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INSTALAÇÕES ELÉTRICAS E DE COMUNICAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Definir matéria e carga. > Reconhecer as propriedades básicas das correntes elétricas contínua e alternada. > Identificar as diferenças entre potencial e potência. Introdução A eletricidade é umas principais fontes de energia utilizadas atualmente, sendo a segunda fonte com maior participação na matriz energética nacional, perdendo apenas para o petróleo e seus derivados. Neste cenário é considerado todo o uso de energia, inclusive a locomoção, por isso ela figura em segundo lugar; se fosse considerada apenas a utilização residencial de energia, a eletricidade reinaria soberana (EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA [EPE], 2020). Conforme o Plano Nacional de Energia – 2050, a tendência é que a eletricidade ganhe ainda mais protagonismo no futuro, principalmente pelo apelo ecológico ao uso de fontes renováveis de energia (EPE, 2018). Um bom projeto elétrico é parte importante em qualquer estrutura predial atual. Entender os conceitos básicos de eletricidade é passo fundamental para elaborar ou analisar um projeto elétrico. Neste capítulo, você vai aprender sobre os conceitos básicos de eletricidade por meio do estudo da matéria e da carga, sobre a corrente elétrica contínua e a alternada e diferenciar os conceitos de potencial e de potência elétrica. Introdução à eletricidade Miguel Francisco da Silveira Conceitos básicos de eletricidade A eletricidade começou a ser conhecida há muito tempo, de forma estática ainda, pelos antigos gregos. Eles observaram que se um pedaço de âmbar (seiva de dada árvore) fosse friccionado e aproximado de um pedaço de palha, este seria atraído pelo âmbar (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016). Durante muito tempo, essa observação foi apenas recreativa; no século XVII, começa a haver avanço no estudo da eletricidade (HAYT JR.; BUCK, 2013). Benjamin Franklin atribuiu o conceito de carga positiva e de carga negativa, conforme Knight (2009, p. 793), [...] um bastão de vidro friccionado com seda torna-se carregado positivamente. É isso. Qualquer outro objeto que repila um bastão de vidro carregado também estará carregado positivamente. E qualquer objeto que atraia um bastão de vidro carregado estará carregado negativamente. A carga elétrica (Q) é dada em Coulomb (C), em homenagem a Charles Augustus de Coulomb, que estabeleceu de forma experimental a relação entre a força exercida entre dois objetos carregados eletricamente. Ele desenvolveu e utilizou uma balança de torção para este fim, conforme ilustrado na Figura 1 (HAYT JR.; BUCK, 2013). Figura 1. Balança de torção de Coulomb. Fonte: Fouad A. Saad/Shutterstock.com Introdução à eletricidade2 O estudo da eletricidade havia sido desenvolvido sem o conhecimento correto do átomo, de forma empírica. O conhecimento que se tinha ainda era da ideia herdada dos gregos, do átomo como indivisível. A palavra átomo vem do grego — a significa não, e tomo significa divisão, ou seja, não divisível. O estudo da matéria e do átomo evoluiu muito, e no século XX foi adotado o modelo do átomo de Rutherford-Bohr, sendo o átomo a menor unidade da matéria, composto por um núcleo com nêutrons e prótons e por elétrons (KNIGHT, 2009). A Figura 2 apresenta o modelo nuclear do átomo: os prótons, com carga positiva, e os nêutrons estão no núcleo, enquanto os elétrons orbitam ao redor, com carga negativa. Figura 2. Modelo nuclear do átomo. Fonte: Adaptada de nisa arki/Shutterstock.com Elétron Nêutron Próton Núcleo Os nêutrons não possuem carga elétrica. Aos prótons foi convencionada carga elétrica positiva, e aos elétrons carga elétrica negativa. O valor, em módulo, da carga de ambos é igual. Desta forma, um átomo em equilíbrio possui a mesma quantidade de prótons e de elétrons (CREDER, 2007). A carga elétrica elementar — a carga de um elétron — é: Introdução à eletricidade 3 Cargas elétricas iguais se repelem e cargas elétricas opostas se atraem. Corrente elétrica Os conceitos anteriores foram estabelecidos de forma estática; ao se imaginar o movimento das cargas elétricas em um dado condutor, tem-se então a corrente elétrica (I). Sendo assim, a corrente elétrica é o fluxo de cargas, em dado intervalo de tempo, através da seção de um condutor. Conceitualmente é dado pela Equação 1: (1) Ou seja, a corrente elétrica é dada pela derivada da carga em relação ao tempo, ou, ainda, pela taxa de variação de carga em um dado intervalo de tempo. A corrente é dada em Ampère (A), onde 1 A representa o fluxo de 1 Coulomb por segundo (1 A = 1 C/s), conforme expresso na Equação 2 (CREDER, 2007). (2) Para que haja corrente elétrica é necessário um caminho fechado, um circuito para circulação da corrente. O fluxo de cargas elétricas se dá pelos elétrons, cargas negativas em busca do equilíbrio de cargas do sistema; dessa forma, o sentido real da corrente se dá do polo negativo para o positivo. Entretanto, adotou-se, na prática, o sentido da corrente como sendo do positivo para o negativo, tam- bém chamado de sentido convencional da corrente, que considera o fluxo de cargas positiva fluindo do polo positivo para o polo negativo (SADIKU; MUSA; ALEXANDER, 2014). O sentido convencional é amplamente utilizado e não prejudica nenhuma análise de circuito elétrico. A Figura 3 representa o sentido da corrente, representando o sentido real através dos elétrons fluindo da direita para a Introdução à eletricidade4 esquerda, e o sentido convencional, representado por uma seta () da esquerda para a direita, do positivo para o negativo. Figura 3. Sentido da corrente. Fonte: Sadiku, Musa e Alexander (2014, p. 9). A corrente elétrica é ainda classificada conforme o seu comportamento no tempo, podendo ser corrente contínua (CC) ou corrente alternada (CA). A corrente contínua não varia com o tempo, mantendo um valor fixo, como, por exemplo, a corrente fornecida por uma bateria (SADIKU; MUSA; ALEXANDER, 2014). O gráfico da Figura 4 representa a CC no tempo. Figura 4. Corrente contínua (CC) no tempo. Fonte: Sadiku, Musa e Alexander (2014, p. 9). A CA, por outro lado, é variável no tempo e pode ser representada por funções matemáticas. A Figura 5 representa a corrente alternada senoidal. Introdução à eletricidade 5 Figura 5. Corrente alternada (CA). Fonte: Sadiku, Musa e Alexander (2014, p. 9). A CA senoidal é extremamente útil, uma vez que a distribuição de energia elétrica é CA, com frequência de 60 Hz em todo o território nacional (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA [ANEEL], 2017). Ou seja, a energia elétrica recebida por cada consumidor é na forma alternada senoidal. A CC é muito utilizada nos equipamentos eletrônicos e iluminações LED (light emitting diode, diodo emissor de luz), amplamente utilizados em todas as residências e comércios atualmente. Apesar de esses equipamentos tra- balharem em CC, eles são alimentados em CA e necessitam de um conversor de corrente, usualmente chamado de fonte. Essa fonte converterá a corrente alternada disponível nas tomadas em CC a ser utilizada pelos equipamentos. Os primeiros sistemas de distribuição eram CC, devido ao precursor Thomas Edison. George Westinghouse e Nikola Tesla ganharam de Thomas Edison uma disputa que ficou conhecida como Guerra das Correntes, e então o sistema CA cresceu como padrão de distribuição em todo o mundo. Tensão e potência Para que haja corrente é fundamental que exista uma diferença de potencial (ddp) e um circuito fechado. “A diferença de potencial entre dois pontos de um campo eletrostático é de 1 Volt, quando o trabalho realizado entre as forças elétricas ao se deslocar uma carga entre esses dois pontos é de 1 Joule por Coulomb” (CREDER, 2007, p. 18). A Equação 3 apresenta a grandeza de forma conceitual: (3) Introdução à eletricidade6 A ddp — ou tensão, ou, ainda força eletromotriz (fem) — é dada em Volt (V), representando o trabalho (W, dado em Joule) para mover uma carga (Q, dada em Coulomb) doponto A ao ponto B (SADIKU; MUSA; ALEXANDER, 2014). Essa diferença de potencial elétrico é análoga à diferença de potencial gra- vitacional, no qual é necessário trabalho (W) para mover uma massa a um ponto mais alto, e essa massa conserva a energia potencial gravitacional que poderá novamente ser convertida em trabalho (KNIGHT, 2009). A tensão, ou diferença de potencial, sempre é medida entre dois pontos, geralmente entre o ponto de interesse e um ponto de re- ferência comum. A tensão, tal qual a corrente, também é classificada como contínua ou alternada, sendo então tensão de corrente contínua (CC) ou tensão de corrente alternada (CA) (SADIKU; MUSA; ALEXANDER, 2014). Os valores de tensão (CA) disponibilizados pela concessionária de energia em baixa tensão são padronizadas em 127 V ou 220 V e 60 Hz (ANEEL, 2017). Esses valores de tensão são valores eficazes, também chamados de tensão eficaz ou tensão rms (Vrms) — rms significa root mean square, ou valor quadrático médio. É uma função matemática que traz o valor alternado para um equiva- lente em corrente contínua que produziria a mesma potência final. Para o caso da senoide, este valor representa 70,7% do valor de pico (SEIXAS et al., 2018). A Figura 6 representa uma onda senoidal com os seus valores de pico, de pico a pico, valor médio e valor rms. Figura 6. Valores de pico e valor rms de uma onda senoidal. Fonte: Seixas et al. (2018, p. 127). Introdução à eletricidade 7 No circuito, ainda constam elementos que se opõem à circulação da cor- rente elétrica; essa resistência é chamada de resistência elétrica (R) e é medida em Ohm (Ω). Materiais condutores possuem baixa resistência elétrica e materiais isolantes possuem alta resistência elétrica (CREDER, 2007). Terminologias populares como voltagem e amperagem não são tec- nicamente corretas; em vez disto devem ser utilizados os termos tensão e corrente. Potência elétrica A potência elétrica (P) expressa a capacidade de trabalho em razão do tempo e representa a energia aplicada por segundo para produzir calor, luz, mo- vimento, etc. A potência é dada em Watt (W) e é o produto da tensão pela corrente (CREDER, 2007), conforme a Equação 4: (4) Ao aplicarmos as unidades da Equação 2 e Equação 3 na Equação 4, temos o conceito de unidade de potência, conforme a Equação 5: (5) Watt-hora (Wh) é unidade de energia, não de potência. A corrente elétrica, ao circular por um elemento resistivo, dissipará po- tência na forma de calor, o que é conhecido como efeito Joule (SADIKU; MUSA; ALEXANDER, 2014). O efeito Joule é o princípio físico que baseia o funcionamento dos equipamentos de aquecimento, como o chuveiro elétrico ou o ferro de passar roupas, por exemplo. Esses equipamentos utilizam resistências elétricas como elemento de aquecimento. Introdução à eletricidade8 Highlight O cálculo de potência como produto da tensão pela corrente é válido para análises de corrente contínua ou para elementos puramente resistivos. O cálculo de potência em corrente alternada é ligeiramente diferente pelo efeito de elementos indutivos ou capacitivos na corrente elétrica. Esses elementos podem atrasar, ou adiantar, a corrente elétrica em relação à tensão. A esta diferença de fase é dado o nome de fator de potência, ou cos θ (SADIKU; MUSA; ALEXANDER, 2014). Conforme Creder (2007), dado o fator de potência, em corrente alternada tem-se a potência aparente (S); a potência ativa (P) responsável pela produ- ção de trabalho; e a potência reativa (Q) referente aos elementos indutivos e capacitivos. A potência aparente é dada em Volt-Ampère (VA), e é expressa pela Equa- ção 6: (6) Ou seja, o produto de tensão e corrente resulta em potência aparente em corrente alternada. A potência aparente será igual à potência ativa quando θ for zero, ou seja, o fator de potência será unitário. A potência ativa, em Watt (W), é dada pela Equação 7: (7) O fator de potência (cos θ), cosseno do ângulo entre P e S, irá variar entre 0 e 1. A potência reativa é dada em Volt-Ampère reativo (VAr), expressa pela Equação 8: (8) A Figura 7 representa o triângulo de potências em corrente alternada. Figura 7. Triângulo de potência em corrente alternada. Fonte: Sadiku, Musa e Alexander (2014, p. 376). Introdução à eletricidade 9 A potência ativa (P) é a potência que se converterá em trabalho efetivo, sendo convertida em iluminação, calor, movimento, etc. A potência reativa (Q) é resultado dos componentes indutivos e capacitivos utilizados, sendo os motores elétricos os principais exemplos de equipamentos indutivos utilizados em uma aplicação, respondendo por grande parte da potência reativa de uma instalação predial. A potência reativa não gera trabalho efetivo, mas é primordial para o funcionamento desses equipamentos. A Figura 8 apresenta um paralelo bem didático ao traçar uma referência entre o triângulo de potências da Figura 7 com um copo de chope. Figura 8. Paralelo do copo de cerveja com o triângulo de potências. Fonte: Adaptada de Maryambibi1994/Shutterstock.com Potência reativa (Q) VAr Potência ativa (P) W Po tê nc ia a pa re nt e (S ) - V A O exemplo da Figura 8 é um paralelo popular, comparando a espuma à potência reativa, o líquido à potência ativa e o conteúdo total à potência aparente. Referências AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (ANEEL). Procedimentos de distribuição de energia elétrica no sistema elétrico nacional – PRODIST. Módulo 3 – Acesso ao sistema de distribuição. Brasília, DF, 2017. Disponível em: https://www.aneel.gov.br/modulo-3. Acesso em: 21 jan. 2021. CREDER, H. Instalações elétricas. 15. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2007. EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (EPE). Balanço Energético Nacional 2020 – Relatório síntese/ano base 2019. Rio de Janeiro, 2020. Disponível em https://www.epe.gov.br/pt/ Introdução à eletricidade10 publicacoes-dados-abertos/publicacoes/balanco-energetico-nacional-2020. Acesso em: 21 jan. 2021. EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (EPE). Cenários de demanda para o PNE 2050. Rio de Janeiro, 2018. Disponível em https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-aber- tos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-227/topico-202/Cen%C3%A1rios%20 de%20Demanda.pdf. Acesso em: 21 jan. 2021. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: eletromagnetismo. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. v. 3. HAYT JR., W.; BUCK, J. A. Eletromagnetismo. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. KNIGHT, R. Física 3: uma abordagem estratégica. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. SADIKU, M.; MUSA, S.; ALEXANDER, C. Análise de circuitos elétricos com aplicações. Porto Alegre: AMGH, 2014. SEIXAS, J. L. et al. Circuitos elétricos. Porto Alegre: SAGAH, 2018. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Introdução à eletricidade 11
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