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Anemias A anemia é definida como uma redução significativa da massa eritrocitária circulante. Como resultado, a capacidade de ligação de oxigênio do sangue é diminuída. Anemia afeta um quarto da população mundial, com maior prevalência em grupos de baixo nível socioeconômico. Obs: para gestantes, a hemoglobina tem que ser < 11. Fisiopatologia A capacidade de transporte de oxigênio do sangue é baixa em pacientes anêmicos. O fluxo sanguíneo é mais direcionado para os órgãos vitais palidez. Na anemia grave, o débito cardíaco em repouso é aumentado, aumentando então o risco de o paciente desenvolver insuficiência cardíaca de alto débito. Regulação da eritropoiese pela eritropoietina Obs: eritropoiese é dependente de vitamina D e ferro. Hematopoese ocorre nos ossos chatos, esterno, pelve, costelas, crânio e vértebras. Baço e fígado trabalham na metabolização de hemácias velhas. Em todas as células do corpo, um sensor molecular detecta ainda graus modestos de baixa tensão de oxigênio e induz um fator de transcrição induzido pela hipóxia chamada de HIF que estimula o aumento da expressão do hormônio eritropoietina no rim e, em menor extensão, no fígado. Mesmo que o nível plasmático de eritropoietina esteja elevado, a anemia não é corrigida. Obs: em pacientes cuja anemia é causada por hemólise ou perda de sangue, os altos níveis de eritropoietina corrigem a anemia. Demandas dietéticas da hematopoese Eritropoiese necessita de: Proteínas, lipídeos e carboidratos. Ferro, vitamina B12 e ácido fólico. Armazenamento do ferro: Hb (65%), fígado, baço e medula óssea. Ferritina e hemossiderina – intracelular. Metabolismo das hemácias Vida média dos eritrócitos: 100 – 120 dias. Ocorre no baço e fígado. Degeneração da hemoglobina separação do heme e globina reaproveitamento do ferro. Perfil do ferro Ferro sérico. Ferritina (armazenamento do ferro) TIBC (total iron bidind capacity = capacidade total de ligação do ferro). Transferrina (índice de saturação de transferrina) transportador do ferro. Classificação das anemias Mecanismos Perda de sangue Aguda: Trauma. Variadas (melena, hematêmese, menorragia). Crônica: Sangramento oculto. Obs: pólipo colônico, carcinoma. Aumento da destruição (HEMOLÍTICAS) Imunomediadas: Aglutininas frias: Hemoglobinúria paroxística noturna. Anemia hemolítica pós micoplasma. Aglutininas mornas: Induzida por drogas. Anemia hemolítica autoimune. Reação transfusional. Não imunomediadas: (Extra-corpusculares) Macro circulatórias: Hiperesplenismo. Circulação extracorpórea. Micro circulatórias: Coagulação intravascular disseminada. Púrpura trombocitopênica trombótica. Síndrome hemolítico-urêmica. Não imunomediadas: (Intra-corpusculares) Parede celular: Defeitos celulares ou de membrana. Anomalias do heme ou da globina: HbS, C. Diminuição da produção (HIPOPROLIFERATIVA) Doenças infecciosas: Bacteriana: tuberculose, mycobacterium avium intracellulare. Viral: HIV, parvovírus. Calazar (leishmaniose visceral). Doenças neoplásicas: Leucemia, linfoma, mieloma, síndromes mieloproliferáticas, mielodisplasia. Distúrbios endócrinos: Hipotireoidismo, deficiência de eritropoietina (insuficiência renal crônica). Deficiências nutricionais: Ferro, B12 e ácido fólico. Obs: pacientes pós bariátrica baixa de B12. Classificação por morfologia Anemia microcítica VCM < 80. Disponibilidade de Fe reduzida Anemia ferropriva. Diminuição na síntese do Heme intoxicação por chumbo, anemia sideroblástica. Redução na produção de globina talassemias. Anemia macrocítica VCM > 100. Megaloblástica: Metabolismo do ácido nucléico. Deficiência de B12 e ácido fólico. Fator intrínseco. Não megaloblástica: Maturação anormal de GV. Mielodisplasia. Causas: etilismo, hepatopatia, hipotireoidismo, quimioterapia, drogas. Manifestações clínicas Sintomas Fadiga, dispneia, palpitações. Tontura, cefaleia, síncope, zumbido ou vertigem. Dificuldades para dormir, sensibilidade ao frio. Sensação de peso em MMII. Indigestão, anorexia e/ou náuseas. Mulheres: menstruação anormal, amenorreia ou sangramento elevado. Homens: impotência e/ou perda da libido. Anemia grave ( hb< 7,5g/Dl): aumento do débito cardíaco, volume sistólico e frequência cardíaca. (Pode levar a insuficiência cardíaca). Obs: queilite angular carência de B12. Achados físicos Palidez. Taquicardia, pressão de pulso ampla e precórdio hiperdinâmico. Sopro sistólico de ejeção, principalmente no foco pulmonar. Pode ser detectado ruído venoso nos vasos do pescoço. Diagnóstico Avaliação laboratorial HEMOGRAMA COMPLETO Volume Corpuscular Médio (VCM): Tamanho médio dos glóbulos vermelhos. Valores normais: 80 – 100 Fl. Normocítica, macrocítica e microcítica. Hemoglobina Corpuscular Média (HCM): Indica o peso da hemoglobina na hemácia. Diretamente ligado a quantidade de ferro presente na hemoglobina cor da hemácia. Valores normais: Normocrômica, hipercrômica e hipocrômica. Obs: excesso de ferro hemácia macrocítica e hipercrômica. Obs: baixa de ferro hemácia microcítica e hipocrômica. Amplitude de Distribuição dos Glóbulos Vermelhos (RDW): Variação de tamanho entre as hemácias. Deve ser usado em conjunto com o VCM. Valores normais: 11% - 14%. Obs: Anisocitose: variação do tamanho das hemácias. Contagem de reticulócitos Reticulócitos hemácias imaturas. Teste útil para distinguir anemias secundárias à diminuição da produção eritrocitária das causadas pela hemólise. TRATAMENTO DA ANEMIA Avaliação das consequências fisiológicas Avaliação do impacto clínico: Sintomas cardiovasculares. Velocidade de progressão. Reserva cardiovascular/pulmonar. Interrupção ou não da causa da anemia. Favorece conduta ambulatorial conservadora: Sintomas CV ausentes ou aos grandes esforços. Instalação lenta (semanas a meses). Reserva CV preservada. Causa resolvida ou fortemente controlada. Sem progressão clara dos sintomas. Considerar transfusão/intervenção aguda: Sintomas CV aos esforços médios/leves. Instalação rápida (dias/horas). Reserva CV ou pulmonar limítrofes. Causa mantida ou desconhecida. Progressão dos sintomas. Investigação etiológica na rede básica Qualidade da resposta eritropoiética: reticulócitos. Perfil do ferro: Ferritina, ferro sérico, TIBC e índice de saturação de transferrina. Eletroforese de hemoglobina. Marcadores inflamatórios: VHS, PCR, clínica. Anemias macrocíticas: B12, ácido fólico, função/enzimas hepáticas. Outros limitantes da eritropoiese: creatinina, TSH e T4 livre. Provas de hemólise: bilirrubina, LDH, haptoglobina. Indícios de anemias hereditárias: história familiar consistente, episódios recorrentes de icterícia. Tratamento ambulatorial da anemia por deficiência de ferro Dieta: Estimular o consumo de alimentos ricos em ferro (ex: carne vermelha, vegetais verde- escuros, leguminosas, cereais integrais). Orientar quanto aos alimentos que interferem na absorção de ferro (ex: leite, ovos, queijos, chás, chocolate). Reposição de Ferro: No geral, a quantidade de ferro elementar equivale a um quinto da dosagem total da preparação de sulfato ferroso. (Ex: 1 comprimido de 300mg de sulfato ferroso, corresponde a 60 mg de ferro elementar). A necessidade diária gira em torno de 200mg de ferro elementar. Melhor absorção quando: Administrado longe das refeições (cerca de 30 minutos antes ou 60 minutos depois). Associado ao ácido ascórbico. O tratamento deverá ser mantido até a reposição das reservas de ferro normalizaçãoda Ferritina. Diagnosticar e tratar causa base. Tratamento ambulatorial da anemia megaloblástica Dieta: Orientar o consumo de alimentos ricos em vitaminas do complexo B. (Ex: folhas verdes escuras – agrião, chicória, couve, espinafre, brócolis, rúcula – e fígado). Ácido fólico: Ácido fólico (5mg/cp) 1-5mg VO de 24/24 horas. A duração do tratamento varia de acordo com a condição de base: Causa da deficiência irreversível: reposição contínua. (Ex: síndrome do intestino curto, anemia hemolítica crônica). Causa da deficiência reversível: reposição suspensa quando o fator causal for eliminado e a deficiência for corrigida. (Ex: deficiência induzida por drogas). Vitamina B12: Cianocobalamina (1.000 microgramas/ml) 1.000 microgramas IM a cada 7 dias, por 4 semanas, seguidos de 1.000 microgramas IM a cada 30 dias. Uso contínuo se causa irreversível. O intervalo entre as doses iniciais pode ser reduzido quando se objetiva rápido aumento dos níveis de vitamina B12. (Ex: deficiência grave com sintomatologia exuberante). Durante a manutenção, o intervalo pode ser aumentado gradativamente, devendo ser ajustado conforme os níveis séricos da vitamina. (Ex: a cada 3 meses, a cada 6 meses). Se a causa for reversível, a reposição pode ser suspensa quando o fator causal for eliminado e a deficiência for corrigida.
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