornavam mal-cheirosas as vítimas (Miniweb, 2008). Devido às características deselegantes, o modo grosseiro de se brincar, e, após, insistentes intervenções e advertências da Igreja Católica, os banhos de água suja foram sendo substituídas por limões de cheiro, esferas de cera com água perfumada ou água de rosas e bisnagas cheias de vinho, vinagre ou groselha. Esses frascos deram origem ao lança-perfume, que se constitui numa bisnaga ou vidro de éter perfumado de origem francesa. Sendo assim, ele foi criado em 1885 e chegou ao Brasil nos primeiros anos do século XX. (Miniweb, 2008). Substituindo então, as grosserias, vieram às batalhas de flores, confetes, serpentinas, os lança-perfumes e os desfiles em carros alegóricos, de origem européia. Uma das figuras mais marcantes da festa, no arquétipo Rei Momo (como nas festas saturnais romanas, simbolicamente o Reio Momo é morto após o carnaval, elegendo-se um novo monarca no ano seguinte, segundo ARAÚJO (2003, p. 170), inspirada nos bufões, atores portugueses que costumavam representar comédias teatrais para divertir os nobres. Conforme citação da Enciclopédia Barsa (1996, p. 452): “O entrudo português constitui, no Brasil colonial e monárquico, a forma mais comum de brincar o carnaval. Consistia num folguedo violento: eram atiradas sobre as pessoas água, farinha, cal e outras substâncias que molhavam e sujavam o transeunte. Proibido no Rio de Janeiro pelo Prefeito Pereira Passos, em 1904, e alvo de protestos na imprensa, o entrudo civilizou-se progressivamente até o aparecimento de outros instrumentos de brincadeiras: o confete a serpentina e o lança perfume”. 21 Figura 04: Representação da figura do Rei Momo, na alegoria 4 denominada “Dragões de Momo”, da Estação Primeira de Mangueira, Marquês de Sapucaí, RJ – 04/02/2008. Foto: Alexandre Polini 3.2 Zé-Pereira Em todo o Brasil, mas precisamente no Rio de Janeiro, havia o costume de se prestar homenagem galhofeira, ou seja, zombar a expressivos tipos populares de cada cidade ou vila do país durante os festejos de Momo. Sendo assim, o mais famoso arquétipo carioca foi um sapateiro português, chamado José Nogueira de Azevedo Paredes – o “Zé Pereira” – surgiu em 1846 e revolucionou o carnaval carioca era, tocador de bumbo ou zabumba e tambores, animava a folia em passeatas pelas ruas, como se fazia em sua terra. http://www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/57HistCarn.htm 22 Então, com sua origem portuguesa, conseguiu o ápice de sua notoriedade no século XIX, quando o ator Vasques elogiou a barulhada encenando a comédia carnavalesca, tendo sido esquecido no começo do século XX, cedendo a sua vez para os ritmistas que acompanhavam os blocos dos sujos tocando outros instrumentos como o pandeiro, o tamborim, o reco-reco, a cuíca, o triângulo e as "frigideiras". (Miniweb, 2008).. Segundo citação da Enciclopédia Barsa, (1996, p.452): “O Zé-pereira (tocador de Bombo) marcou época nos antigos carnavais do Rio de Janeiro.O sapateiro português José Nogueira de Azevedo, teria sido o introdutor, em 1846, do hábito de animar a folia carnavalesca com zabumbas e tambores, percutidos em passeata pelas ruas. Meio século mais tarde, o ator Francis Correia Vasques encenou uma paródia de Les Pompiers de Nanterre (Os bombeiros de Nanterre), na qual cantou a quadrinha que celebrizou o já consagrado personagem carnavalesco: “E viva o zé-pereira / Pois que a ninguém faz mal / Viva a bebedeira / Nos dias de carnaval.” 23 Figura 08: Representação da figura do Zé Pereira, na alegoria 2 denominada “Zé Pereira”, da Estação Primeira de Mangueira, Marquês de Sapucaí, RJ – 04/02/2008. Foto: Alexandre Polini 3.3 Bailes O primeiro baile de máscaras do Brasil foi realizado pelo Hotel Itália, no Largo do Rocio, Rio de Janeiro, precisamente no dia 22 de janeiro de 1840, no mesmo local em que se ergueria depois o teatro e depois cinema São José, na Praça Tiradentes, no Rio. A entrada custava dois mil réis, com direito à ceia. http://www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/57HistCarn.htm 24 Esse modelo de se brincar o carnaval logo virou um moda e contagiou a cidade. No entanto, apesar de ser uma maneira sadia e alegre de se brincar o carnaval, contribuiu para marcar as já latentes diferenças sociais que aqui sempre existiram. No entanto, a efervescência dos bailes carnavalescos em casas de espetáculos só se generalizou na década de 1870. Aderiram à moda o Teatro Pedro II, o Teatro Santana, e aí até os estabelecimentos populares entraram na dança, no Skating Rink, o Clube Guanabara, o Clube do Rio Comprido, a Societé Française de Gymnastique, em teatros que se alinhavam ao lado dos bailes públicos, mas em área social selecionada. Figura 09: Decoração do salão de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Fonte: Livro ENEIDA – História do Carnaval Carioca de Eneida de Moraes. (Nova Edição Atualizada por Haroldo Costa). 1958. Rio de Janeiro, Record. p. 210. O carnaval dos salões veio para agradar a elite e a classe emergente do país, o povo ficava do lado de fora, nas festas de rua ao ar livre. E mesmo com o grande sucesso dos bailes de salão, foi nas ruas com a formatação popular que o carnaval adquiriu formas genuinamente autênticas e brasileiras. Segundo citação da Enciclopédia Barsa (1996, p.452): 25 “O primeiro baile carnavalesco carioca realizou-se no Hotel Itália, na atual praça Tiradentes, por iniciativa dos proprietários, animados pelas notícias do sucesso dos bailes de máscaras europeus. Em1846, a atriz Clara Dalmastro organizou um baile de máscaras no teatro São Januário, dando início à moda dos bailes em casas de espetáculos, generalizada por volta de 1870. No final do século, cerca de cem bailes eram oferecidos aos carnavalescos da cidade, em teatros e clubes. Celebrizaram-se os bailes do Teatro Municipal, realizados de 1932 a 1975, e os dos hotéis de luxo como Glória, o Copacabana Palace e o Quitandinha, em Petrópolis”. Desta forma, o desenvolve-se de maneira espantosa, e então, surgem os "arrastados" em casas de família, bailes ao ar livre, bailes infantis e os pré-carnavalescos, bailes em circos, matinês dançantes. Afinal, certos bailes ganharam fama nacional e até internacional, realizados em grandes clubes, hotéis ou teatros: em 1908 houve o primeiro dos bailes do High-Life, que chegaram ao fim nos anos 40; em 1918 iniciou-se a tradição do baile dos Artistas, no teatro Fênix; em 1932, o primeiro grande baile oficializado, o do Teatro Municipal, abriu caminho para muitos outros; e logo vieram os do Glória, Palácio Teatro, Copacabana Palace, Palace Hotel, Cassino da Urca, Cassino Atlântico, Cassino Copacabana, Quitandinha (em Petrópolis), Automóvel Clube do Brasil. E no ano de 1935, o Cordão dos Laranjas construiu um salão, em forma de navio, que "atracou" na Esplanada do Castelo, e ali se realizariam alguns dos mais alegres bailes de três ou quatro carnavais. E enquanto o Municipal iniciava concursos de fantasias de luxo (a princípio só femininas, e, depois dos anos 50, masculinas), os bailes que atraíam multidões eram os do Botafogo, Fluminense, Flamengo, Vasco da Gama, América. Bem familiares em suas primeiras versões, reunindo a sociedade abastada em trajes de gala, foram-se tornando cada vez menos bailes de fantasia. Já não se conseguia dançar, apenas pular, e à casaca e ao smoking juntavam-se o traje-esporte e o mulherio seminu. Também havia os bailes dos grêmios como o das Atrizes, o Vermelho e Negro, o dos Pierrôs, etc. (Miniweb, 2008). 26 Figura 10: As fantasias elegantes dos bailes do Teatro Municipal dos anos 50 (Arquivo JB.) Fonte: Livro ENEIDA – História do Carnaval Carioca de Eneida de Moraes. (nova edição atualizada por Haroldo Costa). 1958. Rio de Janeiro, Record. p. 37. 3.4 As Fantasias e Máscaras O uso de fantasias, compreendida neste trabalho como roupas de disfarce e máscaras que possuem várias definições pelos dicionários, porém, a mais pertinente é: Máscara: Objeto de cartão, pano ou madeira, que representa uma cara ou parte dela, que possuía a função de cobrir o rosto, para disfarçar a pessoa que a põe, teve, em todo o Brasil, mais de setenta anos de sucesso – de 1870 até início do decênio de 1.950. Começou a declinar depois de 1930, quando 27 encareceram os materiais para confeccionar as fantasias (fazendas e ornamentos), sapatilhas, botinas, quepes, boinas, bonés, etc. Portanto, as fantasias que embelezaram rapazes e moças, foram aos poucos sendo reduzido ao mais compacto possível, em nome da liberdade de movimentos e da fuga, devido ao calor do verão que é o período mais quente do ano, diante disso, foi desaparecendo os disfarces mais famosos do tempo do império e início da república, como a caveira, o velho, o burro (com orelhões e tudo), o doutor, o morcego, diabinho, o pai João, a morte, o príncipe, o mandarim, o rajá, o marajá. Figura 08: Máscara Carnavalesca. Fonte: (Barsa – Macropédia – v.3.p.451). Posteriormente chegando às requintadas e riquíssimas fantasias, apresentadas nos concursos de fantasias do Hotel Glória e do Teatro Municipal no Rio de Janeiro, chegando a ser transmitida pela extinta TV Manchete e que projetou grandes nomes ao carnaval carioca das escolas de samba. 28 Apesar disso, algumas vezes havia homenagens às fantasias clássicas da commedia dell’Arte italiana, como dominó, pierrô, arlequim e colombina. Porém, na década de 1930, muitas daquelas fantasias ainda eram utilizadas, inclusive com máscaras. Conforme Enciclopédia Barsa – Macropédia. Vol. 3, Companhia Melhoramentos. São Paulo, (1.996, p.452 e 453): “Até a década de 1.930, era costume de brincar o carnaval com fantasias ou máscaras, estas introduzidas em 1834 por influência francesa. As ricas máscaras de veludo ou cetim, assim como as fantasias de marinheiro, pierrô colombina, arlequim usadas nos bailes, foram progressivamente abandonadas e substituídas por trajes sumários confortáveis. Sobreviveram nas ruas os foliões vestidos de mulher, autênticos travestis ou brincalhões, grotescamente disfarçados, hábito já registrado em carnavais de meados do século XIX. Outros personagens são encarnados especialmente por crianças, como super-heróis da televisão, os palhaços e o bate-bola. Em meados do século XX despertaram admiração os desfiles de riquíssimas, restritos aos salões, em que se atribuíam prêmios nas categorias luxo e originalidade”. Figura 12: Em 1916, grupo de “clóvis” e mascarados (Augusto César Malta, Museu da Imagem e do Som – RJ). Fonte: Livro ENEIDA – História do Carnaval Carioca de Eneida de Moraes. (Nova Edição Atualizada por Haroldo Costa). 1958. Rio de Janeiro, Record. p. 82 Entre elas estavam as de apache, gigolô, gigolete, malandro (camiseta de listras horizontais,calça branca, chapéu de palhinha, lenço vermelho no pescoço), dama antiga, espanhola, camponesa, palhaço, tirolesa, havaiana, baiana. Com o passar dos tempos, aos poucos, os homens foram preferindo a calça branca e a camisa-esporte, até chegar à bermuda e 29 ao busto nu, mas isso só depois da década de 1950; as mulheres passaram às fantasias mais leves, atingindo, depois, o maiô de duas peças e alguns colares de enfeite, logo o biquíni, o busto descoberto, etc. Como no caso da concepção do gênero musical, o processo das indumentárias, também seguiram-se por um contexto histórico, e até mesmo podemos associar à evolução da moda das vestimentas no Brasil. (Miniweb, 2008). 3.5 Corso Mobilizando multidões aproximadamente durante três décadas, e inventado em fins da década de 1900, o Corso era caracterizado por uma grande passeata de carros conversíveis e enfeitado, que conduzia os foliões que brincavam entre si e interagiam com os pedestres. Então, com a capota arriada, sobretudo as moças fantasiadas de saias bem curtas, cantando e/ou jogando serpentinas e confetes nos pedestres, que se amontoavam nas beiras das calçadas para vê-las passar. Assim, munidos do confete, da serpentina e do lança-perfume, sendo que esses três elementos, também cooperaram para a maior expressão dos corsos que deram vida ao carnaval de rua. Além de já haver contribuído nos bailes de salão. Conforme Enciclopédia Barsa (1996, p.453): “A moda do corso, lançada em fins da década de 1900, mobilizou multidões durante aproximadamente trinta anos. Consistia numa passeata carnavalesca de automóveis enfeitados que conduziam foliões, os quais brincavam com os demais participantes e com os pedestres. Confete, serpentina e lança-perfume eram usados em profusão, enquanto se cantavam os sucessos musicais do ano ou de anos anteriores. O corso iniciava-se às quatro horas da tarde de domingo de carnaval e se prolongava pela madrugada. Essa modalidade carnavalesca desapareceu com o advento dos carros fechados, que substituíram conversíveis usados nos corsos”. Nas batalhas de confete e serpentina, se desenvolvia o momento muito efervescente, portanto, a moda do corso, iniciada timidamente logo após a chegada dos primeiros automóveis, atingiria seus momentos de glória entre 1928 e a década de 1940. 30 Figura 10: No Corso, os carros abertos desfilavam nas principais ruas das grandes cidades. Fonte: http://www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/57HistCarn.htm As cidades possuíam seu local específico para a realização do corso, e, o do Rio de Janeiro era realizado, com maior expressão, na Avenida Rio Branco, antiga Avenida Central, não obstante, a certa altura da brincadeira, em vários carnavais o corso se estendia em seu trajeto e ganhava à Avenida Beira-Mar, atingindo o Flamengo e Botafogo até o Pavilhão Mourisco, no final da praia. Mas, com a chegada das limusines e carros fechados, o corso foi perdendo a força e mais uma vez o carnaval se funde no tempo e espaço, dessa vez com a história do avento do automóvel influenciando na forma de se praticar a cultura popular. Então, as batalhas de confete e serpentina ocorriam em locais definidos e que possuíssem torcidas de bairros organizadas ou blocos fortes para desenvolver a disputa. Logo, se caracterizou numa forma de competição de músicas e canto, dança na rua e corso. Assim, as torcidas ou blocos organizavam as festas em que se gastavam quilos de confete e serpentina, litros de lança-perfume, e em que se dava a disputa entre as preferidas de cada agremiação. As batalhas se prolongavam, às vezes, até o amanhecer, algumas superando a empolgação dos dias de carnaval por excelência. Também podemos considerar que já havia uma forma de divisão de classes sociais, pois os brincantes dos carros pertenciam a uma classe social privilegiada, diferente do nível social dos brincantes pedestres, que enchiam as ruas para ver a passeata dos carros, o que era o privilégio de consumo de uma minoria. Assim, de maneira inconsciente e coletiva, na forma de se brincar o carnaval ganhava força e espaço os cordões, os blocos e os ranchos. (Miniweb, 2008). http://www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/57HistCarn.htm 31 3.6 Cordões, Ranchos e Blocos Os cordões começam a participar do carnaval carioca só no final século XIX, por volta do ano de 1870 e 1980, que ainda predominava o entrudo, e, porém, já convivendo como o Zé Pereira e desaparecem nos primeiros anos do século XX, assim, era comum no carnaval de rua a presença dos mascarados, cantando e dançando, fantasiados de palhaços, reis, diabos e baianas, bem como o "trote" e os blocos de sujos. Com o desaparecimento dos cordões os foliões que não aderiram aos ranchos carnavalescos se uniam aos grupos mais simples, que não apresentavam as características cênicas, sem fantasias elaboradas e sem alegorias, que existiam paralelos aos cordões que eram os blocos, segundo ARAÚJO (2.003, p.116). O encontro de blocos resultava, às vezes, em batalhas campais de sopapos. Nos desfiles, entre os anos 1919 e 1939, destacavam-se tradicionais ranchos, que desfilavam as segundas-feiras. Segundo informações contidas na Enciclopédia Barsa (1996, p.453): “Os cordões começaram a participar dos festejos carnavalescos da cidade por volta de 1880, para desaparecer nos primeiros anos do século XX. Entre esses primeiros grupos de mascarados, em que saiam palhaços, reis, diabos e baianas, contavam-se o Flor de São Lourenço, o Cordão dos Invisíveis, o Estrela da Aurora e a Sociedade Carnavalesca Triunfo dos Cucumbis. Estruturavam-se segundo uma mesma norma: um conjunto de foliões fantasiados, conduzidos por um mestre munido do apito de comando, dançava e cantava ao som de instrumentos de percussão. Era costume expor estandartes dos cordões nas sedes dos jornais, antes do carnaval. Os blocos, grupos de foliões fantasiados que se divertem em passeatas carnavalescas pelas ruas, dançando e cantando ao som de baterias, é outra tradição do carnaval carioca e de outras cidades do Brasil. Os ranchos carnavalescos, originados do rancho de Reis nordestino, começaram a aparecer no carnaval carioca no início do século XX como cortejo mais organizado e evoluído que o cordão e o bloco. “Desfrutaram de grande popularidade junto aos apreciadores de carnaval de rua o Flor de Abacate, Ameno Resedá, Mamãe Lá Vou Eu e o Rosa de Ouro”. 32 Figura 14: O Rancho Flor de Abacate, vencedor do carnaval carioca de 1932. Fonte: http://www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/57HistCarn.htm. Então, podemos considerar que todo o lamento característico dos ranchos, demonstrado pelo sofrimento da paixão ardente, estão próximos e os relacionamos aos temas folclóricos das canções de lamentos nordestinos, como: o misticismo, as lendas, o romantismo, a forma das poesias e do andamento musical da melodia, são essências peculiares do processo de suas origens, daí os Ranchos serem nostálgicos, embriagarem foliões e multidões em seu romantismo implícito nas suas letras, como as clássicas e imortais canções: Bandeira Branca, As Pastorinhas, Máscara Negra, Bloco Solidão, etc. No entanto, afirma Iram Araújo (2.003, p.134). “Com os emblemas e símbolos, formavam cortejos cantando chulas ingênuas de origem africanas, uma espécie de lundu sapateado, acompanhados por uma orquestra composta de violões, violas, ganzás, pratos, castanholas e, às vezes, flautas.” http://www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/57HistCarn.htm 33 Figura 15: A beleza bem comportada dos Ranchos Fonte: Livro ENEIDA – História do Carnaval Carioca de Eneida de Moraes. (Nova Edição Atualizada por Haroldo Costa). 1958. Rio de Janeiro, Record. p. 114 Também, há a necessidade de se destacar que uma das principais característicasdos ranchos era o desenvolvimento de uma dança dramática, temática, ou seja, contendo enredo. 3.7 As Grandes Sociedades 34 Caracterizadas como um clube e que atuavam na vida social e política, e se inseriam no contexto-histórico do país, as grandes sociedades surgiram na segunda metade do século XIX, assim republicanos e abolicionistas, além de possuírem as peculiaridades de associação voltadas para as artes literárias e musicais, onde exerciam como função principal a crítica aos abusos e erros das autoridades, conforme Enciclopédia Barsa (1996, p. 453): As grandes sociedades que apareceram na segunda metade do século XIX não se limitavam aos desfiles carnavalescos. Seu prestígio se apoiava também em atividades sociais e políticas. Os integrantes das sociedades eram cidadãos participantes da vida nacional, abolicionistas e republicanos, e os grandes clubes funcionavam também como sociedades literárias e musicais. Nos chamados carros de crítica, tomavam posição contra abusos e erros das autoridades ou a propósito e questões em que a coletividade estivesse empenhada. O Congresso das Sumidades Carnavalescas foi responsável pelo primeiro desfile do gênero, em 1855. Surgiu logo depois a União Veneziana, de curta duração, e duas dissidências do Congresso Sumidades; Euterpe Comercial e os Zuavos Carnavalescos. Os Tenentes do Diabo desfilavam em préstito pela primeira vez em 1867 e fizeram história como uma das mais populares sociedades carnavalescas. Seus aficionados eram chamados beatas. Outras sociedades muito populares foram os Democráticos, cujos admiradores se chamavam carapicus, e os Fenianos, cujo nome é uma referência aos revolucionários irlandeses que lutaram contra os britânicos, aplaudidos pelos “gatos”. A Embaixada do Sossego, o Clube dos Embaixadores, os Pierrôs da Caverna, o Clube dos Cariocas e os Turunas de Monte Alegre, também saiam em préstitos, formados por batedores, carro abre-alas, uma comissão de frente montada, um carro-chefe, carro alegóricos e de crítica a banda de clarins. Assim, as grandes sociedades, surgiram em 1855, novidade publicada em 14 de janeiro, pelo Jornal Correio Mercantil, em crônica assinada pelo romancista José de Alencar, conforme define ARAÚJO (2003, p. 124), Logo, construíam os seus carros alegóricos com concepções temáticas mitológicas, históricas e cívicas, colocavam muitas mulheres bonitas, com os carros caracterizados pelos temas que criticavam a política, encerravam as festividades, no fim da noite de terça-feira gorda, os festejos. Como sempre no reduto das áreas centrais do Rio de Janeiro, a grande concentração popular se fazia na Avenida Rio Branco, da Cinelândia, até a Rua do Ouvidor. A classe média alta preferia as imediações do Jóquei Clube, entre a Avenida Almirante Barroso e a Rua Araújo Porto Alegre. Para ver o desfile passar, algumas pessoas levavam os seus próprios assentos, cadeiras e banquinhos, posteriormente substituídos por palanques e arquibancadas montados pela prefeitura. 35 Figura 16: Em 1938, as grandes sociedades, ainda famosas, desfilavam com carros alegóricos, o luxo e preciosismo (Arquivo JB.) Fonte: Livro ENEIDA – História do Carnaval Carioca de Eneida de Moraes. (Nova Edição Atualizada por Haroldo Costa). 1958. Rio de Janeiro, Record. p. 46. A segunda-feira era célebre não só pelo desfile de ranchos, mas também porque os freqüentadores do baile do Municipal eram observados pelo populacho, que ia admirar-lhes as fantasias. No edifício da Galeria Cruzeiro, hoje edifício Avenida Central, era o ponto focal do trecho entre a Rua São José e a Avenida Almirante Barroso, a área de maior animação dos carnavalescos tradicionais, que cantavam e dançavam ao som das músicas lançadas nos palcos dos teatros de revista e nas emissoras de rádio. (Miniweb, 2008). Portanto, podemos afirmar que a grande precursora do atual modelo de desfile das escolas de samba, bem como, da concepção em sua função social e de crítica, se dá por meio da existência das grandes sociedades, assim, é de fundamental importância considerar essa manifestação como uma grande forma da expressão popular, no sentido de se inteirar com o processo político, social e histórico que viveu o país nesse período, mediante os grandes acontecimentos. Sendo assim, percebemos que desde o início o carnaval tem exercido grande importância na vida da sociedade brasileira, principalmente no estado do Rio de Janeiro, na 36 época, estado da Guanabara, onde também era a sede do governo federal, ou seja, a cidade do Rio de Janeiro era a capital do Brasil. 3.8 As Escolas de Samba Com o objetivo de se juntarem para preservar a memória e as tradições africanas, os negros se reuniam para cultivar a música e a dança do samba e outros costumes herdados da cultura africana, porém quase sempre enfrentavam ostensiva repressão policial. Os participantes resolveram acabar com as brigas e arruaças, que sempre eram promovidas quando saía à rua, uma idéia surgiu, porque não imitar os ranchos carnavalescos? Conforme afirma ARAÚJO (2003, p. 219). Então, um grupo de sambistas composto por bambas do bairro do Estácio, inspirados na turma dos Ranchos, resolveu formar uma agremiação que fosse capaz de angariar o respeito e a admiração de todos, portanto, as "escolas de samba" surgiram dos redutos de diversão das camadas mais pobres da população do Rio de Janeiro, em sua quase totalidade composta por negros. Também muito contribui para a formação desses redutos a migração de populações rurais nordestinas, que, atraídas para a capital em fins do século XIX, introduziram um mínimo de organização e de sentido grupal ao carnaval carioca, como já mencionada neste trabalho, até então, herdeiro do entrudo português. O termo “escola”, segundo ARAÚJO (2003, p.219), surge da idéia do fato de que o grupo se reunia próximo de uma escola normal, na esquina da Rua Joaquim Palhares com Machado Coelho, logo relacionaram o pensamento: “Se quem ensina às crianças são chamados professores, nós que sabemos tudo de samba também somos mestre e formamos uma escola, escola de samba”. Porém também existe a versão de que Ismael Silva (1905-1978), o principal fundador da primeira escola de samba, a Deixa Falar atribui a autoria do termo para si: “Quem 37 inventou a expressão escola de samba fui eu”, também focada pelo mesmo raciocínio: “Deixa falar, é daqui que saem os professores”, finaliza Ismael Silva. Porém, segundo alguns pesquisadores e estudiosos no assunto, a Deixa Falar nunca foi escola de samba, assim desacreditava em si mesma e no próprio samba, nesse período ainda relacionado à marginalidade e malandragem. No entanto, com o seu crescimento surgiu à idéia de transformá-la em Rancho e quatro anos depois do seu aparecimento saiu à rua pela última vez, não mais com a alegria dos sambas de Ismael e Bidê, marcados em tamborins, mas na tristeza de uma marcha rancho, afirma ARAÚJO (2003, p. 221). Não obstante, surgem diversas outras escolas, entre as quais Portela em 11 de abril 1923, Mangueira 28 de abril de 1928, e Unidos da Tijuca em 31 de dezembro de 1931. Inicialmente não havia uma formatação peculiar, assim, pouco se distinguiam dos blocos e cordões, com a ausência de aspectos coreográficos e sem qualquer caráter competitivo. Conforme Enciclopédia Barsa (1996, p. 453 e 454): A Deixa Falar, do bairro do Estácio, que reunia os sambistas Nilton Bastos, Ismael Silva e Alcebíades Barcelos (Bidê), foi à primeira escola de Samba do Rio de Janeiro, fundada em 1928. A praça Onze foi eleita pelos sambista para as concentrações nos domingos e terças- feiras de carnaval. Logo se multiplicaram as agremiações, algumas das quais desapareceram com pouco tempo de existência e outras prosperaram, como a Estação Primeira, do morro da Mangueira; a Vai Como Pode, futura Portela,do bairro de Madureira, e outras. As escolas de samba da atualidade são sociedades civis legalmente registradas, elegem dirigentes e dispõem de órgãos representativos. As mais importantes têm sede própria, denominada quadra, onde se realizam bailes e ensaios durante os meses que precedem o carnaval. Algumas desenvolvem atividades assistenciais, principalmente com as crianças da comunidade. Uma escola de samba, ao desfilar, dispõe em certa ordem os elementos que a constituem. O carro abre-alas inicia o desfile, seguido da comissão de frente, que representa a direção da escola. A porta-bandeira leva o estandarte da escola e executa, com o mestre sala uma coreografia especial. A dupla representa os anfitriões da escola. Os mais hábeis sambistas da escola, os passistas, desfilam a frente das alas. A bateria das grandes escolas se compõe de centenas de ritmistas que tocam surdos, taróis, pandeiros, tamborins, cuícas de outros instrumentos de percussão. Os grandes grupos de componente fantasiados denominam-se alas e são intercalados pelas alegorias, montadas sobre carretas. Em 1935, a prefeitura do Rio de Janeiro oficializa os desfiles, as agremiações passam a receber subsídios, assim, no ano de 1952, transformam-se em sociedades civis, com 38 regulamento e sede, elegendo periodicamente suas diretorias, mediante estatuto, com personalidade jurídica. Com o tempo, desenvolveram-se com as características de associações recreativas e culturais e de livre acesso, cujo objetivo maior é competir nos desfiles carnavalescos, transformados em atração máxima do turismo carioca, com o apoio do governo e da mídia. E, a partir da década de 1960, mais precisamente no ano de 1964, se firmam com o formato de empresa e começa a funcionar o ano todo, promovendo inúmeros eventos com entrada pagã, objetivando angariar fundos para a instituição, como: as rodas de samba, ensaios nas quadras feijoadas, festas temáticas. Cuja meta principal de manter os gastos da agremiação e dos preparativos para os desfiles. Conforme afirma Edigar de Alencar, em sua obra denominada O Carnaval Carioca Através da Música (1980, p.445): “As escolas de samba realizam ensaios pagos, com grande concorrência de grã-finos e turistas. É chique ir a esses ensaios aos sábados e aos domingos. De tal forma está comercializado o carnaval de escolas e blocos que aparecem anúncios dessas exibições pré-carnavalescas”. Ainda, segundo ARAÚJO (2003, p.225), as primeiras escolas de samba eram pequenos grupamentos de sambista composto por 70 a 100 pessoas que apresentavam uma estrutura muito simples, e então, a escola desfilava precedida: 1. Pede Passagem (abre-alas) – Tabuleta com o símbolo, nome da escola e o tema, agradecimento às autoridades e imprensa falada e escrita; 2. Comissão de Frente – formada pelos mais importantes integrantes da agremiação, representando simbolicamente a diretoria da escola; 3. Primeiro Mestre-Sala e Primeira Porta-Bandeira – Desenvolvendo dança característica; 4. Primeiro Puxador e Primeiro Versador – O puxador ajuda o coro na primeira parte do samba e o versador improvisa os versos, alternando-se na segunda com o outro versador; 5. Caramanchão – Onde ficam algumas figuras convidadas da escola; 39 6. O Coro – geralmente formado por vozes femininas, evoluindo em torno do caramanchão; 7. Segundo Puxador e Segundo Versador – Funções idênticas às dos primeiros; 8. Bateria – Composto por instrumentos de percussão, tendo à frente o seu diretor 9. Baianas de Linha – Ladeando a escola, baianas protegendo a agremiação. As “baianas” eram em geral homens, com navalhas nas pernas. Figura 17: Desfile da G.R.E.S. Unidos da Tijuca, detalhe da escola na passarela e da alegoria 2, denominada “Coleção de Pingüins de Geladeira”, Marquês de Sapucaí, RJ – 04/02/2008. Fonte: Alexandre Polini 40 Até 1932, quando foi organizado o primeiro desfile, as escolas limitavam-se a percorrer livremente as ruas, acompanhadas pela população. Naquele ano, o jornal Mundo Esportivo organizou um desfile na Praça Onze, de que participaram dezenove escolas, saindo vitoriosa a Estação Primeira de Mangueira. No ano seguinte o número de concorrentes subiu para 29 e o desfile foi promovido pelo jornal O Globo, saindo vitoriosa novamente a Mangueira. Em 1934, ano em que foi fundada a União Geral das Escolas de Samba, a competição foi realizada no dia 20 de janeiro, em homenagem ao prefeito Pedro Ernesto, e a Mangueira alcançou o tricampeonato. Figura 18: Ala de baianas numa primitiva escola de samba aguardando o desfile, em 1931. Fonte: http://www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/57HistCarn.htm. Assim, o interesse em estimular a competição com atração turística começou em 1935, quando o certame foi apoiado pelo Conselho de Turismo da Prefeitura do então Distrito Federal, obtendo a Portela sua primeira vitória, ainda com o nome de Vai Como Pode. A partir daí, já estabelecido como promoção oficial do carnaval carioca, o desfile foi realizado sem interrupção, exceto nos anos de 1938 e 1952, quando as chuvas impediram a http://www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/57HistCarn.htm 41 promoção. O modelo se estendeu as outras capitais brasileiras, exceto em duas: Salvador da Bahia e o conjunto Recife-Olinda, em Pernambuco, que possuem características próprias e regionais de se brincar o carnaval. (Miniweb, 2008). 3.9 O Carnaval na Bahia Devido à grande promoção dos desfiles das escolas de samba, o carnaval de salão e o de rua, foi desaparecendo, devido à popularidade das escolas de samba e a grandiosidade dos espetáculos produzidos pelos desfiles. No entanto, em Salvador na Bahia, aconteceu o inverso desse contexto, conforme menciona Monique Cardoso em seu artigo denominado: “História do Carnaval”, que se encontra disponível na http://www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/57HistCarn.htm: “O carnaval de Salvador, a primeira capital do Brasil, evoluiu como no Rio de janeiro e em diversas outras partes do país. As iniciativas tomadas para conter os abusos do entrudo português fizeram surgir os bailes dos salões, com grande destaque para as festas à fantasia do teatro São João, o corso, os cordões e blocos diversos. O ano de 1884 é considerado um marco pelos baianos devido à organização apresentada pelas manifestações populares a partir deste ano. No finalzinho do século XIX, por volta de 1894, 1895, surgiu o Afoxé, um tipo de grupo formado por negros que representavam casas de culto de herança africana e saíam às ruas cantando e recitando seqüências de músicas e letras. Os afoxés exibiam-se na Baixa dos Sapateiros, Taboão, Barroquinha e Pelourinho, enquanto os grandes clubes desfilavam em áreas mais nobres. O mais famoso afoxé é o "Filhos de Gandhy", criado em 1949 - ano do IV centenário da cidade - pelos estivadores do Porto de Salvador. O nome é uma homenagem ao pacifista indiano Mahatma Gandhy, assassinado um ano antes. A maior inovação do Carnaval da Bahia, porém foi o Trio Elétrico de Dodô e Osmar, que surgiu em 1950 e representa a consagração do carnaval de rua. A primeira apresentação foi feita em cima de um Ford 1929, com guitarras elétricas e som amplificado por alto-falantes, às cinco da tarde do Domingo de carnaval. O desfile aconteceu no Centro da cidade arrastando uma verdadeira multidão. Na verdade, o nome "trio elétrico" só surgiu mesmo no ano seguinte, quando três músicos se apresentaram em cima do tal carro. Nos anos 70 o carnaval presenciou o nascimento de grupos históricos, como os Novos Baianos e o bloco afro Ilê Aiyê, além do renascimento de o Filhos de Gandhy. Era o começo do crescimento cultural do Carnaval de Salvador, que passou a enfatizar os conflitos e a protestar contra o racismo. “Na década de 80, http://www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/57HistCarn.htm 42 gruposcomo Camaleão, Eva e Olodum escreveram seus nomes na história da festa mais popular da Bahia”. Figura 16: Detalhe do Carnaval da Bahia Fonte: http://www.terrabrasileira.net/folclore/regioes/5ritmos/trio.html 3.10 Carnaval de Pernambuco – Recife O carnaval pernambucano hoje é perpetuado mais no local, porém houve tempos em que o frevo era tocado no país inteiro, no entanto, mas precisamente em Olinda e Recife, esse modelo de carnaval é um dos mais animados do país, e essa característica cresceu paralelamente à extinção do carnaval de rua na maior parte das cidades brasileiras, por causa do desfile das escolas de samba, novamente o grande espetáculo, apoiado pela mídia, reforça o carnaval regional, definindo o registro característico de cada região. As principais atrações do carnaval pernambucano — cujos bailes também são os mais animados — são, na rua, o frevo, o maracatu, as agremiações de caboclinhos, a imensa participação popular nos blocos http://www.terrabrasileira.net/folclore/regioes/5ritmos/trio.html 43 (reminiscências modernizadas dos antigos "cordões") e os clubes de frevo. Em Recife e Olinda os foliões cantam e dançam, mesmo sem uniformes ou fantasias, ao som das orquestras e bandas que fazem a festa. Os conjuntos de frevo mais animados são os Vassourinhas, Toureiros, Lenhadores e outros. Lembrando, pela cadência, os velhos ranchos, os maracatus estão ligados às tradições afro-brasileiras. Já os caboclinhos constituem outro tipo de agremiação folclórica, cujos desfiles são apenas vistos e aplaudidos. Músicas de carnaval, durante o império, as músicas cantadas no período carnavalesco, no Brasil, eram árias de operetas, depois lundus, tanguinhos, polcas e até valsas. No início do século XX, predominaram, nas ruas, as cantigas de cordões e ranchos e, nos bailes, chorinhos lentos, polcas-chulas, marchas, fados, polcas-tangos, toadas e canções. Figura 20: Os bonecos de Olinda, embalados pelo frevo. Fonte: http://www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/57HistCarn.htm Logo após a Primeira Guerra Mundial, os palcos dos teatros de revista tornaram-se os lançadores das músicas de carnaval e iniciou-se, então, o domínio das marchinhas, maxixes, marchas-chulas, cateretês e batucadas. E também do samba, que, na era do rádio, entre 1930 e 44 1960, dividiu os louros com a marchinha, embora, às vezes, cedesse ao sucesso de um jongo, de uma valsa ou de uma batucada. O samba, nos salões e na rua, era absoluto. Mas desde fins do decênio de 1960, com a consolidação do desfile das escolas de samba, o samba e a marcha mergulharam no ostracismo, trocados pelo samba-enredo das escolas de samba. (Miniweb, 2008). 45 4 MONTANDO A ESCOLA DE SAMBA Contextualizado pelo grande espetáculo grandioso de luxo, cores, delírios, mulheres bonitas e seminuas, assim é o desfile de uma escola de samba, que normalmente começa na quarta-feira de cinzas. Mas, para ser realizado são percorridos vários caminhos para o processo de acontecimento desse grandioso espetáculo. Assim, neste trabalho iremos mostrar trajetos para a elaboração do desfile de uma escola de samba, desde o primeiro momento, onde se inicia os trabalhos, até a conclusão do desfile na avenida. Procuraremos desvendar os mistérios desse fenômeno chamado de escola de samba de tal grandeza, a ponto de ser considerada a maior fábrica de sonhos e ilusão. 4.1 Primeiras Providências para a Montagem da Escola: Contratação do Carnavalesco e a Escolha do Enredo Portanto, a primeira providência a ser tomada pelos dirigentes para se dar início a elaboração do desfile de uma escola de samba é a contratação do carnavalesco, esse profissional tem o perfil similar de um diretor artístico, ele é a figura principal no desenvolvimento geral de toda a concepção literária e plástica do enredo a ser desenvolvido pela escola. Contudo, há de se ressaltar que, esse enredo pode ser sugerido pela diretoria da escola, por meio do seu departamento cultural ou pelo carnavalesco, que é o que geralmente acontece. Conforme afirmou durante sua entrevista Augusto César de Oliveira, carnavalesco da Escola de Samba Nenê de Vila Matilde, no carnaval de 2008, sendo o profissional que mais 46 títulos conquistou na era do sambódromo de São Paulo, com as agremiações: Camisa Verde e Branco, X9- Paulistana e Nenê da Vila Matilde. “(...) na verdade a gente passa por todo um o processo de escolha de uma história que vai ser contada, isso antes de elaborar qualquer pesquisa”. Sendo assim, após a escolha do tema, começasse a desenvolvê-lo, com a parte dos trabalhos de pesquisa, criação dos figurinos, dos carros alegóricos e a partir daí iniciar a produção propriamente dita, que são a execução dos protótipos das fantasias e o acompanhamento da construção dos carros alegóricos, com todos os profissionais que estão envolvidos. As etapas acontecem da seguinte maneira: primeiro cria-se o tema que pode ser histórico ou abstrato. Posteriormente elabora-se um release a princípio, depois um histórico e desse histórico retira-se à sinopse. Por sua vez, a sinopse é entregue ao grupo de compositores pertencentes à escola, conhecida na linguagem das escolas de samba como ala dos compositores. 4.2 Compondo o Samba Enredo Conforme o mencionado acima, munidos da sinopse do enredo, esses compositores dividem-se em vários grupos ou mesmo só e compõem vários sambas, devendo ser o espelho da sinopse de forma resumida, ou seja, reproduzir fielmente a proposta do enredo em sua composição, compondo o samba de enredo que é a música, melodia e letra, que possui a função de acompanhar e contar essa história na boca dos seus participantes. Em algumas escolas essas composições chegam a um número de 100 e são avaliadas em forma de eliminatórias semanais que duram em média 8 á 12 semanas, até que se escolha a composição que vai representar a escola na avenida, ou seja, o samba campeão. Portanto, o 47 samba escolhido será a trilha sonora do enredo que estará sendo desenvolvido. Segundo OLIVEIRA em entrevista no dia 05 de Novembro de 2.007. “(...) Porque que tem que se conceber um histórico, um release a princípio, depois um histórico e desse histórico se retira à sinopse, que é o que vai para o compositor. E o compositor por sua vez que é quem cria o samba, que é a música, melodia e letra. E vai acompanhar e contar essa história na boca dos seus participantes.” Com o início das eliminatórias, iniciam-se também os ensaios nas quadras, locais onde acontecem também eventos, objetivando o entretenimento e o lazer da comunidade a qual pertence à escola e a qualquer outra pessoa que deseja participar dessas festas animadas. Os fundos arrecadados nestas festas são aplicados na elaboração das fantasias, carros alegóricos e manutenção da escola. 4.3 Elaborando os Figurinos, Pesquisando os Materiais e Executando as Peças Pilotos Então, após a concepção literária do enredo, o carnavalesco irá se preocupar com a criação plástica do enredo propriamente dita, ou seja, vai dar forma, materializar a sua idéia, que se inicia com a concepção dos figurinos que é a primeira etapa, antes até de conceber os carros alegóricos. Nesse momento, muitos carnavalescos podem desenhá-los ou não, daí entra em cena o profissional do figurinista que possui função de desenhar para o carnavalesco o que ele imagina. Como segunda etapa e com os desenhos dos figurinos prontos, o carnavalesco e sua equipe, deverão partir para o trabalho de pesquisa dos materiais a serem utilizados na confecção dos mesmos. Nesse trajeto, constituem-se como fatores importantes e determinantes para a escola de samba: o custo e o peso do material, a inovação diante de novas alternativas e efeitos visuais.
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