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ROSA O DILEMA DA SUPERMULHER - Rikart Souza

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
COM355 – CINEMA BRASILEIRO
ROSA: O DILEMA DA SUPERMULHER
Rikart Souza
RESUMO: Cada filme dialoga de forma única com o espectador e apresenta-lhe questões complexas e fundamentais que exigem maiores discussões e análises fora da tela. Conforme proposto pelo Prof. Dr. José Umbelino de Sousa P. B. (Comunicação e Cultura Contemporâneas), busquei utilizar o espaço da sala virtual para realizar tal feito e encontrei na personagem Rosa (Maria Ribeiro), do filme “Como Nossos Pais” (2017), o ponto chave para despertar a curiosidade do leitor e abordar um tema pouco conhecido e, ao mesmo tempo, extremamente relevante. Por meio de artigos, teses, sites e outras fontess, apresentarei a Síndrome e o Dilema da Supermulher, estabelecendo conexões diretas com a narrativa do filme, a personagem Rosa e a estrutura social brasileira.
Palavras-chave: Rosa; Dilema; Supermulher; Filme.
INTRODUÇÃO
Quem é Rosa? E o que acontece quando uma mulher moderna, mãe exemplar, dona de casa e independente percebe que ela não tem a solução para todos os problemas que a circundam? Para além das analogias de seu próprio nome, Rosa é extremamente fragmentada e alheia a tudo o que acontece ao seu redor. Sempre assumindo responsabilidades e problemas de outrem, ela agora terá de lidar, também, com o próprio abismo.
Roteirizado e dirigido por Laís Bodanzky (Bicho de Sete Cabeças; As Melhores Coisas do Mundo), e lançado em agosto de 2017, o filme “Como Nossos Pais”, premiado em 7 categorias do festival de Gramado, acompanha fragmentos do cotidiano de Rosa (Maria Ribeiro), uma mulher rodeada de conflitos pessoais e profissionais que recaem sobre ela continuamente.
A pressão de ser uma ótima mãe, esposa, dona de casa, excelente profissional e provedora do lar, chega ao estopim quando, em um jantar de família, a matriarca, Clarisse (Clarisse Abujamra), revela à Rosa que seu verdadeiro pai não é quem ela pensava. Perdida em seus próprios questionamentos, a protagonista se apega a si mesma e parte em uma busca para tentar resolver esse e outros novos-velhos conflitos que surgem como uma bola de neve. Minha intenção não é realizar um resumo de todo o filme, mas é importante situar a personagem na história para partirmos aos estudos mais aprofundados da mesma.
Rosa nutre uma relação problemática com a mãe desde a infância. Criada com pulso firme, ela trata Clarisse com indiferença até descobrir que a perderá em breve. Para além dessa conturbada relação, Rosa vive um casamento em crise com Dado (Paulo Vilhena), um marido ausente nas tarefas domésticas, na criação de suas filhas e que ela acredita estar tendo um caso com uma parceira de trabalho. A hipótese da traição é o suficiente para revelar uma ânsia já presente na heroína: render-se aos encantos do charmoso Pedro (Felipe Rocha), o pai de um dos colegas de escola de suas filhas. Homero (Jorge Mautner), pai de Rosa, é visto por ela como um homem doce e amável. Porém o novo vínculo de afeto, estabelecido entre mãe e filha, ajuda a protagonista a enxergar facetas de si mesma, e dos outros, que antes eram inacessíveis. Assim como as de Homero, que se revela um pai ausente, infiel e gigolô. Pouco a pouco, a imagem que Rosa tinha de seu pai de criação e de sua mãe vão se desfazendo, quase se alternando.
DESENVOLVIMENTO
Rosa é uma mulher que quer provar seu valor, tenta ser infalível em tudo que faz, uma moralista que não deixa brechas para críticas, mas que reconhece seu esgotamento e anseia pelo auxílio de seu marido. Frisando novamente a palavra “infalível”, traço um paralelo direto à simbologia do nome da protagonista; segundo o Dicionário dos Símbolos, “A Rosa simboliza a perfeição, o amor” e é nítida a aplicação de tais significados no comportamento da personagem. Seu amor é tamanho que ela sacrifica a si mesma para tentar agradar a todos. Inclusive é perceptível que Rosa deseja profundamente o respeito e reconhecimento de Clarisse, vide a cena do almoço em família em que ela compete com o marido pela atenção da mãe. Ao mesmo tempo, entra a palavra perfeita e faz alusão direta à questão do dilema da supermulher, infalível, a faz-tudo.
Não ouso confundir a “Síndrome da supermulher” com os sintomas que são apresentados pela protagonista. A ela atribuo a palavra “dilema”, visto que há algumas diferenciações entre os sintomas e o diagnóstico. A Síndrome da Supermulher também se trata de alguém que se precoupa tanto com os outros que acaba se esquecendo de si mesma, todavia, para além disso, é sobre mulheres que querem cuidar de tudo.: “A causa dessa condição é a autoexigência excessiva, o que leva a querer fazer tudo perfeitamente. Isso não é apenas difícil de conseguir, mas também pode levar a sintomas físicos, emocionais e mentais que revelam um alto nível de estresse.” (SOUMAMÃE, 2021)
A grande questão está na palavra “autoexigência”. No filme, podemos notar que Rosa cobra a si mesma, contudo grande parte da cobrança vem de fatores externos a ela, como a mãe, o trabalho e o marido. Outra grande diferença é que mulheres que sofrem com a Síndrome não deixam ninguém auxiliá-las, pois ninguém sabe fazer as coisas como elas; a personagem de Maria Ribeiro, por outro lado, deseja que alguém faça por ela, ajude-a nas tarefas, pois reconhece que, apesar de tentar resolver quase tudo, ela não é a mulher perfeita e infalível que dá conta do recado.
Rosa possuía alguns comportamentos da Sindrome e talvez, caso não embarcasse em uma aventura de autodescoberta transformadora, pudesse acabar desenvolvendo a mesma; mas a diretora optou por seguir explorando outras abordagens.
No decorrer da trama, são estabelecidos diversos paralelos geracionais e comportamentais, ainda assim é interessante observar as caracteísticas únicas atribuídas às personagens femininas e seu simbolismo político. A avó Clarisse; que viveu durante a era hippie, explorou sua liberdade sexual e ainda guarda os valores de uma criação mais severa; A mãe Rosa, que reproduz valores tradicionais e moralistas, mas que já começa a falar de feminismo, questionando os papéis do masculino e do feminino; A irmã Caru (Antônia Baudouin), que traz a abordagem da sexualidade não normativa junto a um discurso de combate ao modelo patriarcal de família baseado na mentira e na hipocrisia; e, por fim, a filha Nara (Sophia Valverde), uma criança que já demonstra seu interesse por liberdade e que brada pelo desejo de ir à escola de bicicleta. As diferentes idades e comportamentos entre as personagens demonstram um crescente empoderamento feminino.
No roteiro de Laís Bodanzky, o personagem de Pedro é colocado como o oposto de Dado. Ele é um homem maduro que cuida do filho, participa das reuniões da escola, demonstra interesse em Rosa, incentiva ela a voltar a escrever e à ajuda a reencontrar a paixão, mesmo que por um instante. Entre esses dois persoagens são abordadas as questões da liberdade sexual feminina, por meio da relação extraconjugal, e o feminismo erótico, tema explorado na peça escrita por Rosa. Esse amor que foge às regras da monogamia é o que conhecemos por Amor Moderno.
Vale mencionar que, na estreia desse filme, fazia 44 anos que o tema da liberdade sexual feminina tinha tentado adentrar as salas de cinema com a produção: “Os homens que eu tive” (1973), de Tereza Trautman. Não obstante, o filme sofreu forte censura e ficou interditado até 1980, simplesmente porque retratava jovens buscando uma maneira livre de viver e em especial porque centrava-se em uma mulher casada (Pity) que possuía, abertamente, relações extraconjugais. Apesar dos avanços em relação à não proibição de falar sobre tais temas na atualidade, ainda existe um forte estigma em relação às mulheres que possuem amantes, porém, hipocritamente, a via inversa é tratada com total normalidade nos telões. Ademais, no próprio filme “Como Nossos Pais”, se formos comparar Clarisse falando sobre todo homem trair, como se não fosse nada, com a reação de Dado quando Rosa fala que se apaixonou por outro homem, obteremos este contraste.Até o início do Séc. XX, o amor era algo sólido, que partia única e exclusivamente do homem para a mulher e esta deveria se render à ele, como quem não tem sentimentos próprios. Entretanto, com a quebra da ciência como detentora da verdade, os cientistas modernos passaram a não mais definir as coisas como única verdade, mas sim como uma percepção ou variável. A partir desse movimento crescente, o amor deixa de ser uma via de mão única. Morre o amor clássico e surgem os amores líquidos da modernidade.
“O amante quer ser o mundo do outro e também quer que o mundo do outro se revele a partir dele. Seu principal objetivo é ser amado. Contudo, o amor do amante revela-se um projeto de sedução. Na sedução, o amante se comporta como um objeto de fascínio, não revela sua subjetividade e se arrisca, buscando uma significação para ele mesmo na percepção do outro.” (ALCÂNTARA, Patrícia. p. 20)
Tal artifício foi utilizado por Pedro, ao fazer papel de desempedido para atrair Rosa. Ele transformou a traição, que Rosa odeia, em um sentimento de culpa para a personagem, que depois de tanto julgar a proximidade do marido com uma colega de trabalho, acaba por ser a pessoa que efetivamente (dentro do que nos foi revelado) traiu a relação. Posteriormente o desabafo e a sinceridade acabam por reaproximar Rosa e Dado por um instante, com ele chegando a cogitar relação aberta. O que seria uma proposta chocante, se não estivéssemos no século XXI. Segundo informações do canal do Youtube “Tedx Talks” (2018), o amor fluido se torna uma possibilidade plausível para casais que cansam da rotina e/ou que já tiveram experiências diversas e entendem que não podem esperar que uma única pessoa seja o complemento de tudo e realize todas as suas vontades. A nível de curiosidade, Redes Sociais que organizam swing, orgias ou mesmo outras voltadas para pessoas poligamicas têm ganhado cada vez mais espaço na internet.
“No cinema moderno, o apaixonado percorre a cidade e perambula pelos lugares como perambula emocionalmente diante da vida. Da mesma forma, o diálogo passeia pelos assuntos como quem vaga sem nenhum destino definido” (ALCÂNTARA, Patrícia. p. 50).
Poderia me estender ainda mais desenvolvendo questões ligadas ao amor moderno, à relação entre Rosa, Dado e Pedro, à Clarisse e sua despedida melódica, mas vou me ater a concluir tais explanações.
A descoberta de outro pai que não queria ligação com a filha, o marido que não ajudava nas tarefas de casa, o emprego que ela não gostava, a irmã que veio morar em casa por um tempo de repente, os pais (biológico e de criação) que não arcavam com suas responsabilidades, a mãe morrendo de câncer, uma filha rebelde, o homem que a conquistou com mentiras... Esses são alguns dos problemas e dilemas com que Rosa teve de lidar. Mas não se engane, o filme nunca foi sobre resolver ou não os conflitos, tais questões foram apenas artfícios utilizados para acompanhar algo ainda maior: a transformação pessoal, o “florescer” da personagem Rosa em meio à busca por respostas e por novos questionamentos.
CONCLUSÃO
Em “Como Nosso Pais” acompanhamos a reconstrução de uma personagem complexa e fragmentada. Rosa vivia pelas necessidades e expectativas de outras pessoas; já não possuía paxião ou vigor nas primeiras cenas do filme. É na revelação do grande segredo, na queda de mais um pedaço de sua identidade, que a personagem enfrenta a própria rotina e se reconhece como mulher vivendo em uma sociedade machista, se reconecta com o próprio corpo, com as paixões e outros fragmentos e constrói uma nova versão de si mesma.
Rosa é a representação de mais da metade dasfamílias brasileiras, de mulheres que sacrificam a própria saúde para dar conforto aos que lhe são queridos, dessas que chamamos de mãe, irmã, prima, tia, avó, cunhada, sogra, filha, etc. Rosa é o reflexo de uma geração de mulheres que lidam com dupla carga de trabalho, que almejam independência financeira e de 11,6 milhões de mães solo (segundo dados do IBGE, 2005-2015) que são as únicas provedoras de seus filhos, geralmente por consequência de abandono paterno. É necessário destacar que não é dever da mulher arcar, sozinha, com todas as responsabilidades atribuídas à construção de uma família.
A grande problemática é que essas mulheres podem parecer super-heroínas, ou “guerreiras” como alguns preferem usar na internet, podem parecer indestrutíveis, inquebráveis, mas elas são humanas, com sentimentos e dores reais. Como a Rosa, “perfeita”, contém espinhos que machucam. Para finalizar, se vocês ainda estão se perguntando sobre “O que acontece quando uma mulher moderna, mãe exemplar, dona de casa e independente percebe que ela não tem a solução para todos os problemas que a circundam?” Bom, eu trago duas respostas: Se tratando do filme, eu afirmo que ela parte em uma jornada de autodescoberta para encontrar respontas ou caçar mais perguntas. Por outro lado, se tratando de Clarisses e Naras de nossa sociedade, uma das grandes consequências de lidar com essa pressão acumulada e autocobrança é o que conhecemos como “o mal do século”: a depressão (Psicanálise Clínica, 2020). Portanto é imprescindível manter-se atento a possíveis sintomas de Síndrome da Supermulher e cuidar de quem cuida da gente.
Falar sobre um aspecto desse filme é muito especial pra mim. Sempre fui apaixonado pela canção e o momento que o filme me ganha é com Clarisse tocando a melodia no piano. Brademos o canto da nova estação que se aproxima. Sejamos mais livres e vivamos nossas vontades intensamente, assim como nosso pais...
REFERÊNCIAS
ADOROCINEMA. Créditos. Disponível em: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-245910/creditos/>. Acesso em: 01 jul. 2022.
ALCÂNTARA, Patrícia Colmenero Moreira de. O amor no cinema contemporâneo: O construtor de sereias. Universidade de Brasília, p. 20, p. 50. Fev. 2013.
CLÍNICA, Psicanálise. Mal do Século: um guia sobre Depressão. Acesso em: <https://www.psicanaliseclinica.com/mal-do-seculo/>. Acesso em: 04 jul. 2022.
GUIMARÃES, Vítor. Crítica: Como Nossos Pais. Disponível em: <https://observatoriodocinema.uol.com.br/criticas/2017/08/critica-como-nossos-pais>. Acesso em: 01 jul. 2022.
HOLANDA, Karla. Cinema Brasileiro (Moderno) de Autoria Feminina. Papirus Editoria. P. 03-05.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Conversas - 1948. 1ª Edição. São Paulo: Livraria Martins Fontes. 2004.
SÍMBOLOS, Dicionário de. Rosa. Disponível em: <https://www.dicionariodesimbolos.com.br/rosa/>. Acesso em: 02 jul. 2022.
SOUMAMÃE. Síndrome da Supermulher: fazer tudo sem pedir ajuda. Publicado em out. 2021. Disponível em: <https://soumamae.com.br/sindrome-supermulher-fazer-tudo-pedir-ajuda/>. Acesso em: 01 jul. 2022.
TALKS, Tedx. Monogamia pra quem? Como estamos reinventando os relacionamentos | Mayumi Sato |. Youtube, 14 abr. 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=O9Zd62wNyCU>. Acesso em: 30 jun. 2022.
VELASCO, Clara. Em 10 anos, Brasil ganha mais de 1 milhão de famílias formadas por mães solteiras. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/em-10-anos-brasil-ganha-mais-de-1-milhao-de-familias-formadas-por-maes-solteiras.ghtml>. Acesso em: 02 jul. 2022.

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