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Geogra�a Regional do Brasil Aula 7: Migrações, con�itos e indústria da seca Apresentação Historicamente, a Região Nordestina é o maior vetor de emigração do território nacional, e não é somente a seca que assola o seu povo e impulsiona a migração. Mesmo dentro de localidades mais úmidas e com condições favoráveis a outras formas de atividades econômicas, o nordestino se depara com a desigualdade e a alta concentração de terras, que é uma constante na formação socioespacial do Brasil. A região também tem se destacado no cenário nacional pelo grande número de ocorrências agrárias, como con�itos fundiários e a disputa pela posse de água, pois se trata da única região que conta com um grande semiárido. Objetivos Esclarecer a questão dos con�itos fundiários na região; Analisar a construção conceitual da indústria da seca; Discutir a região como zona de expulsão de mão de obra. A questão agrária e os con�itos As práticas de controle da terra pela iniciativa privada e pelo poder público vêm ocorrendo desde o Brasil Colônia e se intensi�cou após a Lei de Terras, de 1850. Porém, o camponês sempre almejou a posse da terra na qual trabalha; por isso, as propostas de reforma agrária foram se tornando uma realidade ao longo do tempo. As décadas de 1940 e 1950 marcaram o início de uma luta no campo brasileiro de forma mais organizada, com o apoio do Partido Comunista do Brasil (PCB), após a ditadura de Getúlio Vargas. Na região Nordeste, essas organizações �caram conhecidas como "Ligas Camponesas" e iniciaram suas atividades ainda em 1945. Contudo, enquanto movimento efetivo, surgiram no Engenho Galileia, em Vitória de Santo Antão, em 1º de janeiro de 1955. Essas ligas reuniram camponeses (parceiros, arrendatários ou pequenos proprietários) na luta contra a estrutura latifundiária secular no país. Essas pessoas se encontravam na esteira da insatisfação dos processos de modernização e industrialização propostos pelo governo de Juscelino Kubitschek, que gerou muito desemprego e redução dos salários nas cidades. As ações começaram na região Nordeste e, posteriormente, assumiram grandes proporções, reunindo operários e camponeses nas cidades e desagradando aos grandes proprietários com essa luta pela reforma agrária. Dessa forma, a repressão policial foi grande. (Fonte: Weera Sreesam: Shutterstock) “Nascidas muitas vezes como sociedade bene�cente dos defuntos, as Ligas foram organizando, principalmente no Nordeste brasileiro, a luta dos camponeses foreiros, moradores, rendeiros, pequenos proprietários e trabalhadores assalariados rurais da Zona da Mata, contra o latifúndio” (Oliveira, 2007, p. 104). Em 1962, o jornal A Liga foi criado com o objetivo de divulgar o movimento das organizações, e, um ano depois, pela Lei nº 4.214, promulgada em 2 de março de 1963, foi aprovado pelo presidente João Goulart, um ardoroso defensor da Reforma Agrária, o Estatuto do Trabalhador Rural. O estatuto estendia os direitos trabalhistas do trabalhador urbano para o campo, bene�ciando milhares de famílias, e estimulou a transformação de muitas ligas em sindicatos rurais e a expansão do movimento, que ainda era concentrado em Pernambuco e na Paraíba, principalmente. Leitura Trabalhador Rural Obtém Seu Estatuto No mesmo ano, o presidente João Goulart propôs as reformas de Base, um conjunto de reformas estruturais. Ele chegou ao poder depois que seu antecessor, Jânio Quadros, renunciou ao cargo. João Goulart era próximo de países socialistas e voltado para as reivindicações trabalhistas, o que desagradou às elites conservadoras do país. Essas reformas sustentavam a necessidade de mudanças nos âmbito �scal, urbano, bancário, agrário, universitário e administrativo. Para o presidente, era importante que os analfabetos e militares de baixas patentes, como marinheiros e sargentos, pudessem votar. Governo do Brasil (Fonte: Shutterstock). javascript:void(0); Antes do Golpe de 1964, chegou a ser organizada uma Federação das Ligas Camponesas de Pernambuco, que reunia mais de 40 organizações, com cerca de 40 mil �liados no estado. Porém, a verdade é que a entrada dos militares no poder e o segmento social mais conservador, preocupado com o avanço das reivindicações populares, desarticulou o movimento. A�nal, os grandes proprietários (os muito ricos) não estavam interessados em demandas de trabalhadores e queriam apenas concentrar o lucro, por isso apoiaram o golpe militar. No início da segunda metade do século passado, as ligas camponesas sacudiram a área rural, mas muitas lideranças foram assassinadas pelos comandados da classe latifundiária. A violência do golpe militar de 1964 sufocou muitos movimentos e anseios por glebas agricultáveis. Dentro do contexto legal, o Estatuto do Trabalhador Rural foi assinado efetivamente pelo Marechal Castelo Branco, em 1964, o primeiro presidente do regime militar, mas seu próprio ministro do Planejamento garantiu aos congressistas do lobby latifundiário que a lei, embora aprovada, não seria praticada. Caberia ao Estado Conservador, apoiado por latifundiários, promover a reforma agrária? O primeiro grande ato foi perseguir as lideranças camponesas e extinguir a Superintendência da Política Agrária. Assim, a chamada “contrarreforma agrária do Estado autoritário” nascia da estratégia geopolítica da ocupação/exploração da Amazônia, pois passaram a ser chamados de “reforma agrária” os projetos de colonização implantados na Transamazônica pelo INCRA (IANNI, 1979). (Fonte: Gustavo Frazão/Shutterstock) A Constituição Federal de 1988 abriu caminho para as ações de reforma agrária, ou seja, assegurou o suporte legislativo necessário para esse importante processo social. De acordo com Oliveira (2007), Fernando Collor de Melo, primeiro presidente eleito depois do regime militar de 1964, assumiu o governo da década de 1990 e, logo no início, no seu programa de governo, impôs-se uma meta tímida: assentar 500 mil famílias, ou seja, quase 35% da meta de José Sarney. Mesmo com a sua saída do poder, pelo processo de impeachment, o seu vice (Itamar Franco) não conseguiu dar cabo de um plano adequado para a reforma agrária. Fernando Collor (Fonte: Jornal Ggn) Fernando Henrique Cardoso. (Fonte: Abril) Em 1995, Fernando Henrique Cardoso assumiu a presidência com mais uma proposta tímida: assentar 280 mil famílias, quase a metade da proposta anterior (de Collor). É bom destacar que, segundo Pereira (2015), nesse período, havia alta visibilidade da violência no campo (contra trabalhadores rurais), um volume crescente de con�itos agrários e ocupações de terra e a gravitação de movimentos sociais. Tudo isso recolocou os temas da reforma agrária e da justiça social no campo na agenda política nacional. De acordo com Fernandes (2008), no governo Lula, ocorreu expressivo diálogo entre a União e os movimentos socioterritoriais. Além disso, inúmeros programas foram realizados para que a nova estrutura agrária pudesse ter sucesso, seja na área econômica, seja na social, seja na ambiental. Quer exemplos? O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) e a Lei de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) foram aplicados na prática. Por outro lado, é bom destacar que o governo Lula também apoiou bastante a ala ruralista e seu agrobusiness. O agronegócio avançou bastante, consumindo o cerrado e direcionando-se para a Amazônia, baseado na produção de comoditties (grãos e frutas), em grandes extensões de terra, com base na monocultura, utilizando técnicas predatórias de reprodução do capital, como queimadas e desmatamentos generalizados. Lula da Silva. (Fonte: Uol) Os números do governo Lula são expressivos. Foram 614.088 famílias assentadas, principalmente na Região Amazônica e, secundariamente, no Nordeste, sobretudo nos anos de 2005 e 2006, em 48,3 milhões de hectares (Fernandes, 2008). É bom destacar que os governos do PT desenvolveram uma política de combate à pobreza, mas não enfrentaram os problemasestruturais de concentração da propriedade e da renda. Estas foram super�cialmente tocadas, reduzidas à expansão do consumo, e não da ampliação da cidadania. Dilma Rousseff. (Fonte: Glbimg) O problema é que, após o impeachment de Dilma Rousseff, a situação pode piorar, com a militarização da sociedade e o uso da arma como forma de combater aqueles que lhe são contrários, sobretudo com o crescimento da chamada “bancada da bala” (CPT, 2019). Entre os anos 1950 e 1970, a maior parte dos con�itos eram no Nordeste, sempre associados às lutas das ligas camponesas. Hoje, a situação não é diferente. O que causa tanto con�ito na atualidade? A �exibilização de legislações ambientais e o ataque aos direitos territoriais de indígenas, quilombolas e camponeses como pauta legislativa atrela-se, como nunca, ao banditismo social de grandes latifundiários, que, blindados pela impunidade e com a cumplicidade da polícia e, por vezes, da milícia, estão cada vez mais autorizados a matar. Arruda (2012) informa que um relatório divulgado pelo Banco de Dados da Luta pela Terra (Dataluta) apresenta uma série histórica que cobre de 1988 a 2011 e levanta 8.536 ocupações de terra; dentre elas, quase 70% está localizada no território nordestino. Se pensarmos apenas em número de con�itos no campo, é possível perceber que, no ano de 2018, os dados aumentaram signi�cativamente. Em um levantamento feito pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), o ano de 2018 contou com 1.124 con�itos agrários em todo o país, mobilizando cerca de 118 mil famílias e uma área de 39.425.494 ha. A extensão de terras em con�ito vem aumentando exponencialmente desde 2015 (foram 8.1 milhões de hectares em 2014). Observe, no grá�co, que a Região Nordestina corresponde por 40% da ocorrência de con�itos agrários em 2018. Conflitos Agrários. (Fonte: Diário da Amazônia). Número de ocorrências agrárias no Brasil - 2018 Dentro da Região Nordestina, os estados que apresentam o maior número de ocorrências são Maranhão (199), Bahia (112) e Pernambuco (74), que representam aproximadamente 85% do total registrado. O infeliz posto de líder do ranking de ocorrências é o Maranhão, que está nessa posição há seis anos seguidos, superando os estados conhecidos nacionalmente por possuírem grandes áreas consideradas propícias para con�itos agrários, como Pará e Rondônia. No Maranhão, o maior número de con�itos está associado ao ataque a posseiros, quilombolas e indígenas. Na comunidade Auzilândia, no município de Alto Alegre do Pindaré, há o registro de 2 mil famílias (posseiros) em con�ito por terra. Na região que reúne os municípios de Amarante do Maranhão, Arame, Bom Jesus das Selvas, Buriticupu e Buritirana, as tribos indígenas Arariboia (etnias Guajajara, Gavião e Guajá) estão sendo sistematicamente atacadas. No município de Matinha, quase 1.200 famílias de quilombolas lutam para permanecer em suas terras. Estado do Maranhão (Fonte: Wikimedia). Por sua vez, os maiores problemas na Bahia dizem respeito a camponeses de fundo de pasto, sem-terra e quilombolas. As comunidades de fundo de pasto desenvolvem atividades como a criação livre de animais de pequeno porte, principalmente cabra e bode, e de gado – que se alimentam da própria vegetação nativa – como alternativa a uma agricultura em uma região marcada pela seca. São populações que fazem plantação para subsistência. No oeste da Bahia, onde se concentra a maior parte dos con�itos, o desenvolvimento deu-se a partir da década de 1980, por meio da aplicação de tecnologias para "vencer" o sertão. Hoje, é um dos maiores polos agrícolas do país, com destaque para a produção de milho, algodão e soja. Além do cultivo agrícola em grande escala, há também a presença da agricultura familiar, assim como agropecuária e indústria. Em Campo Alegre de Lourdes, oito comunidades de Angico dos Dias, todas de camponeses de fundo de pasto, sofreram com ocorrências agrárias. Nos municípios de Itaguaçu da Bahia e Xique-Xique, 760 famílias estão sofrendo em razão do Projeto de Irrigação Baixio do Irecê. No município de Nordestina, quase 500 famílias da Comunidade Quilombola Bom Sucesso têm sofrido em virtude das ações da Lipari Mineração. No �nal, a situação reproduz uma situação que vemos no Brasil inteiro. São grandes empresas que colocam em movimento um perigoso círculo vicioso formado por posseiros, grileiros, grandes fazendeiros e empresários. (Fonte: mst.org) A indústria da seca e o processo de deserti�cação O sertão nordestino apresenta-se semiárido em razão de um conjunto de fatores; porém, qual a área que é considerada seca, de acordo com o poder público? É o Polígono das Secas, um conceito de�nido pela Lei nº 175, de 7 de janeiro de 1936, que, posteriormente, teve complementado o seu traçado pelo Decreto-Lei nº 9.857, de 13 de setembro de 1946. Trata-se de uma área que está em permanente mudança e depende das prerrogativas propostas pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), mas é fato que os municípios que pertencem à região estão sujeitos a repetidas crises de prolongamento das estiagens e são, consequentemente, objeto de especiais providências do setor público. O Polígono, presente na �gura a seguir, incorpora grande parte do Nordeste e parte do norte de Minas Gerais, onde o clima é semiárido e possui vegetação de caatinga. Seu solo é raso, principalmente, e a taxa de evaporação das águas super�ciais é alta. Em A, é possível observar a área de abrangência da seca em diferentes períodos (1979, 1980 e 1984). A cada ano, a seca e seus efeitos podem atingir diferentes municípios. Em B, é possível identi�car os municípios de cada um dos estados presentes dentro do Polígono das Secas. (Fonte: CPTEC, INMET e IBGE 2015) Embora o clima seja semiárido, não podemos confundir essa atribuição natural com o conceito de seca. O motivo principal para as secas é, sem dúvida, político. Muitos autores utilizam a expressão Indústria da seca para se referir a essa questão, isso porque somente os fatores climáticos não são su�cientes para explicar a miséria em que vive a população. Atualmente, em regiões áridas dos Estados Unidos e, principalmente, Israel, soluções tecnológicas avançadas foram desenvolvidas para resolver problemas de disponibilidade de recursos hídricos. A população padece por causa dos períodos prolongados de estiagem, mas não se pode dizer que a pobreza encontrada ali é causada por esse fenômeno natural. O principal problema, como nos diz Ab’Sáber (2003), é que o semiárido nordestino é uma das regiões sob esta condição, que possui a maior densidade populacional. Além disso, a concentração de renda e a distribuição desigual de riquezas são o que realmente tornam essa região tão problemática e repulsora. De acordo com Ross (1996, p. 176-177), a pobreza da população do sertão nordestino “não é certamente uma consequência da ecologia”. Existe uma ideologia muito comum na região, que a�rma que a “indústria da seca” é mantida como um mote político que pode angariar votos em época de eleição. Ou seja, as obras feitas em nome da seca são benefícios políticos, e, ainda hoje, os parlamentares se utilizam delas. (Fonte: neenawat khenyothaa / Shutterstock) "Dessa forma, muito dinheiro foi destinado para a região, o su�ciente para implantar projetos avançados de irrigação e distribuição de água. Porém, boa parte da verba foi desviada, e a maior parte dos sistemas de irrigação foi destinada a grandes latifúndios (geralmente associados a grandes políticos da região) que priorizam a exportação." Assim, na opinião de muitos críticos, a indústria da seca funciona da seguinte forma: prometem-se melhorias para a população e oferecem-se ações de caridades (como cestas básicas) em troca de votos. Depois de eleitos, os políticos atuam para atender aos interesses dos grandes latifundiários, que geralmente �nanciam as suas campanhas. Por �m, exagera-se na mídia o problema da seca a �m de angariar mais recursos que raramentesão bem utilizados em prol da população local. Apesar disso, essa realidade vem lentamente mudando nos últimos anos. Portanto, para melhor resumir, podemos atribuir a questão da seca do Nordeste a três principais fatores: naturais (de ordem física e climática), históricos (heranças da colonização) e políticos (relacionados à indústria da seca). (Fonte: Brasil Escola). Nesse sentido, a transposição do Rio São Francisco pode ser uma estratégia importante para reduzir a importância dos atores da indústria da seca. É bom entender que levar àgua para o sertão não é somente uma questão de sobrevivência dessa população já tão sofrida; signi�ca a possibilidade de dar estabilidade hídrica à região, o que pode promover o processo de industrialização, onde pequenos estabelecimentos serão capazes de absorver a mão de obra local, que é, predominantemente, de baixa quali�cação pro�ssional. A àgua levaria, portanto, emprego e renda, reduzingo a dependência dessa população �agelada de recursos públicos. (Fonte: prileão / Shutterstock) Desde 2012, as obras do PAC têm proporcionado inúmeras mudanças para o complexo nordestino. No entanto, obras como a transposição do Rio São Francisco ainda causam discussões e polêmicas, uma vez que seus benefícios e suas desvantagens se encontram em contradição. Além da questão da seca, é importante mencionar o problema do avançado processo de deserti�cação no sertão, o fenômeno que é descrito como a degradação das terras nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultantes de fatores diversos, tais como as variações climáticas e as atividades humanas (Rio-92). Denota-se como forte a contribuição das intervenções humanas nesse processo que ocorre, principalmente, pela retirada da cobertura vegetal do solo e pelas práticas agropecuárias predatórias que induzem o uso inadequado do solo. A utilização excessiva de agroquímicos, as queimadas, a pecuária extensiva, a lavoura itinerante, o reduzido tempo de pousio entre as áreas cultivadas e as práticas inadequadas de irrigação, que provocam salinização dos solos, são fatores agravantes do processo de deserti�cação (CAETANO et al, 2017). Os núcleos mais proeminentes do fenômeno estão presentes nas proximidades das cidades de Irauçuba (CE), Gilbués (PI), Cabrobró (PE) e Seridó (RN), como é observado na �gura a seguir. Veri�que que as áreas com situação mais grave estão em hachurado de vermelho e azul. Os municípios pertencentes a esses núcleos compartilham, além de secas e solos degradados, altos índices de pobreza e exclusão social (LEMOS, 2012). A deserti�cação é um fenômeno que provoca, além de impactos sociais, ambientais e econômicos, o deslocamento de milhares de pessoas em busca de oportunidades e melhores condições de vida. Assim, devemos culpar os nordestinos pelos seus próprios problemas? Eles são vítimas ou vilões? É importante destacar que a grande maioria das ações invasivas do homem tem origem na pobreza e na insegurança alimentar. Logo, é possível inferir que as fragilidades socioeconômicas são as causas e, simultaneamente, as consequências da deserti�cação. Considera-se que a busca por extrair cada vez mais de um bioma fragilizado acarreta o esgotamento dos serviços ecossistêmicos e a deserti�cação (CAETANO et al, 2017). (Fonte: StanislauV/Shutterstock) Migrações e zona de expulsão de mão de obra O Complexo Regional Nordestino apresenta indicadores sociais baixos, provocados pelo desenvolvimento histórico ocorrido ali. As perdas estão associadas a três eixos, presentes na �gura a seguir. Político • Com a transferência da capital do país de Salvador para o Rio de Janeiro. • Século XVIII Econômico • Quando do enfraquecimento da monocultura da cana-de-açucar e o descobrimento de ouro e cultivo de café no Sul e Sudeste. • Século XVIII Populacional • Em consequência das duas primeiras, onde houve uma onda de migração em massa para os locais de maior atração. • Século XIX e XX A mobilidade populacional sobre o espaço ou migração é o nome que se dá ao deslocamento de pessoas por diversas razões, sobretudo econômicas, e por melhores condições de vida. O Nordeste é a região brasileira que mais “expulsou” sua população, que buscava uma vida mais digna. O êxodo rural talvez tenha sido o mais acentuado movimento ocorrido no país, quando a população do campo foi em direção às cidades que estavam em pleno crescimento, provocando um processo de urbanização muito mais acelerado do que nos países capitalistas avançados (BRITO, 2009). Com relação aos �uxos migratórios ocorridos no Brasil, o impulso dos ciclos econômicos foi de grande importância para que ocorressem deslocamentos espaciais desde os primórdios da formação socioespacial brasileira. Considerando apenas a questão nordestina, os �uxos migratórios foram se modi�cando ao longo da história do Brasil. No grá�co a seguir, você observa a distribuição de nordestinos em seu local de residência ao longo das décadas. Obviamente, a maior parte dos nordestinos ainda se encontram na própria região Nordeste, mas veri�que que esse número foi sofrendo redução entre 1970 e 2000, quando ocorreram os maiores �uxos emigratórios. Por sua vez, as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte passaram a receber esses nordestinos, o que pode ser observado com o contínuo incremento desse grupo regional em residências dessas novas regiões. Distribuição percentual de pessoas nascidas na região Nordeste, segundo região de residência, por ano do censo (1970- 2010) Adaptado de Fusco & Ojima (2014) A estagnação econômica, as constantes secas, em contraste com a prosperidade econômica de outras regiões do Brasil, foram fatores determinantes no início do processo migratório nordestino. No século XIX, grande parte do processo de migração nordestina foi em direção à Amazônia, no contexto do Ciclo da Borracha, que se repetiu também durante a Segunda Guerra Mundial. A migração para a chamada "Terra da Fartura" foi sempre estimulada com o aval dos governos estaduais nordestinos, porém, com os Acordos de Washington assinados por Getúlio Vargas, em 1943, esta passou a ser estimulada e organizada pelo Governo Federal. Em meados do século XX, com a rápida industrialização da região Sudeste, pessoas de várias partes do Brasil foram atraídas em busca de emprego, em especial oriundas do Nordeste. Durante os anos seguintes, cidades do Sudeste, principalmente do estado de São Paulo, passaram a contar com imigrantes de praticamente todos os estados nordestinos. A maior parte de contingente populacional não é oriundo do sertão, mas, sim, da Zona da Mata, onde as circunstâncias de concentração fundiária e perda de postos de trabalho (desemprego) eram as principais causas da emigração. Em seguida, a construção de Brasília e a expansão da fronteira agrícola nas regiões Centro-Oeste e Norte atraíram �uxos migratórios de nordestinos. Os grandes projetos agropecuários, minerais, hidrelétricos e rodoviários atraíram grande contingentes de nordestinos, em busca de emprego, sobretudo na construção civil. Em Brasília, os nordestinos eram popularmente chamados de candangos e trabalhavam em condições de baixa qualidade de vida. Na Praça dos Três Poderes, há uma escultura denominada "Os Candangos", em referência aos trabalhadores que construíram a cidade. Veja na �gura a seguir. (Fonte: Leandro Neumann Ciuffo / Wikipedia) Esse pedaço de história inspirou a criação da minissérie Mil dias – a saga da construção de Brasília, do History Channel. Vale a pena assistir. Com o passar dos anos, nota-se a diminuição nesses �uxos, pois a construção civil já não tem tanta capacidade de absorver um número grande de trabalhadores, e, cada vez mais, precisa-se de mão de obra quali�cada. Portanto, o que se observa nos últimos anos é um grande �uxo de retorno ao local de origem, uma vez que as políticas adotadas nesses anos atingiram as regiões brasileiras de forma diferenciada. Tanto as políticas que afetaram a rendadas famílias (como o Bolsa Família) quanto o aumento real do salário mínimo, “impactaram muito mais fortemente o Nordeste” (BACELAR, 2014, p. 456). Mesmo que o ritmo de migração do Nordeste para o Sudeste tenha diminuído, é bom destacar que o processo ainda vem acontecendo. (Fonte: Interior da Bahia) Atividade 1. Atividade do objetivo 1: Adaptado de CESGRANRIO, 2016 Observe a �gura a seguir. (Fonte: Journals Openedition) No Nordeste, de acordo com a �gura, o estado que apresenta o mais elevado índice de envolvimento da sociedade em con�itos no campo é: 1. Rio Grande do Norte. 2. Sergipe 3. Pernambuco 4. Paraíba 5. Alagoas a) Rio Grande do Norte b) Sergipe c) Pernambuco d) Paraíba e) Alagoas 2. Um dos fatores que mais contribuíram para o agravamento da situação das pessoas atingidas pelos períodos de seca no Brasil foi o uso privado, por parte de políticos locais, de verbas do Governo Federal destinadas à construção de poços e açudes públicos. Esse fenômeno �cou conhecido como: a) Indústria da água b) Transposição do Rio São Francisco c) Água para todos d) Política do açude e) Indústria da seca 3. O Nordeste é a região brasileira que mais “expulsou” sua população para as demais, em busca de uma vida mais digna. Entre os anos de 1950 e 1980, a maior para da emigração nordestina tinha como destino qual região? a) Sul b) Sudeste c) Centro-Oeste d) Norte e) Nordeste Notas Referências AB'SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. ARRUDA, Roldão. Nordeste é o maior foco de tensões agrárias do país. Publicado em: 30 nov. 2012. Disponível em: https://politica.estadao.com.br/blogs/roldao-arruda/nordeste-e-o-maior-foco-de-tensoes-agrarias-do-pais/. Acesso em: 27jan. 2020. BACELAR, Tania. Nordeste: desenvolvimento recente e perspectivas. Brasília: BNDES, 2014. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei nº 175, de 7 de janeiro de 1936. Regula o disposto no art. 177 da Constituição BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Decreto-Lei nº 9.857, de 13 de setembro de 1946. Modi�ca o artigo 1º do Decreto-lei nº 8.486, de 28 de dezembro de 1945. BRITO, Fausto. 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Explore mais Leia o livro: javascript:void(0); javascript:void(0); Deserti�cação no Nordeste brasileiro: uma análise das vulnerabilidades socioeconômicas do município de Irauçuba/CE Maior parte dos migrantes do Brasil sai do Nordeste, segundo o IBGE javascript:void(0); javascript:void(0);
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