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_ARTIGO CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

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3
A Experiência de Deus como vocação: uma investigação sobre a maturidade e vivência da fé
 
 MOREIRA, Dilma da Silva[footnoteRef:1] [1: Aluna do Centro Universitário Internacional UNINTER. Artigo apresentado como trabalho de Conclusão de Curso. (2º semestre/2021)] 
 RU 1833818
 Professor Orientador[footnoteRef:2] [2: Professor Orientador] 
RESUMO
 Esse título parece um tanto quanto pretensioso. Mas a única coisa que almeja é descobrir caminhos que nos ajudem a vivenciar hoje o Deus de Jesus Cristo, pois só assim iremos conseguir preservar a essência de mensagem cristã. Com certeza, apontar estes caminhos não é uma tarefa fácil, uma vez que todo o empenho que usar para falar do Deus de Jesus Cristo é em vão, pois sempre nos depararemos com o mistério infindável. A nossa linguagem não consegue abranger, alcançar sua totalidade, e se alcançasse, deixaria de ser Deus. E, acima de tudo, reavivar o núcleo da fé cristã. Como ser humano devo posicionar e esforçar para ajudar as pessoas a elaborarem melhor sua fé no Deus Pai, rico de amor, misericórdia, justiça, compaixão... que caminha lado a lado de seus filhos e filhas. E a partir daí, será possível vivenciar e testemunhar uma fé mais compromissada. Esta é uma pequena e simples contribuição que posso oferecer, na tentativa de iluminar o futuro que gostaria que fosse mais igualitário livre e fraternalmente mais humano. Este trabalho foi embasado através de pesquisa qualitativa de revisão bibliográfica com autores pertinentes ao tema. Em primeiro momento procura-se, um olhar sobre a realidade depois sobre o pluralismo cultural e religioso a influência da mídia, o protagonismo da mulher , A Crise Ambiental e as Novas Tecnologias. Conclui-se que diante desta realidade Deus, onde estás? A Centralidade e a relevância de Jesus Cristo para nossa fé, finalizando com a experiência que Jesus tinha de Deus como Abbá.
Palavras-Chave: Experiência de Deus, vivência da fé, vocação. 
1- INTRODUÇÃO
 UM OLHAR SOBRE A REALIDADE
“Só quem reconhece a Deus, conhece a realidade e pode responder a ela de modo adequado e realmente humano”.
Papa Bento XVI
É preciso termos um panorama do contexto, em que fazemos parte e estamos continuamente interagindo, pois não somos seres isolados. Ao contrário, é através dele que adquirimos a cultura, a linguagem, os juízos de valor, as práticas de vida... “Só podemos ser pessoas humanas por meio e em diálogo com a cultura que nos envolve, com o contexto em que vivemos”.[footnoteRef:3] [3: MIRANDA,Mario de França. Existência cristã hoje. Coleção Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus. São Paulo. Ed. Loyola. 2005. p. 08] 
Logo, é mister olhar a nossa realidade, para depois construirmos uma reflexão teológica baseada no concreto da vida. É como disse o Papa em seu discurso inaugural nº 3 do CELAM “só quem reconhece a Deus, conhece a realidade e pode responder a ela de modo adequado e realmente humano”. Faz-se pertinente levantar a visão de Queiruga onde é dito que a teologia deve ser de “urgência” e de “busca”. Urgência devido a situação atual de feridas, fraturas e contradições que marcam a fogo a face de nosso tempo. E de busca, pois está disposta a uma conversão contínua.[footnoteRef:4] [4: QUEIRUGA, Andrés Torres. Um Deus para hoje. 2. ed. São Paulo.Ed. Paulus 2003. p. 07
] 
Desta maneira, defrontamo-nos com o hodierno e o herdado da Tradição. E este se faz necessário para continuarmos numa realidade viva presente e não numa herança do passado, obsoleta para nossos dias. Este confronto nos obrigará a termos uma postura crítica diante de vários aspectos da sociedade, levando-nos, muitas vezes, a ir pela contra-mão daquilo que a mesma propaga.
A sociedade está passando por diversas alterações que afetam a cultura, a economia, a política, as ciências, a educação, o esporte, as artes e também a religião. E aqui buscaremos descobrir qual o impacto desses fenômenos na vida de nosso povo, no sentido religioso. Estes, que buscam incansavelmente o rosto de Deus, que o fazem frente ao desafio destas transformações, que muitas vezes ocultam a faísca divina da vida humana que foi redimida em Cristo Jesus. Sem a percepção do mistério de Deus, fica sem visibilidade o desígnio amoroso e paternal de uma vida digna a todos seres humanos.
Não tenho a pretensão de levantar todos, mas alguns elementos que revelam a complexidade e fragilidade da sociedade atual; pluralismo cultural e religioso, a influência da mídia, o protagonismo da mulher, a crise ambiental e as novas tecnologias... Estes são alguns dos elementos que terão melhor visibilidade das mudanças rápidas e sucessivas da sociedade atual. E é neste contexto sócio-cultural que deve transparecer o rosto de nosso Deus Pai-Mãe em nossas práxis de justiça e amor, revelando assim o nosso Ser cristão.
2- Pluralismo Cultural e Religioso
2.1- Pluralismo Cultural
Estamos inseridas e inseridos numa sociedade complexa onde coexistem várias culturas, interpretações, linguagens, crenças, enfim, já não vivemos sob bases sólidas e homogêneas como nossos pais, nossos avós. Mas fazemos parte de um borbulhar de transformações, que coloca-nos a difícil tarefa de construirmos nossa própria identidade frente a tantas opções que nos cercam. 
Vivemos um momento em que o saber do ser humano a cada dia avança, mais de modo desenfreado em todas as dimensões. Isto causa em alguns a sensação de estarem fragmentados diante de uma totalidade que os ultrapassa, incomoda, angustia.
Esta capacitação do ser humano contribui de maneira significativa para a expansão deste pluralismo cultural. Pode-se dizer que este é fruto da liberdade ideológica e comportamental adquirida no decorrer dos tempos. Fica evidente a necessidade de uma convivência de respeito, diálogo, abertura ao novo e diferente, e estes valores são de suma importância para conseguirmos conviver, trabalhar juntos e, até mesmo, mantermos a nossa dignidade humana.
No entanto, atualmente, estes valores vêem sendo relativizados, enfraquecidos e marginalizados por outros marcos e critérios que não levam em consideração a dignidade do ser humano. É como se estes sofressem uma maquiagem e conseguissem confundir e alienar as pessoas.
Essa situação requer de nós uma retomada dos valores que devem estar sempre presentes, independentes de qualquer cultura, raça, credo... Pois o respeito, a justiça, a tolerância, a humildade, a abertura e o diálogo é que irão assegurar uma sociedade mais humana.
Algumas conseqüências deste pluralismo que nos custa muito são; o indiferentismo, o relativismo, o individualismo, o consumismo... É então que surge em mim uma angustiante questão. Como ser cristã, como propagar a proposta de Cristo, numa realidade tão diversa e com tantas contradições presentes?
2.2 - Pluralismo Religioso
Aqui não se trata de especificar e detalhar sobre cada religião existente, mas de percebemos os conflitos existenciais e religiosos que muitos de nós passamos ao depararmo-nos com situações que exigem reflexão, análise e discernimento.
No cotidiano, vivemos com pessoas que professam um credo diferente do nosso, e isto não as faz menores do que nós. Mas, com certeza, de alguma maneira, acabará afetando a nossa fé. É então que surgirão várias questões: como lidar com esta situação? Como continuar firme na minha fé? Que caminhos trilhar para respeitar a fé desta pessoa, e ao mesmo tempo consolidar a minha fé?
Nós cristãos, já não temos a segurança que tínhamos há alguns anos atrás, onde a sociedade conferia um status àqueles que professavam uma fé que era aceita por todos. Hoje as pessoas nascem e crescem no meio de várias crenças, que dialogam e interagem, temos o ateísmo, a descrença ou indiferença religiosa, as diversas religiões antigas e novas que se interpelam mutuamente. Os cristãos se encontram no meio de toda essa interpelação e pluralidade.Além destes fatores, temos um outro aspectorelevante: as instituições não conseguem abrir-se para um diálogo com questões atuais como: bioética, diálogo inter-religioso, inculturação da fé.
Acrescento neste quadro panorâmico o número elevado de “religiões” que exploram o aspecto emocional das pessoas, retomando a figura do sagrado. Muitas destas são produto da cultura dominante que traze uma visão individualista, intimista, hedonista. Estão em busca do bem-estar da pessoa e não na libertação de seu ser em prol de uma sociedade mais humanitária.
Neste fenômeno está presente um desafio para os cristãos, pois os símbolos que antes davam segurança e confiança junto a Deus, hoje estes são encontrados por toda parte, revelando diversos significados, muitas vezes desenraizados da realidade, levando muitas pessoas ao sincretismo.
Outro aspecto relevante é a “fragmentação religiosa”, onde as pessoas buscam em várias religiões algo que possa suprimir suas necessidades. E deste modo pegam um pouquinho de várias e não conseguem consolidar sua fé numa única religião.
Desta maneira, fica claro que a sociedade atual não contribui para que o cristão tenha uma vida alicerçada no Evangelho. Logo, é urgente que intensifique uma formação espiritual e teológica mais consistente para os nossos fiéis. E talvez assim, eles poderão assumir ativamente a missão evangelizadora que compete a todos, indistintamente.
2.3 - Influência da Mídia
O termo mídia é amplo e abraça diferentes meios de comunicação, mas aqui irei deter-me a linguagem televisiva sem menosprezar as demais. A saber, “linguagem” deve ser compreendida num sentido amplo e denso da palavra. Seu conteúdo semântico equivaleria, portanto, ao significado da palavra cultura. Desse modo, a mídia não se resume a ser apenas um “meio”, um canal de comunicação, mas se constitui como um autêntico contexto cultural próprio”[footnoteRef:5] [5: MIRANDA,Mario de França. Existência cristã hoje. Coleção Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus., São Paulo. Ed. Loyola. 2005 p. 118
] 
Assim, a televisão exerce uma forte influência no cotidiano de nossa vida. Pois ela afeta nosso imaginário e é capaz até mesmo de mudar nosso comportamento. Na opinião de João Paulo II, a mídia audiovisual representa “o principal instrumento de informação e de formação, de guia e inspiração dos comportamentos individuais, familiares e sociais” (RM: 37). Com isso, fica claro e afirma o que foi dito acima, que este é um meio que provoca atitudes e estímulos nas pessoas.
As emissões televisivas são de fácil capacitação, pois são feitas através de imagens, exigindo pouco esforço. As pessoas já chegam cansadas em casa, depois de um longo dia de serviço estresse. Logo, optam por algo que não irá exigir muito delas. Com isso, acabam tendo informações que não requerem atitude reflexiva e critica, ficando na superficialidade do senso comum.
Este meio de comunicação não é muito preocupado com informações que levem as pessoas a questionarem, a saberem a verdadeira realidade. Estão interessados é no índice de audiência. Muitas vezes, causando no povo uma alienação e incutindo nele a necessidade do ter, do poder e do prazer.
É evidente a reprodução de ideologias e valores da cultura dominante, pois deste modo evitam qualquer tipo de problema. As notícias em grande parte não são dadas com um aprofundamento, não têm uma tentativa de uma linguagem acessível a todo o povo, fica na superficialidade e não chega na raiz do problema.
A emissão televisiva só será autêntica quando conduzir a opinião pública para os verdadeiros problemas humanos, levando-os a tomar uma atitude de responsabilidade diante deles. E será perversa e pervertedora, quando se esbanja em cultivar a curiosidade banal, em alimentar e suscitar desejos artificiais de prazer e consumo. Esse tipo de mídia alienada e alienante presta o desserviço de anestesiar consciência, tirando das pessoas o gosto de pensar e refletir.
Com isto, tudo dito acima, fica fácil dizer que a mídia não favorece uma vivência cristã comprometida com a realidade, aliás, que a linguagem televisiva não quer mudanças sociais.
Mas é necessário observar que “a mídia se apresenta em nossos dias como o palco dos acontecimentos e das realidades na sociedade. Gastam-se fortunas na publicidade, embora por vezes com escassos efeitos, porque não estar presente na mídia equivale hoje a não existir sem mais.” [footnoteRef:6]4 “ É uma atmosfera, um ambiente no qual se está imerso, que nos envolve e nos penetra por todos os lados”[footnoteRef:7] [6: ] [7: MIRANDA,Mario de França. Existência cristã hoje, Coleção Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus, São Paulo. Ed. Loyola. 2005 p. 123] 
É então, que estamos frente há um dilema: como conciliar mídia e vivência cristã, ou melhor, mídia e anúncio da Boa Nova? Não tenho a pretensão de responder a estas questões, mas quero suscitar uma análise reflexiva sobre este espinhoso assunto.
2.4 - O Protagonismo da Mulher
Estamos, passando por uma reviravolta em nossa sociedade no que se refere à compreensão do ser humano. Pois, antes, as culturas de todo mundo, eram marcadas por uma compreensão hierárquica do ser humano. Onde o valor do ser humano era pré-determinado a partir de sua riqueza, seu lugar social, sua cor e seu sexo. E nesta escala, as mulheres quase sempre eram consideradas antropologicamente e socialmente inferiores.
Não vem ao caso, analisar os motivos e causas deste fato, pois suas raízes são profundas. O que é mais significativo neste momento é percebermos a grande virada da compreensão que estamos tendo de nós mesmas/os.
Esta revolução antropológica suscitada pelas mulheres não pode ser ignorada 
pelos homens, pois foram e estão sendo reivindicados vários direitos tais como: o direito ao voto e a participação na política, o direito à autonomia e escolha, ou seja, de não serem pré-definidas a partir dos papéis que a sociedade patriarcal e hierárquica lhes determina, estão revendo a própria compreensão de suas culturas e das diferentes expressões religiosas... E estas afetam a todos.
Já é perceptível a ascensão das mulheres, mas é claro que isso não é algo fácil. Qualquer mudança que seja, acontece de forma lenta, de maneira imprevisível, correndo o risco de ser interrompida ou não. É mais cômodo seguir o comportamento habitual, do que se arriscar ao novo, ao diferente. Por isso, é importante que estas mudanças sejam respaldadas por grupos ou comunidades capazes de sustentá-las.
Logo, nesta realidade é urgente que a Igreja faça uma análise sobre a presença da mulher na mesma. Neste sentido a única coisa que me vem a mente foi a reflexão da CF de 1990 que teve como tema: “Homem e mulher à imagem de Deus.”
Faz-se necessário refletirmos que embora as mulheres tenham uma participação maciça no trabalho pastoral concreto da Igreja, pouco tempo atrás elas não tinham sido reconhecidas como sujeitos, como protagonistas da evangelização. Acertadamente T. Cavalcanti, aborda este problema:
“... antes que as Comunidades Eclesiais de Base despontassem na consciência explícita da Igreja, na América Latina as mulheres já estavam presentes, trabalhando sem ser notadas, rezando, chamando os outros para a reunião e a organização ... elas trabalhavam desde o começo nas tarefas cotidianas sem aparecer demais, saindo da solidão para a solidariedade, movidas pela chama de uma confiança obstinada na vida e no amor. Pouco a pouco essas mulheres vão deixando o anonimato e surgindo como um contingente importante das comunidades, de forma que a Igreja começa a descobrir os traços femininos do seu próprio rosto”[footnoteRef:8] [8: CAVALCANTI, T. “ Sobre la participación de las mujeres en el VI Encuentro Intereclesial de las CEB, I AQUINO, M.P. (ed), Aportes para una teología...,op.cit. p.128] 
Com isso, as mulheres estão dando à Igreja, marcas peculiares nas formas de viver e de refletir sobre a fé, a pastoral, a liturgia, a espiritualidade, a teologia. E isto acontece, principalmente, nas comunidades onde as mulheres têm a possibilidade de saírem da inércia da cultura e datradição e demonstrar uma nova forma de experimentar a realidade eclesial. T. Cavalcanti observa que a comunidade “constitui um novo espaço de libertação e conscientização, alimentado pela leitura dos fatos à luz da bíblia, pela prática da solidariedade e pela celebração da vida na dimensão da fé. O Evangelho torna-se uma Boa Nova surpreendente. Faz com que a mulher deixe para trás uma postura de medo e desconfiança para aliar-se a todos os que sofrem e aos oprimidos num processo de libertação”[footnoteRef:9] [9: Idem,id] 
Para que esta conquista das mulheres avance e seja realmente efetivada, devemos olhar o futuro, tendo os pés firmes no presente, mas exige simultaneamente, a recuperação do próprio passado de mulheres predecessoras na luta por um mundo mais digno. É de suma importância que as mulheres a todo o momento resgatem a história, não só para recobrar a identidade própria, mas para reconstruir aquilo que foi a sua esperança e que dá sentido às expectativas de hoje.
As mulheres estão num processo de reapropriação de um direito que lhes fora tirado: o de perceber, compreender a sua experiência cristã, a partir de sua condição de mulher, buscando ações de libertação. O acontecimento da consciência e da ação histórica das mulheres observa Ivone Gebara, “é um fato que parece fazer parte das revoluções culturais de nosso tempo e, neste sentido, também de uma revolução teológica que está a ponto de se desenvolver apesar das dificuldades com que ela se defronta”[footnoteRef:10] [10: GEBARA,Ivonne. “La opción por el pobre...” op.cit. p. 464] 
Contudo, pode-se concluir que a mulher vem, buscando dar passos para abrir a história e também ser sua protagonista. Quer conquistar um nome, passar de invisível a visível, de objeto a sujeito. Embora a Igreja pouco tenha feito para tirar a mulher do seu silêncio e apesar de todas as dificuldades, as mulheres amam a Igreja e sentem-se Igreja. Seu amor para ela está encharcado de ternura, paciência, perseverança e um punhado de rebeldia e audácia.
2.5 - A Crise Ambiental e as Novas Tecnologias
É evidente que o domínio da técnica cresce a passos largos desde o inicio da Idade Média. Atualmente, temos duas vertentes derivadas desta realidade: as novas tecnologias e a crise ambiental. A busca de novas tecnologias é a mesma que acelerou os processos industriais geradores de externalidades negativas. Estamos simultaneamente frente ao avanço tecnológico e à crise ambiental.
O fator tecnológico provoca profundas alterações na vida social, econômica, política e ambiental. Os produtos e processos envelhecem mais cedo e são rapidamente substituídos. E estas alterações têm alcance global que, com diferenças e matizes, afetam o mundo inteiro. A competição cresce e os mercados se ampliam, paira o perigo do tecnopólio (a submissão de todas as formas de vida cultural a soberania da técnica e da tecnologia)
O trabalho que antes era feito pelo ser humano, passa a ser feito por máquinas, a ação humana passa a ser desvalorizada. As pessoas que migram para os centros urbanos em busca de melhores condições de vida e não encontram, acabam aumentando a criminalidade, o individualismo, a competição, a decadência dos valores morais e éticos. 
Outras características deste mundo tecnológico-industrial são: a irreversibilidade da introdução de novas tecnologias, a rapidez e a abundância de novos produtos no mercado e a imprevisibilidade dos efeitos de sua aplicação o que impossibilita a percepção das conseqüências desta aplicação para a sociedade.
As recentes tecnologias estão num processo acelerado de mudanças como no caso de computadores, onde os produtos gerados tendem a progredir cada vez mais rapidamente de forma instável e imprevisível. O grande desenvolvimento econômico provoca significativos problemas sócio-ambientais: processos de urbanização acelerada, o crescimento e a desigual distribuição demográfica, a expansão do uso de energia nuclear, o consumo excessivo de recursos não-renováveis, os fenômenos crescentes de perda e desertificação do solo, a contaminação tóxica dos recursos naturais, o desflorestamento, a redução da biodiversidade, e da diversidade cultural, a geração do efeito estufa e a redução da camada de ozônio e suas implicações sobre o equilíbrio climático global...
Esta crise ambiental pode ser constatada através da lógica de transformação de recursos da natureza em objetos de consumo, levando-a ao paroxismo. Desta forma, o ser humano está sendo o principal causador da devastação ecológica, colocando em risco a sua própria existência e inclusive as gerações futuras. A crise ecológica é a própria face da crise cultural e civilizacional deste início de século e milênio.
Faz-se urgente acordar para uma nova visão mais holística, que veja o ser humano como parte da natureza, participante de uma comunidade de seres vivos inter-relacionados. Mas, já é sabido que os desafios ambientais não têm solução sob uma ideologia capitalista, que está preocupada apenas com o lucro e em produzir sempre mais e mais pela exploração dos recursos naturais.
É preciso adquirir uma nova maneira de organizar a sociedade. Pois a poluição não é só da natureza, mas também paira uma poluição social, que se evidencia nas feridas abertas da pobreza e da injustiça. O capitalismo produz a crise ambiental como também a crise de organização humana, retratada na exclusão social que provoca. Assim, é necessário acordar para a realidade dos pobres. A situação alarmante de pobreza em nossa sociedade é expressão do desajuste de nosso ambiente natural.
È de grande urgência que surja uma conversão ecológica pela qual o ser humano deixe de se auto-compreender como individuo separado, para se ver como parte de uma conjunto de inter-relações naturais e sociais. Essa conversão trará novos comportamentos e atitudes de respeito e reverência perante a natureza. Diante desta realidade exposta ficam algumas questões: A fé cristã tem algo a oferecer para motivar essa conversão? As comunidades têm abordado este tema de maneira clara e esclarecedora? O que as comunidades têm oferecido para ajudar a solucionar o atual desafio ecológico? Ficam aí algumas questões para pensarmos e refletirmos a nossa conduta frente a essa diversidade de desafios que encontramos em nosso cotidiano, tanto no âmbito pessoal como social.
2.6 - Diante desta realidade. Deus, onde estás?
“Deus. Onde estás? Queria que falasses comigo. Deus. Não sou só eu. É um sentimento geral. É o que as pessoas estão dizendo na paróquia. Querem saber onde estás. A piada esá perdendo força. Tu nunca dizes nada. Tudo bem. As pessoas até esperam por isso. As pessoas entendem – mas também pensam... Veja, estou te dizendo, é esta ausência perpétua. Sim? É não estar presente – é isso. Quero dizer, vamos ser honestos, está começando a nos desesperar. Tu sabes? Não é razoável? Há muita gente que não está bem. E precisa de algo mais que o silêncio. Deus. Tu me entendes?”[footnoteRef:11] [11: SPONG, John Shelby; Um novo cristianismo para um novo mundo: a fé além dos dogmas; Tradução de Anthea Patherson – São Paulo, Verus , 2006. p.43] 
Através deste panorama traçado, levantando alguns elementos que mostram a complexa e frágil sociedade em que estamos inseridos /as, ficam inquietantes questões: onde está Deus? Como se revela? Qual é a sua visibilidade na história? Qual o seu rosto?
No meio desta diversidade cultural e religiosa, diante de tantas propostas e transformações, cadê Deus que não conduz as pessoas para uma ação de solidariedade, fraternidade, em busca de uma sociedade igualitária, onde todos busquem o bem comum indistintamente.
A mídia com sua força de influência e persuasão é capaz de conduzir as pessoas para uma situação alienante: de fome, miséria, injustiça, corrupção... Como acreditar neste Deus que permite que esta situação social permaneça?
Em meio há esta realidade de mudança, as novas gerações surgem como novos sujeitos, como novos estilos de vida, maneiras de pensar, de sentir, de perceber e de se relacionar. São protagonistas deuma nova cultura, onde o discurso teológico tradicional já não responde há muitas questões. Esta realidade desafia e interpela a fé.
Se quisermos que nossa fé seja audível e relevante para o ser humano de hoje, temos de perguntar-nos como expressá-la e como apresentá-la num mundo que se caracteriza pelo impressionante desenvolvimento tecnológico que se deu a partir do séc. XIX. Como falar de Deus em realidades marcadas pela pobreza ou pelo desenvolvimento tecnológico de ponta, onde todos aprenderam a usar a razão para resolver seus problemas.
Como anunciar a esperança e a vida eterna àqueles que se deixam tomar pelo ceticismo histórico, pela morte das utopias e pelo niilismo? É preciso falarmos destas questões atuais, para que a fé não seja sem sentido e não perca seu significado para o ser humano de hoje.
Usando as palavras de Juan Antonio Paredes: 
“é possível ser um homem de hoje e continuar sendo crente? É possível ser uma pessoa lúcida, interessada nos avanços espetaculares da biogenética, que já não se surpreende com nenhum tipo de transplante de órgãos, que está acostumada às viagens espaciais e sabe manejar computadores, e continuar acreditando em Deus?”[footnoteRef:12] [12: - PAREDES, Juan Antonio. Onde esta nosso Deus? Diálogo do crente com a cultura de hoje; Tradução de Yvone Maria de Campos Teixeira da Silva. São Paulo, 1999, p.09] 
Vivemos nesta sociedade onde tudo acontece rápido e de diversas formas, o que hoje é, amanhã pode não ser. É este movimento de mudanças que questiona algumas concepções da teologia tradicional.
3 - A Centralidade e a relevância de Jesus Cristo para nossa fé
Seguindo a linha de pensamento de Dietrich Bonhoeffer, pastor e teólogo, antes de iniciar a reflexão é bom perguntar: quem é Jesus para nós hoje? Esta revela uma inquietação existencial. “Jesus não é um deus disfarçado sob forma humana (docetismo), nem um homem adotado por Deus (adocionismo), tampouco é um homem divinizado (monofisismo), mas é um Deus que se fez homem por nós (Deus pro nobis). A expressão por nós revela a relação ontológica que nos permite saber quem é Jesus Cristo”[footnoteRef:13] [13: BOMBONATTO, Vera Ivanise. Seguimento de Jesus:uma abordagem segundo a cristologia de Jon Sobrino. São Paulo, 2002. – (Coleção ensaios teológicos) p.163] 
Jesus Cristo deve ser tido como meio e o foco central para o encontro cristão com Deus e para a fé em sua pessoa, pois Jesus é a fonte central do conteúdo da fé cristã. Com isso, sem desprezar os outros meios, tendo em vista que estes são periféricos, diante da centralidade que é Jesus Cristo, pois este é o princípio hermenêutico fundamental para a compreensão e interpretação dos outros meios que constituem o complexo denominado cristianismo.[footnoteRef:14] [14: HAIGHT, Roger. Jesus, símbolo de Deus; Tradução Jonas Pereira dos Santos. São Paulo. Paulinas, 2003 p.232-233] 
Esta relevância de Jesus Cristo se dá devido ao acesso que Ele nos abriu à Deus. Ele não teve a preocupação de fazer uma apologia sobre a existência de Deus, mas retratou em suas palavras e ações duas vias de profundo e intenso significado pra Ele: Abbá e Reino de Deus.
É nestas duas vias que buscaremos pistas que nos levem a vivenciar o núcleo da fé cristã, aquilo que mesmo com o passar de muitos anos não estará fadado ao fracasso e a morte, mas se manterá pela sua força e eficácia.
Com esta experiência de Deus, obteremos maior possibilidade para falar com Deus e de Deus hoje, pois seremos seres humanos mais livres e plenos em nossa totalidade, abraçando uma vida que ama em abundância, permanecendo no amor e conseqüentemente em Deus.
3.1 – A experiência que Jesus tinha de Deus como Abbá
A fonte que iremos beber é o Novo Testamento, onde encontraremos fatos importantes sobre a experiência religiosa de Jesus. Temos o batismo de Jesus no rio Jordão, onde ele faz uma experiência com o Espírito Santo e alcança a consciência de sua filiação. A partir daí, ele vai para o deserto e, quando volta, começa a pregar que o Reino de Deus está próximo, e de certo modo, surgindo no mundo. Ele anuncia este Reino através de sua ação.
Mas, para Jesus quem é Deus? Que rosto de Deus transparece por trás de sua pregação e prática do Reino? Em resposta a estas perguntas, temos presente um dado bastante significativo, o nome que Jesus dá a Deus; seu Deus é Abbá. “ Abbá, era a palavra familiar que as crianças judias usavam para dirigir-se aos seus pais. Corresponde, mais ou menos ao nosso papai ou paizinho em português.”[footnoteRef:15] [15: CARAVIAS, José L. O Deus de Jesus. Tradução de Augusto Ângelo Zanatta e Lúcia Mathilde Endlich Orth, Petrópolis, Vozes, 1987. p. 31] 
Nos Evangelhos, Jesus constantemente dirige-se a Deus como Pai, muitas vezes como meu Pai. Porém, no relato de São Marcos da agonia no jardim, encontramos as palavras: “dizia: Abbá, Pai, tudo te é possível, afasta de mim essa taça! Entretanto, não o que eu quero, mas o que tu queres!” (14,36). Marcos preservou a palavra do antigo aramaico ‘Abbá’, que foi traduzida para o grego, e agora para o português, como Pai, o que sugere a possibilidade de Abbá estar por trás das outras passagens do Novo Testamento onde Jesus fala ao Pai. De fato, essa é a conclusão de estudiosos como Joaquim Jeremias.[footnoteRef:16] [16: Joaquim Jeremias pesquisou isto meticulosamente, veja suas obras Teologia do Novo Testamento (I parte) Edições Paulinas, São Paulo. É desnecessário dizer que a característica de Abbá como imagem de Deus não é sua masculinidade e sim o amor íntimo que sugere.] 
“Edward Schillebeeckx disse que a experiência original de Abbá de Jesus é ‘ fonte e segredo de sua existência, mensagem e modo de vida’. Tudo depende dessa experiência e tudo é formado por ela”[footnoteRef:17] [17: EDWARDS, Denis Experiência humana de Deus. Tradução de Bárbara Theoto Lambert. São Paulo. Loyola.1995 p.60] 
Esta experiência de Deus Abbá, revela-se na vida de Jesus e em sua história cotidiana. Demonstra um Deus que está completamente do lado dos homens e mulheres, um Deus que é amor salvífico ativo. É um Deus que impulsiona Jesus e seus discípulos para o amor de outros homens e mulheres que são, irmãos e irmãs. Toda a vida de Jesus precisa ser vista em relação direta com a experiência de Deus Abbá.
Desta maneira, se percebe que para falar de Deus hoje é necessário traze-lo par ao cotidiano da vida das pessoas, não tem como falar de Deus como Aquele que está de fora, longe da realidade e age conforme o comportamento humano. Hoje é preciso levar as pessoas a fazerem uma experiência intima na sua realidade, deste Deus que caminha lado a lado na história do povo.
Este Deus de Jesus – Abbá – se põe do lado dos pobres, pecadores, indefesos, de gente pequena, das ovelhas perdidas; revela um Deus comprometido numa ação libertadora, que rompe com toda opressão, até mesmo a religiosa. Jesus sentindo-se filho de Deus, não cumpre leis que são contrárias a este processo de libertação humana.
É partindo desta experiência fundante com Deus – Abbá que Jesus tem força e coragem para enfrentar os adoradores do Deus oficial. “ Jesus não vê Deus encerrado no templo, ou submetido ao cumprimento exato dos ritos do culto, ou medindo a execução de todas as normas das complicadas leis judaicas. Ele abre horizontes novos para se descobrir a presença de Deus”.[footnoteRef:18] [18: CARAVIAS, José L. O Deus de Jesus. Tradução de Augusto Ângelo Zanatta e Lúcia Mathilde Endlich Orth, Petrópolis, Vozes, 1987. p. 28
] 
Jesus revela o rosto de um Deus próximo, ao qual pode-se recorrer com a confiança de uma criança. E não o Deus oficial dos fariseus (parábola do fariseu e o publicano), nem o Deus dos sacerdotes do templo (parábola do bom samaritano).
Com isso, Jesus nos apresenta a imagem de um Deus que nos chama a ter com Ele uma relação filial, pautada na confiança e nos convocando a romper os diversos limites que temos e assim, cada ser humano irá alcançar de maneira mais plena sua humanidade.
Jesus sente Deus como Pai de infinita bondade e amor ‘ama o inamável e perdoa oimperdoável’. É o Deus sempre bom que sabe amar e perdoar, que vai atrás da ovelha perdida, que espera o filho rebelde e o acolhe com ternura em sua casa paterna. Ele se sente tão amado de Deus que ama como Deus ama, a todos indistintamente. Ele encarna o amor e o perdão do Pai, sendo ele mesmo bom e misericordioso para com todos e principalmente, pelos excluídos religiosamente e os desacreditados socialmente.
3.2. –Jesus nos ensina a chamar Deus de Abbá
É percebível que vivemos em tempo difícil, de muita injustiça, a exploração e a marginalização reinam em toda parte, o que não é muito diferente da época de Jesus. No entanto, é neste mundo, muitas vezes cruel, que Jesus quer nos fazer compreender e vivenciar a bondade de Deus, a sua paternidade universal e nas conseqüências que virão devido a adesão deste compromisso de fé.
Jesus ensinou para os discípulos e a nós hoje a chamar Deus de Pai, através da oração do Pai-nosso. E isto significa que nós também somos participantes de sua relação com Deus, pois, este Pai é de todos indistintamente “porque ele é bondoso para com os ingratos e maus” cf. (Lc. 6,35), “faz nascer o sol para bons e maus e chover sobre justos e injustos” cf (Mt 5,45).
Nesta perspectiva a idéia de um Deus Todo-Poderoso não cabe mais nos dias de hoje. Pois, é o próprio Deus que nos convoca há mantermos uma relação mais próxima, Cristo é o intermediário definitivo, é o que nos abriu acesso a Deus.
O ponto forte da experiência de Deus que Jesus fez, foi transmitido aos apóstolos e a nós hoje. Está no fato, de que Deus está aqui como Pai, cuida de seus filhos e filhas e está sensível a necessidade dos mesmos. O ser humano, não é número, mas uma pessoa, centro do profundo amor de Deus.
A comunidade primitiva, falava o aramaico, conservou a invocação “Abbá”, e desta maneira, chegou às comunidades de língua grega. Com isso os primeiros cristãos mantiveram o núcleo de sua fé no Deus de Jesus Cristo. Em Paulo, percebe-se o valor desta invocação: “Como prova de serdes filhos, Deus enviou a nossos corações o Espírito de seu filho que clama: ‘Abba, Pai!’. De maneira que já não sois escravos, mas filhos” cf (Gl. 4,6-7). “Recebestes um espírito de filhos adotivos com o qual clamamos: ‘Abba, Pai!’. O próprio Espírito dá testemunho a nosso espírito que somos filhos de Deus” cf (Rm. 8,15-16).
Chamar Deus de Pai, só nos foi possível através da nova relação com Deus que nos trouxe seu filho Jesus. E esta filiação se dá na a liberdade e responsabilidade. Cf Ef. (4, 14-15). “Dizer ‘Abba’, a exemplo de Jesus, é um privilégio, que torna realidade a antiga promessa bíblica: ‘E serei vosso pai e vós sereis meus filhos e minhas filhas’ cf.( 2Cor 6,18 citando 2Sm 7,14a ”[footnoteRef:19] [19: CARAVIAS, José L. O Deus de Jesus. Tradução de Augusto Ângelo Zanatta e Lúcia Mathilde Endlich Orth, Petrópolis, Vozes, 1987.p. 77] 
3.3 – O Reinado de Deus
Antes de começar esta reflexão quero que fique claro que “é impossível tentar sintetizar o significado de ‘Reino’ para Jesus. A palavra é, afinal de contas, um símbolo poderoso cuja riqueza é inesgotável. Indica o mistério incompreensível de Deus. O símbolo ‘Reino de Deus’ só pode receber seu conteúdo apropriado por meio de um estudo completo das palavras e ações de Jesus. Esse estudo não será possível aqui”.[footnoteRef:20] Por isso, vou ater-me há alguns elementos do Reino de Deus. [20: EDWARDS, Denis. Experiência humana de Deus. Tradução de Bárbara Theoto Lambert. São Paulo. Loyola.1995 p.64] 
O tema principal da pregação de Jesus era o Reino de Deus, o Reinado ativo de Deus[footnoteRef:21]. Toda sua vida foi construída em torno desta realidade essencial. Do inicio ao fim, ele viveu para testemunhar esta esperança: “completaram-se os tempos, está próximo o Reino de Deus, convertei-vos e crede no Evangelho” cf. Mt1,15, “Jesus começou a pregar e a dizer: convertei-vos, pois está próximo o Reino dos céus.” Cf Mt 4,17, “ percorria todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino” cf Mt 9,35; 4,23. [21: Como Sobrino comenta “o conceito dominante em sua pregação, a realidade que dava sentido a toda a sua atividade é o Reino de Deus. Este é o dado histórico mais seguro sobre a vida de Jesus.” Cristologia a partir da América Latina. Petrópolis. Vozes, 1983 p.61] 
Já é claro que Jesus passou a sua vida, revelando a Boa-Nova de um Deus Pai, que é profundamente ternura e amor para com todos. E o Reino é uma realidade que já se começa a viver, embora ainda temos que caminhar bastante para se chegarmos em sua plenitude.
É preciso clarear em nossa mente que o anúncio do Reino depende da nova imagem do Pai apresentada por Jesus. O amor do pai concentra-se na realidade do Reino, incipiente ainda, mas já a caminho.
A experiência do Reino está intimamente ligada a experiência de um Deus Pai, pois quando rezamos ‘pai-nosso’, pedimos a vinda do Reino que se concretiza de maneira vivencial e isso exige compromisso.
Nos ensinamentos de Jesus, fica em evidência a realização da vontade do Pai. Desta forma, pode-se afirmar que o que dá sentido à vida de Jesus é o Reino de Deus.
“Na mensagem de Jesus, o mais original é justamente a união indissolúvel entre o Abbá e o Reino de Deus. Um escrito antiqüíssimo conserva este dito de Jesus: ‘Quem conhece a Deus encontrará o Reino, porque conhecendo a Deus vocês se conhecerão a si mesmos e entenderão que são filhos do Pai’. Por certo é impossível conhecer a Deus sem o Reino. Quem não se esforça para entrar no Reino não conheceu a Deus, mas a um ídolo. Conhecer a Deus como Pai é conhecer-se como cidadão do Reino”.[footnoteRef:22] [22: CARAVIAS, José L. O Deus de Jesus. Tradução de Augusto Ângelo Zanatta e Lúcia Mathilde Endlich Orth, Petrópolis, Vozes, 1987 p. 86
 ] 
Faz-se importante dizer que a palavra Reino não se refere há um lugar concreto. Ouso dizer que seria melhor se falássemos em reinado de Deus, uma vez que Jesus frisa o poderio da ação divina neste mundo, e assim transforma o velho em novo, o injusto em justo, o enfermo em são... O Reino de Deus é dinâmico, está acontecendo Mc. 9, 1-2.
Com o intuito de compreendermos melhor o que Jesus queria dizer com Reino de Deus, devemos ter consideração ao contexto de sua época, onde o povo vivia das idéias e tradições do Antigo Testamento. Cada grupo esperava o Reino a sua maneira: fariseus na fiel observância da lei; os essênios no retiro do deserto; os zelotes pela violência revolucionária. Percebe-se que a visão de Reino estava ligada a mentalidade nacionalista e política. Jesus vem dar um novo significado, um novo sentido de Reino de Deus.
Já os pobres querem o ideal da verdadeira justiça “Será derramado outra vez sobre nós um espírito que vem do alto. Então o deserto se tornará um jardim, e o jardim será considerado um bosque. No deserto habitará o direito, e a justiça será a paz. De fato, o trabalho da justiça resultará em tranqüilidade e segurança permanentes. Meu povo habitará em lugar pacifico, em residência segura, em habitação tranqüila” cf. (Is. 32, 15-18). E essa se concretiza na defesa eficaz daqueles que não conseguem se defender. “Porque ele liberta o indigente que clama e o pobre que não tem protetor. Ele tem compaixão do fraco e do indigente, e salva a vida dos indigentes. Ele os redime da astúcia e da violência porque o sangue deles é preciso aos seus olhos” Sl. 72,12-14.
Quando Jesus diz que o Reino de Deus já vem, quer dizer que o desejo dos marginalizados, dos pobres, dos oprimidos, dos desvalidos, dos indefesos vai realizar-se de acordo com a justiça de Deus. É evidente que Jesus não se limitou a anunciar o amor de Deus para os pobres, mas procurou também libertá-los de sua miséria real.
Jesus promove a solidariedade e a fraternidade em sua sociedade. Ele se aproxima dos excluídos de seu tempo, conversa com eles, come com eles... E, aos poucos, vai tentando construir uma nova mentalidade na sociedade de sua época.
Com esta visão Jesus Cristo, rompe com esta idéia de um Deus hierárquico, imperialistaque é distante do mundo e nos revela um Deus relacional, que quer intimidade com todos os seus filhos e suas filhas.
O ápice da proposta de Jesus é a prática do amor, pois o Reino vai se construindo de acordo com a nossa práxis de amor fraterno. O mundo de Deus tem sua base no amor, pois “Deus é Amor” cf. (1Jo. 4,7).
Para participarmos do Reino de Deus, é necessário uma conversão, a saber, mudar o nosso modo de pensar e de agir. Não é possível entender esta proposta de Jesus se mantivermos o modo de pensar do mundo. É preciso uma profunda comunhão e intimidade com Deus Pai. É preciso um esforço pessoal “façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita” cf. Lc.13,24a, mas contem com a ajuda do Espírito de Deus “ o Espírito fortalecerá nossa debilidade” cf. Rm. 8,26
O convite do Reino é para todos. Mas nem todos aceitam participar da festa Lc. 14,16-24. Quem aderir à novidade de Jesus deve seguir em frente e não ficar no meio do caminho Lc. 14,28-32.
O Reino de Deus visa a construção de uma nova comunidade, nova sociedade que seja digna do ser humano, que prevaleça a verdadeira fraternidade, igualdade, solidariedade... Este Reino deve acontecer de maneira espontânea, atingindo os corações e as mentes das pessoas.
Este é Reino que provavelmente será melhor visualizado e concretizado em pequenas comunidades, onde os membros da mesma se propõem a viver o ideal evangélico, impulsionados, é claro, pelo sentimento de serem filhos e filhas de Deus Pai.
Jesus vai além da vivência do Reino de Deus em sua comunidade, ele desmascara e denuncia o sistema opressor de sua época. Assim ele apresenta um Reino que abrange toda realidade: mundo, ser humano e sociedade, tudo deve ser transformado a partir de Deus Pai.
Pode-se dizer que o Reino de Deus começa aqui e nos remete para uma realidade futura. O Reino de Deus já está no meio de nós, mas ainda não está completa sua construção.
Agora, com estas vias bem esclarecidas, pode-se perceber que Deus Abbá e Deus Reinante devem ser preservados e vividos em nosso cristianismo, pois assim, será evitado o perigo sempre presente de ser uma religião detentora da verdade. O Deus de Jesus nos convoca a confrontar o sofrimento real de nossos irmãos e irmãs e quebrar todas as correntes que provocam este desalento.
É urgente e necessário revelarmos o Deus de Jesus, a saber, o Deus que é próximo, que tem compaixão e simpatia por nós, que nos cerca de amor e sempre nos convida a relacionarmos com ele, que nos oferece perdão incondicionalmente. Enfim, é um Deus de todos os homens e mulheres e sempre se encontra presente em nossa história, está envolvido na mesma com o intuito de nos garantir a libertação e conseqüentemente, a salvação.
3.4 - Caminhos para falar de Deus e com Deus hoje...
A partir da experiência de Deus Abbá e do Reino, muitas barreiras como – preconceito – medos – classes – fronteiras – podem ser derrubadas. É como Shelby escreve ao falar de Jesus “Vejo-o apontando para algo que ele denomina ‘reino’ de Deus, onde novas possibilidades exigem nossa consideração. Vejo-o retratado como aquele que constantemente desmontava as barreiras que separavam as pessoas umas das outras. Vejo-o convidando seus seguidores a juntar-se a ele para caminharem sem temor para além daqueles limites de segurança que sempre proíbem, bloqueiam ou negam nosso acesso a uma humanidade mais profunda”.[footnoteRef:23] [23: SPONG, John Shelby. Um novo cristianismo para um novo mundo: a fé além dos dogmas.; Tradução de Anthea Patherson – São Paulo, Verus , 2006. p.143] 
É nesta perspectiva que poderemos manter uma relação com Deus, abrindo-nos a uma transformação, permitindo visualizar em cada um/uma a possibilidade de sua própria vida, sua própria humanidade, quebrar suas barreiras para alcançar o divino que está no âmago de seu ser.
E só então, começaremos a engatinhar para uma nova humanidade, expandindo para as transformações exteriores e, quem sabe, viver numa sociedade de iguais como anunciou Paulo em Gálatas 3,28 “não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um em Jesus Cristo”.
É por aí que devemos falar de Deus, Aquele que não faz acepção de pessoas, mas cria por amor, vive debruçado com generosidade irrestrita sobre todas e cada uma de suas criaturas.
Na parábola do samaritano, percebe-se um desafio ao preconceito característico do judaísmo do primeiro século. É nesta que Jesus convida as pessoas para irem além dos preconceitos quais-quer que fossem. E hoje também nos convida a abrirmos o nosso ‘porão’ e nos libertarmos, pois “ cada um de nós carrega um preconceito característico no coração. Para alguns, ele pode estar ligado à cor da pele que difere da nossa; para outros, à forma de adorar a Deus que achamos estranha; ou ainda à orientação sexual que seja diferente da nossa ou pelo menos da maioria... abandonar todos os nossos estereótipos distorcidos, entrando numa nova humanidade livre de preconceitos”.[footnoteRef:24] [24: SPONG, John Shelby. Um novo cristianismo para um novo mundo: a fé além dos dogmas; Tradução de Anthea Patherson – São Paulo, Verus , 2006. p.147] 
É a partir desta teologia mais elaborada que Jesus nos abre possibilidade para falar de Deus e com Deus hoje, de maneira ecumênica, respeitando as diferenças e atendendo a grande diversidade religiosa que existe na atualidade.
Só assim seremos pessoas mais integradas em nossas relações, abrangendo todas as dimensões do ser humano. Ele quer que olhemos primeiro para a humanidade do sujeito para só depois observar suas diferenças – raça – credo – gênero – orientação sexual - , porque estas são apenas categorias em que a humanidade se divide. Neste sentido, o corpo retoma a visão bíblica, onde o mesmo é visto na sua totalidade corpo e alma é uma coisa só, que deve ser cuidado, pois é o templo que habita Deus.
À medida que estas barreiras forem rompidas, a conseqüência será uma vida mais plena, ‘ a habilidade de sermos portadores de Deus para os outros’ fluirá de modo mais espontâneo.
“Além dessas diferenças, somos desafiados/as a deixar de pensar nas pessoas como ritualisticamente puras ou impuras, batizadas ou não batizadas, certas ou erradas, ortodoxas ou heterodoxas, cristãs, judaicas, muçulmanas, budistas ou hindus. A vida de Jesus é revelada estendendo-se sempre àqueles que seu próprio sistema religioso rejeitava. Ele abraçou os leprosos, cuja carne em decomposição era considerada intocável por sua tradição religiosa. Ele permitiu o toque da mulher com sangramento menstrual crônico que pelas leis judaicas era declarada corruptora e impura”.[footnoteRef:25] [25: Idem . p.148] 
Com estas atitudes, Jesus revela uma nova postura, desprendida da lei que oprime e mata, dos preconceitos de qualquer espécie. Ele tem como principio o amor sem restrições e nos convida a agirmos desta mesma forma hoje.
Falar de Deus hoje é revelar um Deus que não pode estar preso nos limites de sistemas religiosos, nos limites de uma Igreja, porque isto nos permitirá avançar rumo há um dialogo ecumênico. Nos possibilitará perceber a Base da Existência em Moisés, Maomé, Buda, Krishna, tanto como em Jesus. “ O Deus que é a Base da Existência não pode ser amarrado, nem mesmo por nossas reivindicações religiosas”.[footnoteRef:26] [26: Idem p. 149] 
Ao falar com Deus somos convocados a perceber que devemos não só sobreviver, mas adentrar profundamente na nossa humanidade, para assim chegarmos no mistério divino que está no interior de cada uma de suas criaturas. E percebermos que somos criados por e para o amor.
O amor cria novas relações, intensifica a vida, está presente desde o início da vida. “O amor toca algo externo. Ao experimentá-lo, somos fisgados por seu poder. O amor nos permite transcender nossos limites. O amor nos liberta para que possamos nos doar”.[footnoteRef:27] [27: Idem p.152] 
Quando conseguirmos vivenciar este amor de forma plena, estivermos envolvidos por ele, alcançaremos a experiência do Deus Abbá de Jesus Cristo, pois sentiremos oamor incondicional deste Pai querido, e assim, instalar uma relação íntima com Deus.
Ao mostrar as ações de Jesus, poderemos apreciar algumas pistas que nos ajudarão a falar de Deus hoje “Jesus chamava aqueles que estavam a sua volta para uma individuação nova e mais profunda. Aqueles que o negaram foram chamados para a 
liderança. Covardes que o desertaram e fugiram foram chamados para a inclusão. Mulheres foram chamadas para a humanidade plena e para o discipulado pleno. Pessoas temerosas foram chamadas para viver corajosamente. Excluídos foram chamados para a dignidade humana”.[footnoteRef:28] [28: Idem p. 155] 
Quando deixarmo-nos ser conduzidos por esta imagem de Deus que cria por e para o amor, com certeza seremos pessoas mais resolvidas e integradas. Quando percebermos que sempre somos amparados/as e promovidos por sua revelação e por seu amor incondicional, conseguiremos manter ou ter uma relação filial com Abbá –Pai, logo, o falar de Deus e com Deus hoje e em todos os tempos fluirá de maneira intíma e profunda.
4- METODOLOGIA
Neste trabalho optou-se por usar pesquisa bibliográfica, utilizou-se materiais já publicado, onde através de livros, artigos, revistas e materiais disponíveis em sites auxiliaram no desenvolvimento e realização do mesmo.
A pesquisa bibliográfica trata-se do levantamento, seleção e documentação de toda bibliografia já publicada sobre o assunto que está sendo pesquisado, em livros, revistas, jornais, boletins monografias, teses, dissertações, material cartográfico, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com todo material já escrito sobre o mesmo. ( LAKATOS E MARCONI 1993, p. 66)
Desta forma, a pesquisa é de grande importância para a realização de qualquer trabalho. É preciso buscar fundamentações para entender melhor do tema que será abordado.
Como já mencionado a abordagem é qualitativa sendo que Creswell (2010, p.43) define a abordagem qualitativa como sendo “um meio para explorar e para entender o significado que os indivíduos ou os grupos atribuem a um problema social ou humano”.
Assim a abordagem qualitativa é importante, pois possibilitou analisar, interpretar e investigar o tema em questão, podendo desenvolver um trabalho com melhor resultado.
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fica evidente a complexa diversidade existente em nossa sociedade, onde coexistem várias transformações rápidas e necessárias, sendo que é a partir deste rosto, que devemos construir a nossa identidade cristã.
Estamos num momento de muita turbulência, troca de valores por outros que levam o ser humano á degradação. É como se os verdadeiros valores sofressem uma maquiagem e conseguissem confundir e alienar as pessoas.
Passamos por uma crise, que afeta até nossa fé, vivemos em meio há muitas crenças que estão num forte embate, visualizando a difícil tarefa de dialogar. Com isso, temos uma crescente de descrença, ateísmo, fragmentação religiosa.
Sofremos a forte influência da mídia televisiva, que não está muito preocupada em dar uma informação certa e coerente, quere alcançar um índice de audiência elevado. Desta forma, conduz a população para uma situação alienante e descompromissada com a realidade de fome, miséria, desemprego, corrupção, pois estas já são tidas como normais.
Temos presente um novo rosto de mulher, que luta pelo seu espaço, pelo seus direitos, que reflete sobre a compreensão do ser humano (homem/mulher), que percebe a urgência de um caminhar lado a lado nas reflexões e práticas.
O avanço tecnológico acarreta profundas alterações na vida socioeconômica, trazendo o progresso e ao mesmo tempo uma forte crise ambiental. E esta nos revela também a crise da organização humana, presente na exclusão social.
É nesta realidade desafiante que devemos revelar a presença de um Deus amoroso e misericordioso. Mas como fazer? Como visualizar a presença de Deus? Como acreditar neste Deus que permite a permanência de uma realidade por diversas vezes cruel e até mesmo de morte? Como falar de Deus?
Aqui temos presente o núcleo da fé cristã e quais vias nos possibilitarão uma melhor compreensão e vivência desta fé. E estas duas vias nos foram apresentadas por Jesus: Deus-Abbá e Reino de Deus.
Vimos que antes de começar nossa reflexão sobre estas vias, é necessário saber, para Jesus quem é Deus? Que rosto de Deus transparece por trás de sua pregação e prática do Reino? E como resposta temos o nome que Jesus dá a Deus; seu Deus é Abbá.
Este Deus Abbá se revela na vida cotidiana do povo. E se mostra próximo, ao lado dos homens e das mulheres e demonstra seu amor incondicional a todos indistintamente. É um Deus a quem se pode recorrer com a confiança de uma criança. Ele ‘ama o inamável e perdoa o imperdoável’.
Através da oração do Pai-Nosso, Jesus ensinou aos discípulos e a nós hoje a chamarmos Deus de Pai e como tal, Ele cuida de seus filhos e filhas e está sensível a necessidade dos mesmos.
É de suma importância termos claro a imagem de Deus-Abbá, para compreendermos o Reino de Deus, pois o anúncio do Reino depende da nova imagem do Pai apresentada por Jesus. O amor do pai concentra-se na realidade do Reino, incipiente ainda, mas já a caminho.
A melhor imagem, a meu ver, de Reino de Deus está expressa em Isaias 32, 15-18 “Será derramado outra vez sobre nós um espírito que vem do alto. Então o deserto se tornará um jardim, e o jardim será considerado um bosque. No deserto habitará o direito, e a justiça habitará no jardim. O fruto da justiça será a paz. De fato, o trabalho da justiça resultará em tranqüilidade e segurança permanentes. Meu povo habitará em lugar pacífico, em residência segura, em habitação tranqüila”.
Agora resta-nos acolher estas vias apresentadas a nós por Jesus, para assim revelarmos o Deus de Jesus. Desta maneira, teremos possibilidade de falar de Deus e com Deus hoje
REFERÊNCIAS
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QUEIRUGA, Andrés Torres. Um Deus para hoje. 2. ed. São Paulo.Ed. Paulus 2003.
__________________. Do Terror de Isaac ao Abbá de Jesus: por uma nova imagem de Deus. São Paulo. .Paulinas, 2001.
SPONG, John Shelby; Um novo cristianismo para um novo mundo: a fé além dos dogmas; Tradução de Anthea Patherson – São Paulo, Verus , 2006.
PAREDES, Juan Antonio. Onde esta nosso Deus? Diálogo do crente com a cultura de hoje; Tradução de Yvone Maria de Campos Teixeira da Silva. São Paulo, 1999.
BINGEMER, Maria Clara L. e FELLER, Vitor Galdino Valencia. Deus Trindade: a vida no coração do mundo;Trindade e Graça.. São Paulo; Paulinas, 2002 
McFAGUE, Sallie. Modelos de Deus: teologia para uma nova era ecológica e nuclear; Tradução de José Raimundo Vidigal, São Paulo, Paulus. 1996
BOMBONATTO, Vera Ivanise. Seguimento de Jesus:uma abordagem segundo a cristologia de Jon Sobrino. São Paulo, 2002. – (Coleção ensaios teológicos)
HAIGHT, Roger. Jesus, símbolo de Deus; Tradução Jonas Pereira dos Santos. São Paulo. Paulinas, 2003
EDWARDS, Denis. Experiência humana de Deus. Tradução de Bárbara Theoto Lambert. São Paulo. Loyola.1995 
CARAVIAS, José L. O Deus de Jesus. Tradução de Augusto Ângelo Zanatta e Lúcia Mathilde Endlich Orth, Petrópolis, Vozes, 1987
VIGIL, José Maria.Mudança de Paradigma na Teologia da Libertação? Revista Eclesiástica Brasileira, Petrópolis, 58/230 - p.311-328, Junho 1998
Proximidades Teológicas à Pós-Modernidade em Hans Kung e Andrés Torres Queiruga. WWW.pucsp.br/rever/rv2_2006/p_silva.pdf. Acessado em 16 de fevereiro de 2021

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