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Sentença arbitral

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EGRÉGIO TRIBUNAL ARBITRAL xxxxxxx
PROCEDIMENTO Nº: 0001200-25.2015.8.26.0482
PARTE REQUERENTE: SINDOMAQ - SINDICADO DOS OPERADORES DE MÁQUINAS PESADAS.
PARTE REQUERIDO: PLANO DE SAÚDE - “SAÚDE PARA TODOS”
EMENTA:CIRURGIA.RESSARCIMENTO.SINDICALIZADOS.MUDANÇA DE SEXO. ISENÇÃO DE COBERTURA DO PLANO. 1. Em 1997 foi firmada o contrato coletivo de plano de saúde com a parte requerente 2. Foi proposta campanha de conscientização visando a minoria, dentre tais assuntos abordou a alteração de sexo 3. Resolução 1.707 do Ministério Público autoriza hospitais conveniados ao S.U.S proceda tal cirurgia de alteração.4. Ressarcimento devido aos custos da mesma. 
RELATÓRIO.
A parte requerente, SINDOMAQ-  Sindicado dos Operadores de Máquinas Pesadas- ME, pessoa jurídica de direito privado, devidamente inscrita no CNPJ nº 11.158.391/0001-35,situada na Avenida Rui Manoel, nº  20.581, Bairro Centro, xxxxxxxx /SP,  neste ato representado pelo seu presidente,Sr. José Empilhadeira, brasileiro, casado, portador do RG: 00.158.234-8 SSP/SP e CPF: 000.254.428-00,residente e domiciliado na Rua Barbosa Goulart,, nº 1, Bairro Centro, xxxxxxxxxx /SP, requereu a instauração de um procedimento arbitral, em face ao plano de saúde, Saúde Para Todos S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNJP nº 00.009.123/0001-45, situada na Rua João Silva, nº 2, Bairro Liberdade, xxxxxxxxxx /SP, por intermédio de seu representante legal. 
A parte requerente afirma que foi realizado uma campanha com foco na minoria cujo um dos assuntos abordados foi a questão da cirurgia de mudança de sexo. Esclarece ainda que houve um interesse maior por parte de três sindicalizados, Sr. GIGI MÁQUINA DE COSTURA, LULU MÁQUINA DE LAVAR e ZEZE BRITADEIRA, esses que buscaram maiores informações sobre o assunto, tomando conhecimento sobre a existência da Resolução 1.707 do Ministério da Saúde, que autoriza hospital conveniado ao S.U.S, Sistema Único de Saúde, a procederem cirurgia de mudança de sexo. No entanto, foi alegado pelos sindicalizados que a fila de espera para realização do procedimento levaria anos. 
Frente as condições pessoais e a demora para a realização da mesma, resolveram cada um bancar seu próprio procedimento cirúrgico, pois o Plano de Saúde, Saúde para Todos, negou-se a cobrir as despesas para tal conduta sob o argumento de que estavam embasadas por uma cláusula no contrato que vedava tal assunto.
Dessa forma, a parte requerente pleiteia o ressarcimento por parte do plano de saúde devido as despesas obtidas com a cirurgia, ao custo de R$ 100.000,00 cada um. 
Por fim, instala-se o procedimento arbitral, nomeando-se então mediador a xxxxxxxxx, como árbitro.
É o relatório.  
FUNDAMENTAÇÃO
Questões de Fato
A primeira questão ser abordado é o fato do SINDOMAQ ter firmado um contrato de plano de saúde, visando beneficiar seus sindicalizados. Tal contrato foi adquirido antes da vigência da Lei 9.656/98, sendo assim, alega-se então que não é afetado pela mesma, uma vez que houve respeito ao princípio da irretroatividade visando proteger o ato jurídico perfeito.
Outro fato a ser salientado, é a possibilidade de adaptação do contrato de plano de saúde para que assim fosse regulamentado pela Lei 9.656/98, no entanto, a SINDOMAQ não se manifestou sobre tal adaptação, mantendo as mesmas coberturas já contratadas em 1997, inclusive a vedação da cláusula 8.1.4 do contrato. 
Ademais, a existência da impossibilidade dos sindicalizados realizarem a cirurgia de mudança de sexo pelo S.U.S, uma vez que a fila de espera ultrapassava 5 anos, é fato que contribui significantemente para a existência da lide, dado que o transtorno de gêneros conhecido coletivamente como transexualíssimo, causa desvios psicológicos de identidade sexual do indivíduo, dificultando assim a integração social, como é o caso dos sindicalizados, atentando até contra a própria vida.
A realização de uma consulta feito pelo SINDOMAQ junto ao plano de saúde para saber se existiria a possibilidade sobre a cobertura dos custos das cirurgias de mudança se sexo, também é questão de fato, porém o Plano de Saúde, Saúde para Todos, negou a existência de qualquer possibilidade ligada a tal assunto, visto que é expressamente afastado pela duvidosa cláusula 8.1.4 do contrato. 
Porém, mesmo com tais fatos abordados acima, três sindicalizados afirma fazer jus ao ressarcimento pelo plano de saúde em relação a cirurgia de mudança de sexo, bancado por eles mesmo ao custo de R$ 100.000,00 cada um. 
Questões de Direito 
Diante de tais prerrogativas acima fica explicito que a negativa dada pela requerida tinha como escopo não tratar o mal que afligia os sindicalizados, lesando assim uma garantia constitucional que é direito de saúde, previsto no rol do artigo 6 da Constituição Federal de 1988, e a dignidade da pessoa humana, pois é inegável que o transexual, para ter uma vida digna, tenha assegurado direitos que possam garantir a qualidade de vida e a satisfação de seus anseios. Não há como negar a uma pessoa que tenha essa anomalia acesso aos procedimentos cirúrgicos necessários e possíveis oferecidos pelas redes hospitalares,
Ademais, o artigo 198,II, da Constituição Federal de 1988, aborda o princípio da integralidade da assistência, que não deve ficar restringido apenas ao Sistema Único de Saúde, S.U.S, devendo alcançar também toda iniciativa privada assegurando a não distinção de qualquer natureza entre serviços públicos de saúde e privados (art.7, VI Lei Orgânica 8.080/90), pois o enfoque da integralidade deverá ser destinados àqueles que precisam de recuperação, prevenção e redução de doenças, como por exemplo graves danos psicológicos devido a não aceitação de sua condição sexual. Outrossim, o acesso a todos os mecanismos, incluindo procedimentos cirúrgicos. 
Contudo ainda, há proteção do Código de Defesa do Consumidor, uma vez que vigora a relação de consumo entre o plano de saúde e SINDOMAQ. Mediante a isto, o artigo 51, VI, declara nula a cláusula 8.1.4 que sustenta a negativa do plano de saúde, pois o consumidor ao ser abrangido por ela fica exageradamente em desvantagem ou até mesmo sejam incompatíveis com a boa-fé. Consequentemente, a alegação de que o contrato não é regulamentado, e assim regido apenas pelas cláusulas que o compõe é afastado ao aplicar a Súmula 100 do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que visa combater abusos de plano de saúde: “o contrato de plano de saúde ao ficar submetido aos ditames do Código de Defesa do Consumidor e da Lei 9.656/98, ainda que a avença tinha sido celebrada antes da vigência”, apesar de não ter efeito vinculante, não poderá ser simplesmente descartada. 
Por fim, com a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, o “pacta sunt servanda” fica limitado, pois nesse caso o contrato não fará lei entre as partes, uma vez que parte do contrato passa a ser considerado abusivo, além do mais, segundo o princípio da função social do contrato, o mesmo deve produzir efeitos de acordo com o que a sociedade espera dele, ou seja, o contrato com o plano de saúde é esperado no mínimo a cobertura. Como o plano de saúde, Saúde para Todos, oferece um plano com limitação excessiva, há violação da função social do contrato.
Assim, aplica-se a equidade. 
	
	DISPOSITIVO
Tendo em vista os fundamentos abordados acima, julgo totalmente procedente o pedido do autor, em relação ao ressarcimento da cirurgia de mudança de sexo.
Condeno o réu ao pagamento das custas e despesas com a arbitragem, bem como dar a quantia certa em dinheiro, R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), devidamente corrigidas monetariamente interpretado juntamente com os artigos 406 do Código Civil e 161, parágrafo primeiro, do Código Tributário Nacional, com percentual de juros de mora atualizada de 1% a.m (um por cento ao mês), computadas desde a abertura do procedimento arbitral. 
Além disso, deverá pagar a quantia fixada na sentença condenatória num prazo de 15 (quinze) dias úteis, sob pena que incidirá a multa de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação caso não haja pagamentovoluntariamente, tal pagamento deverá ser feito mediante depósito em conta corrente de número 0090-9. 
Declaro encerrado o procedimento arbitral (artigo 29, da Lei 9.307/96). 	
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.                                                       
Local/data
				          
______________________
ASSINATURA ÁRBITRO

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