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Um exemplo de metáfora: tornar-se como uma criança como o “maior” no Reino dos Céus Quem é o maior no Reino dos Céus? Essa pergunta foi feita certa vez ao Salvador Jesus, que não só responde a essa questão, como surpreende, escolhendo uma criança para redefinir o conceito de grandeza no Reino dos Céus. Em termos culturais e sociais, no mundo greco-romano a criança era considerada de maneira geral como alguém desinformado, que precisa ser ensinado e até passar por disciplina mais severa. O costume romano incluía certas situações em que recém-nascidos “não desejados” poderiam ser abandonados, a fim de que morressem, ou serem encontrados por alguém para serem criados como escravos. A ideia de criança como criança era bem negativa. No mundo do Antigo Testamento e do Judaísmo a criança era vista como sem entendimento, teimosa e desobediente, o que significava necessidade da divina e humana disciplina (2 Rs 2.23ss). As crianças na Antiguidade não eram vistas como “modelos”, mas como necessitados, sem entendimento e dependentes do cuidado de outros. No evangelho de Mateus o vocábulo específico para criança se refere ao “necessitado” Jesus, que precisa ser protegido por José e Maria (Mt 2.8-9, 11, 13- 14, 20-21), a crianças alimentadas, (14.21), os que precisam de cura (15.26), aqueles que recebem a bênção e a oração de Jesus (19.13-14) e os oponentes adultos de Jesus, que são comparados a crianças imaturas que choram e reclamam (11.16). A referência para “crianças” em Mateus, seja literal ou para adultos, é sua condição de necessitados de comida, proteção, oração, exorcismo e revelação divina. Jesus Cristo não usa crianças como “modelos”, no sentido de terem comportamento ou exemplos de atitudes humildes, mas porque são totalmente dependentes de cuidados e inábeis, por elas mesmas, de entrar no Reino dos Céus. Por isso, parece improvável que Jesus tenha cogitado de que se tornar “como uma criança”, ou “humilhar-se como esta”, signifique tornar-se um humilde servo e assim “ser o maior”. Porém, sua resposta é de que aquele que é “como uma criança”, isto é, que tem as maiores necessidades, que precisa do maior cuidado, de maior auxílio e maior orientação, esse é o maior no Reino dos Céus. Falar de crianças como humildes é certamente referência mais às suas limitações do que por alguma virtude espiritual ou intelectual1. 1 O escritor Brennan Manning, ao refletir sobre o conceito de graça de Deus, enriquece esse conceito de “criança” ao lembrar que uma criança geralmente não é capaz de fingir, nem fazer gênero ou impressionar alguém. Elas são elas mesmas. Tornar-se como uma criança para Manning é Jesus nos convidando para esquecer tudo o que ficou para trás (MANNING, Brennan. O Evangelho maltrapilho. Tradução de Paulo Purim. São Paulo: Mundo Cristão, 2005).
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