Buscar

AULA 7

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Geogra�a Regional do Brasil
Aula 7: Migrações, con�itos e indústria da seca
Apresentação
Historicamente, a Região Nordestina é o maior vetor de emigração do território nacional, e não é somente a seca que
assola o seu povo e impulsiona a migração. Mesmo dentro de localidades mais úmidas e com condições favoráveis a
outras formas de atividades econômicas, o nordestino se depara com a desigualdade e a alta concentração de terras, que
é uma constante na formação socioespacial do Brasil.
A região também tem se destacado no cenário nacional pelo grande número de ocorrências agrárias, como con�itos
fundiários e a disputa pela posse de água, pois se trata da única região que conta com um grande semiárido.
Objetivos
Esclarecer a questão dos con�itos fundiários na região;
Analisar a construção conceitual da indústria da seca;
Discutir a região como zona de expulsão de mão de obra.
A questão agrária e os con�itos
As práticas de controle da terra pela iniciativa privada e pelo poder público vêm ocorrendo desde o Brasil Colônia e se
intensi�cou após a Lei de Terras, de 1850. Porém, o camponês sempre almejou a posse da terra na qual trabalha; por isso, as
propostas de reforma agrária foram se tornando uma realidade ao longo do tempo.
As décadas de 1940 e 1950 marcaram o início de uma luta no campo brasileiro de forma mais organizada, com o apoio do
Partido Comunista do Brasil (PCB), após a ditadura de Getúlio Vargas. Na região Nordeste, essas organizações �caram
conhecidas como "Ligas Camponesas" e iniciaram suas atividades ainda em 1945. Contudo, enquanto movimento efetivo,
surgiram no Engenho Galileia, em Vitória de Santo Antão, em 1º de janeiro de 1955.
Essas ligas reuniram camponeses (parceiros, arrendatários ou pequenos proprietários) na luta contra a estrutura latifundiária
secular no país. Essas pessoas se encontravam na esteira da insatisfação dos processos de modernização e industrialização
propostos pelo governo de Juscelino Kubitschek, que gerou muito desemprego e redução dos salários nas cidades.
As ações começaram na região Nordeste e, posteriormente, assumiram grandes proporções, reunindo operários e camponeses
nas cidades e desagradando aos grandes proprietários com essa luta pela reforma agrária. Dessa forma, a repressão policial
foi grande.
 (Fonte: Weera Sreesam: Shutterstock)
“Nascidas muitas vezes como sociedade bene�cente dos
defuntos, as Ligas foram organizando, principalmente no
Nordeste brasileiro, a luta dos camponeses foreiros,
moradores, rendeiros, pequenos proprietários e
trabalhadores assalariados rurais da Zona da Mata, contra o
latifúndio” 
(Oliveira, 2007, p. 104).
Em 1962, o jornal A Liga foi criado com o objetivo de divulgar o movimento das organizações, e, um ano depois, pela Lei nº
4.214, promulgada em 2 de março de 1963, foi aprovado pelo presidente João Goulart, um ardoroso defensor da
Reforma Agrária, o  Estatuto do Trabalhador Rural.
O estatuto estendia os direitos trabalhistas do trabalhador urbano para o campo, bene�ciando milhares de famílias, e estimulou
a transformação de muitas ligas em sindicatos rurais e a expansão do movimento, que ainda era concentrado em Pernambuco
e na Paraíba, principalmente.
Leitura
Trabalhador Rural Obtém Seu Estatuto
No mesmo ano, o presidente João Goulart propôs as
reformas de Base, um conjunto de reformas estruturais. Ele
chegou ao poder depois que seu antecessor, Jânio Quadros,
renunciou ao cargo. João Goulart era próximo de países
socialistas e voltado para as reivindicações trabalhistas, o
que desagradou às elites conservadoras do país.
Essas reformas sustentavam a necessidade de mudanças
nos âmbito �scal, urbano, bancário, agrário, universitário e
administrativo. Para o presidente, era importante que os
analfabetos e militares de baixas patentes, como
marinheiros e sargentos, pudessem votar.
 Governo do Brasil (Fonte: Shutterstock).
javascript:void(0);
Antes do Golpe de 1964, chegou a ser organizada uma Federação das Ligas Camponesas de Pernambuco, que reunia mais de
40 organizações, com cerca de 40 mil �liados no estado. Porém, a verdade é que a entrada dos militares no poder e o
segmento social mais conservador, preocupado com o avanço das reivindicações populares, desarticulou o movimento.  A�nal,
os grandes proprietários (os muito ricos) não estavam interessados em demandas de trabalhadores e queriam apenas
concentrar o lucro, por isso apoiaram o golpe militar.
No início da segunda metade do século passado, as ligas camponesas sacudiram a área rural, mas muitas lideranças foram
assassinadas pelos comandados da classe latifundiária. A violência do golpe militar de 1964 sufocou muitos movimentos e
anseios por glebas agricultáveis.
Dentro do contexto legal, o Estatuto do Trabalhador Rural foi assinado efetivamente pelo Marechal Castelo Branco, em 1964, o
primeiro presidente do regime militar, mas seu próprio ministro do Planejamento garantiu aos congressistas do lobby
latifundiário que a lei, embora aprovada, não seria praticada.
Caberia ao Estado Conservador, apoiado por latifundiários, promover a reforma agrária? O primeiro grande ato foi perseguir as
lideranças camponesas e extinguir a Superintendência da Política Agrária.
Assim, a chamada “contrarreforma agrária do Estado autoritário” nascia da estratégia geopolítica da ocupação/exploração da
Amazônia, pois passaram a ser chamados de “reforma agrária” os projetos de colonização implantados na Transamazônica
pelo INCRA (IANNI, 1979).
 (Fonte: Gustavo Frazão/Shutterstock)
A Constituição Federal de 1988 abriu caminho para as
ações de reforma agrária, ou seja, assegurou o suporte
legislativo necessário para esse importante processo social.
De acordo com Oliveira (2007), Fernando Collor de Melo,
primeiro presidente eleito depois do regime militar de 1964,
assumiu o governo da década de 1990 e, logo no início, no
seu programa de governo, impôs-se uma meta tímida:
assentar 500 mil famílias, ou seja, quase 35% da meta de
José Sarney. Mesmo com a sua saída do poder, pelo
processo de impeachment, o seu vice (Itamar Franco) não
conseguiu dar cabo de um plano adequado para a reforma
agrária.
 Fernando Collor (Fonte: Jornal Ggn)
 Fernando Henrique Cardoso. (Fonte: Abril)
 Em 1995, Fernando Henrique Cardoso assumiu a
presidência com mais uma proposta tímida: assentar 280
mil famílias, quase a metade da proposta anterior (de
Collor). É bom destacar que, segundo Pereira (2015), nesse
período, havia alta visibilidade da violência no campo
(contra trabalhadores rurais), um volume crescente de
con�itos agrários e ocupações de terra e a gravitação de
movimentos sociais. Tudo isso recolocou os temas da
reforma agrária e da justiça social no campo na agenda
política nacional. 
De acordo com Fernandes (2008), no governo Lula, ocorreu expressivo diálogo entre a União e os movimentos socioterritoriais.
Além disso, inúmeros programas foram realizados para que a nova estrutura agrária pudesse ter sucesso, seja na área
econômica, seja na social, seja na ambiental. Quer exemplos? O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera)
e a Lei de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) foram aplicados na prática.
Por outro lado, é bom destacar que o governo Lula também
apoiou bastante a ala ruralista e seu agrobusiness. O
agronegócio avançou bastante, consumindo o cerrado e
direcionando-se para a Amazônia, baseado na produção
de comoditties (grãos e frutas), em grandes extensões de
terra, com base na monocultura, utilizando técnicas
predatórias de reprodução do capital, como queimadas e
desmatamentos generalizados.
 Lula da Silva. (Fonte: Uol)
Os números do governo Lula são expressivos. Foram 614.088 famílias
assentadas, principalmente na Região Amazônica e, secundariamente, no
Nordeste, sobretudo nos anos de 2005 e 2006, em 48,3 milhões de hectares
(Fernandes, 2008).
É bom destacar que os governos do PT desenvolveram uma política de combate à pobreza, mas não enfrentaram os
problemasestruturais de concentração da propriedade e da renda. Estas foram super�cialmente tocadas, reduzidas à
expansão do consumo, e não da ampliação da cidadania.
 Dilma Rousseff. (Fonte: Glbimg)
O problema é que, após o impeachment de Dilma Rousseff,
a situação pode piorar, com a militarização da sociedade e o
uso da arma como forma de combater aqueles que lhe são
contrários, sobretudo com o crescimento da chamada
“bancada da bala” (CPT, 2019). 
Entre os anos 1950 e 1970, a maior parte dos con�itos eram no Nordeste, sempre associados às lutas das ligas camponesas.
Hoje, a situação não é diferente. 
O que causa tanto con�ito na atualidade? A �exibilização de legislações ambientais e o ataque aos direitos territoriais de
indígenas, quilombolas e camponeses como pauta legislativa atrela-se, como nunca, ao banditismo social de grandes
latifundiários, que, blindados pela impunidade e com a cumplicidade da polícia e, por vezes, da milícia, estão cada vez mais
autorizados a matar.
Arruda (2012) informa que um relatório divulgado pelo Banco de
Dados da Luta pela Terra (Dataluta) apresenta uma série histórica
que cobre de 1988 a 2011 e levanta 8.536 ocupações de terra;
dentre elas, quase 70% está localizada no território nordestino.
 Se pensarmos apenas em número de con�itos no campo, é
possível perceber que, no ano de 2018, os dados
aumentaram signi�cativamente. 
Em um levantamento feito pela Comissão Pastoral da Terra
(CPT), o ano de 2018 contou com 1.124 con�itos agrários
em todo o país, mobilizando cerca de 118 mil famílias e
uma área de 39.425.494 ha. A extensão de terras em
con�ito vem aumentando exponencialmente desde 2015
(foram 8.1 milhões de hectares em 2014).
Observe, no grá�co, que a Região Nordestina corresponde
por 40% da ocorrência de con�itos agrários em 2018.  Conflitos Agrários. (Fonte: Diário da Amazônia).
Número de ocorrências agrárias no Brasil - 2018

Dentro da Região Nordestina, os estados que apresentam o maior número de ocorrências são Maranhão (199), Bahia (112) e Pernambuco (74), que representam aproximadamente
85% do total registrado.
O infeliz posto de líder do ranking de ocorrências é o
Maranhão, que está nessa posição há seis anos seguidos,
superando os estados conhecidos nacionalmente por
possuírem grandes áreas consideradas propícias para
con�itos agrários, como Pará e Rondônia.
No Maranhão, o maior número de con�itos está associado
ao ataque a posseiros, quilombolas e indígenas.
Na comunidade Auzilândia, no município de Alto Alegre do
Pindaré, há o registro de 2 mil famílias (posseiros) em
con�ito por terra. Na região que reúne os municípios de
Amarante do Maranhão, Arame, Bom Jesus das Selvas,
Buriticupu e Buritirana, as tribos indígenas Arariboia (etnias
Guajajara, Gavião e Guajá) estão sendo sistematicamente
atacadas. No município de Matinha, quase 1.200 famílias de
quilombolas lutam para permanecer em suas terras.
 Estado do Maranhão (Fonte: Wikimedia).
Por sua vez, os maiores problemas na Bahia dizem respeito a camponeses de fundo de pasto, sem-terra e quilombolas. As
comunidades de fundo de pasto desenvolvem atividades como a criação livre de animais de pequeno porte, principalmente
cabra e bode, e de gado – que se alimentam da própria vegetação nativa – como alternativa a uma agricultura em uma região
marcada pela seca.  São populações que fazem plantação para subsistência.
No oeste da Bahia, onde se concentra a maior parte dos con�itos, o desenvolvimento deu-se a partir da década de 1980, por
meio da aplicação de tecnologias para "vencer" o sertão. Hoje, é um dos maiores polos agrícolas do país, com destaque para a
produção de milho, algodão e soja. Além do cultivo agrícola em grande escala, há também a presença da agricultura familiar,
assim como agropecuária e indústria.
Em Campo Alegre de Lourdes, oito comunidades de Angico dos Dias, todas de camponeses de fundo de pasto, sofreram com
ocorrências agrárias. Nos municípios de Itaguaçu da Bahia e Xique-Xique, 760 famílias estão sofrendo em razão do Projeto de
Irrigação Baixio do Irecê. No município de Nordestina, quase 500 famílias da Comunidade Quilombola Bom Sucesso têm
sofrido em virtude das ações da Lipari Mineração.
No �nal, a situação reproduz uma situação que vemos no Brasil inteiro. São grandes empresas que colocam em movimento um
perigoso círculo vicioso formado por posseiros, grileiros, grandes fazendeiros e empresários.
 (Fonte: mst.org)
A indústria da seca e o processo de deserti�cação
O sertão nordestino apresenta-se semiárido em razão de um conjunto de fatores; porém, qual a área que é considerada seca,
de acordo com o poder público?
É o Polígono das Secas, um conceito de�nido pela Lei nº 175, de 7 de janeiro de 1936, que, posteriormente, teve
complementado o seu traçado pelo Decreto-Lei nº 9.857, de 13 de setembro de 1946. Trata-se de uma área que está em
permanente mudança e depende das prerrogativas propostas pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(SUDENE), mas é fato que os municípios que pertencem à região estão sujeitos a repetidas crises de prolongamento das
estiagens e são, consequentemente, objeto de especiais providências do setor público.
O Polígono, presente na �gura a seguir, incorpora grande parte do Nordeste e parte do norte de Minas Gerais, onde o clima é
semiárido e possui vegetação de caatinga. Seu solo é raso, principalmente, e a taxa de evaporação das águas super�ciais é
alta. Em A, é possível observar a área de abrangência da seca em diferentes períodos (1979, 1980 e 1984). A cada ano, a seca e
seus efeitos podem atingir diferentes municípios. Em B, é possível identi�car os municípios de cada um dos estados presentes
dentro do Polígono das Secas.
 (Fonte: CPTEC, INMET e IBGE 2015)
Embora o clima seja semiárido, não podemos confundir essa atribuição natural com o conceito de seca.  O motivo principal
para as secas é, sem dúvida, político. Muitos autores utilizam a expressão Indústria da seca para se referir a essa questão, isso
porque somente os fatores climáticos não são su�cientes para explicar a miséria em que vive a população. Atualmente, em
regiões áridas dos Estados Unidos e, principalmente, Israel, soluções tecnológicas avançadas foram desenvolvidas para
resolver problemas de disponibilidade de recursos hídricos.
A população padece por causa dos períodos prolongados de estiagem, mas
não se pode dizer que a pobreza encontrada ali é causada por
esse fenômeno natural. O principal problema, como nos diz Ab’Sáber (2003),
é que o semiárido nordestino é uma das regiões sob esta condição,
que possui a maior densidade populacional. Além disso, a concentração de
renda e a distribuição desigual de riquezas são o que realmente tornam
essa região tão problemática e repulsora.
De acordo com Ross (1996, p. 176-177), a pobreza da população do sertão nordestino “não é certamente uma consequência da
ecologia”. Existe uma ideologia muito comum na região, que a�rma que a “indústria da seca” é mantida como um mote político
que pode angariar votos em época de eleição. Ou seja, as obras feitas em nome da seca são benefícios políticos, e, ainda hoje,
os parlamentares se utilizam delas.
 (Fonte: neenawat khenyothaa / Shutterstock)
"Dessa forma, muito dinheiro foi destinado para a região, o su�ciente para implantar projetos avançados de irrigação e
distribuição de água. Porém, boa parte da verba foi desviada, e a maior parte dos sistemas de irrigação foi destinada a grandes
latifúndios (geralmente associados a grandes políticos da região) que priorizam a exportação."
Assim, na opinião de muitos críticos, a indústria da seca funciona da seguinte forma: prometem-se melhorias para a população
e oferecem-se ações de caridades (como cestas básicas) em troca de votos. Depois de eleitos, os políticos atuam para atender
aos interesses dos grandes latifundiários, que geralmente �nanciam as suas campanhas. Por �m, exagera-se na mídia o
problema da seca a �m de angariar mais recursos que raramentesão bem utilizados em prol da população local. Apesar disso,
essa realidade vem lentamente mudando nos últimos anos.
Portanto, para melhor resumir, podemos atribuir a questão da seca do Nordeste a três principais fatores: naturais (de ordem
física e climática), históricos (heranças da colonização) e políticos (relacionados à indústria da seca). (Fonte: Brasil
Escola). 
Nesse sentido, a transposição do Rio São Francisco pode ser uma estratégia importante para reduzir a importância dos atores
da indústria da seca. É bom entender que levar àgua para o sertão não é somente uma questão de sobrevivência dessa
população já tão sofrida; signi�ca a possibilidade de dar estabilidade hídrica à região, o que pode promover o processo de
industrialização, onde pequenos estabelecimentos serão capazes de absorver a mão de obra local, que é, predominantemente,
de baixa quali�cação pro�ssional. A àgua levaria, portanto, emprego e renda, reduzingo a dependência dessa população
�agelada de recursos públicos.
 
 (Fonte: prileão / Shutterstock)
Desde 2012, as obras do PAC têm proporcionado inúmeras mudanças para o complexo nordestino. No entanto, obras como a
transposição do Rio São Francisco ainda causam discussões e polêmicas, uma vez que seus benefícios e suas desvantagens
se encontram em contradição.
Além da questão da seca, é importante mencionar o problema do avançado processo de deserti�cação no sertão, o fenômeno
que é descrito como a degradação das terras nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultantes de fatores diversos,
tais como as variações climáticas e as atividades humanas (Rio-92).
Denota-se como forte a contribuição das intervenções humanas nesse processo que ocorre, principalmente, pela retirada da
cobertura vegetal do solo e pelas práticas agropecuárias predatórias que induzem o uso inadequado do solo. A utilização
excessiva de agroquímicos, as queimadas, a pecuária extensiva, a lavoura itinerante, o reduzido tempo de pousio entre as áreas
cultivadas e as práticas inadequadas de irrigação, que provocam salinização dos solos, são fatores agravantes do processo de
deserti�cação (CAETANO et al, 2017).
Os núcleos mais proeminentes do fenômeno estão presentes nas proximidades das cidades de Irauçuba (CE), Gilbués (PI),
Cabrobró (PE) e Seridó (RN), como é observado na �gura a seguir. Veri�que que as áreas com situação mais grave estão em
hachurado de vermelho e azul.
Os municípios pertencentes a esses núcleos compartilham, além de secas e solos degradados, altos índices de pobreza e
exclusão social (LEMOS, 2012). A deserti�cação é um fenômeno que provoca, além de impactos sociais, ambientais e
econômicos, o deslocamento de milhares de pessoas em busca de oportunidades e melhores condições de vida.
Assim, devemos culpar os nordestinos pelos seus próprios problemas?  Eles são vítimas ou vilões?
É importante destacar que a grande maioria das ações invasivas do homem tem origem na pobreza e na insegurança
alimentar. Logo, é possível inferir que as fragilidades socioeconômicas são as causas e, simultaneamente, as consequências
da deserti�cação. Considera-se que a busca por extrair cada vez mais de um bioma fragilizado acarreta o esgotamento dos
serviços ecossistêmicos e a deserti�cação (CAETANO et al, 2017).
 (Fonte: StanislauV/Shutterstock)
Migrações e zona de expulsão de mão de obra
O Complexo Regional Nordestino apresenta indicadores sociais baixos, provocados pelo desenvolvimento histórico ocorrido ali.
As perdas estão associadas a três eixos, presentes na �gura a seguir.
Político
• Com a
transferência da
capital do país de
Salvador para o Rio
de Janeiro.
• Século XVIII
 
 
 
Econômico
• Quando do
enfraquecimento da
monocultura da
cana-de-açucar e o
descobrimento de
ouro e cultivo de
café no Sul e
Sudeste.
• Século XVIII
Populacional
• Em consequência
das duas primeiras,
onde houve uma
onda de migração
em massa para os
locais de maior
atração.
• Século XIX e XX
 
A mobilidade populacional sobre o espaço ou migração é o nome que se dá ao deslocamento de pessoas por diversas razões,
sobretudo econômicas, e por melhores condições de vida.
O Nordeste é a região brasileira que mais “expulsou” sua população, que buscava uma vida mais digna. O êxodo rural talvez
tenha sido o mais acentuado movimento ocorrido no país, quando a população do campo foi em direção às cidades que
estavam em pleno crescimento, provocando um processo de urbanização muito mais acelerado do que nos países capitalistas
avançados (BRITO, 2009).
Com relação aos �uxos migratórios ocorridos no Brasil, o impulso dos ciclos econômicos foi de grande importância para que
ocorressem deslocamentos espaciais desde os primórdios da formação socioespacial brasileira. Considerando apenas a
questão nordestina, os �uxos migratórios foram se modi�cando ao longo da história do Brasil.
No grá�co a seguir, você observa a distribuição de nordestinos em seu local de residência ao longo das décadas. Obviamente, a
maior parte dos nordestinos ainda se encontram na própria região Nordeste, mas veri�que que esse número foi sofrendo
redução entre 1970 e 2000, quando ocorreram os maiores �uxos emigratórios. Por sua vez, as regiões Sudeste, Centro-Oeste e
Norte passaram a receber esses nordestinos, o que pode ser observado com o contínuo incremento desse grupo regional em
residências dessas novas regiões.
Distribuição percentual de pessoas nascidas na região Nordeste, segundo região de residência, por ano do censo (1970-
2010)
 Adaptado de Fusco & Ojima (2014)
A estagnação econômica, as constantes secas, em contraste com a prosperidade econômica de outras regiões do Brasil,
foram fatores determinantes no início do processo migratório nordestino.
No século XIX, grande parte do processo de migração nordestina foi em direção à Amazônia, no contexto do Ciclo da Borracha,
que se repetiu também durante a Segunda Guerra Mundial. A migração para a chamada "Terra da Fartura" foi sempre
estimulada com o aval dos governos estaduais nordestinos, porém, com os Acordos de Washington assinados por Getúlio
Vargas, em 1943, esta passou a ser estimulada e organizada pelo Governo Federal.
Em meados do século XX, com a rápida industrialização da região Sudeste, pessoas de várias partes do Brasil foram atraídas
em busca de emprego, em especial oriundas do Nordeste. Durante os anos seguintes, cidades do Sudeste, principalmente do
estado de São Paulo, passaram a contar com imigrantes de praticamente todos os estados nordestinos.  A maior parte de
contingente populacional não é oriundo do sertão, mas, sim, da Zona da Mata, onde as circunstâncias de concentração
fundiária e perda de postos de trabalho (desemprego) eram as principais causas da emigração.
Em seguida, a construção de Brasília e a expansão da fronteira agrícola nas regiões Centro-Oeste e Norte atraíram �uxos
migratórios de nordestinos. Os grandes projetos agropecuários, minerais, hidrelétricos e rodoviários atraíram grande
contingentes de nordestinos, em busca de emprego, sobretudo na construção civil. Em Brasília, os nordestinos eram
popularmente chamados de candangos e trabalhavam em condições de baixa qualidade de vida.
Na Praça dos Três Poderes, há uma escultura denominada "Os Candangos", em referência aos trabalhadores que construíram a
cidade. Veja na �gura a seguir.
 (Fonte: Leandro Neumann Ciuffo / Wikipedia)
Esse pedaço de história inspirou a criação da minissérie Mil dias – a saga da construção de Brasília, do History Channel. Vale a
pena assistir.
Com o passar dos anos, nota-se a diminuição nesses �uxos, pois a construção civil já não tem tanta capacidade de absorver
um número grande de trabalhadores, e, cada vez mais, precisa-se de mão de obra quali�cada. Portanto, o que se observa nos
últimos anos é um grande �uxo de retorno ao local de origem, uma vez que as políticas adotadas nesses anos atingiram as
regiões brasileiras de forma diferenciada.
Tanto as políticas que afetaram a rendadas famílias (como o Bolsa Família) quanto o aumento real do salário mínimo,
“impactaram muito mais fortemente o Nordeste” (BACELAR, 2014, p. 456).
Mesmo que o ritmo de migração do Nordeste para o Sudeste tenha diminuído, é bom destacar que o processo ainda vem
acontecendo.
 (Fonte: Interior da Bahia)
Atividade
1. Atividade do objetivo 1: Adaptado de CESGRANRIO, 2016
Observe a �gura a seguir.
 (Fonte: Journals Openedition)
 
 
No Nordeste, de acordo com a �gura, o estado que apresenta o mais elevado índice de envolvimento da sociedade em con�itos
no campo é:
1. Rio Grande do Norte.
2. Sergipe
3. Pernambuco
4. Paraíba
5. Alagoas
a) Rio Grande do Norte
b) Sergipe
c) Pernambuco
d) Paraíba
e) Alagoas
2. Um dos fatores que mais contribuíram para o agravamento da situação das pessoas atingidas pelos períodos de seca no Brasil
foi o uso privado, por parte de políticos locais, de verbas do Governo Federal destinadas à construção de poços e açudes públicos.
Esse fenômeno �cou conhecido como:
a) Indústria da água
b) Transposição do Rio São Francisco
c) Água para todos
d) Política do açude
e) Indústria da seca
3. O Nordeste é a região brasileira que mais “expulsou” sua população para as demais, em busca de uma vida mais digna. Entre os
anos de 1950 e 1980, a maior para da emigração nordestina tinha como destino qual região?
a) Sul
b) Sudeste
c) Centro-Oeste
d) Norte
e) Nordeste
Notas
Referências
AB'SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
ARRUDA, Roldão. Nordeste é o maior foco de tensões agrárias do país. Publicado em: 30 nov. 2012. Disponível em:
https://politica.estadao.com.br/blogs/roldao-arruda/nordeste-e-o-maior-foco-de-tensoes-agrarias-do-pais/. Acesso em: 27jan.
2020.
BACELAR, Tania. Nordeste: desenvolvimento recente e perspectivas. Brasília: BNDES, 2014.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei nº 175, de 7 de janeiro de 1936. Regula o disposto no art. 177 da
Constituição
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Decreto-Lei nº 9.857, de 13 de setembro de 1946. Modi�ca o artigo 1º do
Decreto-lei nº 8.486, de 28 de dezembro de 1945.
BRITO, Fausto. As migrações internas no Brasil: um ensaio sobre os desa�os teóricos recentes. Belo Horizonte:
javascript:void(0);
, g ç
UFMG/Cedeplar, v. 20, 2009.
CAETANO, Francisco Aquiles de Oliveira; GONÇALVES, Djane de Souza Lima; FEITOSA, Milena Monteiro; TEIXEIRA, Raquel Neris;
LEMOS, José de Jesus Sousa. Deserti�cação no Nordeste brasileiro: uma análise das vulnerabilidades socioeconómicas do
município de Irauçuba/CE. Publicado em: 10 abr. 2017. Disponível em:
https://www.revistaespacios.com/a17v38n39/17383914.html. Acesso em: 27 jan. 2020.
CPT – Comissão Pastoral da Terra. Centro de Documentação Dom Tomás Balduino. Con�itos no Campo Brasil 2018. Goiânia:
CPT Nacional Brasil, 2019.
FERNANDES, Bernardo Mançano. O MST e as Reformas Agrárias no Brasil. OSAL – Observatório Social de America Latina.
Debates. Buenos Aires, ano IX, número 24, p. 73-85. 2008.
IANNI, Octávio. Colonização e contrarreforma agrária. Petrópolis: Vozes, 1979.
FUSCO, Wilson; OJIMA, Ricardo. Migrações internas: a relevância dos nordestinos na redistribuição da população brasileira.
Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 19, 2014, São Pedro. Anais [...]. São Pedro: ABEP, 2014
LEMOS, José de Jesus Sousa. Mapa da exclusão social no Brasil: radiogra�a de um país assimetricamente pobre. 2.
ed. Fortaleza: Banco do Nordeste, 2012.
PEREIRA, João Márcio Mendes. Estado e mercado na reforma agrária brasileira (1988-2002). Estudos Históricos, Rio de
Janeiro, vol. 28, nº 56, p. 385-404, julho-dezembro 2015
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Modo Capitalista De Produção, Agricultura E Reforma Agrária. 1. ed. São
Paulo: FFLCH/Labur Edições, 2007.
PENA, R. A. Por que no Nordeste há seca? Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/por-que-nordeste-seco.htm.
Acesso em: 12 mar. 2020.
ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Geogra�a do Brasil. Edusp, 1996.
Próxima aula
Economia e planejamento no Nordeste.
Explore mais
Leia o livro:
javascript:void(0);
javascript:void(0);
Deserti�cação no Nordeste brasileiro: uma análise das vulnerabilidades socioeconômicas do município de Irauçuba/CE
Maior parte dos migrantes do Brasil sai do Nordeste, segundo o IBGE
javascript:void(0);
javascript:void(0);

Continue navegando