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Ação Penal Privada

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Ação Penal Privada 
 
• O delito é de ação penal privada quando no CP ou em lei específica está escrito a seguinte expressão: 
“somente se procede mediante queixa”. 
 
• Existem três grandes tipos de ações penais: ação penal pública incondicionada, ação penal pública 
condicionada e ação penal privada. 
 
• A palavra-chave da ação penal é queixa. Também chamada de queixa-crime. 
 
No CP existem poucos delitos que são de ação penal privada. Os exemplos são: dano ao patrimônio particular 
e situação dos crimes contra a honra (calúnia, injúria e difamação), que são as situações mais comuns na ação 
penal privada. Entretanto, as situações de ação penal privada não se esgotam no CP. 
 
Quando se tem um delito de ação penal privada o legislador define que: é um crime, ele punirá, mas sem 
muito esforço. Assim, se a vítima quiser que o estado investigue, ela pedirá que o estado instale um inquérito 
policial, para que o autor do crime possa ser processado; a vítima que deve contratar um advogado para processar 
o réu. 
Não é legitimidade do MP buscar a punição do crime e sim legitimidade da própria vítima. Isso acontece na 
fase de inquérito policial, pois a delegacia somente irá instaurar inquérito policial nos delitos de ação penal 
privada se houver requerimento escrito feito pela vítima (não serve B.O.), e, além disso, na fase da Ação Penal 
Privada tem a situação da própria vítima ter que processar. O direito de punir continua sendo público, mas a 
iniciativa da ação penal privada deixa de ser do Estado, via MP, e passar ser da própria vítima, via queixa-crime. 
 
Artigo 145 CP: 
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso 
do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal. 
Assim, toda vez que tiver essa situação, trata-se de iniciativa da própria vítima de buscar a punição do autor. 
➢ Quanto tempo tem a vítima para fazer isso? 
 
Artigo 38 CPP – estabelece um prazo decadencial de 6 meses a contar do conhecimento da autoria. 
 
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa 
ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem 
é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia 
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou representação, dentro do mesmo prazo, 
nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31. 
 
Assim, o prazo sendo decadencial, não se suspende nem se interrompe, nem mesmo se a vítima for menor 
de idade (mas nesse caso, quem ajuíza são os pais ou representantes legais do menor). 
 
• Nas ações penais privadas existem três grandes características: 
 
*Lembrar da ação penal pública: quando ocorre um delito de ação penal pública, o estado é obrigado a investigar 
e processar, via de regra. Nas ações penais privadas, a vítima processa se ela quiser. A atuação da vítima é 
discricionária, a vítima não é obrigada a processar criminalmente o autor do delito: 
 
Direito subjetivo → Discricionariedade 
Exceção: vítima que se torna incapaz ou que falece no decurso do prazo. Aconteceu o delito, adiante, a vítima 
faleceu ou se tornou incapaz. O direito de processar (a legitimidade) se transfere aos CADI, nessa ordem 
sucessiva (não é uma legitimidade concorrente): 
Cônjuge 
Ascendente 
Descendente 
Irmão 
➔ CADI 
 
• Ao contrário de uma ação penal pública, as ações penais privadas são indivisíveis. 
Indivisibilidade das ações penais privadas →Artigo 48 CPP: 
Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público 
velará pela sua indivisibilidade. 
Exemplo: João e Antônio xingaram Maria. João pede desculpas à Maria, mas Antônio não. Maria então quer 
processar apenas Antônio. Ela não pode fazer isso, em decorrência da indivisibilidade da ação penal privada, ou 
ela processa os dois ou não processa nenhum deles (art. 48 CPP). Se tem aqui um litisconsórcio passivo 
necessário, por força de lei, que não pode deixar de ser observado. Se ela entrar somente contra Antônio, a lei 
prevê isso e chama de: 
 
Renúncia (ao direito de queixa). A renúncia “em favor” de um dos autores do crime se estende 
automaticamente para todos os outros (artigo 107 CPP), a renúncia é causa extintiva de punibilidade. Existe 
renúncia expressa e tácita. 
Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se 
estenderá. 
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: 
I - pela morte do agente; 
II - pela anistia, graça ou indulto; 
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; 
IV - pela prescrição, decadência ou perempção; 
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; 
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; 
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. 
 
Perdão → ocorre depois que a ação penal foi ajuizada. 
Exemplo: no meio do processo o João pede desculpas para Maria e ela o perdoa. E pede ao seu advogado que 
apresente uma petição dizendo isso “eu, Maria, perdoo o João e não quero mais que ele seja punido pela prática 
do crime’’. 
Maria é autora da ação penal, chamada no Código de querelante, já João e Antônio são denominados pela lei 
como querelados. 
Maria (querelante) x João e Antônio (querelados) → 
Mas, o perdão para João significa o perdão para Antônio. 
Perdão para um → perdão para todos. E o perdão necessita aceite e não é automático. 
A renúncia é automática, pois só quem tem direito de processar é a vítima, é um direito subjetivo. Já o perdão, 
a ação penal já existe. 
Os réus terão três dias para dizer se aceitam ou não. O silêncio significa aceite. 
O que pode acontecer? 
Um pode concordar e o outro não, podem os dois concordarem ou discordarem. 
Nesse caso, entra a exceção ao princípio da indivisibilidade: se João aceitar o perdão e Antônio não, a ação 
penal continuará apenas em face de Antônio. 
Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em 
relação ao que o recusar. 
Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer, 
dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará 
aceitação. 
Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a punibilidade. 
Lembrar que: o CPP fala entre 18 e 21 anos, mas isso está revogado desde 2003, quando o CC alterou a 
capacidade civil plena para 18 anos. Então, toda vez que estiver falando 21 anos, leia-se 18 anos. Por outro 
lado, valem as disposições penais que estabelecem que menores de 21 anos tem uma atenuante genérica e a 
prescrição contada pela metade. Assim, as disposições do CPP não valem e do CP valem. 
Perempção - o inciso IV trata da perempção. É diferente da perempção no processo civil. A perempção está 
nos termos do artigo 60 do CPP: 
Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa*, considerar-se-á perempta a ação penal: 
*ação penal privada 
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias 
seguidos; 
I – os prazos em processo penal são contados em dias corridos. 
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para 
prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo*, 
ressalvado o disposto no art. 36; 
*qualquer pessoa = CADI 
 III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que 
deva estar presente¹, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais²; 
1. Quando o querelante faltar em uma audiência; 
2. Se em uma ação penalpública, nas alegações finais, o MP pedir absolvição do réu, mesmo assim o juiz 
pode condenar. Entretanto, em uma ação penal privada isso não pode ocorrer, pois quando o querelante 
deixar de formular o pedido de condenação, ou seja, pede a absolvição do querelado, está automaticamente 
extinta a punibilidade do querelado em razão da perempção. Nessa situação, o querelado não tem direito 
à uma sentença de mérito, porque o querelante pediu a absolvição ocorrendo, portanto, a perempção. 
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. 
 
PROCURAÇÃO NAS AÇÕES PENAIS PRIVADAS 
Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento 
do mandato* o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos 
dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal. 
* instrumento do mandato = procuração 
Artigo 44 CPP → Não basta que dê poderes especiais para o advogado ajuizar queixa, é necessário, também, 
que na procuração exista um resumo da causa de pedir, ou seja, o fato criminoso em si que constitui a causa 
de pedir tem que constar na procuração. 
1. A procuração não segue o artigo, mas a petição inicial está assinada tanto pelo advogado quanto pelo 
querelante (a vítima, autora da ação penal, assina a inicial junto com o advogado contratado), nesta hipótese 
dispensa-se a exigência do artigo. 
2. Quando a procuração não segue o artigo, tampouco a inicial está assinada pelos dois (advogado e 
querelante), precisa analisar se ainda dá tempo de arrumar ou se estamos no último dia do prazo decadencial, 
isto é, a queixa foi ajuizada no último momento. Se houver tempo de arrumar, a jurisprudência afirma que o juiz 
deve intimar para a regularização. Assim, se houver tempo de arrumar e não for arrumado, há extinção do 
processo sem julgamento de mérito por falta de pressuposto processual, que é a capacidade postulatória. Caso 
não tenha tempo de regularizar o instrumento, não há mais o que fazer, a inicial não será recebida por falta de 
capacidade postulatória e será indeferida pela falta desse pressuposto processual. Não adianta recorrer, pois está 
diante de um prazo decadencial. 
Outra questão: cliente foi ofendido por pessoa conhecida e desconhecida (Exemplo: meu cliente foi ofendido 
por Antônio e por pessoa desconhecida). Para respeitar o princípio da indivisibilidade da ação penal privada, que 
não autoriza que a ação penal seja movida apenas contra um deles, as hipóteses do que fazer são: 
1. Descrever na inicial que não tem conhecimento do corréu e ajuizar a ação somente contra o réu certo. 
Nesse caso, ajuíza a ação apenas contra Antônio. Esta posição, segundo quem segue, respeita a indivisibilidade, 
pois o querelante menciona que o delito foi cometido por mais de um e que não conseguiu descobrir quem é a 
segunda pessoa. A crítica que se faz aqui é que o querelante não tentou, em tese, descobrir quem era essa 
pessoa desconhecida. Disso decorre a situação número 2: 
2. Pedir a instauração de inquérito policial para tentar descobrir a pessoa desconhecida. Ou seja, pede para a 
polícia tentar investigar quem é. 
3. A terceira hipótese = a hipótese 2 + processar a pessoa desconhecida, com base no CPC, como “réu 
incerto/desconhecido”, porque a citação por edital prevista no CC prevê a ação penal ajuizada contra réu incerto 
ou desconhecido. A lei autoriza, mas exige que tenha sido instaurado o inquérito policial, mas mesmo com o 
inquérito, não conseguiu descobrir, sendo, nestes termos, as pessoas desconhecidas citadas por edital 
As duas hipóteses mais acolhidas são a 2 e a 3. 
 
QUEIXA INSTRUÍDA POR B.O. 
Toda ação penal, a fim de ter justa causa para que alguém seja processado, precisa reunir prova da 
materialidade e indícios de autoria. O B.O é unilateral, elaborado por suposta vítima que, se não virar inquérito, 
fica por isso mesmo, pois é ação penal privada e a polícia não pode agir se não for provocada. 
Quando a queixa é instruída por Boletim de Ocorrência, não tem prova da materialidade ou indícios de autoria, 
somente uma versão unilateral da vítima. Isso significa, na prática, que não se aceita queixa instruída apenas 
com B.O, essa será rejeitada por falta de justa causa. Para ter provas, é necessário fazer uma petição ao delegado 
e pedir instauração de inquérito. 
Incidem custas? Depende. Crimes cuja pena não é superior a 2 anos são chamados de infrações penais de 
menor potencial ofensivo, e são tratadas na Lei 9.099/95 (A mesma Lei dos JEC trata também dos Juizados 
Criminais). Nesta Lei há o princípio de gratuidade em primeiro grau de jurisdição, seja ação penal ou civil. 
Assim, nas queixas em o querelante imputa o querelado um delito que é de menor potencial ofensivo, NÃO 
são recolhidas custas, em razão da gratuidade que prevalece na Lei 9.099/95. 
Todavia, se o querelante processar, por exemplo, por calúnia (pena máxima de dois anos) + difamação, passa 
de dois anos e, portanto, incidem custas. Nesse caso deve se observar as leis de custas, que não são federais, 
cada estado tem a sua. No caso da de São Paulo temos que, nas ações penais privadas, será recolhido o valor 
equivalente a 50 UFESPs no momento da distribuição, não sendo no juizado, tem que pagar as custas.

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