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APOSTILA ARTETERAPIAARTETERAPIA ARTETERAPIA INTRODUÇÃO...................................................................................................02 Capítulo 1 – O que é Arteterapia......................................................................03 Capítulo 2 – Corpo e Arteterapia.....................................................................07 Capítulo 3 – A Arte a Serviço da Vida.............................................................09 Capítulo 4 – Autoconhecimento através da Arteterapia................................11 Capítulo 5 – Arteterapia e Reabilitação...........................................................13 Capítulo 6 – As Mãos como Instrumentos Terapêuticos...............................16 Capítulo 7 – Arteterapia com Crianças Hospitalizadas.................................20 Capítulo 8 – A Metodologia em Arteterapia....................................................23 Capítulo 9 – A Arteterapia Gestáltica..............................................................25 CONCLUSÃO....................................................................................................27 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................28 2 INTRODUÇÃO A arteterapia não é uma aula de arte, ela é uma forma terapêutica nascida da fusão da Psicologia com a Arte. É uma forma de psicoterapia que trabalha com a expressividade subjetiva através das mais diversas formas de manifestação artística. O processo criativo irá ajudar o paciente/artista a se autoconhecer e fornecerá recursos para o terapeuta analisar e interpretar as produções artísticas. Nas sessões de arteterapia pode-se usar a pintura, o desenho, o artesanato, a colagem, a escultura, entre outras formas. O objetivo principal não é a estética, portando não precisa ser artista para participar dessas sessões. Somente é preciso estar aberto a experimentar as artes e ter vontade de tentar técnicas criativas alternativas. A arteterapia pode ser usada no tratamento de diversas situações, que podem estar relacionadas a transtornos de saúde mental, como ansiedade, traumas, depressão, dificuldades sociais; ou problemas de relacionamento ou comunicação. Também ajuda a lidar emocionalmente com problemas crônicos e doenças limitantes. Ela será benéfica tanto para o aspecto mental quanto físico e veremos como no presente estudo. 3 CAPÍTULO 1 – O QUE É ARTETERAPIA A Arteterapia vem de uma fusão entre a Arte e a Psicologia. É baseada no método científico e seus profissionais são qualificados através de cursos, sendo muitos deles de especialização e mestrado. Sua prática é baseada em recursos artísticos (visuais ou expressivos) como forma terapêutica. Nas sessões de arteterapia o foco pode ser na análise da produção artística do indivíduo com objetivos diagnósticos, ou usar a própria produção como forma de terapia. Durante a sessão de arteterapia a pessoa é estimulada a explorar seu interior, seu psiquismo e suas emoções. Isso pode ser exercitado através da pintura, modelagem, desenho, música, poesia, dança, etc. O simbolismo da produção então é analisado pelo terapeuta que irá explorar a subjetividade envolvida no processo. Essa análise, no entanto, não deve ser exposta ou imposta, serve apenas como base para o planejamento, pois quem irá se aprofundar nisso será o artista/paciente. Ele irá interpretar o que produziu e expor suas razões, irá refletir sobre o que produziu e porque produziu, enfim, irá explorar as emoções, pensamentos e outras subjetividades envolvidas no processo de criação. Para a Associação Brasileira de Arteterapia (https://www.ubaatbrasil.com/), se trata de um modo de trabalhar utilizando a linguagem artística como base da comunicação cliente-profissional. Sua essência é a criação estética e a elaboração artística em prol da saúde. Assim, podemos perceber que a terapia através e com a arte tem como objetivo principal a promoção da saúde e do bem- estar do paciente, construindo com ele uma autorreflexão e autoconhecimento. Essa forma de trabalho se desenvolve no século XIX, com o médico alemão Johann Christian Reil. Ele cunhou o termo Psiquiatria em 1808 e desenvolveu um protocolo em terapia que usava, entre outras coisas, na sessões, desenhos, sons, textos, com a finalidade de explorar o psiquismo (fonte: https://stringfixer.com/pt/Johann_Christian_Reil). Ao longo do século, a Arteterapia se torna presente nesse ramo da Psiquiatria, principalmente por seguidores da Psicanálise, teoria desenvolvida pelo médico alemão Sigmund Freud. • Psicanálise e Arteterapia A teoria psicanalítica nasceu dos estudos e das observações do médico neurologista austríaco Sigmund Freud. Atualmente, é usada na psicologia clínica e em estudos teóricos, analisando o psiquismo e o comportamento humano, os processos que envolvem o Inconsciente, usando a psicoterapia da livre associação e formulando tratamentos para problemas psíquicos. A 1ª Teoria do Aparelho Psíquico, ou Modelo Topológico da Mente, foi formulada no início dos estudos de Freud (sobre o assunto) para explicar os níveis de consciência do ser humano ao usar sua energia mental, ele descreveu três níveis (SILVA, 2010): ➢ Consciente: o indivíduo está lúcido diante dos pensamentos e interações com o meio, sua percepção está vigorosa; https://stringfixer.com/pt/Johann_Christian_Reil 4 ➢ Pré-Consciente: são “arquivos” da mente que não estão no presente da consciência, mas que podemos acessar voluntariamente e quando desejamos; ➢ Inconsciente: são os arquivos da mente aos quais não temos acesso voluntariamente, eles podem vir à tona, mas não depende de nossa vontade ou intenção. Este último, o Inconsciente, tem um papel protagonista na teoria freudiana. Boa parte de nossos problemas psíquicos tem relação com o inconsciente e seus “arquivos”. Algumas ações, nossas e de outros, que nos causam traumas, medo, repulsa ou insatisfação, também os impulsos suprimidos, tudo acaba armazenado no inconsciente. Como é muito doloroso “desarquivar” esses conteúdos, a nossa mente reprime. Mas essa repressão tem um preço. Muitos desses arquivos acabam lutando para vir para nosso consciente, e isso se dá através de sonhos, atos falhos, rompantes emotivos, sentimento de culpa, depressão. Por isso, o psicanalista, ao analisar seu paciente, vai tentar acessar o inconsciente deste para descobrir o que está causando os problemas psíquicos e emocionais. Mais tarde, em seus estudos, Freud desenvolveu a 2ª Teoria do Aparelho Psíquico, ou Modelo Estrutural da Personalidade. Esse modelo descrevia as seguintes estruturas (SILVA, 2010): ➢ Id (em alemão, ele): é a fonte da energia psíquica e da vida (libido). Ele é formado por pulsões, instintos, impulsos biológicos e desejos inconscientes. Busca sempre o prazer; ➢ Ego: ele trabalha através do princípio de realidade, ou seja, analisa se os impulsos do Id são aplicáveis, viáveis. Após a formação do Superego, o Ego tentará equilibrar os impulsos do Id e as repressões do Superego; ➢ Superego: é a razão, a lógica, a reflexão. Ele vai frear os impulsos do Id. Se forma através das regras e repressões sociais. A personalidade humana tem duas pulsões: a de vida, Eros, e a de morte, Thanatos. Esta última é um impulso autodestrutivo que temos e que nos coloca em situações de vulnerabilidade. Thanatos, segundo a Mitologia Grega, era o deus da morte. Já a pulsão de vida é representada pela libido, o desejo, a busca pelo prazer. Freud a chamou de Eros porque este era o deus do amor (SILVA, 2010). As pessoas têm essas pulsões atuando conjuntamente em suas ações, suas decisões, seus pensamentos e sentimentos, e o Ego tentará equilibrar essas pulsões. Nossa personalidade vive, portanto, em constante tensão, na qual o Egotenta frear os instintos do Id, ao mesmo tempo em que tenta driblar as repressões do Superego. Quando este trabalha em excesso nós sentimos medo, e para que isso não cause danos à nossa personalidade, o Ego utiliza os 5 Mecanismos de Defesa. Com esses mecanismos, o Ego exclui da consciência uma parte da realidade, a que está causando tensão (SILVA, 2010). • A Psicologia Analítica Carl Jung, psicanalista famoso principalmente por teorizar sobre o Inconsciente Coletivo, também usava a arte como aliada na terapia. Segundo Ângela Philippini, em seu artigo Universo Junguiano e Arteterapia (https://www.arteterapia.org.br/pdfs/univers.pdf), nessa abordagem: O caminho será fornecer suportes materiais adequados para que a energia psíquica plasme símbolos em criações diversas. Estas produções simbólicas retratam a psique em múltiplos estágios, ativando e realizando a comunicação entre INCONSCIENTE e EGO. Jung estudou o consciente e o inconsciente de forma conjunta, dando sempre atenção ao simbolismo das experiências pessoais individuais e também sociais. Assim, o ambiente histórico-cultural é investigado juntamente com a parte subjetiva. Sendo assim, as pessoas têm, além de um inconsciente marcado pelas suas experiências subjetivas, um inconsciente construído socialmente e que sofre grande influência da sociedade: um inconsciente coletivo. Esse tipo de inconsciente é formado por arquétipos, que são construídos pelas sociedades através dos tempos e estão relacionados aos fenômenos e fatos das mesmas. Um arquétipo é como se fosse um padrão de pensamento que se enraizou no pensamento coletivo e que acabam fazendo parte das personalidades individuais. Em muitas situações, se associam às crenças, tradições e emoções das pessoas. Vejamos alguns conceitos de Jung (fonte: https://www.vittude.com/blog/psicologia-analitica/): ✓ Os arquétipos Animus e Anima: sendo o primeiro referente à energia masculina presente na mulher e o segundo a energia feminina presente no homem. Compõem-se de quatro estágios de desenvolvimento: 1) uso da agilidade e força física 2) iniciativa e proatividade 3) expressão de ideias com competência e propriedade 4) verdade espiritual; ✓ Sombra: são elementos que não foram integrados na personalidade da pessoa, mas residem em seu inconsciente; ✓ Sonhos: estudo dos simbolismos dos sonhos; ✓ Tipos psicológicos: extroversão e a introversão são, respectivamente, o mundo externo e interno, nos quais os indivíduos transitam. Cada um escolhe qual mundo irá dedicar mais energia e tempo; ✓ Máscaras: A persona, outro arquétipo, é quem apresentamos ao mundo. É um personagem que assumimos diante da sociedade e quem é julgado pelos outros. Dentro da Arteterapia, o paciente vai explorando todos esses aspectos de sua personalidade através de desenhos, pinturas, modelagens, esculpindo objetos, escrevendo, dançando, entre outras coisas, projetando na arte suas emoções e https://www.arteterapia.org.br/pdfs/univers.pdf 6 pensamentos. Além do especialista em arteterapia, os seguintes profissionais também podem usar essa prática: ✓ Arte-Educador ✓ Terapeuta Ocupacional ✓ Psicólogo ✓ Enfermeiros Especialistas em Enfermagem da Saúde Mental ✓ Fonoaudiólogos ✓ Psicomotricistas ✓ Professores qualificados ✓ Gastrônomos ✓ Médicos ✓ Arquitetos Os principais objetivos da arteterapia é fazer com que a pessoa entre em contato com seu interior e seus conteúdos, explorando sentimentos, emoções e pensamentos de origem desconhecida que acabam por atrapalhar uma vida saudável e equilibrada. Além disso, a pessoa pode usar essa prática para se autoconhecer e desenvolver seu potencial. A arteterapia também favorece a expressividade através de processos criativos de reestruturação interna. 7 CAPÍTULO 2 – CORPO E ARTETERAPIA Segundo os princípios da Arteterapia, o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e melhora a qualidade de vida das pessoas. Refletindo sobre esse processo e sobre a arte que resulta dele, o indivíduo explora seu mundo interior e também outras formas de expressividades. Entre os benefícios da arteterapia está o de desenvolver a autoestima. Um dos processos artísticos mais efetivos nesse sentido é o que envolve o corpo e suas formas de expressão. Muitas artes podem envolver a expressividade corporal: música, dança, modelagem, escultura, artes visuais. Na arteterapia, o uso de expressões corporais nas diferentes formas de se fazer arte não se resume à estética, mas ao autoconhecimento e a exploração das emoções e o psiquismo. O movimento artístico corporal colabora com o alívio do estresse e da ansiedade e cria sensações lúdicas de bem-estar. • A Arte Sensorial Muitas formas de arte mexem com os nossos sentidos: a visão, a audição, o tato, o olfato e o paladar. Desde crianças aprendemos a explorar as nossas sensações e a arte nos ajuda nas mais variadas formas de expressão. Além disso, também conseguimos nos conhecer através de artes que nos despertam sensações diversas. As sensações físicas e as expressões que resultam delas nos acompanham por toda a vida. Ao sentirmos o mundo e interagirmos sensorialmente com ele, criamos uma memória corporal. Assim, na arteterapia podemos acessar essa memória e resgatarmos sensações e experiências. E essa memória começa a se formar antes do nascimento, ainda no útero, ajudando na formação do sistema nervoso e da consciência. Nas práticas da arteterapia o profissional pode utilizar oficinas de arte sensorial, com os mais diversos materiais que estimulem o tato, o olfato, a visão. Também pode usar a gastronomia como apelo para a memória afetiva envolvida no processo de criação do alimento, através do olfato e do paladar. A música também é parceira importante para movimentos de dança e livre expressão, de audição e de sensibilização. • A Arte e a Expressividade Corporal A linguagem corporal nos permite lidar com simbolismos e recursos de expressividade que a verbalização restringiria. Na arteterapia pode-se colocar o paciente/artista em contato com movimentos criativos, para que ele se liberte e se solte, resgatando a espontaneidade e a autenticidade. Corpo e mente estão interligados e precisam manter a conexão de forma saudável para que estejamos em equilíbrio. Na arteterapia construímos a consciência corporal através do toque, do movimento livre e da fluidez das sensações. O terapeuta pode usar massagem, técnicas de respiração, de meditação ou movimentação conduzida. 8 O mais importante ao se usar os movimentos do corpo na arteterapia é deixar a pessoa se expressar livremente, de forma espontânea, para poder explorar suas sensações e suas emoções, acessando seu inconsciente através dos mais diversos movimentos e contatos consigo mesmo. • Musicoterapia Uma das atividades mais interessantes pode ser unir a expressão corporal e a música. A música nos abre caminhos para a mente, a memória, a consciência, as sensações e o psiquismo. A música pode despertar sensações positivas ou negativas e por isso é eficiente para tratar os mais diversos problemas psíquicos. As sessões com música em arteterapia podem ser feitas em grupos ou individualmente, o mais importante é se deixar enlevar pelo momento. Para isso, o terapeuta pode preparar o ambiente com outros estímulos, como luzes, cheiros e texturas. Além do movimento corporal, o terapeuta pode estimular o canto, para que a expressividade seja mais intensa. Entre os benefícios da musicoterapia, temos: ✓ Ouvir música ou tocar ajuda a melhorar as frequências cardíacas e respiratórias, diminuindo casos como o de hipertensão; ✓ Música ajuda no tratamento de transtornos neurológicos; ✓ Na pandemia, ajudou a melhorar sintomas da ansiedade, depressão e do isolamento; ✓ A musicoterapia auxilia no tratamento de pacientes vítimas de AVC; ✓ Pacientescom Mal de Alzheimer e outros tipos de Doenças Neurodegenerativas são beneficiados com a música que ativa a produção neural. Além dessas melhorias na saúde, a música unida à expressão corporal tem efeito positivo nas interações sociais. Ela melhora a comunicação promovendo a socialização e melhora dos aspectos emocionais, físicos, biológicos e culturais. Cantar e dançar é divertido e melhora o humor, une as pessoas e amplia as habilidades sociais. 9 CAPÍTULO 3 – A ARTE A SERVIÇO DA VIDA A arte está presente na vida das pessoas há milhares de ano. O ser humano se manifesta através das expressões artísticas, para mostrar o que sente e pensa ao mundo, ao longo da história. A arte nos ajuda a entender esse mundo e nos comunicarmos com ele. Ela é também uma forma de comunicação entre as pessoas, promovendo trocas culturais e unindo aspectos mentais aos emocionais. Ao conhecermos a arte de nosso meio cultural e social, construímos nossa identidade e reforçamos as relações sociais. Ao ampliarmos esse conhecimento, explorando outras formas de manifestações artísticas, entendemos que a diversidade é parte da vida e torna as artes ainda mais belas. As artes se colocam na nossa vida através de diversos processos, tais como: ✓ Crítica Social; ✓ Descrição do espaço e das pessoas; ✓ Sensibilização; ✓ Reflexão; ✓ Desconstrução de ideias. A arteterapia vai unir a apreciação da arte a esses e outros processos internos e externos. Pode ser usada para pessoas que apresentem problemas de comunicação verbal, precisam de outras formas para expressar seus sentimentos, emoções e pensamentos. Muitas vezes, temos medos e inseguranças que não sabemos como lidar ou tratar e a arte pode ajudar a explorá-los. Algumas questões que podem ser exploradas são: ✓ Atrasos no desenvolvimento; ✓ Problemas de aprendizagem; ✓ Ansiedades; ✓ Doenças crônicas; ✓ Comportamentos inadequados ou agressivos; ✓ Situações familiares como: divórcio, morte, brigas; ✓ Situações traumáticas; ✓ Violência doméstica, abusos ou negligência; ✓ Depressão e outros quadros psicológicos. O tratamento pode focar em reduzir os traumas, o estresse, a tristeza e outros sintomas que estejam interferindo no desenvolvimento da saúde mental da pessoa. Para cada caso, o terapeuta irá testar artes e situações lúdicas diferentes, recolher e analisar as informações e por fim, estabelecer metas e um tratamento. No processo criativo, o terapeuta pode interferir mais ou menos na criação. 10 Segundo um relatório organizado pela Organização Mundial de Saúde – OMS, a união entre arte e terapia é benéfico tanto para saúde física quanto para a mental. Segundo o relatório "trazer arte para a vida das pessoas por meio de atividades como dançar, cantar e ir a museus e shows oferece uma dimensão adicional de como é possível melhorar a saúde física e mental” (fonte: https://www.agendaculturalbrasilia.art.br/) O relatório da OMS mostrou que as artes ajudam a enfrentar graves problemas de saúde, como diabetes, obesidade e problemas de saúde mental. Crianças e adolescentes também são beneficiados pela arteterapia, pois esta auxilia em vários aspectos do desenvolvimento: mental, intelectual, cognitivo, físico, emocional e social. A Arte está intrinsecamente ligada à subjetividade e à expressividade. Também se observa um posicionamento crítico em relação ao mundo e seus fenômenos, usando a cognição e a subjetividade para explorar e sentir. A diversidade cultural e artística deve ser trabalhada desde os primeiros anos de vida, incentivando a prática do respeito e o interesse por todas as formas de arte. Nas sessões de arteterapia temos os seguintes processos envolvidos: ✓ Criação: os sujeitos irão fazer sua própria arte, de forma individual ou coletiva, vivenciando todas as camadas do processo de criação artística. É atitude intencional e investigativa que materializa esteticamente os sentimentos, as ideias, os desejos e as representações simbólicas; ✓ Crítica: por meio do estudo e da pesquisa sobre as diversas experiências e manifestações artísticas e culturais vividas e conhecidas, essa dimensão articula ação e pensamento propositivos, envolvendo aspectos estéticos, políticos, históricos, filosóficos, sociais, econômicos e culturais; ✓ Estesia: é a própria experiência de criar e sentir o mundo, o espaço, o tempo, o som, a ação, os imagens e os diferentes materiais. O corpo, em sua totalidade de emoção, percepção, intuição, sensibilidade e intelecto é o protagonista da experiência; ✓ Expressão: é a manifestação de si mesmo através das artes, é a experiência artística vivida em suas linguagens e materialidades, no individual e no coletivo; ✓ Fruição: é o deleite, o encantamento e o prazer que arte causa, fazendo com que a pessoa viva uma experiência gostosa criando ou apreciando essa arte; ✓ Reflexão: é o ato de se autoanalisar através da arte e julgar suas produções inspirados pela subjetividade, interpretando o processo de criação. Nesses processos, o terapeuta pode usar a linguagem das Artes visuais, da Dança, da Música, da Literatura, do Teatro, entre outras formas de arte. https://www.agendaculturalbrasilia.art.br/ 11 CAPÍTULO 4 – AUTOCONHECIMENTO ATRAVÉS DA ARTETERAPIA A arte está profundamente ligada aos aspectos necessários para se alcançar o autoconhecimento. Ela ajuda na construção da identidade individual, da autoestima e fornece instrumentos para a autoanálise. A expressividade subjetiva envolvida no processo de criação e de apreciação da arte também é importante para nos conhecermos e reconhecermos como indivíduos. Essa expressividade sempre se manifestou ao longo da história humana através da arte. O homem coloca nas manifestações artísticas pontos importantes de sua identidade e de sua cultura: pensamentos, crenças, tradições, emoções e sentimentos, por exemplo. Assim, ao longo dos séculos, a humanidade mostra seus aspectos subjetivos através de imagens, dança, música, poesia, narrativas, entre outros recursos da arte que contam muito de sua história. A ludicidade e a imaginação, tão importantes para o bem-estar e realização das pessoas, são parte do processo criativo nas mais diversas formas de arte. Ao explorarmos os materiais e escolhermos simbolismos para serem mostrados, estamos entrando em contato como nosso mundo mais particular e ao mesmo tempo conhecendo esse mundo. O inconsciente, que já estudamos aqui, é parte desse mundo e o mais difícil de ser acessado. Para que o processo de autoconhecimento seja efetivo, é preciso, no entanto, acessar esses arquivos e trazê-los à tona. Na arteterapia, o paciente poderá tentar esse acesso através das mais variadas formas de arte e assim, construir o autoconhecimento. No processo de autoconhecimento a pessoa constrói pontes com seu aspecto emocional e também o psíquico. Isso a fortalece mentalmente, para controlar impulsos autodestrutivos e rompantes emocionais, preservando e melhorando a saúde mental. A arte nos ajuda nos momentos mais difíceis da vida quando construímos essas pontes. Foi durante a recuperação de um acidente que Frida Kahlo se descobriu como pintora, tornando-se uma das artistas mais importantes da história. A técnica da arteterapia permite que as pessoas liberem as emoções e as explorem, analisando e interpretando as mesmas. Nas sessões de arteterapia pode-se usar as mais variadas formas de criação artística, mesclando técnicas, materiais e métodos. Segundo o site Psicanálise Clínica (https://www.psicanaliseclinica.com/arteterapia/), as principais artes usadas nessas sessões são: ✓ Música: a musicoterapia é muito eficaz para desenvolver a expressividade. Através da identificação pessoal com ritmos, melodias e letras, a pessoa irá se autoconhecer e se aprofundar em suas emoções; ✓ Dança: os movimentos corporais, a dança, a exploração do potencial doseu corpo ajuda no desenvolvimento da autoestima e testa limites que se tornam motivadores para as pessoas; 12 ✓ Pintura: pintar e desenhar envolve uma diversidade muito interessante de materiais, de texturas, de técnicas e de métodos. Isso dá a oportunidade de a pessoa se identificar com vários tipos de pintura, criando ou apreciando as produções artísticas e assim, conseguir se perceber através delas; ✓ Escultura: assim como a pintura, a escultura também apresenta um leque de possibilidades de criação. Ao explorar e moldar o material, a pessoa se coloca no processo de tal forma que acaba por fazer o mesmo consigo mesma e sua subjetividade; ✓ Teatro: o teatro é muito eficiente no processo de autoconhecimento, ele ajuda a pessoa a se libertar e se expressar. Ao interpretar outros papéis, a pessoa vai projetando aspectos de si mesma no personagem e o terapeuta pode ir apontando esses aspectos nas sessões de arteterapia; ✓ Literatura: tanto a leitura como a escrita ajudam a desenvolver o autoconhecimento. Nas sessões de arteterapia, o terapeuta pode usar poesia, narrativas, artigos, contos, tudo que possa criar identificação e ajudar na expressividade. Também pode estimular a escrita livre ou associada a outras formas de arte, como pinturas e esculturas; ✓ Cinema: a arte cinematográfica é um dos maiores prazeres da humanidade. O encantamento e a admiração das pessoas pelo cinema e suas histórias o torna uma ferramenta importante de autoconhecimento, reflexão e autoanálise; ✓ Fotografia: a fotografia é um tipo de arte que pode extravasar as paredes do consultório, dando liberdade ao artista/paciente de explorar o mundo, as pessoas e suas preferências, trazendo seu portfólio para o terapeuta interpretar. Olhar o mundo através das lentes das câmeras envolve um mergulho no interior da pessoa, explorando suas atitudes e escolhas. O autoconhecimento é um processo subjetivo e individual, sua trajetória é singular, pois cada um tem um ritmo, um caminho e faz suas próprias escolhas. A jornada só diz respeito à própria pessoa e ela irá decidir os instrumentos que irá usar nessa caminhada. A arte oferece diversos destes instrumentos, diversas possibilidades, e por mais que o arteterapeuta esteja habilitado a lhe oferecer escolhas, as mesmas cabem somente à pessoa. O autoconhecimento abre caminho para as transformações e decisões em nossa vida. Através dele a pessoa entende de fato o que deseja, o que a realiza, o que a faz feliz. Conhece suas forças, suas virtudes e reconhece suas vulnerabilidades. Ela identifica aquilo que traz significado e prazer, para assim impulsioná-lo a conquistar seus sonhos e objetivos. 13 CAPÍTULO 5 – ARTETERAPIA E REABILITAÇÃO A Arteterapia é uma aliada importante na reabilitação das pessoas, tanto nos aspectos físicos, quanto psicoemocionais. As sessões de arteterapia irão desenvolver aspectos físicos, cognitivos, emocionais, sociais e psíquicos em pacientes que sofreram traumas ou doenças crônicas. Como usa recursos tanto das ciências da área da Saúde, como da área de Humanidades, a Arteterapia se torna útil em diversos processos de recuperação da saúde física ou mental. A Arteterapia aborda diversos aspectos humanos, tais como: neurológico, afetivo e emocional. Ela também aprimora a parte intelectual e cognitiva, como a memória, a reflexão, o pensamento simbólico, a atenção e as funções mentais superiores. Com todas essas utilidades, a arteterapia tem se mostrado muito eficiente ao recuperar pessoas que sofreram traumas motores, neurológicos ou psicológicos. Como vimos no capítulo anterior, a arte pode ser instrumento poderoso no processo de autoconhecimento e aqui veremos que também funciona em processos de reabilitação. Atualmente, a arteterapia tem atuado em reabilitações de pacientes com: Alcoolismo, Anorexia e Bulimia, dependência de Drogas, Deficiências Físicas ou Mentais, além de outros traumas e doenças. Segundo Oliver (2008), a arte é fundamental no desenvolvimento humano, auxiliando na construção da personalidade, da parte intelectual, social e psíquica. Nos processos de recuperação de traumas, o Psicodrama, o Teatro Terapêutico, a Biodança, a expressão corporal, a escultura, o desenho, a pintura tem ajudado tanto no diagnóstico, quanto no tratamento de questões relacionadas à saúde mental. Uma importante aliada da arteterapia é a Terapia Ocupacional (TO). Ela tem o enfoque na parte funcional da recuperação, ajudando o paciente a retomar seus movimentos, sua autonomia física e mental e pode contar com os recursos artísticos nesse processo. A pintura, a modelagem e a escultura, por exemplo, podem ser usadas nas sessões para o exercício da coordenação motora. Além da recuperação física, a arteterapia tem sido usada na reabilitação cognitiva, através das seguintes abordagens: restaurativa, compensatória, combinada, preventiva e de manutenção. Antes de optar por alguma delas, ou mais de uma, o terapeuta precisa estudar o caso de cada paciente e elaborar um programa individual de recuperação. Por isso a formação do profissional de arteterapia é muito importante, pois além das artes, ele precisa ter conhecimentos na área de saúde. Também é importante que se alie a outros profissionais para promover a recuperação plena do paciente. A recuperação cognitiva frequentemente está associada a uma reabilitação neuropsicológica. A Neuropsicologia busca a compreensão das alterações dos comportamentos devido às questões neurológicas. Ela também atua na reabilitação neurológica, com um conjunto de procedimentos e técnicas que objetivam promover o reestabelecimento das funções físicas, psicológicas e sociais da pessoa. Tanto a recuperação cognitiva, quanto a neuropsicológica tem se associado à arteterapia para promover esses benefícios, usando as seguintes abordagens: 14 • Reabilitação Restaurativa: tem como objetivo restaurar os aspectos neurológicos, psicológicos e cognitivos do paciente; • Reabilitação compensatória: o paciente é colocado em situações de resolução de conflitos ou problemas, para treinar a capacidade de raciocinar, tomar decisões e analisar situações, recuperando a autonomia e as habilidades; • Prevenção e Manutenção: visa prevenir a degeneração física no primeiro caso e manter as funções, no segundo caso. Para as sessões de arteterapia, o paciente deve se sentir livre e com autonomia nas escolhas de materiais, técnicas e da própria arte. É importante que ele se sinta confortável tanto com o ambiente, quanto no processo criativo. Segundo Vasques (2009), as modalidades expressivas mais usadas são: • Desenho: objetiva a forma, a concentração, a coordenação viso-motora e tem função ordenadora; • Pintura: onde a fluidez da tinta induz o movimento de soltura, atuando sobre os mecanismos defensivos de controle; • Colagem/recorte: favorece a organização de estruturas pela junção de formas prontas; • Gravura: possibilita a reprodução em série e tem função multiplicadora; • Tecelagem: trabalha a coordenação viso-motora, a disciplina e o ritmo; • Modelagem: atividade sensorial, trabalha o toque das mãos; • Escultura: possui função estruturadora, libera a criatividade exercitando o desapego; • Construção: trabalha a estruturação e a organização tridimensional, exigindo mais elaboração; • Teatro: possibilita a experimentação de novos papéis, a criação de histórias e personagens; • Tabuleiro de areia: permite a criação de cenários e cenas tridimensionais, numa caixa de tamanho específico, utilizando areia, água e miniaturas realistas; • Escrita criativa: escrever livremente, sem a utilização de pontuação ou uso de borracha, sobre determinado trabalho artístico executado anteriormente ou sonho, contando ainda com a possibilidade de erros gramaticais e de ortografia, possibilitando que os conteúdos inconscientes aflorem facilmente paraa consciência. 15 No tratamento da saúde mental, a arteterapia tem sido usada com sucesso em projetos como o desenvolvido Universidade Federal de Espírito Santo – UFES, um programa de extensão chamado “Cada Doido com Sua Mania”. Iniciado em 1984, este programa tem a Arteterapia, dentre as Oficinas Terapêuticas. Essas oficinas ajudam pessoas com problemas na área afetiva, social e mental, usando diversos tipos de artes, de materiais e de técnicas. Foram utilizados contos, mosaicos, pintura, desenho, modelagem e músicas atuando como “veículos para que imagens possam ser produzidas e conteúdos inconscientes plasmados a partir da matéria”, explorando a espontaneidade e a criatividade, facilitando uma expressão subjetiva de suas questões e visando a promoção da Saúde Mental, a partir do momento em que auxilia na elaboração e estruturação psíquica de cada participante (VASQUES, 2009, p.37). O programa atende alunos, funcionários e a população em um espaço de liberdade, autonomia e bem-estar. Além dos benefícios para a reabilitação mental e física de pacientes adultos, a arteterapia também tem sido importante na reabilitação de crianças, principalmente em hospitais. Sessões podem ajudar a criança a passar pelo pré e o pós operatório, dando segurança e diminuindo medos e ansiedade. Trabalhando com desenho, pintura, modelagem, dramatização, literatura, entre outras possibilidades. A arte é parte do universo infantil em muitas formas, e na arteterapia podemos usar [...] pintura; o desenho (com giz de cera, giz colorido, carvão, lápis de cor, pincel atômico, canetas esferográficas, vários tipos de papéis); recorte e colagem (materiais: revistas, jornais, linhas, madeiras, sucatas, flores, folhas, cascas, sementes, areia, tesoura, cola, fita adesiva); modelagem com massa artesanal (confeccionada pelos próprios participantes) e argila (VASQUES, 2009, p.44). Também podemos usar materiais mais acessíveis como: macarrão, arroz, feijão, milho. Podemos usar a literatura, através da leitura ou da narrativa oral, usando fantoches, sombras, bonecos, origamis, máscaras. A criança pode recontar histórias e criar suas próprias. Assim, um momento difícil da sua vida se torna bem menos traumático. Além das crianças, idosos também são beneficiados pela arteterapia. Os benefícios vão além do aspecto físico, passam pelo conteúdo interno deles, trabalhando os sintomas de depressão, doenças degenerativas, como a Síndrome de Alzheimer, angústias e todos os males que afetam as pessoas neste estágio de suas vidas. Aqueles recursos, antes considerados sem base científica - músicas, aromas, cores - hoje têm respaldo acadêmico na sua eficácia, devido aos estudos e descobertas da Física e Neurociências. 16 CAPÍTULO 6 – AS MÃOS COMO INSTRUMENTOS TERAPÊUTICOS Quando pensamos em arteterapia, geralmente nos remetemos à pintura ou algo relacionado à música, dança, etc. Porém, o uso das mãos como instrumento no processo de cura ou tratamento vai além do contato com materiais usados nos processos criativos, ele também ajuda no bem-estar físico, como quando usamos a massoterapia, por exemplo. Neste capítulo, iremos entender como o uso das mãos ajuda na melhoria de nossa qualidade de vida. As artes plásticas são milenares e incluem técnicas manuais que podem ser muito eficazes no tratamento e recuperação de doenças, traumas, distúrbios, etc. A seguir, iremos descrever as artes manuais que podem ser usadas em arteterapia e a massoterapia, também importante em processos curativos. Segundo o Glossário de Técnicas Artísticas (UFRGS - 2009), temos as seguintes artes plásticas: • Pintura A pintura é uma das mais antigas manifestações artísticas da humanidade. Ela surgiu quando o homem ainda vivia em cavernas, no período conhecido como Paleolítico Superior (aproximadamente de 40.000 a 10.000 anos atrás). Os grupos humanos costumavam marcar as rochas com pinturas feitas com terras coloridas ou objetos pontiagudos. Essas imagens retratavam aspectos da natureza e dos costumes da época. Com o passar do tempo foram surgindo novos materiais, para esse tipo de registro. No século XV, na Europa, os artistas começaram a usar o óleo de linhaça, um meio mais flexível e durável de registro. Atualmente, as técnicas de pintura mais usadas são: o afresco, a aquarela, a encáustica, o guache, a pintura a tinta a óleo, a pintura a tinta acrílica (surgida no século XX) e a têmpera. Qualquer uma pode ser usada em sessões de arteterapia para produzir imagens que possam retratar pensamentos, sentimentos, emoções, impressões, paisagens, pessoas, etc. A pintura ajuda tanto na coordenação motora das mãos e braços, como a parte cognitiva e emocional. • Desenho Desenho é qualquer representação gráfica, colorida ou não, de formas sobre uma superfície de duas dimensões. Quanto ao material que usamos para desenhar, pode ser: lápis, grafite, carvão, craiom, lápis de cor, pastel, ponta de prata, desenho a tesoura ou os meios úmidos com a tinta com penas e pincéis. O material em que se desenha também varia: papel, tecido, tela, pergaminho. Assim como a pintura, o desenho também traz benefícios físicos, cognitivos e emocionais. • Gravura A Gravura é uma imagem impressa em diversos materiais, tais como: madeira (xilogravura), metal, pedra (litogravura) ou uma tela preparada (serigrafia). Assim como qualquer trabalho manual e artesanal, o uso da gravura como terapia nas sessões de arteterapia trazem benefícios para a parte física, exercitando a coordenação motora e também para a parte cognitiva, treinando atenção, https://www.ufrgs.br/napead/projetos/glossario-tecnicas-artisticas/afresco.php https://www.ufrgs.br/napead/projetos/glossario-tecnicas-artisticas/aquarela.php https://www.ufrgs.br/napead/projetos/glossario-tecnicas-artisticas/guache.php https://www.ufrgs.br/napead/projetos/glossario-tecnicas-artisticas/oleo.php https://www.ufrgs.br/napead/projetos/glossario-tecnicas-artisticas/acrilica.php https://www.ufrgs.br/napead/projetos/glossario-tecnicas-artisticas/tempera.php 17 concentração, memória, raciocínio lógico. A parte emocional e social também pode ser melhorada através de sessões coletivas e do próprio processo criativo. • Escultura A escultura é a técnica de representar objetos e seres através da criação e reprodução de formas tridimensionais. O material será escolhido de acordo com a técnica, sendo possível: ✓ A cinzelação e o entalhe: mármore, granito, calcário, madeira, marfim ou âmbars entalhados com ferramentas próprias; ✓ A fundição: quando se verte metal derretido (bronze, ouro, prata, ferro), em um molde feito com outros materiais; ✓ A moldagem de materiais plásticos: argila, gesso, cera, areia, ou com resinas, concreto armado ou plásticos; ✓ O corte, dobra e solda de chapas metálicas, etc.; ✓ O uso do raio laser, para alcançar a sensação de tridimensionalidade a que aspira à escultura. Qualquer que seja a técnica ou material escolhido para a sessão de arteterapia, é importante lembrar que o principal objetivo é a saúde física e mental, e não a parte estética ou artística, que é importante, mas fica em segundo plano. • Tapeçaria A tapeçaria é uma forma de arte têxtil, tradicionalmente feita em teares, nos quais dois conjuntos de fios são entrelaçados, uns paralelos ao comprimento (as guias) e outros paralelos à largura (a trama). As tapeçarias podem ser feitas em teares próprios ou bordadas à mão, sendo a primeira chama liço e a segunda pontos. • Cerâmica A cerâmica é a atividade de produção de artefatos de argila ou barro, podendo ser artística e artesanal, ou industrial. A cerâmica artística utiliza basicamente duas técnicas: a modelagem manual e a modelagem em torno. A cerâmica classifica-se, de acordo com o material usado, em: terracota (argila cozida no forno, sem ser vidrada, às vezes, pintada); cerâmica vidrada (por exemplo, o azulejo);grês (cerâmica vidrada, às vezes pintada, feita de pasta de quartzo, feldspato, argila e areia e faiança) e louça (obtida de pasta porosa cozida a altas temperaturas, envernizada ou revestida de esmalte sobre o qual se pintam motivos decorativos). Independentemente da arte plástica que a pessoa escolher, ela pode colher muitos benefícios com esses trabalhos manuais. O primeiro é ocupar-se, preencher o tempo e o pensamento com algo que irá produzir e assim, melhorar sua autoestima e motivação. Também sentirá a melhora no pensamento, na memória, na concentração e na atenção. Ao produzir arte, a pessoa se sente útil e capaz, se socializa e se realiza como indivíduo. 18 • Massoterapia A massoterapia é um conjunto de técnicas de manipulação corporal, por um profissional. Ela auxilia nos tratamentos de doenças crônicas e previne quadros de patologias graves. Suas técnicas manuais são difundidas há séculos em diferentes culturas e trazem, entre outros benefícios, os seguintes: ✓ Melhoram a saúde; ✓ Promovem o equilíbrio corporal e energético; ✓ Oferecem uma sensação geral de bem-estar; ✓ Alívio do estresse; ✓ Relaxamento muscular; ✓ Sensação geral de bem-estar; ✓ Potencializa o sistema imunológico; ✓ Alívio de dores e tensões; ✓ Melhora da circulação sanguínea. Através do toque em regiões estratégicas do corpo, o massoterapeuta consegue trabalhar pontos relacionados à dor física ou emocional. As sessões são feitas geralmente com o uso das mãos, mas pode-se usar pedras, aromas, luzes específicas, sons relaxantes ou algum aparelho mecânico. Além disso, o terapeuta pode usar produtos como óleos ou cremes. Durante a sessão, o massoterapeuta vai identificar os pontos-chaves do corpo trabalhando em cima deles para melhorar a parte física e mental. Na massoterapia temos alguns tipos de sessões mais comuns, segundo o blog Rituaali (acesso: https://www.rituaali.com.br/blog/massoterapia-o-que-e-como- funciona-e-beneficios-para-o-corpo-e-mente): ✓ Massagem Terapêutica: esse tipo de massagem irá tentar reequilibrar aspectos físicos, emocionais e a energia da pessoa. O objetivo é eliminar atrofias, dores, contusões ou também prevenir as mesmas. Serve como relaxante e desintoxicante; ✓ Massagem relaxante: a massagem relaxante, como o próprio nome diz, tem como objetivo a desaceleração física e mental, diminuindo o estresse e a agitação. ✓ Massagem estética: geralmente procurada para perda de peso ou redução de medidas, complementando outros tratamentos; ✓ Shiatsu: essa palavra japonesa significa pressão com os dedos, que são usados para acionar pontos específicos do corpo; ✓ Reflexologia podal: os pés contêm mais de 70 mil terminações nervosas que estão ligadas a diferentes órgãos do nosso corpo. Nessa técnica, essas terminações são estimuladas e isso ajuda a melhorar dores nas 19 costas, no pescoço, na cabeça ou outras partes do corpo. Também ajuda no combate à insônia. Para pessoas que se sentem constantemente estressadas e vivem uma rotina agitada, também são indicadas a experimentar a massoterapia. Gestantes, idosos e indivíduos com alguma doença devem conversar com o profissional antes da sessão para que a massagem seja feita com cuidado e precaução. Para quem sofre com transtorno de ansiedade e/ou depressão, a massagem terapêutica pode funcionar como um complemento ao tratamento convencional. 20 CAPÍTULO 7 – ARTETERAPIA COM CRIANÇAS HOSPITALIZADAS Atualmente, o tratamento às crianças hospitalizadas vai além dos procedimentos medicamentosos. Procura-se tornar a estadia delas no hospital algo menos estressante e doloroso, e para isso, tem se investido em práticas recreativas e educacionais que não só as distraiam da situação incômoda, como promovam desenvolvimento e bem-estar nos aspectos físicos, psíquicos e emocionais. Assim, a arteterapia tem sido usada com frequência para esses fins. Estar em um hospital não é algo fácil para ninguém, principalmente em longas internações. Com crianças, ainda mais as menores, pode ser muito difícil entender e aceitar tal situação, pelas próprias características da idade. Pensando nessa situação, muitas foram as iniciativas ao longo dos anos para tornar esse processo menos desgastante. Com o avanço nas legislações, os hospitais passaram a ter brinquedotecas e ludotecas para que as crianças pudessem frequentar e contar com atividades propostas por profissionais como pedagogos, psicopedagogos, monitores, psicólogos e afins. A Lei nº 11.104, de 21 de março de 2005, obriga a instalação de brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação, portanto, é comum agora dispormos desses recursos em grandes hospitais. A criança, independentemente do local onde está, precisa ter seus direitos garantidos. Segundo a Resolução do Conanda nº 41, de 17 de outubro de 1995, o texto da Sociedade Brasileira de Pediatria, relativo aos direitos da criança e do adolescente hospitalizados, temos: 1.Direito à proteção à vida e à saúde, com absoluta prioridade e sem qualquer forma de discriminação. 2.Direito a ser hospitalizado quando for necessário ao seu tratamento, sem distinção de classe social, condição econômica, raça ou crença religiosa. 3.Direito a não ser ou permanecer hospitalizado desnecessariamente por qualquer razão alheia ao melhor tratamento de sua enfermidade. 4.Direito a ser acompanhado por sua mãe, pai ou responsável, durante todo o período de sua hospitalização, bem como receber visitas. 5.Direito a não ser separado de sua mãe ao nascer. 6.Direito a receber aleitamento materno sem restrições. 7.Direito a não sentir dor, quando existam meios para evitá-la. 8.Direito a ter conhecimento adequado de sua enfermidade, dos cuidados terapêuticos e diagnósticos a serem utilizados, do prognóstico, respeitando sua fase cognitiva, além de receber amparo psicológico, quando se fizer necessário. 9.Direito a desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar, durante sua permanência hospitalar. 10.Direito a que seus pais ou responsáveis participem ativamente do seu prognóstico, tratamento e prognóstico, recebendo informações sobre os procedimentos a que será submetido. 11.Direito a receber apoio espiritual e religioso conforme prática de sua família. 21 12.Direito a não ser objeto de ensaio clínico, provas diagnósticas e terapêuticas, sem o consentimento informado de seus pais ou responsáveis e o seu próprio, quando tiver discernimento para tal. 13.Direito a receber todos os recursos terapêuticos disponíveis para a sua cura, reabilitação e ou prevenção secundária e terciária. 14.Direito a proteção contra qualquer forma de discriminação, negligência ou maus tratos. 15.Direito ao respeito a sua integridade física, psíquica e moral. 16.Direito a preservação de sua imagem, identidade, autonomia de valores, dos espaços e objetos pessoais. 17.Direito a não ser utilizado pelos meios de comunicação, sem a expressa vontade de seus pais ou responsáveis, ou a sua própria vontade, resguardando-se a ética. 18.Direito a confidência dos seus dados clínicos, bem como direito a tomar conhecimento dos dados arquivados na instituição, pelo prazo estipulado em lei. 19.Direito a ter seus direitos constitucionais e os contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente respeitados pelos hospitais integralmente. 20.Direito a ter uma morte digna, junto a seus familiares, quando esgotados todos os recursos terapêuticos disponíveis Fonte: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/biblioteca/resolucao-n-41-de-13-de- outubro-de-1995/ Como podemos ver no item 9, a criança tem direito ao lazer e à educação enquanto estiver internada. A educação geralmente é garantida por uma escola parceira do hospital ou da própria criança. Dependendodo tempo de internação, os pais podem matricular na escola parceira, se o período for longo e assim a criança receberá os profissionais e os conteúdos necessários ao seu aprendizado. Se a internação for curta, ela pode receber exercícios domiciliares da própria escola e seus professores. De acordo com as principais teorias de desenvolvimento humano, a criança precisa se desenvolver integralmente, portanto, além do aspecto cognitivo e intelectual, ela precisa ter acesso, no hospital, ao desenvolvimento emocional e social (já que o físico passa pelo cuidado pediátrico naquele momento). Ela precisa brincar, interagir socialmente e receber estímulos que promovam o equilíbrio de sua saúde mental. O jogo simbólico envolve a imaginação, o faz-de-conta, no qual a criança vai imaginar outra realidade, fantasiar, sonhar. Podemos citar como exemplo o teatrinho de bonecos, no qual os bonecos ganham vida, ações, cenários e um mundo só deles. O simbólico envolve um universo diferente do concreto, do real, envolve um universo de pensamentos e sentimentos. Quando a criança brinca de casinha, de ir ao mercado, quando finge ser um adulto, ou quando imita um animal, ela está exercitando o jogo simbólico, ou seja, transformando a realidade em símbolos. Assim, para incentivar a imaginação, a ludicidade, a alegria, promovendo o lazer e a diversão para crianças hospitalizadas, as artes têm sido trabalhadas frequentemente em suas mais diversas manifestações: teatro, pintura, desenho, https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/biblioteca/resolucao-n-41-de-13-de-outubro-de-1995/ https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/biblioteca/resolucao-n-41-de-13-de-outubro-de-1995/ 22 mímica, literatura, até o teatro clown, uma das mais novas. A arte do Clown é um exercício de reconhecimento do mundo através da experiência da emoção do corpo. Segundo Lima et al (2009, p.187): Em 1986, Michael Christensen, diretor do Big Apple Circus, de Nova Iorque, foi convidado a participar das comemorações do Dia do Coração no Columbia Presbyterian Babies Hospital, quando optou por fazer uma satirização às rotinas médicas e hospitalares, utilizando o teatro Clown. O resultado surpreendeu a todos, pois as crianças que se encontravam deprimidas e apáticas participaram ativamente das atividades propostas. Após outras visitas, o hospital decidiu investir na continuidade do trabalho, nascendo então a Clown Care Unit(7). No Brasil, um exemplo de sucesso inspirado nessa experiência é o dos Doutores da Alegria. “O humor é um recurso essencial para auxiliar na superação dos traumas inerentes aos processos de enfermidade e internação, e também na restituição da alegria, parte integrante da vida da criança” (Lima et al, 2009, p.187). Nos anos de 1990, o ator Wellington Nogueira trabalhava nos Estados Unidos com uma trupe de palhaços que realizava intervenções em hospitais de Nova Iorque. Era algo muito inusitado. Em 1990, retornou a São Paulo para visitar seu pai na UTI do Instituto do Coração. Foi ali que resolveu se apresentar como palhaço para crianças. Assim, nasceu o projeto Doutores da Alegria. Expressões artísticas são fundamentais para todo ser humano, como já citamos anterioriormente. No caso das crianças, elas expõem a si mesmas, seu contexto social, suas percepções sobre o mundo, sua identidade e sua imaginação. Por esse motivo, as produções artísticas infantis podem servir de base para identificar seu processo de desenvolvimento emocional, psíquico, social e afetivo. Isso é importante, não só para verificar se estão se desenvolvendo bem, como para notar se a internação tem lhes prejudicado em algum aspecto. Além da função diagnóstica, a arte promove o equilíbrio emocional, pois é uma forma de diminuir o estresse, de se distrair, de se divertir e até interagir, já que pode ser feita em grupos. O processo criativo também é estímulo ao desenvolvimento intelectual e cognitivo, além de exercitar a parte psicomotora da criança. 23 CAPÍTULO 8 – A METODOLOGIA DA ARTETERAPIA A arteterapia, como já comentamos, pode ser aplicada de muitas formas e em diversas situações. Ela pode promover o desenvolvimento educacional, físico ou emocional e ser parceira de outras áreas terapêuticas. A sessão pode se concentrar no processo criativo ou na produção, sendo mais importante a realização pessoal que estética. Trata-se de um projeto focado no paciente/artista. Dessa forma, ela precisa se adequar às necessidades do mesmo e assim ser desenvolvida em diversas modalidades expressivas. Algumas dessas modalidades já foram citadas aqui, tais como a pintura. Nessa modalidade de terapia, o pintar deve ser algo espontâneo, representando os sentimentos e pensamentos. A pintura é uma arte que contribui para a consciência e autopercepção de si, ajudando a desarquivar os conteúdos do inconsciente. A pintura vai usar as cores, os movimentos do pincel e as texturas como recursos de expressividade. Também falamos a respeito do desenho. Desenhar trabalha a concentração, a coordenação espacial e a visual. O desenho, desde muito cedo em nossas vidas, é algo lúdico, que expressa preferências pessoais, experiências, emoções e pensamentos. Ele grava a nossa imaginação e exercita a parte cognitiva. A pessoa que tem dificuldade de expor o que sente e pensa pode usar o desenho para se libertar. Ele pode expressar como ela sente e interpreta o mundo interior e exterior. A seguir, falaremos de outras modalidades e seus métodos que também fazem parte das sessões de arteterapia. • Contação de Histórias Quem não gosta de ouvir uma boa história? O ser humano, desde muitos séculos, tem uma curiosidade natural pela narrativa, em todos os seus aspectos. Gostamos de conhecer personagens, imaginar cenários, saber dos fatos e muitas vezes, ouvimos já pensando em um possível desfecho, tomando partido, torcendo, nos identificando. Comemoramos alguns finais e lamentamos outros, tamanho é o envolvimento das pessoas com as histórias com que têm contato. Se adultos têm essas reações, imagine o quanto uma história bem contada encanta uma criança. Desde bebês, a atenção e a curiosidade que elas demonstram pelas narrativas orais, geralmente iniciadas pelos pais e outros familiares, é impressionante. Saber ler uma boa história, saber contar uma boa história, é importante não só para entreter e emocionar, mas para ajudar no desenvolvimento das crianças. Em arteterapia a contação de histórias pode, portanto, ser usada em qualquer idade. O mais importante é gostar do que se lê ou se ouve. No caso de crianças, podemos usar outros recursos como dedoches, fantoches, bonecos, fantasias, acessórios. Ler e ouvir histórias deve ser algo prazeroso e para que seja uma terapia bem-sucedida precisa ser livre de amarras, priorizando a expressividade. • Movimento e Dança Os nossos movimentos são considerados uma forma de linguagem, tanto que a Educação Física, encontra-se dentro da área de Linguagens na grade curricular nacional. Sendo assim, o movimento corporal é uma forma de expressão, que 24 usamos para nos comunicar, através de gestos, deslocamentos e afins. Nesse sentido, o corpo é um instrumento de informarmos ao mundo o que se passa em nosso interior e também de interagirmos com esse mundo. Na arteterapia, o paciente pode se movimentar livremente, podendo usar a música e a dança como parceiras nessa forma de expressão. Se estivermos trabalhando com crianças essa liberdade é ainda mais importante. Como já estudamos, o desenvolvimento da criança passa por vários aspectos. Um dos mais importantes aspectos desse desenvolvimento é o psicossocial e uma das formas mais bonitas de adquirir e entender a cultura humana é a arte. Por isso, além de desenhar, pintar, moldar, a criança desde cedo deve participar atividades relacionadas à música, como tocar algum instrumento, cantar e dançar. No aspecto humano, a música, além deser uma forma de interagir socialmente, desenvolve aspectos cognitivos como a concentração, a memória e a linguagem. No aspecto emocional, ela desenvolve a sensibilidade e ajuda a identificar sentimentos. Ao escolher as músicas, o terapeuta deve incentivar o paciente a usufruir do momento de forma intensa: dançando, cantando, pulando, etc. A dança e o movimento ajudam a desenvolver a linguagem e a expressividade, ajuda a pessoa a se identificar e se sentir nos ritmos das músicas e soltar o corpo nos movimentos. Nas sessões o terapeuta pode usar objetos para marcar os compassos musicais. • Literatura A literatura é uma expressão de subjetividade. Quando lemos, acessamos essa subjetividade e a relacionamos com a nossa própria. Assim, o ser humano consegue a identificação com sentimentos presentes nas histórias que lê. Por isso os clássicos da literatura são universais e atemporais, porque em qualquer parte e em qualquer tempo transmitem algo que sempre fará parte do universo humano. Um dos recursos mais importantes para expressar essa subjetividade e imprimir universalidade na literatura é sua linguagem. Essa linguagem precisa ser uma ferramenta de acesso do leitor ao universo do livro, tendo que usar para isso, simbologia e códigos que a pessoa entenda e se identifique. Essa identificação é uma das ferramentas utilizadas pelo arteterapeuta para entender as escolhas literárias dos seus pacientes e analisá-las. Outra ferramenta interessante é a escrita criativa. Nesse método, o paciente não deve se importar com regras gramaticais e ortografia, apenas se concentrar no fluxo de pensamento. Esse exercício possibilitaria a expressão do que está em nossa mente. 25 CAPÍTULO 9 – A ARTETERAPIA GESTÁLTICA A Psicologia é a ciência que estuda o comportamento e os processos mentais dos indivíduos. Como ciência, integrante da área de Ciências Humanas, ela segue o método científico, ou seja, procura um conhecimento objetivo baseado em fatos empíricos, usando para isso instrumentos e procedimentos predeterminados por esse método. Entre esses procedimentos está a observação e análise do comportamento observável (de indivíduo ou grupos de indivíduos) e dos processos mentais envolvidos nesse comportamento (FERREIRA, 2020). O método científico envolve observação, questionamento, hipótese e experimentação. O psicólogo então vai observar e descrever o comportamento de seus pacientes, tentando explicar esses comportamentos e deduzir os processos mentais e emocionais envolvidos. Vai também considerar variáveis como o ambiente físico, os fatores materiais, climáticos, humanos, culturais, etc. Esse psicólogo então, irá levantar suas hipóteses diagnósticas e experimentar o tratamento adequado. A primeira organização científica e profissional de Psicologia foi fundada em 1892, nos Estados Unidos, a Associação Americana de Psicologia (APA). Após esse marco, a ciência se expandiu no mundo todo e ainda hoje tem controle rigoroso de formação de profissionais e exercício da profissão (FERREIRA, 2020). A ciência Psicologia cresceu muito nas últimas décadas, através de estudos científicos, autores renomados e diversificação de métodos de pesquisa e trabalho. Isso fez com que essa ciência se dividisse em alguns segmentos. Sob uma perspectiva histórica temos: o funcionalismo, o estruturalismo e a Gestalt. Já nos contextos mais recentes, temos: a psicanálise, o behaviorismo, o humanismo, a perspectiva histórico-social, a perspectiva cognitiva, o evolucionismo, a psicodinâmica e a psicologia médico-biológica. Vejamos cada um desses segmentos a seguir (SCHULTZ & SCHULTZ, 2019): • Estruturalismo: assim que a psicologia nasce como ciência, o fisiologista alemão Wilhem Wundt constrói um laboratório, que seria o primeiro da psicologia e se dedica a criar um método específico para essa ciência. Em seu laboratório, fazia experimentos controlados, analisando sistematicamente os dados recolhidos e observando principalmente o comportamento mental e sensorial. Posteriormente, esse método foi chamado de estruturalismo; • Funcionalismo: para essa corrente de estudos, o estruturalismo era muito limitado, fazendo somente descrição de elementos, conteúdos e estruturas. Para o funcionalismo, a mente humana era muito complexa e interagia constantemente com o meio ambiente, era funcional. • A Gestalt-Terapia 26 Reagindo ao funcionalismo, a Gestalt vai trabalhar mais o aspecto sensorial, ou seja, da nossa percepção do mundo e das pessoas. Essa palavra significa “configuração”, então, seu foco será o funcionamento da mente como um todo. Aliada à arteterapia, a Gestalt vai priorizar o bom funcionamento mental do paciente, unindo as técnicas dessa linha de trabalho às mais diversas formas de se expressar artisticamente. Na atualidade, as pessoas estão mergulhadas em seus afazeres cotidianos e sempre conectadas aos dispositivos digitais. Por isso, sobra pouco tempo para olharem para si mesmas, analisando e catalogando seus sentimentos e suas emoções. Sobra pouco espaço também para a criatividade e a ludicidade. Parece que funcionamos no modo automático. A arteterapia vem então resgatar essas experiências, permitindo um momento de autoconsciência. A terapia gestáltica explora esse processo de autoconsciência e autoconhecimento, e tem nas artes ferramentas importantes nesse trabalho. A produção artística deve ser a expressão e a manifestação de nossos sentimentos e pensamentos mais profundos, sejam eles positivos ou negativos. A Gestalt propõe uma reconfiguração de um organismo que está disfuncional, e para isso, cada peça de nosso estado psíquico precisa ser verificada. Em Gestalt-Terapia, cada ser humano é único, tendo sua própria forma de absorver o mundo e interagir com ele. Assim como na arteterapia, os processos de criação são muito importantes nessa linha de trabalho. O indivíduo é visto como um sistema aberto, que cresce e se desenvolve nas interações com ambiente e seus elementos. Para Gestalt, as pessoas não são vistas de forma isolada, mas como parte de um sistema com o qual se relacionam o tempo todo. Relacionada à arte, a terapia irá analisar o paciente de acordo com suas produções, desvendando sua condição no presente e no passado, ajudando a construir o indivíduo do futuro. O processo criativo irá fazer com que o paciente descubra qualidades, sentimentos e emoções. Ele irá explorar seu potencial, através da pintura, do desenho, da poesia, da escultura, entre outras formas. A arte se torna uma ponte entre os elementos externos e internos. As vivências e experiências pessoais têm um papel central na terapia gestáltica. Em sessões de terapia com a arte, o paciente irá experimentar eventos, analisando seu estado emocional e psíquico e produzindo sua obra de acordo com esse estado. De acordo com Andrade (2000, p.131), essa experiência se dá da seguinte forma: fazer formas artísticas, estar emocionalmente envolvido nas formas que estão sendo criadas como um evento pessoal, observar o que está sendo feito e perceber através das produções realizadas não somente como a pessoa está neste momento, mas também maneiras alternativas possíveis para desenvolver-se seguindo modelos mais desejados por ela mesma. Nessa linha, a vivência artística não somente permite ao sujeito se revelar nas formas criadas, em modos de ser até então ignorados por ele mesmo, mas ainda se projetar nelas e ampliar sua visão de mundo. 27 CONCLUSÃO Como pudemos estudar, a arteterapia utiliza a expressão artística como instrumento terapêutico, trabalhando bloqueios comunicativos e emocionais. Para contribuir com a qualidade de vida, são utilizadas a pintura, desenho, poesia, colagem, modelagem, fotografia, música, dança e qualquer outro tipo de arte. A expressividade é o principal objetivo. Pudemos ver que existem muitas formas de manifestaçõesartísticas e elas podem ser usadas de diversos meios nas sessões de arteterapia. Os benefícios são muitos, tanto para o aspecto físico e mental, como para o cognitivo e emocional. A expressão e o processo criativo funcionam como estímulo para auxiliar no raciocínio, em relacionamentos afetivos e na parte psicomotora. Esse tipo de terapia é reconhecido pela OMS. A arteterapia, como vimos, ajuda a chegar no autoconhecimento, aumenta a autoestima, estimula a autoconsciência e a autorreflexão. Além disso, ela explora as emoções, o psiquismo e os sentimentos. A arte é lúdica, seu processo de criação diminui o estresse e a ansiedade, promovendo o bem-estar físico e mental. 28 BIBLIOGRAFIA ANDRADE, L. Q. (2000). Terapias expressivas. São Paulo: Vetor. Agenda Cultural Brasília. Organização Mundial da Saúde, aponta os benefícios da prática da Arte para a saúde mental e física. 16 de dezembro de 2019. 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