Buscar

IDENTIDADE CATEGORIAL E FUNÇÃO DOS IDEOFONES

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 347 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 347 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 347 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA 
CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA 
 
 
 
 
 
 
Tese de Doutorado 
 
 
 
 
 
 
IDENTIDADE CATEGORIAL E FUNÇÃO DOS IDEOFONES 
DO CHANGANA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EZRA ALBERTO CHAMBAL NHAMPOCA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis/SC, março de 2018 
 
 
 
 
EZRA ALBERTO CHAMBAL NHAMPOCA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IDENTIDADE CATEGORIAL E FUNÇÃO DOS IDEOFONES DO 
CHANGANA 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tese apresentada ao Programa de 
Pós-Graduação em Linguística da 
Universidade Federal de Santa 
Catarina, como requisito para 
obtenção do grau de Doutora em 
Linguística. 
Orientador: Heronides Maurílio de 
Melo Moura 
 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis/SC, Março de 2018 
 
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,
 através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.
Nhampoca, Ezra Alberto Chambal 
 Identidade categorial e função dos Ideofones do
Changana / Ezra Alberto Chambal Nhampoca ;
orientador, Heronides Maurílio de Melo Moura, 2018.
 347 p.
 Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa
Catarina, Centro de Comunicação e Expressão,
Programa de Pós-Graduação em Linguística,
Florianópolis, 2018.
 Inclui referências. 
 1. Linguística. 2. Ideofones do changana. 3.
categoria gramatical. 4. Semântica de Frames. 5.
função, marcação. I. Moura, Heronides Maurílio de Melo
. II. Universidade Federal de Santa Catarina.
Programa de Pós-Graduação em Linguística. III. Título.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao meu esposo, irmão no amor e na 
academia; 
Às minhas filhas, a sempre minha tripla 
imbatível; 
 Aos meus pais, que me mostraram o 
caminho da escola, 
Eis aqui a nossa TESE! 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Primeiro a Deus e a todo o meu Sistema Familiar por permitirem 
que eu seja o que fui, o que sou e o que serei. 
Ao CNPq pela concessão da bolsa de estudos para a realização da 
presente pesquisa. 
À Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), esta outra, 
agora também minha casa, por me ter acolhido e me tornado parte de sua 
história. Voltarei sempre. 
Ao meu orientador, Heronides Maurílio de Melo Moura, por ter 
aceite o desafio de trabalhar comigo ainda em Moçambique, sem nem 
sequer me conhecer; pela boa convivência ao longo dos quatro anos do 
Doutorado; pela sábia orientação e pelo muito interesse que demonstrou 
pelo meu objeto de estudo. – Gratidão eterna, Professor. 
Às professoras que compuseram a minha Banca de defesa, Ana 
Lívia dos Santos Agostinho, Ana Paula Brandão, Carla Regina Martins 
Valle, Edair Maria Görski e Maria Leonor Maia Santos, muito obrigada 
pelo aprendizado. 
Ao meu pai acadêmico, o meu orientador de graduação, mestrado 
e, como sempre reitero, meu orientador da e na vida, Bento Sitoe. Prof., 
palavras me faltam para expressar o meu eterno Khanimambu. 
Ao amor da minha vida, Joaquim Nhampoca pelo apoio e amor de 
sempre em todas as situações, momentos e condições, com apenas uma 
condição, o amor. 
À minha tripla imbatível, minhas três meninas, Ndawina, Maya 
Luna e Dominique Joaquina, por compreenderem sempre esta minha 
condição de mãe-pesquisadora-mãe e pelo amor, mimos e embalos 
principalmente durante os quatro anos em que moramos no Brasil. E como 
sempre digo, nos nossos chás: meninas, se não seguirem o exemplo de 
mãe e pai, não será por falta de referência. – Amo-vocês! 
Aos meus pais, Amélia Tavares Cuinica (em memória) e Alberto 
Chambal, pelo amor e pela sabedoria - meus mentores, meus primeiros 
mestres, que contrariando toda a ordem social vigente na época, em que o 
destino de muitas meninas na aldeia onde cresci, era o casamento, muitas 
vezes prematuro, sempre permitiram, apoiaram as minhas escolhas e 
incentivaram-me a lutar pelos meus sonhos. Pai você é tão sábio que soube 
tanto esperar o meu regresso sem reclamar e dando graças em tudo, tua 
recompensa chegou – tua primogênita é a primeira PhD da família, viu! 
Aos meus irmãos: Sandra, Filipe, Mavone, Salomão, Titos, Daniel, 
Lázaro, Alex, Helton, pelo amor, mesmo à longa distância. 
 
A toda minha família alargada, primos, tios, sobrinhos, afilhados, 
etc. que entenderam o meu afastamento durante os quatro anos do 
doutorado. Com destaque para a minha avó, Rafina Ngovene – obrigada 
vó, por ser essa pessoa serena e maravilhosa e, ainda passar o teu 
testemunho para nós. 
À Tina, minha irmã de alma que tanto se doa para cuidar e amar a 
mim e a minha família. Amiga, o meu eterno obrigada por tudo. 
Ao Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade 
Federal de Santa Catarina e às professoras e professores do mesmo, em 
particular os que foram diretamente meus professores, ao longo dos quatro 
anos: Ana Paula Brandão, Carlos Alberto Antunes Maciel (PPGET), 
Cristine Görski Severo, Edair Görski, Fábio Luiz Lopes da Silva, Gilvan 
Muller de Oliveira, Heronides Maurílio de Melo Moura, Isabel de Oliveira 
e Silva Monguilhott, Izete Lehmkuhl Coelho, Leandra Cristina de 
Oliveira, Maria Inez Probst Lucena, Sandra Quarezemin e Tarcísio de 
Arantes Leite. Obrigada, professoras e professores. 
A todos os colegas do Programa de Pós-Graduação em Linguística 
da Universidade Federal de Santa Catarina, pelo acolhimento, 
convivência e apoio durante o tempo de formação. 
Aos colegas do NES, Daiana do Amaral Jeremias, Dorival 
Gonçalves Santos Filho, Giovana Reis Lunardi, Giuseppe Freitas da 
Cunha Varaschin, Guilherme Ribeiro Colaço Mäder, Helen Petry, Lucas 
Mário Dacuña Badaracco, Rafaela Miliorini Alves De Brito e Valéria 
Cunha Dos Santos, pelo acolhimento e lições apre(e)ndidas. 
Às colegas e aos colegas do grupo de Pesquisa em Políticas 
Linguísticas Críticas da Universidade Federal de Santa Catarina. - Só 
tenho a agradecer por tudo que aprendi com vocês e pelo imenso amor! 
À Evelise Santos Sousa e ao Lucas, Rovaris Cidade, pelo carinho 
e pela eficiência no atendimento durante o Doutorado. 
A todos os colegas e professores da UEM – Moçambique, minha 
universidade de proveniência, em especial a : Abudo Machude, Aurélio 
Cuna, Camilo Manusse, Crisófia Langa, Davety Mpiúka, David Langa, 
Etelvino Guila, Félix Tembe, Gervásio Chambo, Henrique Mateus, Inês 
Machungo, Joaquim Razão, Julieta Langa, Lucílio Manjate, Lurdes 
Balbina, Manuel Guissemo, Marcos Nhapulo, Mariamo Aly, Maurício 
Bernardo, Narciso Gastene, Nataniel Ngomane, Nelsa Nhantumbo, Óscar 
Fumo, Pércida Langa, Rosa Mitelela, Quiraque, Samima Patel, Vasco 
Magona, Víctor Justino, Zacarias Simango, pela força que sempre me 
deram, mesmo à distância. 
Aos queridos Roselete Fagundes Aviz (Rose) e Jô pelo 
acolhimento, amor e carinho durante minha estadia no Brasil. 
À mana Letícia Ponso, ao professor Fábio Duarte e aos manos 
Alexandre Timbane, David Langa, Ezequiel Pedro José Bernardo, Manuel 
da Silva Domingos, Manuel Guissemo, Nsimba José e Raul Balate Júnior 
por todas as dicas fornecidas durante o doutorado. Ainda mais pela 
parceria acadêmica fortalecida entre nós. – Vocês foram e serão 
fundamentais sempre. 
À Comunidade moçambicana em Florianópolis (MozForipa), uma 
verdadeira família na diáspora – vocês serão sempre a minha família. 
Especialmente ao meu grande amigo, companheiro de trincheira durante 
os quatro anos de formação, Policarpo Matiquite, aos meus mupfanas 
Domingos Lusitâneo Pier Macuvele (meu irmão “colaço”), Hélder Pires 
Amâncio, Hélio Maúngue, Jonas Valente Matsinhe e, às minhas caçulas: 
Joana Beira, Liendina Chirindza, Marta Maputere, Valentina Alfredo e 
Virgínia Muchanga. – Obrigada por tudo, vocês me ensinaram que quando 
cuidamos uns dos outros, é mais fácil caminhar. 
A todos os irmãos e irmãs da comunidade africana em 
Florianópolis, pela boa convivência, respeito e amor! UBUNTU sempre! 
Às irmãs e irmãos da IgrejaPresbiteriana do Brasil (IPT + IPA), o 
meu muito obrigada pelo acolhimento e amor. – vocês me ensinaram que 
o amor em Cristo quando é verdadeiro, é universal. 
A todos os amigos brasileiros, moçambicanos e no mundo todo e 
suas famílias, especialmente à: Adja Durão, Adriana de Souza Broering, 
Aduzindro Almeida, Alexandre Cohn da Silveira, Aline Vasconcelos 
Marques, Álvaro de Azevedo Diaz, Ana Paula Costa, Benigno Lopes, 
Bianca Campos, Carlos Borges Júnior, Charlott Eloize Leviski, Cristiane 
Morales Pereira, Daiana Jeremias, Daniela Brito, Diana Azeredo, Dona 
Amélia Malhanguana, Dona Zenaíde, Éderson Silveira, Edite Guila, 
Florência Nhanengue, Heloísa Tramontim de Oliveira, Ilka Boaventura 
Leite, Ivon Cuervo, João Chivale, Josiane Gonçalves, Kaionara Santos, 
Karla Gripp Couto de Mello, Luísa Filho, Luísa Matine, Márcia Regina 
Toledo, Maria Cristina Macedo Alencar, Maria da Penha Ferreira Ângelo, 
Nadir Mahomed, Neusa Coutinho, Poliana Wodzik Haubert, Roberta Lira, 
Sara Farias da Silva, Sil-Lena Oliveira, Solita Almeida, Sónia Samuel 
Sitoe, Thelmely Torres, Tiago Cardoso, Valéria Cunha dos Santos, Vera 
Fátima Gasparreto, Vinícius Marcelo Pedreira da Silva, Wagner Ângelo, 
e Yéo N’gana. – Obrigada por cuidarem tanto de mim e de minha família, 
espero um dia poder retribuir tamanho amor! 
Ao Colégio Beatriz de Souza Brito, pelo acolhimento que deram a 
mim e as minhas filhas, melhor colégio! – Obrigada por tudo. 
 
Às Creches Anjinho da Guarda e Nossa Senhora Aparecida, dois 
lugares que participaram ativamente na criação e aprendizado da 
Dominique durante nossa estadia no Brasil. 
 A todos os meus estudantes do passado, presente e futuro, 
espalhados pelo mundo, por serem eternamente parte da minha grande 
motivação para seguir sempre! 
A Todos que de alguma forma, participaram deste processo e que 
porventura, não tenham sido citados nestas páginas, vai o meu grande 
Khanimambu! Com certeza, seus nomes estão escritos nas páginas do meu 
coração. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “Se você falar com um homem 
numa linguagem que ele 
compreende, isso entra na cabeça 
dele. Se você falar com ele em sua 
própria linguagem, você atinge seu 
coração.” 
(Nelson Mandela, líder africano) 
 
 
 
RESUMO 
No presente trabalho nos debruçamos sobre ideofones do changana, uma 
língua bantu falada em Moçambique. Nosso objetivo principal era analisar 
e discutir a identidade categorial e função dos ideofones do changana. E 
como objetivos específicos: 1) apresentamos o funcionamento básico da 
língua changana, recorrendo a autores da linguística bantu africana. 2) 
analisamos o funcionamento dos ideofones de acordo com teorias da 
marcação, em virtude de ideofones serem unidades lexicais marcadas. 
Para tal, analisamos os ideofones de acordo com o Princípio da Marcação 
de Givón (1995 e 2001) e, também de acordo com a teoria da Marcação 
Tipológica desenvolvida por Croft (2000 e 2001), na sua Gramática de 
Construções Radical. 3) analisamos o significado dos ideofones de acordo 
com a Semântica de Frames, desenvolvida por Fillmore (1982) e 
colaboradores. Os dados foram coletados a partir de dois instrumentos 
lexicográficos, uma base de dados de ideofones do changana (Nhampoca, 
2010) e o dicionário Changana-Português (Sitoe, 2011) de onde 
selecionamos 10 ideofones. Em termos metodológicos, recorremos ao 
método bibliográfico, à introspecção, às metodologias usadas na 
Gramática de Construções Radical, no Princípio da Marcação e na 
Marcação Tipológica e, para analisar os frames ideofônicos, recorremos à 
plataforma FrameNet. Tomamos como referenciais teóricos, estudiosos 
como Sitoe (1991, 1996 e 2011); Ngunga (2004); Nhampoca (2009, 2010 
e 2016); Ribeiro (2010); Langa (2013); Júnior (2016); Croft (2000 e 
2001); Silva e Batoréo (2010); Gabas Jr. e Auwera (2004); Givón (1995 e 
2001); Bybee (2010); Fillmore (1982 e 1988); Salomão (2009a e 2009b); 
Pires (2010) Moura (2012 e 2015); Ferrari (2014;); entre outros. Os 
resultados mostraram que, ideofones do changana são palavras marcadas. 
Mostraram também que, ideofones centralizam os elementos de frames 
tidos como não nucleares/centrais na plataforma FrameNet, fazendo com 
que esses elementos não nucleares se tornem centrais para a análise do o 
seu significado. Concluímos igualmente, que ideofones, além de 
predicadores, constituem uma classe de expressão de modo no changana. 
E, verificamos, também, que, na língua changana, ideofones constituem 
uma categoria gramatical que se enquadra na classe nominal 15, 
juntamente com os verbos. Quanto à sua função, verificamos que 
ideofones desempenham a função predicadora, assim como os verbos, 
predicam ações de entidades, embora ambos o façam de formas diferentes. 
Palavras-chave: Ideofones do changana, categoria gramatical,Semântica 
de Frames, função, marcação. 
 
 
ABSTRACT 
The present work deals with ideophones of the changana language, a 
language of the bantu group, spoken in Mozambique. The aim of the study 
was to analyze and discuss the categorical identity and function of the 
changana ideophones as well as analyze their meanings according to 
Frame Semantics. The main discussion is based on theories of Cognitive 
Linguistics, basically, the Radical Grammar of Constructions and Frames 
Semantic. A long with we analysed questions concerning to marking 
because ideophones are marked lexical units. We used secondary data 
from two lexicographic instruments - a database of changana ideophones 
(NHAMPOCA 2010) and the Changana-Portuguese dictionary (Sitoe 
2011) – where we extracted a sample of 10 ideophones for analysis using 
the theories of the principle of marking typology. To analyze the 
ideophonic frames we used the the FrameNet platform and, as theoretical 
references we based on the studies of Croft, 2000 and 2001; Fillmore 1982 
and 1988; Salomão 2009a and 2009b; Pires 2010; Moura 2012 and 2015; 
Givón 1995 and 2001; Silva and Batoréo, 2010; Ferrari 2014; Bybee, 
2010. The result as shown that changana ideophones are marked words 
that describe events/actions which are specific to the language. Onother 
conclusion is that in changana, ideophones form a grammatical category 
which belongs to the nominal class 15, along with the verbs. To what 
concern to the function, we noted that ideophones perform the preaching 
function, just as verbs, however, both verbs and ideophones, preach in 
different ways. Ideophones centralize the elements seen as not nuclear in 
the characterization of the frames connected to them, making these 
elements become nuclear for the analysis of their meanings. As the Mode 
element is the most highlighted we concluded that ideophones are not only 
marked preachers but also mode expression class in changana language. 
Key words: Changana ideophones, grammatical category, function, 
Frames Semantic, markedness. 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
Figuras 1 - Mapa, hino nacional, bandeira e emblema da República de 
Moçambique .......................................................................................... 41 
Figura 2 - Mapa linguístico de Moçambique ........................................ 42 
Figura 3 - Esquematização da estrutura do significado do ideofone ... 260 
Figura 4 - Esquematização da estrutura do significado do verbo ........ 261 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
Quadro 1 - Posição de vários autores sobre o número de línguas bantu 
faladas em Moçambique ........................................................................ 43 
Quadro 2 - Vogais do changana ............................................................ 77 
Quadro 3 - Consoantes do changana ..................................................... 83 
Quadro 4 - Alfabeto do changana.......................................................... 87 
Quadro 5 - Grupos consonânticos......................................................... 89 
Quadro 6 - distinção entre acento e tom ................................................ 93 
Quadro 7 - Classes nominais do changana ............................................ 97 
Quadro 8 - Marcas de concordância no changana ............................... 112 
Quadro 9 - Extensões verbais do changana ......................................... 116 
Quadro 10 - Evolução das principais classes de palavras ................... 178 
Quadro 11 - Ideofones selecionados ................................................... 212 
Quadro 12 - Elementos de frames não nucleares ................................ 262 
Quadro 13 - Espaço conceitual para as partes do discurso .................. 270 
Quadro 14 - Espaço conceitual para as partes do discurso do changana
 ............................................................................................................. 271 
Quadro 15 - Tabela comparativa das características de Nomes, Verbos,
 ............................................................................................................. 279 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
Gráfico 1 - Frames nucleares e não nucleares ..................................... 264 
Gráfico 2 - Elementos de frames não nucleares .................................. 265 
Gráfico 3 - Distribuição dos 38 elementos frames não nucleares ....... 266 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
Adj. Adjetivo 
Adv. Advérbio 
APL. Extensão aplicativa 
ASS. Partícula associativa 
CAUS. Extensão causativa 
ChaPort Dicionário Changana - Português 
COND. Condicional 
Conj. Conjunção 
CONT.FUT. Futuro contínuo 
DICH Dicionário de ideofones do changana 
DIM. Extensão diminuta 
Ex. Exemplo 
EXCL Partícula/morfema de exclusividade 
FREQ. Extensão frequentativa 
FUT. Futuro 
FUT.EXCL. Futuro exclusivo 
Id. Ideofone de ou ideofone com o significado de 
ID. Ideofone de ou ideofone com o significado de 
Idfzdor ideofonizador 
IdN Ideofone nominalizado 
IMP. Marca de imperfectivo 
INE Instituto Nacional de Estatística 
INT. Extensão intensiva 
Int. de Interjeição de 
LOC. Locativo 
MEXOR. Modo exortativo 
MIMP. Modo imperativo 
MO Marca de objeto 
MP Marca de passado 
MPOT. Modo potencial 
MPPC. Marca de passado perfectivo complexo 
MS Marca de sujeito 
NEG Marca de negação 
 
NELIMO Núcleo de estudos de Línguas moçambicanas 
NEU Extensão neutra 
PAC. Passado anterior complexo 
PACIC. Passado anterior complexo imperfectivo 
complexo 
PACIE. Passado anterior complexo imperfectivo exclusivo 
PAbs. Pronome absoluto 
PAgt. Partícula agentiva 
PASS. Extensão passiva 
PDem. Pronome demonstrativo 
PERF. Extensão perfectiva 
PER. Extensão persistiva 
PF Partícula de frequência 
PGen. Partícula genetiva 
PIMP. Passado imperfeito 
Pmci Partícula modal, causal e instrumental 
PRel. Pronome relativo 
PREP. Preposição 
PRES. Presente 
PRES.CONT Presente contínuo 
PRES. EXCL. Presente exclusivo 
PRES.FAT. Presente factual 
PRES.HAB. Presente habitual 
PT Partícula temporal 
REC. Extensão recíproca 
Singular Singular 
SUBj Subjuntivo 
V. Verbo 
VAdj. Verbo adjetival 
VDef. Verbo defectivo 
VF Vogal final 
v.i. Verbo intransitivo 
v.t. Verbo transitivo 
 
Nota1: Os números presentes nos exemplos, ao longo do trabalho indicam 
a classe nominal. No changana a maior parte das classes nominais 
funciona aos pares. As classes sao: 
1-2 (mu-va). 
3-4 (mu-mi). 
5-6 (ri|li-ma). 
7-8 (xi-svi). 
9-10 (yi-ti). 
11-10 (ri|li-ti) – assim como a classe 9, a classe 11 faz plural com a classe 
10. 
14 (vu|wu ) – é a classe dos nomes abstratos - não possui plural. 
15 (ku) – é a classe dos predicadores: classe dos verbos e ideofones. 
16, 17 e 18 (ha, ku e mu) – são as classes locativas. 
21 (ji) – é a classe dos aumentativos pejorativos - muitas vezes sem plural. 
Em algumas exceções pode fazer plural com a classe 6 (ma). 
 
Nota 2: Para evitar sobrecarregar a lista das abreviaturas, não 
apresentamos separadamente, na lista de abreviaturas, aquelas compostas 
por abreviaturas já contidas na mesma lista. Por exemplo, se em algum 
exemplo ocorrer: VDef./EXCL., isso significa que o morfema em causa 
representa, simultaneamente o verbo defectivo (VDef.) e a partícula de 
exclusividade (EXCL.), pelo que não apresentaremos a abreviatura 
VDef./EXCL. 
 
 
 
SUMÁRIO 
CAPÍTULO I ....................................................................................... 33 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................ 33 
1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA ............................. 33 
1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................. 35 
1.3 OBJETIVOS .................................................................................... 37 
1.4 PROBLEMATIZAÇÃO ................................................................... 37 
1.5 HIPÓTESES ..................................................................................... 39 
1.6 MOÇAMBIQUE .............................................................................. 40 
1.6.1 As línguas bantu de Moçambique .............................................. 41 
1.6.2 A língua changana em Moçambique e na África ...................... 44 
CAPÍTULO II ...................................................................................... 47 
2. IDEOFONES EM ALGUMAS LÍNGUAS DO MUNDO E NO 
CHANGANA: TENTATIVAS DE DEFINIÇÃO E 
CLASSIFICAÇÃO .............................................................................. 47 
2.1 TENTATIVAS DE DEFINIÇÃO DE IDEOFONES ....................... 47 
2.2 IDEOFONES EM ALGUMAS LÍNGUAS DO MUNDO ............... 50 
2.3 IDEOFONES DO CHANGANA ..................................................... 53 
2.3.1 Aspectos de morfologia dos ideofones do changana ................. 55 
2.3.1.1 Estrutura dos ideofones do changana ......................................... 55 
2.3.1.2 Ideofones simples e complexos .................................................. 63 
2.3.1.3 Ideofones derivados de verbos ................................................... 66 
2.3.1.4 Nomes e verbos derivados de ideofones .................................... 68 
2.3.2 Tipologia dos ideofones do changana ........................................ 71 
CAPÍTULO III .................................................................................... 77 
3 ASPECTOS BÁSICOS DO FUNCIONAMENTO DA LÍNGUA 
CHANGANA ....................................................................................... 77 
3.1 ASPECTOS DE FONÉTICA E FONOLOGIA ............................... 77 
3.1.1 O sistema vocálico ....................................................................... 77 
3.1.2 O Sistema consonântico .............................................................. 82 
3.1.3 O alfabeto ..................................................................................... 86 
3.1.3.1 Vogais e consoantes ................................................................... 87 
3.1.3.2 Grupos consonânticos ................................................................ 88 
 
3.1.4 O tom e o acento .......................................................................... 90 
3.1.4.1 O tom ......................................................................................... 90 
3.1.4.1.1 O tom lexical ........................................................................... 90 
3.1.4.1.2 O tom gramatical ou sintático ................................................. 91 
3.1.4.2 O acento ..................................................................................... 92 
3.1.4.3 Distinção entre tom e acento ...................................................... 92 
3.2 PARTES DO DISCURSO EM CHANGANA E ASPECTOS DE 
MORFOLOGIA .....................................................................................94 
3.2.1 O nome, classes nominais e concordância no changana .......... 94 
3.2.1.1 O nome ....................................................................................... 94 
3.2.1.2 Classes nominais no changana ................................................... 95 
3.2.1.3 Concordância no changana ...................................................... 111 
3.2.2 O verbo no changana ................................................................ 114 
3.2.2.1 Extensões verbais do changana ................................................ 115 
3.2.2.2 Tempo Aspecto e Modo ........................................................... 129 
3.2.2.2.1 Tempo e Aspecto .................................................................. 129 
3.2.2.2.2. Modos verbais ...................................................................... 140 
3.2.3 O adjetivo no changana ............................................................ 144 
3.2.4 O advérbio no changana ........................................................... 147 
CAPÍTULO IV ................................................................................... 153 
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................... 153 
4.1 IDEOFONES DO CHANGANA E MARCAÇÃO ....................... 153 
4.2 LINGUÍSTICA COGNITIVA: BREVE HISTÓRIA E SEU(S) 
CAMPO(S) DE ATUAÇÃO ................................................................ 156 
4.2.1 Gramática Cognitiva ................................................................. 160 
4.2.1.1 Gramática de Construções Radical .......................................... 162 
4.2.2 Semântica Cognitiva ................................................................. 163 
4.2.2.1 Semântica de Frames e frames ................................................. 165 
4.2.2.1.1 Elementos de frame ............................................................... 170 
4.3 SOBRE CATEGORIAS GRAMATICAIS .................................... 172 
4.3.1 Nomes, verbos, adjetivos, advérbios na visão tradicional e 
descritiva e definição das classes de palavras .................................. 180 
4.3.2 A abordagem da Linguística Cognitiva na definição de classes 
de palavras: o modelo da Gramática de Construções Radical de 
William Croft ...................................................................................... 183 
CAPÍTULO V .................................................................................... 187 
5. METODOLOGIAS ....................................................................... 187 
5.1 METODOLOGIAS DE COLETA DE DADOS ............................ 187 
5.1.1 Para o estabelecimento do corpus do DICH ........................... 187 
5.1.1.1 Coleta de contos e histórias de vida ......................................... 187 
5.1.2 O ChaPort 1 e ChaPort 2 ........................................................... 189 
5.1.2.1 O ChaPort 1 ............................................................................. 189 
5.1.2.2 O ChaPort 2 ............................................................................. 192 
5.1.2.3 Seleção do material e estabelecimento do corpus para o ChaPort 
1 ............................................................................................................ 193 
5.1.3 Pesquisa bibliográfica ............................................................... 194 
5.1.4 Introspecção ............................................................................... 194 
5.2 METODOLOGIA DE ANÁLISE DE DADOS ............................. 195 
CAPÍTULO VI .................................................................................. 203 
6 ANÁLISE DE DADOS ................................................................... 203 
6.1 ANÁLISE DOS IDEOFONES DO CHANGANA DE ACORDO 
COM O PRINCÍPIO DE MARCAÇÃO E MARCAÇÃO TIPOLÓGICA 
E MARCAÇÃO ................................................................................... 203 
6.2 ANÁLISE DOS IDEOFONES DO CHANGANA COM BASE EM 
SEMÂNTICA DE ................................................................................ 211 
6.2.1 Os ideofones selecionados ......................................................... 211 
6.2.2 Frames ideofônicos .................................................................... 214 
6.2.2.1 Análise do ideofones –bùtà ...................................................... 214 
6.2.2.2 Análise do ideofone –cambùcambù.......................................... 218 
6.2.2.3 Análise do ideofene –cèdu ....................................................... 227 
6.2.2.4 Análise do ideofone –dèke ....................................................... 230 
6.2.2.5 Análise do ideofone -foo .......................................................... 236 
6.3.2.6 Análise do ideofone –gàbi-gàbi ................................................ 239 
6.2.2.7 Análise do ideofone –gidigidi .................................................. 242 
6.2.2.8 Análise do ideofone -khèhlè ..................................................... 245 
6.2.2.9 Análise do ideofone –pshandlá ................................................. 249 
 
6.2.2.10 Análise do ideofone –wàà ...................................................... 257 
6.3 IDENTIDADE CATEGORIAL E FUNÇÃO DOS IDEOFONES DO 
CHANGANA ....................................................................................... 269 
6.3.1 Ideofones e a função predicadora na língua changana .......... 272 
6.3.2 Ideofones nominalizados ........................................................... 276 
6.3.3 Ideofones adjetivais ................................................................... 276 
6.3.3 Ideofones adverbiais ................................................................. 277 
6.3.4 Ideofones interjetivos ................................................................ 277 
6.4 CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICOS E SINTÁTICAS DE 
NOMES, VERBOS, ADVÉRBIOS, ADJETIVOS E IDEOFONES. .. 279 
6.5 PROPRIEDADES SEMÂNTICAS E PRAGMÁTICAS DOS 
IDEOFONES DO CHANGANA ......................................................... 280 
CAPÍTULO VII ................................................................................. 283 
7.CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................... 283 
7.1 LIMITAÇÕES DO ESTUDO E RECOMENDAÇÕES ................ 285 
REFERÊNCIAS ................................................................................. 287 
ANEXO 1 - AMOSTRA DO DICH .................................................... 297 
 
33 
CAPÍTULO I 
1 INTRODUÇÃO 
1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA 
O presente trabalho debruça-se sobre ideofones da língua 
changana. O changana é uma língua pertencente ao grupo bantu1, falada 
em quatro países no Continente Africano, incluindo Moçambique, onde é 
uma das três línguas bantu2 mais faladas. Os ideofones são um conjunto 
de palavras, pouco conhecidas, os ideofones e neste caso, os ideofones da 
língua changana. Os ideofones foram definidos pela primeira vez por 
Doke (1935) como sendo a associação entre um determinado som, cor, 
estado, dor, intensidade, etc. e a consequente reação na mente do 
indivíduo. 
Com o trabalho objetivamos analisar e discutir a identidade a 
categorial e função dos ideofones do changana. Para tal, antes discutimos 
questões relacionadas aos nossos objetivos específicos, tais como, o 
funcionamento básico da língua changana. Discutimos os ideofones de 
acordo com teorias da marcação desenvolvidas por Giivón (1995 e 2001) 
e Croft (2000 e 2001). A nossa hipótese em relação a marcação é a de que 
na língua changana, os ideofones são palavras/predicadores marcados em 
relação aos verbos, que são predicadores básicos, portanto, não marcados. 
Outro objetivo específico é descrever o significado dos ideofones 
do changana com o auxílio da Semântica de Frames, ou seja, investigar e 
identificar que elementos de frame são evocados pelos ideofonesdo 
changana e como isso pode auxiliar na interpretação de seus significados 
 
1 Grupo bantu é um conjunto de línguas que possuem características comuns. 
Defende-se que essas línguas teriam derivado de um antepassado comum, uma 
língua mãe, o proto-bantu. Atualmente as línguas bantu formam um ramo do 
grupo benue-congolês da família linguística nigero-congolesa, com mais de 600 
línguas. São faladas sobretudo nos países africanos que se localizam desde a 
região central até ao sul do continente africano, por cerca de 300 milhões de 
pessoas (NGUNGA, 2004; UEM-SLB, 2014). 
2 No português do Brasil tende-se a usar a forma flexionada línguas bantas. Neste 
trabalho, usamos bantu pelo fato de a palavra bantas não carregar consigo o 
significado e o simbolismo que a palavra bantu possui. Bantu é uma palavra 
composta por dois elementos ba- (prefixo nominal da classe 2, plural da classe 1 
– classes geralmente de seres humanos em várias línguas bantu) e –ntu (raiz que 
significa pessoa). Portanto, o termo bantu significa pessoas, humanos. Este 
significado não se acha no termo bantas. 
34 
e/ou das construções envolvendo ideofones nessa língua. Recorremos à 
Semântica de Frames como parte da análise, pois ela fornece um modo 
particular de olhar para o significado das palavras, tendo como 
característica principal a observação e análise das experiências que 
resultam da contínua interação entre os elementos linguísticos com o meio 
ambiente (FILLMORE, 1982). Para identificação dos frames 
correspondentes aos ideofones selecionados, utilizamos a plataforma 
FrameNet. Disponível em: 
<https://framenet.icsi.berkeley.edu/fndrupal/FrameNet_search>. 
Disponível para consulta e pesquisa livres. 
Para a análise da categoria gramatical, o que corresponde ao nosso 
objetivo maior, estabelecemos uma hipótese segundo a qual ideofones do 
changana constituem, sim, uma categoria gramatical (DOKE, 1935, 
NHAMPOCA, 2010 e 2016) e também que eles desempenham a função 
predicadora, pois assim como os verbos os ideofones predicam ações de 
entidades, embora o façam de modos diferentes. 
Em termos de referenciais teóricos, para discutir o funcionamento 
básico da língua changana, apoiámo-nos basicamente em autores que 
trabalham com a linguística bantu, sobretudo africanos (Sitoe, 1991, 1996, 
2011, etc.; Ngunga, 2004, 2009; Langa, 2004, 2013, Nhampoca, 2009, 
2010; Júnior, 2016; entre outros), com o intuito de mostrar que linguistas 
africanos também, estudam, pesquisam e publicam sobre suas línguas. No 
que diz respeito à marcação, tomamos como referencial teórico os textos 
de Givón (1995 e 2001), Croft (2000 e 2001) e Bybee (2010). Para a 
Semântica de Frames, Fillmore (1982, 1988), Salomão (2009a e 2009b), 
Pires (2010), Moura (2012), Chishman (2013), Ferrari (2014), entre 
outros. E, para discutir a categoria gramatical dos ideofones tomamos 
como referencial a Gramática de Construções Radical de Croft (2000 e 
2001) e o texto de Silva e Batoréo (2010). Esse conjunto de análises 
permitiram que elaborássemos uma proposta de definição que distinga 
claramente os ideofones de outras classes gramaticais no changana e, 
quiçá, em outras línguas que possuam ideofones. 
Os dados usados foram extraídos de uma base de dados de 
ideofones do changana por nós elaborada no âmbito da pesquisa de 
Mestrado (NHAMPOCA 2010) e do dicionário Changana-Português, 
Sitoe (2011), este último elaborado com a nossa colaboração na seção de 
ideofones. Destes instrumentos selecionamos os 10 ideofones analisados. 
O critério de seleção não foi aleatório. Selecionamos aqueles ideofones 
que possuem um verbo mais ou menos equivalente na língua, para 
permitir a comparação entre os dos predicadores, ideofones e verbos. 
https://framenet.icsi.berkeley.edu/fndrupal/FrameNet_search
35 
O trabalho organiza-se desta forma: no capítulo I apresentamos a 
introdução que contempla a apresentação do tema, a justificativa, 
objetivos, problematização, hipóteses, dados sobre Moçambique e sobre 
a língua changana no país e na África. O capítulo II integra a apresentação 
do nosso objeto de estudo, os ideofones do changana, portanto, abordamos 
os ideofones do changana e em outras línguas do mundo, dando enfoque 
para as várias tentativas de sua definição e classificação. No capítulo III, 
apresentamos os aspectos básicos do funcionamento da língua changana, 
em que se destaca a discussão sobre classes nominais, as extensões 
verbais, o tom, entre outros. O capítulo IV destina-se à fundamentação 
teórica, portanto, abordagens sobre marcação, Linguística Cognitiva e 
categorias gramaticais de palavras. No capítulo V apresentamos as 
metodologias de coleta e análise de dados. O capítulo VI é referente à 
análise de dados; nesta parte, analisamos os dados na seguinte ordem: 1) 
analisamos os ideofones de acordo com o Princípio da Marcação e 
Marcação Tipológica, 2) efetuamos a análise dos ideofones com base em 
Semântica de Frames e 3) discutimos a identidade categorial dos 
ideofones e sua função no changana. No último capítulo, o VII, 
apresentamos as considerações finais e limitações do estudo. Na 
sequência seguem-se a bibliografia e em anexo vai uma amostra do DICH. 
1.2 JUSTIFICATIVA 
Desde 2005, ano de nossa formação ao nível de licenciatura, temos 
vindo a trabalhar e a desenvolver pesquisas diversas sobre o changana, 
nossa língua materna e de primeira alfabetização3. O nosso trabalho final 
de graduação foi sobre Orações relativas diretas e indiretas no changana e 
no Mestrado, o tema da nossa dissertação foi: Uma proposta metodológica 
para a elaboração de um dicionário de ideofones do changana. Para a 
realização dos estudos aqui mencionados e outros na língua changana, 
incluindo esta tese, temos como grande motivação pessoal o desejo de 
trazer, de alguma forma, o changana ao centro de discussões, visto que, 
em geral, pesquisas sobre as línguas bantu, das quais o changana faz parte, 
são relativamente recentes comparando com as das línguas 
tradicionalmente estudadas, tais como: inglês, francês, espanhol, alemão, 
português, entre outras. Portanto, estudar a nossa língua, tem sido para 
nós um ato, um posicionamento político, nesse sentido. Ademais, como 
 
3 A autora deste trabalho foi alfabetizada na língua changana, pelo pai, na 
infância, antes de ingressar à escola formal do ensino exclusivamente em língua 
portuguesa, em Moçambique, seu país natal. 
36 
iremos mostrar neste trabalho, ideofones são unidades lexicais que foram 
marginalizadas durante muito tempo, no seio dos estudos linguísticos em 
geral e até particularmente em estudos de linguística bantu, por isso, 
estudar ideofones é também e, ainda mais, um ato político. 
Outra grande motivação para analisar os ideofones de acordo com 
a Gramática de Construções Radical (CROFT, 2000 e 2001), Princípio da 
Marcação (GIVON, 1995 e 200) e Marcação Tipológica (CROFT, 2000 e 
2001) e a Semântica de Frames (FILLMORE, 1982), é o fato de termos 
verificado que estas teorias se mostram relevantes e abrangentes para a 
sua classificação como categoria gramatical, sua função na língua e para 
a descrição do significado dos ideofones, pois, muitas vezes, teorias ditas 
universais são excludentes em relação às línguas africanas das quais o 
changana faz parte. Por isso pensamos que este trabalho revela-se 
importante para os estudos da língua changana em geral e em particular 
para o estudo dos ideofones do changana, assim como de outras línguas 
em que ocorrem ideofones, sejam elas de origem bantu ou não. 
Motiva-nos, também, o fato de a área de Linguística Cognitiva ser 
ainda pouco conhecida e explorada no país e na universidade de nossa 
proveniência4, não havendo por isso, trabalhos desenvolvidos na mesma, 
em Moçambique e mais em particularnas línguas bantu de Moçambique, 
então, este trabalho pode vir a ser pioneiro na análise linguística em 
Moçambique, o que seria bastante salutar, pois levaríamos para a 
Universidade e para o país, uma nova teoria que seria muito fundamental 
para vários estudos na área de Linguística. 
Acreditarmos também que o trabalho irá melhorar a análise do 
significado dos ideofones e consequentemente o nosso desempenho no 
trabalho de descrição lexicográfica que temos estado a desenvolver sobre 
os ideofones da língua changana, como por exemplo os de Nhampoca 
(2009, 2010, 2015, 2016 e 2017) e Sitoe (2011), em que colaboramos com 
a análise lexicográfica dos ideofones, uma vez que a análise baseada nas 
teorias da Linguística Cognitiva podem permitir uma descrição 
enciclopédica dos ideofones, pois como 
Diz Ferrari (2014), a Linguística Cognitiva adota uma visão 
enciclopédica do significado das palavras, ao adotar uma perspectiva de 
análise baseada no uso, defendendo que o contexto orienta a construção 
do significado. As razões mencionadas nos motivaram a realizar o 
 
4 A autora desta tese é moçambicana, dai que chamamos atenção ao fato de, apesar 
de termos feito bastante esforço para redigir o texto no português do Brasil e de 
acordo com nas normas brasileiras de elaboração de textos acadêmicos, ainda é 
possível detectar alguns resquícios do Português de Moçambique. 
37 
presente trabalho, tendo como objetivos os que seguem na próxima 
subseção. 
1.3 OBJETIVOS 
O trabalho tem como objetivos os seguintes: 
Geral: 
 Analisar a identidade categorial dos ideofones do changana e 
sua função; 
Específicos: 
 Discutir o funcionamento básico da língua changana 
 Analisar os ideofones à luz da teoria da Marcação; 
 Analisar o significado dos ideofones do changana com base 
em Semântica de Frames. 
 Propor uma definição para os ideofones do changana. 
1.4 PROBLEMATIZAÇÃO 
Moçambique é um país multilíngue, pois nele coexistem línguas de 
origem africana, sobretudo as do grupo bantu, europeia e asiática. Ngunga 
(2009) afirma que, por ser um país multicultural e multilíngue, possui uma 
grande diversidade linguística que tem sido de difícil gestão. Ainda 
segundo Ngunga, isso se agravou pelo fato de durante o tempo colonial 
não se terem desenvolvido ações visando a uma discussão sobre as línguas 
bantu, as faladas pela maioria de moçambicanos, muito menos sobre a sua 
promoção. O autor afirma que existem alguns estudos sobre línguas bantu 
de Moçambique, mas segundo ele, esses estudos só surgiram depois da 
independência nacional, contudo, contribuíram bastante para o 
conhecimento da situação linguística de Moçambique, tendo por isso, diz 
Ngunga, jogado um papel crucial no desenvolvimento geral do 
conhecimento de vários aspectos sobre línguas bantu de Moçambique. 
Mas o mesmo autor aponta ainda que “apesar da valiosa contribuição dos 
referidos trabalhos para a promoção das línguas moçambicanas, há uma 
área importante que permaneceu ignorada, a do estudo da gramática das 
línguas moçambicanas” (NGUNGA, 2009, p. 64). Concordamos com 
Ngunga, pois é fato que durante muito tempo estudos da gramática das 
línguas bantu de Moçambique foram relegados ao segundo plano, foram 
38 
pouquíssimos os estudos gramaticais desenvolvidos no período pós-
independência, com destaque aos de Bento Sitoe (1991, 1996, 2001 e 
2011), David Langa (2004, 2013) e Armindo Ngunga (2000, 2004, 2009), 
entre outros. O estudo dos ideofones do changana e das outras línguas 
bantu de Moçambique também foram ‘vítimas’ desse ‘esquecimento’. 
Nos últimos anos esta situação tem mudado, verifica-se 
ultimamente, um grande interesse em analisar questões gramaticais das 
línguas bantu em Moçambique. No respeitante aos ideofones do 
changana, verificamos que alguns estudiosos (nacionais) já se debruçaram 
sobre eles, como por exemplo: Langa (2004) – descreveu aspectos gerais 
dos ideofones na língua changana; Maholela (2008) – fez um estudo sobre 
a derivação a partir de ideofones na língua changana; Nhampoca (2009) – 
fez uma análise preliminar sobre a estrutura, função e aspectos de 
significado dos ideofones; Nhampoca (2010) – no âmbito da pesquisa de 
Mestrado, desenvolveu uma estratégia metodológica para a compilação 
de um dicionário de ideofones da língua changana, porém, baseada na 
análise componencial; Nhampoca (2015) – debruçou-se sobre aspectos da 
morfologia dos ideofones do changana, entre outros. 
A maior parte dos estudos acima mencionados abordam os 
ideofones de uma forma geral. Isto reforça a nossa motivação e/ou 
justificativa em desenvolver um estudo que se debruça sobre a identidade 
categorial, função na língua e descrição semântica dos ideofones. E como 
tal, surgem várias questões sobre os ideofones. A nossa primeira questão 
é: ideofones são ou não palavras específicas, portanto, marcadas, na 
língua changana? 
Indo para a segunda questão, verificamos que no exemplo do café 
da manhã, um dos seus exemplos clássicos do que é um frame, Fillmore 
(1982) explica que: entender o significado de café da manhã é entender 
primeiro uma prática de uma dada cultura de ter refeições diárias, em 
horários do dia que são estabelecidos de forma convencional, 
consequentemente, entender que o café da manhã é uma dessas refeições, 
a que se faz no início do dia, após o período de descanso/sono (noite), 
sendo que essa refeição apresenta um menu típico reconhecido como tal 
pelas pessoas que compartilham essa cultura (Fillmore, 1982). E 
acrescenta que o acesso do significado de café de manhã, não obedece a 
um critério rígido e único, pode apresentar várias nuances e, por isso, 
fornecer-nos uma categoria que pode ser usada em contextos diferentes e 
tais contextos são determinados pelos múltiplos aspectos do seu uso 
prototípico - o uso que ele possui quando as condições da situação de 
fundo coincidem mais ou menos exatamente com o protótipo que define. 
Com esta colocação, Fillmore mostra que o frame de café da manhã, para 
39 
além da simples informação linguística, carrega uma complexidade de 
informações referentes aos elementos que compõem esse cenário do café 
da manhã e aos contextos que sustentam sua ocorrência. E, de acordo com 
Chishman et al. (2014), “compreender ‘café da manhã’ significa 
compreender o papel dessa refeição na nossa sociedade”. Partindo destes 
desenvolvimentos e raciocínios, pretendemos projetar esta análise para os 
ideofones do changana, ou seja, descrever o significado dos ideofones do 
changana, tendo em conta os frames e/ou cenas que eles evocam e que 
podem ser invocados pelos falantes a partir deles. Para isso, 
estabelecemos como nossa segunda questão, a seguinte: A teoria da 
Semântica de Frames pode auxiliar na descrição do significado dos 
ideofones do changana e de que forma? 
Na sua Gramática de Construções Radical, Croft (2000 e 2001) 
desenvolve uma discussão sobre categorias de palavras. O autor defende 
que categorias gramaticais são definidas dentro de línguas particulares, 
logo suas funções também. Os ideofones por não existirem nas línguas 
indo-europeias, foram sempre de difícil enquadramento em termos de 
categoria gramatical. Sobre isso Macaba (1996) vai nos explicar que 
durante muito tempo, as línguas africanas foram sujeitas a análises que 
não condiziam com as suas reais estruturas, uma vez que grande parte dos 
primeiros estudiosos dessas línguas, na maioria europeus, analisavam e 
descreviam essas línguas com base na lógica das gramáticas de línguas 
europeias. Isso se verificou com os ideofones, basta pensar que estas 
palavras já foram rotuladas como verbos, advérbios, interjeições, 
adjetivos, entre outras designações. Perante estas discrepâncias, 
estabelecemos como a terceira questão de partida a seguinte: Qual é a 
identidade categorial e função dos ideofones da línguachangana? 
A seguir, na tentativa de estabelecer respostas prévias para as 
nossas questões, avançamos com as hipóteses que seguem na próxima 
seção. 
1.5 HIPÓTESES 
Tendo em conta as questões introduzidas na problematização 
acima, estabelecemos como hipóteses as seguintes: 1) Em relação a 
marcação, nossa hipótese é de que na língua changana, os ideofones são 
palavras/predicadores marcada/os em relação aos verbos que são 
predicadores básicos, portanto, não marcados. 2) Quanto à teoria da 
Semântica de Frames, estabelecemos que esta teoria irá ajudar na 
descrição e definição dos ideofones do changana, pois os ideofones 
evocam frames específicos, ressaltando aspectos classicamente 
40 
considerados não nucleares mas que são fundamentais para a acessar o seu 
significado, fazendo com que os elementos de frames tidos como não 
nucleares se tornem elementos centrais para a análise dos ideofones. 3) E 
para a questão 3 avançamos uma hipótese que considera que ideofones do 
changana são uma categoria gramatical, pois tal como as outras categorias 
da língua, ideofones possuem propriedades específicas de natureza 
fonética, fonológica, morfológica, sintática, semântica, pragmática, etc. E 
que desempenha a função é predicadora, tal como os verbos, sendo que 
ideofones predicam de forma marcada e verbos de forma básica. 
1.6 MOÇAMBIQUE 
A República de Moçambique situa-se na África Austral. Está 
dividida administrativamente em 11 províncias e 128 distritos. O último 
censo populacional oficial, realizado em 2007, apurou que Moçambique 
possuía 20.632.434 habitantes (6.269.621 na zona urbana e 14.362.813 na 
zona rural) (INE, 2010 apud NGUNGA e FAQUIR, 2011). Projeções 
posteriores à data do último censo apontam para cerca de 22.000.000 
habitantes em 2014 (TIMBANE, 2014) e 26.423.623 habitantes em 2016 
(INE, 2016). 
É um país multilíngue, multiétnico e multicultural como sucede 
com a maioria dos países africanos. E a maioria da sua população pertence 
aos povos bantu. “A maioria dos moçambicanos habita nas zonas rurais e 
preserva a sua cultura, hábitos, costumes e as suas línguas locais, sempre 
respeitando a tradição oral. Aliás, este é um fenômeno característico dos 
povos bantu” (TIMBANE, 2014, p.1). As características acima descritas 
conferem ao país uma diversidade cultural e linguística, sendo a 
diversidade linguística de Moçambique uma das suas principais 
características socioculturais. Segundo indica a constituição da 
República de Moçambique, o português é a única língua oficial 
(MOÇAMBIQUE/ Novembro de 2004, Art. 10), apesar de várias 
sinalizações de introdução das línguas bantu moçambicanas em espaços 
formais e públicos e com a introdução do ensino bilíngue desde 
2002/2003. 
Moçambique é banhado pelo Oceano Índico, a Leste; a Norte pela 
Tanzânia; a Noroeste pelo Malawi e Zâmbia; a Oeste pelo Zimbabwe e a 
Sudoeste pela Swazilândia e pela África do Sul. A capital e a maior cidade 
do país é Maputo, situada na zona sul do país, junto à fronteira com a 
África do Sul e Swazilândia. A seguir alguns símbolos importantes do 
país. 
41 
Figuras 1 - Mapa, hino nacional, bandeira e emblema da República de 
Moçambique 
 
Fonte: GOOGLE 
1.6.1 As línguas bantu de Moçambique 
No que respeita ao número de línguas bantu faladas em 
Moçambique, não há consenso. Algumas fontes, como por exemplo, o site 
Ethnologue <acesso em 14 de março de 2017>) e Kröger (2005) 
consideram que há cerca de 40 línguas, como se pode verificar no link 
<https://www.ethnologue.com/country/MZ>. Acesso em 14 de março de 
2017>), para o caso da Ethnologue e no mapa linguístico abaixo, para o 
caso de Kröger. 
 
https://www.ethnologue.com/country/MZ
42 
Figura 2 - Mapa linguístico de Moçambique 
 
Fonte: KRÖGER (2005). 
Chamamos a atenção ao fato de o autor do mapa acima, se referir 
ao changana como tsonga. Às vezes o termo tsonga é usado como 
sinônimo de changana, como ocorre veste caso. 
De Paula e Duarte (s.d.), disponível em: 
<http://www.letras.ufmg.br/fbonfim/pdf/diversidade_linguistica_mo%C
3%A7ambique.pdf >) <acesso em: 31 de janeiro de 2018, também 
apresentam dados que denotam a variação na definição do número de 
línguas bantu moçambicanas, como se pode verificar no quadro 1, abaixo. 
http://www.letras.ufmg.br/fbonfim/pdf/diversidade_linguistica_mo%C3%A7ambique.pdf
http://www.letras.ufmg.br/fbonfim/pdf/diversidade_linguistica_mo%C3%A7ambique.pdf
43 
Quadro 1 - Posição de vários autores sobre o número de línguas bantu faladas em 
Moçambique 
Autor Ano Número de línguas moçambicanas sugerido 
Cabral 1975 15 línguas 
CCR5 1983 16 línguas 
Yai 1983 13 línguas 
Ngunga 1987 33 línguas 
Katupha 1988 13 línguas 
NELIMO 1989 20 línguas 
Ngunga 1992 21 línguas 
Lopes 1999 20 línguas 
Firmino 2000 24 línguas 
Cardoso 2005 25 línguas 
Liphola 2009 41 línguas 
INE 2010 21 línguas 
Adaptado a partir de De Paula e Duarte (2016) 
Sobre esta visível falta de consenso sobre o número de línguas 
bantu moçambicanas, Sitoe (2014, p. 40-41) afirma que, em Moçambique 
Na ausência de um atlas linguístico, o Relatório do 
“I Seminário sobre Padronização da Ortografia de 
Línguas Moçambicanas” (NELIMO, 1989), vem 
sendo tomado como a principal obra de referência 
sobre esta matéria [...] O mapa linguístico 
apresentado neste documento identifica 20 línguas 
moçambicanas. Contudo, este mesmo documento 
refere claramente que as línguas tratadas não 
constituem a totalidade das línguas faladas em 
Moçambique. O mapa não menciona o Cibalke e 
trata como uma mesma língua três variedades do 
grupo Shona, nomeadamente Cimanyika, Cindau e 
Ciutee. Adicionado a isto, para além das 17 línguas 
tratadas no II Seminário (Sitoe & Ngunga, 2000), o 
mapa apresentado no relatório deste seminário 
indica ainda as línguas Kiswahili, Ekoti, isiSwazi e 
isZulu. Se se adicionar o Cibalke e as línguas do 
grupo Shona, teremos um total de 23 línguas 
moçambicanas mencionadas nos dois relatórios. 
Já o folheto de apresentação da Seção de Línguas bantu da 
Universidade Eduardo Mondlane (UEM - SLB) apresenta 20 línguas 
bantu moçambicanas, que afirma serem faladas por 80% da população, 
 
5 Conselho coordenador do recenseamento. 
44 
quer como língua materna quer como língua segunda (UEM - SLB, 2014). 
Destas, 19 línguas são atualmente ensinadas pela UEM - SLB, são elas: 
cibalke, cicopi, cindau, cimanyika, cinyanja, cinyungwe, cisena, citshwa, 
ciutee, ciyaawo, echuwabo, ekoti, elomwe, emakhuwa gitonga, kimwani, 
shimakonde xichangana6 e xirhonga. A maior parte destas 19 línguas, 
incluindo o changana, está presente no âmbito do ensino bilíngue, 
introduzido em 2002/2003 no país (NHAMPOCA, 2015). Talvez seja por 
essa falta de consenso que Ngunga ([s.d] apud LABORATORIO DE 
LÍNGUAS AFRICANAS - UFMG. Disponível em: 
<http://www.letras.ufmg.br/laliafro/projeto.html> Acesso 23 fev. 2016, 
defende que, dependendo dos vários pontos de vista, o número das línguas 
bantu moçambicanas pode variar de 9 a 43. 
Para efeitos deste trabalho, optamos pela perspectiva da SLB da 
Universidade Eduardo Mondlane, por termos verificado, por um lado, que 
os que apontam para a existência de cerca de 40 línguas, na maioria dos 
casos, consideram variedades de uma mesma língua como língua, o que 
contribui para o aumento desse número e, por outro lado, as 23 línguas 
apresentadas por Sitoe (2014) incluem o kiswahili, o isiSwazi e o isZulu. 
Apesar de estarmos cientes da circulação dessas línguas no território 
moçambicano, optamos por não as contabilizar como línguas bantu 
moçambicanas, por considerarmos que advêm de forte influência de 
países vizinhos como África do Sul para o caso do isZulu, Tanzânia para 
o kiswahili e Swazilândia para o isiSwazi (NHAMPOCA, 2017). 
Para além do português e das línguas bantu, outras línguas são 
faladas no território,embora em pequena escala, como por exemplo, as de 
origem europeia: francês, espanhol, inglês, alemão; as de origem asiática 
e/ou línguas do Médio Oriente: mandarim, urdu, gujurati, hindi e memane 
(SITOE, 2014; PATEL, 2006). 
1.6.2 A língua changana em Moçambique e na África 
O changana, também designado tsonga na África do Sul, possui o 
código S.53, na classificação de Guthrie (1967/71). De acordo com Sitoe 
(1996), esta língua pertence ao grupo Tswa-Ronga, com código S.50, na 
classificação de Guthrie (1967-71). Doke (apud SITOE, 1996) designa 
este grupo pelo termo tsonga. Para além do changana, fazem ainda parte 
deste grupo as línguas tshwa (S.51) e ronga (S.54). Os falantes das línguas 
 
6 O termo xichangana é usado como sinônimo do termo changana. Nele, o prefixo 
xi- é referente a classe a que pertencem as línguas na língua changana. 
http://www.letras.ufmg.br/laliafro/projeto.html
45 
ronga e tshwa conseguem comunicar-se com os falantes do changana o 
que significa que são línguas inteligíveis. 
O changana, para além de Moçambique, é falado na África do Sul, 
Swazilândia e Zimbabwe (SITOE e NGUNGA 2000; SITOE, 1996). 
Portanto, consideramos que, pelo fato de ser falado nos quatro países, o 
changana se revela como um importante veículo de comunicação formal 
e/ou informal para e entre comunidades dos quatro países onde é falado. 
Em Moçambique, o changana é falado nas províncias de Maputo, 
Gaza, Inhambane e na zona meridional das províncias de Manica e Sofala 
(SITOE e NGUNGA, 2000). De acordo com Ngunga e Faquir (2011), 
com base no Censo Populacional de 2007, o changana “é falado por cerca 
de 1.660.319 habitantes em Moçambique”. É a 2ª língua bantu mais falada 
no país, com cerca de 10.5% de falantes, depois do Emakhuwa com cerca 
de 26.1% de falantes, segundo Ngunga e Faquir (2011). De acordo com 
Sitoe (1996), o changana apresenta as seguintes variedades: 1) 
Xihlanganu, falada a sudoeste de Moçambique, nos Montes Libombos, 
abrangendo parte dos distritos de Namaacha, Moamba e Magude. 2) 
Xidzonga ou Xitsonga, falada nos distritos de Magude, Bilene e parte de 
Massingir. 3) Xin’walungu, variante falada no distrito de Massingir. 4) 
Xibila, falada no distrito de Limpopo e parte do distrito de Chibuto. 5) 
Xihlengwe, falada nos distritos de Xai-Xai, Manjacaze, Chibuto, Guijá, 
Chicualacuala, Panda, Morrumbene, Massinga, Vilanculo e Govuro. Sitoe 
(1996) afirma que, devido a grandes e frequentes movimentações das 
populações, torna-se cada vez mais difícil a localização precisa destas 
variedades. Para este trabalho tomamos como referência a variante 
xidzonga, uma vez que os dados analisados foram recolhidos num local 
onde esta variante prevalece. 
O changana faz parte da Academia Africana de Línguas 
(ACALAN), uma organização Pan-Africana fundada em 2001, pelo então 
presidente do Mali, Alpha Oumar Konaré, sob os auspícios da União 
Africana e visa à promoção e harmonização das muitas línguas africanas. 
Apesar de o changana não ser uma das línguas com o maior número de 
falantes em África no contexto da ACALAN, é inegável a importância 
desta língua, como veículo de comunicação formal e informal para e entre 
comunidades dos quatro países onde é falada (NHAMPOCA, 2015). E, a 
nosso ver, pelo fato de ser falada e constar do conjunto das línguas oficiais 
da África do Sul, uma das grandes economias do continente africano, se 
não a maior, pode ser uma grande contribuição para a geopolítica desta 
língua na região. 
É ainda usada, embora com menor densidade, em programas de 
rádio. Possui três dicionários (SITOE, 1996; NGUNGA, 2011 e SITOE, 
46 
2011), os quais já ostentam a ortografia padronizada conjuntamente com 
os outros três países falantes da língua. Os dicionários de Sitoe são 
bilíngues (changana-português) e o de Ngunga é monolíngue. Sitoe tem 
em prelo o dicionário português-changana que sairá em breve. Além 
disso, o changana possui duas gramáticas, uma elaborada por Ribeiro 
(1965). Está na ortografia não padronizada. E a segunda gramática foi 
elaborada por Ngunga e Simbine em 2012. Há também vários aspectos de 
gramática do changana compilados em muitos materiais didáticos, como 
é o caso dos apêndices sobre elementos de gramática nos Dicionários 
Changana-Português da autoria de Bento Sitoe, publicados em 1996 e 
reeditado, revisto e aumentado em 2011, com a nossa colaboração na 
seção dos ideofones. 
O changana é largamente usado na Bíblia, em cultos e em hinários 
de forma ampla, sobretudo na religião reformada. O changana é uma das 
línguas abrangidas pelo ensino bilíngue em Moçambique, portanto é 
ensinado neste âmbito no nível primário e faz parte das 19 línguas bantu 
moçambicanas ensinadas na Secção de Línguas bantu da Universidade 
Eduardo Mondlane, a maior e mais antiga universidade do país. 
Na sequência, o capítulo II, em que apresentamos o nosso objeto 
de estudo, os ideofones do changana. 
 
47 
“Ideofones são fáceis de identificar, mas 
difíceis de definir”. 
(Dingmanse, 2011) 
CAPÍTULO II 
2. IDEOFONES EM ALGUMAS LÍNGUAS DO MUNDO E NO 
CHANGANA: TENTATIVAS DE DEFINIÇÃO E 
CLASSIFICAÇÃO 
2.1 TENTATIVAS DE DEFINIÇÃO DE IDEOFONES 
Os ideofones nem sempre foram conhecidos como ideofones. De 
acordo com Dingmanse (2011), antes da década de 1930, os ideofones 
foram, recorrentemente, discutidos sob diversos rótulos, com mais 
destaque para o fato de terem sido definidos, com mais frequência, como 
advérbios específicos ou peculiares. 
Ultrapassada essa fase, ideofones passaram a ser comumente 
definidos como uma representação viva de uma ideia num som; uma 
palavra, muitas vezes onomatopaica, que descreve um predicado, é 
qualificativa ou funciona como advérbio em relação à forma, cor, som, 
cheiro, ação, estado ou intensidade (DOKE, 1935). Esta é uma das 
definições mais citadas até agora. Outra definição semelhante porque 
inspirada na de Doke (1935), é a de Ngunga (2004, p.195) que considera 
ideofone como “a associação entre um determinado som, cor, estado, dor, 
intensidade, etc., e a consequente reação ou construção psíquica dos 
mesmos na mente do indivíduo/falante”. Já Beck (2005) defende que 
ideofones são expressões sinestésicas que se distinguem, como classe, 
através das suas propriedades sintáticas, morfológicas e fonológicas; este 
autor afirma igualmente que ideofones tendem a ter uma função emotiva 
e de estarem associados à fala e a registos dramáticos da fala, ou seja, 
ideofone é uma representação viva de uma ideia, num som (KIMENYI: 
[s.d]). Para Slobin (2004), os ideofones constituem um recurso para a 
expressão de Modo de ação em várias línguas. Concordamos com o autor, 
porém salientamos a multifuncionalidade dos ideofones, pois entendemos 
que eles, para além de expressar Modo, desempenham outras funções, 
como mostramos ao longo deste trabalho. 
Embora haja pequenas diferenças de abordagens, na definição do 
ideofone, pensamos que todas as posições aqui apresentadas se 
assemelham e defendem que um ideofone é o fenómeno através do qual 
alguns sons da linguagem humana podem, do ponto de vista semântico 
combinar a figura mental com os sons da fala (SITOE, 1996; LANGA, 
48 
2004). O que temos notado é que estas definições são gerais e não 
distinguem claramente os ideofones de palavras de outras categorias na 
língua, uma vez que a maior parte dos elementos definidores usados 
podem se aplicar a qualquer signo, por isso, nossa intenção é partir dessas 
definições e buscar uma definição mais precisa, com base em teorias como 
Princípio da Marcação, Gramática de Construções Radical e Semântica de 
Frames. 
Enquanto, por um lado, alguns autores restringem a ocorrência de 
ideofones a certas línguas do mundo, por exemplo, Doke (1935) restringe 
sua ocorrência às línguas bantu apenas; Kulemeka (1995) realça a 
existência de ideofonesem dois grupos de línguas do mundo: as africanas 
e as asiáticas; Epps e Salanova (2012) destacam a ocorrência de ideofones 
nas línguas indígenas da Amazônia. Já Slobin (2004), colocando em jeito 
de meio, afirma que os ideofones ocorrem de forma ampla nas línguas do 
mundo, especialmente em línguas da África Ocidental, Ásia Oriental e 
Ásia do sudeste. 
Por outro lado, alguns afirmam a ocorrência dos ideofones em 
todas as línguas do mundo. Ferreira (2011), por exemplo, defende que: 
“ideofones são atestados em todas as línguas do mundo, porém, as línguas 
diferem na extensão em que os empregam”. Contundo a autora não mostra 
nem faz referência à respectiva extensão do emprego dos ideofones nas 
diferentes línguas do mundo. A ocorrência de ideofones como categoria 
universal, ou seja, em todas as línguas do mundo, é também defendida por 
Voltz e Killiam-Hatz’s (2001 apud GABAS JR. & AUWERA, 2004), na 
sua proposta de classificação, ao afirmar que os ideofones são uma 
categoria gramatical e universal. Para Biriate (2014), embora os ideofones 
não se manifestem na mesma medida em todas as línguas do mundo, eles 
são uma característica universal ou quase universal da linguagem humana. 
Outra discussão que se tem travado sobre os ideofones é se eles 
constituem ou não uma categoria gramatical (GABAS JR. & AUWERA, 
2004; KULEMEKA, 1995; NGUNGA, 2004). Este é um aspecto que 
também é discutido neste trabalho, no capítulo da análise. 
Apesar de durante muito tempo o estudo de ideofones ter sido 
limitado a tópicos como fonologia, simbolismo, som e morfossintaxe, 
atualmente começa a se perceber que para se desenvolver uma 
compreensão completa dessas palavras precisa-se tomar em conta, 
também, os seus significados sensoriais, seus usos interacionais, e seu 
lugar na mais ampla ecologia linguística e cultural (BIRIATE, 2014). 
Outra particularidade, não menos citada pelos autores, é que os ideofones 
são palavras marcadas (SLOBIN, 2004; BIRIATE, 2014; NHAMPOCA, 
2017; MOURA e NHAMPOCA, 2017; entre outros). Biriate (2014) 
49 
afirma que essa marcação se dá de diferentes formas, destacando duas: 
COMPLEXIDADE – trata-se de complexidade semântica e estrutural e 
ICONICIDADE ideofônicas. Ressaltamos que esta visão de Biriate 
(2014) está de acordo com a que adotamos nesta tese. Sobre a marcação o 
autor acrescenta que “em geral, podemos distinguir ideofones de palavras 
comuns por causa de seu uso de material verbal (formas marcadas em 
relação às palavras comuns) e por causa do seu primeiro plano 
performativo (colocando-os para além do envolvente material de fala 
descritiva)”. 
Com tudo que se discutiu acima acerca dos ideofones, podemos 
afirmar que a conceituação dos ideofones é diversificada (FERREIRA, 
2011). Essa diversificação faz com que não poucas vezes, como indica 
Ferreira (2011), considere-se que a noção de ideofonia é enganosa, 
referindo-se a interpretações simplistas que se têm feito sobre o conceito. 
Araujo (2009) defende que o fato de não se oferecer uma definição clara 
ao termo ideofone faz com que sejam agrupados elementos de natureza 
diversa, na categoria. Um dos exemplos é o fato de por muito tempo os 
ideofones terem sido tratados como onomatopeias, quando estudos 
posteriores provaram que ideofones eram muito mais que onomatopeias 
(DOKE, 1968 apud NGUNGA, 2004). E mais, se provou que em algumas 
línguas, como o changana, língua objeto deste trabalho, as onomatopeias 
são uma subclasse de ideofones, constituindo os chamados ideofones 
onomatopaicos (NHAMPOCA, 2010). O próprio Doke notou a diferença 
entre onomatopeias e ideofones e, segundo Araujo (2009), apesar de Doke 
não apresentar uma definição formal para ideofones, ele deu uma guinada 
ao assunto ao estabelecer uma distinção entre ideofones, onomatopeias e 
sons imitativos e pelo fato de também ter proposto uma classe de palavras 
especial para agrupar ideofones. A definição de Doke foi e é de imensa 
importância na sistematização e unificação de pesquisas sobre ideofones, 
e continua sendo a definição mais citada (DINGMANSE, 2011). 
De acordo com Araujo (2009), perante estas variações da definição 
do termo ideofone na literatura e, apesar disso, não haver uma que consiga 
abranger sua heterogeneidade, as tentativas mais bem sucedidas são as 
que conseguem enquadrar as múltiplas características dos ideofones em 
grupos prototípicos. 
Identificamos três tentativas de definição que pensamos que se 
aproximam da hipótese que propomos neste trabalho, são as de Epps & 
Salanova (2012), Ferreira (2011) e Dingmanse (2011). Epps & Salanova 
(2012, p. 21) defendem que ideofone é “o sucedâneo linguístico mais 
próximo de um ato físico, não verbal”, ou seja, “os ideofones conferem 
uma concretude sensorial e emotiva à narrativa". Ferreira (2011) afirma 
50 
que quando se descreve uma ação, evento, estado, com recurso aos 
ideofones, eles invocam toda a imagem, toda a atitude narrada pelo 
falante. E por fim, temos a definição de ideofones apresentada por 
Dingmanse (2011), que refere que ideofones são palavras marcadas que 
retratam imagens sensoriais. O autor afirma que essa definição de 
ideofones é projetada para ser ampla o suficiente para servir como uma 
caracterização trans-linguística geral do ideofone, deixando espaço para 
que os detalhes sejam especificados em línguas particulares em que 
ocorrem ideofones. Das três propostas, consideramos esta de Dingmanse, 
a mais próxima da nossa hipótese de definição. Estas são as perspectivas 
que adotamos, apenas como ponto de partida para uma definição de 
ideofone e com esta pesquisa pretendemos apresentar uma definição mais 
completa e clara. 
2.2 IDEOFONES EM ALGUMAS LÍNGUAS DO MUNDO 
Os ideofones ocorrem também em várias línguas do mundo, por 
exemplo, nas línguas asiáticas. Estudos linguísticos em línguas asiáticas 
têm dado muita atenção à associação natural existente entre som e 
significado (KULEMEKA, 1995). Por isso há muito interesse nestas 
línguas pelo estudo dos ideofones. Kulemeka atesta que em línguas 
asiáticas os ideofones ocorrem mais como sons simbólicos que como 
categoria de palavras. O autor afirma que nas línguas asiáticas verifica-se 
uma relação estreita entre a forma como a palavra soa e o som feito pelo 
objeto no mundo real, daí considerar por icônico o tipo de relação que se 
dá nestas línguas. 
Ao debruçarem-se sobre aspectos gramaticais das línguas 
indígenas brasileiras, em particular dos povos da Amazônia, (BEIER et 
al., 2000 apud EPPS & SALANOVA, 2012) “enumeram várias práticas 
discursivas amplamente difundidas entre os povos amazônicos que 
incluem o uso maciço do diálogo, desde a encenação de diálogos 
altamente ritualizados até o “eco” dos ouvintes que acompanham as 
narrativas: o choro ritual e certas formas especiais, ou rituais da língua”. 
Os autores defendem que a maior parte de tais práticas acaba obtendo uma 
dimensão cultural e influenciando elementos gramaticais, lexicais e 
discursivos das línguas em que elas ocorrem. Os ideofones são um 
exemplo disso. Epps & Salanova (2012, p. 21) referem que os ideofones 
são “um recurso linguístico que se encontra com frequência nas narrativas 
em línguas amazônicas”. Segundo os mesmos autores, em muitos casos 
os ideofones nas línguas indígenas amazônicas constituem uma categoria 
lexical que se distingue claramente das outras, como por exemplo, 
51 
apresentam suas próprias “estruturas silábicas ou segmentos fonéticos que 
não se encontram em outros lexemas, e com propriedades morfológicas 
diferentes. Os ideofones com frequência representam sons, mas podem 
também representar movimentos ou sensações”. 
Outra língua indígena em que ocorrem ideofones é o parkatêjê, uma 
língua falada por uma comunidade com o mesmo nome. A comunidade 
parkatêjê localiza-se no sudeste do estado do Pará, próximo do município 
de Bom Jesus do Tocantins (FERREIRA, 2011).Ferreira, a partir de um 
estudo de contos orais do Parkatêjê, observa que nesta língua quando se 
descreve uma ação, evento, estado, o ideofone invoca toda a imagem, toda 
a atitude narrada pelo falante. Notamos que o que é descrito por Ferreira, 
ocorre com os ideofones do changana, pois ações descritas com recurso a 
ideofones, invocam cenas completas e vivas de uma forma mais intensa 
em relação às descritas por verbos (NHAMPOCA, 2010). Várias 
ocorrências de ideofones, na língua, foram também observadas na 
conversação diária na comunidade, durante as atividades cotidianas dos 
parkatêjê. A autora afirma que há várias outras palavras que, não sendo 
ideofones, são empregadas como ideofones, isto confirma a posição 
defendida por Araujo (2009), segundo a qual, a recorrente imprecisão no 
estudo e definição dos ideofones faz com que muitas vezes sejam 
incluídos elementos de outra natureza na categoria ideofone. 
Gabas Jr. & Auwera (2004) descrevem os ideofones de uma língua 
indígena, Karo. Esta língua, conforme os autores, é falada também na 
região amazônica. É a única língua da família Ramarama do grupo Tupi. 
Embora a língua Karo viva em contato intenso com o português desde os 
anos 1950, a língua continua sendo falada na comunidade e sendo 
aprendida pelas crianças. 
Para a comunidade, o português é usado apenas como língua de 
contato (GABAS JR. & AUWERA, 2004: 397). Os autores afirmam que 
existem ideofones na língua Karo, os quais exibem um comportamento 
gramatical diferente do dos outros elementos da gramática da língua. 
Como atestam Gabas Jr. & Auwera (2004, p. 401), os autores afirmam 
também que os ideofones nesta língua são semanticamente semelhantes 
aos verbos por seus significados transmitirem descrições de 
ações/estados, mas os ideofones não estão sujeitos aos mesmos processos 
de flexão e derivação. Nestes aspectos os ideofones são semelhantes aos 
ideofones do changana, pois como veremos mais abaixo, ideofones são 
diferentes dos outros elementos da gramática do changana e, também, eles 
assemelham-se aos verbos, por transmitir descrições ações /estados, 
apesar das diferenças de flexão e derivação existentes entre os verbos e 
ideofones do changana. 
52 
Araujo (2009) apresenta um estudo sobre os ideofones na língua 
sãotomense, um crioulo falado nas ilhas de São Tomé e Príncipe. Este 
autor recorre a dados trabalhados por Ferraz (1978 e 1979) e relata 
também dificuldades existentes para descrever ideofones nesta língua. 
Araujo (2009, p. 25) afirma que Ferraz “descreve os ideofones no 
sãotomense, sem contudo, oferecer uma definição clara para o termo”. Por 
exemplo, Ferraz define ideofone como o elemento de uma categoria que 
agrupa qualquer palavra cuja forma seja repetida ou reduplicada, ou 
modificadora de um verbo ou nome. Araujo afirma não concordar com 
esta definição. 
Araujo (2009) defende que os ideofones em Sãotomense são 
formas obrigatoriamente presas a seus elementos da colocação, sendo que 
colocação é “entendida como uma combinação frequente ou preferencial 
de palavras cujas unidades resultem em uma expressão semi-idiomática” 
(ARAUJO, 2009, p. 25). A nosso ver, essa colocação a que Araujo se 
refere, no changana, se aproxima a combinação do ideofone e o verbo 
defectivo que sempre antecede o ideofone (GABAS JR. e AUWERA, 
2004; SITOE, 2011). Araujo afirma também que os ideofones no 
Sãotomense possuem estruturas fonológicas próprias, com destaque para 
a harmonia vocálica como uma das características marcantes dos 
ideofones na língua Sãotomense. Quanto às origens dos ideofones na 
língua sãotomense, Araujo (2009) atesta que ideofones ocorrem tanto nas 
línguas consideradas línguas de substrato da África Atlântica como em 
outros crioulos da região. Este autor acrescenta que tal fator pode 
significar que os ideofones decorram de um substrato comum, de origens 
comuns ou ainda de influências mútuas entre as línguas. Apesar dessa 
tentativa de aproximação do sãotomense a outras línguas da região, no que 
respeita à ocorrência de ideofones, Araujo menciona que, das várias 
línguas estudadas naquela região, as únicas que apresentam uma 
correspondência são os crioulos do Golfo da Guiné (angolar, principense 
e fá d’ambu), o que se deve, grande modo, à origem comum destes 
crioulos e também por serem línguas que se interinfluenciam 
multiplamente. O autor refere também que tentativas de encontrar 
correspondentes em línguas bantu e as da África Atlântica foram 
infrutíferas. Seguindo com as características, Araujo refere-se ao 
processo morfológico da reduplicação e esclarece que no sãotomense os 
ideofones podem passar por processos de reduplicação parcial ou total, 
processo verificado também em ideofones do changana. Em várias 
línguas, os ideofones estão associados a eventos para imprimir nuances de 
grau, finalidade, e sobretudo de intensidade, razão pela qual foram sempre 
facilmente confundidos com advérbios. 
53 
2.3 IDEOFONES DO CHANGANA 
Autores que têm vindo a pesquisar sobre ideofones destacam a 
existência de várias dificuldades para trabalhar com ideofones. E apontam 
que essas dificuldades decorrem, entre várias razões, do fato de a categoria 
ideofones não existir nas línguas indo-europeias (MITI, 2006; LANGA, 
2004). Biriate (2014) salienta que numa língua os ideofones são mais 
fáceis de identificar e difíceis de definir. A mesma posição é tomada por 
Dingmanse (2011, p. 19) ao referir que “assim como tantas coisas, os 
ideofones são fáceis de identificar, mas difíceis de definir7”. Desse modo, 
linguistas têm sido desafiados com a existência, em várias línguas do 
mundo, desta classe de palavras tida como específica e relacionada à 
descrição de eventos (FERREIRA, 2011). Os ideofones na língua 
changana são considerados partes do discurso (SITOE, 2011). Este autor 
inclui os ideofones na sua proposta de apresentação das oito principais 
partes do discurso da língua, tais partes do discurso do changana, 
mencionadas por Sitoe (2011) são: nominais, predicadores, modificadores 
nominais, modificadores verbais, ideofones, conectores e interjeições, 
sendo que cada uma possui suas ramificações. 
Como já se mencionou, foi Doke quem primeiramente apresentou 
a proposta de separação dos ideofones como uma categoria gramatical 
distinta das outras. Ngunga (2004) afirma que “em estudos anteriores a 
1968, (DOKE, 1931 e 1935), incluía esta categoria de palavras no grupo 
das onomatopeias geralmente definidas como palavras que imitam ou 
reproduzem ruídos produzidos por animais, pássaros, coisas, etc." 
Portanto, apesar de Doke (1935) ter introduzido o termo ideofone 
anteriormente, só a partir de 1968 é que se começa a considerar os 
ideofones como uma categoria gramatical distinta das outras. Ainda sobre 
esta categoria gramatical, Langa (2004, p. 59) defende que Doke 
“nomeou-os de ideofones por se ter apercebido que a terminologia que 
considera cinco categorias lexicais principais a saber: “N(ome), V(erbo), 
ADJ(ectivo), ADV(érbio) e PREP(osição) não cobre a semântica que 
estas palavras transportam”, pois semanticamente “os ideofones estão 
ligados a campos diversos, tais como ações, sons, cheiros, posturas, 
atitudes, gestos, etc” (SITOE, 1996, p. 345). De acordo com Slobin 
(2004), existem ideofones que expressam dimensões acústicas, estados 
internos, etc., mas o autor sinaliza também que a função do ideofone não 
se limita apenas a aspectos que expressam dimensões acústicas e estados 
 
7 “Like so many things, ideophones are easy to identify yet elusive todefine” 
(DINGMANSE, 2011, p. 19). 
54 
internos, defendendo que o ideofone, pode, por exemplo, expressar um 
modo de movimento, como uma ‘caminhada tranquila’. 
Aikhenvald (2014, p. 99) afirma que “Os ideofones podem ser uma 
grande variedade de formas onomatopeicas ou simbólicas de som, 
especialmente

Continue navegando