Buscar

5 - Programa De Prevenção Às Doenças Tropicais

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROGRAMA DE PREVENÇÃO ÀS 
DOENÇAS TROPICAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Javier Salvador Gamarra Junior 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
2 
TEMA 1 – CONCEITOS E FUNDAMENTOS 
A percepção sobre doenças tropicais, de acordo com Edler (2010, p. 312) 
deriva de uma visão de que surgiu especialmente nos países de regiões 
temperadas, as potências europeias tradicionais, sobre os trópicos. Segundo o 
autor, o que os distinguia como unidade eram o clima quente e úmido. Coura 
(1992, p. 236) já afirmava que a saúde nos trópicos e em climas temperados 
dependia de adaptações (físicas, fisiológicas, ecológicas, culturais), adquiridas em 
um aprendizado secular para a manutenção do equilíbrio. 
No final do século XIX, embora avançassem de modo substancial os 
conhecimentos sobre os microrganismos e as doenças a eles relacionadas, 
quando não houvesse consenso sobre a etiologia de determinadas condições, os 
defensores das chamadas febres idiopáticas tendiam a privilegiar o clima como 
fator nosológico (Edler, 2010, p. 312). É nesse ambiente político, social e científico 
que se desenvolveu a temática e o conceito das doenças tropicais. 
Samuel Barnsley Pessôa (1898-1976), autor clássico da literatura de saúde 
pública, conceituou de modo magistral as doenças tropicais (Pessôa, p. 143-144, 
1978), realçando que essa visão sobre saúde veio das potências imperialistas e 
colonizadoras: doenças tropicais são as moléstias de ocorrência frequente nos 
trópicos e, no contexto daquela época, raramente observadas, ou que ainda não 
haviam ocorrido, nos países então considerados potências ou impérios. O autor, 
apoiado nos textos de Afrânio Peixoto (1876-1947), grande sanitarista brasileiro, 
fez importante reflexão a esse respeito, afirmando que o termo surgiu do 
preconceito europeu (Pessôa, 1978, p. 143). Afinal, para eles só a Europa e os 
europeus tinham valor, e assim as doenças tinham nomes que eram manchas 
desonrosas aos demais continentes, como peste oriental e tifo americano. 
Assim, é nítido que o conceito tinha a finalidade de apoiar a política e o 
status quo das nações mais poderosas do século XIX e começo do século XX. Em 
que pese esse cenário, a cátedra de Medicina Tropical tornou-se destacada no 
ensino médico, sendo que uma das primeiras foi inaugurada por ninguém menos 
que Carlos Chagas (1879-1934), em 1926, na Universidade Federal do Rio de 
Janeiro, dedicada ao estudo dessas doenças e também a demonstrar que as 
realizações práticas de higiene e de medicina tropical destruiriam esse velho 
conceito de fatalidade climática, tão propalado pelos europeus (Coura, p. 337, 
1992). Com o passar do tempo, especialmente no final do século XX, houveram 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
3 
importantes mudanças políticas, sociais, econômicas e tecnológicas; tais 
modificações alteraram as relações de poder entre os países e os blocos se 
organizaram. Como exemplo, temos o G20, conjunto das vinte maiores economias 
do mundo, criado em 1999 (Ramos et al., 2012, p. 11-12) e o Brics, que alinha 
Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul (Santos et al., 2017, p. 80), lembrando 
que a China é 2ª economia do mundo atualmente. Assim, há maior autonomia e 
autoafirmação a países antes considerados meramente periféricos, e hoje 
incorporados ao conjunto dos países mais destacados nos cenários político, 
econômico e tecnológico, com aprimoramento dos sistemas de saúde. 
Ainda assim, desafios sanitários e sociais ainda persistem, como grande 
pobreza de parcelas da população, problemas de saneamento ambiental (esgoto, 
resíduos, acesso à água) e poluição ambiental de modo persistente e crescente. 
No presente, diante do cenário de crise ambiental, se assiste à reemergência de 
doenças consideradas controladas e ao surgimento de novos desafios, como por 
exemplo doenças antes desconhecidas ou raramente detectadas (Pignatti, 2004, 
p.137-138). Nesse contexto, surge uma nova percepção sobre doenças tropicais 
que estão negligenciadas. 
As doenças tropicais negligenciadas (DTNs) afetam principalmente, mas 
não somente, as regiões mais vulneráveis das sociedades modernas (Dias; 
Dessoy, 2013). Hoje em dia, assistimos à sua disseminação, inclusive, nas nações 
antes consideradas potências tradicionais, como a dengue nos Estados Unidos 
(Barreto; Teixeira, 2008, p. 53). 
Segundo a OMS, as DTNs afetam mais de um bilhão de pessoas, 
provocando incapacitação crônica e morte. Suas vítimas prevalentes são as 
populações expostas a carências em termos de saneamento básico. Numa 
reflexão de 2006 (p. 1522), Morel comentava que a Organização Mundial da 
Saúde (OMS) e a organização não-governamental (ONG) Médicos Sem 
Fronteiras (Médecins Sans Frontières) propuseram uma nova classificação das 
doenças considerando o impacto em saúde pública: globais (ocorrem em todo o 
mundo), negligenciadas (mais prevalentes em países em desenvolvimento) e 
mais negligenciadas (exclusivas dos países em desenvolvimento). O fato é que 
estas doenças estão presentes, criando sérios transtornos à população e desafios 
aos sistemas de saúde, de modo que o nosso país não pode ficar alheio a esse 
cenário. 
 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
4 
1.1 Doenças classificadas como tropicais e negligenciadas 
Diversas doenças estão listadas como Doenças Tropicais – hoje prevalece 
o termo DTNs, como já abordado. Na classificação da OMS, as DTNs são dengue, 
dracunculose, doença de Chagas, esquistossomose, filariose linfática, 
helmintíases transmitidas via solo, leishmaniose cutânea, leishmaniose visceral, 
lepra, oncocercose, raiva, teníase/cisticercose e a equinococose/hidatidose, 
tracoma, trematodiose de transmissão alimentar, treponematoses endêmicas, 
tripanossomíase africana humana e úlcera de Buruli. Neste texto, vamos nos ater 
a alguns exemplos de DTNs de interesse no Brasil. 
As doenças negligenciadas apresentam, de acordo com Garcia et al. 
(2011), endemicidade elevada em áreas menos favorecidas (rurais e urbanas) em 
países em desenvolvimento, e são pouco relevantes em termos de pesquisa e 
desenvolvimento (P&D) de fármacos para seu enfrentamento. Isso indica uma 
relação perversa, sob elementos econômicos e políticos – são pouco atraentes 
para investimento em P&D de fármacos, levando em conta que afetam 
populações de regiões ambiental e socialmente muito vulneráveis (Anvisa, 2007). 
Garcia e Silva (2016) observam que, em nosso país, em que pese o 
aprimoramento do sistema de saúde via criação do Sistema Único de Saúde – 
SUS, em 1990, várias das DTNs persistem. As autoras indicam dados 
epidemiológicos importantes no documento do Instituto de Pesquisa Econômica 
Aplicada (IPEA): no triênio 2009-2011, foram notificados 217.274 novos casos de 
tuberculose, 109.283 novos casos de hanseníase (lepra) e 936.606 novos casos 
de malária. 
TEMA 2 – DOENÇAS TROPICAIS NEGLIGENCIADAS RELEVANTES 
Vamos abordar alguns aspectos importantes sobre algumas DTNs de 
destaque no caso do Brasil. 
2.1 Dengue 
É uma doença viral (Ferreira; Chiaravalotti Neto; Mondini, 2018) infecciosa 
febril e aguda, com febre alta (39-40oC), que começa abrupta (Brasil, 2010). 
Outros sintomas são: cefaleia, adinamia, mialgias, artralgias e dor retro-orbitária 
(em 2 a 6 dias de evolução). Podem estar presentes nos quadros clínicos 
manifestações hemorrágicas, epistaxe, gengivorragia, petéquias, metrorragia, 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
5 
hematêmase, melena, hematúria além de plaquetopenia (Brasil, 2010). Pode ser 
de curso benigno ou grave, conforme se apresenta: infecção inaparente, dengue 
clássico, febre hemorrágica da dengue, síndrome de choque da dengue (Funasa, 
2010). Nos casos graves de dengue,
surgem as seguintes manifestações: entre o 
terceiro e o sétimo dia do seu início, quando a febre declina, registram-se vômitos 
importantes, dor abdominal intensa, hepatomegalia dolorosa, desconforto 
respiratório, letargia e derrames cavitários (pleural, pericárdico, ascite), que 
indicam a possibilidade de evolução do paciente para formas hemorrágicas 
severas (Brasil, 2010). 
2.1.1 Aspectos epidemiológicos da dengue 
A doença é denominada popularmente febre de quebra ossos (Brasil, 
2010). O agente etiológico é o vírus da dengue, da família Flaviviridae, gênero 
Flavivirus (Guzman et al., 2010), cujos sorotipos são quatro, DENV1 a DENV4, 
sendo transmitidos por vetores, mosquitos do gênero Aedes (Who, 2009). No 
Brasil, o vetor mais importante é o Aedes aegypti, que também transmite os vírus 
da chikungunya e zika (Ferreira; Chiaravalotti Neto; Mondini, 2018). Outro 
mosquito, o Aedes albopictus presente no país, ainda não foi associado à 
transmissão da doença (Brasil, 2010). São infectados anualmente 390 milhões de 
indivíduos; há 20 mil óbitos e são 500 mil internações a cada ano, o que a torna a 
arbovirose mais importante para a saúde pública mundial (Funasa, 2010). Em 
2015, a epidemia de dengue atingiu 21 estados brasileiros com 1.350.406 casos 
entre janeiro e agosto (Maniero et al., p. 140, 2016). Em 2016 haviam sido 1.483. 
623; analisando os dados de 2017, foram registrados 251.711 casos, (Brasil, 
2018, p. 3). A transmissão se dá pela picada da fêmea do Aedes aegypti, que se 
alimenta do sangue do humano infectado, indivíduo com doença febril aguda, em 
fase virêmica (Singhi; Kissoon; Bansal, 2007, p. S23). Após 8-12 dias de 
incubação, o inseto está apto a infectar outros humanos (Brasil, 2010). Não há 
transmissão por contato direto com secreções de doentes com pessoas 
saudáveis, por água ou por alimento (Brasil, 2010). Quanto ao tratamento, deve 
ser sintomático, com analgésicos e antipiréticos, com indicação para hidratação 
via oral ou parenteral, considerando a condição do paciente (Brasil, 2010). 
 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
6 
2.1.2 Medidas para controle e prevenção da dengue 
As medidas de prevenção e controle estão voltadas, sobretudo, ao 
enfrentamento do vetor. Há vacina disponível no mercado internacional, mas é 
objeto de polêmica (Frey, 2018) e não está inserida em ação sistemática no âmbito 
do Programa Nacional de Imunização (PNI), tendo sido usada apenas em uma 
unidade da federação (estado do Paraná) (Oliveira, 2016, p. 6). Desde o início dos 
surtos epidêmicos de dengue, o esforço das autoridades era na busca pela 
erradicação do vetor. Em 2001, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) 
abandonou essa ideia e passou a trabalhar visando o controle do vetor. Maniero 
et al. (2016) destacam que os programas de prevenção e controle dessa 
arbovirose no Brasil têm se revelado ineficazes, devido ao uso indiscriminado de 
inseticidas (desperta resistência no vetor) e de medicamentos (resistência do 
agente etiológico). Nesse contexto, a identificação e a eliminação dos focos que 
permitem a proliferação do mosquito é a ação básica. Deve-se fazer o 
saneamento ambiental, evitando acúmulo de resíduos descartados de modo 
inadequado, como pneus, garrafas e sacolas plásticas. Não se deve esquecer 
também das caixas d´água sem tampa e sem limpeza periódica. As medidas de 
proteção pessoal e domiciliar também devem ser empregadas. Maniero et al. 
(2016) recomendam roupas que reduzam exposição da pele durante o dia 
(período em que os mosquitos são mais ativos), uso racional de repelentes e 
inseticidas (com orientação), mosquiteiros para pessoas acamadas e crianças 
pequenas/bebês. Os autores complementam que novas tecnologias estão sendo 
testadas, como mosquitos geneticamente modificados. 
2.2 Esquistossomose mansônica 
Doença parasitária ocasionada pelo helminto Schistossoma mansoni 
(Vitorino et al., 2012), e tendo como hospedeiro intermediário espécies de 
caramujos do gênero Biomphalaria. (Moreira; Valadão; Martins, 2011; Brasil, 
2014). É doença de veiculação hídrica importante que, ainda que tenha baixa 
mortalidade, tem elevada capacidade de debilitar os pacientes (Moreira; Valadão; 
Martins, 2011). Na fase aguda, pode ser assintomática ou apresentar-se como 
dermatite cercariana. Cerca de três a sete semanas após a exposição, pode 
ocorrer a febre de Katayama, com febre, linfodenopatia, anorexia, dor abdominal, 
cefaleia (Brasil, 2010). Pode ocorrer diarreia, náuseas, vômitos ou tosse seca. 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
7 
Passados seis meses da infecção, há risco de evolução para quadro clínico mais 
grave, que pode ser hepatointestinal, hepático, hepatoesplênico compensado e 
hepatoesplênico descompensado. Este último é mais grave, com redução da 
funcionalidade hepática (Brasil, 2010). 
2.2.1 Aspectos epidemiológicos da esquistossomose mansônica 
Trata-se de importante endemia típica das Américas, Ásia e África, 
conhecida por barriga d´água, xistosa ou doença do caramujo (Katz; Almeida, 
2003). Afeta 200 milhões de pessoas no mundo em 54 países considerados 
endêmicos, e ameaça 600 milhões de pessoas (Brasil, 2014, p. 21). No Brasil os 
números variam; provavelmente há seis milhões de portadores especialmente na 
região Nordeste e no estado de Minas Gerais (Katz; Almeida, 2003; Ibikounlé; 
Mouahid; Kakiti, 2009), No Brasil (2010) há ampla distribuição, com 19 estados e 
Distrito Federal afetados. Entre 2003 e 2012, a média de pacientes identificados 
por inquérito coproscópico foi de 101.293 (Brasil, 2014). Em 2012, segundo a 
mesma fonte, foram registrados 426 óbitos decorrentes da doença. 
2.2.2 Medidas para controle e prevenção da esquistossomose mansônica 
As medidas envolvem controle dos portadores, controle dos hospedeiros 
intermediários, educação em saúde e saneamento ambiental (Brasil, 2010). No 
primeiro caso, identificação e tratamento desses pacientes, com inquéritos 
coproscópicos, sob responsabilidade das secretarias de saúde dos municípios em 
áreas endêmicas. No segundo, em caráter complementar, são feitas pesquisas de 
coleções hídricas para determinar o potencial de transmissão e medidas de 
saneamento ambiental, visando dificultar a proliferação e o desenvolvimento dos 
hospedeiros intermediários, bem como tentar impedir o indivíduo infectado de 
contaminar as coleções hídricas com ovos do agente. Quando indicado, há 
tratamento químico dos criadouros reconhecidos como de importância 
epidemiológica. As ações de educação são reconhecidamente fundamentais, para 
que a população em geral, especialmente nas áreas endêmicas, tenha 
conhecimento necessário para se precaver. Especial atenção deve ser dada às 
populações de escolares nessas regiões (Brasil, 2010). O saneamento ambiental 
reduz a proliferação e a contaminação dos hospedeiros intermediários, diminuindo 
o contato do homem com esses agentes transmissores (caramujos infectados) 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
8 
2.2.3 Tratamento da esquistossomose mansônica 
O único fármaco empregado para tratamento nos programas de controle 
da doença no mundo é o praziquantel, que tem índices de cura de 80% em adultos 
e 70% em crianças; não há relatos de resistência na literatura até este momento 
(Brasil, 2014) 
2.3 Leishmaniose tegumentar americana (LTA) 
É doença infecciosa e não contagiosa, também denominada úlcera de 
Bauru, nariz de tapir ou botão do Oriente. É ocasionada por protozoários do 
gênero Leishmania, de transmissão via vetores (Brasil, 2010), por mosquitos 
flebotomíneos – Ordem Diptera, Família Psychodidae, sub-Família 
Phlebotominae) (Basano; Camargo, 2004). Acomete pele e mucosas. A doença 
cutânea se mostra em pápulas que evoluem para ulcerações (fundo granuloso, 
bordas infiltradas em moldura). Podem ser também
placas verrucosas, papulosas, 
nodulares, localizadas ou difusas (Brasil, 2010). A forma mucosa caracteriza-se 
por infiltração, ulceração e destruição dos tecidos da cavidade nasal, faringe ou 
laringe (Brasil, 2010). 
2.3.1 Aspectos epidemiológicos da LTA 
No Brasil, já foram identificadas sete espécies do agente etiológico, 
Leishmania, sendo seis do subgênero Viannia e uma do subgênero Leishmania. 
As mais importantes são Leishmania (Viannia) braziliensis, L. (L.) amazonensis e 
L. (V.) guyanensis (Brasil, 2010). No mundo, a doença afeta 88 países – quatro 
continentes, excetos Oceania –, com registro de 1 a 1,5 milhões de casos e 
distribuição por todo o Brasil (Brasil, 2010). Foram registrados uma média de 
24.684 casos confirmados no Brasil, de 2000 a 2009, de acordo com o Sistema 
de Informação de Agravos de Notificação – Sinan (Pelissari et al., 2011). A 
transmissão se dá pela picada da fêmea do mosquito do gênero Lutzomya – nome 
popular mosquito palha, birigui, entre outros (Brasil, 2010). Vários animais 
domésticos são reservatórios, como cães, gatos, cavalos além de marsupiais, 
roedores, preguiças (Brasil, 2010). 
 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
9 
2.3.2 Medidas de controle e prevenção da LTA (Brasil, 2010) 
No caso do homem, estimular medidas de proteção individual, como: 
repelentes, mosquiteiros de malha fina, uso de telas para portas e janelas e evitar 
se expor nos horários de pico do vetor (crepúsculo e noite). Já para o vetor, 
saneamento ambiental (limpeza de terrenos e quintais), limpeza frequente de 
abrigos de animais domésticos, destino adequado de resíduos sólidos orgânicos 
e podas de árvores para a redução da umidade. Para controle: organização dos 
serviços de saúde para diagnóstico e tratamento adequado, controle químico do 
vetor somente nas áreas de transmissão, não sendo recomendado em ambiente 
silvestre. Incluímos também ações voltadas a reservatórios e eutanásia em cães, 
somente com constatação de lesões mucosas e infecções secundárias que levam 
o animal a sofrimento. 
2.3.3 Tratamento da LTA 
Uso da droga de primeira escolha, o antimonial pentavalente N-metil 
glucamina; se houver resistência se faz uso da anfotericina B (Murback et al., 
2011) e isotianato de pentamidina (Brasil, 2010). 
TEMA 3 – VAMOS FALAR DE PREVENÇÃO, ABORDANDO VACINAS 
As vacinas têm importante papel na Saúde Pública, mundial desde o 
pioneirismo de Edward Jenner (1749-1823) e o extenso trabalho de Louis Pasteur 
(1822-1895), com significativos sucessos, o mais emblemático, a erradicação da 
varíola em 1977 (Shatzmayr p. 1527, 2001; Diniz; Ferreira, 2010, p. 19). Aqui no 
Brasil, temos o Programa Nacional de Imunização – PNI, instituído em 1975, na 
esteira da erradicação da temida varíola, e uma boa aceitação da sociedade 
quanto à vacinação. Embora haja polêmicas e eventuais questionamentos, elas 
são reconhecidas como bens e ações positivas e públicas (Hochmann, 2011). 
O sucesso da imunização lhe conferiu credibilidade social. As vacinas 
transitaram por diferentes estágios tecnológicos. Diniz e Ferreira (2010) as 
classificam em três grandes grupos. A primeira geração emprega o patógeno em 
sua constituição completa, porém atenuado, exemplificadas pelas da varíola, 
tuberculose e poliomielite. Na segunda geração, temos vacinas produzidas para 
atuar contra um alvo específico do patógeno, como proteína, toxoides, 
polissacarídeos purificados. Por exemplo: vacina da hepatite B, pneumonia e 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
10 
antitetânica. Na terceira geração, chamadas de vacinas de DNA ou gênicas, 
emprega-se a informação genética do patógeno, que codifica determinadas 
proteínas. A limitação desse grupo é o custo para desenvolvimento, que é 
elevado, e o fato de vacinas de segunda geração terem grande aceitação nos 
sistemas de saúde. 
3.2 Uso de vacinas na DTNs 
Em relação às doenças tropicais negligenciadas, objeto desta aula, a 
tecnologia de vacinas é objeto de estudo para várias doenças. Como já abordado 
no tópico de dengue, existem iniciativas para produção de vacina contra essa 
perigosa doença. Na França, existe uma vacina com eficácia inferior a 70%, que 
foi trazida ao Brasil via estado do Paraná, mas essa iniciativa gerou bastante 
polêmica, conforme já comentado. O Instituto Butantã está desenvolvendo 
pesquisas sobre vacina contra dengue (Raw; Higashi, 2008, p. 166). A vacina 
contra raiva tem seu ciclo tecnológico de produção disponível para o Brasil, no 
mesmo Instituto. 
TEMA 4 – INSETICIDAS E REPELENTES NO ENFRENTAMENTO DAS DTNS 
Inseticidas são substâncias químicas para matar, atrair e repelir insetos, 
sendo sua descoberta, isolamento, síntese, avaliação toxicológica e impacto 
ambiental um tópico de pesquisas relevante no mundo inteiro, e em pleno 
desenvolvimento (Viegas Júnior, 2003). O autor destaca que o uso de inseticidas 
consome, mundialmente, valores da ordem de bilhões de dólares, na tentativa de 
controlar insetos. 
Segundo Castro e Rosemberg (2015), no Brasil o uso de inseticidas para o 
controle/eliminação de vetores e patógenos é prática relevante e massiva. Eles 
comentam que são mais de mil novos agentes químicos lançados anualmente no 
mercado mundial, em um universo que já inclui mais de 100.000 agentes químicos 
sintéticos disponíveis no mercado. É nesse cenário que o controle químico, com 
inseticidas de origem orgânica ou inorgânica, se destaca como uma das 
metodologias mais adotadas, como parte do manejo sustentável e integrado para 
o controle de vetores em Saúde Pública. 
O primeiro inseticida de efeito prolongado foi o DDT (dicloro-difenil-
tricloroetano), notório poluente ambiental, objeto de polêmica, uma vez que é 
empregado por diversos países (especialmente mais pobres) para controle de 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
11 
vetores da malária e leishmaniose. No Brasil seu uso está proibido desde 2009, 
pela Lei Federal n. 11.936, de 14 de maio. Os outros compostos orgânicos 
pertencem aos grupos dos organofosforados, carbamatos e piretroides. Luna 
(2008) destaca temefós e também cita o metoprene. 
Quando doenças como Chikungunya (CK) e zika, igualmente transmitidas 
pelo vetor do dengue, passaram a ser sinônimos de graves desafios à saúde 
pública, em 2015, uma das medidas adotadas pelo Ministério da Saúde brasileiro 
(MS) foi recomendar o uso de repelentes de inseto, inclusive às gestantes (Anvisa, 
2015), lembrando da gravidade da associação da zika com a microcefalia e a 
severidade que as dores articulares da CK podem alcançar. 
Os produtos deveriam ser registrados na Anvisa e possuir alguns agentes: 
n,n-Dietil-meta-toluamida (DEET), apontado como seguro às gestantes, 
contraindicado para crianças menores de dois anos; hidroxietil isobutil piperidina 
carboxilato (Icaridina ou Picaridina), etil butilacetilaminopropionato (EBAAP ou 
IR3535) e o óleo essencial de citronela (Cymbopogon nardus), bastante 
conhecido. Ressalta-se a importância do óleo de eucalipto-limão (Eucalyptus 
citriodora) como a melhor opção repelente entre os óleos naturais. 
Em relação ao dengue, Luna et al. (2004), em estudo comparativo feito em 
Curitiba, Paraná, identificaram que o vetor era suscetível ao temefós e 
apresentava resistência à cipermetrina. Simas et al. (2004) também alertaram do 
surgimento de formas resistentes do mosquito vetor. Os autores complementam 
que o fenômeno de resistência a inseticidas convencionais é um dos principais 
obstáculos ao controle de insetos de importância na agricultura e na saúde, e isso 
acarreta aumento da frequência de aplicação, dosagens crescentes, rendimentos 
diminuídos, danos ambientais e surgimento de doenças, quando esses vetores 
não podem ser controlados. Em relação ao temefós, também há relatos de 
resistência do vetor a esse
agente químico (Beserra et al., 2007; Diniz et al., 2014), 
o que gera desafios significativos aos sistemas de controle de vetores. 
4.1 Alternativas visando ao controle biológico de vetores 
Como se percebe, o controle químico com produtos sintéticos é difícil e 
caro, demandando grande esforço tecnológico para se obter agentes efetivos, 
ampliando-se ainda o risco de impactos ambientais adversos, com poluição e 
resistência e ameaça à saúde humana e ambiental. Viegas Júnior (2003) alerta 
para esse cenário, refletindo que a poluição ambiental e a resistência adquirida 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
12 
têm incentivado a busca por novos agentes, que sejam seguros, custo-efetivos, 
biodegradáveis e com potencial para serem integrados a programas de controle 
de insetos com baixo impacto ambiental. Pesquisas têm sido desenvolvidas para 
identificar agentes com potencial inseticida oriundos da: a) flora (Viegas Júnior, 
2003; Simas et al., 2004; Furtado et al., 2005; Chapagain; Saharan; Wiesman, 
2008; Pohlit et al., 2011; Pinto et al., 2012; Lima et al., 2018); b) microrganismos 
(Praça et al., 2004; Costa et al., 2010; Walker et al., 2011; Monnerat, 2012; Zara 
et al., 2016); c) outros agentes biológicos, como peixes (Cavalcanti et al., 2007). 
4.2 Inseticidas obtidos de produtos da flora 
Os produtos mais conhecidos para uso repelente são as já citadas citronela 
e eucalipto-limão, mas há outros que são incluídos no rol de agentes 
recomendados. São classificados como óleos naturais, em que também estão 
incluídos óleo de soja (Glycine max). Sobre citronela, a recomendação é 
reaplicação a cada hora para efeito repelente. Em relação ao eucalipto-limão, os 
autores reportam que seu constituinte ativo foi identificado e isolado, é o p-
mentano-3,8-diol, com a sigla PMD. Nesse caso, estudo de Moore et al. (2007), 
avaliando PMD associado a óleo de capim-limão (Cymbopogon citratus), teve 
efeito comparável ao DEET na concentração 15%, contra o vetor da malária 
Anopheles darlingi. Também há diversos outros agentes extraídos de plantas 
sendo investigados conforme, já destacado em 4.1. 
4.3 Inseticidas ou meios de controle biológicos 
Diversos meios têm sido estudados para efetivar controle biológico de 
vetores, como o vetor do dengue é prioridade conforme já largamente destacado, 
será um dos focos da análise. Para entender melhor, controle biológico é o uso 
pelo homem de predadores e patógenos, ou seja, inimigos naturais para eliminar 
ou controlar populações de vetores (Andrade; Santos, 2004). No caso do vetor do 
dengue, uma das metodologias adotadas é a investigação com espécies de 
peixes, fêmeas e machos de Trichogaster trichopteros e de Astyanax fasciatus. 
Fêmeas de Betta splendens e de Poecillia sphenops foram os que apresentaram 
maior competência para predar as larvas de Aedes aegypti em ambiente 
laboratorial, 100% no primeiro caso (Cavalcanti et al., 2007). 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
13 
Para controle usando agentes patógenos, um dos microrganismos de maior 
interesse é o Bacillus thuringiensis, pois é reconhecidamente um entomopatógeno 
de diversas ordens de insetos-praga, Lepidoptera, Coleoptera e dípteros vetores 
de diversas doenças humanas (Costa et al., 2010). Espindola, Guedes, Souza 
(2008) identificaram que o B. thuringiensis teve eficácia em termos de mortalidade 
de larvas do vetor (contaminadas com o vírus) em 99,5%. Praça et al. (2004) 
também indicaram efetividade do bioagente contra larvas do vetor. 
Destaca-se a importância dessa metodologia e desse agente em especial, 
uma vez que inseticidas à base desse bacilo responderiam por 90% do mercado 
mundial de bioinseticidas, e que ele realmente seria efetivo contra larvas de 
dípteros como a do Aedes aegypti. Zara et al. (2016) indicam a crescente 
importância dos estudos sobre a bactéria Wolbachia, naturalmente presente em 
60% dos insetos, que tem potencial para reduzir pela metade a vida de um vetor 
adulto além de afetar a capacidade de reprodução. Walker et al. (2011) também 
realçam o potencial desse microrganismo. 
TEMA 5 – ENFRENTAMENTO INTEGRADO, ESSA É A CHAVE 
Vai ficando claro que o enfrentamento das DTNs não pode ser feito se não 
houver uma somatória de esforços, adotando metodologias distintas. A crise 
ambiental certamente não contribui nesse contexto; ao contrário, tem potencial de 
agravamento da situação. É desse modo que vai se tornando claro que não há 
resultado mais efetivo se não houver manejo integrado. O Brasil buscou definir 
um plano de ação no controle às doenças negligenciadas via investimento em 
pesquisa e financiamento em novas tecnologias, iniciando, em 2006, o Programa 
de Pesquisa e Desenvolvimento em Doenças Negligenciadas (Santos et al., 
2017). Com dados epidemiológicos, demográficos e impactos das doenças, foram 
definidas, entre as doenças consideradas negligenciadas, sete prioridades de 
atuação que compõem o programa que abrange essas doenças: dengue, doença 
de Chagas, leishmaniose, hanseníase, malária, esquistossomose e tuberculose 
(Brasil, 2010). 
A situação epidemiológica quanto às DTNs segue preocupante, como os 
dados apresentados revelam, e o enfrentamento desse cenário incluirá, 
necessariamente, a atuação dos profissionais e do setor Saúde aliados a ações 
de desenvolvimento social e econômico (Santos et al., 2017), que rompam o 
círculo vicioso da pobreza, da doença e da má qualidade de vida. Sem dúvida, 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
14 
incluem um rol de problemas de saúde que seriam tratáveis e curáveis em boa 
parte dos cenários. Como indicam Reis et al. (2016), uma das principais críticas a 
ser considerada é a baixa atratividade aos segmentos financiadores do sistema 
de saúde, uma vez que são populações de baixa renda e condição social 
precarizada. Os autores complementam que as tecnologias de diagnóstico e 
tratamento podem ser consideradas desatualizadas, não recomendáveis ou até 
mesmo obsoletas, se comparadas ao estado da arte da tecnologia em saúde, 
demandando certamente novos investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e 
Inovação. 
5.1 Enfrentamento integrado das DTNs 
Como seria então esse movimento integrado? O Brasil tem empreendido 
importantes esforços nesse sentido, pois é um dos países que mais tem investido 
em pesquisas com DTNs (em sexta posição no mundo). Grisotti (2010) indica uma 
série de estratégias para resultado efetivo no enfrentamento das DTNs: a) 
educação; b) políticas públicas de comunicação/informação à sociedade; c) 
investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação, com foco em fármacos, 
medicamentos, outras tecnologias terapêuticas, tecnologias diagnósticas; d) 
ações para controle de vetores (não se usa mais a expressão erradicação, dadas 
as condições adversas para esse tentame); e) acesso a água potável e de 
qualidade; f) saneamento básico; g) controle de zoonoses. 
 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
ANDRADE, C. F. S.; SANTOS, L. U. O uso de predadores no controle biológico 
de mosquitos, com destaque aos Aedes. nov. 2004. Disponível em: 
<https://www2.ib.unicamp.br/profs/eco_aplicada/arquivos/artigos_tecnicos/c%20
b%20de%20mosquitos%20eu+lu%202004.pdf>. Acesso em: 2 jan. 2019. 
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n. 28, de 4 
de abril de 2007. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 abr. 
2007. 
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Sobre o uso de repelentes de 
inseto durante a gravidez. PortalArquivos, 2015. Disponível em: 
<http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2015/dezembro/04/nota-anvisa-
repelentes-e-saneantes-02dez2015.pdf>. Acesso em: 2 jan. 2019. 
BARRETO, M. L.; TEIXEIRA, M. G. Dengue no Brasil: situação
epidemiológica e 
contribuições para uma agenda de pesquisa. Estudos Avançado, v. 22, n. 64, 
2008. 
BASANO, S. DE A.; CAMARGO, L. M. A. Leishmaniose tegumentar americana: 
histórico, epidemiologia e perspectivas de controle. Rev. Bras. Empidemiol., v. 
7, n. 3, 2004. 
BESERRA, E. B. et al. Resistência de Populações de Aedes aegypti (L.) (Diptera: 
Culicidae) ao Organofosforado Temefós na Paraíba. Neotropical Entomology, v. 
36, n. 2, p. 303-307, 2007. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde Boletim 
Epidemiológico, v. 49, n. 14, abr. 2018. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento 
de Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso 
8. ed. rev. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 
_____. Vigilância da Esquistossomose Mansoni: diretrizes técnicas. 4. ed. 
Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 
CASTRO, J. S. M.; ROZEMBERG, B. Propaganda de inseticidas: estratégias para 
minimização e ocultamento dos riscos no ambiente doméstico. Saúde Soc. São 
Paulo, v. 24, n. 1, p. 308-320, 2015. 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
16 
CAVALCANTI, L. P. de G. Competência de peixes como predadores de larvas de 
Aedes aegypti, em condições de laboratório. Rev. Saúde Pública, v. 41, n. 4, p. 
638-44, 2007. 
CHAPAGAIN, B. P.; SAHARAN, V, WIESMAN, Z. Larvicidal activity of saponins 
from Balanites aegyptiaca callus against Aedes aegypti mosquito. Bioresour 
Technol, v. 99, n. 5. p. 1165-8, Mar. 2008. 
COSTA, J. R. V. da. et al. Atividade Tóxica de Isolados de Bacillus thuringiensis a 
Larvas de Aedes aegypti (L.) (Diptera: Culicidae). Neotropical Entomology, v. 
39, n. 5, p. 757-766, 2010. 
COURA, J. R. Endemias e meio ambiente no século XXI. Cad. Saúde públ., Rio 
de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 335-341, jul./set. 1992. 
DIAS, L. C.; DESSOY, M. A. Doenças tropicais negligenciadas: uma nova era de 
desafios e oportunidades. Quim. nova, v. 36, n. 10, p. 1552-1556, 2013. 
DINIZ, M. de O.; FERREIRA, L. C. de S. Biotecnologia aplicada ao 
desenvolvimento de vacinas. Estudos Avançados, v. 24, n. 70, 2010. 
DINIZ, M. M. C. de S. L. et al. Resistência de Aedes aegypti ao temefós e 
desvantagens adaptativas. Rev Saúde Pública, v. 48, n. 5, p. 775-782, 2014. 
EDLER, F. Medicina tropical: uma ciência entre a nação e o império. Diálogos, 
Maringá, v. 14, n. 2, p. 305-325, 2010. 
ESPINDOLA, C. B.; GUEDES, R. N. SOUZA, R. C. P. de. Avaliação da eficácia 
do Bacillus thuringiensis var. israelensis no controle de formas imaturas do Aedes 
(Stegomyia) aegypti (Linnaeus, 1762) em ambiente de laboratório. 
EntomoBrasilis, v. 1, n. 1, p. 10-13, jan./abr. 2008. 
FERREIRA, A. C.; CHIARAVALOTTI NETO, F.; MONDINI, A. Dengue em 
Araraquara, SP: epidemiologia, clima e infestação por Aedes aegypti. Rev. Saúde 
Pública. v. 58, n. 18, 2018. 
FREY, J. Ministério Público investiga vacinação contra dengue no Paraná. Gazeta 
do Povo, 2018. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/joao-
frey/2018/07/10/ministerio-publico-investiga-vacinacao-contra-dengue-no-
parana>. Acesso em: 2 jan. 2019. 
FUNASA – Fundação Nacional de Saúde. Dengue: Guia De Vigilância 
Epidemiológica. 2010. Disponível em: <http://www.funasa.gov.br/site/wp-
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
17 
content/uploads/2010/01/dengue_%20guia_vig_epid.pdf>. Acesso em: 2 jan. 
2019. 
FURTADO, R. F. et al. Atividade Larvicida de Óleos Essenciais Contra Aedes 
aegypti L. (Diptera: Culicidae). Neotropical Entomology, v. 34, n. 5, p. 843-847, 
2005. 
GARCIA, L. P. et al. Epidemiologia das doenças negligenciadas no Brasil e gastos 
federais com medicamentos: texto para discussão. Ipea, Brasília, abr. 2011. 
GARCIA, L. P; SILVA, G. D. M da. Doenças transmissíveis e situação 
socioeconômica no brasil: análise espacial. Ipea, Brasília, dez. 2016. 
GRISOTTI, M. Doenças infecciosas emergentes e a emergência das doenças: 
uma revisão conceitual e novas questões. Ciência & Saúde Coletiva, v. 15 supl.1, 
p. 1095-1104, 2010. 
GUZMAN M. G., et al. Dengue: a continuing global threat. Nat Rev Microbiol., v. 
8, n. 12, p. S7-16, 2010. 
HOCHMANN, G. Vacinação, varíola e uma cultura da imunização no Brasil. 
Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 2, p. 375-386, 2011. 
IBIKOUNLÉ, M.; MOUAHID, G.; KAKITI, N. G. 2009. Freshwater snail diversity in 
Benin (West Africa) whit a focus human Schistosomiais. Acta Tropica, v. 111, p. 
28-34, 2009. 
KATZ, N.; ALMEIDA, K. Esquistossomose, Xistosa, Barriga D’água. Cienc. Cult., 
São Paulo, v. 55, n. 1, jan./mar. 2003. 
LIMA, J. E. C. de. et al. Uso da fitoterapia no controle do vetor (aedes aegypti) da 
dengue: estudo de revisão da literatura. In: CONBRACIS, 3., 2018. Anais.... 
Disponível em: 
<http://www.editorarealize.com.br/revistas/conbracis/trabalhos/trabalho_ev108_
md1_sa3_id35_21052018180144.pdf>. Acesso em: 2 jan. 2019. 
LUNA, J. E. D. Descrição e análise de fatores epidemiológicos, vetoriais e do 
controle da dengue no estado do Paraná, Brasil. Tese (Doutorado em Ciências 
Biológicas) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008. 
LUNA, J. E. D. et al. Susceptibilidade de Aedes aegypti aos inseticidas temephos 
e cipermetrina, Brasil. Rev. Saúde Pública, v. 38, n. 6, p. 842-843, 2004. 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
18 
MANIERO, V. C. et al. Dengue, chikungunya e zika vírus no Brasil: situação 
epidemiológica, aspectos clínicos e medidas preventivas. Almanaque 
Multidisciplinar de Pesquisa, Rio de Janeiro, ano iii, v. 1, n. 1, 2016. 
MONNERAT, R. et al. Controle de larvas de Aedes aegypti através da utilização 
de Bacillus thuringiensis em São Sebastião (DF), Brasil. Universitas, Brasília, v. 
10, n. 2, p. 115-120, jul./dez. 2012. 
MOORE, S. J. et al. A low-cost repellent for malaria vectors in the Americas: results 
of two field trials. Guatemala and Peru. Malar J, v. 6, n. 101, 2007. 
MOREIRA, M. L.; VALADÃO, A. F.; MARTINS, J. Prevalência da esquistossomose 
mansônica e fatores associados à sua ocorrência em escolares da zona rural de 
Inhapim-MG, 2008. Rev. Bras. Farm, v. 92, n. 4, p. 333-339, 2011. 
MOREL, C. M. Inovação em saúde e doenças negligenciadas (editorial). Cad. 
Saúde Públ., Rio de Janeiro, v. 22, n. 8, p. 1522-1523, ago. 2006. 
MURBACK, N. D. N. et al. Leishmaniose Tegumentar Americana: estudo clínico, 
epidemiológico e laboratorial realizado no Hospital Universitário de Campo 
Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil. An. Bras. Dermatol., v. 86, n. 1, p. 55-63, 
2011. 
OLIVEIRA, M. S. F. Vacina da Dengue no Brasil. Monografia – Faculdade de 
Ciências da Educação e Saúde, Centro Universitário de Brasília, 2016. 
PELISSARI, D. M. et al. Tratamento da Leishmaniose Visceral e Leishmaniose 
Tegumentar Americana no Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 20, n. 1, 
p. 107-110, jan./mar. 2011. 
PESSÔA, S. B. ensaios médico-sociais. 2. ed. São Paulo: Cebes-Hucitec, 1978. 
PIGNATTI, M. G. saúde e ambiente: as doenças emergentes no brasil. Ambiente 
& Sociedade, v. VII, n. 1, jan./jun. 2004. 
POHLIT A. M. et al. Plant extracts, isolated phytochemicals, and plant-derived 
agents which are lethal to arthropod vectors of human tropical diseases: a review. 
Planta Med., v. 77, n. 6, p. 618-30, Apr. 2011. 
PRAÇA, L. B. et al. Estirpes de Bacillus thuringiensis efetivas contra insetos das 
ordens Lepidoptera, Coleoptera e Diptera. Pesq. agropec. bras., Brasília, v. 39, 
n. 1, p. 11-16, jan. 2004. 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
19 
RAMOS, L. et al. A governança econômica global e os desafios do g-20 pós crise 
financeira: análise das posições de Estados Unidos, China, Alemanha e Brasil. 
Revista Brasileira de Política Internacional, v. 55, n. 2, p.10-27, jul./dez. 2012. 
RAW, I.; HIGASHI, I. G. Auto-suficiência e inovação
na produção de vacinas e 
saúde pública. Estudos Avançados, v. 22, n. 64, 2008. 
REIS, A. C. S. de. M. et al. O cenário de políticas públicas do brasil diante do 
quadro das doenças negligenciadas. Revista Acadêmica do Instituto de 
Ciências da Saúde. v. 3, n. 1, ago./dez. 2016. 
SANTOS, W. et al. Ray Kielly. The Brics, Us `Decline` And Global 
Transformations. Conjuntura Internacional, Belo Horizonte, v. 14, n. 1, p. 80-81, 
abr. 2017. 
SHATZMAYR, H. G. varíola: uma antiga inimiga. Cad. Saúde Pública, Rio de 
Janeiro, v. 17, n. 6, p. 1525-1530, nov./dez. 2001. 
SIMAS, N. K. et al. Produtos naturais para o controle da transmissão da dengue: 
atividade larvicida de Myroxylon balsamum (óleo vermelho) e de terpenoides e 
fenilpropanoides. Quim. Nova, v. 27, n. 1, p. 46-49, 2004. 
PINTO, A. C. da. S. et al. Adulticidal Activity of Dillapiol and Semi-synthetic 
Derivatives of Dillapiol against Aedes aegypti (L.) (Culicidae). Journal of 
Mosquito Research, v. 2, n. 1, p. 1-7, 2012. 
SINGHI, S.; KISSOON, N.; BANSAL, A. Dengue and dengue hemorrhagic fever: 
management issues in an Intensive care unit. J Pediatr, Rio de Janeiro, v. 83, n. 
2, p. S22-35, 2007. 
VIEGAS JÚNIOR, C. Terpenos com atividade inseticida: uma alternativa para o 
controle químico de insetos. Quim. Nova, v. 26, n. 3, p. 390-400, 2003. 
VITORINO, R. R. et al. Esquistossomose mansônica: diagnóstico, tratamento, 
epidemiologia, profilaxia e controle. Rev Bras Clin Med, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 
39-45, jan./fev. 2012. 
WALKER, T. et al. The wMel Wolbachia strain blocks dengue and invades caged 
Aedes aegypti populations. Nature, v. 476, n. 7361, p. 450-3, 24 Aug. 2011. 
WHO – World Heatlh Organization. Dengue: guidelines for diagnosis, treatment, 
prevention and control. Geneva: WHO, 2009. 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
20 
ZARA, A. L. de. S. A. Estratégias de controle do Aedes aegypti: uma revisão. 
Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 25, n. 2, p. 391-404, abr./jun. 2016. 
 
 
 
 
 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROGRAMA DE PREVENÇÃO ÀS 
DOENÇAS TROPICAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Javier Salvador Gamarra Junior 
 
 
 
 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
2 
TEMA 1 – BASES, CONCEITOS E FUNDAMENTOS 
1.1 Poluição do solo com foco urbano 
Antes de analisarmos os resíduos de modo mais aprofundado, cabe revisar 
alguns conceitos importantes. O primeiro é poluição, que, segundo Braga (2005, 
p. 2), é um dos componentes do chamado triângulo da crise ambiental, que 
contempla as relações entre população, recursos naturais e poluição. Esse autor 
a define como “alteração indesejável em características físicas, químicas, 
biológicas da atmosfera, litosfera, hidrosfera ou possa causar prejuízo às 
atividades humanas e de outras espécies ou ainda deteriorar materiais” (Braga, 
2005). É importante lembrar, como complementa Braga (2005), que o enfoque de 
análise, sobretudo legal em termos de poluição, deve considerar as alterações 
provocadas pelo homem (antrópicas). 
No texto da Lei n. 6.938/1981 (Política Nacional do Meio Ambiente – 
PNMA), art. 3º, inciso III, está definido pelo legislador o que é poluição, 
degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou 
indiretamente possam afetar recursos ambientais (água, por exemplo) e também 
saúde, segurança, bem-estar (Brasil, 1981). Além disso, pode-se definir o que 
seria poluente, ou seja, os resíduos gerados pelas atividades humanas, causando 
impacto ambiental negativo (que é uma alteração indesejável) (Braga, 2005, p. 6). 
Agora que se revisou o significado de poluição, consideremos o tema 
poluição urbana, a qual, segundo Braga (2005, p. 146),) é aquela proveniente dos 
resíduos gerados pelas atividades econômicas que são típicas das cidades 
(indústria, comércio, serviços, domicílios). Ademais, ainda de acordo com esse 
autor, embora seja de conhecimento que a poluição do solo urbano possa ser 
provocada por resíduos nas fases sólida, líquida e gasosa, é sobretudo na fase 
sólida que está a maior parte dos problemas, uma vez que há grandes 
quantidades e é um sistema imóvel ou, no mínimo, de muito menor capacidade 
de mobilização, que impõe grandes dificuldades ao seu transporte no meio 
ambiente (Braga, 2005). Essa é a razão para que, em termos de enfrentamento 
desse desafio ambiental, o enfoque esteja direcionado à gestão de resíduos 
sólidos, tema preponderante nesta unidade. 
Agora, passemos à análise de lixo, resíduos e demais elementos... é 
importante levar em conta que, embora popularmente se considere que lixo e 
resíduos sejam sinônimos, quando se trata de gestão dos materiais descartados, 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
3 
devem ser considerados diferentes, como veremos adiante (Silveira; Berté; 
Pelanda, 2018, p. 25). Agora, cabe uma pequena reflexão sobre a relação entre p 
homem e o meio ambiente. 
1.2 Crise ambiental, antropocentrismo, tecnologia 
A modernidade criou o ambiente tecnologizado, artificial e deixou de 
proteger a natureza da qual ele mesmo surgiu (Pereira; Calgaro; Rodrigues, p. 
204, 2016). Os autores seguem com a reflexão, afirmando que os riscos criados 
demandam ações urgentes para a sua minimização. E complementam 
estabelecendo que toda a produção deixa rastros na natureza, muitas vezes 
impossíveis de serem apagados. Quando buscamos elementos para 
compreender a crise ambiental relacionada com os resíduos, é importante lembrar 
que modificamos nossa relação com o planeta, numa visão meramente 
antropocêntrica. 
Abordando esse paradigma ambiental, o antropocentrismo, ele é 
considerado predominante e defende a manutenção da qualidade de vida e a 
existência humana (Silva; Reis; Amâncio, 2011). Ou melhor dizendo, nesse 
conceito, o ser humano é indiscutivelmente superior e a natureza é valorizada 
somente como instrumento (Silva, 2014) para satisfazer as necessidades 
humanas. Silva, Reis e Amâncio (2011) lembram que o antropocentrismo se opõe 
ao ecocentrismo, em que a natureza possui valor intrínseco, que Silva (2014) 
realça ainda mais afirmando que a humanidade dela depende, inclusive em uma 
dimensão espiritual. 
Na realidade, o homem se embrenhou em suas conquistas, oriundas do 
engenho e criou a tecnosfera, que, segundo Zalaziewicz et al. (2016), seria um 
sistema consumidor energético de natureza tecnossocial global formado por seres 
humanos e todos os artefatos e sistemas tecnológicos inventados em conjunto 
com os protocolos e informações criados; consiste numa combinação de 
humanidade e tecnologia, ou seja, redes humanas de relações sociais, 
tecnológicas e de capital. E o lixo faz parte dessa esfera que cresce 
incessantemente. Analisemos. 
 
 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
4 
1.3 Lixo 
Originada do latim lix, o termo lixo significa cinzas (Richter, 2014). Lixo seria 
o que remanesce das atividades humanas (Cinquetti, 2004, p. 307) e não é mais 
de interesse de seu proprietário, que o descarta ou “joga fora”. Nardy (2003) o 
classifica como “detritos não utilizáveis pelo homem”. O dicionário Michaelis 
(2019) o define como “resíduos provenientes de atividades [...] que não prestam 
e são jogados fora” é interessante o conceito proposto por Almeida Júnior e 
Amaral (2006), segundo os quais, lixo seria o que deve ser descartado, ou seja, 
sujeira, imundície, inutilidades. O fato, complementam os autores, é que o tema 
lixo é sério, uma vez que os problemas ambientais causados podem ser 
irreversíveis se não houver esforço único e concentrado na busca de soluções 
(Almeida Júnior; Amaral, 2006). Finalmente, Silveira, Berté e Pelanda (2018) 
consideram lixo como tudo aquilo que não tem mais serventia
e deve ser 
descartado. Agora que analisamos o que seria lixo, vamos aos resíduos. 
1.4 Resíduos sólidos 
Os resíduos sólidos urbanos são caracterizados pela ABNT NBR 10.004 
como “resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de 
diversas origens, por exemplo, industrial, doméstica, hospitalar, comercial, 
agrícola, de serviços, de varrição” (ABNT, 2004). Foram incluídos na Norma os 
lodos de sistemas de tratamento de água, os gerados em equipamentos e 
instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas 
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou 
corpos de água... (ABNT, 2004). Segundo Braga (2005), a proveniência do lixo 
(que na verdade engloba lixo e resíduo...) é variada, com constituição bastante 
diversa, com variação de volume de produção de acordo com procedência, nível 
econômico e natureza das atividades. Levando em consideração a relevância e 
necessidade de tratamento e disposição dos resíduos em condições ecológicas, 
sanitárias e econômicas satisfatórias segundo analisado por 
Braga (2005, p. 147), a NBR já citada distingue três classes de resíduos: 
a. Resíduos Classe I ou Perigosos: são aqueles que, isolados ou em 
mistura podem apresentar riscos à saúde pública ou efeitos ambientais 
adversos, isso devido à características intrínsecas (toxicidade, 
inflamabilidade, corrosividade, reatividade, radioatividade, 
patogenicidade); 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
5 
Resíduos Classe II ou Não Inertes: são aqueles que não se enquadram 
nas classificações já descritas; 
Resíduos Classe III ou Inertes: são aqueles que não se solubilizam ou 
que não tem nenhum de seus componentes solubilizados em 
concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, quando 
submetidos a um teste-padrão de solubilização. 
A definição das classes comentadas veio por razões que direcionam para 
mudanças na gestão dos resíduos sólidos, como se verá nesta unidade, 
envolvendo a população (ações de orientação-educação) e serviços públicos, de 
modo a que o manuseio, acondicionamento, coleta, transporte e disposição dos 
resíduos seja conforme a classe em que ficarão enquadrados. 
TEMA 2 – PROBLEMAS COM RESÍDUOS 
A criação de cidades e a crescente ampliação dos espaços urbanos têm 
contribuído para o crescimento de impactos ambientais negativos. Nesse contexto, 
aspectos culturais como consumo de produtos manufaturados e a necessidade de 
água influenciam como se apresenta o ambiente (Mucelin; Bellini, 2008). Os 
autores complementam que os costumes e hábitos no uso da água e a produção 
de resíduos pelo consumo de bens materiais são responsáveis por parte das 
alterações indesejáveis e impactos ambientais (Mucelin; Bellini, 2008). 
Zulauf (2000) estimou que a população mundial poderia ser dividida em três 
segmentos, cada um com aproximadamente um terço da população mundial, que 
em 2000 era na casa dos 6 bilhões e que agora ascende a 7,6 bilhões (Guevane, 
2017). No contexto analisado por Zulauf (2000), ele estimou que 1/3 naquele 
momento comporiam em sua plenitude a sociedade de consumo, outro terço estaria 
à margem do consumo, a não ser para sobrevivência e um terço viveria em 
ascensão, rumo ao mundo dos consumidores. 
Mucelin e Bellini (2008) explicam que a cultura de um povo caracteriza o uso 
do ambiente, os costumes e o perfil de consumo de água e produtos 
industrializados. No ambiente urbano, por exemplo, tais costumes e hábitos 
implicam a produção exacerbada de resíduos e como eles são tratados ou 
dispostos no ambiente, gerando intensas agressões aos fragmentos do contexto 
urbano além de afetar regiões não urbanas. Fazendo uma análise de como é a 
abordagem do poder público brasileiro sobre o tratamento e a disposição de lixo, 
Albertin et al. (2011) ilustram que, nos anos 1970-1980, a disposição de resíduos 
sólidos urbanos no Brasil se dava a céu aberto, de modo inadequado, quando 
proliferaram lixões, em relação aos quais o poder público se preocupava somente 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
6 
em afastar os resíduos das regiões urbanas, destinando-os de modo inadequado a 
encostas, vales, manguezais, áreas de florestas, rios. 
Os impactos ambientais, sanitários e sociais ocasionados pela disposição 
inadequada dos resíduos sólidos urbanos (RSU) estão presentes em todos os 
países, especialmente os em desenvolvimento, onde se observa incapacidade das 
autoridades governamentais em encontrar soluções para reduzir os impactos de 
modo adequado (Albertin et al., 2011). 
Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e 
Resíduos Especiais (ABRELPE), no seu relatório de 2017, foram coletadas no 
Brasil, 71,6 milhões de toneladas de RSU, ou 91,2% do total, o que alerta para o 
fato de 6,9 milhões de toneladas não terem sido coletadas e quanto à destinação, 
42,9 milhões de toneladas são dispostas em aterro sanitário, o que é adequado 
(59,1% do total coletado) e o restante, mais de 29 milhões de toneladas, vai para 
destinações inadequadas, lixões sobretudo (Abrelpe, 2017). A problemática 
ambiental gerada pelo lixo é de difícil solução, e a maior parte das cidades 
brasileiras apresenta serviços de coleta que não preveem a segregação dos 
resíduos na fonte (Mucelin; Bellini, 2008). Esse é o desafio ambiental diante de 
nossa sociedade. Agora, serão apresentadas as consequências desse estado de 
coisas. 
TEMA 3 – IMPACTOS DA GERAÇÃO E DESCARTE DE RESÍDUOS 
São diversos os impactos ambientais negativos que podem ser produzidos 
pelos resíduos gerados pelas atividades humanas (antrópicas) (Mucelin; Bellini, 
2008), como os decorrentes da deposição inadequada de RSU em fundos de vale, 
às margens de cursos d´água ou margens de ruas. A disposição de RSU em lixões 
está relacionada aos impactos significativos, que, a saber, são focos de 
contaminação e doenças, desequilibram os ecossistemas localmente, pois são 
áreas que se tornam inviáveis para a vida e não podem ser reutilizadas (Richter, 
2014). 
Jakobi e Besen (2011) elencam quais os impactos socioambientais 
oriundos da gestão e disposição inadequada dos resíduos sólidos, o que inclui 
degradação do solo, comprometimento dos corpos d´água e mananciais, 
intensificação de enchentes, contribuição para a poluição do ar, proliferação de 
vetores de importância para a saúde pública nos centros urbanos, catação em 
condições insalubres nas ruas e nas áreas de disposição final dos resíduos. 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
7 
Outro aspecto desafiador desse contexto, no entendimento desses autores, 
sobretudo em regiões metropolitanas com grande adensamento urbano e 
populacional, é a falta de locais adequados para dispor os resíduos, isso devido 
aos impactos ocasionados à vizinhança de locais potenciais e à existência de 
áreas ambientalmente protegidas (Jakobi; Besen, 2011). Braga (2005, p. 149) 
comenta que “a prática de uso de lixões como forma de disposição e tratamento 
[grifo nosso] de lixo consiste em lançar e amontoar os resíduos em algum terreno 
baldio, dando origem justamente aos lixões”, designados por esse autor também 
de monturos, que acarretam transtornos de ordem estética, atraem vetores de 
interesse à saúde pública, podendo favorecer episódios de saúde endêmicos e 
epidêmicos. Braga (2005) completa que a poluição do solo urbano por resíduos 
sólidos é o problema maior e mais comum, ao qual deve ser direcionada especial 
atenção. 
Para Almeida Júnior e Amaral (2006) o tratamento adequado de resíduos 
visa ao bem-estar da população, solucionando o problema de armazenamento e 
contribuindo para a eliminação do aspecto antiestético e desagradável dos 
despejos de lixo a céu aberto, o que potencializa a melhora das condições gerais 
das populações mais vulneráveis que sofrem
mais os efeitos da gestão 
inadequada. 
De acordo com Siqueira e Moraes (2009), os problemas relacionados aos 
resíduos sólidos têm se avolumado nas sociedades contemporâneas, implicando 
a deterioração da qualidade de vida nos grandes centros urbanos. As autoras 
seguem apontando que a degradação do ambiente natural não pode ser 
desvinculada de um contexto que inclui comprometimento da saúde física, mental, 
além de desagregação social (Siqueira; Moraes, 2009). Ao avançar na análise do 
tema, as autoras comentam que os resíduos sólidos apresentam risco à saúde 
pública, ocupando nicho estratégico na estrutura epidemiológica social, 
indiretamente afetando a transmissão de doenças, com os vetores adaptados 
àquele ambiente e na interface ambiental os resíduos contaminam ar, águas (de 
superfície e subterrâneas) e o solo (Siqueira; Moraes, 2009). No caso da poluição 
das águas, agem fenômenos naturais, lixiviação, percolação, arrastamento. No 
caso do ar, são emitidos efluentes gasosos e particulados. 
Siqueira e Moraes (2009) concluem a análise apontando que por ano 
seriam 5,2 milhões de mortes por causa das doenças relacionadas com o lixo. 
Braga (2005) acrescenta que se o lixo for lançado em qualquer lugar ou tiver 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
8 
tratamento e disposição inadequados, será uma fonte dificilmente igualável de 
proliferação de insetos e roedores, com os riscos à saúde pública aí originados, 
sem contar o aspecto estético incômodo e o mau cheiro. 
Andrade e Ferreira (2011) fazem importante adendo ao comentar que 
cidades que apresentem gestão deficiente de resíduos sólidos podem sofrer com 
poluição atmosférica oriunda de material particulado, odores e gases nocivos, 
poluição hídrica resultante do chorume de lixões e de lançamento direto dos 
resíduos no ambiente, contaminação e degradação do solo, desvalorização 
imobiliária das áreas próximas aos locais de disposição, proliferação de doenças, 
como já advertido por outros autores. 
Gouveia (2012) nos traz com destaque outro aspecto desse enorme desafio 
social e ambiental: os RSU, que também contribuem na geração dos gases de 
efeito estufa (GEE), os quais, se considerados os maiores volumes lançados pela 
ação antrópica, são responsáveis pelas alterações climáticas. A decomposição 
anaeróbica da matéria orgânica contida nos resíduos gera grande quantidade de 
GEE, sobretudo o metano (CH4), segundo principal gás do efeito estufa. 
O autor alerta também que a geração de resíduos está crescendo na faixa de 7% 
ao ano, com coleta diária variando bastante, conforme a metodologia de 
mensuração adotada, na faixa entre 180 e 250 mil toneladas ao dia (Gouveia, 
2012). No Brasil, nossa geração por habitante está chegando à casa de 
1 kg-1/habitante-1/dia-1, padrão semelhante a alguns países europeus. Gouveia 
(2012) também destaca o papel dos lixões ou vazadouros a céu aberto, que ainda 
respondem por mais da metade da destinação. Outro aspecto relevante que o 
autor inclui em sua análise é que o manejo adequado dos RSUs (que 
abordaremos no tema a seguir) é uma estratégia ambiental e sanitária importante 
(Gouveia, 2012). 
Outros dados que devem chamar a atenção e gerar preocupação se 
baseiam nos estudos do Banco Mundial (World Bank), que, no relatório What a 
Waste 2.0, destacou a geração de resíduos em nível mundial, indicando que o 
mundo produziu 2,01 bilhões de toneladas (esse número pode subir a 3,4 bilhões 
de toneladas em 2050) com ao menos 33% desse montante com destinação 
ambiental inadequada. O valor por habitante por dia em massa é de 0,74 kg-1/hab-
1/dia-1 com variações extremas de 0,11 a 4,54 kg-1/hab-1/dia-1. Consta no 
documento que os países de mais alta renda respondem por ao menos 34% desse 
total (Kaza et al., 2018, p. 3). 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
9 
TEMA 4 – ENFRENTAMENTO DO DESAFIO AMBIENTAL – GESTÃO DE 
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS 
Agora que temos um melhor entendimento sobre os desafios que nos 
impõem os resíduos, analisemos como se deve enfrentar e minimizar o problema. 
Historicamente, em nosso país, o serviço de limpeza urbana foi iniciado em 25 de 
novembro de 1880, no Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, via 
Decreto n. 3.024, assinado pelo imperador D. Pedro II, estabelecendo o contrato 
de limpeza e irrigação da cidade, sob responsabilidade de Aleixo Gary e, mais 
tarde, por Luciano Francisco Gary, cujo sobrenome originou a palavra gari, hoje 
associada aos trabalhadores da limpeza urbana em muitas cidades brasileiras 
(Almeida Júnior; Amaral, 2006). 
O tempo passou, e o sistema de gestão de resíduos foi se aprimorando, 
embora ainda estejamos, no Brasil, num patamar de desenvolvimento no que 
tange a esse tema, no mínimo, modesto. Há grandes obstáculos que emperram 
nosso progresso nesse setor fundamental da sociedade, pelos fatores já 
discutidos. De acordo com Braga (2005), considerando que o problema é, 
sobretudo, urbano, nas cidades é indispensável um sistema público ou 
comunitário, que fique responsável pela limpeza de logradouros, pela coleta, 
disposição e tratamento do lixo que extinga os riscos de saúde pública e elimine 
ou reduza a níveis aceitáveis os demais impactos sobre o meio ambiente 
associados ao lixo. Seguindo adiante no entendimento sobre a gestão de RSU, 
Braga (2005) comenta que um sistema desses deve compreender um rol de 
atividades principais: 
a. varrição de ruas e demais logradouros públicos; 
b. coleta domiciliar e edificações comerciais e industriais, esta deve ser 
seletiva; 
c. transporte até centros de transbordo ou triagem ou diretamente até locais 
de disposição; 
d. disposição e/ou tratamento do lixo, com eventual aproveitamento do 
produto desse tratamento. 
Antes de entrarmos nos detalhes das etapas desse processo, cabe analisar 
os aspectos de normalização e regulação da gestão de RSU no Brasil. Desde o 
ano de 2010, temos no Brasil a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, 
marco principal em termos de políticas públicas na gestão de resíduos. De modo 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
10 
mais detalhado, o marco legal da limpeza urbana e, em especial, da gestão e 
manejo de resíduos sólidos estão definidos via a Política Nacional de Saneamento 
Básico - PNSB (Lei n. 11.445/2007), na qual o plano de resíduos sólidos deve 
integrar os chamados Planos Municipais de Saneamento (contemplado na PNSB), 
na PNRS (Lei Federal n. 12.305/2010) e no seu Decreto regulamentador, Decreto 
n. 7.404/2010 (Jakobi; Besen, 2011). A PNRS trouxe mudanças importantes, com 
ferramentas úteis para a gestão e gerenciamento de resíduos nas cidades 
(Ferreira; Cruvinel; Costa, 2014). Jakobi e Besen (2011) comentam que a PNRS 
veio fortalecer a visão integrada da gestão de RSU. Assim, antes de detalhar mais 
os aspectos da Lei, é importante entender o que seria essa visão. 
4.1 Gestão integrada dos RSU 
Quando se pensa na gestão dos RSU, deve-se pensar na integração dos 
elementos constituintes desse sistema de gestão. Vem daí a ideia de gestão 
integrada e sustentável dos resíduos sólidos (em inglês, ISWM – Integrated Solid 
Waste Management). Como abordam Jakobi e Besen (2011), essa prática inclui 
redução da produção nas fontes geradoras, o reaproveitamento, a coleta seletiva 
com inclusão do catador de materiais recicláveis – definido como categoria 
profissional, registrada na Classificação Brasileira de Ocupação (CBO), sob n. 
5192-05 (Gouveia, 2012) e que poderiam ser chamados de coletores de materiais 
recicláveis, por que não?... –, a reciclagem e a recuperação de energia. 
É justamente nesse contexto que a PNRS veio contribuir de modo 
significativo. Jakobi e Besen (2011) indicam que a política propõe medidas de 
incentivo à formação de consórcios públicos para regionalizar
a gestão e buscar 
ampliar a capacidade de gestão dos municípios – ganhos de escala e redução de 
custos, já que se compartilha o sistema integrado (coleta, tratamento e 
destinação). Ainda Jakobi e Besen (2011) ponderam que outra inovação 
importante da PNRS é estabelecer a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de 
vida dos produtos e a logística reversa para retorno dos produtos às cadeias 
produtivas, assunto que abordaremos em detalhes no Tema 5. 
Outro ganho de qualidade com o advento da PNRS, no entendimento 
desses autores, é valorizar a prevenção, precaução, redução, reutilização e 
reciclagem, metas de redução de disposição final de resíduos em aterros 
sanitários e a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos em aterros 
sanitários. Finalmente, Jakobi e Besen (2011) destacam a criação de mecanismos 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
11 
de inserção de catadores de materiais recicláveis nos sistemas municipais de 
coleta seletiva e a possibilidade de se fortalecerem redes de organizações de 
catadores e a criação de centrais de estocagem e comercialização em nível 
regional. Ferreira, Cruvinel e Costa (2014) comentam sobre as cadeias de 
geração de resíduos sólidos (fabricação, venda, uso e descarte) e apontam que 
as etapas críticas são a produção e o descarte final, pois nessas cadeias 
geradoras todos são responsáveis pelo que se insere no meio ambiente 
(fabricantes, consumidores, poder público), o que reforça a importância do 
conceito e da prática da logística reversa, como se verá na continuidade. 
Uma vez analisados aspectos de políticas públicas e gestão, abordemos 
algumas das metodologias empregadas (nos ateremos às mais empregadas no 
Brasil) para disposição e tratamento de resíduos, respeitando a lógica da PNRS, 
que tem entre os objetivos a hierarquia nas ações de manejo de RSU: não 
geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento, disposição final adequada 
dos rejeitos. É importante lembrar que resíduos são passíveis de valoração e 
reaproveitamento nas cadeias econômicas (por exemplo, latas) e rejeitos não são 
passíveis de serem reintroduzidos nessas cadeias (por exemplo, resíduos 
higiênicos) (Brasil, 2010a). 
4.2 Disposição e tratamento de RSU 
Braga (2005) aborda, classicamente, os principais modos de dispor e tratar 
RSU, abordando os lixões ou monturos, onde se lança simplesmente o resíduo 
sobre o solo, a céu aberto, o que propicia as consequências já comentadas. O 
cenário no Brasil quanto a lixões ainda é muito preocupante, conforme nos relata 
a Abrelpe (2017), que apontou, dos 5.570 municípios brasileiros, nada menos que 
1.610 ainda destinando RSU em lixões. Vale lembrar que inicialmente a PNRS 
estabelecia agosto de 2014 (art. 54 da PNRS) como limite para extinção de lixões, 
o que obviamente não ocorreu, beneficiado por manobra política no Congresso 
Nacional (Brasil, 2012). 
Outra forma de disposição é o aterro controlado, método em que não há 
impermeabilização do solo e os resíduos são cobertos com material inerte (terra, 
por exemplo), o que não impede a ocorrência de impactos e danos ambientais 
severos, a exemplo dos lixões (Lauermann, 2007). Braga (2005) comenta que as 
alternativas mais adequadas parar dispor e tratar RSU seriam o aterro sanitário 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
12 
ou energético, a compostagem e a incineração. Vamos abordar brevemente cada 
uma dessas tecnologias. 
4.2.1 Aterro sanitário 
Lauermann (2007) define aterro sanitário como aquele executado segundo 
critérios e normas de segurança ambiental, legislativa e técnica atendendo aos 
padrões de segurança estabelecidos. Braga (2005) descreve que, nesse método, 
o lixo é lançado sobre o terreno e recoberto com solo do local, para isolamento, 
formando câmaras. Segue o autor, comentando que a movimentação das 
máquinas de terraplanagem para execução das câmaras compacta os resíduos, 
com redução do volume (Braga, 2005). No interior da câmara, com o fim do 
oxigênio, esgota-se a degradação aeróbia, sendo substituída pela anaeróbica, 
com liberação de gás (metano principalmente, altamente energético) e de 
chorume, substância líquida escura, constituída por resíduos orgânicos 
parcialmente biodegradados (Braga, 2005), com elevada carga orgânica e 
coloração forte (Morais; Sirtori; Peralta-Zamora, 2006). 
Braga (2005) adiciona que o gás que se acumula na câmara deve ser 
drenado (captado), por queima ou beneficiamento e utilização, e que o chorume, 
que se acumula no fundo e que tende a se infiltrar no solo e pode alcançar o lençol 
freático deve ser canalizado e tratado. Braga (2005) complementa comentando 
sobre um novo modelo de aterro sanitário, o chamado aterro sanitário-energético, 
onde o chorume drenado é reaplicado (via bombeamento) para aumentar 
biodegradação da matéria orgânica e produção de gás. Esse gás drenado pode 
ser usado como combustível diretamente ou após prévia lavagem das impurezas. 
Braga (2005) orienta que os aterros, uma vez esgotados, podem ser úteis como 
elementos de recuperação de áreas de baixos degradados, na forma de áreas 
verdes e parques, reincorporando-se ao tecido urbano. 
O autor finaliza analisando as desvantagens da tecnologia, que demanda 
extensões amplas de terreno e para cujas consequências paisagísticas da 
operação se deve atentar (Braga, 2005). Devem-se minimizar inconvenientes 
ambientais (mau cheiro, tráfego de caminhões pesados, mau aspecto). Para a 
realidade brasileira, os aterros sanitários ainda podem ser considerados a melhor 
opção. 
 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
13 
4.2.2 Compostagem 
A próxima tecnologia, a compostagem, é a técnica para obtenção do 
composto, que é produto de decomposição da matéria orgânica, em condições 
aeróbias e controladas para se obter um material estabilizado, que não se 
submete mais ao processo de putrefação (Braga, 2005). Desse processo resulta 
um produto final estável, sanitizado, rico em compostos húmicos e cujo uso no 
solo não traz riscos ao meio ambiente (Valente et al., 2009). Braga (2005) comenta 
que a vantagem da compostagem é a menor exigência de área física para a 
instalação e a reciclagem que favorece. Ele finaliza indicando que essas 
vantagens dependem de fluxo de demanda pelo composto (Braga, 2005). 
4.2.3 Incineração 
A última tecnologia a considerar neste estudo será a incineração: com essa 
técnica, o resíduo é reduzido a cinzas e gases decorrentes da combustão, que 
pode ser otimizada para reduzir a quantidade de matéria apenas parcialmente 
oxidada, o que permitirá haver menor volume de cinzas (os resíduos sólidos 
remanescentes) além de influenciar emissões gasosas e fuligem (Braga, 2005). 
Gouveia e Prado (2010) afirmam ser a incineração um método amplamente 
utilizado que diminui o volume e a massa de resíduos, reduzindo custos logísticos. 
Esse método previne o crescimento de patógenos e a proliferação de vetores. Por 
outro lado, produz agentes tóxicos via emissão atmosférica (entre eles, partículas, 
gases, metais pesados, compostos orgânicos, dioxinas e furanos), várias 
indicadas como carcinogênicas. Esse assunto é objeto de polêmica, que parece 
estar longe de se encerrar. O fato é que o uso de incineradores está se 
disseminando no país. 
Essas são as tecnologias mais empregadas e próximas da realidade de um 
país emergente como o Brasil. Agora, vamos analisar uma das principais 
inovações em gestão de RSU (incluída na PNRS) em nível mundial, que vai 
ganhando força no país, a logística reversa (LR). 
 
 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
14 
TEMA 5 – INOVAÇÕES NA GESTÃO AMBIENTAL DE RSU – LOGÍSTICA 
REVERSA 
5.1 Logística reversa e a PNRS 
Para entender o impacto da logística reversa (LR), é importante lembrar 
como esse movimento
se estabeleceu no Brasil. O Conselho Nacional de Meio 
Ambiente (Conama) iniciou em 1999 a proposta para regulamentação dos 
resíduos sólidos no país. Um dos motivadores dessa iniciativa foi ter começado, 
em 1998, um trabalho para regulamentação em relação a uma série de resíduos: 
pneus, pilhas, baterias, serviços de saúde, construção civil, lâmpadas 
fluorescentes, aterros sanitários, entre outros (Lagarinhos; Tenório, 2013). 
No contexto da PNRS, a logística reversa foi incorporada como ferramenta 
inovadora para aperfeiçoar a gestão dos RSU, como realmente ela tem potencial 
para se tornar. Está definida na Lei 12.305 (art. 3º, inciso XII) como conjunto de 
ações, procedimentos e meios que viabilizam a coleta e restituição de resíduos 
sólidos ao setor produtivo (Brasil, 2010a) (no texto legal está a expressão “setor 
empresarial”, mas é um contrassenso não incluir o setor público, que também gera 
grandes volumes de resíduos nas cadeias econômicas). No art. 13 do Decreto 
regulamentador, o conceito inclui a visão de que se trata de um instrumento de 
desenvolvimento econômico e social (Brasil, 2010b). 
Com a aprovação da PNRS em 2010, conforme já abordado, os 
fabricantes, distribuidores, importadores e comerciantes de agrotóxicos, pilhas e 
baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas, produtos eletrônicos ficaram 
obrigados a desenvolver sistemas de logística reversa para o retorno de produtos 
e embalagens no final da vida útil, sem depender dos serviços públicos de limpeza 
(Lagarinhos; Tenório, 2013). Os medicamentos domiciliares vencidos e em 
desuso foram incorporados mais tarde. A estratégia da PNRS contempla 
instrumentos fundamentais: responsabilidade compartilhada, logística reversa e 
acordos setoriais. 
Além da PNRS, em razão da morosidade de diversos setores e cadeias 
econômicas em estabelecer sistemas de LR, em 2017 o Governo Federal publicou 
o Decreto n. 9.177, de 23 de outubro de 2017, que “regulamenta o art. 33 da Lei 
n. 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos 
Sólidos, e complementa os art. 16 e art. 17 do Decreto n. 7.404, de 23 de 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
15 
dezembro de 2010 e dá outras providências” (Brasil, 2017). Está muito claro o 
objetivo do Decreto em seu art. 2º: 
Os fabricantes, os importadores, os distribuidores e os comerciantes de 
produtos, seus resíduos e suas embalagens aos quais se refere o caput 
do art. 33 da Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010, e de outros produtos, 
seus resíduos ou suas embalagens objeto de logística reversa na forma 
do § 1º do referido artigo, não signatários de acordo setorial ou termo de 
compromisso firmado com a União, são obrigados a estruturar e 
implementar sistemas de logística reversa, consideradas as mesmas 
obrigações imputáveis aos signatários e aos aderentes de acordo 
setorial firmado com a União (Brasil, 2017). 
5.2 Iniciativas de logística reversa 
É crescente o número de cadeias econômicas que estão implementando 
sistemas de logística reversa. Alguns casos são emblemáticos, como embalagens 
de agrotóxicos, eletroeletrônicos, pneus; outras estão se organizando, como o 
setor de pilhas, baterias e medicamentos. No caso dos resíduos eletroeletrônicos, 
existe a entidade associativa que representa o setor, a Associação Brasileira de 
Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (ABREE), que organiza e 
articula o setor (que já tem celebrado acordo setorial) para o funcionamento de 
seu sistema de logística reversa, com vistas à coleta e à destinação ambiental 
final adequada dos rejeitos e reaproveitamento na cadeia dos resíduos, 
denominados resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REE) (ABREE, 2019). 
Segundo a entidade (ABREE, 2019), ainda há muito a se fazer: 
considerando-se que há 500 milhões de aparelhos armazenados nos domicílios 
brasileiros, o sistema opera com o consumidor levando os REE aos comerciantes 
e distribuidores. Os materiais são reinseridos na cadeia via reciclagem e obtenção 
de matéria-prima. 
Outra cadeia que tem impacto é a de pneus, que tem a entidade gestora 
do sistema de LR, a Reciclanip (fundada em 2007). Essa cadeia de pneus iniciou 
em 1999 o sistema de responsabilidade pós consumo (LR), via Programa 
Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis implantado pela ANIP 
(Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos) (Reciclanip, 2019). Os dados 
dão conta de que 4,2 milhões de pneus inservíveis foram coletados desde 1999. 
Segundo Lagarinhos e Tenório (2013), havia, em 2010, 124 empresas 
cadastradas junto ao governo para reutilização, reciclagem e valorização 
energética de pneus. Os autores destacam que, de 1999 até 2011, foram 
reciclados 342 milhões de pneus (Lagarinhos; Tenório, 2013). Essas cadeias 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
16 
ilustram bem a importância que a LR terá na gestão de RSU no Brasil, assim como 
já possui em países mais avançados, contribuindo decisivamente para a redução 
da geração de RSU e o incremento econômico nacional. 
 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
17 
REFERÊNCIAS 
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 10004: 2004 –
Resíduos sólidos – classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. 
ABREE – Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e 
Eletrodomésticos. Entenda o descarte. ABREE, 2019. Disponível em: 
<http://abree.org.br/>. Acesso em: 3 ago. 2019. 
ABRELPE. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2017. São Paulo: 
ABRELP, 2017. 
ALBERTIN, R. M. et al. Avaliação da disposição final de resíduos sólidos urbanos 
no município de Cianorte, Paraná. Tecno-Lógica, 4 jun. 2011. Disponível em: 
<https://docplayer.com.br/24726121-Avaliacao-da-disposicao-final-de-residuos-
solidos-urbanos-no-municipio-de-cianorte-parana.html>. Acesso em; 3 ago. 2019. 
ALMEIDA JÚNIOR, R. O. J.; AMARAL, S. P. Lixo urbano, um velho problema 
atual. XIII SIMPEP. Bauru, SP, 6 A 8 de novembro de 2006. 
ANDRADE, R. M.; FERREIRA, J. A. A gestão de resíduos sólidos urbanos no 
Brasil frente às questões da globalização. Rede – Revista Eletrônica do 
Prodema, Fortaleza, v. 6, n. 1, p. 7-22, mar. 2011. 
BRAGA, B. et al. Introdução à engenharia ambiental: o desafio do 
desenvolvimento sustentável. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. 
BRASIL. Lei n. 6.938 de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial da União, Poder 
Legislativo, Brasília, DF, 2 set. 1981. 
_____. Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Diário Oficial da União, Poder 
Legislativo, Brasília, DF, 3 ago. 2010a. 
_____. Decreto n. 9.177, de 23 de outubro de 2017. Diário Oficial da União, 
Poder Legislativo, Brasília, DF, 24 out. 2017. 
_____. Decreto n. 7.404, de 23 de dezembro de 2010. Diário Oficial da União, 
Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 2010b. 
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Plano Nacional de Resíduos Sólidos. 2. 
ed. Brasília: Edições Câmara, 2012. Disponível em: 
<https://fld.com.br/catadores/pdf/politica_residuos_solidos.pdf>. Acesso em: 3 
ago. 2019. 
A
luno: Y
uri G
om
es M
allaco
E
m
ail: yurim
allaco27@
gm
ail.com
 
 
18 
CINQUETTI, H. S. Lixo, resíduos sólidos e reciclagem: uma análise comparativa 
de recursos didáticos. Educar, Curitiba, 
n. 23, p. 307-333, Curitiba, 2004. 
ESTADO de la población mundial 2018. UNFPA, 17 out. 2018. Disponível em: 
<https://www.unfpa.org/es/press/estado-de-la-poblaci%c3%b3n-mundial-2018>. 
Acesso em: 3 ago. 2019. 
FERREIRA, E. M.; CRUVINEL, K. A. S.; COSTA, E. S. Disposição final dos 
resíduos sólidos urbanos: diagnóstico da gestão do município de Santo Antônio 
de Goiás. Revista Monografias Ambientais – REMOA, v. 14, n. 3, maio-ago. 
2014, p. 3401-3411. Disponível em: 
<https://periodicos.ufsm.br/remoa/article/viewFile/13520/pdf>. Acesso em: 3 ago. 
2019. 
GOUVEIA, N. Resíduos sólidos urbanos: impactos

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando