Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
g o v e r n o d o e s ta d o d e s ã o pa u l o 1 Garçom 1 Garçom emprego Turismo e hospiTalidade GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Geraldo Alckmin Governador SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA Rodrigo Garcia Secretário Nelson Baeta Neves Filho Secretário-Adjunto Maria Cristina Lopes Victorino Chefe de Gabinete Ernesto Masselani Neto Coordenador de Ensino Técnico, Tecnológico e Profissionalizante GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Geraldo Alckmin Governador SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA Rodrigo Garcia Secretário Nelson Baeta Neves Filho Secretário-Adjunto Maria Cristina Lopes Victorino Chefe de Gabinete Ernesto Masselani Neto Coordenador de Ensino Técnico, Tecnológico e Profissionalizante Concepção do programa e elaboração de conteúdos Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia Coordenação do Projeto Equipe Técnica Juan Carlos Dans Sanchez Cibele Rodrigues Silva, João Mota Jr. e Raphael Lebsa do Prado Fundação do Desenvolvimento Administrativo – Fundap Gestão do processo de produção editorial Fundação Carlos Alberto Vanzolini CTP, Impressão e Acabamento Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Wanderley Messias da Costa Diretor Executivo Márgara Raquel Cunha Diretora de Políticas Sociais Coordenação Executiva do Projeto José Lucas Cordeiro Equipe Técnica Ana Paula Alves de Lavos, Emily Hozokawa Dias e Laís Schalch Textos de Referência Selma Venco, Clélia La Laina, Dilma Fabri Marão Pichoneri e Paula Marcia Ciacco da Silva Dias Antonio Rafael Namur Muscat Presidente da Diretoria Executiva Alberto Wunderler Ramos Vice-presidente da Diretoria Executiva Gestão de Tecnologias aplicadas à Educação Direção da Área Guilherme Ary Plonski Coordenação Executiva do Projeto Angela Sprenger e Beatriz Scavazza Gestão do Portal Luiz Carlos Gonçalves, Sonia Akimoto e Wilder Rogério de Oliveira Gestão de Comunicação Ane do Valle Gestão Editorial Denise Blanes Equipe de Produção Assessoria pedagógica: Ghisleine Trigo Silveira Editorial: Adriana Ayami Takimoto, Airton Dantas de Araújo, Amanda Bonuccelli Voivodic, Beatriz Chaves, Beatriz Ramos Bevilacqua, Bruno de Pontes Barrio, Camila De Pieri Fernandes, Carolina Pedro Soares, Cláudia Letícia Vendrame Santos, Lívia Andersen França, Lucas Puntel Carrasco, Mainã Greeb Vicente, Patrícia Pinheiro de Sant’Ana, Paulo Mendes e Tatiana Pavanelli Valsi Direitos autorais e iconografia: Aparecido Francisco, Beatriz Blay, Fernanda Catalão, Juliana Prado, Olívia Vieira da Silva Villa de Lima, Priscila Garofalo, Rita De Luca e Roberto Polacov Apoio à produção: Luiz Roberto Vital Pinto, Maria Regina Xavier de Brito, Valéria Aranha e Vanessa Leite Rios Diagramação e arte: Jairo Souza Design Gráfico Agradecemos aos seguintes profissionais e instituições que colaboraram na produção deste material: Apolo Utensílios Profissionais, Arnaldo Borges Filho, Della Bruna, Di Pratos Multinox Equipamentos para Restaurantes, Gerson Bonilha Junior, Linson Hotel, Marcel Restaurant, Melissa Galdino de Souza, Morumbi Grill, Pandolfi Restaurante e Rotisseria, Requinte, Tramontina S/A, Robson Alexandre Divino e Vico d’o Scugnizzo Caro(a) Trabalhador(a) Estamos felizes com a sua participação em um dos nossos cursos do Programa Via Rápida Emprego. Sabemos o quanto é importante a capacitação profissional para quem busca uma oportunidade de trabalho ou pretende abrir o seu próprio negócio. Hoje, a falta de qualificação é uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo desempregado. Até os que estão trabalhando precisam de capacitação para se manter atualizados ou quem sabe exercer novas profissões com salários mais atraentes. Foi pensando em você que o Governo do Estado criou o Via Rápida Emprego. O Programa é coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, em parceria com instituições conceituadas na área da educação profis- sional. Os nossos cursos contam com um material didático especialmente criado para facilitar o aprendizado de maneira rápida e eficiente. Com a ajuda de educadores experientes, pretendemos formar bons profissionais para o mercado de trabalho e excelentes cidadãos para a sociedade. Temos certeza de que iremos lhe proporcionar muito mais que uma formação profissional de qualidade. O curso, sem dúvida, será o seu passaporte para a realização de sonhos ainda maiores. Boa sorte e um ótimo curso! Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia Caro(a) Trabalhador(a) Vamos começar uma etapa de muitas aprendizagens! Neste Caderno, teremos a oportunidade de tratar da ocupação de garçom. Um garçom precisa desenvolver uma série de qualidades que vão facilitar muito o exercício dessa ocupação, pois, além de saber anotar um pedido, precisa dominar diversas práticas relativas à atividade, como manter boa comunicação, conhecer técnicas e serviços utilizados em restaurantes, entre outros aspectos importantes que possam contribuir para uma formação profissional mais sólida. O Programa Via Rápida Emprego parte do princípio de que, para iniciar sua carreira ou aperfeiçoar aquilo que você já sabe fazer em uma ocupação, é preciso informar-se melhor sobre as etapas da atividade. Isso dará mais chances de obter um emprego estável ou ser bem sucedido em caso de trabalho autônomo, possibi- litando cada vez mais se aperfeiçoar. Na Unidade 1, você vai conhecer um pouco da história da ocupação de garçom e a origem de um de seus principais locais de trabalho: o restaurante. Em seguida, na Unidade 2, você se informará sobre as várias atividades da ocupação de garçom e o que se espera desse profissional nos dias de hoje. Na Unidade 3, você será convidado a conhecer os diversos ambientes de trabalho em que encontramos os profissionais desse ramo e, na Unidade 4, serão apresenta- dos os procedimentos e a rotina que os garçons precisam dominar para exercer essa ocupação. Também é importante conhecer os materiais e equipamentos utilizados no cotidia- no de um garçom, que é o tema da Unidade 5. A Unidade 6 abordará as boas práticas de higiene dos alimentos em geral, algo es- sencial para a manutenção da limpeza e para garantir que nenhum ingrediente seja contaminado. Bons estudos! Sum á ri o Unidade 1 9 A históriA do turismo e dA ocupAção de gArçom Unidade 2 37 Quem é o gArçom hoje? Unidade 3 65 o gArçom e seu Ambiente de trAbAlho Unidade 4 77 rotinA e procedimentos do gArçom Unidade 5 93 o mAteriAl do gArçom Unidade 6 117 boAs práticAs de higiene FICHA CATALOGRÁFICA Tatiane Silva Massucato Arias - CRB-8/7262 São Paulo (Estado). Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia. Via Rápida Emprego: turismo e hospitalidade: garçom, v.1. São Paulo: SDECT, 2013. il. - - (Série Arco Ocupacional Turismo e Hospitalidade) ISBN: 978-85-65278-98-0 (Impresso) 978-85-8312-006-3 (Digital) 1. Ensino Profissionalizante 2. Turismo e Hospitalidade – Qualificação Técnica 3. Garçom – Mercado de Trabalho I. Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia II. Título III. Série. CDD: 647.2 gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 9 unida d e 1 A história do turismo e da ocupação de garçom A história do turismo: viagens e hotelaria Você é capaz de imaginar quando, pela primeira vez, um ser humano deixou sua habitação e, deslocando-se no que seria sua primeira “viagem”, necessitou de condições favoráveis para des- cansar, alimentar-se, proteger-se ou apenas passar a noite, por exemplo, em outro lugar que não a sua própria casa? Maurice Bonvoisin (Mars). Tomando refresco no terraço de um café parisiense, c. 1890. Litogravura integrante da obra Paris Brillant. Paris, França. © U ni ve rs al H is to ry A rc hi ve /U IG /B ri dg em an A rt L ib ra ry /K ey st on e 10 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gAr ç o m 1 Ou talvez, em lugar de casa, fosse melhor falarmos em caverna? Para termos uma ideia de quando isso aconteceu, é preciso pensar na própria his- tória da humanidade, pois se acredita, atualmente, que o ser humano surgiu pri- meiro em um continente e de lá migrou em várias direções, vindo a se espalhar por todos os cantos do planeta. Depois, ao criar as primeiras e rudimentares embarcações, veio a ocupar também ilhas em pleno mar. Em épocas remotas, o homem era nômade – isto é, não tinha moradia fixa –, deslocando-se de um lugar para outro em busca de alimento. Tanto que, se con- siderarmos o continente americano, por exemplo, a teoria mais difundida sobre sua ocupação é a de que o homem habitou primeiro o norte da América e continuou o trânsito migratório descendo em direção ao sul, alcançando a América Central e a América do Sul, e, desta, partindo rumo ao extremo sul do continente. Tribos nômades: homem puxa um animal capturado. Ao fundo, um grupo no lago remando numa canoa. Anônimo. Diorama da Children’s Gallery, c. 1993. Museu de Ciência de Londres, Inglaterra. © S ci en ce & S oc ie ty P ic tu re L ib ra ry /G et ty Im ag es gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 11 Em meio a essa trajetória pelo planeta, o homem foi se “hospedando”, em caráter temporário, em locais cujas condições lhe permitissem satisfazer sua necessidade de segurança, alimentação e repouso, buscando, possivelmente, situações mais confor- táveis para si em tais ocasiões. Milhares de anos mais tarde, o homem, já considerado moderno, perceberia ser possível preestabelecer locais e instalações, assim como serviços, que garantiriam condições cada vez mais confortáveis para si em seus deslocamentos, para os quais haveria cada vez mais motivações diferentes daquelas da primeira “viagem” humana. Segundo se acredita, o Homo erectus teria colonizado a atual África, sendo depois superado pelo Homo sapiens. Este, cerca de 100 a 130 mil anos atrás, teria se espalhado pelo resto do planeta, colonizando-o, com exceção da Antártida. Antropólogos estrangeiros em geral concordam ao afirmar que nas Américas essa colonização teria ocorrido entre 18 e 20 mil anos atrás – o homem de origem mongol, oriundo da Ásia, teria alcançado as Américas pela Beríngia – região que hoje abrange o Estreito de Bering e as Ilhas Aleutas, entre o noroeste da América do Norte e o nordeste da Ásia –, que, na época, não estava sub- mersa pelo oceano. Entretanto, Niède Guidon (1933- ), renomada arqueóloga brasileira, encontrou vestígios de fogueiras cuja análise indicou terem cerca de 60 mil anos e, além de revelarem indícios de o fogo ter sido provocado e controlado pelo homem, ainda apresentam vestígios de pedras trabalhadas que, segundo a arqueóloga, seriam de indivíduos de origem australoide-negroide, oriundos da África. Homo erectus. Homo sapiens. Ilu st ra çõ es : © E nc yc lo pa ed ia B ri ta nn ic a/ U IG /B ri dg em an A rt L ib ra ry /K ey st on e 12 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 Tem um lugarzinho aí? – o surgimento da hospedagem Quando se fala em viagem, logo associamos, quase in- voluntariamente, ideias de turismo e hospitalidade. Para historiadores, a hospedagem, como hoje a entende- mos – atividade econômica do setor terciário de comércio e serviços –, teria se iniciado a partir do século VII (7) a.C. (antes de Cristo), em razão da realização de um even- to que então ocorria a cada quatro anos na história con- temporânea: as Olimpíadas. Mapa de parte da Europa com destaque para a Grécia. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009, p. 43. [Mantida a grafia original.] Surgidas na Grécia antiga, as Olimpíadas motivavam pes- soas a se deslocarem pelo país até a cidade de Olímpia, fosse para participar dos jogos ou para assisti-los. Evidentemente, essas pessoas necessitavam de hospedagem, alimentação e outros serviços, tanto em Olímpia quanto em outros locais ao longo do percurso. Os que viajavam com o objetivo de assistir aos jogos certamente estavam praticando turismo. Em Olímpia, na época, teriam sido edificados balneários e uma enorme estalagem, algo com área aproximada de 10 mil quilômetros quadrados. Balneário: Estabelecimento para banho. © IB G E gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 13 Dessa maneira, foram sendo criadas estruturas próprias para atender à demanda desses visitantes, o mesmo ocorrendo séculos depois, no Império Romano. Um bom exemplo para se compreender formas mais antigas e rudimentares de abrigar os viajantes e as mercadorias que transportavam são os caravançarás, como mostra a pintura a seguir. Ruínas da cidade de Olímpia, Grécia. Richard Dadd. Caravançará em Mylasa, Turquia, 1845. Óleo sobre painel, 21,3 cm x 30,5 cm. Centro de Arte Britânica, Yale, EUA. © W al te r Z er la /E as yp ix © B ri dg em an A rt L ib ra ry /K ey st on e © B ri dg em an A rt L ib ra ry /K ey st on e 14 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 A expansão do Império Romano levou à criação de inú- meras vias de interligação entre os locais conquistados, permitindo o transporte e o comércio entre eles, além de ter tornado necessária a criação de estruturas de apoio a viajantes, mercadores, militares etc. Assistir a circos e lutas de gladiadores ou frequentar bal- neários também motivavam inúmeras viagens. A rede de vias construída foi se estendendo por todo o Império, e provavelmente se deve a esse fato o surgimento da frase “Todos os caminhos levam a Roma”. Com a propagação do cristianismo, houve aumento das peregrinações, muitas em direção à Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, erguida em 326 d.C. (depois de Cristo) pelo imperador Constantino (280-337 d.C. [depois de Cristo]). No século VI (6), os peregrinos passaram a se dirigir também a Roma – daí o termo romeiro. As ordens religiosas mantinham, na época, abrigos para viajantes, pobres e doentes, os chamados hospitais. Com o aumento das viagens, esses locais, muitas vezes junto a mosteiros, tornavam-se incapazes de atender a todos os necessitados e terminavam por se dividir em abrigos para os enfermos, hospitais, e os abrigos para os demais, os albergues. A hospedagem, que era gratuita e feita por caridade, só futuramente passaria a ser cobrada. Antiga Via Appia. Você sabia? O termo hospitalidade surgiu no Império Roma- no e deriva de hospitali- tatis, palavra em latim que pode ser traduzida como “ato de acolher, de hospedar”. Hospitium era o lugar, à margem das antigas estradas roma- nas, em que os viajantes encontravam abrigo, ali- mentação e até mesmo tratamento médico; era também chamado de “hospedagens” ou “pou- sadas”. Hóspede deriva de hospitus; estábulo, de stabulum, lugar onde se acomodavam as monta- rias; taberna, de taber- nae, estabelecimento situado à beira da estra- da, fora dos povoados, em que se vendiam pro- dutos locais, comidas e bebidas em geral. Fonte: Confederação Nacional do Comércio (CNC). Breve história do turismo e da hotelaria. Rio de Janeiro: CNC, 2005. Disponível em: <http://www.cnc.org.br/sites/ default /f iles/arquivos/breve historicodoturismoedahotelaria. pdf>. Acesso em: 12 jun. 2013. © M ar co S ca ta gl in i/ E as yp ix gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 15 No século XIII (13), mais especificamente em 1282, em Florença (Itália), foi cria- da a primeira instituição que reuniria proprietários de estabelecimentos de hospe- dagem. Tratava-se de um grêmio de donos de pousadas. Ruínas do antigo Hospital del Rey, fundado por Afonso VIII (8o), em 1195. Atualmente faz parte do campus da Universidade de Burgos, Espanha. Mapa de parte da Europa com destaque para a Itália. Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE). Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009, p. 43. Antes disso, entretanto, em 1254, já vigoravam leis que regulamentavam os serviços de hospedagem na França. Dois séculos mais tarde, em 1446, o mesmo se daria na Inglater- ra. Nesse país, no século XVI (16), os hospedeiros passariam a ser considerados hoteleiros. © X av ie r F lo re ns a/ E as yp ix © IB G E 16 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 Embora as primeiras viagens tivessem ocorrido, como vimos, em função de sobre- vivência, negócios, lazer, desejo de ir a espetáculos e fé, outras motivações surgiram no decorrer do tempo, como as trazidas pelo Renascimento, no século XVI (16), que introduziria o conceito de viagem com objetivo artístico-cultural, uma vez que, no período, as manifestações artísticas tinham se multiplicado na Europa. Roma e Florença passaram a ser destinos privilegiados pelas elites. Atividade 1 Renascimento Em dupla, no laboratório de informática, façam uma pesquisa sobre o Renascimen- to e respondam às questões a seguir. 1. O que foi o Renascimento? 2. Quando e onde surgiu? 3. Por que foi assim denominado? 4. O que e quais artistas se destacaram no período? Surge um novo conceito: hotelaria O desenvolvimento das ferrovias na Europa, no início do século XIX (19), bem como o surgimento das embarcações movidas a vapor, na segunda metade do século, fi- zeram com que a estrutura de hospedagem, boa parte concentrada à beira de gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 17 estradas, se transferisse para os arredores de estações e portos. Um novo conceito de hotelaria surgiu, primeiro na Europa e, depois, nos Estados Unidos da América (EUA), deixando de ser privilégio dos nobres aristocratas e passando a atender todos os que pudessem pagar por ela. Esse novo conceito – um local de conforto acessível a todos os que tivessem dinhei- ro – foi bem representado pelo hotel Tremont House, inaugurado em 1829, em Boston (EUA), que apresentava, como diferencial, quartos privativos, com portas e fechaduras, para solteiros e casais (até o momento, o comum eram quartos coletivos), além de ser o primeiro hotel a fornecer sabonetes de cortesia aos hóspedes, inaugu- rando, assim, o conceito de amenities (fala-se “amênitis”), ou seja, a oferta de um diferencial aos que lá se instalavam. Hotel Tremont House, demolido em 1895. Boston, EUA. As mudanças na hotelaria, porém, não se restringiram a alterações físicas em hotéis; primaram por um novo diferencial e novos padrões de atendimento, com dignida- de, respeito e prezando a privacidade. Nos anos 1920, nos Estados Unidos da América, Henry Ford (1863-1947) partiu do princípio de que a produção em massa deveria vir acompanhada do consumo em massa. Assim, criou um modelo de carro popular e, com o apoio de estratégias de marketing, passou a associar ideias de bem-estar ao lazer. A criação de mais estradas para automóveis deu espaço, ainda, ao surgimento de vários hotéis e a viagens que ficaram conhecidas como “Stop go Stop” (fala-se “estope gou’stope”) – ao pé da letra, significa: “pare, vá, pare”. B os to n P ub lic L ib ra ry 18 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 Após as duas Grandes Guerras, na década de 1950, o desenvolvimento hoteleiro atingiu seu ápice com o esta- belecimento de grandes redes hoteleiras em todo o mundo. Surgimento da hotelaria no Brasil Em nosso País, a ação das bandeiras, que perdurou do fim do século XVI (16) até o início do século XVIII (18), o comércio de escravos e as descobertas de ouro e pedras preciosas contribuíram para a criação de locais para hos- pedagem no interior do País, ao redor dos quais, com o decorrer do tempo, foram surgindo povoamentos que se desenvolveram, tornando-se cidades. Mapa das rotas percorridas pelas bandeiras. ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. 17. ed. São Paulo: Ática, 2008, p. 39. Se você não se lembra dessa parte da nossa história – quem foram os Bandeirantes –, reveja o Caderno do Trabalhador 5 – Conteúdos Gerais – “Repassando a história”, que trata dessa questão. Disponível em: <http://www.viarapida.sp.gov. br>. Acesso em: 12 jun. 2013. gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 19 No Brasil, em 1808, a transferência da corte portu- guesa para o Rio de Janeiro (RJ) e a Abertura dos Portos provocaram grandes alterações na estrutura de hospedagem das estalagens ou casas de pasto do século anterior. Até então valores da cultura portu- guesa eram sinônimo de prestígio social, e um deles era o dever cristão e a tradição de receber os hóspedes com regalias nos próprios domicílios. Inúmeras re- sidências possuíam, assim, quartos de hóspedes, tor- nando a hospedagem uma atividade comercialmente pouco rentável. Pobres e viajantes sem contato com moradores, bem como religiosos em viagem, eram acolhidos em instituições religiosas. Com a chegada da corte, no entanto, a cidade do Rio de Janeiro se tornou a capital e o centro da vida política e econômica do País, com grande movimentação de pes- soas e mercadorias em seu porto, devido ao desenvolvi- mento de atividades comerciais, políticas, científicas, Jean-Baptiste Debret. Mercado da rua do Valongo, 1835. Litogravura, prancha 23 do segundo volume do álbum Viagem Pitoresca ao Brasil. F un da çã o B ib lio te ca N ac io na l. R io d e Ja ne ir o, R J Você sabia? O príncipe regente, ao che- gar ao Brasil, expulsou da própria casa os proprietá- rios das melhores residên- cias para abrigar pessoas de sua comitiva. Esses imó- veis foram sinalizados com as letras P e R na porta, o que, para o povo, significa- va: “prédio roubado” ou “ponha-se na rua”. 20 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 artísticas etc., além dos investimentos financeiros inter- nacionais, tudo levando à criação de diversos estabeleci- mentos voltados à hospedagem. A própria instalação da corte de Portugal, que trouxe ao País cerca de 10 mil pessoas, provocou grandes alterações. Com o decorrer do tempo, os proprietários de edifícios transformaram suas salas em lojas, em muitas das quais se instalaram cafés, de proprietários prioritariamente franceses, além de outros estabelecimentos comerciais ligados ao ramo da alimentação (o assunto será abordado adiante), e criaram também acomodações para hospeda- gem nos andares superiores, as quais conviveram com os albergues anteriormente existentes, mas essa estrutura não oferecia as mesmas condições de conforto e hospedagem que as disponíveis no exterior. Mais tarde, algumas man- sões, parte das quais antes ocupada por nobres, foram transformadas em hotéis de luxo, aproveitando-se o fato de estarem, na maioria, afastadas do centro e tendo como privilégio suas características de requinte, inserção em áreas menos ocupadas, com cenário paisagístico atraente etc. O transporte até essas áreas era feito por meio de tração animal com rotas de bondes, diligências. Origens da hotelaria No início do século XIX (19), o termo hotel – do francês hôtel – passou a ser utilizado para designar estabeleci- mentos voltados à hospedagem. O suíço César Ritz (1850-1918) é considerado o “pai da hotelaria”, pois foi responsável por criar os principais conceitos para hotéis de luxo na França, quando ocupou cargos de destaque no gerenciamento de importantes estabelecimentos. Os principais conceitos criados por Ritz foram: quartos amplos, toaletes conjugados aos quartos e criação da recepção do hotel, de forma a centralizar todo o atendi- mento ao cliente. Diligência: Veículo puxado por cavalo para transporte de pessoas, bagagens etc. Você sabia? Para se hospedar em ca- sas de família em São Paulo, no século XIX (19), as pessoas deviam trazer consigo uma carta de re- comendação. Ficar em casas particulares era umaalternativa para escapar das difíceis condições de higiene e acomodação oferecidas pelas hospeda- rias da época. Para saber mais, visite o site do Arquivo Histórico Municipal. Dispo- nível em: <http://www.arquiamigos. org.br/info/info24/i-estudos.htm>. Acesso em: 12 jun. 2013. gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 21 Em 1898, ele criou em Paris, na França, um hotel que levou seu nome, sendo transformado com rapidez em uma rede com filiais em cidades turísticas como Londres (Inglaterra) e Madri (Espanha). Hotel Ritz. Paris, França. Anúncio da São Paulo Railway Company no jornal A Província de São Paulo, 19 mar. 1889, p.3. Origens da hotelaria no Brasil No Brasil, por volta do século XIX (19), alguns hotéis começam a se destacar. A partir de 1867, o setor passou a se beneficiar nessa região com a criação da São Paulo Railway Company, mais tarde Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, voltada para o transporte do café para exportação; e, algumas décadas depois, com as construções do Hotel Terminus, com mais de 200 quartos, e do Hotel Esplanada, com 250 quartos, situado atrás do Theatro Municipal de São Paulo, tendo instalações luxuo- sas para seus três restaurantes e salão de chá, que se transformaria, mais tarde, em um ponto de encontro de artistas, de homens de negócio e de intelectuais. © D ir ec tp ho to .o rg /A la m y/ G lo w Im ag es © A rq ui vo /A E 22 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 No Rio de Janeiro, um hotel que se tornou famoso foi o Pharoux. Aberto em 1817, iniciou como restaurante para, dois anos depois, passar a ter acomodações de hos- pedagem. Antigo Hotel Esplanada na Praça Ramos de Azevedo, em São Paulo (SP). Friedrich Pustkow. Hotel Pharoux, Vistas do Rio de Janeiro, século XIX (19). Coleção Pustkow, Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro (RJ). Também no Rio de Janeiro, em 1835, o Hotel da Itália, bem como outros depois dele, começou a apresentar bandas de música e a promover os primeiros bailes carnavalescos em suas dependências, estabelecendo uma nova alternativa para as elites locais e para a atividade do setor. Na cidade do Rio de Janeiro, faltavam hotéis na virada do século (de 1899 para 1900). O problema foi tão grande que o governo, em 1907, criou a isenção de im- postos e emolumentos municipais, válida por sete anos, para os cinco primeiros grandes hotéis que fossem construídos. A ce rv o M em ór ia V ot or an ti m F un da çã o B ib lio te ca N ac io na l. R io d e Ja ne ir o, R J gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 23 Outro fator, além da medida do governo, também serviu de incentivo: o surgimen- to, em 1908, do Statler Hotel, em Buffalo (EUA), considerado o primeiro hotel moderno, dispondo de portas corta-fogo, fechaduras em todas as portas, interruptor de luz ao lado das portas, banheiro privativo nos apartamentos, água corrente, es- pelho de corpo inteiro, geladeira, telefone etc. Seu proprietário havia lançado um slogan que se tornaria famoso: “A room and a bath a dollar and a half ”, isto é: “Um quarto e um banheiro por um dólar e meio”. Nome Significado Como se fala Room Quarto Rum Bath Banheiro Béf Bathroom Banheiro Béf rum Half Metade Réf Isso funcionou como um incentivo e, em 1908, foi inaugurado o Hotel Avenida, considerado o maior hotel do Brasil, seguido pelo Hotel Glória, inaugurado em agosto de 1922, e pelo Copacabana Palace, de 1923. Hotel Avenida, 1952. Rio de Janeiro (RJ). Como já ocorrido décadas antes no Rio de Janeiro, a hotelaria conseguiu se incor- porar à vida das elites das cidades. © A rq ui vo /A gê nc ia O G lo bo 24 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 O Hotel Glória, empreendimento da mesma empresa dos hotéis Palace, teria sido o primeiro a adotar os ser- viços de governança, contratando uma governanta de origem portuguesa; já o Copacabana Palace constituiria um marco na área da governança, introduzindo o estilo europeu de administração hoteleira. Hotel Glória na época de sua inauguração. Rio de Janeiro (RJ). A década de 1920 ainda contou com o surgimento da Sociedade Brasileira de Turismo (posteriormente Touring Club do Brasil), que desempenhou papel importante na divulgação do turismo e da hospitalidade no País, vindo a se constituir o primeiro órgão oficial de turismo brasi- leiro, ao ser nomeado pelo governo federal para o papel de instituição de fomento nessa área na América do Sul; e o surgimento de companhias de aviação, que também promoveram as viagens e, consequentemente, o seu desenvolvimento. Além desses dois acontecimentos relevantes, o surgimen- to de cassinos no Brasil abriu espaço para a criação de inúmeros hotéis e, além deles, dos hotéis-cassinos, que geraram empregos diretos e indiretos no setor. F un da çã o B ib lio te ca N ac io na l. R io d e Ja ne ir o, R J Para aprofundar seus conhecimentos sobre a história da hotelaria, procure leituras complementares, por exemplo, o livro de Luiz Gonzaga Godoi Trigo: Viagem na memória – guia histórico das viagens e do turismo no Brasil (São Paulo: Senac São Paulo, 2002). Trata-se de um guia histórico das viagens e do turismo no Brasil. gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 25 Com a proibição dos jogos de azar, em 1946, por parte do governo federal, houve uma avalanche de falências em hotéis, a exemplo do Hotel Quitandinha, em Petró- polis, no Rio de Janeiro, e do Grande Hotel, em Águas de São Pedro, no Estado de São Paulo, entre outros. Grande Hotel, Águas de São Pedro (SP). Datas importantes para o turismo no Brasil: criação de associações e empresas 1936 Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih) 1945 Confederação Nacional do Comércio, que em 1955 criou o Conselho de Turismo e Federação Nacional dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares 1953 Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) 1958 Comissão Brasileira de Turismo (Combratur) 1966 Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), voltada ao planejamento e à execução da Política Nacional de Turismo 2004 Câmara Empresarial do Turismo, com vistas a modernizar o setor Fontes: Confederação Nacional do Comércio (CNC). Breve história do turismo e da hotelaria. Rio de Janeiro: CNC, 2005. Disponível em: <http://www.cnc.org.br/sites/default/files/arquivos/brevehistoricodoturismoedahotelaria.pdf>; Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). História. Rio de Janeiro: CNC, 2013. Disponível em: <http://www.cnc.org.br/cnc/sobre-cnc/historia>. Acesso em: 12 jun. 2013. A ce rv o S en ac 26 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 Atividade 2 QuebRando a cabeça 1. Em grupo de até cinco pessoas, reflitam sobre as motivações para viagens na atualidade, respondendo às questões a seguir. a) Quais são, na opinião de vocês, as necessidades dos viajantes ou hóspedes na atualidade? b) Quais são, na opinião do grupo, as condições ideais de hospedagem? 2. Compartilhem com os demais grupos suas respostas. gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 27 Atividade 3 Viagens, hospedagem e hotelaRia Até aqui, você conheceu alguns aspectos do surgimento das viagens, da hospedagem e da hotelaria. Faça aqui um resumo das informações que considerou importantes para sua formação profissional. A história da ocupação de garçom O conceito que temos hoje sobre serviços – setor da econo- mia no qual está inserida a ocupação de garçom – é bastan- te recente. Sobretudo nas últimas três décadas, o setor foi responsável por mudanças que podem ser percebidas nas áreas econômica, social e cultural do País e do mundo. Em outros tempos, em outros séculos, a concepção de serviços era diferente, sendo muito mais associada às formas de trabalho baseadas na servidão, e atémesmo na escravidão, do que à prestação de serviços tal como conhecemos hoje. Por isso, antes de nos determos mais nas especificidades técnicas do trabalho de garçom, vamos dedicar um pou- co mais do nosso tempo a fazer uma viagem histórica, que nos ajudará a compreender como o campo de atua- ção do garçom se formou. Além disso, faremos também uma reflexão sobre ques- tões ligadas ao mundo do trabalho, que nos ajudará a conhecer melhor as relações presentes no mercado de trabalho atual. Você sabia? Para fins de análise, a economia é dividida em três grandes setores: [...] • setor primário: corres- ponde às atividades re- lacionadas à produção de matérias-primas, incluin- do agricultura, avicultura, pesca, pecuária, silvicul- tura, mineração e os agronegócios em geral; • setor secundário: corres- ponde às atividades de transformação das ma- térias-primas, incluindo, portanto, indústrias e construção civil; • setor terciário: corres- ponde às atividades de comércio e oferta de serviços. Fonte: SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT). Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho: Geografia, História e Trabalho: 6o ano do Ensino Fundamental. São Paulo: SDECT, 2011. Silvicultura: Cultivo de ár- vores florestais. © iDicionário Aulete. <www.aulete.com.br> 28 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 Feudalismo e servidão Leia o texto a seguir para saber um pouco mais sobre o período da história conhecido como feudalismo, no qual predominavam as relações de servidão. Você sabia? O feudalismo também é conhecido por Idade Mé- dia, período da história europeia entre o fim do Império Romano do Oci- dente, no século V (5), e o início das descobertas marítimas, no século XV (15). O termo média é jus- tamente utilizado no sen- tido de estar no meio, entre a Antiguidade clás- sica (o mundo grego e romano) e o mundo mo- derno, quando se inicia a passagem para o capita- lismo. Falar Idade Média é o mesmo que dizer “Ida- de ou Europa Medieval”. Carcassone, cidade francesa do período medieval, restaurada no século XIX (19). A sociedade feudal na Europa era dividida por critérios sociais completamente distintos da nossa, que valorizavam a condição de nascimento e a religião. As relações de trabalho naquela época não eram capitalistas nem escravas: o que existia era a servidão [...]. Vale dizer [...] que os servos eram responsáveis por todo o trabalho braçal e que eles jamais pertence- riam à nobreza, pois essa condição era determi- nada pelo nascimento. Aos nobres atribuía-se o dever de proteção aos servos. Por quase todo o tempo que durou o feudalismo, praticamente não houve trabalho assalariado, tal como o conhecemos hoje. A relação de trabalho baseava-se em uma série de obrigações dos servos para com os seus senhores, entre as quais trabalhar na terra dos nobres e pagar tributos em forma de produtos. Essas relações econômicas que envolviam a pres- tação de trabalho estavam misturadas com as Nobreza: Classe de pessoas que, por nascimento ou con- cessão do soberano, gozavam de certos privilégios ou pos- suíam títulos que as diferen- ciavam das demais pessoas. No feudalismo, a nobreza era privilegiada, assim como o clero, pois recebia dos reis muitas regalias, como terras e isenção de tributos. © J on at ha n B la ir /C or bi s/ L at in st oc k gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 29 relações religiosas, na medida em que as ideias que justificavam essa divisão social eram formuladas pela Igreja. Assim, por maiores que fossem as diferenças entre os grupos sociais que compunham a socieda- de feudal, eles estavam unidos pelo cristianismo. […] Em termos da produção, os feudos eram divididos em três partes: o domínio, o manso servil e a terra comum. Se tiver oportunidade, assista ao filme Robin Hood (direção de Ridley Scott, 2010). É uma adaptação da lenda de um herói que, com seu arco e flecha, roubava dos ricos para dar aos pobres. O castelo fortificado, onde morava a família do senhor feudal, geralmente era construído na parte mais alta do feudo. Abaixo e ao redor dele ficavam as terras produtivas, nas quais, em troca da proteção conferida pelo senhor e do direito de poderem trabalhar em suas próprias terras, os camponeses dedicavam dias de trabalho por ano, além de dividirem com o senhor feudal parte do que produzissem. O domínio era formado pelas terras cuja produção destinava-se exclusivamente ao senhor feudal e seus dependentes. Os servos trabalhavam neles durante três dias na semana. Essa obrigação era chamada de corveia. Domínio Terra comum Manso servil © L ea nd ro R ob le s/ P in ga do 30 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 O manso servil era o terreno cedido aos servos para a sua subsistência. Geralmente, ele era divi- dido em pequenos lotes denominados “glebas”, onde cada família trabalhava. Metade da produção dos lotes era entregue ao senhor, como uma es- pécie de imposto pelo uso da terra. Essa obrigação era denominada talha. A terra comum servia para a retirada de lenha e madeira para as construções de todos os habitan- tes do feudo, assim como de pasto para os animais. [...] E quais eram as obrigações do senhor feudal na sociedade medieval? Para os servos, o senhor feudal oferecia proteção e a possibilidade de trabalhar as terras do feudo. • Proteção significava que defenderiam o feudo de ataques externos (de outros senhores), mas também a possibilidade de ajudar os servos em casos de emergência. • Possibilidade de trabalho significava que os ser- vos poderiam arar o campo. [...] Um camponês no regime de servidão (servo) não tinha liberdade para mover-se de um feudo a outro e trocar de senhor feudal: as obrigações que assumia com seu senhor feudal o amarra- vam àquela terra. Como decorrência, de forma geral, a vida de um camponês era restrita ao seu feudo e às pessoas com quem convivia no campo e na aldeia. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT). Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho: Geo- grafia, História e Trabalho: 6o ano do Ensino Funda- mental. São Paulo: SDECT, 2011, p.99-115. O nome da rosa (Der Name der Rose, direção de Jean-Jacques Annaud, 1986). Filme inspirado no romance de mesmo título, do italiano Umberto Eco, que se passa no período da Idade Média. gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 31 Escravidão A escravidão foi outra forma de trabalho que perdurou em todo o mundo durante séculos e também está vin- culada à questão do servir. Ao longo da história da humanidade, ela teve várias facetas, de acordo com cada período histórico e contex- tos social, cultural, político e econômico de cada país que se utilizava desse tipo de relação. Desde a Antiguidade, passando pelo Império Romano, formas de escravidão foram observadas até bem pouco tempo atrás. No Brasil, por exemplo, ela perdurou até o século XIX (19), quando, em 1888, houve a Abolição da Escravatura (quando a escravidão foi abolida oficialmente). Atividade 4 Reflexão sobRe o tRabalho 1. Levando em consideração as questões até aqui discu- tidas sobre servidão e relações de trabalho, responda às questões a seguir. a) Pense em uma sociedade indígena isolada do mundo moderno. Os índios trabalham? Se essa sociedade não conhece o dinheiro, como o trabalho é pago? Você sabia? Mesmo após a Proclama- ção da Independência, em 1822, quando o Brasil se tornou um país indepen- dente de Portugal, o tra- balho escravo continuou a existir no País. Apesar das mudanças que ocor- riam em todo o mundo, e que também influen- ciavam o desenrolar da política e da economia brasileira, ainda foram necessários mais de 60 anos para que essaprática fosse abolida em nosso território. Se você não se lembra dessa parte da nossa história – o período da escravidão no Brasil –, reveja o Caderno do Trabalhador 5 – Conteúdos Gerais – “Repassando a história”, que trata dessa questão. Disponível em: <http://www.viarapida. sp.gov.br>. Acesso em: 12 jun. 2013. 32 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 b) Pense agora na sociedade em que você vive. A chama- da dona de casa trabalha? 2. Discuta com seus colegas a diferença entre trabalho remunerado e não remunerado. Escreva a seguir a que conclusões vocês chegaram. O surgimento da ocupação de garçom A ocupação de garçom, além de pertencer à área de tu- rismo e hospitalidade, guarda também importante rela- ção com outras ocupações da área de gastronomia. Sua origem está diretamente relacionada ao surgimento de restaurantes e às mudanças vivenciadas pela humanidade, ao longo de sua história, em relação aos hábitos alimentares. Como vimos, o ato de servir está presente desde a Anti- guidade, quando o serviço era feito por escravos que serviam seus donos no ambiente doméstico e pelos pro- prietários e seus familiares donos das tabernas, estabele- cimentos comuns do período medieval que ofereciam alimentação e a possibilidade de hospedagem para aque- les que estavam de passagem. Mesmo em dias atuais, as transformações continuam a acontecer. Um exemplo de significativa mudança nos hábitos alimentares das famílias, sobretudo nas últimas três décadas, foi o fato de terem passado a realizar parte das refeições diárias, especialmente o almoço, em Para conhecer mais sobre a história da gastronomia e as ocupações ligadas a esse ramo, acesse o material relativo às ocupações de cozinheiro e barman. Disponível em: <http://www.viarapida.sp.gov. br>. Acesso em: 12 jun. 2013. gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 33 restaurantes, e não mais na própria casa. Essa mudança está muito ligada às transformações no mercado de tra- balho, principalmente com o ingresso maciço das mu- lheres, em particular nos anos 1970 e 1980. O século XVIII (18) foi um marco, trazendo grandes modificações para a gastronomia. As refeições começaram a ser servidas de maneira individualizada, abandonou-se o hábito de comer com as mãos, e os alimentos passaram a ser dispostos nos pratos para “encantar o olhar” antes de serem provados. A França, no século XVIII (18), viveu um importante episódio de sua história: a Revolução Francesa. Segundo alguns historiadores, ela teve início em 14 de julho de 1789 (dia que passou a ser feriado nacional na França), quando a população tomou, em Paris, a prisão da Bastilha, conhecida por aprisionar os oponentes da monarquia. Essa revolução, cujo lema era “Liberdade, igualdade e fraternidade”, foi responsável por profundas mudanças políticas e sociais, tendo importante signifi- cado no processo de transição do período feudal para o capitalismo. Se você não se lembra ou deseja conhecer mais sobre essa parte da história mundial – a revolução Francesa –, pode acessar o conteúdo do Caderno do Estudante de História do 7º ano do Programa EJA – Mundo do Trabalho. Disponível em: <http://www. ejamundodotrabalho.sp.gov.br>. Acesso em: 12 jun. 2013. Um homem conhecido como Boulanger fazia o que se chamava, na época [ano de 1765], de “caldos restaura- dores” [consommé – fala-se “consomê”], e colocava mesas nas calçadas para servi-los. Anos mais tarde (1782) Beauvilliers abriu o restau- rante Grande Taverne de Londres. Este foi o pri- meiro restaurante semelhante aos moldes do que temos hoje, com um menu e horários fixos para servir as refeições. Estava, portanto, criado o primeiro restaurante! Fonte: Larousse Gastronomique. Paris: Larousse, 2000, p. 2054-5. A gastronomia passou a ser considerada, portanto, uma área que se dedica ao “conhecimento das leis do estômago”. Essa terminologia da Antiguidade foi expandida no sé- culo XVIII (18) para a arte de preparar os alimentos explorando os sabores que podem oferecer, além, é claro, de se referir aos atos de comer e beber bem. 34 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 Os ocidentais comem com talheres; os japoneses, com hashis (palitinhos); os indí- genas, com as mãos. Além de outros animais, no Brasil, apesar da proibição, come- -se carne de tartaruga; na França, carne de cavalo; e os vietnamitas apreciam o sabor da carne de cachorro. Em vários países consomem-se diversos animais e mesmo insetos, que não são alimentos em nosso País. De fato, em gastronomia não há certo nem errado, pois esses hábitos fazem parte das características de cada cultura. Atividade 5 a humanidade e o alimento Leia o texto a seguir e assinale as palavras cujo sentido você não compreendeu. De onde vem o gosto alimentar? Cada sociedade, em cada tempo, tem um hábito alimentar que está ligado não só ao clima e à geografia da região, como também à história dessa população. Os alimentos ingeridos têm uma história que reflete diretamente a época em que se vive. Ao nascer, o ser humano passa por um longo processo de formação do gosto e dos hábitos alimentares, em que os alimentos comuns de sua sociedade passam a ser seus alimentos prediletos e muito saboreados. Assim, a cozinha é um lugar privilegiado onde se pode compreender os hábitos alimentares, suas transforma- ções e permanências ao longo do tempo. Surge um novo conceito: gastronomia A culinária pouco a pouco se tornou uma “ciência” em busca de novas técnicas e foi dando lugar ao que se chama gastronomia. Com o contínuo processo de mudança nos hábitos alimentares e o consequente surgimento do restaurante, apareceu então uma das principais figuras que possibi- litam seu funcionamento: o garçom. Foi nesse momento da história que o ato de servir em estabelecimentos passou a ser função específica do garçom. No Brasil, o surgimento dos restaurantes e, em decorrência, da ocupação de gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 35 garçom seguiu o ritmo da urbanização do País, com maior expansão a partir do século XIX (19) e, princi- palmente, no século XX (20). A chegada da corte portuguesa ao Brasil em 1808, como vimos, foi um momento importante no desenvolvimen- to do País, em especial para a cidade do Rio de Janei- ro, que foi sede da corte de dom João VI (6o) por 13 anos. Para atender aos novos moradores e a seus hábi- tos europeus, houve o crescimento no número de es- tabelecimentos comerciais, entre eles os ligados ao ramo da alimentação, conhecidos à época como leite- rias e confeitarias. Mas foi a partir do século XX (20) que a urbanização do País ampliou-se para além dos principais centros, aumentando o número de estabelecimentos comerciais como restaurantes e bares, ao mesmo tempo que se expandia a ocupação do garçom no País. E o nome garçom, de onde vem? O nome garçom tem origem francesa. Nessa língua, o termo garçon significa rapaz ou garoto, e, no Brasil, foi adaptado de acordo com o sistema linguístico português, transformando-se em garçom, com a letra m no final. Já o feminino de garçom, garçonete, também foi construído com base no francês, pois a terminação ette é utilizada na língua francesa para compor o femi- nino de algumas palavras. Assim, em termos linguísticos, a denominação dessa ocupação pode ser considerada um estrangeirismo. Mas você sabe o que é isso? Já ouviu falar nesse termo? O uso de palavras ou de expressões estrangeiras na nos- sa língua é chamado estrangeirismo. Quando a origem da palavra é o inglês, seu uso pode também ser chamado anglicismo. Em alguns casos, conserva-se a grafia original das palavras, como em email, notebook, marketing etc.; Você sabia? Na França, o termo pa- ra designar garçom é serveur (fala-se “servér”) e garçonete, serveuse (fala-se “servêze”). Linguística: Estudo da lin- guagem e dos princípios geraisde funcionamento e evolução das línguas. © iDicionário Aulete. <www.aulete.com.br> 36 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 outras, no entanto, foram aportuguesadas, como bife (de beef ), nocaute (de knockout), handebol (de handball ), sutiã (soutien) e outras mais. Há escritores e artistas brasileiros que defendem a língua portuguesa sem os chamados estrangeirismos. É o caso do pernambucano Ariano Suassuna (1927- ), autor de Auto da Compadecida (1955), que é contra o uso de americanismos (termos tomados do inglês estadunidense) na nossa língua. Por que você acha que há brasileiros que são contra os americanismos? Papo de garçom Para terminar, um pouco de curiosidade. Alguns autores contam uma história interessante que explica como a denominação garçom se consolidou. Os períodos de guerra são reconhecidamente uma época em que mulheres e jovens precisam trabalhar para substituir a força de trabalho masculina, que acaba tendo de servir nos exércitos. Algumas histórias informam que, na França (país que participou ativamente das duas grandes guerras do século XX (20), a 1a e a 2a Guerras Mundiais), muitos desses jovens encontraram na ocupação de garçom e de atendente uma possibilida- de de trabalho. Assim, quando os clientes precisavam chamar a atenção desses profissionais, acabavam chamando-os por rapaz, ou seja, garçon. Muitos desses restaurantes e bares eram frequentados por soldados de diversas na- cionalidades que, ao voltarem para o país de origem, levaram consigo essa forma de denominar esses trabalhadores. © B el P ed ro sa /F ol ha pr es s gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 37 unida d e 2 Quem é o garçom hoje? Quando pensamos no trabalho do garçom, imediatamente nos vem à mente a ideia de servir. Trata-se daquele profissional que está sempre pronto para nos ajudar. Quer seja em situações de lazer, por exemplo, em um restaurante de hotel, ou mesmo no corre-corre diário dos restaurantes por quilo, lá está ele para nos atender. Aos olhares menos atentos, pode parecer, a princípio, que para realizar as atividades de garçom basta ser simpático, anotar pedidos e fechar a conta. No entanto, nosso intuito neste curso é construir com você um conjunto de conhecimentos que lhe possibilitem ir além ao desempenhar essa ocupação. Para começarmos a pensar sobre quais são as qualificações e os conhecimentos necessários para que o garçom realize o conjun- to de atividades que dele se espera, e que certamente vão além daquelas já citadas, vamos fazer a atividade seguinte. Atividade 1 a cRônica do gaRçom 1. Em grupo, com quatro colegas, leiam a crônica a seguir. Crônica de botequim: o mito do garçom Nenhuma outra figura na história mundial conhece tão bem os segredos e traquejos da noite quanto ele, o Garçom. Também Crônica: Coluna ou seção em revista ou jornal, geral- mente assinada, com comen- tários, críticas, narrativas etc., sobre temas ou fatos momentosos de interesse diverso (culturais, esportivos, políticos, sociais etc.), geral- mente a partir de noticiário. © iDicionário Aulete. <www.aulete.com.br> 38 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 conhecido como chefia, capitão, amigão, brother, doutor, mestre, camarada. Ele é seu, meu, nosso amigo. Conhece, melhor do que ninguém, a ficha de cada bebum ou dama solitária do bar. O Garçom já foi imortalizado pelo cinema e pela cultura popular. Ele é o responsável pelo alívio imediato ao final do dia. Muitas vezes é cúmplice de mentiras deslavadas e companheiro de pro- fundos e sombrios porres. É ouvinte atento de desventuras amo- rosas, competentíssimo psicólogo entre uma cerveja e outra. Todo Garçom é um baú repleto de histórias irreverentes e ini- magináveis. Bom Garçom te chama pelo nome e pergunta “O de sempre?”. Não espera a gente chamar para trazer mais uma. Sabe muito bem que a saideira dura pelo menos três rodadas. Pelo menos. O Garçom está presente no cotidiano. É fotógrafo, cupido e produtor musical. Na maioria das vezes sempre tem uma piada ou comentário sarcástico na ponta da língua. Vive correndo, alimentando a alegria de quem celebra a noite. O Garçom é o símbolo máximo da cortesia e da camaradagem. E é ele que muitas vezes leva a culpa no dia seguinte… pobre Garçom. Existem vários tipos de Garçons. Os simpáticos que estão sem- pre de alto-astral. Estes possuem uma energia incomum e não apresentam as tão cotidianas olheiras que os próprios clientes trazem em face. Existe também o Garçom gozador (sem troca- dilho), que vive fazendo piada com os clientes, comenta o futebol e sempre te sacaneia quando seu time perde. Dá palpites até. Há o Garçom mal-humorado (mas que o é somente para fazer pose). Basta perguntar onde está o limão da caipirinha que ele te manda ir buscar no Horti-fruit. Existe o Garçom gago, o ligei- rinho, o bom de memória e o que tem amnésia. Existe até mes- mo o invisível – que sempre se materializa com outra cerveja sobre a mesa. Independente do estilo do bar ou do cliente, sempre haverá um Garçom a postos pronto a animar a noite (ou o dia!). Psicólogo, amigo, descontraído, cansado, imbatível. [...]. gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 39 Não importa. No final das contas, o Gar- çom é um patrimônio público, especta- dor dos melhores e piores momentos de nossas vidas. É um fiel mordomo. Em todo botequim que se preze, o Garçom é mesmo um mito. GIMENES, Fabricio. Crônica de botequim: o mito do garçom. São Botequim: política, cultura e boemia, 26 de outubro de 2009. Disponível em: <http://saobotequim. wordpress.com/2009/10/26/cronica-de- botequim-o-mito-do-garcom/>. Acesso em: 12 jun. 2013. 2. Após a leitura da crônica e pensando no que apren- demos até agora sobre o tema trabalhado, qual é a opinião do grupo sobre como a ocupação é descrita e caracterizada no texto? Registre aqui as conclusões a que chegaram. 3. Agora sozinho, reflita sobre seu futuro profissional: Você se imagina trabalhando como garçom? Como se vê? Onde se imagina trabalhando? Tempos modernos (Modern Times, direção de Charles Chaplin, 1936). O filme, na sua parte final, traz Chaplin trabalhando como garçom em um restaurante. 40 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 O garçom e seu universo de trabalho São muitas as possibilidades de trabalho, não são? Mesmo sabendo que para o exercício da ocupação não é obrigatório nenhum curso de especialização, são diversas as razões que reafirmam a importância de se ter, de forma sistematizada, acesso a todas as técnicas e a todos os conhecimentos relevan- tes (que são muitos!) para a boa prática da ocupação de garçom. Os conhecimentos que garçons e garçonetes vêm adquirindo ao longo de sua traje- tória de formação e de vida, ou seja, aquilo que aprendem com a prática cotidiana dentro e fora do trabalho, ou em cursos de formação profissional, são importantís- simos para o desenvolvimento da carreira e para que consigam um bom emprego. É verdade que se trata de um setor em expansão nas últimas décadas, e a perspec- tiva é de que esse crescimento continue; eventos de porte internacional, como a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, garantem o crescimento esperado. Mas, por outro lado, o hábito de frequentar restaurantes não está apenas associado aos momentos de lazer ou de grandes eventos; trata-se de um costume que já faz parte do cotidiano de muitas pessoas que frequentam esses estabelecimentos, às vezes, todos os dias. Por isso, o garçom precisa estar preparado para atuar nesses diversos tipos de am- biente, a fim de realizar diferentes tipos de trabalho, buscando sempre maior qua- lificação e ampliação de seus conhecimentos, pois isso poderá lhe trazer mais opções na hora da escolha do primeiro (ou de um novo) emprego.Chegou o momento de nos aprofundar um pouco mais no conhecimento das ati- vidades que você precisa aprender para exercer a ocupação de garçom. O Dia do Garçom é comemorado em 11 de agosto. Tradi- cionalmente, muitos restaurantes e bares realizam uma “competição de garçons”, na qual esses profissionais são convidados a demonstrar toda sua habilidade ao carregar bandejas cheias e pesadas; vence aquele que chegar primeiro sem deixar cair nada! Corrida de garçons, 1954. Paris, França. © U ni ve rs al /T em pS po rt /C or bi s/ L at in st oc k gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 41 Atividade 2 o Que eu sei sobRe a ocupação de gaRçom? Pense no que você sabe sobre ser garçom, respondendo às questões a seguir. 1. O que fazem os garçons? 2. Em sua opinião, quais os conhecimentos necessários para ser um profissional dessa área? Classificação Brasileira de Ocupações O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) produziu um documento chamado Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Ele descreve 2 422 ocupações e diz o que é preciso para exercê-las: a escolaridade necessária, o que cada profissional deve fazer, onde pode atuar etc. Entre as informações que constam desse documento, existe um grupo que nos interessa definir neste momen- to: quem é o garçom hoje. A CBO organiza as ocupações em “famílias”. A família ocupacional do garçom é a de número 5 134, denomi- nada pela CBO como “garçons, barman, copeiros e sommeliers (fala-se “someliê”)”, na qual encontramos a definição do que faz e do que deve saber fazer um tra- balhador que pretende ser garçom. A CBo é um documento que busca expressar e definir as ocupações existentes em todo o País. Sommelier : Especialista no serviço de bebidas. 42 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 Para essa ocupação, a CBO traz alguns sinônimos de como ela pode ser conhecida; essa diferenciação de no- menclatura pode acontecer por diversas razões: seja por- que a ocupação é conhecida por variados nomes, seja porque pode ter um nome diferente de acordo com a cultura local dos muitos Estados e municípios em todo o Brasil. Vamos ver alguns sinônimos dados para a ocupação de garçom na descrição da CBO. • Atendente de bufê. • Atendente de mesa. • Auxiliar de maître (fala-se “métre”). • Garção. • Garçom de bar. • Passador de guarnição. Por se tratar de uma “família ocupacional”, encontramos nesse grupo não apenas a ocupação de garçom, mas tam- bém sete outras que têm afinidade e atividades em comum. São elas, com seus respectivos sinônimos: • atendente de lanchonete: ajudante, auxiliar de bar, auxiliar de lanchonete, atendente de balcão de café, balconista de lanchonete, cafeteiro, cantineiro (escola), chapista de lanchonete, servente de lanche; • barista: atendente barista, atendente de cafeteria; • barman: atendente de bar, auxiliar de barman, balco- nista de bar, preparador de drinques e bebidas; • copeiro: auxiliar de serviço de copa, chefe de copa, copeiro de bar, copeiro de eventos, copeiro de ho- tel, copeiro de lanchonete, copeiro de restaurante; • copeiro de hospital [sem sinônimo para esta ocupação]; Você sabia? A descrição de cada ocu- pação da CBo é feita pe- los próprios trabalhadores. Dessa forma, temos a ga- rantia de que as informa- ções vêm de quem atua no ramo e, portanto, conhece bem a ocupação. Você po- de ler esse documento na íntegra acessando, no la- boratório de informática, o site do MTE, disponível em: <http://www.mtecbo. gov.br>. Acesso em: 12 jun. 2013. Ao ler esse documento, você poderá, até mesmo, conhecer as instituições e os profissionais que des- creveram as atividades realizadas pelos garçons. gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 43 • cumim: auxiliar de garçom, auxiliar de mesa em restau- rantes, hotéis e outros, carregador de utensílios de cozinha; • garçom (serviços de vinhos): degustador de vinho, escanção, especialista em vinho, sommelier. A descrição resumida (sumária), feita pela CBO, sobre o que fazem esses trabalhadores é a seguinte: Atendem os clientes, servem alimentos e bebidas em restaurantes, bares, cafeterias, hotéis, hospi- tais, eventos etc. Manipulam alimentos e preparam sucos, drinks e cafés. Realizam serviços de vinho e de café. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Disponível em: <http:// www.mtecbo.gov.br>. Acesso em: 12 jun. 2013. Atividade 3 sabeRes pReVistos na cbo paRa a ocupação de gaRçom e os pRópRios sabeRes O monitor ou uma das pessoas da classe vai ler, em voz alta, cada um dos itens a seguir e as áreas de atividades que lhes são correspondentes. Acompanhe atentamente a leitura e, enquanto estiver ouvindo, aproveite para assinalar ao lado de cada uma das atividades uma das opções seguintes. • Saberes que tenho: atividades que você já sabe fazer. • Saberes que preciso aprimorar: atividades que você sabe mais ou menos, ou seja, cujo conhecimento precisa aprimorar. • Saberes que não tenho: atividades que você não sabe fazer ou que ainda não conhece. Durante a leitura, mantenha um dicionário por perto. Talvez você precise consultar o significado de algumas palavras para compreender o texto. O monitor também pode ajudá- -lo nesse caso, explicando atividades ou termos desconhecidos por você ou por alguém da classe. 44 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 Servir o cliente Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Trazer o couvert Entregar o cardápio Tirar o pedido Mapear mesa para entrega de pratos Encaminhar pedidos para cozinha e bar Servir aperitivos Servir bebidas Servir vinho Administrar o fluxo de pratos entre a cozinha e as mesas Checar pedido antes de servir Servir bandeja Servir pratos Fatiar carne (churrascaria) Destrinchar peixe Completar o bufê Servir queijos Servir sobremesas Servir chá, café, licores e digestivos Checar a conta Trazer a conta gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 45 Servir o cliente Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Receber contas Fazer porções para viagem Atender o cliente Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Recepcionar o cliente Informar previsão de tempo de espera Acomodar o cliente Acompanhar o cliente à mesa Questionar as preferências do cliente Dar sugestões Descrever os pratos Esclarecer as dúvidas do cliente Fornecer informações ao cliente Atender reclamações do cliente Montar praça, carrinho, mesa, balcão, bar Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Organizar estrutura de apoio (montar mise en place) Providenciar gelo Selecionar produtos (limpeza e outros) 46 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 Montar praça, carrinho, mesa, balcão, bar Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Selecionar talheres Escolher louças Selecionar copos Montar kits de descartáveis (guardanapos, talheres, sal) Dobrar guardanapos Forrar bandeja Montar mesa, bandeja, balcão e bar Decorar mesa Montar carrinho Selecionar alimentos e bebidas Repor o material de apoio Repor aparadores e gueridons Repor bebidas em geral Substituir cobre- -manchas Organizar o trabalho Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Conferir ordem de serviço Verificar a lista de reserva gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 47 Organizar o trabalho Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Verificar quantidade e disponibilidade de produtos Verificar material de trabalho (utensílios e equipamentos) Requisitarutensílios, equipamentos e produtos de limpeza Verificar estoques de produtos e alimentos Controlar prazos e datas de validade de produtos e bebidas Contar número de couverts e refeições servidas Controlar sobras e perdas Mise en place (fala-se “misanplace”): Esta expressão francesa significa, literalmente, “colocado no lugar”. Pode ser usada em diversos segmentos, por exemplo, na cozinha, para denominar o procedimento que facilita e organiza todas as operações necessárias para a elaboração de um prato. O sentido do termo neste Caderno, no entanto, específico para a ocupação de garçom, aplica-se à orga- nização das mesas em um restaurante: a forma de se distribuir os pratos, talheres, copos etc., de acordo com cada tipo de serviço e/ou comida que será servido. 48 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 Organizar o trabalho Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Controlar desperdícios Controlar acesso de pessoas Verificar cumprimento das normas sanitárias Verificar segurança do local de trabalho Preparar alimentos e bebidas (entradas, saladas, drinques etc.) Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Colocar bebidas para gelar Preparar coquetéis, drinques, aperitivos Preparar canapés Preparar couverts Preparar saladas Enfeitar drinques, coquetéis e pratos Observar o ponto de cozimento dos alimentos Observar a apresentação dos pratos Fazer serviço de réchaud Flambar sobremesas, pratos e bebidas gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 49 Preparar alimentos e bebidas (entradas, saladas, drinques etc.) Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Preparar sorbets e amuse-gueules Realizar o serviço de vinhos Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Compatibilizar vinhos e alimentos Apresentar carta de vinhos Auxiliar o cliente na escolha do vinho Apresentar o vinho para o cliente Abrir a garrafa Mostrar a rolha ao cliente Decantar o vinho Trocar vinhos e copos de acordo com o cardápio escolhido Desmontar a praça Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Desmontar o carrinho Desmontar mesas Recolher as bandejas Recolher louças, talheres, copos Guardar louças, copos e prataria 50 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 Desmontar a praça Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Desmontar o bufê Tirar toalhas Guardar produtos Arrumar o espaço Inventariar bebidas consumidas Inventariar o material (louças, pratarias, enxoval de mesa) Encaminhar enxoval de mesa para lavanderia Higienizar utensílios e equipamentos Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Lavar utensílios Limpar prataria Secar louça e prataria Esterilizar instrumentos e materiais Limpar equipamentos de refrigeração Pôr louça e prataria na máquina de lavar Retirar louça e prataria da máquina de lavar Limpar equipamentos em geral Limpar balcão e bancada gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 51 Higienizar utensílios e equipamentos Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Limpar bandejas e carrinhos Retirar restos de comida Limpar mesas Separar lixo Limpar o chão Destinar o lixo Nome Como se fala Couvert Cuvér Réchaud Rechô Sorbet Sorbé Amuse-gueule Amius gãle O que mais diz a CBO São ainda apresentados na CBO saberes relacionados: • à escolarização formal e à formação profissional dos trabalhadores, por meio de cursos e/ou experiências de trabalho; • às atitudes pessoais que interferem no desempenho profissional. Atividade 4 mais infoRmações da cbo Você vai fazer agora, com relação a esses saberes, o mesmo exercício realizado na atividade anterior. 52 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 Escolarização e formação/ experiência profissional Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar ou em andamento Saberes que não tenho Ensino Fundamental incompleto Treinamentos e cursos Curso de idiomas Atitudes pessoais Saberes que tenho Saberes que preciso aprimorar Saberes que não tenho Manter-se disciplinado Cuidar da aparência e da higiene pessoal Contornar situações adversas Demonstrar cordialidade Cultivar a sensibilidade Cultivar a ética profissional Manter-se dinâmico Demonstrar paciência Demonstrar educação Lidar com estresse Se você desconhece a maior parte dessas atividades ou acha que não sabe executá-las bem, não se sinta mal. Muitas delas fazem parte apenas do trabalho de garçons experientes, com algum tempo de atuação no mercado. gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 53 Além disso, um dos objetivos deste curso de qualificação é desenvolver alguns desses conhecimentos, que podem ser considerados mais técnicos e estão diretamente rela- cionados à ocupação de garçom. Se existem muitos itens que você desconhece ou tem de aprimorar, não se preocupe. É exatamente para saber (ou saber melhor) como fazer esse trabalho que você está neste curso. Mantenha esses quadros com você. No final do curso, você vai utilizá-los novamente. Conquistas recentes da ocupação Para finalizar esta Unidade, falaremos agora de algumas conquistas recentes para a ocupação de garçom. Lei Antifumo A primeira conquista para a ocupação de garçom está relacionada a uma questão de saúde: a proibição do fumo em ambientes fechados. Para melhor compreender o que essa nova lei significa para os garçons, primeiro temos de falar um pouco sobre o tema saúde. Observe a definição de saúde utilizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): A Organização Mundial da Saúde – OMS define saúde como “o completo estado de bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de enfermidade”. Tal conceito tem uma profunda relação com o desenvolvimento e expressa a associação entre qualidade de vida e saúde da população. A saúde, nesse sentido, é resultado de um processo de produção social e sofre influência de condições de vida adequadas de bens e serviços. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Anvisa na redução à exposição involuntária à fumaça do tabaco. Brasília: Anvisa, 2009. p. 4. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/ wps/content/Anvisa+Portal/Anvisa/Inicio/Derivados+do+Tabaco/ Assuntos+de+Interesse/Publicacoes>. Acesso em: 12 jun. 2013. Você sabia? Existe um órgão público para fiscalizar e normati- zar todos os setores rela- cionados a produtos e serviços que possam afe- tar a saúde da população brasileira. A Anvisa, vin- culada ao Ministério da Saúde, atua também na área de alimentos: coor- dena, supervisiona e con- trola as atividades de registro, informações e inspeção, controle de ris- cos e estabelecimento de normas e padrões. O ob- jetivo é garantir as ações de vigilância sanitária de alimentos, bebidas, águas envasadas, seus insumos, suas embalagens, aditi- vos alimentares e coad- juvantes de tecnologia, limites de contaminantes e resíduos de medica- mentos veterinários. Essa atuação é comparti- lhada com outros Ministé- rios, como o da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e com os Estados e muni- cípios que integram o Sis- tema Nacional de Vigilância Sanitária. Saiba mais sobre esse ór- gão acessando o site da Agência de Vigilância Sa- nitária (Anvisa). Disponível em: <http://www.anvisa. gov.br>. Acesso em: 12 jun. 2013. 54 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 Durante muitas décadas, enquanto o hábito de fumar foi permitido em ambientes fechados, como bares e restaurantes, os trabalhadores desses locais ficavam expostos à inalação dessafumaça. As pessoas que ina- lam fumaça mesmo sem tragar são denominadas “fu- mantes passivas”. É comprovado que os fumantes passivos também são atingidos pelo mal que a fumaça do tabaco provoca na saúde. Segundo informações da Anvisa: Quando o cigarro é aceso, somente uma parte da fumaça é tragada pelo fumante, e cerca de 2/3 da fumaça gerada pela queima é lançada no am- biente, através da ponta acesa do produto (cigarro, charuto, cigarrilhas e outros). Essa fumaça, denominada corrente secundária, so- mada à fumaça exalada pelo fumante forma, em ambientes fechados, a Fumaça Ambiental do Taba- co – FAT ou Poluição Tabagística Ambiental – PTA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Anvisa na redução à exposição involuntária à fumaça do tabaco. Brasília: Anvisa, 2009. p. 5. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/ Anvisa/Inicio/Derivados+do+Tabaco/ Assuntos+de+Interesse/Publicacoes>. Acesso em: 12 jun. 2013. Estudos informam que os malefícios provocados por essa fumaça ambiental podem ser tão fortes quanto os cau- sados pela fumaça inalada diretamente pelo fumante ao tragar um cigarro. Os trabalhadores expostos a essas condições, como os que trabalham em bares e restaurantes, têm, segundo estudos, um risco de 300% a 400% maior de contami- nação do que qualquer outra categoria ocupacional. Após um dia de trabalho, é como se eles tivessem fumado de quatro a dez cigarros. Você sabia? O cigarro é composto por cerca de 400 substân- cias, das quais aproxima- damente 200 são tóxicas. Dentre as substâncias tóxicas, 40 são cancerí- genas, ou seja, podem provocar câncer. gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 55 Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, a PTA é a maior fonte de poluição em ambientes fechados e o tabagismo passivo, a 3a maior causa de morte evitável no mundo, perdendo apenas para o tabagismo ativo e o consumo excessivo de álcool (IARC, 1987; Surgeon General, 1986; IARC, 2002). Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Anvisa na redução à exposição involuntária à fumaça do tabaco. Brasília: Anvisa, 2009. p. 6. Disponível em: <http://portal. anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/Anvisa/Inicio/ Derivados+do+Tabaco/Assuntos+de+Interesse/Publicacoes>. Acesso em: 12 jun. 2013. Tendo em vista toda essa questão, que é de saúde pública, diversos Estados e municípios se mobilizaram no sentido de aprovar leis que proibissem o fumo em ambientes fechados. No Estado de São Paulo, no dia 7 de maio de 2009, entrou em vigor a Lei no 13.541, que proíbe o consumo de cigar- ros, cigarrilhas, charutos, cachimbos ou qualquer outro produto fumígeno em ambientes fechados. Diz a lei: Artigo 1o – Esta lei estabelece normas de proteção à saúde e de responsabilidade por dano ao consumidor, nos termos do artigo 24, incisos V, VIII e XII, da Constituição Federal, para criação de ambientes de uso coletivo livres de produtos fumígenos. Artigo 2o – Fica proibido no território do Estado de São Paulo, em ambientes de uso coletivo, públicos ou privados, o consumo de cigarros, cigarrilhas, charutos ou de qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco. § 1o – Aplica-se o disposto no “caput” deste artigo aos recintos de uso coletivo, total ou parcialmente fechados em qualquer dos seus lados por parede, divisória, teto ou telhado, ainda que provisórios, onde haja permanência ou circulação de pessoas. § 2o – Para os fins desta lei, a expressão “recintos de uso coletivo” compreende, dentre outros, os ambientes de trabalho, de estudo, de cultura, de culto religioso, de lazer, de esporte ou de entrete- Fumígeno: Que produz fu- mo ou fumaça. © iDicionário Aulete. <www.aulete.com.br> 56 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 nimento, áreas comuns de condomínios, casas de espetáculos, teatros, cinemas, bares, lanchonetes, boates, restaurantes, praças de alimentação, hotéis, pousa- das, centros comerciais, bancos e similares, supermercados, açougues, padarias, farmácias e drogarias, repartições públicas, instituições de saúde, escolas, museus, bibliotecas, espaços de exposições, veículos públicos ou privados de transporte coletivo, viaturas oficiais de qualquer espécie e táxis. [...] SÃO PAULO (Estado). Lei no 13.541, de 7 de maio de 2009. Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2009/lei%20n.13.541,%20de%20 07.05.2009.htm>. Acesso em: 12 jun. 2013. Atividade 5 alguns Resultados da lei antifumo paRa os gaRçons 1. Leia a reportagem a seguir: Com lei antifumo, garçons ganharam 3 anos a mais de vida Os garçons e funcionários de bar e restaurantes apresentaram uma melhora de saúde equivalente ao ganho de três anos de vida graças à lei que restringe o uso do cigarro em locais públicos fechados, apon- ta um estudo científico suíço divulgado nesta quinta-feira (30). A pesquisa, realizada pelo Instituto Tropical e de Saúde Pública do Cantão de Basileia, se baseou em exames cardiovasculares de uma centena de trabalhadores de bares e restaurantes, principalmente garçons. No caso dos estabelecimentos menores, a pesquisa tam- bém incluiu de forma voluntária os ajudantes de cozinha que cos- tumam colaborar com o atendimento aos clientes. Segundo os pesquisadores suíços, os três anos de vida a mais que foram mencionados representam uma média da melhora dos indica- dores cardiovasculares dos funcionários, que passaram a ficar menos expostos a fumaça em seus locais de trabalho. gA r ç o m 1 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e 57 Os participantes do estudo foram submetidos a um primeiro exame médico antes da aplicação da lei antifumo na Suíça, no 1o de maio de 2010. Após seis e 12 meses depois, os envolvidos com a pesquisa voltaram a realizar os mesmos testes médicos, o que permitiu um melhor acompanhamento desta evolução. Antes da restrição do cigarro em locais públicos fechados, os empre- gados inalavam passivamente o equivalente a cinco cigarros por dia e, após a nova lei antifumo, essa exposição passou a ser 16 vezes menor, concluiu a pesquisa. Com lei antifumo, garçons ganharam 3 anos a mais de vida. Agência EFE. Disponível em: <http://saude.terra.com.br/doencas-e-tratamentos/ com-lei-antifumo-garcons-ganharam-3-anos-a-mais-de-vida,d41444dc33779310Vgn VCM10000098cceb0aRCRD.html>. Acesso em: 12 jun. 2013. 2. Agora, com a ajuda do monitor, produza um pequeno texto sobre quais são, em sua opinião, os pontos positivos e negativos (se houver) da Lei Antifumo. Na própria descrição da CBO feita por profissionais da área, foram informadas atividades relativas ao hábito de fumar – até pouco tempo atrás muito comum em restaurantes e bares –, tais como colocar cinzeiros nas mesas e estar atento e fazer a limpeza deles constantemente. No entanto, a partir de 2009, os garçons paulistas obtiveram essa conquista não apenas relativa ao ambiente de trabalho, mas, sobretudo, uma importante conquis- ta para sua qualidade de vida e saúde. 58 Arco Ocupacional Tu r i s m o e Ho s p i Ta l i d a d e gA r ç o m 1 Agora leia (e, se tiver possibilidade, ouça também) a letra da canção de Noel Rosa (1910-1937) “Conversa de bote- quim”, composta em 1935, e perceba como o hábito de fumar se fazia presente nesse ambiente e na relação dos clientes com os garçons desde aquela época. Hoje, no entanto, por determinação da lei, algumas atividades ci- tadas na letra da música não fazem mais parte das tarefas de um garçom. Conversa de botequim Oswaldo Gogliano (VADICO) e Noel de Medeiros Rosa (NOEL ROSA) Seu garçom, faça o favor De me trazer depressa Uma boa média que não seja requentada Um pão bem quente com manteiga à beça Um guardanapo e um copo d’água bem gelada Feche a porta da direita com muito cuidado Que não estou disposto a ficar exposto ao sol Vá perguntar ao seu freguês do lado Qual foi
Compartilhar