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Lorena Z
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Código Logístico
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6363-5
IESDE BRASIL S/A
2018
História Moderna
Lorena Zomer
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Capa: IESDE BRASIL S/A.
Imagem da capa: 
MICHELANGELO. Davi. 1501-1504. Escultura em mármore. Acade-
mia de Belas Artes de Florença.
RAFAEL. A escola de Atenas. 1511. Afresco: color.; 5 m X 7,7 m. 
Museu do Vaticano.
BOTTICELLI, Sandro. Retrato de Simonetta Vespucci como Ninfa. 
C.1480. Têmpera em madeira: color.; 82 cm x 54 cm. Städel Museum, 
Frankfurt.
TONNELÉ & CO. Tesla in his laboratory. 1896. 1 fotografia, p/b. 
PRÉVOST, Benoît Louis. Gravura da Encyclopédie ou Dictionnaire 
raisonné des sciences, des arts et des métiers. 1764.
WEITSCH, Friedrich Georg. Retrato de Alexander von Humboldt. 1806. 
Óleo sobre tela: color.; 126 cm x 92,5 cm. Bode Museum, Berlim.
Capa da Encyclopédie, ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et 
des métiers. 
LECLERC, Sébastien. Louis XIV Visiting the Royal Academy of 
Sciences. 1671. Gravura; 41.9 cm x 30.8 cm. Metropolitan Museum of Art.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Z83h Zomer, Lorena
História moderna / Lorena Zomer. - [2. ed.] - Curitiba, PR : 
IESDE Brasil, 2018.
142 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6363-5
1. História moderna. I. Título.
17-46163 CDD: 900CDU: 94
© 2018 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da 
autora e do detentor dos direitos autorais.
Apresentação
Este livro tem por objetivo trazer algumas das leituras possíveis acerca 
da História Moderna. Muitos acontecimentos também compreendidos como 
importantes estão mencionados, mas não serão aprofundados, pois nossas 
opções estão relacionadas às perspectivas historiográficas, que não são pou-
cas. Isso apenas demonstra como a História é uma disciplina das Ciências 
Humanas que dialoga com as demais e por isso apresenta mais perspectivas 
sobre os acontecimentos. Uma segunda escolha ocorre de acordo com tantas 
possibilidades oferecidas pela narrativa, entendendo que não é possível co-
locar todos os sujeitos sociais em uma mesma corrente historiográfica. Nesse 
caso, a crítica historiográfica nos oferece histórias diversas de um mesmo 
acontecimento, sem uma postura universal ou evolucional.
Neste volume de História Moderna vamos compreender características 
de algumas sociedades, no período entre os séculos XV a XVIII. As escolhas 
sobre os acontecimentos debatidos deram-se em busca de problemáticas que 
envolvem nossos contextos atuais. Entre eles estão a formação dos Estados 
modernos, a expansão europeia, as revoluções inglesas no século XVII, o 
Iluminismo, bem como as questões sociais e as culturais ocorridas nesse pe-
ríodo, fatos primordiais para a formação social, econômica, política e cul-
tural do mundo moderno e para os princípios do período contemporâneo. 
Concepções de nações, de nacionalismo, do capitalismo como forma de pro-
dução econômica e de Estados mais centralizadores são ideias construídas 
no período moderno, ao longo dos séculos XIII ao XVIII.
Foram muitos os movimentos sociais ou artísticos que influenciaram 
questionamentos e resistências às ordens políticas e sociais. Entre eles, pode-
mos citar o Renascimento e o Iluminismo, com suas influências sobre as ciên-
cias, inclusive em relação ao fazer historiográfico. Esses e outros temas foram 
escolhidos a fim de estudarmos uma possível construção sobre o mundo 
moderno. Desse modo, neste livro, buscamos incorporar os recentes debates 
historiográficos, procurando uma bibliografia atual e temas nem sempre evi-
denciados pela historiografia mais tradicional. 
Bons estudos!
Sobre a autora
Lorena Zomer
Doutora e mestre em História pela Universidade Federal de Santa 
Catarina (UFSC). Especialista em Educação Especial pela Escola Superior 
Aberta do Paraná (Esap) e licenciada em História pela Universidade 
Estadual de Ponta Grossa (UEPG-PR). Tem experiência como profes-
sora de História no ensino superior (presencial e EAD), bem como na 
Educação Básica.
6 História Moderna
SumárioSumário
1 Considerações sobre o mundo moderno e o mercantilismo 9
1.1 Introdução à disciplina de História Moderna 9
1.2 Transição do mundo feudal para o capitalista 14
1.3 Mercantilismo 16
2 Renascimento cultural e o humanismo 25
2.1 Renascimento: conceitos e expectativas 26
2.2 Arte e cultura: as formas de representação simbólica no Renascimento 35
2.3 O Barroco de Caravaggio e o protestante 38
3 Reformas religiosas e a nova ordem do Estado moderno 47
3.1 Características da sociedade cristã 48
3.2 Reformas religiosas 50
3.3 O capitalismo e o cristianismo 57
4 As revoluções burguesas nos séculos XVII e XVIII 63
4.1 O absolutismo no Ocidente e teóricos do absolutismo 64
4.2 As revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII 68
4.3 Reordenação agrária 73
História Moderna 7
SumárioSumário
5 As bases do pensamento político moderno e o capitalismo 81
5.1 O Estado moderno e o nascimento do mundo capitalista 82
5.2 Revolução Industrial 85
5.3 A divisão social do trabalho e a experiência e condição operária 89
6 O Estado moderno e a representação política no Ocidente 97
6.1 Personagens do Estado moderno 98
6.2 Sociedade camponesa no Antigo Regime 102
6.3 A economia moral da multidão 105
7 O Iluminismo francês e a ideia de progresso 111
7.1 O Iluminismo francês e alemão 112
7.2 A ciência moderna 117
7.3 O individualismo burguês e as transformações do século XVIII 119
8 O florescer de uma nova política no século XVIII 125
8.1 Revolução Francesa e a ideia de igualdade 126
8.2 Nações e imperialismo 131
8.3 Uso de conceitos da História Moderna em sala de aula 134
História Moderna 9
1
Considerações sobre 
o mundo moderno e o 
mercantilismo
Neste primeiro capítulo veremos os princípios da disciplina de História Moderna, 
buscando perceber suas principais discussões políticas, econômicas, sociais e cultu-
rais, a fim de compreender como o período entre o século XV e o século XVIII foi um 
tempo de transição e de grandes mudanças no mundo ocidental.
1.1 Introdução à disciplina de História Moderna
A modernidade e o período ou mundo moderno (ocidental) são ideias que se cru-
zam e, por vezes, também são confundidas como sinônimos para compreender esse 
período histórico tão rico de descobrimentos, inovações e de novas relações sociais e 
culturais. A modernidade diz respeito às mudanças de pensamento ligadas à política, 
à cultura e a todos os setores de uma sociedade, ocorridas entre os séculos XV a XVIII. 
Período Moderno, História Moderna, Mundo Moderno e Idade Moderna são termos que se 
referem ao tempo entre 1453 (Queda de Constantinopla) a 1789 (Revolução Francesa).
Considerações sobre o mundo moderno e o mercantilismo1
História Moderna10
Essas transformações alteraram a concepção de tempo e de vivência no mundo oci-
dental. A disciplina de História Moderna, por sua vez, trabalha com um tempo cronológico 
(século XV ao XVIII) e busca discutir sobre as mudanças sociais, políticas, econômicas e cul-
turais verificadas naquele período. Objetiva, ainda, perceber como o período moderno pode 
ser analisado como uma passagem entre o Medieval e o Contemporâneo.
Desse modo, o tempo do mundo moderno pode ser resumido de maneira rápida em 
uma palavra: transição. Um movimento, uma mudança – nem sempre consciente – de novos 
comportamentos sociais e culturais, mas ainda de novas perspectivas políticas e econômicas. 
De um cristianismo que influenciava a maior parte das instituições e organizações sociais, 
políticas e econômicas do Ocidente, caminhamos para novas ideias religiosas e performan-
ces culturais cuja cultura popular foi um dos destaques. De lançamento de grandes barcos a 
livros impressos da Biblioteca Azul1;de uma guilda medieval a um mundo a vapor em que 
camponeses foram transformados em operários, muitas vezes acelerando a urbanização – e 
com preocupações sanitárias – além do que as cidades poderiam suportar. Processo esse 
necessário tanto pelas mudanças econômicas, quanto pela sobrevivência, considerando a 
devastação sentida pela Europa no século XIV com a Peste Negra (Figura 1).
Figura 1 – Obra simbolizando diversas mortes durante a epidemia de peste negra no século XIV.
Fonte: BoukeAtema/iStockphoto.
O que apontamos aqui são grandes acontecimentos que diferenciam o período moder-
no em relação ao período medieval, entretanto, não deixam de ter relação entre si. No caso 
1 A expressão Biblioteca Azul refere-se a um conjunto de livros publicados com material mais rústico, e, 
apesar do nome, nem sempre de capa azul. As histórias eram variadas e mais populares e, apesar de se 
destinarem principalmente a camponeses, também chegaram aos núcleos urbanos (CHARTIER, 2004).
Considerações sobre o mundo moderno e o mercantilismo
História Moderna
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da Peste Negra, o extermínio de boa parte da população permitiu que estudos sobre o corpo 
humano – e doenças – aumentassem de forma lenta a partir do século XVI.
Os historiadores Francisco José Calazans Falcon e Antônio Edmilson Rodrigues (2000) 
fazem a seguinte afirmação sobre as mudanças políticas e econômicas durante o período mo-
derno: “[...] atingiram praticamente todos os níveis da existência social dos povos europeus 
em geral e, em especial, os habitantes das regiões centro-ocidentais da Europa” (FALCON; 
RODRIGUES, 2000, p. 23). Mas, não obstante, essas mudanças apenas se acentuaram com o 
deslocamento de interesses econômicos e políticos da Ásia para a América, especialmente 
com o mercado e o comércio ultramarino do Atlântico.
No que diz respeito à diferença entre as expressões de Idade Moderna e Modernidade há 
ainda uma relação com os acontecimentos entre os dois períodos que se seguem. A primei-
ra diz respeito a uma divisão de tempo cronológico tradicional da própria história como 
disciplina, isto é, os chamados: Idade Antiga, Idade Medieval, Idade Moderna e Idade 
Contemporânea. Essa divisão é decorrente da historiografia francesa e organizada entre o 
fim do século XIX e o início do XX, período em que a História precisou demarcar seus obje-
tos, problemáticas, temas e metodologias a fim de ser considerada uma ciência. Essas con-
dições foram reafirmadas pelo historiador Jean Chesneaux: “O quadripartismo tem como 
resultado privilegiar o papel do Ocidente na história do mundo e reduzir quantitativa e 
qualitativamente o lugar dos povos não europeus na evolução universal” (CHESNEAUX, 
1995, p. 95).
Obviamente, a divisão é bastante discutida e objeto de muita polêmica, visto que as 
relações entre os períodos, mantendo muitas continuidades e sem rupturas tão bruscas, são 
vastas. O historiador holandês Johan Huizinga sugere tal ideia da seguinte forma:
É-nos difícil imaginar que o espírito pudesse cultivar as antigas formas de pen-
samento e de expressão medievais e aspirar ao mesmo tempo à visão antiga da 
razão e da beleza. Mas é assim mesmo que temos de conceber o que se passou. 
O classicismo não apareceu por súbita revelação; cresceu entre a vegetação luxu-
riante do pensamento medieval. Antes de ser uma inspiração o humanismo foi 
uma forma. E, por outro lado, os modos característicos do pensamento da Idade 
Média persistem por muito tempo durante o Renascimento. (HUIZINGA, 1924, 
p. 327)
O historiador torna evidente a ideia de continuidade ao afirmar que nada surgiu por 
súbita revelação, assim como preceitos medievais persistem nos séculos seguintes. Deste 
modo, as diferenças seriam apenas acontecimentos macros ocorridos nos tempos de que 
cada um, alguns deles representados em imagens logo na introdução do capítulo, porém, de 
forma alguma, para aqueles que viveram tal período, foram tão evidentes como divisores 
do tempo histórico daqueles sujeitos sociais. Nesse sentido, considerando as palavras do 
historiador holandês, é possível encontrar elementos de um mundo moderno no medieval, 
como também é possível perceber características medievais na Dinamarca do século XIX, 
visto que esse país foi um dos últimos a permitir a entrada de ideais iluministas, sobre os 
quais falaremos no Capítulo 7.
Considerações sobre o mundo moderno e o mercantilismo1
História Moderna12
Outro aspecto importante seria a própria formação dos Estados Modernos, cujo objeti-
vo central era dar uma nova organização política. O sociólogo Zygmunt Bauman afirma o 
seguinte sobre uma característica da modernidade: “Certas entidades podem ser incluídas 
numa classe – tornar-se uma classe – apenas na medida em que outras entidades são excluí-
das, deixadas de fora” (BAUMAN, 1999, p. 11). Ou seja, para que houvesse uma nova ordem 
– política – todos que estivessem abaixo deveriam ser reorganizados. Porém, tal perspectiva 
apenas conseguiu se tornar mais comum, ou mesmo dominante, no fim do século XIX e, 
em especial, no XX. A nova ordem seria a burguesa, com direitos políticos e, na maior parte 
dos países, com o uso da política republicana. Tal perspectiva precisou minar as forças do 
Antigo Regime aos poucos e dos próprios reis absolutistas, um processo iniciado ainda an-
tes do século XIV cujo ápice foi a Revolução Francesa em 1789, século XVIII.
Portanto, os acontecimentos mencionados e intitulados de macros, como a Tomada 
de Constantinopla (1453), a Revolução de Gutemberg (Figura 2) em 1492, as Grandes 
Navegações, por Cristóvão Colombo (Figura 3) também em 1492, ou mesmo a Reforma 
(1517) e/ou a Contrarreforma, entre tantos, ocasionaram diferentes perspectivas sociais, 
políticas, econômicas e culturais, ao mesmo tempo em que ideias políticas estavam se for-
mando. Essa conjuntura proporcionou premissas básicas para que conflitos, negociações 
e formas novas de disputas surgissem e se tornassem mais complexas no decorrer dos 
séculos seguintes.
Figura 2 – Estátua de Johannes Gutemberg, o símbolo da Revolução da Imprensa, em Frankfurt.
Fonte: Meinzahn/iStockphoto. 
 Premissa...
ponto ou ideia de que se parte para armar um raciocínio.
Considerações sobre o mundo moderno e o mercantilismo
História Moderna
1
13
Figura 3 – Estátua de Cristóvão Colombo, em Gênova, Itália.
Fonte: FooTToo/iStockphoto.
Sobre isso, Falcon e Rodrigues apontam o período moderno como um tempo em que 
o mundo se envolveu em um processo de modernização, ou seja, diversos acontecimentos, 
em especial o de transição entre o feudalismo e o capitalismo, ocorreram paulatinamente 
fazendo com que diversas regiões anteriormente feudais, aos poucos dessem lugar a uma 
política absolutista e, mais tarde, burguesa (FALCON; RODRIGUES, 2000). Esta última teria 
justamente na Revolução Francesa, seu maior marco, visto que a França era considerada um 
dos últimos países ainda com características feudais e quando sua monarquia foi substituída 
nos anos de 1790 pelos interesses burgueses (República), um novo tempo teria se iniciado, 
o período contemporâneo.
Dessa forma, um dos elementos que mais representa o que foi o período de formação 
do mundo moderno é justamente a transição do feudalismo para o capitalismo, o qual, por 
sua vez, permitiu diversas transformações sociais, políticas e culturais. Portanto, no que diz 
respeito à modernidade, o filósofo Marshall Berman considera que:
Existe um tipo de experiência vital de tempo e espaço, de si mesmo e dos ou-
tros, das possibilidades e perigos da vida — que é compartilhada por homens 
e mulheres em todo o mundo, hoje. Designarei esse conjunto de experiências 
Considerações sobre o mundo moderno e o mercantilismo1
História Moderna14
como “modernidade”. Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que prome-
te aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das 
coisas em redor — mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudoo que sabemos, tudo o que somos. (BERMAN, 2007, p. 24)
O que compreendemos é a sugestão de uma efemeridade em tudo que diz respeito à vida, 
em todos os âmbitos, contra uma ideia de eterna continuidade e com constantes transforma-
ções – nem sempre perceptíveis, palpáveis, mas sentidas em nossos comportamentos identitá-
rios, em nossa memória e em nossas tradições. O filósofo compreende a ideia de modernidade 
em três fases. A primeira fase teria ocorrido entre os séculos XVI e XVIII, quando se alterou 
a ideia do que é público e a perspectiva de comunidade moderna; na segunda, a sensação de 
mudança foi muito maior a partir do fim do século XVIII, visto que se tratava de mudanças 
nas esferas pessoais, sociais e políticas com um caráter mais revolucionário, cada vez mais 
urbano, e com a ideia de ciência e tecnologia mais comuns, ao mesmo tempo em que a arte, a 
literatura, as escolas e as universidades cresceram de modo expressivo; já na terceira fase, no 
século XX, tal perspectiva chegou a todo o mundo (BERMAN, 2007, p. 25-26).
Para Hannah Arendt, a modernidade deveria trazer a liberdade para aqueles que sem-
pre tiveram que trabalhar,
Mas, isto é assim apenas na aparência. A era moderna trouxe consigo a glori-
ficação teórica do trabalho, e resultou na transformação efetiva de toda socie-
dade em uma sociedade operária. Assim, a realização do desejo, como sucede 
nos contos de fadas, chega num instante em que só pode ser contraproducente. 
A sociedade que está para ser libertada dos grilhões do trabalho é uma sociedade 
de trabalhadores, uma sociedade que já não conhece aquelas outras atividades 
superiores. (ARENDT, 2007, p. 12)
A filósofa sugere a ideia de que o conhecimento ocasionado pelo progresso, assim como 
pelo uso da razão e da ciência do período moderno, modificou a ordem existente, reade-
quando as classes e transformando muitos plebeus em operários2;. Além disso, o período 
trouxe a ideia de trabalho como algo que traz prosperidade e dignidade, como também de 
que tempo é dinheiro, isto é, é possível vendê-lo. Entretanto, embora haja uma reformulação 
dos lugares ocupados por cada classe em um tempo em que a ideia de liberdade também é 
vendida, verifica-se a importância de análise e de consideração dos conflitos e negociações 
vividos nesse contexto.
Na sequência, debatemos sobre os elementos característicos de tal transformação.
1.2 Transição do mundo feudal para o capitalista
Para os historiadores Falcon e Rodrigues (2000), alguns acontecimentos foram marcan-
tes para a mudança de mentalidade e de concepção de vida no contexto entre o mundo 
2 Tema do quinto capítulo. Sobre essa mudança em relação a uma classe de servos/camponeses para 
operários, sugerimos o texto de THOMPSON, Edward Palmer. A formação da classe operária inglesa. Rio 
de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
efemeridade
qualidade do que é efêmero.
Efêmero 
o que passa rapido
Considerações sobre o mundo moderno e o mercantilismo
História Moderna
1
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medieval e o moderno. Um deles seriam as grandes navegações e, consequentemente, os 
continentes descobertos nos séculos seguintes. Processo acentuado por inovações como a 
da bússola, da pólvora, o desenvolvimento da cartografia, entre outros; descobertas apenas 
possíveis em um período em que o desenvolvimento de novos conhecimentos e da razão tor-
naram-se mais comuns. Entretanto, não foram apenas esses elementos os responsáveis pelas 
descobertas e, consequentemente, pelas mudanças políticas e sociais. Falcon e Rodrigues 
(2000) apontam a diminuição do comércio do Mediterrâneo, especialmente liderado por 
italianos entre a segunda metade do século XV e o final do XVI, ao passo em que potências 
como a holandesa, a belga e a inglesa passaram a se dedicar ao comércio ultramarino.
Falcon e Rodrigues (2000) afirmam que o século seguinte ao XV ainda viveu diversas 
mudanças e, mesmo assim, não se afirmou de forma consciente como representante de uma 
modernidade. Enfim, a temporalidade das descobertas e a das modificações no campo do 
pensamento não têm o mesmo ritmo. O moderno estava se iniciando, visto que aqueles ho-
mens e mulheres percebiam a diferença do que haviam vivido antes. Porém, a perspectiva 
de que um novo tempo político/social/econômico e cultural estava se iniciando, com novos 
comportamentos, mentalidades e experiências se acentuou, de fato, no século XVII e XVIII, 
com a propagação dos ideais iluministas, como também da Revolução Industrial.
O advento do capitalismo seria um dos maiores responsáveis pelas mudanças do perío-
do moderno, em especial, por considerar que, a partir do século XVI, um novo sistema mun-
dial passou a ser forjado com as perspectivas capitalistas, em que todo o comércio mundial 
ocidental e os modos de produção passaram a ser definidos por objetivos finais de lucro. 
Os Estados modernos, com essa influência, passaram a organizar novos modos de produ-
ção, como escravidão, servidão, encomienda, parceria, arrendamento e o assalariamento e, 
longe de determinar uma sociedade apenas por seus aspectos econômicos, todas essas ma-
neiras de trabalho ocasionaram transformações sociais e culturais, ao mesmo tempo em que 
eram fortalecidas pelas próprias tradições e costumes, como a cultura popular.
Alterações estruturais que sucederam aos poucos e não de forma homogênea, assim 
como o mercantilismo (tema que veremos na sequência) também alterou o modo como o 
mundo ocidental estava organizado, visto que uniu em relações culturais, sociais e econô-
micas partes geográficas até então desconhecidas entre si.
1.2.1 Fontes para o fazer historiográfico 
do período moderno
Entre tantas pinturas renascentistas, escritos iluministas (de Voltaire, Rousseau, 
Montesquieu, Diderot), ainda existem as fontes manuscritas e copiadas, em muitos casos, 
pelas organizações diversas da Igreja católica. Fontes que permitem compreensões sobre 
as relações entre o período clássico, medieval e moderno, mesmo que esta seja uma divi-
são do século XIX, buscando perceber as expectativas comuns aos homens e às mulheres 
daqueles contextos.
Considerações sobre o mundo moderno e o mercantilismo1
História Moderna16
O historiador inglês Peter Burke, em seu livro Cultura popular na Idade Moderna, lan-
çado em 1978 e reeditado diversas vezes, ao debater sobre o conceito de cultura popular 
(tema do quinto capítulo), destaca o estudo de santuários, relíquias e votos, porém há 
ausência de estudos sobre sexo, casamento e a vida familiar (BURKE, 1989). Obviamente 
é preciso considerar o período de quase 30 anos de lançamento da segunda versão, po-
rém, o livro de Peter Burke continua sendo uma referência no que diz respeito ao tema 
proposto. Portanto, afirma-se que as fontes trazidas em qualquer estudo historiográfico 
sempre permitem uma nova interpretação, talvez com as mesmas indagações, mas, com 
respostas diversas devido às mudanças sociais e culturais daqueles que escrevem e fazem 
a historiografia.
O mesmo autor, ao debater sobre a diferença entre sociedade e cultura no período 
moderno, salienta a importância das práticas funerárias, do consumo de alimentos, da 
organização do espaço (de casa, do trabalho, da rua), como podemos perceber na se-
guinte citação:
O consumo conspícuo de alimentos e roupas “funcionava como um veículo da 
autoconsciência plebeia” no século XVIII. O trabalho recente de arqueólogos e 
antropólogos ilustrou os diferentes modos pelos quais o estudo da “vida social 
das coisas” pode revelar os valores de indivíduos, grupos e sociedade inteiras. 
No caso da América do Norte de meados do século XVIII, por exemplo, argu-
mentou-se que as mudanças nas práticas funerárias, no modo de consumo dos 
alimentos e na organização do espaço vital sugerem todas uma mudança em 
valores que pode ser descrita como o nascimento do individualismo e da priva-
cidade. (BURKE, 1989, p. 22-23)
Tal citação deixa evidente a ideia de que as transformações sociais ocasionadas pelo 
mundo moderno também proporcionaram alteraçõesnos modos de vida, incluindo uma 
perspectiva de individualidade e de privacidade – ideias bastante desenvolvidas e percebi-
das em fontes do XIX. De modo evidente, as fontes sempre devem ser analisadas de forma 
crítica, em confronto com outras, visto que muitas delas podem ter uma visão unilateral 
sobre um ou outro ponto de vista. É tarefa da historiografia expor diferentes possibilidade 
de análise de versões sobre um mesmo acontecimento.
1.3 Mercantilismo
Quando a rota da seda para o Oriente começou a ser limitada devido aos interesses de 
turcos e outros orientais, europeus passaram a procurar novos caminhos. Além disso, a tec-
nologia do período havia inovado com alguns artefatos, o que possibilitava se distanciarem 
mais das margens mais seguras do Mediterrâneo, às quais estavam habituados. O mapa a 
seguir revela o que o século XVI trouxe aos mercadores, capitães, oportunistas, marinheiros 
e piratas, um mundo a desbravar e a dominar.
Considerações sobre o mundo moderno e o mercantilismo
História Moderna
1
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Figura 4 – Munster, Sebastian. Typus orbis universalis. 1552. Mapa, 26 x 38 cm. Biblioteca Digital 
Luso-Brasileira.
O mapa ainda afirma à historiografia que o mercantilismo não pode ser dissociado das 
milhares de navegações ocorridas nos séculos do período moderno. Isso se deve pelo fato 
de as colônias, além de proporcionarem o acúmulo de metais, também gerarem mão de 
obra barata ou de graça, matéria-prima e mercado consumidor, ainda que mais restrito este 
último. Aliás, as colônias se tornaram o objetivo principal das navegações e de disputa entre 
os países.
O acontecimento motivador, de várias viagens e projetos europeus, foi a tomada de 
Ceuta, no ano de 1415. Isso foi importante porque fundou uma colônia, um entreposto e deu 
domínio aos europeus em um novo território. Ressaltamos ainda que tomar um lugar além 
do espaço anteriormente dominado só foi possível devido à tecnologia do período, como 
podemos observar:
Servindo de ligação, correio e abastecimento nas armadas da Índia, as caravelas 
eram os navios que melhor podiam aproveitar os ventos contrários, ofereciam 
pequeno alvo aos inimigos, eram ligeiras e fáceis de manobrar, adaptando-se 
perfeitamente às viagens de descobrimento, pois ‘demandavam pouco fundo, 
podendo chegar-se bem à terra’, acompanhando com certa facilidade a sinuo-
sidade das costas e sofrendo menos com o entra e sai nas enseadas e costas dos 
rios. (MICELI, 1994, p. 74)
Considerações sobre o mundo moderno e o mercantilismo1
História Moderna18
Portanto, tecnologia, novas rotas, mundos até então desconhecidos e, principalmente, 
seus produtos, fez com que o mercantilismo ganhasse mais do que notoriedade. Passou a ser 
o lema de todos aqueles países que já estavam sofrendo diversas mudanças sociais, políticas 
e econômicas. Estas, no decorrer dos séculos seguintes, formaram o período moderno e as 
alterações no modo de pensar, de ser e de se comportar em todos os aspectos da vida de uma 
sociedade pode ser chamado de modernidade.
No entanto, antes da nobreza e, em especial, da burguesia chegar a níveis altos de acú-
mulo ou mesmo de exploração, a entrada do capitalismo (e do mercantilismo) foi lenta. De 
acordo com o historiador francês Jacques Le Goff (2005), o período medieval era o tempo 
das catedrais, um tempo em que a Igreja condenava o lucro, defendia a eternidade como o 
único objetivo do homem na terra, assim como controlava a razão e o conhecimento de acor-
do com os seus interesses, ou, nas palavras do historiador Georges Duby: “[...] somente os 
servidores de Deus sabiam escrever e ler, e consideravam como seu dever explicar a história, 
de maneira a nela detectar os sinais de Deus” (DUBY, 1999, p. 17).
Por essas razões os homens não deveriam se preocupar com a ideia de progresso prega-
da pelos hereges. Como podemos perceber,
O impulso e a difusão da economia monetária ameaçam os velhos valores cris-
tãos. Um novo sistema econômico está prestes a se formar, o capitalismo, que 
para se desenvolver necessita senão de novas técnicas, ao menosdo uso massivo 
de práticas condenadas desde sempre pela Igreja. Uma luta encarniçada, coti-
diana, assinalada por proibições repetidas, articuladas a valores e mentalidades, 
tem por objetivo a legitimação do lucro lícito que é preciso distinguir da usura 
ilícita. (LE GOFF, 1989, p. 10)
Desse modo, segundo Le Goff, é a partir do século XI que alguns países passam a ver 
em seus cotidianos um tímido renascimento cultural e comercial, cujo destaque para o his-
toriador é a circulação de moedas. Naquele contexto, comerciantes e banqueiros passaram a 
lançar a ideia de que tal objeto não era apenas um artefato para dar prestígio social, porém 
também poderia ser usado para fazer trocas, ou seja, representava um possível aumento da 
prática do comércio. Este, além de não ser tão aceito pela Igreja e pela nobreza no início, foi 
muitas vezes confundido com o trabalho dos usurários, aqueles que emprestam dinheiro e 
ganham juros com base no empréstimo. Tal equívoco é possível perceber na citação de Le 
Goff, uma postura confirmada também no seguinte trecho: “De todos os mercadores, o mais 
maldito é o usurário, pois este vende uma coisa dada por Deus, não adquirida pelos homens 
(ao contrário do mercador) e, após a usura, retoma a coisa, juntamente com o bem alheio, o 
que não faz o mercador” (LE GOFF, 2005, p. 28-29).
Assim, o tempo, um direito que seria natural, ou mesmo celestial, seria o elemento 
vendido pelo mercador, prática condenada pela Igreja. Essa ideia faz parte da usura, ou 
seja, o empréstimo ou renda sobre algo ou o trabalho de alguém. Além disso, mercadores 
e burgueses, os que mais realizavam essa prática, não enviavam partes significativas de 
seus ganhos à Igreja católica. Apesar das relutâncias, alguns acontecimentos como a peste 
negra, a crise agrária (em que a fertilidade da terra passou a ser questionada), as Cruzadas, 
o monopólio italiano e depois o domínio turco do Mediterrâneo e a Guerra dos Cem Anos, 
Considerações sobre o mundo moderno e o mercantilismo
História Moderna
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cujo desgaste gerou questionamentos da população, deram ao mesmo contexto iniciativas e 
ideias sobre possíveis inovações. Ações como buscar outros territórios e alternativas de rotas 
marítimas foram estimulados.
De acordo com Falcon e Rodrigues (2009), existem (três) características importantes so-
bre o mercantilismo no que diz respeito às mudanças estruturais. A primeira seria a relação 
do seu desenvolvimento concomitante ao período do fim do feudalismo; seu exercício oca-
sionou um processo de ramificações e conexões unindo partes distantes envoltas ao Oceano 
Atlântico, além de, um dos aspectos mais importantes, a acumulação de metais preciosos 
para a promoção da primeira fase da Revolução Industrial. Nesse contexto, o Brasil Colônia 
também foi envolvido e de forma sucinta o próximo subtítulo trata-se sobre isso.
1.3.1 Brasil Colônia
O comércio ultramarino colocou o Brasil Colônia dentro das rotas como um território 
exportador de matérias-primas e receptor de mão de obra escrava. O historiador Antônio 
Carlos Jucá de Sampaio (2010), ao analisar contratos de arrematação da dízima da alfânde-
ga, percebe que o movimento das regiões auríferas a partir do século XVIII era proporcional 
a um mercado interno, isto é, havia comércio para além de mandioca, ouro, escravos e ou-
tros itens básicos.
Tal perspectiva é reafirmada por João Fragoso e Manoel Florentino, historiadores do 
Brasil Colônia/Império, os quais são lembrados por Jucá no que se refere a sua ideia de 
homens de negócio ou de grosso trato (expressão de João Fragoso), aqueles portugueses radica-
dos ou até mesmo nascidos no Brasil Colônia que formavam a elite brasileira, em especial 
fluminense (devido à proximidade com Minas Gerais e o Centro Sul), comprando produtos 
vindos da África, da Bahia (tabaco) da Cisplatina (couro e prata) e da Europa e revendiam 
a terceiros no Brasil. Essa rede se dava pormeio de crédito, fortalecendo uma rede de endi-
vidamento, financiada muitas vezes por Associações com sede em Lisboa e com seus repre-
sentantes em cada um dos lugares mencionados.
Tanto o tráfico de escravos quanto o envio de matérias-primas do Brasil – e da América 
Latina – permitiram o crescimento econômico e as mudanças políticas em território euro-
peu. Entretanto, se se considera as ideias do historiador Antônio Jucá Sampaio podemos 
afirmar que o Brasil Colônia, apesar do regime escravista e dos efeitos também de latifún-
dios, obteve a partir do século XVII alguns benefícios do comércio ultramarino liderado pela 
burguesia europeia.
Conclusão
No decorrer dos capítulos deste livro, muitos temas aqui mencionados voltarão a ser 
debatidos sob outros ângulos. Até a discussão realizada objetivamos analisar o período mo-
derno como um momento de transição do feudalismo ao capitalismo – e ao mercantilismo 
– ao mesmo tempo em que rumava à modernidade. Esse contexto proporcionou e gerou 
Considerações sobre o mundo moderno e o mercantilismo1
História Moderna20
aspectos econômicos determinados e determinantes de características culturais e de diver-
sos conflitos sociais que analisaremos nos capítulos seguintes. Conforme afirmamos logo 
no início, longe de uma postura marxista tradicional, mesmo que o contexto econômico seja 
extremamente marcante desse período até ao século XXI, questões culturais foram intensas 
e imprescindíveis para compreender o período moderno como um todo. Desse modo, con-
sideramos importantes as questões econômicas, entretanto, práticas culturais também são 
imprescindíveis para a compreensão das mudanças da Modernidade até o presente século.
 Ampliando seus conhecimentos
Alguns sentimentos do que aguardava os desbravadores do período moderno 
pode ser percebido no texto a seguir, em que o pesquisador Vinícius Silva de 
Souza faz algumas reflexões acerca do pensamento da filósofa Hannah Arendt. 
Segundo ela, existem alguns acontecimentos centrais que mudaram a perspec-
tiva de tempo, sociedade e cultura.
O início da era moderna: reflexões 
arendtianas
(SOUZA, 2006, p. 1-2)
[...]
O marco da Modernidade para Hannah Arendt está em três acontecimen-
tos decisivos na formação desse período, que inauguram o novo tempo. 
São eles: a descoberta da América, a reforma protestante e a invenção do 
telescópio. Esses eventos estão ligados aos respectivos nomes: grandes 
navegadores, Martin Lutero e Galileu Galilei. A descoberta de um novo 
continente e a ameaça da tranquilidade religiosa pela reforma demons-
tram dois acontecimentos fortemente espetaculares perante uma discreta 
invenção de um telescópio para ver as estrelas. No entanto, esse simples 
instrumento passaria a ser o primeiro aparato puramente científico que 
causaria um grande impacto para a modernidade: o de tornar viável a 
expansão dos limites territoriais para além de uma Terra habitada.
A Terra, através das grandes navegações, tornou-se pequena e conhe-
cida como a palma da mão numa velocidade que eliminou a importân-
cia da distância e, com a melhoria dos meios de locomoção, possibilitou 
uma compreensão do homem como pertencente de um todo terreno. 
O aprimoramento do conhecimento geográfico trouxe como conse-
quência imediata o sentimento de distanciamento do homem com a 
Terra, ou seja, separado de seu ambiente terreno, o homem tem um 
Considerações sobre o mundo moderno e o mercantilismo
História Moderna
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preço a pagar. Dá-se aquilo que Hannah Arendt entende como a alie-
nação do homem com o mundo.
A alienação é compreendida aqui como um afastamento, sentido que tem 
origem na palavra Entfremdung que exprime a ideia de algo que está 
separado de outra coisa ou que é estranho a essa coisa, como por exem-
plo, o rompimento de mim na medida em que não posso compreender 
ou aceitar a mim mesmo, ou o não reconhecimento do pensamento em 
relação à realidade.
A alienação é fundamental para compreender a Era Moderna. Essa 
afirmação se justifica em virtude da natureza secular da alienação, que 
não se confunde com a mundanidade, a qual diz respeito ao enfático 
interesse das coisas do mundo ou a uma perda de fé. Esta seculari-
zação vincula-se à atitude dos antigos cristãos, a qual é demonstrada 
nos escritos bíblicos, “dar a César o que é de César e a Deus o que é de 
Deus”, tendo aqui uma separação entre Igreja e Estado, entre Religião 
e Política. A história moderna apresenta um homem voltado para den-
tro de si mesmo, inaugurando a alienação como forma de se relacionar 
com o mundo, ressalta Arendt.
[...]
 Atividades
1. Logo no início do capítulo é debatida a diferença entre a ideia de modernidade e o 
período moderno. Faça um texto argumentando sobre tal perspectiva, ao mesmo 
tempo exponha as consequências disso para a nossa visão sobre o período moderno.
2. Elabore um texto elencando as principais transformações do período moderno, con-
siderando ainda as mudanças sociais e culturais sobre a vida de homens e mulheres. 
Para tanto, utilize o texto da seção “Ampliando seus conhecimentos”.
3. Comente sobre a importância do comércio ultramarino no Atlântico e em que essa 
perspectiva é importante para o período moderno europeu e para o Brasil Colônia.
4. O capítulo traz algumas possibilidades de fontes sobre os temas propostos do pe-
ríodo moderno. Mencione quais seriam e quais os cuidados que devemos ter como 
historiadores(as) para questioná-los.
Considerações sobre o mundo moderno e o mercantilismo1
História Moderna22
 Referências
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THOMPSON, Edward Palmer. A formação da classe operária inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 
1987.
 Resolução
1. Nesse exercício o objetivo central é diferenciar o período moderno da ideia de mo-
dernidade. Ambos são bastante diferentes, mas têm uma relação recíproca, ou seja, 
o período moderno diz respeito à divisão do tempo cronológico utilizada pela his-
toriografia a partir do século XIX. É uma metodologia para poderanalisar aconteci-
mentos importantes (Grandes Navegações, Mercantilismo, Peste Negra, Tomada do 
Império Romano do Oriente, entre outros). A modernidade é o sentimento, as conse-
quências que esses acontecimentos causaram na medida em que os séculos seguintes 
passaram, alterando os comportamentos sociais, econômicos, políticos e culturais. 
A segunda parte da pergunta está relacionada com essas mudanças, como a forma-
ção dos Estados modernos, a crise do sistema absolutista, entre outros.
Considerações sobre o mundo moderno e o mercantilismo
História Moderna
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2. Nesse tópico a resposta deve se concentrar nas mudanças culturais e sociais que 
podem ser percebidas no período. O texto sobre Hannah Arendt é fundamental para 
perceber como a concepção de vida e de tempo é transformada. As três mudanças 
mais essenciais são: a descoberta da América, a Reforma Protestante e a invenção 
do telescópio. Com a primeira, o limite territorial foi ampliado, assim como com a 
terceira, que permitiu que se visse muito além da própria Terra, ou seja, indivíduos 
passaram a se perceber como pertencentes à Terra. Tal perspectiva leva à ideia de alie-
nação de Arendt, em que o homem se sente afastado de seu espaço, um mundo se-
cularizado, moderno. Esse princípio é aprimorado pela Reforma, em que nada per-
tence às pessoas, mas a Deus, cujos escolhidos poderiam ter o trabalho daqueles que 
não tinham nada, os que sofreram o êxodo rural no processo capitalista industrial.
3. O comércio ultramarino foi importante na medida em que abriu possibilidades de 
conhecer e dominar novos territórios. Tais descobertas alteraram tanto a economia 
europeia quanto permitiram que o capitalismo se transformasse no principal meio 
econômico mundial no decorrer dos séculos seguintes. De maneira evidente, os pa-
noramas social e cultural também foi alterado. Quanto ao Brasil Colônia, é possível 
perceber que ele serviu de fornecedor de matérias-primas, mão de obra escrava, as-
sim como o próprio tráfico dela fez com que países europeus acumulassem moeda, 
ocasionando uma balança comercial favorável.
4. Pinturas, imagens e documentos da Grécia Clássica copiados por monges no período 
medieval, mapas e práticas sociais e culturais que colaboram no entendimento da 
vivência daquele período. Em relação às fontes copiadas no período medieval, lem-
bramos que é preciso considerar que os interesses da Igreja católica atravessavam o 
processo de cópia, ou seja, aquilo que deveria ou não permanecer, o que não quer 
dizer que todos os documentos sejam parciais ou foram manipulados. Os mapas, as 
pinturas e também os documentos produzidos no e sobre o período também carre-
gam os interesses daqueles que os produziram.
História Moderna 25
2
Renascimento cultural e o 
humanismo
Foram muitas as ideias que fervilharam as imaginações de tantos cientistas, pin-
tores e intelectuais da Europa, em especial, da Península Itálica a partir do século XV. 
Neste capítulo, nosso objetivo é trazer algumas delas, a fim de compreender de que 
modo o período moderno foi um contexto propício para o desenvolvimento das ciên-
cias e de um olhar mais profundo sobre o ser humano. Uma delas seria a centralidade 
tomada pelo estudo sobre o indivíduo, não apenas o homem/mulher da família, do 
burgo ou feudo, da Igreja ou da oficina, mas uma perspectiva de individualismo, de 
conhecimento científico sobre si e a natureza.
Renascimento cultural e o humanismo2
História Moderna26
2.1 Renascimento: conceitos e expectativas
Figura 1 – MICHELANGELO. A criação de Adão. 1511. Afresco, 480,1 x 230,1 cm. Capela Sistina, 
Vaticano.
A pintura é um dos quadros da trilogia: a criação de Adão, de Eva e da perdição desses 
dois e, certamente, um dos maiores símbolos do Renascimento italiano. Faz parte de um 
conjunto de pinturas bíblicas que ocupam toda a Capela Sistina. No primeiro quadro, Adão 
parece ter acabado de ser gerado por Deus; no segundo, Eva aparentemente sai da costela 
de Adão e, no terceiro, ambos são expulsos do paraíso. Aparentemente nada se sobressai ao 
que é esperado da própria narrativa bíblica. Mas, se o Renascimento é um processo questio-
nador da teologia e dos dogmas religiosos, por que o renascentista Michelangelo trabalhou 
por tantos anos para retratar passagens bíblicas?
Uma das respostas mais fáceis seria o fato de as imagens estarem na Capela Sistina, 
uma capela que foi propriedade particular dos papas no período moderno e que mantinha 
caminhos internos até a basílica de São Pedro. Além disso, essas pinturas também são enco-
mendas do próprio Vaticano, cuja sede é representante da arquitetura renascentista, o que 
não diminui o brilhantismo de Michelangelo em projetar toda a pintura, porém demonstra 
que eram também artistas contratados.
Entretanto, se olharmos novamente para a pintura veremos um aspecto que marca uma 
diferença para o que seria o esperado de uma narrativa bíblica: a imagem de um cérebro 
que está em volta de Deus. Seria a razão analisando a criação? Seria o conhecimento do 
corpo humano sendo ali exposto? Algo tão proibido e perseguido por séculos pela Igreja 
católica. Uma das possibilidades seria, de acordo com Fritz Baumgart (1999), a de que o 
Renascimento trouxe uma arte ainda inspirada pela fé, mas permeada pela razão. As respos-
tas sobre uma análise tão criteriosa cabem a um especialista em arte, porém, o que trazemos 
Renascimento cultural e o humanismo
História Moderna
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27
para esse capítulo é justamente a relação de um conhecimento terreno e aquele que seria o 
bíblico, assim como a ideia de um Renascimento que deixa para trás todo o contexto medie-
val e aponta o novo, o moderno.
A pergunta nesse caso é: se algo renasce, outro deixa de existir? Eis a questão para se 
pensar o lugar que o Renascimento deveria ocupar na historiografia. Um tema visto como 
complexo desde o século XIX e que tem levantado questões a fim de perceber o que ele 
representa para o período moderno. Se o Renascimento for analisado sob o significado da 
palavra renascer, seria como assumir que os princípios vividos no período entre cerca de 
1300 a 1600, já existiram em outro tempo. Este não seria o medieval, mas o greco-clássico, ou 
seja, toda a influência e o pensamento desenvolvidos durante o Renascimento não estariam 
relacionados ao Medieval, mas ao ápice da história de Roma, ainda na Antiguidade. Nesse 
sentido, o Renascimento, em especial, o italiano, foi caracterizado pelo historiador suíço 
Jacob Burckhardt da seguinte maneira:
[...] o despertar da Antiguidade fez-se na Itália duma maneira muito diferente 
do Norte. Logo que cessa a barbárie na Península, o povo italiano, que é ainda 
meio antigo, vê claro no seu passado. Celebra-o e quer ressuscitá-lo. Em Itália, é 
simultaneamente o mundo e o povo que prestam homenagem à Antiguidade e 
querem fazê-la reviver porque recorda a todos a grandeza passada do seu país. 
(BURCKHARDT, 2013, p. 139)
O que o historiador salienta é a ideia de que havia uma possível consciência ou au-
toafirmação dos italianos, como representantes do modelo greco-clássico, seja pela herança 
cultural romana ou mesmo por estarem tão próximos ao território grego. Para além disso, o 
filósofo Eugênio Garin afirma que
[...] deve porém ter-se presente que aquilo que renasce, que se reafirma, que se 
exalta, não é apenas, nem é sobretudo, o mundo dos valores antigos, clássicos, 
gregos e romanos, a que se regressa progressivamente. O despertar cultural, que 
caracteriza desde o início o Renascimento é sobretudo uma afirmação renovada 
do homem, dos valores humanos nos vários domínios: desde as artes à vida diá-
ria. (GARIN, 1991, p. 9)
O que Garin apresenta é uma ideia de renascimento principalmente em relação ao ho-
mem como um indivíduo que pode ser analisado, pensado e que também pode conhecer 
o mundo que o cerca. Nesse contexto, o historiador da arte Ernst Gombrich cita Filippo 
Brunelleschi como um dos principais arquitetos responsáveis pelo início do Renascimento 
italiano(GOMBRICH, 2013). Ele seria o responsável pela conclusão da Catedral de Florença, 
uma construção gótica. Brunelleschi conseguiu finalizar a catedral utilizando uma nova téc-
nica, em que uma parede dupla com cordas prendia tijolos na diagonal e, após tal inovação 
(nunca mais repetida), reinventou práticas de construção, utilizando colunas e frontões com 
base nas medidas dos prédios antigos de Roma.
Renascimento cultural e o humanismo2
História Moderna28
Figura 2 – Catedral de Santa Maria del Fiori de Florença, construída no fim do século XIV.
Fonte: fisfra/iStockphoto.
A pintura do Juízo Final cobre o diâmetro de 54 metros da cúpula, assim como o re-
curso da perspectiva, também associado ao nome de Brunneleschi. Entretanto, segundo 
Gombrich, a resolução do problema da cúpula não teria sido alcançada se Brunneleschi não 
conhecesse as técnicas góticas (e medievais) de construção de cúpulas (GOMBRICH, 2013).
Nessa perspectiva, o Renascimento Científico (por volta do século XIV ao XVI) também 
ganha complexidade. Bem ao certo, Renascimento é um termo cunhado no século XIX na his-
toriografia, período de lançamento de uma das obras mais famosas sobre tal processo, em 
1860, A Civilização do Renascimento Italiano, do historiador Jacob Burckhardt. Este objetivou 
em partes compreender como o contexto do Renascimento propiciou o seu desenvolvimen-
to, ao mesmo tempo em que acabou por cunhar o conceito. Ainda sobre o processo de o 
Renascimento ter se desenvolvido na Itália, o historiador afirma o seguinte:
[...] na Idade Média, as duas faces da consciência, a face objetiva e a face subjeti-
va, estavam de alguma maneira veladas; a vida intelectual assemelhava-se a um 
meio sonho. O Véu que envolvia os espíritos era tecido de fé e de preconceitos, 
de ignorância e de ilusões; o mundo e a história apareciam com cores bizarras; 
quanto ao homem, apenas se conhecia como raça, povo, partido, corporação, fa-
mília ou sob uma outra forma geral coletiva. Foi a Itália a primeira a rasgar o véu 
Renascimento cultural e o humanismo
História Moderna
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e a dar o sinal para o estudo objetivo do Estado e de todas as coisas do mundo; 
mas, ao lado desta maneira de considerar os objetos, desenvolve-se o aspecto 
subjetivo; o homem torna-se indivíduo espiritual e tem consciência deste novo 
estado [...]. (BURCKHARDT, 2013, p. 106-107)
Dessa forma, o historiador aponta o período medieval como obscuro e sem ideias mais 
subjetivas (uma ideia contrária à de Ernst Gombrich), pois tanto o homem quanto as suas 
práticas sociais e culturais não teriam acrescentado coisa alguma às artes. Como afirma-
do, anteriormente, o indivíduo passa ser o objeto central de debate, compreensão e análise 
durante o Renascimento, em diversos países, porém, de forma especial, primeiramente na 
Itália. O historiador Jacob Burckardt traz a seguinte perspectiva: “A riqueza e a cultura, cuja 
exibição e rivalidade não eram proibidas; uma liberdade municipal considerável; uma Igreja 
que, diferindo daquela do mundo bizantino, ou do mundo maometano, não se identificava 
com o Estado – todas essas condições favoreciam o crescimento do pensamento individual” 
(BURCKHARDT, 1991, p. 82-83).
Características que se diferiam de boa parte da Europa, talvez pelo contato com o 
Oriente, por ser passagem de tantos povos, o que trouxe conhecimentos culturais. Mas, além 
do cosmopolitismo, Burckhardt destaca a distância da Igreja em relação ao Estado e a possi-
bilidade de enriquecimento comercial. No mesmo tom de exaltação, Burckhardt ainda frisa 
a ideia de que a Península Itálica foi o expoente que trouxe uma nova luz sobre um novo 
tempo, uma relação direta do Renascimento com o resultado do espírito histórico das cida-
des italianas. Como afirma o historiador,
[...] a coisa é totalmente diversa quando um povo inteiro ultrapassa outros po-
vos no estudo da natureza, quando aquele que descobre novas verdades não 
tem que recear o silêncio e o esquecimento e pode contar com a simpatia de 
espíritos curiosos como o seu. É verdade que foi o que aconteceu na Itália. 
(BURCKHARDT, 2013, p. 222)
Um povo inteiro teria tido a noção de que vivia um novo tempo e que este era o mo-
derno tão esperado, ou seja, a Itália teria renovado todo um saber de forma homogênea e 
concisa. A despeito de tal ideia, evidentemente, o período medieval demonstrou faces me-
nos toleráveis em relação à produção de conhecimento da natureza e dos próprios homens, 
porém isso não quer dizer que esse período não produziu características sociais e culturais 
que transformaram o seu tempo.
Homogeneidade também não é a palavra que define a Itália entre os séculos XIV a XVI. 
De acordo com o historiador Peter Burke (1999), o que hoje entendemos por Itália, naque-
le período eram apenas cidades-Estados em decadência, recém-dominadas pelo Império 
turco-otomano (em vista do fim do Império Romano do Oriente) e assombradas pela peste 
negra do século XIII. Uma maioria de camponeses era o que compunha a essência da po-
pulação, dos quais poucos tinham acesso à educação ou às correntes artísticas, o que não 
significa que a cultura popular não tinha força, ou mesmo de que não havia possibilidades 
de circularidade cultural (analisada na historiografia pelo historiador Carlo Ginzburg sobre 
Mennochio no Capítulo 6).
Renascimento cultural e o humanismo2
História Moderna30
O problema maior de Jacob Burckhardt para Peter Burke é justamente a relação direta 
estabelecida pelo primeiro entre o Renascimento e uma cultura moderna, ou seja, esta seria 
fruto direto do Renascimento. No século XIX, Burckhardt apontou o Renascimento como 
um eclipse total que, ao seu fim, gerou uma luz radiante sobre toda a Itália e depois sobre 
boa parte da Europa; em outras palavras, um espírito moderno, cujas características seriam: 
o individualismo – o estilo de cada artista (BURKE, 1999) –, a secularidade e o realismo, 
aspectos que finalmente teriam chegado ao velho continente medieval.
Para o historiador inglês, é preciso ver uma continuidade entre o medieval e o perío-
do moderno, perspectiva perceptível no contexto do Renascimento, do mesmo modo como 
Filippo Brunelleschi só conseguiu em um primeiro momento terminar a cúpula da Catedral 
de Florença porque tinha técnicas das construções góticas. Os escritores, os pintores e os 
escultores do Renascimento estavam muitas vezes estimulando ações individuais que, ao 
serem analisadas em conjunto e posteriormente, demonstram transformações daquela so-
ciedade, o que Burke chama de história social do movimento.
Outro motivo para que a Península Itálica cresse que era o berço do Renascimento era 
sua estranheza em relação ao gótico. Países como Alemanha, Inglaterra, França estiveram 
muito mais próximos dessa arte medieval, diferente da Itália que tinha outra realidade so-
cial e cultural.
2.1.1 Humanismo: de ideias a conceito
Humanismo – nomeado dessa forma no século XIX – foi um movimento intelectual 
ocorrido a partir do século XIV, cujas discussões centrais eram a defesa do conhecimento 
acerca dos seres humanos em todos os aspectos. Para o historiador Nicolau Sevcenko, 
o humanismo foi um programa de estudos sobre humanidades, no qual estavam inclu-
sos literatura, filosofia, medicina, história, matemática, direito, entre outros, com objetivo 
central em compreender o ser humano e tudo o que rodeia (SEVCENKO, 1985). O antro-
pocentrismo passa a ser o centro das discussões a despeito de uma perspectiva teológica 
para tudo. Mas, mesmo com essas influências, para Peter Burke, o Renascimento italiano 
não deixa de ter em seu humanismo resquícios profundos – mais do que era percebido na 
época – do período medieval:
A ascensão do humanismo não desbancou a filosofia escolástica medieval 
(apesar das observações depreciativas que os humanistas faziam sobre os 
scholastici). Na verdade, figuras exponenciais no movimento renascentista, 
como o neoplatônico Marsilio Ficino, eram bem lidos, tanto na filosofia medieval 
como na filosofia clássica.Lorenzo de´Medici, governantes da Florença, escreveu 
a Giovanni Bentivoglio, governante de Bolonha, pedindo que procurasse nas li-
vrarias locais uma cópia do comentário de Jean Buridan à Ética de Aristóteles, e 
Leonardo da Vinci estudou a obra de Alberto da Saxônia e de Alberto o Grande. 
(BURKE, 1999, p. 28)
Se o Renascimento na Península Itálica não foi algo vivido de forma homogênea ou 
recorrente em seu contexto, o que foi então o Renascimento italiano? Para Peter Burke foi 
Renascimento cultural e o humanismo
História Moderna
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31
mesmo uma inovação das artes e não um grande florescimento das artes. Ou nas palavras 
do historiador da arte Ernst Gombrich: “uma coisa que realmente não existe é aquilo a que 
se dá o nome de Arte. Existem somente artistas [...]” (GOMBRICH, 1999, p. 16). Artistas ino-
vadores, que lançam ideias que acabam por influenciar outros artistas naquele tempo ou, até 
mesmo, em períodos posteriores. Além disso, a arte pode ser vista como um elemento que 
carrega características estéticas, como também intervenções intelectuais e sociais daqueles 
que a produzem. Um exemplo de inovação, ao mesmo tempo em que carrega elementos de 
influências medievais é Giotto di Bondone (1267-1336). O afresco que verificamos a seguir 
pertence a ele, considerado um dos precursores das técnicas renascentistas de pintura, como 
a perspectiva.
Figura 3 – BONDONE, Gioto di. Lenda de São Francisco – Cena Número 5: Renúncia de Bens 
Materiais. 1927. Afresco, 270 x 230 cm. Igreja de São Francisco de Assis, Itália.
O motivo pelo qual trazemos essa imagem é o fato de haver a presença da “mão de 
Deus” em cima, algo percebido por São Francisco de Assis, que, por sua vez, estende a sua. 
A nudez (ou em partes), embora levemente escondida, também se faz presente. Reiteramos 
que a nudez é associada à pureza, no que se refere aos princípios cristãos do Medievo.
O humanismo pode ser visto como um processo cultural que se iniciou de maneira mais 
velada até se tornar uma corrente mais claramente perceptível. Do século XIV ao XVI, o hu-
manismo se torna uma das bases do pensamento renascentista europeu para compreender a 
alma e a vida de homens e mulheres em todas as suas faces, e isso explica em partes a relação 
da providência com a razão.
Renascimento cultural e o humanismo2
História Moderna32
Francesco Petrarca (1304-1374) é considerado o humanista mais importante da Itália, 
por ter sido o primeiro a ecoar novas ideias, mas por diversas inovações como o estilo do 
soneto, com 14 versos (SEVCENKO, 1985). Os temas, tanto desse humanista, quanto de ou-
tros giravam em torno da Antiguidade, como o tempo ideal. Entretanto, como historiadores 
(as) sempre lembramos que ninguém se sobressai totalmente a seu tempo, o que explica a 
relação de alguns deles com princípios que muitas vezes tentaram negar em outros tempos.
Um dos maiores humanistas foi o inglês Thomas Morus (1478-1535), cujo escrito prin-
cipal foi Utopia1, de 1516, palavra também criada por ele. Thomas Morus era eclesiástico da 
Igreja anglicana, portanto, muito próximo ao Rei Henrique VIII, como também dos pró-
prios preceitos teológicos. Apesar dessas características, Thomas Morus era próximo a di-
versos humanistas na Inglaterra do fim do XV e início do XVI, como o neerlandês Erasmo 
de Roterdã. Este último foi um dos responsáveis por sua aproximação mais profunda com o 
grego – e os textos – o que consequentemente, afastou o latim de seus interesses. Ideia corro-
borada com o teor de seu livro Utopia, cuja base tem um Estado forte e centralizado, com res-
peito às diferenças e que sai em defesa da distribuição de renda. Thomas Morus acaba sendo 
condenado na segunda década do século XVI por não incentivar mais o latim em Oxford, 
disciplina que era justamente o centro de qualquer universidade com traços medievais.
O que percebemos trazendo um pouco da trajetória de Thomas Morus é que a Inglaterra 
demorou para ter mais discussões sobre o humanismo, prática que se deu a partir de inter-
câmbios de intelectuais, mas ao mesmo tempo, mostrou-se conservadora e não sem confli-
tos, como percebemos a seguir:
Voltemo-nos agora para a questão da educação humanista julgada laica. 
Ninguém jamais afirmou que um homem tenha necessidade de grego ou latim, 
ou, na verdade, de qualquer tipo de educação, para encontrar a salvação. No 
entanto, esse ensinamento que se qualifica de secular leva a alma à virtude [...]. 
Eu não desejo de modo algum me colocar como o único defensor da aprendiza-
gem do grego; pois sei quanto deve parecer evidente para os eruditos de Vossa 
Eminência que o grego é bom e verdadeiro. Para aqueles para quem isso não 
seria evidente, digamos que devemos ao grego toda a precisão das artes liberais 
em geral e da teologia em particular, pois os gregos ou fizeram grandes desco-
bertas eles mesmos, ou legaram-nas em herança em seguida. Tome a filosofia, 
por exemplo. Se você deixar de lado Cícero e Sêneca, os Romanos escreveram 
sua filosofia em grego ou traduziram-na do grego. Eu verdadeiramente não te-
nho necessidade de lembrar que o Novo Testamento foi escrito em grego, ou 
que os melhores exegetas do Novo Testamento foram gregos e escreveram em 
grego. [...] ora, mais da metade dos escritos gregos ainda não estão acessíveis ao 
Ocidente. (PHÉLIPPEAU, 2013, p. 165-166)
1 Para o filósofo Paul Ricoeur, o termo utopia inaugurou uma ideia de que é possível pensar, querer, 
sonhar, idealizar algo além do que se vive. Tal ideia permitiu que se pensasse, no mundo moderno, em 
novas práticas sociais e culturais. Dessa forma, fica subentendido que a realidade não era natural ou 
imutável (RICOEUR, 2015, p. 33).
Renascimento cultural e o humanismo
História Moderna
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33
Em um tempo em que temos a facilidade de aprender mais de uma língua e ter acesso a 
ideias políticas e culturais mais diversas, parece-nos estranho a defesa de Morus apenas pelo 
direito de que o grego – e os escritos nessa língua – fossem divulgados. Mas é isso o que esse 
clérigo da Igreja anglicana fez ao expor sua vontade de trazer tais documentos. Muitas das 
ações de Thomas Morus eram de influência da amizade com Erasmo de Roterdã, cujo Elogio 
à loucura, de 1511, seria uma homenagem a Morus. O conteúdo do livro era de sátiras à Igreja 
católica, utilizando a ideia de loucura como despreocupada ou desprendida da realidade.
O holandês foi extremamente ativo no debate da Reforma e também em relação aos 
dogmas de Martinho Lutero, entretanto jamais deixou de lado sua postura humanista em 
detrimento às religiosas. Tanto Erasmo de Roterdã quanto Thomas Morus defenderam a 
dinamização de novos conhecimentos sobre o homem até mesmo criticando suas respec-
tivas igrejas, mas, sempre mantiveram uma fé em relação ao cristianismo. Indício disso foi 
a decapitação de Thomas Morus por ter-se negado a aprovar o casamento do rei Henrique 
VIII com Ana Bolena, a fim de justificar a criação da Igreja anglicana. Portanto, além de 
considerar que Thomas Morus representa um grupo que trouxe ideias gregas clássicas, mas 
que também manteve alguns de seus preceitos de uma forma mais tradicional, considera-
mos mais uma ideia de Peter Burke, segundo o qual o Renascimento – assim como as Letras 
– trouxe não apenas o clássico, mas fez novas leituras do que havia acabado de ocorrer, o 
Medieval (BURKE, 1999).
Os escritos mencionados até esse ponto não teriam sido divulgados ou mesmo reedi-
tados ainda no século XVI se não fosse a invenção da imprensa de Johannes Gutemberg. 
Porém, tal invenção vai além de simples reedições de obras. O período moderno foi marca-
do também por processos históricos como o Renascimento e o Humanismo e, nesse sentido, 
o que foi produzido de novidade não teria alcançado grande reconhecimento nos séculos 
seguintes e se desdobrado em novos acontecimentos, como o Iluminismo, a Reforma e a 
Contrarreforma, se não fosse a divulgação de novos ideais. Peter Burke aponta o seguinte 
sobre Gutemberg:
Os eclesiásticos, por sua vez, temiamque a imprensa estimulasse leigos comuns 
a estudar textos religiosos por conta própria em vez de acatar o que lhes disses-
sem as autoridades. Tinham razão. No século XVI, na Itália por exemplo, sapa-
teiros, tintureiros, pedreiros e donas de casa, todos reivindicavam o direito de in-
terpretar as escrituras [...] Na alta Idade Média o problema fora a escassez, a falta 
de livros. No século XVI o problema era o da superfluidade. Anton Francesco 
Doni, escritor italiano, em 1550 já se queixava da existência de “tantos livros que 
não temos tempo para sequer ler os títulos”. Livros eram uma “floresta” na qual 
os leitores poderiam se perder, segundo Jean Calvin2. (BURKE, 2002)
Se há dúvida sobre a disseminação de ideias parecer uma ameaça, basta lembrar do 
Concílio de Trento (1545-1563), no qual a Igreja católica, na organização da Contrarreforma, 
2 Jean Calvin, mais conhecido na língua portuguesa como João Calvino, foi um dos maiores teólogos 
da Reforma, criando e debatendo a teologia protestante. Mais informações em: GOMES, Antônio Más-
poli de Araújo. O pensamento de João Calvino e a ética protestante de Max Weber, aproximações e 
contrastes. Fides Reformata, São Paulo, v. 7, n. 2, 2002.
Renascimento cultural e o humanismo2
História Moderna34
fez o Index, uma lista de livros proibidos. Peter Burke deixa evidente o estranhamento causa-
do pela possibilidade de ter tantos livros (e conhecimento). A vontade de ler todos como se 
fosse algum tipo de obrigação é perceptível, porém, compreendo que se trata mais de uma 
questão social e cultural diante das novidades vindas do humanismo.
Não obstante, outro problema cercava aqueles que organizavam as bibliotecas ou de-
tinham acesso aos livros. Como organizá-los? Como saber quais livros o público queria e 
como catalogá-los? Não tardaram a saírem os primeiros catálogos e, posteriormente, sumá-
rios, índices em ordem alfabética, resenhas publicadas em revistas e, finalmente, as enciclo-
pédias – estas últimas, apenas cem ou duzentos anos depois (BURKE, 2002). Era um mundo 
novo sendo descoberto – o mundo dos livros –, causando seus conflitos, como fica evidente 
na leitura de Burke:
Os eclesiásticos temiam que a imprensa estimulasse leigos comuns a estudar 
textos religiosos por conta própria em vez de acatar o que lhes dissessem as 
autoridades. Tinham razão. No século XVI, na Itália por exemplo, sapateiros, 
tintureiros, pedreiros e donas-de-casa, todos reivindicavam o direito de inter-
pretar as escrituras [...]. Os estudiosos, ou mais genericamente os que buscassem 
o conhecimento, também enfrentavam problemas. Observemos deste ponto de 
vista a assim-chamada “explosão” da informação - uma metáfora desconfortável 
que faz lembrar a pólvora - subsequente à invenção da imprensa. A informação 
se alastrou “em quantidades nunca vistas e numa velocidade inaudita”. Alguns 
estudiosos logo notaram as desvantagens do novo sistema. O astrônomo huma-
nista Johann Regiomontanus observou, por volta de 1464, que os tipógrafos ne-
gligentes multiplicariam os erros. Outro humanista, Niccolò Perotti, propôs em 
1470 um projeto defendendo a censura erudita. (BURKE, 2002, p.174)
O que se percebe é que ler e ter conhecimento mostrava-se também como um perigo às 
instituições do fim do medieval e início do período moderno. Um exemplo claro é a Igreja 
afirmar o receio sentido em ver seus fiéis podendo fazer as próprias interpretações bíblicas, 
ou mesmo a complexa ideia de um humanista em afirmar a possibilidade de selecionar o 
que poderia ou não ser lido pelo público em geral, o que não é nada além de uma censura. 
Obviamente, todo tipo de estranhamento, de receio e até mesmo de disputa é comum em 
situações novas, especialmente quando os poderes institucionais mais importantes de uma 
sociedade podem ser questionados dentro das relações de poder.
Nesse sentido, apontamos o porquê de fazer essa discussão sobre as consequências 
do humanismo em tempos de Renascimento. Essas mudanças foram graduais, isoladas 
e, em algumas cidades, mais intensas. Entretanto, o que se segue nos séculos seguintes é 
a mudança da mentalidade de um público que antes não contestava, por não ter direito 
de o fazer, e que, por meio de leituras, de novos conhecimentos e organizações, passa 
a subverter a organização social em que estava amparado e promove revoluções (como 
são as vividas na Inglaterra e na França). Sobre isso, Peter Burke traz a seguinte ideia: 
“Todavia, a comercialização deu um grande passo para a frente no século XVIII, partici-
pando do surgimento da ‘sociedade de consumo’ na Inglaterra, na França, na Alemanha 
e em outros países por volta de 1750” (BURKE, 2002, p. 179). Como será analisada em 
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História Moderna
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outras disciplinas, a sociedade do século XIX na França produziu grandes criações li-
terárias, influenciando a política, a arte e a cultura daquele período, tendo por base as 
mudanças paulatinas na história do período moderno.
Reiteramos que o humanismo não se deu com o mesmo fôlego e intensidade pela 
Europa. Foram apropriações, debates, intercâmbios que, ao longo do tempo, formaram o 
que chamamos hoje de humanismo. O historiador Sevcenko afirma o seguinte sobre isso: “É 
inútil querer procurar uma diretriz única no humanismo ou mesmo em todo o movimento 
renascentista: a diversidade é o que conta” (SEVCENKO, 1985, p. 23). O intuito de trazer 
ideias de Thomas Morus, Erasmo de Roterdã e Johannes Gutemberg (mesmo que poucas) 
é compreender a importância da atuação de um ou outro, mesmo que de forma isolada em 
uma noção de espaço-tempo.
Com base nas considerações feitas sobre a importância do Renascimento e do 
Humanismo para a História Moderna, o próximo item tem como objetivo trazer ideias sobre 
obras e a história do Renascimento.
2.2 Arte e cultura: as formas de 
representação simbólica no Renascimento
2.2.1 Renascimento italiano
Por que Península Itálica? O local era o ponto de encontro de mercadores para o Oriente. 
Ali se desenvolveram bancos ao longo dos anos, que movimentavam empréstimos, geravam 
juros e junto aos lucros das navegações, proporcionavam mais lucros. Duas famílias impor-
tantes e representantes desse período são os Médici e os Visconti; os primeiros formaram o 
maior acervo de obras encomendadas por grandes nomes, como Giotto e Boticelli.
Nesse mesmo tempo, é diferente se pensarmos em boa parte do restante da Europa dos 
séculos XIV e XV. Muitos ainda não eram Estados Nações, como a Península Itálica, ou, se 
eram, não tinham centralidade política, organizando sua sociedade muitas vezes por meio 
de feudos e pequenas vilas. De forma alguma isso significa que a Itália era moderna e o res-
tante, atrasado (BURKE, 1999).
Nesse sentido, é importante considerar que as artes foram inovadas de diferentes for-
mas e com interesses diversos. Em geral tinham em comum o corpo humano exposto na-
turalmente, tanto no que se refere ao tamanho no caso das esculturas e bustos, quanto no 
modo como eram pintados. Simetria, proporção, equilíbrio, realidade eram objetivos das 
esculturas. A ideia de movimento também é comum a muitas delas. No caso das pinturas, 
houve o uso da perspectiva como técnica e a tinta a óleo, tornando a pintura mais realis-
ta. A imagem a seguir (Figura 4) é uma pintura românica considerada uma representan-
te do período medieval, enquanto a segunda (Figura 5) está entre os maiores símbolos do 
Renascimento italiano.
Renascimento cultural e o humanismo2
História Moderna36
Figura 4 – Anunciación a los pastores. ca. 1180. Panteón de los Reyes, Colegiata de San Isidro, León.
Figura 5 – BOTICELLI, Sandro. A Primavera. 1492. Têmpera, 203 x 314 cm. Uffizi Gallery, Itália.
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História Moderna
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As imagens demonstram, em especial, a diferença de sombras e de perspectiva. 
A primeira dá a impressão de que todas as pessoas e animais parecem estar no mesmo 
ângulo; já na segunda, é possível visualizar o lugar que cada um ocupa,com pessoas em 
lugares e profundidades diversas, isto é, é possível compreender toda a cena por meio 
do recurso da perspectiva. Boticelli foi um pintor do período do Renascimento e um dos 
maiores destaques do Quattrocento italiano, justamente pelo uso da perspectiva em suas 
obras. As inovações nesse campo da arte desejavam trazer para as obras a realidade, as 
nuances, os detalhes.
A perspectiva realista não é diferente quando analisadas as esculturas de 
Michelangelo. Expor os detalhes do corpo, dominar, conhecer todas as suas funções, a 
sua beleza tornou-se um objetivo, o que demonstra uma mudança na visão sobre a vida 
e o cotidiano no período moderno.
Figura 6 – MICHELANGELO. Pietà. 1499. Escultura. Vaticano.
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História Moderna38
Figura 7 – MICHELANGELO. Davi. 1504. Escultura. Florença, Itália.
2.3 O Barroco de Caravaggio e o protestante
O Barroco é do século XVII e tem sua origem também na Itália. Guilherme Gomes Júnior 
traz a ideia de Afrânio Coutinho, que define o homem do Barroco como “[...] um saudoso 
da religiosidade medieval e, ao mesmo tempo, um seduzido pelas solicitações terrenas e 
valores mundanos, amor, dinheiro, luxo, posição que a renascença e o humanismo puseram 
em relevo. Desse dualismo nasceu a arte barroca” (GOMES JÚNIOR, 1998, p. 104). A ideia 
de saudade serve como símbolo para afirmar que alguns preceitos medievais voltam a ter 
ênfase. O uso da razão de forma separada da arte já não é tão evidente, assim como as emo-
ções voltam a ser expostas nas artes.
As acusações de paganismo continuam, mas com o Barroco houve diversas tentativas 
de reconciliação com o cristianismo. É nesse sentido que a frase de Afrânio Coutinho deve 
Renascimento cultural e o humanismo
História Moderna
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ser entendida: o homem continua sendo o foco, porém nele (e em suas representações) há 
um conflito entre bem e mal, razão e emoção, Deus e Diabo. As pinturas nem sempre são em 
perspectiva, mas acentuam partes claras/escuras, ou seja, duas perspectivas contraditórias, 
como também são o sagrado e o profano. Além disso, focam em emoções, sombras e temas 
mitológicos/religiosos.
2.3.1 Barroco Italiano e holandês
As pinturas de Caravaggio, apelido de Michelangelo Merissi (1574-1610), diferenciam-
-se por utilizar imagens de pessoas simples, como vendedores ambulantes e prostitutas em 
seus cotidianos, e também por criar sua própria luz nos quadros, a fim de direcionar o olhar 
de quem vê. Portanto, as pessoas retratadas tinham o rosto de outras comuns, porém o foco 
era pintar santos e santas, como São Mateus (Figura 8) e Santa Catarina (Figura 9). Nesta 
última, Santa Catarina de Alexandria fazia parte das encomendas de diversas pinturas feitas 
ao artista, com intuito de renovar a iconografia da Igreja católica, durante a Contrarreforma. 
Uma estratégia para que a Igreja tivesse destaque, frente ao sucesso do Renascimento.
Figura 8 – CARAVAGGIO. A inspiração de São Mateus. 1602. Óleo sobre tela, 292 x 186 cm. Igreja 
de São Luís dos Franceses, Roma, Itália.
Renascimento cultural e o humanismo2
História Moderna40
Já a Figura 10 refere-se ao Barroco holandês, uma pintura de Johannes Veermer, ape-
lidada de “Monalisa Holandesa”. Os temas do Barroco holandês se diferenciam dos ita-
lianos, devido às questões religiosas, pois, como veremos no próximo capítulo, a Reforma 
Protestante ocorreu de acordo com interesses burgueses, o que certamente diminuiu a cen-
sura ao mesmo tempo em que tinha também por objetivo reproduzir o estilo de vida e o 
cotidiano burguês.
Figura 9 – CARAVAGGIO. Santa Catarina de Alexandria. 1595-1596. Óleo sobre tela, 173 x 133 cm. 
Museo Thyssen-Bornemisza, Madrid, Espanha.
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Figura 10 – VERMEER, Johannes. Moça com brinco de pérola. 1665. Óleo sobre tela, 46,5 x 40 cm. 
Mauritshuis, Haia, Holanda.
A seguir uma última imagem, A Ronda Noturna (Figura 11), cujo título inicial era A 
Companhia do capitão Frans Banning Cocq e do tenente Willem van Ruytenburch a preparar-se 
para avançar, de Rembrandt Harmenszoon van Rijn. A obra retrata a inauguração de uma 
Companhia de Aracabuzeiros. Retratar inaugurações comerciais e destacar pessoas (alguns 
pagaram para ter mais ou menos destaque na obra) sem uma conotação religiosa é uma 
perspectiva bastante diferente do que era esperado na Itália. Nessa obra há uso de luz e 
sombra, uma influência de Caravaggio, com destaque para os tenentes da frente (que teriam 
pago a mais) e a menina em branco e dourado (que seria a mulher do pintor).
Renascimento cultural e o humanismo2
História Moderna42
Figura 11 – REMBRANDT. Ronda noturna. 1642. Óleo sobre tela, 379,5 x 453,5 cm. Rijksmuseum, 
Haia, Holanda.
Com cenas do cotidiano e de organizações sociais e econômicas, a arte desse período 
não estava dissociada dos interesses burgueses ou mesmo da nobreza. O período moderno 
estava em disputa, lançando novos valores para um novo tempo.
Conclusão
As artes representam muito mais que questões estéticas, pois seus recursos e suas estra-
tégias revelam angústias, interesses e disputas políticas que uma sociedade ou outra podem 
ter. As ideias simbólicas presentes nas obras de arte demonstram aquilo que os grupos que 
as encomendaram gostariam que estivessem nelas representado. A História direciona seu 
olhar para essas produções não como meras figuras, mas como elementos que trazem ca-
racterísticas do que seria uma boa religião, moral, sociedade, ética, enfim, os valores e o que 
movia as pessoas naquele contexto.
Neste capítulo, nosso objetivo foi compreender o Renascimento como um processo que 
desencadeou aos poucos novos afloramentos culturais e políticos. Além disso, o Barroco foi 
na Europa uma resposta ao Renascimento, ao mesmo tempo em que esteve relacionado às 
reformas religiosas e ao capitalismo.
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 Ampliando seus conhecimentos
William Shakespeare foi um grande escritor e dramaturgo da Inglaterra vito-
riana. Em sua literatura, muito além de ideias vagas e efêmeras, vulgarmente 
relacionadas à arte, estão presentes questões políticas e sociais. O texto a seguir 
explora essa dimensão shakespeariana.
A dimensão política em William Shakespeare
(CHAIA, 2006)
A política é um conceito polissêmico e William Shakespeare foi um 
autor que contribuiu significativamente para delinear uma específica 
concepção de política. A simples leitura das peças, sua pesquisa e ence-
nação sempre encontraram inúmeras entradas para um mergulho na 
obra deste dramaturgo. Entre tantas possibilidades, ele propicia uma 
abordagem política que pode ser construída a partir da seguinte fala 
de Hamlet: “The time is out of the joint/ O tempo está fora dos eixos”. 
Não se trata de uma política institucional, pois mesmo que Shakespeare 
desenvolva seus temas em volta do trono, com personagens envolvi-
dos num embate com o poder, ele nos fala de uma política atravessada 
pela gravidade e pela disjunção, imprimindo significados distintos à 
história de uma cidade e de uma nação.
Em movimentos pendulares perpétuos, constituem-se dois caminhos 
que estruturam e desestruturam as relações de poder nas peças de 
Shakespeare. O primeiro é delineado pelo par de opostos legitimidade-
-usurpação, e o segundo pela dupla estabilidade-guerra. A peça Ricardo 
III é emblemática desses dois movimentos ao compor uma sangrenta tra-
jetória política devido ao desejo e projeto de ruptura institucional e ao 
apresentar um astuto personagem que se encontra envolvido na Guerra 
das Duas Rosas [...].
Ao final da peça, com a Batalha de Bosworth Field, que encerra a Idade 
Média e a Guerra entre as duas casas, tem início uma nova era com 
Henrique de Richmond, futuro Henrique VII. Este personagem, ao vencer 
Ricardo III, comemora proferindo um monólogo, no qual aponta para a 
paz e estabilidade futura da Inglaterra: “Proclamai meu perdão para os 
soldados / ... / Uniremos as rosas branca e

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