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5 A relação entre desigualdade de renda e crescimento econômico no Brasil

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37
julho / setem
bro de 2012
37
julho / setem
bro de 2012
A relação entre desigualdade 
de renda e crescimento 
econômico no Brasil 
Paulo Henrique Mendes Leandro Beserra
1 - Introdução
O debate sobre a distribuição de renda no Brasil 
voltou a ser foco dos noticiários e do meio acadêmico 
nos últimos 5 anos, depois de longos anos no 
ostracismo. Com a melhora dos indicadores nos anos 
recentes, houve uma retomada do interesse pelo tema. 
Muitos economistas argumentam que essa queda é 
resultado de um processo natural de desenvolvimento 
econômico, e citam que a desigualdade tende a 
aumentar nos estágios iniciais do desenvolvimento 
e diminuir posteriormente, como mostrou Kuznets 
em artigo publicado em 1955, com dados dos EUA, 
Inglaterra e Alemanha. Outros dizem que não há 
relação clara entre desigualdade e crescimento, 
pois em diversos outros estudos posteriores ficou 
comprovado que houve aumento no crescimento 
sem afetar a desigualdade. Afinal, os dados brasileiros 
corroboram ou não a teoria de Kuznets? Quais são as 
causas para que esses dados comprovem ou não essa 
teoria? E quais as conseqüências? Essas questões são o 
foco deste trabalho.
2 - Kuznets e a Teoria do U-Invertido
A ideia de que a desigualdade aumentaria nos 
primeiros estágios do desenvolvimento, seguida de 
uma queda, formando assim uma curva similar à letra 
“U”, porém invertida, foi elaborada pelo economista 
Simon Kuznets em seu artigo seminal “Economic Growth 
and Income Inequality”, de 1955. O artigo encontrou 
respaldo empírico em dados dos EUA, da Inglaterra e 
da Alemanha. Contudo, como o próprio autor define, 
essa relação surgiu de um estudo que contém 5% de 
informações empíricas e 95% de especulações. 
Com a utilização de um modelo com dois setores, 
elaborou uma análise que supunha que a migração de 
pessoas do setor agrícola para o setor industrial geraria 
um aumento na concentração de renda, pois este setor 
é mais dinâmico e, consequentemente, mais rico que o 
primeiro. Assim, a concentração inicial se daria devido 
à acumulação de ativos pelos mais ricos, que possuem 
uma capacidade de poupar superior à dos demais. 
Posteriormente, com o aumento dos níveis educacio-
nais médios, a tendência de alta nos salários dos pro-
fissionais qualificados seria revertida, pois haveria um 
aumento na oferta de mão-de-obra qualificada, o que 
geraria uma desconcentração. 
É importante frisar que a análise é feita para o lon-
go prazo, pois mesmo as economias hoje desenvolvi-
das enfrentaram uma queda na renda per capita nos 
anos de crise do capitalismo, como a quebra da bolsa 
de Nova Iorque e as duas Grandes Guerras. Portanto, o 
processo de crescimento e os efeitos na desigualdade 
não podem ser analisados no curto prazo, pois para 
esses períodos citados, poderia não ser encontrada a 
correlação.
Apesar da falta de dados mais precisos para uma 
análise mais robusta, Kuznets acredita que havia indí-
cios de que a desigualdade aumentou nos estágios ini-
ciais e diminuiu posteriormente, apesar de não ser fácil 
1 Resumo da monografia premiada no XVIII Prêmio Corecon-DF de Economia e no Prêmio Brasil de Economia do Cofecon.
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datar esses períodos. Como dados para países pobres 
são escassos, e eram ainda mais à época, foi difícil ten-
tar traçar uma regra geral para todos os países. A única 
conclusão a que ele chegou sobre isso foi a de que a 
desigualdade nos países subdesenvolvidos, como Ín-
dia, Ceilão (atual Sri Lanka) e Porto Rico é maior do que 
a apresentada por países desenvolvidos no período 
pós-Segunda Guerra. A pergunta que o próprio autor 
fez em seu artigo foi se esse padrão se repetiria nos pa-
íses que ainda não haviam se desenvolvido. Ficou sem 
resposta.
3 - A evolução histórica da distribuição de ren-
da no Brasil
Os primeiros dados sobre a desigualdade de ren-
da no Brasil apareceram com o censo de 1960, mas 
só com o censo de 1970 surgiram os primeiros dados 
comparáveis. Junto com eles, vieram os primeiros de-
bates, bastante acirrados e com viés político-ideoló-
gico acentuados. Estes debates ficaram conhecidos 
como “a controvérsia dos anos 1970”, que será exposta 
com mais detalhes a seguir.
3.1 A década de 1960 e a controvérsia dos anos 
1970 
O censo de 1970 trouxe uma constatação inequívoca: 
a desigualdade de renda no Brasil havia aumentado na 
década de 1960. A comparação dos dados dos censos 
de 1960 e 1970 mostrava um aumento significativo da 
participação dos mais ricos no total da renda. Mesmo 
apresentando dados divergentes, todas as pesquisas 
apontaram para esse aumento. Langoni (1973), que 
divulgou o trabalho em que a desigualdade cresceu 
em menor intensidade, mostrou um aumento na 
participação dos 5% mais ricos no período de 27,69% 
para 34,86% e uma queda de 11,57% para 10,00% 
entre os 40% mais pobres da renda total no período. 
Na mesma obra, aponta que o índice de Gini era de 
0,4999 em 1960 e 0,5684 em 1970. Portanto, a questão 
não era discutir se houve ou não uma piora no perfil 
distributivo, mas sim quais foram as causas para que ela 
tivesse ocorrido. 
O debate tinha cunho nitidamente ideológico. Após 
a publicação do livro de Langoni ter sido escolhida 
pelo governo militar como a que apresentava os dados 
oficiais sobre a desigualdade, diversos outros autores 
criticaram o trabalho, apresentando as mais diversas 
possíveis causas para o ocorrido, como Albert Fishlow, 
Paul Singer, Edmar Bacha, Rodolfo Hoffmann e José 
Serra. Outros ainda defenderam a posição dos militares, 
como Antônio Delfim Neto e Mario Henrique Simonsen. 
A obra de Langoni pode ser considerada como o 
marco inicial do debate sobre a distribuição de renda 
no Brasil. Apesar de alguns artigos serem anteriores a 
este trabalho, foi com sua publicação que a questão 
tornou-se central. Introduz a Teoria do Capital Humano 
como explicação para o diferencial de salários entre 
indivíduos. Vale ressaltar que o autor utiliza o mercado 
de trabalho para explicar a desigualdade na distribuição 
de renda, e deixa em segundo plano outros fatores, 
como propriedade de terras, riqueza dos antepassados, 
entre outros. O autor ainda deixa claro que explica os 
diferenciais de rendas individuais e que teve acesso 
a dados que nenhum outro pesquisador teve (o que 
acaba o tornando alvo de críticas, pois seu trabalho não 
pode ser replicado para testar sua validade empírica). 
A tese central da obra é que o aumento da 
desigualdade advém das profundas mudanças no 
processo de desenvolvimento econômico no período. 
A ideia é mostrar que grande parcela desse aumento 
na concentração se deveu a mudanças no nível de 
educação e na migração para o setor urbano (moderno) 
dos trabalhadores que antes estavam no setor rural 
(tradicional), abordagem importada de Kuznets. 
O fato de a força de trabalho do setor primário, de 
baixa produtividade e com renda pouco concentrada, 
migrar para os setores secundário e terciário, de alta 
produtividade e renda mais concentrada, aumentaria a 
concentração de renda como um todo. Em seu modelo, 
a educação seria a variável com maior impacto sobre 
os diferencias de salários, seguida pela idade, que é 
tratada como uma proxy de experiência, portanto 
relacionada também ao capital humano. Mais adiante, 
chega à conclusão de que a desigualdade aumenta 
devido à possibilidade de exploração de ganhos extras 
de renda durante o processo de desenvolvimento, mas 
que esse problema é autocorrigível no longo prazo, 
o que confirma mais uma vez que sua teoria está de 
acordo com a de Kuznets. 
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A crítica mais contundente ao trabalho de Langoni 
foi apresentada por Fishlow (1975). Ao analisar o modelo 
econométrico apresentado por Langoni, afirma:
Se muito da desigualdade é explicada pela 
educação, também muito pouco o é, na medida em 
que a idade e a educaçãojuntas não correspondiam 
a um terço da variação nas rendas individuais (...) a 
conclusão de que a desigualdade é influenciada pela 
taxa de retorno e pelo número de anos de escolaridade 
é em parte um ato de fé. 
Neste artigo, aparece também a tese da compressão 
salarial, na qual o autor transfere a responsabilidade 
pelo aumento da concentração de renda nos efeitos 
que Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG) 
exerceu sobre o salário mínimo. Argumenta que as 
políticas de tal programa, que restringiram os salários 
nominais e simultaneamente aplicaram uma inflação 
corretiva, fizeram o salário mínimo cair 20%, ao passo 
que a renda per capita cresceu 22%. Desse modo, uma 
parcela da população havia se beneficiado não apenas 
absolutamente, mas relativamente também. Fishlow 
crê que esse ganho tenha se concentrado no setor 
urbano principalmente.
Ainda em consonância com o argumento anterior, o 
autor aponta como principal responsável pela perda no 
poder de compra dos salários – e consequentemente 
pela perda na participação dos trabalhadores na renda 
total – a subestimação da inflação prevista pela regra 
de reajustes salariais, que corroíam a remuneração dos 
trabalhadores ao longo do tempo. Por não repassar 
integralmente os ganhos de produtividade aos salários, 
as classes mais ricas elevavam sua participação relativa 
na renda total. 
Fica claro que o único consenso de toda a 
controvérsia dos anos 1970 é o de que a desigualdade 
aumentou consideravelmente na década de 1960. 
As causas e as consequências desse aumento têm 
inúmeras explicações diferentes e, quase sempre, 
divergentes.
3.2 A década de 1970 e o “Milagre Econômico”
Em 1967, foram feitos os primeiros levantamentos 
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 
(PNAD). Nos três primeiros anos, os levantamentos 
eram feitos semestralmente e só abrangiam as regiões 
Nordeste, Sudeste e Sul (além do Distrito Federal). Em 
1971, passaram a ser realizadas anualmente (em 1970 
não houve PNAD, pois era ano de recenseamento). 
São incorporados dados referentes ao rendimento 
mensal normalmente recebido do trabalho principal 
e dos outros trabalhos, aposentadoria, pensão, abono 
de permanência, aluguel e outros rendimentos. 
Esses dados mudaram o panorama das análises 
sobre desigualdade de renda, pois passaram a ser 
apresentados num intervalo muito mais curto, o que 
deixou o processo mais dinâmico.
Se observarmos dos extremos, a década de 1970 
mostra um pequeno aumento na desigualdade, com 
o coeficiente de Gini passando de 0,565 em 1970 para 
0,592 em 1980, considerados os censos dos dois anos e 
apenas para dados sobre o rendimento da população 
economicamente ativa com rendimento. Este aumento 
na desigualdade pode estar subestimado, dado que 
o censo de 1980 considera rendimentos em espécie 
– que são mais importantes nas classes mais baixas 
– e o de 1970 não. Portanto, é bastante provável que 
a distribuição de 1980 seja significativamente mais 
concentrada do que a de 1970. 
Ao compararmos com a década de 1960, podemos 
notar uma diferença significativa no perfil da 
concentração. Segundo Bonelli e Sedlacek: 
Nos anos 1960 o processo de concentração de 
renda caracterizou-se por aumentos do rendimento 
médio dos estratos mais ricos mais rápido do 
que os demais (...) nos anos 1970 notou-se um 
abrandamento deste processo de concentração 
na distribuição de renda, processo que se definiu 
claramente em 1976 quando as classes de renda 
baixa e média conseguiram obter ganhos reais 
enquanto as de renda mais alta sofreram perdas reais”.
3.3 Os anos 1980: a “Década Perdida”
A chagada dos anos 1980 marca o abandono 
definitivo do debate sobre distribuição de renda nos 
moldes dos anos anteriores. O começo da grande crise 
brasileira deu início ao período que ficou conhecido 
na literatura econômica como “a década perdida”, 
devido ao baixo crescimento econômico e à crescente 
inflação. Quando se trata de distribuição de renda, 
não é diferente: o período apresenta um aumento na 
concentração, seguindo o que já havia sido apresentado 
nas duas décadas anteriores. 
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Quando tratamos do desempenho econômico da 
década de 1980, fica claro o motivo da troca de foco 
do debate. O crescimento médio da economia foi de 
2,9% ao ano entre 1980 e 1989, segundo Pinheiro et 
al. (1999), e a renda per capita se manteve constante 
durante toda a década. Apenas em 1980 o PIB cresceu 
acima da média dos anos 1970, e chegou a decrescer 
em 1981, 1983 e 1988. Desse modo, a queda na renda 
per capita no início da década, associado com as altas 
taxas de inflação e o aumento do desemprego, geraram 
o aumento na concentração da renda.
Os anos 1980 apresentam uma novidade em relação 
às duas décadas anteriores: um nível de crescimento 
mais baixo. Isso caracteriza o período como uma fase 
de desaceleração do ritmo de desenvolvimento do 
país, que deveria mostrar uma queda na desigualdade 
de renda caso fosse seguido o padrão definido por 
Kuznets. Todavia, pode-se verificar um aumento do 
índice de Gini de 5% na década de 1970 e de 8% na 
década de 1980. Como este foi um período bastante 
turbulento, a análise fica um pouco comprometida. 
Não é possível afirmar com segurança, apenas com 
esses dados, se o Brasil segue um padrão encontrado 
no trabalho de Kuznets ou não.
A variação da desigualdade nas décadas de 1970 e 
1980 foi praticamente da mesma ordem de grandeza, 
porém de magnitude muito inferior da que ocorreu 
na década de 1960. Todavia, essa tendência de longo 
prazo de aumento da desigualdade não parece ter sido 
afetada pelo desempenho econômico nas três décadas, 
dado que a concentração continuou a aumentar 
nos anos 1980, mesmo quando a renda per capita se 
manteve estagnada, ao passo que nas demais décadas 
a concentração deu-se pari passu com um crescimento 
econômico.
Se falarmos de ganho absoluto de renda, o cenário é 
diferente: nas décadas de 1960 e 1970 houve aumento 
absoluto em todos os extratos da renda, mesmo que 
os ganhos dos mais ricos tenham sido sensivelmente 
superiores aos dos demais, enquanto na década 
seguinte houve piora absoluta e relativa. O decil 
superior foi o único a ganhar em termos absolutos. 
3.4 Os anos 1990 e a estabilização econômica
Os anos 1990 foram marcados pela adequação da 
economia brasileira ao modelo neoliberal, trazido pelo 
Consenso de Washington. Esse processo foi iniciado 
no governo Collor e mantido nos governos seguintes. 
Ganhou seu mais alto grau de intensidade no governo 
Fernando Henrique Cardoso. As principais medidas 
adotadas foram: a privatização de empresas estatais, 
a desregulamentação dos mercados e a abertura 
comercial. 
No campo teórico, os anos 1990 não repetiram a 
controvérsia dos anos 1970, pois havia um modelo 
básico para a explicação da desigualdade, e deixou 
de haver grandes conflitos entre os economistas. O 
modelo formulado por Ricardo Paes de Barros busca a 
compreensão da desigualdade pessoal da renda. Tem, 
portanto, influência do trabalho de Langoni. A educação 
continua com papel crucial sobre a desigualdade de 
renda. As principais críticas são a ineficiência e a má 
focalização do gasto público em educação, geralmente 
viesados em favor dos mais ricos.
Há ainda alguns elementos conjunturais que 
servem de base para explicar a parte da desigualdade 
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A ideia é mostrar 
que grande parcela 
desse aumento na 
concentração se deveu 
a mudanças no nível 
de educação e na 
migração para o setor 
urbano (moderno) 
dos trabalhadores 
que antes estavam no 
setor rural (tradicional), 
abordagem importada 
de Kuznets. 
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de renda que não pode ser explicada pelos fatores 
estruturais (como já ocorreu durante a controvérsia 
dos anos 1970). A inflação, por exemplo, corroeu o 
poder de compra de uma parcela da sociedade que 
nãoconseguia proteger suas riquezas. Esse imposto 
inflacionário atingiu principalmente as camadas mais 
pobres da sociedade, pois estas não tinham acesso a 
contas correntes e nem a títulos públicos indexados. 
O salário mínimo também tem impacto significativo 
sobre a desigualdade de renda. Neri (2008) afirma 
que, a despeito de ser um raciocínio contraintuitivo, 
a legislação do salário mínimo tem impacto maior no 
setor informal da economia do que no segmento legal: 
15% contra 8%, respectivamente, recebiam exatamente 
o mínimo em 1997. Essas variáveis são praticamente 
consenso entre os economistas, apesar de discordarem 
da magnitude de seu impacto.
3.5 Os anos 2000 e a queda da desigualdade
De acordo com os dados do IBGE, o crescimento 
econômico no período iniciado em 2001 foi superior 
aos atingidos nas décadas de 1980 e 1990. Porém, esse 
crescimento não foi uniforme. Entre 2001 e 2003, o PIB 
cresceu 1,3%, 2,7% e 1,1% ao ano. Já no período de 
2004 a 2008, a média de crescimento foi próxima a 5% 
ao ano, com o máximo de 6,1% atingido em 2007. Em 
2009, após a crise financeira, o PIB decresceu em 0,6%. 
Ainda sim, essas taxas foram inferiores às apresentadas 
pelos principais países latinoamericanos. Em 2010, 
entretanto, a taxa de crescimento do PIB brasileiro foi 
de 7,5%, bastante elevada. 
O período traz uma novidade em relação aos 
anteriores: a desigualdade apresenta queda contínua e 
acentuada. Os dados do IPEA apontam que o coeficiente 
de Gini variou de 0,596 para 0,543, o menor valor da 
série histórica, entre 2001 e 2009. Diversos autores 
tentaram explicar essa queda. A principal explicação 
continua sendo a educação, mas agora associada a 
políticas de transferência de renda. 
Cabem, portanto, algumas perguntas. Quais as 
causas dessa melhora no perfil distributivo? Qual 
o papel do aumento na renda do trabalho? E o das 
transferências governamentais? Em que magnitude 
esses fatores contribuíram para a queda da 
desigualdade?
Ao analisar essa queda na desigualdade, constata-
se que entre 2001 e 2003, quando o crescimento foi 
baixo, ela deu-se principalmente como resultado da 
transferência de renda dos mais ricos para os mais 
pobres. Após esse período, com o PIB voltando a crescer 
a taxas mais altas, todos os grupos socioeconômicos 
tiveram ganhos, mas os mais pobres tiveram ganhos 
superiores aos demais. 
Barros, Carvalho, Franco & Mendonça (2010) 
analisam a renda familiar per capita e mostram a 
queda ocorrida entre 2001 e 2007. Destacam três 
fatores: demografia, renda proveniente do trabalho 
e renda não derivada do trabalho. Mais adiante, com 
simulações, mostram ainda que 52% da queda não teria 
ocorrido caso a renda do trabalho tivesse permanecido 
constante, contra 40% no caso da renda não derivada 
do trabalho. O fator demográfico não teve importância 
nesse quesito. Além disso, constatam:
Ao se tomar o Gini como a medida de desigualdade, 
a renda do trabalho por trabalhador é sempre mais 
importante. Mas quando utilizamos a medida mais 
sensível à renda dos mais pobres, a renda não derivada 
do trabalho desponta sempre como o fator mais 
relevante. 
Dessa afirmação, fica claro que quanto mais pobre 
a família, mais ela depende da renda não derivada 
do trabalho, mais precisamente de transferências do 
governo.
Quando se trata de pobreza e extrema pobreza, 
o fator demográfico, ou seja, a proporção de adultos 
nas famílias, passa a ter contribuição maior. Chega a 
explicar cerca de 20% da queda nesses indicadores 
entre 2001 e 2003. A renda não derivada do trabalho 
e a renda do trabalho continuam relevantes, com 
importâncias explicativas situando-se entre 30% e 40%. 
Para justificar a queda da pobreza no período de 2003 a 
2007, a renda do trabalho passa a 50% e a não derivada 
do trabalho cai para 28%. Já para a extrema pobreza, a 
renda do trabalho perde um pouco da sua importância, 
chegando a 43%, mas ainda é mais elevada do que 
a renda não derivada do trabalho, com 35%. Esses 
aumentos da renda do trabalho de um período para 
o outro mostram claramente o efeito do crescimento 
econômico na queda da desigualdade e da pobreza.
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Mercadante (2006) enfatiza que a ampliação das 
transferências constitucionais, o programa Bolsa-
Família, a redução do desemprego e o aumento do 
emprego formal, juntamente com a recuperação do 
valor do salário mínimo, contribuíram para a redução 
da pobreza e da desigualdade de renda no início 
do governo Lula. Apesar de ser membro do governo, 
portanto ter opinião ideologicamente viesada, outros 
autores comprovaram o argumento de Mercadante, 
como Sergei Soares, do IPEA, e Marcelo Neri, da FGV. 
Sergei Soares mostra que programas como 
o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que 
assiste idosos e pessoas com deficiência que tenham 
rendimento per capita inferior a 25% de um salário 
mínimo, e o Bolsa-Família, que beneficia famílias com 
renda mensal per capita inferior a R$140,00, são ambos 
bem focalizados: 74% da renda declarada do primeiro e 
80% do segundo destinam-se a famílias abaixo da linha 
da pobreza, considerando esta equivalente a metade 
de um salário mínimo per capita. Em conjunto, estes 
programas foram responsáveis por 28% da redução 
do coeficiente de Gini entre 1995 e 2004 (7% BPC e 
21% Bolsa-Família). Em conjunto, esses programas 
somavam apenas 0,82% da renda total das famílias 
em 2004. Além disso, a contribuição das pensões e 
aposentadorias, no valor de um salário mínimo, foi 
responsável pela queda de 32% no índice, sendo esta 
fonte de renda equivalente a 4,6% da renda declarada 
pelos domicílios na PNAD. Vê-se que esses benefícios 
não representam gastos públicos excessivos e obtêm 
resultados significativos na redução da desigualdade, 
o que contraria os argumentos dos críticos de que 
esses recursos poderiam ser investidos de forma mais 
eficiente no combate à pobreza.
Ao tratar do Bolsa-Família, o autor argumenta 
que, apesar de bem focado, o programa precisa ser 
aprimorado no sentido de buscar “portas de saída” para 
que não seja gerada uma dependência dessa fonte 
de renda. Mostra ainda que as famílias que recebem o 
benefício são as que possuem uma menor participação 
da renda do trabalho em sua renda total. Cita ainda que 
embora este programa não seja a única e permanente 
solução para os problemas sociais do país, não há 
dúvida de que faz parte de qualquer proposta por uma 
sociedade mais justa.
Neri (2008) argumenta que educação e trabalho 
são, nessa ordem, os determinantes mais importantes 
do nível de desigualdade futura de renda de um país. 
Afirma que a desigualdade tem impactos em várias 
áreas de nossas vidas, como criminalidade, saúde, 
mercados consumidores, entre outras. O autor traz 
uma análise dos dados da PNAD desde sua alteração, 
em 1992, até 2007. Mostra que a renda aumentou no 
período, e a renda do trabalho foi a que mais contribuiu 
para esse aumento, com 71,16% desse crescimento 
explicado por esse fator. Por ser a fonte de renda de 
maior magnitude, esse resultado já era esperado, mas 
mostra que está no mercado de trabalho a maior 
oportunidade de melhorar a renda absoluta das 
pessoas. A previdência, com benefícios acima de um 
salário mínimo, aparece como responsável por 18,85% 
desse aumento.
Outros dados trazidos por Neri para justificar a 
queda: o salário mínimo cresceu 75% em termos reais 
de 1995 a 2004 e, se considerado o período de 1995 
a 2006, o crescimento foi de 100%. Como o salário 
mínimo influencia os rendimentos dos trabalhadores 
formais e informais de baixa renda, além de ser base 
para os benefícios previdenciários, ele tem importância 
fundamental nesse processo; a criação, em 2002, do 
Fundo para a Erradicação da Pobreza, responsável 
pela transferência de dinheiro do governo central 
para municípios de baixo Índice de Desenvolvimento 
Humano (IDH);e a expansão de programas de 
transferência condicionada, como o Bolsa-Família. 
‘‘ ‘‘
Dessa afirmação, 
fica claro que 
quanto mais pobre 
a família, mais ela de-
pende da renda 
não derivada do traba-
lho, mais precisamente 
de transferências 
do governo.
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Há ainda, segundo Neri, uma forte correlação entre 
crescimento e redução da pobreza no Brasil. Todavia, 
essa redução depende de outros fatores, como inflação, 
choques externos, desemprego, salário mínimo e 
programas sociais. Ele argumenta ainda que a pobreza 
responde mais ao crescimento quando a distribuição é 
mais igualitária, e crê que a alta desigualdade pode estar 
segurando o crescimento mais rápido da economia.
Fica demonstrado, dessa forma, que a renda do 
trabalho e a renda não proveniente do trabalho 
são complementares, e não concorrentes, no que 
diz respeito à importância na melhora do perfil 
distributivo do Brasil. Sem melhorar o mercado de 
trabalho, com geração de emprego, valorização do 
salário mínimo, qualificação da força de trabalho 
e redução das desigualdades educacionais, a 
desigualdade de renda não deve apresentar melhora 
no longo prazo. Entretanto, sem os programas de 
transferência de renda como Bolsa-Família, Programa 
Universidade para Todos (Prouni) e Programa Nacional 
de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ), e os 
benefícios constitucionais, como a previdência pública, 
a seguridade social e a assistência social, as famílias 
mais pobres ficam desamparadas e não conseguem 
romper a barreira da pobreza. Esses programas são, 
portanto, medidas de extrema importância para se 
tratar o problema no curto prazo.
4 - Causas do aumento e da queda na 
desigualdade
Os dados apresentados no gráfico 1 sugerem que o 
Brasil segue o padrão definido por Kuznets e Langoni 
em seus trabalhos, apesar da escassez de dados para 
uma análise mais aprofundada. O que os dados não 
mostram, nem poderiam mostrar, são as causas desse 
fato. Neste capítulo, será apresentada uma análise mais 
detalhada de cada um dos pontos que influenciam 
nessa distribuição da renda.
Langoni tratou a educação como fator principal 
para o aumento na desigualdade de renda. Ninguém 
discorda que a educação seja realmente fator 
preponderante para aumentar a renda recebida 
pelos indivíduos, mas concluir que a diferença no 
nível educacional é geradora de desigualdade é 
contar apenas metade da verdade. O nível de ensino 
Fonte: GINI - http://www.ipeadata.gov.br/ e LANGONI (1973) - 
Censo IBGE - 1970. PIB Per Capita - http://www.ipeadata.gov.br/. 
PIB Per Capita encontra-se expresso em milhares de reais (R$) de 
julho de 2009.
é sim um gerador de desigualdade, mas é, antes de 
tudo, um revelador desta. Não se pode ignorar o fato 
de que as pessoas com rendas mais elevadas têm 
acesso privilegiado ao sistema educacional, com a 
possibilidade de estudar em escolas melhores.
Com isso, a desigualdade de renda impede as 
pessoas de frequentarem a escola ou as coloca em 
escolas de menor qualidade, e acaba por torna-las 
menos aptas a uma melhor remuneração no futuro. Isso 
faz com que seus filhos também não tenham condições 
de superar a pobreza, o que leva a um círculo vicioso. 
Como argumentou Fishlow:
O próprio sistema educacional brasileiro, é lógico, 
constitui na prática um importante mecanismo para 
assegurar a manutenção da estrutura existente, 
racionando a diplomação não apenas em favor dos já 
afluentes, mas também, predominantemente, em favor 
daqueles com pais já educados.
É também importante frisar que a impossibilidade de 
conciliação entre crescimento econômico e distribuição 
de renda, encontrada por Langoni, não analisa um fator 
importante: a melhoria do sistema educacional público 
atingiria os dois resultados simultaneamente, com a 
elevação da renda dos futuros integrantes do mercado 
de trabalho e o crescimento econômico fruto do 
aumento da produtividade resultante da melhoria dos 
recursos humanos potenciais que são desperdiçados 
devido à pobreza.
Langoni também deixou de lado outros itens em 
sua explicação sobre a piora distributiva na década de 
1960 (que se estende também à década posterior). Ao 
Gráfico 1 – Curva de Kuznets entre 1960 e 2009
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não tratar da queda real no salário mínimo ocorrida no 
período, o autor deixou de mostrar o impacto deste 
fato na diminuição da parcela da renda apropriada 
pelas camadas mais pobres.
A queda no ano de 1964 ocorreu devido a 
uma inflação corretiva aplicada com o intuito 
de restabelecer a “verdade dos preços”, segundo 
argumentação do governo militar que tomou posse 
no referido ano. Sendo esse argumento convincente 
ou não, o fato é que o salário mínimo serve de base 
para a remuneração da população de mais baixa renda. 
Uma diminuição no salário mínimo fatalmente acarreta 
numa queda na proporção da renda recebida por quem 
tem sua remuneração atrelada a este. Apesar de faltar 
dados para calcular o tamanho deste impacto, numa 
população cuja parcela significativa recebe salário 
mínimo, este impacto dificilmente foi desprezível, 
sendo muito provavelmente grande.
A migração do setor rural para o setor urbano, como 
apontada por Langoni (e, anteriormente, por Kuznets), 
certamente tem também impacto nessa mudança do 
perfil distributivo da economia brasileira observada nas 
décadas de 1960 e 1970. Essa migração foi praticamente 
constante durante o tempo. Entre 1955 e 1985 ela 
ocorreu a um ritmo ligeiramente superior a 10% da 
população a cada 10 anos. O aumento de produtividade 
das pessoas no setor urbano em relação ao setor rural 
foi importante nesse incremento da desigualdade. 
Essa migração tem impacto não apenas no salário, 
devido à maior produtividade do setor industrial 
urbano. Há também o efeito da marginalização de 
parte dos imigrantes provenientes do setor rural, 
considerados como mão-de-obra não qualificada e, por 
isso, com remuneração muito baixa – principalmente 
aqueles que estão no setor informal da economia – e 
maior probabilidade de demissão em caso de crises.
Já na década de 1980, outro fator aparece para 
impactar no aumento da desigualdade: a inflação. 
Dificilmente algum economista, não importando sua 
orientação ideológica, irá discordar de que a inflação 
afeta os pobres de forma mais intensa. Pessoas mais 
ricas, que têm acesso ao sistema financeiro, têm 
formas mais eficientes de proteger seus recursos 
contra os efeitos da inflação, por meio de aplicações 
em caderneta de poupança, títulos do tesouro, ou 
outros produtos bancários. Dessa forma, um aumento 
nos preços é menos danoso para os mais ricos do que 
para os mais pobres, que não têm acesso sequer a uma 
conta corrente num banco, e não podem proteger seus 
recursos contra a corrosão causada pela alta dos preços. 
Os anos 1990 apresentaram maior estabilidade 
nos indicadores de desigualdade. O coeficiente 
de Gini variou muito pouco entre os extremos da 
década. Apresentou leve alta no início, provavelmente 
decorrente ainda do aumento do nível de preços, e 
baixa na mesma proporção no final, já com a inflação 
controlada. Como no início da década o maior 
problema era a inflação, os esforços de todos estavam 
centralizados na estabilização dos preços. Houve 
também uma queda no salário mínimo real com o 
Plano Real, mas ao final da década, com a economia 
estabilizada, esse indicador começou a recuperar-
se, e foi o provável responsável pela ligeira queda na 
desigualdade apresentada no final da década.
Os anos 2000 apresentam uma grande novidade 
em relação aos anos anteriores: com a economia 
estabilizada, é possível se pensar em melhorar o perfil 
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A migração do 
setor rural para o 
setor urbano, como 
apontada por Langoni 
(e, anteriormente, por 
Kuznets), certamente 
tem também impacto 
nessa mudança do 
perfil distributivo da 
economia brasileiraobservada nas décadas 
de 1960 e 1970. 
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julho / setem
bro de 2012
distributivo da economia. Alguns programas sociais 
tiveram início e intensificaram-se nesse período, e o 
impacto deles na queda da desigualdade foi bastante 
acentuado.
Juntos, o Benefício de Prestação Continuada e o 
Bolsa Família atingem hoje cerca de 16 milhões de 
beneficiários e afetam diretamente algo em torno de 
50 milhões de pessoas (se considerarmos uma média 
de quatro pessoas por família). Indiretamente, esses 
benefícios ainda apresentam outras vantagens, como a 
elevação no nível de emprego causado pelo aumento 
na demanda advindo desse aumento de renda (pessoas 
de baixíssima renda tendem a consumir 100% de seus 
rendimentos em produtos de primeira necessidade, 
como alimentos, higiene pessoal e vestuário, o que 
aumenta a demanda por esses produtos) e a melhora 
nos indicadores educacionais e de saúde, pois os 
beneficiários do Bolsa-Família são condicionados a 
matricularem seus filhos na escola e a frequentarem os 
postos de saúde públicos mais próximos para manter 
o benefício.
Sem dúvida, seguindo a linha de pensamento de 
Kuznets, os fatores educacionais continuam a influenciar 
a distribuição da renda, só que agora estão induzindo 
um movimento para baixo na desigualdade. Com a 
melhora dos indicadores educacionais, as pessoas 
de baixa renda têm empregos mais qualificados e 
recebem maior remuneração. É importante também 
destacar o impacto da valorização do salário mínimo 
real nos anos 2000. O aumento sistemático do valor real 
desse indicador acarretou numa valorização da ordem 
de 92% entre 2000 e 2010. 
Apesar dessa melhora recente mostrada acima, o 
Brasil ainda é um país que apresenta altíssimo grau 
de desigualdade de renda, e, embora estejamos no 
caminho certo, temos ainda um longo caminho a 
percorrer. Já mostramos que temos capacidade de 
apresentar um crescimento mais robusto do que 
o apresentado nas décadas de 1980 e 1990 e com 
uma distribuição de renda muito melhor do que a 
apresentada naqueles anos, com um aumento na renda 
dos mais pobres conduzindo a um crescimento maior 
da demanda por bens que, por sua vez irá acarretar 
em aumento da produção que, por sua vez, levará a 
um aumento da demanda por trabalhadores, o que vai 
melhorar ainda mais a renda. Esse círculo virtuoso de 
aumento da produção e da renda, um alimentando ao 
outro, favorece tanto as camadas mais baixas quanto 
as mais altas, mas sem dúvida são os mais pobres que 
vivem um ganho mais significativo, o que reflete na 
melhora do perfil distributivo. A expectativa é que esse 
crescimento continue ocorrendo no longo prazo, para 
que possamos ter uma sociedade mais equitativa e que 
a pobreza continue em queda.
5 - Conclusões 
O presente trabalho não busca refutar a tese de 
que a desigualdade aumentou nos estágios iniciais 
do desenvolvimento econômico e posteriormente 
diminuiu, mas espera trazer à luz um debate sobre as 
verdadeiras causas para que tal padrão tenha ocorrido. 
Como resultado, é apresentado um argumento de que 
o crescimento econômico é responsável por explicar 
boa parte da variação no coeficiente de Gini, mas 
deixa ainda por ser explicada uma parcela significativa, 
sendo necessária a elaboração de uma teoria mais 
completa do que apenas dizer que a desigualdade é 
um resultado natural do crescimento.
Paulo Henrique Mendes Leandro Beserra
paulohmlbeserra@gmail.com
Economista formado pela Universidade de Brasília. 
Foi premiado com o 1º lugar no XVIII Prêmio Corecon-DF de 
Economia (2011) e em 2º lugar no Prêmio Brasil de 
Economia realizado pelo Cofecon.

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