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Lazer, Trabalho e Sociedade Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Pedro Fernando Avalone Athayde Revisão Textual: Prof. Esp. Claudio Pereira Conceitos básicos sobre o trabalho e tempo livre • Introdução; • O Trabalho como Essência Humana; • Organização do Processo de Trabalho; • A Produção de Mercadorias; • O Trabalho Alienado. · Compreender que o trabalho é uma categoria fundamental para a ontologia; · Conhecer as etapas do processo de trabalho; · Identificar como é realizada a mais-valia na produção de mercadorias; · Conhecer as mudanças no processo de trabalho que o alienam do trabalhador. OBJETIVO DE APRENDIZADO Conceitos básicos sobre o trabalho e tempo livre Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Conceitos básicos sobre o trabalho e tempo livre Introdução Estamos iniciando nosso trajeto rumo à compreensão das temáticas que com- põem a disciplina “Lazer, Trabalho e Sociedade”. Nesta disciplina, nos dedicare- mos a compreender as interfaces existentes entre esses três fenômenos – algumas consensuais, outras bastante conflitantes – buscando sempre fazer o exercício de reflexão crítica acerca dessas relações, a fim de melhor entender seus desdobra- mentos históricos e sociais. Portanto, para facilitar a reflexão e compreensão, estabelecemos paradas obri- gatórias nessa trajetória. A primeira unidade de conteúdo se dedicará ao tema dos “Conceitos básicos sobre o trabalho e o tempo livre”. Esse momento tem como objetivo conhecermos algumas características históricas do trabalho como um ele- mento importante na constituição dos seres humanos. Além disso, é importante percebemos que o trabalho e modo como as coisas são produzidas passam por transformações e essas mudanças tem consequências sobre o tempo em que não estamos trabalhando, denominado aqui de tempo livre. Você já percebeu como esperamos ansiosamente por um feriado prolongado ou mesmo pelas sonhadas férias de final de ano? Notou como muitas vezes nos sentimos divididos como na imagem a seguir, entre a produção material de nossa vida, no trabalho e a possibilidade de fruição de outras atividades mais prazerosas? Por que isso acontece? Por que nos sentimos tão divididos e temos sentimentos tão distintos nesses diferentes momentos de nossa existência? Figura 1 Fonte: iStock/Getty Images 8 9 Questões como essas acima simbolizam algumas das discussões que farão parte da nossa primeira parada. Nesta Unidade, almejamos compreender o porquê de o trabalho constituir a essência dos seres humanos, sendo o propulsor de nossa evolução e nos diferenciando dos outros seres vivos. Além disso, passaremos ainda pelo caminho de compreender como o trabalho se desenvolveu, o que ele representa e como ele se apresenta na sociedade contemporânea. E aí, vocês estão prontos para essa viagem? Podemos iniciar esse caminho de desafios e aprendizado? Então, vamos lá! Figura 2 Fonte: iStock/Getty Images O Trabalho como Essência Humana Vivemos numa sociedade onde o trabalho ainda ocupa um lugar de muito destaque. Parece não existir muitas dúvidas sobre essa afirmação. Para comprová- la, basta olharmos como sofre um pai de família que se encontre numa situação de desemprego. Outro dado importante é a quantidade de pessoas que mesmo depois de uma certa idade voltam a frequentar uma faculdade, ou um curso técnico com o objetivo de ingressar, ou melhor se posicionar no mercado de trabalho. No entanto, você alguma vez se perguntou o que é o trabalho? Já teve a curio- sidade de olhar no dicionário seu significado? Essas perguntas, a priori, parecem estranhas e desnecessárias, não é mesmo? Afinal, o trabalho já faz parte de nosso cotidiano e a importância dele está internalizada em nosso senso comum. E, por- tanto, não são necessárias muitas conceituações ou reflexões a seu respeito. Temos uma concepção em que o trabalho é a forma de produzirmos nossa vida, ganhando dinheiro por nossas atividades, sustentamos nossas famílias com ele, certo? 9 UNIDADE Conceitos básicos sobre o trabalho e tempo livre Mas, se mesmo conhecendo a importância e o valor do trabalho, você insistisse em se fazer as perguntas acima, a que respostas chegaria? Para saber a resposta a essa questão, é necessário compreendermos melhor as conceituações que foram desenvolvidas sobre o trabalho ao longo da nossa história! Segundo os autores Netto e Braz (2009), o trabalho originalmente é o ato pelo qual os indivíduos transformam as matérias naturais em produto que atendam às suas necessidades. Importante! Perceba que, nesse primeiro momento, compreenderemos o trabalho em uma perspec- tiva mais abstrata, para então entendermos as transformações e características das for- mações sociais que passamos e a atual fase de desenvolvimento capitalista. Importante! Mas se pararmos para pensar nesse conceito mais geral, podemos lembrar que os animais também transformam a natureza para atender as suas necessidades. Sendo assim, chegaríamos à conclusão de que eles também trabalham. Estaria correta essa analogia? A resposta para essa pergunta é “não”. A transformação que outros seres vivos realizam na natureza não pode ser considerada trabalho, pois o fazem apenas respondendo a determinações genéticas e necessidades biológicas. São atividades instintivas, não são intencionais ou idealmente planejadas. Entretanto, por meio da observação acima, podemos concluir que apropriar-se da natureza e transformá-la não são exclusividades dos seres humanos e também não é um elemento capaz de nos diferenciar dos demais seres vivos. Mas, então, o quê distingue os homens dos animais nesse aspecto de intervenção sobre a natureza? Existem quatro características que fazem essa diferenciação. 1. O trabalho não ocorre de maneira direta sobre a matéria natural – Diferente dos animais, o homem precisa de instrumentos para auxiliá-lo na tarefa de transformar a natureza. E esses instrumentos se aprimoram à medida que o homem se desenvolve. De que forma isso acontece? Vejamos um pouco melhor...! Ao agir sobre a natureza, o homem encontra uma resistência que, às vezes, faz com que ele altere seu planejamento inicial e busque aprimorar suas ferramentas paraobter melhores resultados. Em outras palavras, o intercâmbio entre homem e natureza, produz um conhecimento acumulado e que será utilizado para o atendimento de novas necessidades ou de necessidades antigas de maneira mais eficaz. 10 11 Figura 3 Fonte: iStock/Getty Images 2. O trabalho não se realiza cumprindo determinações genéticas – O trabalho exige que o homem tenha habilidades e conhecimentos que vão sendo adquiridos por repetição e experimentação. E, o que é mais importante, esses conhecimentos serão posteriormente transmitidos a seus semelhantes e gerações futuras por meio do aprendizado e do uso da comunicação/linguagem. Figura 4 Fonte: iStock/Getty Images O grande cientista Isaac Newton tem uma celebre frase na qual diz “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes”. Newton se referia a outros grandes cientistas (Galileu Galilei e Johannes Kepler) anteriores a ele e ao conhecimento que deixaram e que o possibilitou fazer grandes descobertas. Ou seja, não precisamos reinventar a roda, não é mesmo? O processo de socialização de conhecimentos faz com que não iniciemos algo do zero. Já existem conhecimentos prévios construídos pela humanidade a serem transmitidos, bem como instrumentos cada vez mais desenvolvidos para serem utilizados. Ex pl or 11 UNIDADE Conceitos básicos sobre o trabalho e tempo livre 3. O trabalho não está preso a uma lista limitada e invariável de necessidades – Conforme o homem supre suas necessidades iniciais, outras vão surgindo. Mesmo as necessidades biológicas básicas que devem ser sempre atendidas (alimentação, reprodução, repouso etc.), acabam variando quanto à forma que são efetivadas. A título de exemplo, basta olharmos para a maneira como boa parte da cultura ocidental atual senta à mesa para se alimentar e perceberemos que ela é muito distinta da forma como faziam os homens na Idade Média. Esta característica de uma permanente construção e reconstrução de necessidades demonstra que o trabalho é uma “via de mão dupla”? Ou seja, a medida que o homem transforma a natureza, transforma também sua própria natureza! Ex pl or 4. O trabalho é sempre uma atividade coletiva – Esse atributo do trabalho é denominado de social. E representa o fator preponderante para o desenvolvimento humano e das formas de sociedade. Isso, porque, foi graças ao trabalho que a capacidade gregária do homem foi estimulada, dando início aos primeiros grupos humanos, o que representou um importante salto ontológico no desenvolvimento humano. Portanto, o trabalho faz surgir um novo tipo de ser, diferente do ser natural (orgânico ou inorgânico): o ser social. Figura 5 Fonte: iStock/Getty Images E o que é esse ser social? Ele corresponde a cada um de nós indivíduos que convivemos em sociedades, nas quais estabelecemos relações sociais com outros sujeitos, biologicamente iguais, mas distintos em sua história, hábitos e costumes. 12 13 Importante! Este ser social se diferencia dos demais seres pela sua capacidade de realizar atividades teleologicamente orientadas; objetivar-se material e idealmente; comunicar-se e expressar-se pela linguagem articulada; tratar suas atividades e a si mesmo de modo refl exivo, consciente e autoconsciente; escolher entre alternativas concretas; universalizar-se e socializar-se. Importante! Pelo que vimos até agora, percebemos porque o trabalho é considerado como inerente à “essência humana”, sendo o diferenciador entre os homens e os demais animais, carregando em si todo o potencial de evolução e emancipação da espécie humana e, ao mesmo tempo, a forma de exteriorização da individualidade dos seres. É importante lembrar, no entanto, que por enquanto estamos nos referindo ao trabalho em sua gênese e de forma genérica. Nesse sentido, é importante conhecermos melhor como se organizava esse trabalho a que nos referimos. Organização do Processo de Trabalho Pelo que abordamos na seção anterior, foi possível compreender que o trabalho representa a essência humana, que é o elemento de distinção entre os seres humanos e os animais e que é um aspecto fundamental para o desenvolvimento humano. Mas, você pode estar com a sensação de que essa compreensão do trabalho ainda está abstrata? Calma... Vamos desenvolver melhor o assunto! Segundo Marx, trabalho é toda alteração intencional do homem sobre a natureza e se desenvolve em três momentos fundamentais: Projeto; Execução e Produto. Figura 6 Fonte: iStock/Getty Images 13 UNIDADE Conceitos básicos sobre o trabalho e tempo livre 1. Projeto – Neste momento é que se encontra a intencionalidade do trabalho. O projeto é a forma de teleologia (pensar previamente) do trabalho. Significa que antes de fazer concretamente, já se sabe o que fazer, como fazer, o que é necessário para fazer etc. Ou seja, é antecipar idealmente (na ideia) o que será realizado. Netto e Braz (2009) denominam esse processo de atividade teleologicamente orientada, sendo uma das exigências colocadas pelo trabalho para a constituição do ser social. Aqui cabe destacar que o projeto pode ser mais ou menos elaborado de acordo com as condições concretas de apropriação a que o indivíduo está submetido, de sua origem, de suas apropriações, dos processos de socialização etc. Em outras palavras, a qualidade do projeto está diretamente ligada aos conhecimentos e às experiências de quem o projeta. Importante! Você lembra a segunda característica que vimos no tópico anterior, sobre o processo de socialização dos conhecimentos? Quanto maior for a apropriação que o indivíduo possui, mais elaborado será o seu projeto. As relações sociais, portanto, são importantes para determinar as condições concretas para essa elaboração. Em nossa sociedade atual, o problema se encontra no fato de os produtos humanos – materiais e imateriais – não estarem disponíveis a todos os indivíduos. Importante! Embora a realização do projeto seja importante para a efetivação do trabalho, ela não significa sua realização. Portanto, uma vez elaborado o projeto, temos que passar para a execução. Figura 7 Fonte: iStock/Getty Images 2. Execução – Essa fase representa o momento em que se coloca em prática o que foi projetado. É o momento em que ocorre a transformação da na- tureza e, ao mesmo tempo o sujeito acaba também sendo transformado. É muito comum que a execução não aconteça exatamente como foi projeta- 14 15 da, pois a natureza impõe uma resistência à sua ação, mas que enriquece o sujeito para um novo projeto, com novas habilidades. Então, nessa etapa do processo de trabalho, sofrem mudanças a natureza e o homem. O trabalho, portanto, implica um movimento em dois planos. O primeiro no plano subjetivo, já que o projeto se dá nessa dimensão. O planejamento, ainda que envolva equipes, é um momento de abstração e de levantamento de ideias e possibilidades. Já o segundo plano é objetivo, a execução propriamente dita, que consiste na alteração material da natureza. Dessa forma, podemos afirmar que a realização do trabalho constitui uma objetivação do sujeito que o realiza. Podemos dizer que é o momento em que o trabalhador se apresenta ao mundo por meio do produto de sua educação. Ao mesmo tempo, é possível afirma que há uma subjetivação da realidade objetiva no trabalhador (sujeito), representando os conhecimentos internalizados a partir desse intercâmbio com a natureza. Como assim, uma objetivação do sujeito e uma subjetivação da realidade? Lembram que fala- mos que o processo de trabalho é uma “via de mão dupla”? Essa afi rmação signifi ca dizer que ao fi nalizar o processo de trabalho, o sujeito se identifi ca com o produto do seu trabalho, ou seja, se objetiva! Ele se enxerga e se percebe naquele objeto. Do mesmo modo, o produto refl ete também toda a subjetivação do sujeito, ou seja, suas relações, seus contextos e sua realidade. Ex pl or Figura 8 Fonte: iStock/Getty Images 3. Produto – Agora temos a concretização do projeto. O produto representaa fase fi nal do processo de trabalho, que é exatamente a natureza já trans- formada e a confi guração de um novo momento na realidade. Ou seja, a realidade já está diferente do que era. 15 UNIDADE Conceitos básicos sobre o trabalho e tempo livre Essa nova realidade (depois do trabalho realizado) expressa ao mesmo tempo o su- jeito que trabalhou nela (e se objetivou) e a concretização da humanidade na realidade (já que o projeto representa o desenvolvimento humano que o sujeito se apropriou). Projeto Pre�guração Prévia Ideação Execução Ação material do sujeito Produto Figura 9 A partir dessa sequência lógica, podemos visualizar o processo de trabalho e compreendê-lo como uma atividade adequada a um fim, ou seja, possuirá um valor de uso, uma utilidade. Pertencente exclusivamente aos homens, que submetem a natureza às suas necessidades. Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colmeias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho, obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador e, portanto, idealmente (MARX, 1983, p. 149). Ao ler esta citação, devemos ter o cuidado de não compreender o trabalho de uma maneira simplista, como sendo apenas a exteriorização de uma vontade a priori. Devemos considerar aqui o que consta nas três etapas do processo de tra- balho: as relações de produção, a atividade orientada, os meios de produção, os objetos de trabalho e o produto final. Os meios de produção são a união (soma) dos meios de trabalho e os objetos do trabalho. Os meios de trabalho correspondem a tudo aquilo que o homem utiliza para trabalhar (ferramentas, instalações, terra etc.), enquanto os objetos do trabalho dizem respeito a tudo o que incide trabalho humano. Ex pl or Não se trata, portanto, de privilegiar a razão sobre o objeto, mas sim de valorizar uma relação dialética entre eles, na qual a práxis (a prática refletida) é o conhecimento e simultaneamente instrumento de conhecimento. Não existe conhecimento à margem da atividade prática do homem. “Conhecer é conhecer objetos que se 16 17 integram na relação entre o homem e o mundo, ou entre o homem e a natureza, relação que se estabelece graças à atividade prática humana” (VÁZQUEZ, 1990: 153). Em síntese, é na prática que se comprova a verdade do pensamento, pois não existe uma verdade em si, circunscrita ao campo do pensamento. Para a realização do trabalho, temos dois tipos de objetos de trabalho: 1) os objetos pré-existentes, ou matérias brutas e 2) os objetos chamados de matéria prima. A diferença entre eles é somente se houve ou não intervenção humana. Se é ou não resultado de trabalho. Objeto pré-existente: como o nome já diz, existe previamente. Não é fruto de nenhuma intervenção humana. Está em sua condição in natura. Por exemplo, o peixe que não foi pescado, a árvore que não foi cortada, o fruto que não foi colhido. Matéria prima: objeto de trabalho que já passou por uma intervenção anterior. Por exemplo, a madeira que já foi cortada, o látex extraído para confecção da borracha etc. Ex pl or Ficaram claras quais as diferenças entre os objetos de produção? Para diferenciá- los é simples, basta você observar se foi resultado de trabalho ou não. No processo de trabalho, temos também os meios de trabalho, que Vazquez (1990) afirma que: [...] o meio de trabalho é uma coisa ou um complexo de coisas que o trabalhador coloca entre si mesmo e o objeto de trabalho e que lhe serve como condutor de sua atividade sobre esse objeto. Ele utiliza propriedades as mecânicas, física, químicas das coisas para fazê-las atuar como meios de poder sobre as outras coisas conforme seu objetivo. (p. 150). Importante! Até esse momento, observamos que para a concretização do trabalho se realiza uma transformação na natureza que pretendíamos (projeto) desde o início. Quando o processo termina, temos aquilo que havia sido idealizado: o produto – que é a natureza trabalhada e adaptada às necessidades humanas. Durante o processo, temos os meios de trabalho como meios de produção, o trabalho (a atividade) como trabalho produtivo (de valores de uso, por enquanto). Demonstramos, também, que uma das implicações do trabalho é o próprio sujeito no tra- balho. Como assim? Bem, percebemos que o pensar é movimentado pelo fazer e a ob- jetivação do sujeito concretiza a consciência, mas ao mesmo tempo, a natureza se torna particular no sujeito que trabalha. (Mais uma vez, vale lembrar da “via de mão dupla”). Em Síntese 17 UNIDADE Conceitos básicos sobre o trabalho e tempo livre Embora o trabalho represente tudo o que vimos até aqui, só conseguimos compreender toda a sua potencialidade se o considerarmos independentemente de qualquer forma social determinada historicamente. Vamos nos aprofundar então na compreensão mais contextualizada do trabalho na sociedade capitalista? Assim, aproximamos de nossa realidade toda a compreensão que tivemos até agora. A Produção de Mercadorias Até agora vimos que o sujeito se objetiva no trabalho, ou seja, se realiza, se expressa livremente, demonstra sua subjetividade, se humaniza nesse processo. Tais características justificam nossa afirmação de que o trabalho representa a essência humana. Entretanto, será que o trabalho é sempre um instrumento de desenvolvimento humano, independente do momento histórico em que se desenvolve e das transformações por que passa? O trabalho mantém essas características no momento mais contemporâneo? Para responder a essas questões, vejamos o que é o trabalho na sociedade capitalista atual. O capitalismo pode ser caracterizado como a “sociedade das mercadorias”. De acordo com o processo histórico de desenvolvimento desse modo de produção, o trabalho humano é, fundamentalmente, produtor de mercadorias, assim como seu próprio trabalho transforma-se em uma mercadoria, denominada força de trabalho. Figura 10 Fonte: iStock/Getty Images A partir dessa transformação, o trabalho, antes espaço e tempo de desenvolvi- mento das potencialidades do ser humano e de constituição de sua identidade, pas- sa a ser o oposto disso. O trabalho passa a ser um momento mais representativo de “desrealização humana” do que expressão de liberdade, pois ele é tão-somente uma mercadoria: a mercadoria força de trabalho – elemento central para o proces- so de valorização do capital. 18 19 Para melhor compreendermos esse processo no qual o próprio trabalho acaba se tornando em uma mercadoria, chamado “mercantilização do trabalho”, é necessário antes entendermos o que é a mercadoria e quais as relações que traz embutida em sua forma. Atualmente, somos inundados por um universo de propagandas que nos impulsionam a um consumo cada vez maior dentro de um universo amplo e diversificado. Diante desse cenário, você alguma vez já parou para pensar: Mas, afinal, o que é mercadoria? A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. A natureza dessas necessidades, se elas se originam do estômago ou da fantasia, não altera nada a coisa. (MARX, 1983, p. 45). Considerando a citação acima, podermos desenvolver a seguinte refl exão: Se toda merca- doria atende a uma necessidade humana, é porque ela possui uma utilidade, certo? Pode- ríamos, então, dizer que elas possuem valor de uso. Sendo assim, temos aqui uma relação qualitativa entre o sujeito e a “coisa”. No entanto, será que todos os produtos do trabalho humano que tem valor de uso são mercadorias? A resposta a essa pergunta é não. Nem todo produto é mercadoria! Nem tudo que possui valor de uso é mercadoria! Passa a ser considerada uma mercadoria aquele produto com valorde uso que pode ser reproduzido ou replicado em larga escala. Quer um exemplo? Todos nós conhecemos ou já ouvimos falar da obra de arte Mona Lisa de Leonardo Da Vinci. A pintura original, embora possa receber um valor fi nanceiro, não é uma mercadoria, mas sim uma obra de arte e um patrimônio cultural da humanidade. No entanto, as inúmeras cópias do quadro – independentemente de sua qualidade - que são comercializadas mundo a fora são mercadorias. Agora fi cou mais fácil de compreender, não é mesmo? Ex pl or O que a reflexão acima coloca em destaque é que para o produto do trabalho humano tornar-se mercadoria, há a necessidade de que o objeto tenha, para além do valor de uso, um valor de troca. O valor de troca é a capacidade que o objeto tem de ser trocado. Em um primeiro momento, no qual ainda não existia uma unidade de equivalência universal, essa troca se realiza por outros produtos. Essa condição demonstra que dentro do modo de produção da sociedade capitalista, o resultado da produção necessita, para sua realização completa, também ser “consumido” no momento da circulação. Obviamente, você já deve ter percebido que para efetuar a troca entre produtos, há a necessidade de que os objetos a serem trocados tenham alguma utilidade para as pessoas envolvidas nessa relação. Assim, o valor de troca manifesta-se no momento em que os homens estão realizando uma relação de troca de coisas. Diferentemente do valor de uso, o valor de troca revela uma mediação entre homens possuidores de objetos que serão trocados. Essas trocas se originam da produção excedente ao consumo próprio ou familiar. 19 UNIDADE Conceitos básicos sobre o trabalho e tempo livre Mas, como assim o excedente? Faz sentido eu produzir algo que não vou utilizar ou que não tenho necessidade? O que o homem produz para consumo próprio é baseado na sua utilidade, ou seja, possui valor de uso. Todavia, por vezes, há sobras dessa produção, essa parte que excede não tem mais utilidade para seu produtor. Acontece que esse excedente pode vir a ter serventia para outra pessoa e, nesse caso, teria também valor de troca. Então, podemos dizer que a mercadoria possui, obrigatoriamente, valor de uso e valor de troca. Para realizar a troca, é necessário equiparar os diferentes produtos. Essa não é uma tarefa simples quando pensamos em produtos muito distintos. Como as pessoas daquela época faziam para definir o valor de cada um deles? Uma saída para essa questão é buscar em cada um dos produtos negociados o que eles possuem em comum. E o que eles têm em comum? O que todos os produtos possuem é que eles têm embutido em si o trabalho humano. Mesmo produtos agropecuários precisam do trabalho humano para se desenvolver e ser cultivado. Portanto, no início do sistema capitalista de trocas, a equiparação dos pro- dutos para a troca é feita com base no tempo de trabalho abstrato, necessário para produzir aquele objeto que se pretende trocar. É essa quantidade de tempo de trabalho que dá valor às coisas. O trabalho humano é, então, o fator que gera valor às coisas! Ao dizer apenas que é o tempo de trabalho que atribui valor aos objetos, poderíamos induzir as pessoas a um pensamento equivocado. Vejamos! Se o tempo necessário para produzir algo é o que lhe confere valor, poderia imaginar que um trabalhador ao demorar mais para produzir algo de forma propositada seria beneficiado com um valor maior de seu produto, ao passo que outro trabalhador que se dedicou e conseguiu produzir a mesma coisa em menor tempo seria punido. Isso seria verdade se a medida do tempo do trabalho fosse individual e não social. Isso porque, o valor de uma mercadoria se dá pelo cálculo da quantidade de trabalho socialmente necessário para se produzir determinada mercadoria. Ex pl or Com o passar do tempo, observaremos uma redução do trabalho artesanal e a intensificação da atividade comercial. Dentro desse processo histórico, os produtores individuais se vinculam às manufaturas e passam a produzir em escala industrial. Esse é, sinteticamente, o processo de industrialização. Como consequência dessa transformação do modo de produção, os trabalhadores vão se afastando daquelas etapas do processo de trabalho apresentadas na seção anterior. Ao invés de orientar sua produção pelo valor de uso da mercadoria, trocam sua força de trabalho por uma remuneração salarial. E é, por isso, que sua força de trabalho passa a ser considerada também uma mercadoria. 20 21 O Trabalho Alienado Quando escutamos a palavra alienado, normalmente pensamos em alguém que está desconectado da realidade – ou até mesmo numa condição de insani- dade mental. Entretanto, o termo alienado também significa separado. Esse é o sentido que gostaríamos de enfatizar nesse momento, ao destacar o distancia- mento do trabalhador das etapas do processo de trabalho – conforme antecipa- mos na seção anterior. A seguir uma charge de Thaves, Jornal do Brasil, 19 de Fevereiro de 1997: https://goo.gl/vrvRDZ Ex pl or A primeira separação pode ser vista no momento em que o homem começa a produzir para outro e o produto de seu trabalho deixa de lhe pertencer. Aqui temos o primeiro momento de negação do homem no trabalho. A separação do trabalhador de seu produto. Como assim? Vamos explicar melhor! Vamos usar como exemplo um artesão que confecciona cadeiras. No início, ele mesmo ia até a floresta em busca da madeira, com suas próprias ferramentas, produzia a cadeira de acordo com seu planejamento e depois decidia qual seria seu fim. Portanto, nesse exemplo, ele detém todo o conhecimento técnico para a produção da cadeira do início ao final do processo. E o produto final – a cadeira pronta – é representativo de sua subjetividade e criatividade, de acordo com o que debatemos na parte inicial desta Unidade. Contudo, a partir do momento em que ele foi inserido dentro de uma fábrica, o cenário se altera bastante. Os meios de produção (matéria-prima e ferramentas) não lhe pertencem mais, nem tampouco o produto final de seu trabalho. A cadeira pertence agora a seu empregador, que lhe pagou um salário para adquirir sua força de trabalho. Percebeu que neste exemplo a força de trabalho do artesão/trabalhador passou a ser também uma mercadoria? É dessa forma que o trabalhador passa a se apresentar ao capitalista (dono da fábrica) e, então, é desenvolvida uma nova relação. Nessa nova relação, então, o capitalista fornece a matéria-prima e os instrumentos de produção ao trabalhador, compra sua força de trabalho e o resultado final, o produto, pertence a ele. Lembra-se das características da mercadoria, de ter valor de uso e valor de troca? Na nova relação descrita acima, ao trabalhador interessa o valor de troca, enquanto ao empregador interessa o valor de uso, a utilidade, que para ele será a de valorizar cada vez mais o seu capital. 21 UNIDADE Conceitos básicos sobre o trabalho e tempo livre Ao vender a sua força de trabalho, afirmamos que o trabalhador subordina-se ao capital. O resultado do seu trabalho não é seu, o destino do produto passa a ser decidido por quem pagou seu salário e é o dono da empresa. O trabalhador, então, deixa de ser sujeito do processo de produção, passando a submeter-se a quem possui os meios de produção e o objeto produzido. Todo esse processo efetuado pelo capitalista tem um objetivo, uma finalidade: fazer com que o seu capital aplicado aumente, ou seja, objetiva a valorização de seu capital. Já que o objetivo do capitalista é a valorização do seu capital, você já se perguntou como esta valorização ocorre? Durante o desenvolvimento do processo de industrialização, pudemos verificar a divisão do tempo de produção em dois momentos: tempo de trabalho necessário à produção do objeto e o tempo de trabalho excedente. O tempo de trabalho necessário, como o nome já diz, é o tempo em que o trabalhador necessita para produzir o objeto. Ele será pago em função desse tempo (após a comercialização do objeto que produziu).No entanto, após confeccionar a quantidade de cadeiras necessárias para pagar o seu salário, o trabalhador não está liberado para ir embora, pois ele deve cumprir com sua jornada de trabalho. Lembra-se que o objetivo do dono da fábrica é conquistar a valorização do seu capital aplicado! Pois então...é aí que está a importância do tempo de trabalho excedente. É nesse tempo que o trabalhador continuara a produzir e que, portanto, o empregador irá valorizar/aumentar seu capital, extraindo seu lucro sobre o trabalhador. A isso chamamos de mais-valia. Esse primeiro momento de industrialização, ainda guarda muitos resquícios do modo de produção artesanal. Sendo assim, ainda é comum encontrarmos uma situação na qual o trabalhador desenvolve todas as etapas de produção do objeto. Nesse caso, o trabalhador ainda tem um forte controle sobre seu ritmo de produção e, por conseguinte, a sua produtividade permanece inalterada, ou seja, ele ainda determina o tempo que vai demorar em produzir o objeto. Entretanto, na cabeça do dono da fábrica, está a intenção de valorizar seu capital, ganhar mais dinheiro a partir da venda dos objetos. Como ele poderia realizar esse seu desejo? Uma das formas seria aumentando o tempo de trabalho excedente dos seus empregados. Concorda? Figura 11 Fonte: iStock/Getty Images 22 23 Diante dessa primeira alternativa, o que acontece é o aumento/extensão da jornada de trabalho desse trabalhador. No começo do processo de industrialização, vão ser comuns jornadas de trabalho diárias acima de 12 horas. A esse processo de valorização pelo aumento da jornada de trabalho deu-se o nome de mais-valia absoluta. Quanto mais horas trabalhadas, maior a valorização do capital. Importante! Retomando o exemplo do artesão que faz cadeiras. Suponhamos que ele demore 2 ho- ras para confeccionar 1 cadeira e que a venda dela é sufi ciente para pagar seu dia de trabalho. Ele vai embora da fábrica ao fi nalizá-la? Sabemos que não. Supondo que ele trabalhe 8 horas por dia, ele fez ao todo 4 cadeiras no dia, certo? Uma para pagar seu dia de trabalho e as outras 3 seriam para aumentar o capital investido, do capitalista. No entanto, o empregador percebe que ao fi nal de 8 horas o trabalhador, embora cansado, ainda tem condições físicas para produzir mais cadeiras, o que aumentaria seu lucro. Dessa forma, decide estender a jornada de trabalho para conseguir que sejam produzi- das mais cadeiras por dia, sem um aumento salarial proporcional a essa ampliação das horas trabalhadas. Importante! Obviamente que esse processo de extensão da jornada de trabalho gerou alguns empecilhos ao capitalista. De um lado, os trabalhadores tinham limitações fisiológicas, precisavam do tempo de repouso de suas forças físicas para continuar produzindo, o que impedia que sua jornada fosse sendo estendida cada vez mais. De outro lado, surgiram algumas organizações dos trabalhadores para contrapor a essa exploração exacerbada, constituindo os movimentos operários que lutavam pela redução da jornada de trabalho. O dono da fábrica depara-se, então, com a impossibilidade de estender a jornada de trabalho até a carga horária que ele desejava. Diante desse obstáculo, ele procura outras formas para ampliar a extração da mais-valia, desenvolvendo formas para alterar o processo produtivo, diminuindo o tempo necessário para a produção do seu objeto. Mas, de que forma ele faz isso? Para aumentar a produtividade, dividiu-se o processo através da gerência cien- tífica e da divisão pormenorizada do trabalho. Ou seja, divide-se o processo produtivo entre os trabalhadores. Estes deixam de fazer todo o processo e passam a fazer somente uma parte. Voltando ao nosso exemplo, o trabalhador deixa de fazer toda a cadeira e passa a fazer somente as pernas, enquanto outro faz o as- sento e outro somente parafusa as partes. Nesse processo, uma cadeira fica pronta bem antes das 2 horas necessárias para sua fabricação por apenas um trabalhador. Como consequência, o empregador consegue o aumento da produção (maior pro- dutividade), sem aumentar a jornada de trabalho. Tem-se, aqui, uma nova forma de exploração do trabalho baseada no aumento da intensidade: a mais-valia relativa. 23 UNIDADE Conceitos básicos sobre o trabalho e tempo livre Precisamos compreender que a “gerência científica e a divisão pormenorizada do trabal- ho” se deram em um processo em que o capitalista, que não compreendia o processo de produção, designa alguns trabalhadores para essa tarefa de dividir o processo produtivo. Com essa divisão, enfraqueceu-se as organizações dos trabalhadores, pois estes passam a ser desvalorizados. Não são necessários trabalhadores que conheçam o ofício de ser artesão, que conheça todo o processo de confecção de uma cadeira, por exemplo, mas o trabalhador que consiga lixar a madeira em um formato já estabelecido, que será parafu- sada junto ao assento. Ex pl or Esse processo de divisão da produção e de pormenorização do trabalho, descrito acima, propiciou o surgimento de máquinas que substituíam o homem e que facilitavam o processo produtivo. O homem, muitas vezes, passou a ser um apêndice da máquina. O trabalho morto sugando o trabalho vivo. Essa condição é brilhantemente retrata no filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin. Figura 12 Fonte: iStock/Getty Images Logo no início dessa seção, destacamos que a palavra alienado significa separado. O homem já havia sido separado do produto final do seu trabalho, perdendo sua condição de sujeito, passa agora também a ser separado do processo de trabalho, visto que não mais produz cadeiras, mas apenas opera uma máquina que corta a madeira no formato dos pés destas. Nesse processo de alienação do trabalhador, este deixa de ser sujeito no processo de produção, estando separado, portanto, de todas as fases do trabalho – primeiro do produto, depois da execução e do planejamento. A essa condição chamamos de subsunção real do trabalho ao capital. Compreenderemos mais à frente essa expressão. Por enquanto, é importante que você tenha compreendido o conceito de trabalho e seu processo de alienação. 24 25 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros A Era das Revoluções (1789–1848) HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções (1789–1848). 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009. Filmes 2001: uma odisseia no espaço Estados Unidos/Inglaterra. 1968. Direção: Stanley Kubrick. Duração: 139 min. A guerra do fogo Alemanha/Canadá. 1981. Direção: Jean-Jaques Annaud. Duração: 97min. Germinal França/Itália/Bélgica. 1993. Direção: Claude Berri. Duração: 158 min. Tempos modernos Estados Unidos. 1936. Direção: Charles Chaplin. Duração: 87 min. 25 UNIDADE Conceitos básicos sobre o trabalho e tempo livre Referências NETTO, J. P. & BRAZ, M. Economia Política: uma introdução crítica. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2009. MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os economistas). VAZQUEZ, A. S. Filosofia da Práxis. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. 26
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