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AULA 1 PROGRAMA DE PREVENÇÃO ÀS DOENÇAS TROPICAIS Prof. Javier Salvador Gamarra Junior A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 2 TEMA 1 – CONCEITOS E FUNDAMENTOS A percepção sobre doenças tropicais, de acordo com Edler (2010, p. 312) deriva de uma visão de que surgiu especialmente nos países de regiões temperadas, as potências europeias tradicionais, sobre os trópicos. Segundo o autor, o que os distinguia como unidade eram o clima quente e úmido. Coura (1992, p. 236) já afirmava que a saúde nos trópicos e em climas temperados dependia de adaptações (físicas, fisiológicas, ecológicas, culturais), adquiridas em um aprendizado secular para a manutenção do equilíbrio. No final do século XIX, embora avançassem de modo substancial os conhecimentos sobre os microrganismos e as doenças a eles relacionadas, quando não houvesse consenso sobre a etiologia de determinadas condições, os defensores das chamadas febres idiopáticas tendiam a privilegiar o clima como fator nosológico (Edler, 2010, p. 312). É nesse ambiente político, social e científico que se desenvolveu a temática e o conceito das doenças tropicais. Samuel Barnsley Pessôa (1898-1976), autor clássico da literatura de saúde pública, conceituou de modo magistral as doenças tropicais (Pessôa, p. 143-144, 1978), realçando que essa visão sobre saúde veio das potências imperialistas e colonizadoras: doenças tropicais são as moléstias de ocorrência frequente nos trópicos e, no contexto daquela época, raramente observadas, ou que ainda não haviam ocorrido, nos países então considerados potências ou impérios. O autor, apoiado nos textos de Afrânio Peixoto (1876-1947), grande sanitarista brasileiro, fez importante reflexão a esse respeito, afirmando que o termo surgiu do preconceito europeu (Pessôa, 1978, p. 143). Afinal, para eles só a Europa e os europeus tinham valor, e assim as doenças tinham nomes que eram manchas desonrosas aos demais continentes, como peste oriental e tifo americano. Assim, é nítido que o conceito tinha a finalidade de apoiar a política e o status quo das nações mais poderosas do século XIX e começo do século XX. Em que pese esse cenário, a cátedra de Medicina Tropical tornou-se destacada no ensino médico, sendo que uma das primeiras foi inaugurada por ninguém menos que Carlos Chagas (1879-1934), em 1926, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, dedicada ao estudo dessas doenças e também a demonstrar que as realizações práticas de higiene e de medicina tropical destruiriam esse velho conceito de fatalidade climática, tão propalado pelos europeus (Coura, p. 337, 1992). Com o passar do tempo, especialmente no final do século XX, houveram A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 3 importantes mudanças políticas, sociais, econômicas e tecnológicas; tais modificações alteraram as relações de poder entre os países e os blocos se organizaram. Como exemplo, temos o G20, conjunto das vinte maiores economias do mundo, criado em 1999 (Ramos et al., 2012, p. 11-12) e o Brics, que alinha Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul (Santos et al., 2017, p. 80), lembrando que a China é 2ª economia do mundo atualmente. Assim, há maior autonomia e autoafirmação a países antes considerados meramente periféricos, e hoje incorporados ao conjunto dos países mais destacados nos cenários político, econômico e tecnológico, com aprimoramento dos sistemas de saúde. Ainda assim, desafios sanitários e sociais ainda persistem, como grande pobreza de parcelas da população, problemas de saneamento ambiental (esgoto, resíduos, acesso à água) e poluição ambiental de modo persistente e crescente. No presente, diante do cenário de crise ambiental, se assiste à reemergência de doenças consideradas controladas e ao surgimento de novos desafios, como por exemplo doenças antes desconhecidas ou raramente detectadas (Pignatti, 2004, p.137-138). Nesse contexto, surge uma nova percepção sobre doenças tropicais que estão negligenciadas. As doenças tropicais negligenciadas (DTNs) afetam principalmente, mas não somente, as regiões mais vulneráveis das sociedades modernas (Dias; Dessoy, 2013). Hoje em dia, assistimos à sua disseminação, inclusive, nas nações antes consideradas potências tradicionais, como a dengue nos Estados Unidos (Barreto; Teixeira, 2008, p. 53). Segundo a OMS, as DTNs afetam mais de um bilhão de pessoas, provocando incapacitação crônica e morte. Suas vítimas prevalentes são as populações expostas a carências em termos de saneamento básico. Numa reflexão de 2006 (p. 1522), Morel comentava que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a organização não-governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras (Médecins Sans Frontières) propuseram uma nova classificação das doenças considerando o impacto em saúde pública: globais (ocorrem em todo o mundo), negligenciadas (mais prevalentes em países em desenvolvimento) e mais negligenciadas (exclusivas dos países em desenvolvimento). O fato é que estas doenças estão presentes, criando sérios transtornos à população e desafios aos sistemas de saúde, de modo que o nosso país não pode ficar alheio a esse cenário. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 4 1.1 Doenças classificadas como tropicais e negligenciadas Diversas doenças estão listadas como Doenças Tropicais – hoje prevalece o termo DTNs, como já abordado. Na classificação da OMS, as DTNs são dengue, dracunculose, doença de Chagas, esquistossomose, filariose linfática, helmintíases transmitidas via solo, leishmaniose cutânea, leishmaniose visceral, lepra, oncocercose, raiva, teníase/cisticercose e a equinococose/hidatidose, tracoma, trematodiose de transmissão alimentar, treponematoses endêmicas, tripanossomíase africana humana e úlcera de Buruli. Neste texto, vamos nos ater a alguns exemplos de DTNs de interesse no Brasil. As doenças negligenciadas apresentam, de acordo com Garcia et al. (2011), endemicidade elevada em áreas menos favorecidas (rurais e urbanas) em países em desenvolvimento, e são pouco relevantes em termos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de fármacos para seu enfrentamento. Isso indica uma relação perversa, sob elementos econômicos e políticos – são pouco atraentes para investimento em P&D de fármacos, levando em conta que afetam populações de regiões ambiental e socialmente muito vulneráveis (Anvisa, 2007). Garcia e Silva (2016) observam que, em nosso país, em que pese o aprimoramento do sistema de saúde via criação do Sistema Único de Saúde – SUS, em 1990, várias das DTNs persistem. As autoras indicam dados epidemiológicos importantes no documento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA): no triênio 2009-2011, foram notificados 217.274 novos casos de tuberculose, 109.283 novos casos de hanseníase (lepra) e 936.606 novos casos de malária. TEMA 2 – DOENÇAS TROPICAIS NEGLIGENCIADAS RELEVANTES Vamos abordar alguns aspectos importantes sobre algumas DTNs de destaque no caso do Brasil. 2.1 Dengue É uma doença viral (Ferreira; Chiaravalotti Neto; Mondini, 2018) infecciosa febril e aguda, com febre alta (39-40oC), que começa abrupta (Brasil, 2010). Outros sintomas são: cefaleia, adinamia, mialgias, artralgias e dor retro-orbitária (em 2 a 6 dias de evolução). Podem estar presentes nos quadros clínicos manifestações hemorrágicas, epistaxe, gengivorragia, petéquias, metrorragia, A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 5 hematêmase, melena, hematúria além de plaquetopenia (Brasil, 2010). Pode ser de curso benigno ou grave, conforme se apresenta: infecção inaparente, dengue clássico, febre hemorrágica da dengue, síndrome de choque da dengue (Funasa, 2010). Nos casos graves de dengue, surgem as seguintes manifestações: entre o terceiro e o sétimo dia do seu início, quando a febre declina, registram-se vômitos importantes, dor abdominal intensa, hepatomegalia dolorosa, desconforto respiratório, letargia e derrames cavitários (pleural, pericárdico, ascite), que indicam a possibilidade de evolução do paciente para formas hemorrágicas severas (Brasil, 2010). 2.1.1 Aspectos epidemiológicos da dengue A doença é denominada popularmente febre de quebra ossos (Brasil, 2010). O agente etiológico é o vírus da dengue, da família Flaviviridae, gênero Flavivirus (Guzman et al., 2010), cujos sorotipos são quatro, DENV1 a DENV4, sendo transmitidos por vetores, mosquitos do gênero Aedes (Who, 2009). No Brasil, o vetor mais importante é o Aedes aegypti, que também transmite os vírus da chikungunya e zika (Ferreira; Chiaravalotti Neto; Mondini, 2018). Outro mosquito, o Aedes albopictus presente no país, ainda não foi associado à transmissão da doença (Brasil, 2010). São infectados anualmente 390 milhões de indivíduos; há 20 mil óbitos e são 500 mil internações a cada ano, o que a torna a arbovirose mais importante para a saúde pública mundial (Funasa, 2010). Em 2015, a epidemia de dengue atingiu 21 estados brasileiros com 1.350.406 casos entre janeiro e agosto (Maniero et al., p. 140, 2016). Em 2016 haviam sido 1.483. 623; analisando os dados de 2017, foram registrados 251.711 casos, (Brasil, 2018, p. 3). A transmissão se dá pela picada da fêmea do Aedes aegypti, que se alimenta do sangue do humano infectado, indivíduo com doença febril aguda, em fase virêmica (Singhi; Kissoon; Bansal, 2007, p. S23). Após 8-12 dias de incubação, o inseto está apto a infectar outros humanos (Brasil, 2010). Não há transmissão por contato direto com secreções de doentes com pessoas saudáveis, por água ou por alimento (Brasil, 2010). Quanto ao tratamento, deve ser sintomático, com analgésicos e antipiréticos, com indicação para hidratação via oral ou parenteral, considerando a condição do paciente (Brasil, 2010). A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 6 2.1.2 Medidas para controle e prevenção da dengue As medidas de prevenção e controle estão voltadas, sobretudo, ao enfrentamento do vetor. Há vacina disponível no mercado internacional, mas é objeto de polêmica (Frey, 2018) e não está inserida em ação sistemática no âmbito do Programa Nacional de Imunização (PNI), tendo sido usada apenas em uma unidade da federação (estado do Paraná) (Oliveira, 2016, p. 6). Desde o início dos surtos epidêmicos de dengue, o esforço das autoridades era na busca pela erradicação do vetor. Em 2001, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) abandonou essa ideia e passou a trabalhar visando o controle do vetor. Maniero et al. (2016) destacam que os programas de prevenção e controle dessa arbovirose no Brasil têm se revelado ineficazes, devido ao uso indiscriminado de inseticidas (desperta resistência no vetor) e de medicamentos (resistência do agente etiológico). Nesse contexto, a identificação e a eliminação dos focos que permitem a proliferação do mosquito é a ação básica. Deve-se fazer o saneamento ambiental, evitando acúmulo de resíduos descartados de modo inadequado, como pneus, garrafas e sacolas plásticas. Não se deve esquecer também das caixas d´água sem tampa e sem limpeza periódica. As medidas de proteção pessoal e domiciliar também devem ser empregadas. Maniero et al. (2016) recomendam roupas que reduzam exposição da pele durante o dia (período em que os mosquitos são mais ativos), uso racional de repelentes e inseticidas (com orientação), mosquiteiros para pessoas acamadas e crianças pequenas/bebês. Os autores complementam que novas tecnologias estão sendo testadas, como mosquitos geneticamente modificados. 2.2 Esquistossomose mansônica Doença parasitária ocasionada pelo helminto Schistossoma mansoni (Vitorino et al., 2012), e tendo como hospedeiro intermediário espécies de caramujos do gênero Biomphalaria. (Moreira; Valadão; Martins, 2011; Brasil, 2014). É doença de veiculação hídrica importante que, ainda que tenha baixa mortalidade, tem elevada capacidade de debilitar os pacientes (Moreira; Valadão; Martins, 2011). Na fase aguda, pode ser assintomática ou apresentar-se como dermatite cercariana. Cerca de três a sete semanas após a exposição, pode ocorrer a febre de Katayama, com febre, linfodenopatia, anorexia, dor abdominal, cefaleia (Brasil, 2010). Pode ocorrer diarreia, náuseas, vômitos ou tosse seca. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 7 Passados seis meses da infecção, há risco de evolução para quadro clínico mais grave, que pode ser hepatointestinal, hepático, hepatoesplênico compensado e hepatoesplênico descompensado. Este último é mais grave, com redução da funcionalidade hepática (Brasil, 2010). 2.2.1 Aspectos epidemiológicos da esquistossomose mansônica Trata-se de importante endemia típica das Américas, Ásia e África, conhecida por barriga d´água, xistosa ou doença do caramujo (Katz; Almeida, 2003). Afeta 200 milhões de pessoas no mundo em 54 países considerados endêmicos, e ameaça 600 milhões de pessoas (Brasil, 2014, p. 21). No Brasil os números variam; provavelmente há seis milhões de portadores especialmente na região Nordeste e no estado de Minas Gerais (Katz; Almeida, 2003; Ibikounlé; Mouahid; Kakiti, 2009), No Brasil (2010) há ampla distribuição, com 19 estados e Distrito Federal afetados. Entre 2003 e 2012, a média de pacientes identificados por inquérito coproscópico foi de 101.293 (Brasil, 2014). Em 2012, segundo a mesma fonte, foram registrados 426 óbitos decorrentes da doença. 2.2.2 Medidas para controle e prevenção da esquistossomose mansônica As medidas envolvem controle dos portadores, controle dos hospedeiros intermediários, educação em saúde e saneamento ambiental (Brasil, 2010). No primeiro caso, identificação e tratamento desses pacientes, com inquéritos coproscópicos, sob responsabilidade das secretarias de saúde dos municípios em áreas endêmicas. No segundo, em caráter complementar, são feitas pesquisas de coleções hídricas para determinar o potencial de transmissão e medidas de saneamento ambiental, visando dificultar a proliferação e o desenvolvimento dos hospedeiros intermediários, bem como tentar impedir o indivíduo infectado de contaminar as coleções hídricas com ovos do agente. Quando indicado, há tratamento químico dos criadouros reconhecidos como de importância epidemiológica. As ações de educação são reconhecidamente fundamentais, para que a população em geral, especialmente nas áreas endêmicas, tenha conhecimento necessário para se precaver. Especial atenção deve ser dada às populações de escolares nessas regiões (Brasil, 2010). O saneamento ambiental reduz a proliferação e a contaminação dos hospedeiros intermediários, diminuindo o contato do homem com esses agentes transmissores (caramujos infectados) A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 8 2.2.3 Tratamento da esquistossomose mansônica O único fármaco empregado para tratamento nos programas de controle da doença no mundo é o praziquantel, que tem índices de cura de 80% em adultos e 70% em crianças; não há relatos de resistência na literatura até este momento (Brasil, 2014) 2.3 Leishmaniose tegumentar americana (LTA) É doença infecciosa e não contagiosa, também denominada úlcera de Bauru, nariz de tapir ou botão do Oriente. É ocasionada por protozoários do gênero Leishmania, de transmissão via vetores (Brasil, 2010), por mosquitos flebotomíneos – Ordem Diptera, Família Psychodidae, sub-Família Phlebotominae) (Basano; Camargo, 2004). Acomete pele e mucosas. A doença cutânea se mostra em pápulas que evoluem para ulcerações (fundo granuloso, bordas infiltradas em moldura). Podem ser também placas verrucosas, papulosas, nodulares, localizadas ou difusas (Brasil, 2010). A forma mucosa caracteriza-se por infiltração, ulceração e destruição dos tecidos da cavidade nasal, faringe ou laringe (Brasil, 2010). 2.3.1 Aspectos epidemiológicos da LTA No Brasil, já foram identificadas sete espécies do agente etiológico, Leishmania, sendo seis do subgênero Viannia e uma do subgênero Leishmania. As mais importantes são Leishmania (Viannia) braziliensis, L. (L.) amazonensis e L. (V.) guyanensis (Brasil, 2010). No mundo, a doença afeta 88 países – quatro continentes, excetos Oceania –, com registro de 1 a 1,5 milhões de casos e distribuição por todo o Brasil (Brasil, 2010). Foram registrados uma média de 24.684 casos confirmados no Brasil, de 2000 a 2009, de acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan (Pelissari et al., 2011). A transmissão se dá pela picada da fêmea do mosquito do gênero Lutzomya – nome popular mosquito palha, birigui, entre outros (Brasil, 2010). Vários animais domésticos são reservatórios, como cães, gatos, cavalos além de marsupiais, roedores, preguiças (Brasil, 2010). A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 9 2.3.2 Medidas de controle e prevenção da LTA (Brasil, 2010) No caso do homem, estimular medidas de proteção individual, como: repelentes, mosquiteiros de malha fina, uso de telas para portas e janelas e evitar se expor nos horários de pico do vetor (crepúsculo e noite). Já para o vetor, saneamento ambiental (limpeza de terrenos e quintais), limpeza frequente de abrigos de animais domésticos, destino adequado de resíduos sólidos orgânicos e podas de árvores para a redução da umidade. Para controle: organização dos serviços de saúde para diagnóstico e tratamento adequado, controle químico do vetor somente nas áreas de transmissão, não sendo recomendado em ambiente silvestre. Incluímos também ações voltadas a reservatórios e eutanásia em cães, somente com constatação de lesões mucosas e infecções secundárias que levam o animal a sofrimento. 2.3.3 Tratamento da LTA Uso da droga de primeira escolha, o antimonial pentavalente N-metil glucamina; se houver resistência se faz uso da anfotericina B (Murback et al., 2011) e isotianato de pentamidina (Brasil, 2010). TEMA 3 – VAMOS FALAR DE PREVENÇÃO, ABORDANDO VACINAS As vacinas têm importante papel na Saúde Pública, mundial desde o pioneirismo de Edward Jenner (1749-1823) e o extenso trabalho de Louis Pasteur (1822-1895), com significativos sucessos, o mais emblemático, a erradicação da varíola em 1977 (Shatzmayr p. 1527, 2001; Diniz; Ferreira, 2010, p. 19). Aqui no Brasil, temos o Programa Nacional de Imunização – PNI, instituído em 1975, na esteira da erradicação da temida varíola, e uma boa aceitação da sociedade quanto à vacinação. Embora haja polêmicas e eventuais questionamentos, elas são reconhecidas como bens e ações positivas e públicas (Hochmann, 2011). O sucesso da imunização lhe conferiu credibilidade social. As vacinas transitaram por diferentes estágios tecnológicos. Diniz e Ferreira (2010) as classificam em três grandes grupos. A primeira geração emprega o patógeno em sua constituição completa, porém atenuado, exemplificadas pelas da varíola, tuberculose e poliomielite. Na segunda geração, temos vacinas produzidas para atuar contra um alvo específico do patógeno, como proteína, toxoides, polissacarídeos purificados. Por exemplo: vacina da hepatite B, pneumonia e A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 10 antitetânica. Na terceira geração, chamadas de vacinas de DNA ou gênicas, emprega-se a informação genética do patógeno, que codifica determinadas proteínas. A limitação desse grupo é o custo para desenvolvimento, que é elevado, e o fato de vacinas de segunda geração terem grande aceitação nos sistemas de saúde. 3.2 Uso de vacinas na DTNs Em relação às doenças tropicais negligenciadas, objeto desta aula, a tecnologia de vacinas é objeto de estudo para várias doenças. Como já abordado no tópico de dengue, existem iniciativas para produção de vacina contra essa perigosa doença. Na França, existe uma vacina com eficácia inferior a 70%, que foi trazida ao Brasil via estado do Paraná, mas essa iniciativa gerou bastante polêmica, conforme já comentado. O Instituto Butantã está desenvolvendo pesquisas sobre vacina contra dengue (Raw; Higashi, 2008, p. 166). A vacina contra raiva tem seu ciclo tecnológico de produção disponível para o Brasil, no mesmo Instituto. TEMA 4 – INSETICIDAS E REPELENTES NO ENFRENTAMENTO DAS DTNS Inseticidas são substâncias químicas para matar, atrair e repelir insetos, sendo sua descoberta, isolamento, síntese, avaliação toxicológica e impacto ambiental um tópico de pesquisas relevante no mundo inteiro, e em pleno desenvolvimento (Viegas Júnior, 2003). O autor destaca que o uso de inseticidas consome, mundialmente, valores da ordem de bilhões de dólares, na tentativa de controlar insetos. Segundo Castro e Rosemberg (2015), no Brasil o uso de inseticidas para o controle/eliminação de vetores e patógenos é prática relevante e massiva. Eles comentam que são mais de mil novos agentes químicos lançados anualmente no mercado mundial, em um universo que já inclui mais de 100.000 agentes químicos sintéticos disponíveis no mercado. É nesse cenário que o controle químico, com inseticidas de origem orgânica ou inorgânica, se destaca como uma das metodologias mais adotadas, como parte do manejo sustentável e integrado para o controle de vetores em Saúde Pública. O primeiro inseticida de efeito prolongado foi o DDT (dicloro-difenil- tricloroetano), notório poluente ambiental, objeto de polêmica, uma vez que é empregado por diversos países (especialmente mais pobres) para controle de A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 11 vetores da malária e leishmaniose. No Brasil seu uso está proibido desde 2009, pela Lei Federal n. 11.936, de 14 de maio. Os outros compostos orgânicos pertencem aos grupos dos organofosforados, carbamatos e piretroides. Luna (2008) destaca temefós e também cita o metoprene. Quando doenças como Chikungunya (CK) e zika, igualmente transmitidas pelo vetor do dengue, passaram a ser sinônimos de graves desafios à saúde pública, em 2015, uma das medidas adotadas pelo Ministério da Saúde brasileiro (MS) foi recomendar o uso de repelentes de inseto, inclusive às gestantes (Anvisa, 2015), lembrando da gravidade da associação da zika com a microcefalia e a severidade que as dores articulares da CK podem alcançar. Os produtos deveriam ser registrados na Anvisa e possuir alguns agentes: n,n-Dietil-meta-toluamida (DEET), apontado como seguro às gestantes, contraindicado para crianças menores de dois anos; hidroxietil isobutil piperidina carboxilato (Icaridina ou Picaridina), etil butilacetilaminopropionato (EBAAP ou IR3535) e o óleo essencial de citronela (Cymbopogon nardus), bastante conhecido. Ressalta-se a importância do óleo de eucalipto-limão (Eucalyptus citriodora) como a melhor opção repelente entre os óleos naturais. Em relação ao dengue, Luna et al. (2004), em estudo comparativo feito em Curitiba, Paraná, identificaram que o vetor era suscetível ao temefós e apresentava resistência à cipermetrina. Simas et al. (2004) também alertaram do surgimento de formas resistentes do mosquito vetor. Os autores complementam que o fenômeno de resistência a inseticidas convencionais é um dos principais obstáculos ao controle de insetos de importância na agricultura e na saúde, e isso acarreta aumento da frequência de aplicação, dosagens crescentes, rendimentos diminuídos, danos ambientais e surgimento de doenças, quando esses vetores não podem ser controlados. Em relação ao temefós, também há relatos de resistência do vetor a esse agente químico (Beserra et al., 2007; Diniz et al., 2014), o que gera desafios significativos aos sistemas de controle de vetores. 4.1 Alternativas visando ao controle biológico de vetores Como se percebe, o controle químico com produtos sintéticos é difícil e caro, demandando grande esforço tecnológico para se obter agentes efetivos, ampliando-se ainda o risco de impactos ambientais adversos, com poluição e resistência e ameaça à saúde humana e ambiental. Viegas Júnior (2003) alerta para esse cenário, refletindo que a poluição ambiental e a resistência adquirida A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 12 têm incentivado a busca por novos agentes, que sejam seguros, custo-efetivos, biodegradáveis e com potencial para serem integrados a programas de controle de insetos com baixo impacto ambiental. Pesquisas têm sido desenvolvidas para identificar agentes com potencial inseticida oriundos da: a) flora (Viegas Júnior, 2003; Simas et al., 2004; Furtado et al., 2005; Chapagain; Saharan; Wiesman, 2008; Pohlit et al., 2011; Pinto et al., 2012; Lima et al., 2018); b) microrganismos (Praça et al., 2004; Costa et al., 2010; Walker et al., 2011; Monnerat, 2012; Zara et al., 2016); c) outros agentes biológicos, como peixes (Cavalcanti et al., 2007). 4.2 Inseticidas obtidos de produtos da flora Os produtos mais conhecidos para uso repelente são as já citadas citronela e eucalipto-limão, mas há outros que são incluídos no rol de agentes recomendados. São classificados como óleos naturais, em que também estão incluídos óleo de soja (Glycine max). Sobre citronela, a recomendação é reaplicação a cada hora para efeito repelente. Em relação ao eucalipto-limão, os autores reportam que seu constituinte ativo foi identificado e isolado, é o p- mentano-3,8-diol, com a sigla PMD. Nesse caso, estudo de Moore et al. (2007), avaliando PMD associado a óleo de capim-limão (Cymbopogon citratus), teve efeito comparável ao DEET na concentração 15%, contra o vetor da malária Anopheles darlingi. Também há diversos outros agentes extraídos de plantas sendo investigados conforme, já destacado em 4.1. 4.3 Inseticidas ou meios de controle biológicos Diversos meios têm sido estudados para efetivar controle biológico de vetores, como o vetor do dengue é prioridade conforme já largamente destacado, será um dos focos da análise. Para entender melhor, controle biológico é o uso pelo homem de predadores e patógenos, ou seja, inimigos naturais para eliminar ou controlar populações de vetores (Andrade; Santos, 2004). No caso do vetor do dengue, uma das metodologias adotadas é a investigação com espécies de peixes, fêmeas e machos de Trichogaster trichopteros e de Astyanax fasciatus. Fêmeas de Betta splendens e de Poecillia sphenops foram os que apresentaram maior competência para predar as larvas de Aedes aegypti em ambiente laboratorial, 100% no primeiro caso (Cavalcanti et al., 2007). A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 13 Para controle usando agentes patógenos, um dos microrganismos de maior interesse é o Bacillus thuringiensis, pois é reconhecidamente um entomopatógeno de diversas ordens de insetos-praga, Lepidoptera, Coleoptera e dípteros vetores de diversas doenças humanas (Costa et al., 2010). Espindola, Guedes, Souza (2008) identificaram que o B. thuringiensis teve eficácia em termos de mortalidade de larvas do vetor (contaminadas com o vírus) em 99,5%. Praça et al. (2004) também indicaram efetividade do bioagente contra larvas do vetor. Destaca-se a importância dessa metodologia e desse agente em especial, uma vez que inseticidas à base desse bacilo responderiam por 90% do mercado mundial de bioinseticidas, e que ele realmente seria efetivo contra larvas de dípteros como a do Aedes aegypti. Zara et al. (2016) indicam a crescente importância dos estudos sobre a bactéria Wolbachia, naturalmente presente em 60% dos insetos, que tem potencial para reduzir pela metade a vida de um vetor adulto além de afetar a capacidade de reprodução. Walker et al. (2011) também realçam o potencial desse microrganismo. TEMA 5 – ENFRENTAMENTO INTEGRADO, ESSA É A CHAVE Vai ficando claro que o enfrentamento das DTNs não pode ser feito se não houver uma somatória de esforços, adotando metodologias distintas. A crise ambiental certamente não contribui nesse contexto; ao contrário, tem potencial de agravamento da situação. É desse modo que vai se tornando claro que não há resultado mais efetivo se não houver manejo integrado. O Brasil buscou definir um plano de ação no controle às doenças negligenciadas via investimento em pesquisa e financiamento em novas tecnologias, iniciando, em 2006, o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em Doenças Negligenciadas (Santos et al., 2017). Com dados epidemiológicos, demográficos e impactos das doenças, foram definidas, entre as doenças consideradas negligenciadas, sete prioridades de atuação que compõem o programa que abrange essas doenças: dengue, doença de Chagas, leishmaniose, hanseníase, malária, esquistossomose e tuberculose (Brasil, 2010). A situação epidemiológica quanto às DTNs segue preocupante, como os dados apresentados revelam, e o enfrentamento desse cenário incluirá, necessariamente, a atuação dos profissionais e do setor Saúde aliados a ações de desenvolvimento social e econômico (Santos et al., 2017), que rompam o círculo vicioso da pobreza, da doença e da má qualidade de vida. Sem dúvida, A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 14 incluem um rol de problemas de saúde que seriam tratáveis e curáveis em boa parte dos cenários. Como indicam Reis et al. (2016), uma das principais críticas a ser considerada é a baixa atratividade aos segmentos financiadores do sistema de saúde, uma vez que são populações de baixa renda e condição social precarizada. Os autores complementam que as tecnologias de diagnóstico e tratamento podem ser consideradas desatualizadas, não recomendáveis ou até mesmo obsoletas, se comparadas ao estado da arte da tecnologia em saúde, demandando certamente novos investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. 5.1 Enfrentamento integrado das DTNs Como seria então esse movimento integrado? O Brasil tem empreendido importantes esforços nesse sentido, pois é um dos países que mais tem investido em pesquisas com DTNs (em sexta posição no mundo). Grisotti (2010) indica uma série de estratégias para resultado efetivo no enfrentamento das DTNs: a) educação; b) políticas públicas de comunicação/informação à sociedade; c) investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação, com foco em fármacos, medicamentos, outras tecnologias terapêuticas, tecnologias diagnósticas; d) ações para controle de vetores (não se usa mais a expressão erradicação, dadas as condições adversas para esse tentame); e) acesso a água potável e de qualidade; f) saneamento básico; g) controle de zoonoses. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 15 REFERÊNCIAS ANDRADE, C. F. S.; SANTOS, L. U. O uso de predadores no controle biológico de mosquitos, com destaque aos Aedes. nov. 2004. Disponível em: <https://www2.ib.unicamp.br/profs/eco_aplicada/arquivos/artigos_tecnicos/c%20 b%20de%20mosquitos%20eu+lu%202004.pdf>. Acesso em: 2 jan. 2019. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n. 28, de 4 de abril de 2007. 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O primeiro é poluição, que, segundo Braga (2005, p. 2), é um dos componentes do chamado triângulo da crise ambiental, que contempla as relações entre população, recursos naturais e poluição. Esse autor a define como “alteração indesejável em características físicas, químicas, biológicas da atmosfera, litosfera, hidrosfera ou possa causar prejuízo às atividades humanas e de outras espécies ou ainda deteriorar materiais” (Braga, 2005). É importante lembrar, como complementa Braga (2005), que o enfoque de análise, sobretudo legal em termos de poluição, deve considerar as alterações provocadas pelo homem (antrópicas). No texto da Lei n. 6.938/1981 (Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA), art. 3º, inciso III, está definido pelo legislador o que é poluição, degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente possam afetar recursos ambientais (água, por exemplo) e também saúde, segurança, bem-estar (Brasil, 1981). Além disso, pode-se definir o que seria poluente, ou seja, os resíduos gerados pelas atividades humanas, causando impacto ambiental negativo (que é uma alteração indesejável) (Braga, 2005, p. 6). Agora que se revisou o significado de poluição, consideremos o tema poluição urbana, a qual, segundo Braga (2005, p. 146),) é aquela proveniente dos resíduos gerados pelas atividades econômicas que são típicas das cidades (indústria, comércio, serviços, domicílios). Ademais, ainda de acordo com esse autor, embora seja de conhecimento que a poluição do solo urbano possa ser provocada por resíduos nas fases sólida, líquida e gasosa, é sobretudo na fase sólida que está a maior parte dos problemas, uma vez que há grandes quantidades e é um sistema imóvel ou, no mínimo, de muito menor capacidade de mobilização, que impõe grandes dificuldades ao seu transporte no meio ambiente (Braga, 2005). Essa é a razão para que, em termos de enfrentamento desse desafio ambiental, o enfoque esteja direcionado à gestão de resíduos sólidos, tema preponderante nesta unidade. Agora, passemos à análise de lixo, resíduos e demais elementos... é importante levar em conta que, embora popularmente se considere que lixo e resíduos sejam sinônimos, quando se trata de gestão dos materiais descartados, A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 3 devem ser considerados diferentes, como veremos adiante (Silveira; Berté; Pelanda, 2018, p. 25). Agora, cabe uma pequena reflexão sobre a relação entre p homem e o meio ambiente. 1.2 Crise ambiental, antropocentrismo, tecnologia A modernidade criou o ambiente tecnologizado, artificial e deixou de proteger a natureza da qual ele mesmo surgiu (Pereira; Calgaro; Rodrigues, p. 204, 2016). Os autores seguem com a reflexão, afirmando que os riscos criados demandam ações urgentes para a sua minimização. E complementam estabelecendo que toda a produção deixa rastros na natureza, muitas vezes impossíveis de serem apagados. Quando buscamos elementos para compreender a crise ambiental relacionada com os resíduos, é importante lembrar que modificamos nossa relação com o planeta, numa visão meramente antropocêntrica. Abordando esse paradigma ambiental, o antropocentrismo, ele é considerado predominante e defende a manutenção da qualidade de vida e a existência humana (Silva; Reis; Amâncio, 2011). Ou melhor dizendo, nesse conceito, o ser humano é indiscutivelmente superior e a natureza é valorizada somente como instrumento (Silva, 2014) para satisfazer as necessidades humanas. Silva, Reis e Amâncio (2011) lembram que o antropocentrismo se opõe ao ecocentrismo, em que a natureza possui valor intrínseco, que Silva (2014) realça ainda mais afirmando que a humanidade dela depende, inclusive em uma dimensão espiritual. Na realidade, o homem se embrenhou em suas conquistas, oriundas do engenho e criou a tecnosfera, que, segundo Zalaziewicz et al. (2016), seria um sistema consumidor energético de natureza tecnossocial global formado por seres humanos e todos os artefatos e sistemas tecnológicos inventados em conjunto com os protocolos e informações criados; consiste numa combinação de humanidade e tecnologia, ou seja, redes humanas de relações sociais, tecnológicas e de capital. E o lixo faz parte dessa esfera que cresce incessantemente. Analisemos. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 4 1.3 Lixo Originada do latim lix, o termo lixo significa cinzas (Richter, 2014). Lixo seria o que remanesce das atividades humanas (Cinquetti, 2004, p. 307) e não é mais de interesse de seu proprietário, que o descarta ou “joga fora”. Nardy (2003) o classifica como “detritos não utilizáveis pelo homem”. O dicionário Michaelis (2019) o define como “resíduos provenientes de atividades [...] que não prestam e são jogados fora” é interessante o conceito proposto por Almeida Júnior e Amaral (2006), segundo os quais, lixo seria o que deve ser descartado, ou seja, sujeira, imundície, inutilidades. O fato, complementam os autores, é que o tema lixo é sério, uma vez que os problemas ambientais causados podem ser irreversíveis se não houver esforço único e concentrado na busca de soluções (Almeida Júnior; Amaral, 2006). Finalmente, Silveira, Berté e Pelanda (2018) consideram lixo como tudo aquilo que não tem mais serventia e deve ser descartado. Agora que analisamos o que seria lixo, vamos aos resíduos. 1.4 Resíduos sólidos Os resíduos sólidos urbanos são caracterizados pela ABNT NBR 10.004 como “resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de diversas origens, por exemplo, industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços, de varrição” (ABNT, 2004). Foram incluídos na Norma os lodos de sistemas de tratamento de água, os gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água... (ABNT, 2004). Segundo Braga (2005), a proveniência do lixo (que na verdade engloba lixo e resíduo...) é variada, com constituição bastante diversa, com variação de volume de produção de acordo com procedência, nível econômico e natureza das atividades. Levando em consideração a relevância e necessidade de tratamento e disposição dos resíduos em condições ecológicas, sanitárias e econômicas satisfatórias segundo analisado por Braga (2005, p. 147), a NBR já citada distingue três classes de resíduos: a. Resíduos Classe I ou Perigosos: são aqueles que, isolados ou em mistura podem apresentar riscos à saúde pública ou efeitos ambientais adversos, isso devido à características intrínsecas (toxicidade, inflamabilidade, corrosividade, reatividade, radioatividade, patogenicidade); A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 5 Resíduos Classe II ou Não Inertes: são aqueles que não se enquadram nas classificações já descritas; Resíduos Classe III ou Inertes: são aqueles que não se solubilizam ou que não tem nenhum de seus componentes solubilizados em concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, quando submetidos a um teste-padrão de solubilização. A definição das classes comentadas veio por razões que direcionam para mudanças na gestão dos resíduos sólidos, como se verá nesta unidade, envolvendo a população (ações de orientação-educação) e serviços públicos, de modo a que o manuseio, acondicionamento, coleta, transporte e disposição dos resíduos seja conforme a classe em que ficarão enquadrados. TEMA 2 – PROBLEMAS COM RESÍDUOS A criação de cidades e a crescente ampliação dos espaços urbanos têm contribuído para o crescimento de impactos ambientais negativos. Nesse contexto, aspectos culturais como consumo de produtos manufaturados e a necessidade de água influenciam como se apresenta o ambiente (Mucelin; Bellini, 2008). Os autores complementam que os costumes e hábitos no uso da água e a produção de resíduos pelo consumo de bens materiais são responsáveis por parte das alterações indesejáveis e impactos ambientais (Mucelin; Bellini, 2008). Zulauf (2000) estimou que a população mundial poderia ser dividida em três segmentos, cada um com aproximadamente um terço da população mundial, que em 2000 era na casa dos 6 bilhões e que agora ascende a 7,6 bilhões (Guevane, 2017). No contexto analisado por Zulauf (2000), ele estimou que 1/3 naquele momento comporiam em sua plenitude a sociedade de consumo, outro terço estaria à margem do consumo, a não ser para sobrevivência e um terço viveria em ascensão, rumo ao mundo dos consumidores. Mucelin e Bellini (2008) explicam que a cultura de um povo caracteriza o uso do ambiente, os costumes e o perfil de consumo de água e produtos industrializados. No ambiente urbano, por exemplo, tais costumes e hábitos implicam a produção exacerbada de resíduos e como eles são tratados ou dispostos no ambiente, gerando intensas agressões aos fragmentos do contexto urbano além de afetar regiões não urbanas. Fazendo uma análise de como é a abordagem do poder público brasileiro sobre o tratamento e a disposição de lixo, Albertin et al. (2011) ilustram que, nos anos 1970-1980, a disposição de resíduos sólidos urbanos no Brasil se dava a céu aberto, de modo inadequado, quando proliferaram lixões, em relação aos quais o poder público se preocupava somente A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 6 em afastar os resíduos das regiões urbanas, destinando-os de modo inadequado a encostas, vales, manguezais, áreas de florestas, rios. Os impactos ambientais, sanitários e sociais ocasionados pela disposição inadequada dos resíduos sólidos urbanos (RSU) estão presentes em todos os países, especialmente os em desenvolvimento, onde se observa incapacidade das autoridades governamentais em encontrar soluções para reduzir os impactos de modo adequado (Albertin et al., 2011). Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), no seu relatório de 2017, foram coletadas no Brasil, 71,6 milhões de toneladas de RSU, ou 91,2% do total, o que alerta para o fato de 6,9 milhões de toneladas não terem sido coletadas e quanto à destinação, 42,9 milhões de toneladas são dispostas em aterro sanitário, o que é adequado (59,1% do total coletado) e o restante, mais de 29 milhões de toneladas, vai para destinações inadequadas, lixões sobretudo (Abrelpe, 2017). A problemática ambiental gerada pelo lixo é de difícil solução, e a maior parte das cidades brasileiras apresenta serviços de coleta que não preveem a segregação dos resíduos na fonte (Mucelin; Bellini, 2008). Esse é o desafio ambiental diante de nossa sociedade. Agora, serão apresentadas as consequências desse estado de coisas. TEMA 3 – IMPACTOS DA GERAÇÃO E DESCARTE DE RESÍDUOS São diversos os impactos ambientais negativos que podem ser produzidos pelos resíduos gerados pelas atividades humanas (antrópicas) (Mucelin; Bellini, 2008), como os decorrentes da deposição inadequada de RSU em fundos de vale, às margens de cursos d´água ou margens de ruas. A disposição de RSU em lixões está relacionada aos impactos significativos, que, a saber, são focos de contaminação e doenças, desequilibram os ecossistemas localmente, pois são áreas que se tornam inviáveis para a vida e não podem ser reutilizadas (Richter, 2014). Jakobi e Besen (2011) elencam quais os impactos socioambientais oriundos da gestão e disposição inadequada dos resíduos sólidos, o que inclui degradação do solo, comprometimento dos corpos d´água e mananciais, intensificação de enchentes, contribuição para a poluição do ar, proliferação de vetores de importância para a saúde pública nos centros urbanos, catação em condições insalubres nas ruas e nas áreas de disposição final dos resíduos. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 7 Outro aspecto desafiador desse contexto, no entendimento desses autores, sobretudo em regiões metropolitanas com grande adensamento urbano e populacional, é a falta de locais adequados para dispor os resíduos, isso devido aos impactos ocasionados à vizinhança de locais potenciais e à existência de áreas ambientalmente protegidas (Jakobi; Besen, 2011). Braga (2005, p. 149) comenta que “a prática de uso de lixões como forma de disposição e tratamento [grifo nosso] de lixo consiste em lançar e amontoar os resíduos em algum terreno baldio, dando origem justamente aos lixões”, designados por esse autor também de monturos, que acarretam transtornos de ordem estética, atraem vetores de interesse à saúde pública, podendo favorecer episódios de saúde endêmicos e epidêmicos. Braga (2005) completa que a poluição do solo urbano por resíduos sólidos é o problema maior e mais comum, ao qual deve ser direcionada especial atenção. Para Almeida Júnior e Amaral (2006) o tratamento adequado de resíduos visa ao bem-estar da população, solucionando o problema de armazenamento e contribuindo para a eliminação do aspecto antiestético e desagradável dos despejos de lixo a céu aberto, o que potencializa a melhora das condições gerais das populações mais vulneráveis que sofrem mais os efeitos da gestão inadequada. De acordo com Siqueira e Moraes (2009), os problemas relacionados aos resíduos sólidos têm se avolumado nas sociedades contemporâneas, implicando a deterioração da qualidade de vida nos grandes centros urbanos. As autoras seguem apontando que a degradação do ambiente natural não pode ser desvinculada de um contexto que inclui comprometimento da saúde física, mental, além de desagregação social (Siqueira; Moraes, 2009). Ao avançar na análise do tema, as autoras comentam que os resíduos sólidos apresentam risco à saúde pública, ocupando nicho estratégico na estrutura epidemiológica social, indiretamente afetando a transmissão de doenças, com os vetores adaptados àquele ambiente e na interface ambiental os resíduos contaminam ar, águas (de superfície e subterrâneas) e o solo (Siqueira; Moraes, 2009). No caso da poluição das águas, agem fenômenos naturais, lixiviação, percolação, arrastamento. No caso do ar, são emitidos efluentes gasosos e particulados. Siqueira e Moraes (2009) concluem a análise apontando que por ano seriam 5,2 milhões de mortes por causa das doenças relacionadas com o lixo. Braga (2005) acrescenta que se o lixo for lançado em qualquer lugar ou tiver A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 8 tratamento e disposição inadequados, será uma fonte dificilmente igualável de proliferação de insetos e roedores, com os riscos à saúde pública aí originados, sem contar o aspecto estético incômodo e o mau cheiro. Andrade e Ferreira (2011) fazem importante adendo ao comentar que cidades que apresentem gestão deficiente de resíduos sólidos podem sofrer com poluição atmosférica oriunda de material particulado, odores e gases nocivos, poluição hídrica resultante do chorume de lixões e de lançamento direto dos resíduos no ambiente, contaminação e degradação do solo, desvalorização imobiliária das áreas próximas aos locais de disposição, proliferação de doenças, como já advertido por outros autores. Gouveia (2012) nos traz com destaque outro aspecto desse enorme desafio social e ambiental: os RSU, que também contribuem na geração dos gases de efeito estufa (GEE), os quais, se considerados os maiores volumes lançados pela ação antrópica, são responsáveis pelas alterações climáticas. A decomposição anaeróbica da matéria orgânica contida nos resíduos gera grande quantidade de GEE, sobretudo o metano (CH4), segundo principal gás do efeito estufa. O autor alerta também que a geração de resíduos está crescendo na faixa de 7% ao ano, com coleta diária variando bastante, conforme a metodologia de mensuração adotada, na faixa entre 180 e 250 mil toneladas ao dia (Gouveia, 2012). No Brasil, nossa geração por habitante está chegando à casa de 1 kg-1/habitante-1/dia-1, padrão semelhante a alguns países europeus. Gouveia (2012) também destaca o papel dos lixões ou vazadouros a céu aberto, que ainda respondem por mais da metade da destinação. Outro aspecto relevante que o autor inclui em sua análise é que o manejo adequado dos RSUs (que abordaremos no tema a seguir) é uma estratégia ambiental e sanitária importante (Gouveia, 2012). Outros dados que devem chamar a atenção e gerar preocupação se baseiam nos estudos do Banco Mundial (World Bank), que, no relatório What a Waste 2.0, destacou a geração de resíduos em nível mundial, indicando que o mundo produziu 2,01 bilhões de toneladas (esse número pode subir a 3,4 bilhões de toneladas em 2050) com ao menos 33% desse montante com destinação ambiental inadequada. O valor por habitante por dia em massa é de 0,74 kg-1/hab- 1/dia-1 com variações extremas de 0,11 a 4,54 kg-1/hab-1/dia-1. Consta no documento que os países de mais alta renda respondem por ao menos 34% desse total (Kaza et al., 2018, p. 3). A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 9 TEMA 4 – ENFRENTAMENTO DO DESAFIO AMBIENTAL – GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS Agora que temos um melhor entendimento sobre os desafios que nos impõem os resíduos, analisemos como se deve enfrentar e minimizar o problema. Historicamente, em nosso país, o serviço de limpeza urbana foi iniciado em 25 de novembro de 1880, no Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, via Decreto n. 3.024, assinado pelo imperador D. Pedro II, estabelecendo o contrato de limpeza e irrigação da cidade, sob responsabilidade de Aleixo Gary e, mais tarde, por Luciano Francisco Gary, cujo sobrenome originou a palavra gari, hoje associada aos trabalhadores da limpeza urbana em muitas cidades brasileiras (Almeida Júnior; Amaral, 2006). O tempo passou, e o sistema de gestão de resíduos foi se aprimorando, embora ainda estejamos, no Brasil, num patamar de desenvolvimento no que tange a esse tema, no mínimo, modesto. Há grandes obstáculos que emperram nosso progresso nesse setor fundamental da sociedade, pelos fatores já discutidos. De acordo com Braga (2005), considerando que o problema é, sobretudo, urbano, nas cidades é indispensável um sistema público ou comunitário, que fique responsável pela limpeza de logradouros, pela coleta, disposição e tratamento do lixo que extinga os riscos de saúde pública e elimine ou reduza a níveis aceitáveis os demais impactos sobre o meio ambiente associados ao lixo. Seguindo adiante no entendimento sobre a gestão de RSU, Braga (2005) comenta que um sistema desses deve compreender um rol de atividades principais: a. varrição de ruas e demais logradouros públicos; b. coleta domiciliar e edificações comerciais e industriais, esta deve ser seletiva; c. transporte até centros de transbordo ou triagem ou diretamente até locais de disposição; d. disposição e/ou tratamento do lixo, com eventual aproveitamento do produto desse tratamento. Antes de entrarmos nos detalhes das etapas desse processo, cabe analisar os aspectos de normalização e regulação da gestão de RSU no Brasil. Desde o ano de 2010, temos no Brasil a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, marco principal em termos de políticas públicas na gestão de resíduos. De modo A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 10 mais detalhado, o marco legal da limpeza urbana e, em especial, da gestão e manejo de resíduos sólidos estão definidos via a Política Nacional de Saneamento Básico - PNSB (Lei n. 11.445/2007), na qual o plano de resíduos sólidos deve integrar os chamados Planos Municipais de Saneamento (contemplado na PNSB), na PNRS (Lei Federal n. 12.305/2010) e no seu Decreto regulamentador, Decreto n. 7.404/2010 (Jakobi; Besen, 2011). A PNRS trouxe mudanças importantes, com ferramentas úteis para a gestão e gerenciamento de resíduos nas cidades (Ferreira; Cruvinel; Costa, 2014). Jakobi e Besen (2011) comentam que a PNRS veio fortalecer a visão integrada da gestão de RSU. Assim, antes de detalhar mais os aspectos da Lei, é importante entender o que seria essa visão. 4.1 Gestão integrada dos RSU Quando se pensa na gestão dos RSU, deve-se pensar na integração dos elementos constituintes desse sistema de gestão. Vem daí a ideia de gestão integrada e sustentável dos resíduos sólidos (em inglês, ISWM – Integrated Solid Waste Management). Como abordam Jakobi e Besen (2011), essa prática inclui redução da produção nas fontes geradoras, o reaproveitamento, a coleta seletiva com inclusão do catador de materiais recicláveis – definido como categoria profissional, registrada na Classificação Brasileira de Ocupação (CBO), sob n. 5192-05 (Gouveia, 2012) e que poderiam ser chamados de coletores de materiais recicláveis, por que não?... –, a reciclagem e a recuperação de energia. É justamente nesse contexto que a PNRS veio contribuir de modo significativo. Jakobi e Besen (2011) indicam que a política propõe medidas de incentivo à formação de consórcios públicos para regionalizar a gestão e buscar ampliar a capacidade de gestão dos municípios – ganhos de escala e redução de custos, já que se compartilha o sistema integrado (coleta, tratamento e destinação). Ainda Jakobi e Besen (2011) ponderam que outra inovação importante da PNRS é estabelecer a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e a logística reversa para retorno dos produtos às cadeias produtivas, assunto que abordaremos em detalhes no Tema 5. Outro ganho de qualidade com o advento da PNRS, no entendimento desses autores, é valorizar a prevenção, precaução, redução, reutilização e reciclagem, metas de redução de disposição final de resíduos em aterros sanitários e a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos em aterros sanitários. Finalmente, Jakobi e Besen (2011) destacam a criação de mecanismos A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 11 de inserção de catadores de materiais recicláveis nos sistemas municipais de coleta seletiva e a possibilidade de se fortalecerem redes de organizações de catadores e a criação de centrais de estocagem e comercialização em nível regional. Ferreira, Cruvinel e Costa (2014) comentam sobre as cadeias de geração de resíduos sólidos (fabricação, venda, uso e descarte) e apontam que as etapas críticas são a produção e o descarte final, pois nessas cadeias geradoras todos são responsáveis pelo que se insere no meio ambiente (fabricantes, consumidores, poder público), o que reforça a importância do conceito e da prática da logística reversa, como se verá na continuidade. Uma vez analisados aspectos de políticas públicas e gestão, abordemos algumas das metodologias empregadas (nos ateremos às mais empregadas no Brasil) para disposição e tratamento de resíduos, respeitando a lógica da PNRS, que tem entre os objetivos a hierarquia nas ações de manejo de RSU: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento, disposição final adequada dos rejeitos. É importante lembrar que resíduos são passíveis de valoração e reaproveitamento nas cadeias econômicas (por exemplo, latas) e rejeitos não são passíveis de serem reintroduzidos nessas cadeias (por exemplo, resíduos higiênicos) (Brasil, 2010a). 4.2 Disposição e tratamento de RSU Braga (2005) aborda, classicamente, os principais modos de dispor e tratar RSU, abordando os lixões ou monturos, onde se lança simplesmente o resíduo sobre o solo, a céu aberto, o que propicia as consequências já comentadas. O cenário no Brasil quanto a lixões ainda é muito preocupante, conforme nos relata a Abrelpe (2017), que apontou, dos 5.570 municípios brasileiros, nada menos que 1.610 ainda destinando RSU em lixões. Vale lembrar que inicialmente a PNRS estabelecia agosto de 2014 (art. 54 da PNRS) como limite para extinção de lixões, o que obviamente não ocorreu, beneficiado por manobra política no Congresso Nacional (Brasil, 2012). Outra forma de disposição é o aterro controlado, método em que não há impermeabilização do solo e os resíduos são cobertos com material inerte (terra, por exemplo), o que não impede a ocorrência de impactos e danos ambientais severos, a exemplo dos lixões (Lauermann, 2007). Braga (2005) comenta que as alternativas mais adequadas parar dispor e tratar RSU seriam o aterro sanitário A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 12 ou energético, a compostagem e a incineração. Vamos abordar brevemente cada uma dessas tecnologias. 4.2.1 Aterro sanitário Lauermann (2007) define aterro sanitário como aquele executado segundo critérios e normas de segurança ambiental, legislativa e técnica atendendo aos padrões de segurança estabelecidos. Braga (2005) descreve que, nesse método, o lixo é lançado sobre o terreno e recoberto com solo do local, para isolamento, formando câmaras. Segue o autor, comentando que a movimentação das máquinas de terraplanagem para execução das câmaras compacta os resíduos, com redução do volume (Braga, 2005). No interior da câmara, com o fim do oxigênio, esgota-se a degradação aeróbia, sendo substituída pela anaeróbica, com liberação de gás (metano principalmente, altamente energético) e de chorume, substância líquida escura, constituída por resíduos orgânicos parcialmente biodegradados (Braga, 2005), com elevada carga orgânica e coloração forte (Morais; Sirtori; Peralta-Zamora, 2006). Braga (2005) adiciona que o gás que se acumula na câmara deve ser drenado (captado), por queima ou beneficiamento e utilização, e que o chorume, que se acumula no fundo e que tende a se infiltrar no solo e pode alcançar o lençol freático deve ser canalizado e tratado. Braga (2005) complementa comentando sobre um novo modelo de aterro sanitário, o chamado aterro sanitário-energético, onde o chorume drenado é reaplicado (via bombeamento) para aumentar biodegradação da matéria orgânica e produção de gás. Esse gás drenado pode ser usado como combustível diretamente ou após prévia lavagem das impurezas. Braga (2005) orienta que os aterros, uma vez esgotados, podem ser úteis como elementos de recuperação de áreas de baixos degradados, na forma de áreas verdes e parques, reincorporando-se ao tecido urbano. O autor finaliza analisando as desvantagens da tecnologia, que demanda extensões amplas de terreno e para cujas consequências paisagísticas da operação se deve atentar (Braga, 2005). Devem-se minimizar inconvenientes ambientais (mau cheiro, tráfego de caminhões pesados, mau aspecto). Para a realidade brasileira, os aterros sanitários ainda podem ser considerados a melhor opção. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 13 4.2.2 Compostagem A próxima tecnologia, a compostagem, é a técnica para obtenção do composto, que é produto de decomposição da matéria orgânica, em condições aeróbias e controladas para se obter um material estabilizado, que não se submete mais ao processo de putrefação (Braga, 2005). Desse processo resulta um produto final estável, sanitizado, rico em compostos húmicos e cujo uso no solo não traz riscos ao meio ambiente (Valente et al., 2009). Braga (2005) comenta que a vantagem da compostagem é a menor exigência de área física para a instalação e a reciclagem que favorece. Ele finaliza indicando que essas vantagens dependem de fluxo de demanda pelo composto (Braga, 2005). 4.2.3 Incineração A última tecnologia a considerar neste estudo será a incineração: com essa técnica, o resíduo é reduzido a cinzas e gases decorrentes da combustão, que pode ser otimizada para reduzir a quantidade de matéria apenas parcialmente oxidada, o que permitirá haver menor volume de cinzas (os resíduos sólidos remanescentes) além de influenciar emissões gasosas e fuligem (Braga, 2005). Gouveia e Prado (2010) afirmam ser a incineração um método amplamente utilizado que diminui o volume e a massa de resíduos, reduzindo custos logísticos. Esse método previne o crescimento de patógenos e a proliferação de vetores. Por outro lado, produz agentes tóxicos via emissão atmosférica (entre eles, partículas, gases, metais pesados, compostos orgânicos, dioxinas e furanos), várias indicadas como carcinogênicas. Esse assunto é objeto de polêmica, que parece estar longe de se encerrar. O fato é que o uso de incineradores está se disseminando no país. Essas são as tecnologias mais empregadas e próximas da realidade de um país emergente como o Brasil. Agora, vamos analisar uma das principais inovações em gestão de RSU (incluída na PNRS) em nível mundial, que vai ganhando força no país, a logística reversa (LR). A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 14 TEMA 5 – INOVAÇÕES NA GESTÃO AMBIENTAL DE RSU – LOGÍSTICA REVERSA 5.1 Logística reversa e a PNRS Para entender o impacto da logística reversa (LR), é importante lembrar como esse movimento se estabeleceu no Brasil. O Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) iniciou em 1999 a proposta para regulamentação dos resíduos sólidos no país. Um dos motivadores dessa iniciativa foi ter começado, em 1998, um trabalho para regulamentação em relação a uma série de resíduos: pneus, pilhas, baterias, serviços de saúde, construção civil, lâmpadas fluorescentes, aterros sanitários, entre outros (Lagarinhos; Tenório, 2013). No contexto da PNRS, a logística reversa foi incorporada como ferramenta inovadora para aperfeiçoar a gestão dos RSU, como realmente ela tem potencial para se tornar. Está definida na Lei 12.305 (art. 3º, inciso XII) como conjunto de ações, procedimentos e meios que viabilizam a coleta e restituição de resíduos sólidos ao setor produtivo (Brasil, 2010a) (no texto legal está a expressão “setor empresarial”, mas é um contrassenso não incluir o setor público, que também gera grandes volumes de resíduos nas cadeias econômicas). No art. 13 do Decreto regulamentador, o conceito inclui a visão de que se trata de um instrumento de desenvolvimento econômico e social (Brasil, 2010b). Com a aprovação da PNRS em 2010, conforme já abordado, os fabricantes, distribuidores, importadores e comerciantes de agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas, produtos eletrônicos ficaram obrigados a desenvolver sistemas de logística reversa para o retorno de produtos e embalagens no final da vida útil, sem depender dos serviços públicos de limpeza (Lagarinhos; Tenório, 2013). Os medicamentos domiciliares vencidos e em desuso foram incorporados mais tarde. A estratégia da PNRS contempla instrumentos fundamentais: responsabilidade compartilhada, logística reversa e acordos setoriais. Além da PNRS, em razão da morosidade de diversos setores e cadeias econômicas em estabelecer sistemas de LR, em 2017 o Governo Federal publicou o Decreto n. 9.177, de 23 de outubro de 2017, que “regulamenta o art. 33 da Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, e complementa os art. 16 e art. 17 do Decreto n. 7.404, de 23 de A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 15 dezembro de 2010 e dá outras providências” (Brasil, 2017). Está muito claro o objetivo do Decreto em seu art. 2º: Os fabricantes, os importadores, os distribuidores e os comerciantes de produtos, seus resíduos e suas embalagens aos quais se refere o caput do art. 33 da Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010, e de outros produtos, seus resíduos ou suas embalagens objeto de logística reversa na forma do § 1º do referido artigo, não signatários de acordo setorial ou termo de compromisso firmado com a União, são obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, consideradas as mesmas obrigações imputáveis aos signatários e aos aderentes de acordo setorial firmado com a União (Brasil, 2017). 5.2 Iniciativas de logística reversa É crescente o número de cadeias econômicas que estão implementando sistemas de logística reversa. Alguns casos são emblemáticos, como embalagens de agrotóxicos, eletroeletrônicos, pneus; outras estão se organizando, como o setor de pilhas, baterias e medicamentos. No caso dos resíduos eletroeletrônicos, existe a entidade associativa que representa o setor, a Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (ABREE), que organiza e articula o setor (que já tem celebrado acordo setorial) para o funcionamento de seu sistema de logística reversa, com vistas à coleta e à destinação ambiental final adequada dos rejeitos e reaproveitamento na cadeia dos resíduos, denominados resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REE) (ABREE, 2019). Segundo a entidade (ABREE, 2019), ainda há muito a se fazer: considerando-se que há 500 milhões de aparelhos armazenados nos domicílios brasileiros, o sistema opera com o consumidor levando os REE aos comerciantes e distribuidores. Os materiais são reinseridos na cadeia via reciclagem e obtenção de matéria-prima. Outra cadeia que tem impacto é a de pneus, que tem a entidade gestora do sistema de LR, a Reciclanip (fundada em 2007). Essa cadeia de pneus iniciou em 1999 o sistema de responsabilidade pós consumo (LR), via Programa Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis implantado pela ANIP (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos) (Reciclanip, 2019). Os dados dão conta de que 4,2 milhões de pneus inservíveis foram coletados desde 1999. Segundo Lagarinhos e Tenório (2013), havia, em 2010, 124 empresas cadastradas junto ao governo para reutilização, reciclagem e valorização energética de pneus. Os autores destacam que, de 1999 até 2011, foram reciclados 342 milhões de pneus (Lagarinhos; Tenório, 2013). Essas cadeias A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 16 ilustram bem a importância que a LR terá na gestão de RSU no Brasil, assim como já possui em países mais avançados, contribuindo decisivamente para a redução da geração de RSU e o incremento econômico nacional. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 17 REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 10004: 2004 – Resíduos sólidos – classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. ABREE – Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos. Entenda o descarte. ABREE, 2019. Disponível em: <http://abree.org.br/>. Acesso em: 3 ago. 2019. ABRELPE. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2017. São Paulo: ABRELP, 2017. ALBERTIN, R. M. et al. Avaliação da disposição final de resíduos sólidos urbanos no município de Cianorte, Paraná. Tecno-Lógica, 4 jun. 2011. Disponível em: <https://docplayer.com.br/24726121-Avaliacao-da-disposicao-final-de-residuos- solidos-urbanos-no-municipio-de-cianorte-parana.html>. Acesso em; 3 ago. 2019. ALMEIDA JÚNIOR, R. O. J.; AMARAL, S. P. Lixo urbano, um velho problema atual. XIII SIMPEP. Bauru, SP, 6 A 8 de novembro de 2006. ANDRADE, R. M.; FERREIRA, J. A. 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Acesso em: 3 ago. 2019. A luno: Y uri G om es M allaco E m ail: yurim allaco27@ gm ail.com 18 CINQUETTI, H. S. Lixo, resíduos sólidos e reciclagem: uma análise comparativa de recursos didáticos. Educar, Curitiba, n. 23, p. 307-333, Curitiba, 2004. ESTADO de la población mundial 2018. UNFPA, 17 out. 2018. Disponível em: <https://www.unfpa.org/es/press/estado-de-la-poblaci%c3%b3n-mundial-2018>. Acesso em: 3 ago. 2019. FERREIRA, E. M.; CRUVINEL, K. A. S.; COSTA, E. S. Disposição final dos resíduos sólidos urbanos: diagnóstico da gestão do município de Santo Antônio de Goiás. Revista Monografias Ambientais – REMOA, v. 14, n. 3, maio-ago. 2014, p. 3401-3411. Disponível em: <https://periodicos.ufsm.br/remoa/article/viewFile/13520/pdf>. Acesso em: 3 ago. 2019. GOUVEIA, N. Resíduos sólidos urbanos: impactos
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