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AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL Cláudia Luisa Mendes Controlador lógico programável Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer os componentes de um controlador lógico programável. � Programar um controlador lógico. � Formular práticas de laboratório. Introdução Um controlador lógico programável (CLP) é um dispositivo com caracte- rísticas de hardware semelhantes às de microcomputadores pessoais, mas diferentes no que diz respeito à robustez e à redundância de diversos itens. Para desenvolver programas que funcionarão de forma cíclica, execu- tando as tarefas, podem-se utilizar algumas linguagens de programação, dentre as quais se destacam como as mais comuns o diagrama de con- tatos (ou ladder) e o diagrama sequencial funcional (SFC). Neste capítulo, você vai ser apresentado a todos os elementos que compõem um CLP, como a unidade central de processamento (CPU), as entradas e saídas, vai ler sobre a metodologia de construção dos programas e, por fim, vai conhecer aplicações do uso do CLP. 1 Componentes de um controlador lógico programável Conforme a definição dada pela norma IEC 61131-1, o CLP ou PLC, do inglês Programmable Logic Controller é um equipamento formado por componentes eletrônicos que contém memória programável ou não programável com dados e programas. Sua finalidade é ler e executar instruções que interagem com um sistema controlado por dispositivos de entrada, que chegam de sensores ou transdutores, e de saída, do tipo digital ou analógico. Com base nisso, Natale (2008) diz que o CLP é basicamente um computador utilizado em uma aplicação destinada à automação de processos em geral — como, por exemplo, em CNC (Comando Numérico Computadorizado) — contendo as mesmas características de um computador pessoal. A maneira como um CLP atua no sistema é apresentada na Figura 1. Figura 1. Implementação elétrica de um controle. Fonte: Natale (2008, p. 18). Para entender melhor como um CLP atua, é importante conhecer e entender cada componente que o constitui. Os principais componentes são a CPU e as interfaces de entrada/saída. Controlador lógico programável2 Unidade central de processamento Segundo Silveira e Santos (1998), a CPU é composta por um processador, um sistema de interligação (barramento) e memórias. O processador tem como principal função controlar todas as ações de um CLP. Isso é feito por meio de um executivo, bem como de um sistema opera- cional de computador (DOS ou Windows), que é responsável principalmente pela garantia de execução do ciclo de varredura. Eles podem ser classificados por tamanho — 8 bits, 16 bits, 32 bits ou 64 bits —, por velocidades ou pela quantidade de memória e de dispositivos de entrada e saída que podem ser endereçados. Uma unidade básica para armazenamento de um único bit de informação é chamada célula de memória, que constitui um sistema de memória. A célula de memória é eletronicamente constituída de uma chave que, se for aberta, corresponde a um estado 0 e, se for fechada, a um estado 1. O armazenamento em meios magnéticos é o mais utilizado como sistema de memória em CLPs, embora ainda existam memórias semicondutoras ou gravação por meio ótico. As memórias podem ser dos tipos volátil ou não volátil, e algumas das principais delas, acompanhadas de suas características, conforme apresentadas por Costa (2006), estão listadas a seguir. � RAM (random access memory): do tipo volátil, a principal caracterís- tica deste tipo de memória é a sua fácil utilização no que diz respeito à gravação e à alteração de dados conforme a necessidade do usuário. Em CLPs, são utilizadas como armazenamentos temporários. � ROM (read only memory): do tipo não volátil, estas são memórias projetadas para armazenamento permanente de dados, que não podem ser alterados; devido a isso, o acesso a elas se dá apenas na opção de leitura. Para CLPs, as memórias ROM são largamente utilizadas em armazenamento de programas executivos. � PROM (programmable read only memory): do tipo não volátil, estas são memórias projetadas para armazenamento permanente de dados; porém, diferentemente das memórias ROM, as PROM podem ser gra- vadas pelo próprio usuário. 3Controlador lógico programável � EPROM (erasable programmable read only memory): do tipo não volátil, estas memórias são uma espécie particular de PROM que per- mite alterações nos dados. A EPROM é muito utilizada em CLPs para armazenamento de programa de controle, o qual deve ser elaborado de forma isenta de erros enquanto estiver armazenado em RAM. � EEPROM (eletrically erasable programmable read only memory): do tipo não volátil, estas são memórias com a mesma capacidade de reprogramação existente em RAM, embora apresentem duas limitações — só podem ser regravadas após a limpeza total dos dados anterior- mente contidos e apresentam uma vida útil limitada pelo número de regravações. Mesmo assim, as memórias EEPROM são muito utilizadas em CLPs, devido à sua flexibilidade de reprogramação. Interfaces de entrada/saída Segundo Antonelli (1998), o sistema de entrada/saída conecta fisicamente a CPU com a parte externa, por meio de vários tipos de circuitos de interfaces, com a finalidade de adequar eletricamente os sinais para serem depois proces- sados. Essas entradas/saídas podem ser de dois tipos: discretas ou analógicas. As entradas/saídas discretas são os tipos de sinais mais comumente encontrados em sistemas automatizados com CLP. Nessa espécie de interface, as informações provêm de um único bit, que apresenta as funções ligado ou desligado. Um exemplo de entrada/saída com tais características pode ser observado no Quadro 1. Esses dispositivos são acionados por fontes de alimentações distintas, que não são de mesma magnitude ou natureza. Dessa forma, as interfaces com os elementos de entrada/saída discretos estão disponíveis em vários níveis de tensão CA ou CC, como, por exemplo, 12Vcc, 24Vcc, 110Vca e 220Vca. As entradas/saídas analógicas contêm um conversor analógico-digital ou digital-analógico que permite que sinais numéricos sejam recebidos ou enviados. Como expõem Silveira e Santos (1998), a principal diferença desses sinais em relação aos discretos é que mais de um bit deverá ser manipulado, seja por conversão de sinal analógico, seja por tratamento de dispositivos multibits. No Quadro 2, são apresentados exemplos de alguns dispositivos analógicos e multibits. Controlador lógico programável4 Fonte: Adaptado de Silveira e Santos (1998). Dispositivos de entrada Dispositivos de saída Chaves seletoras Relés de controle Pushbottons Solenoides Sensores fotoelétricos Partidas de motores Chaves fim-de-curso Válvulas Sensores de proximidade Ventiladores Chaves sensoras de nível Alarmes Contatos de partida Lâmpadas Contatos de relés Sirenes Quadro 1. Exemplo de dispositivos de entrada/saída discretas Fonte: Adaptado de Silveira e Santos (1998). Entradas analógicas Saídas analógicas Transdutores de tensão e corrente Válvula analógica Transdutores de temperatura Acionamento de motores DC Transdutores de pressão Controladores de potência Transdutores de fluxo Atuadores analógicos Potenciômetros Mostradores gráficos L.V.D.T. Medidores analógicos Entrada multibits Saídas multibits Chaves thumbwheel Acionamento de motor de passo Encoder absoluto Display de sete segmentos Encoder incremental Displays alfanuméricos Quadro 2. Exemplo de dispositivos de entrada/saída analógicas e multibits 5Controlador lógico programável 2 Programação do controlador lógico De acordo com Natale (2008), para se escrever o programa do usuário, deve-se utilizar a linguagem de programação que permite introduzir desde funções binárias simples até funções complexas — linguagem essa que é regulamentada pela norma IEC 1131. As funções podem ser representadas em cinco modos: Texto Estruturado (ST) e Lista de Instruções (IL), funções classificadascomo linguagens tex- tuais; Diagrama Ladder (LD) e Diagrama Blocos Funcionais (FBD), funções subdividas em linguagens gráficas; e, por fim, o Sequenciamento de Gráfico de Funções (SFC), função reconhecida como linguagem híbrida. Na Figura 2, a seguir, podem-se observar exemplos dos cinco modos de linguagem de programação. Figura 2. Exemplo de linguagem de programação: (a) Ladder, (b) texto estruturado, (c) lista de instruções, (d) blocos funcionais e (e) SFC. Fonte: Adaptada de Prudente (2013). Controlador lógico programável6 A seguir serão apresentadas as estruturações das principais linguagens de programação utilizadas em CLPs. Linguagem Ladder (LD) Segundo Prudente (2013), entre todas as linguagens conhecidas, a LD é a mais empregada no campo internacional para a programação de CLP. Ela é a linguagem preferida pelos programadores com conhecimento em eletrome- cânica, porque utiliza conhecimento de esquematização de relés. Além disso, a LD é composta por sinais gráficos que são padronizados pela norma IEC 61131-3, os quais derivam de simbologia americana fortemente utilizada para esquemas funcionais. Essa linguagem pode ser facilmente reconhecida pela observação das suas características: duas linhas verticais e linhas horizontais em formato de escada, sob as quais são desenhados os elementos constituintes para controlar o sistema desejado. A Figura 3 apresenta o significado de alguns dos símbolos mais utilizados em LD. Figura 3. Simbologia da linguagem Ladder. Fonte: Prudente (2013, p. 54). 7Controlador lógico programável Ainda conforme Prudente (2013), assim como apresentado na Figura 4, o esquema Ladder é composto de: Figura 4. Programação Ladder: (a) esquema de formação do programa e (b) exemplo simples de uma programação. Fonte: Adaptada de Prudente (2013, p. 54). Linguagem com sequenciamento gráfico de funções De acordo com Prudente (2013), a SFC é considerada mais uma técnica de programação do que uma linguagem de programação propriamente dita. Essa técnica parte do pressuposto de que qualquer sistema de controle é caracterizado por uma linearidade de eventos produzidos ou de forma automática ou com a intervenção de ação humana, ou, ainda, em função do tempo. A linguagem SFC, também conhecida como Grafcet, utiliza sinais geo- métricos e uma simbologia alfanumérica, e seus programadores não precisam ter conhecimentos específicos no setor elétrico/eletrônico. Controlador lógico programável8 Alguns símbolos gráficos apresentados pela norma IEC 60848 podem ser observados na Figura 5. Figura 5. Simbologia da linguagem SFC. Fonte: Prudente (2013, p. 58). Prudente (2013) também afirma que, assim como apresenta a Figura 6, a construção de um programa SFC deve respeitar algumas regras contidas na norma IEC 60848: 9Controlador lógico programável Figura 6. Diagrama funcional de sequência simultânea. Fonte: Adaptada de Prudente (2013). Acesse o link a seguir e conheça mais a respeito de CLPs, de conexões com dispositivos de entrada e saída, e de como desenvolver programas para aplicação de controle de temperatura. https://qrgo.page.link/uXZBG Controlador lógico programável10 3 Aplicações com CLPs Na estrutura da linguagem SFC, é notória a presença de três elementos bá- sicos: as transições, as etapas e as ações. Se cada um desses elementos for corretamente modelado, o resultado será uma implementação isenta de erros. Como apresentam Silveira e Santos (1998), ficam claras as dificuldades ligadas à formação da sequência lógica na programação, o que torna possível uma implementação prática e funcional, de forma rápida. Em um diagrama de relés, é comum que a implementação da linguagem SFC seja subdividida em três partes distintas, conforme foi exposto anterior- mente: uma responsável pela sequência das transições (sobretudo pelo fluxo do processo), outra responsável pelo sequenciamento das etapas (fortemente interconectadas a fim de formarem um processo sequencial correto) e outra que realizará as ações operativas (resultado das etapas criadas corretamente). Essas partes devem necessariamente obedecer à ordem descrita, pois essa advém de uma característica sequencial da solução de saída do circuito que, em casos críticos, ocorre principalmente com intertravamentos oriundos de sinais com natureza impulsional. Na Figura 7, é apresentada essa ordem. Figura 7. Diagrama de contatos implementado a partir de um Grafcet. Fonte: Adaptada de Silveira e Santos (1998). 11Controlador lógico programável Dessa forma, é possível realizar a codificação de CLPs conforme a lingua- gem com que o programador melhor se identificar. A partir dessa metodologia, caso uma tarefa tenha sido executada em diagrama de contatos, ela pode ser reescrita como sequenciamento gráfico de funções. Exemplo 1 Um sistema utilizado em transporte horizontal de peças, de um tonel para outro em uma fábrica de aço, funciona mediante o deslocamento linear tanto da esquerda para a direita, quanto da direita para a esquerda, por meio do comando de um conjunto de botoeiras. Sensores de fim de curso indicam a chegada do conjunto à lateral solici- tada. Como pode ser visto na Figura 8, o SFC responsável pela atuação do dispositivo é dado por: Figura 8. SFC responsável pela atuação do dispositivo. Fonte: Silveira e Santos (1998, p. 150). Controlador lógico programável12 De forma semelhante, mas sendo reescrito em linguagem de contatos, o equivalente desse código é apresentado na Figura 9, a seguir. Figura 9. Linguagem de contatos. Fonte: Adaptada de Silveira e Santos (1998). 13Controlador lógico programável Assim, aplicando a metodologia proposta por Silveira e Santos (1998), deve-se identificar todos os elementos de entrada e saída, definir as posições de memórias ocupadas e a natureza das grandezas, começar o código a partir das condições inicias, das condições de transição e etapas, para, por fim, avaliar todas as ações que devam ser executadas. Exemplo 2 Um sistema comumente utilizado em esteiras, pontes rolantes e tanques de mistura é a inversão de rotação de motores de indução trifásicos. Para realizar a reversão do sentido de rotação, é necessário alterar duas fases de posição. Por exemplo, um motor conectado na forma ABC gira em sentido horário; quando as fases são comutadas para ACB, o motor inicia o giro anti-horário. Definindo, então, as entradas e as saídas desse sistema, pode-se observar o programa a partir do diagrama de contatos (Figura 10) e do SFC (Figura 11). Figura 10. Diagrama de contatos Controlador lógico programável14 Figura 11. SFC. Assim, os dois programas realizam basicamente tarefas idênticas: verificam a atuação do relé térmico ou da botoeira de parada e desligam o motor. Para iniciar o giro em sentido horário, aciona-se a botoeira horário, e, caso seja necessário realizar a inversão, aperta-se a botoeira anti-horário. Outros programas podem ser escritos para a mesma rotina proposta. Isso vai depender principalmente das definições iniciais, dos sensores e atuadores utilizados, da linguagem e do dispositivo ao qual o código será inserido. Dessa forma, após a leitura sobre os componentes do CLP e as diferentes formas de programação, evidencia-se a metodologia para desenvolvimento de rotinas que executem e controlem processos industriais, comerciais, prediais ou, ainda, qualquer outra aplicação cabível utilizando-se os CLPs. O CLP revolucionou os processos fabris, e suas tecnologias vêm melho- rando a cada ano. A integração entre os diferentes sistemas, bem como as diferentes células de manufatura representam as novas funcionalidades desses dispositivos. 15Controlador lógico programável ANTONELLI, P. L. Introdução aos controladores lógicos programáveis (CLPs). 1998. Disponível em: http://www.ejm.com.br/download/Introducao%20CLP.pdf. Acesso em: 1 mar. 2020. COSTA, C. da. Projetando controladores digitais com FPGA. São Paulo: Novatec, 2006. NATALE, F.Automação industrial. 10. ed. São Paulo: Érica, 2008. (Série Brasileira de Tecnologia). PRUDENTE, F. Automação Industrial: PLC — programação e instalação. Rio de Janeiro: LTC, 2013. SILVEIRA, P. R. da; SANTOS, W. E. Automação e controle discreto. São Paulo: Érica, 1998. Leituras recomendadas CAPELLI, A. Automação industrial: controle do movimento e processos contínuos. 3ª ed. São Paulo: Érica, 2013. NEVES, Y. B. de M.; FREITAS, D. R. R. de. Construção de controlador lógico programável de baixo custo para fins didáticos. Revista de Engenharia e Pesquisa Aplicada, v. 4, nº. 4, p. 28–39, out. 2019. Disponível em: http://revistas.poli.br/index.php/repa/article/ download/1172/523/. Acesso em: 1 mar. 2020. PRUDENTE, F. Automação industrial: PLC — teoria e aplicação. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Controlador lógico programável16
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