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Freud, além da alma

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Freud, Além da Alma 
 
Freud, Além da Alma (1962) é um filme norte-americano com direção de John Huston e 
estrelado por Montgomery Clift (Freud), Susannah York (Cecily), Larry Parks (Breuer), 
Susan Kohner (Martha Freud), Eric Portman (Meynert) e Fernand Ledoux (Charcot). Trata-
se de uma biografia romanceada que retrata os desafios enfrentados no início da carreira 
daquele que, ao longo de sua jornada, viria a se tornar o pai da psicanálise. 
A narrativa tem início em Viena, 1885, época em que imperava o discurso da razão, inerente 
às ciências positivas. É, neste contexto, em que Freud revoluciona a forma de se pensar o 
homem, mudando o status quo de uma sociedade que acreditava estar em pleno domínio 
da consciência, conforme evidencia a narração que introduz o filme: 
“(...) Antes de Sigmund Freud, o homem acreditava que o que dizia e fazia era um produto de 
sua vontade consciente. Mas o grande psicólogo demonstrou a existência de outra parte de 
nossas mentes que funciona no mais obscuro segredo e que pode até comandar nossas vidas. 
Esta é a história da entrada de Freud numa região tão escura quanto o próprio Inferno - o 
inconsciente humano – e de como ele o iluminou.” (FREUD, ALÉM DA ALMA, 1962) 
Logo na primeira cena, temos um embate entre Freud e seu professor Meynert, após a 
admissão de uma paciente com diagnóstico de histeria, com sintomas de paralisia e 
cegueira. O professor a acusa de estar fazendo uma exibição, alegando que seus sintomas 
haviam sido deliberadamente assumidos com objetivo de atrair atenção, causar pena e para 
que, assim, pudesse fugir de suas responsabilidades. 
Para comprovar sua tese, Meynert avalia a rigidez de suas pernas e a reação de suas 
pupilas frente a um estímulo de luz, concluindo que, desta forma, a mulher não poderia estar 
paralítica ou cega. Freud, por sua vez, fura com uma agulha a perna da paciente que não 
apresenta reação alguma e, então, questiona como aquilo poderia ser fingimento. 
Todavia, o professor Meynert é categórico ao afirmar que a histeria é apenas um sinônimo 
para mentira, não havendo terapia para isso. Naquele momento, apesar de sua postura 
investigativa, Freud ainda não tinha respostas para aquele fenômeno e, portanto, não 
possuía argumentos para contrapor essa visão negacionista do fenômeno psicológico, que 
considera apenas o que poderia ser comprovadamente de origem orgânica. 
Outrora, o pensamento teológico dominante havia acusado de bruxaria as histéricas, 
condenando-as à fogueira. Naquele momento em que Freud se encontrava, a própria 
explicação para histeria, como uma doença exclusivamente feminina, causada por 
perturbações no útero, indicava o enviesamento do pensamento científico daquela época na 
busca por evidências apenas no biológico. Roudinesco e Plon (1998, p. 337), explicam a 
histeria da seguinte maneira: 
“Sua originalidade reside no fato de que os conflitos psíquicos inconscientes se exprimem de 
maneira teatral e sob a forma de simbolizações, através de sintomas corporais paroxísticos 
(ataques ou convulsões de aparência epiléptica) ou duradouros (paralisias, contraturas, 
cegueira).” 
“Há certos fenômenos mentais que desafiam todas as regras da Ciência”, conclui o jovem 
Freud, antes de decidir viajar até Paris para estudar com Charcot na Salpetrierè. Assim, na 
cena seguinte, Charcot apresenta argumentos para comprovar que a histeria é uma doença 
mental e que a mente pode se dividir, seguindo duas linhas de pensamento ao mesmo 
tempo. 
O médico faz uma demonstração com uma paciente que perdeu o movimento das pernas e 
um paciente que apresentava tremores. Ambos passaram a apresentar tais sintomas após 
sofrerem traumas psicológicos. Através da sugestão hipnótica, os sintomas histéricos são 
removidos e, da mesma forma, também podem ser criados. No entanto, após saírem do 
estado hipnótico, os pacientes voltam a apresentar os sintomas originais. 
Com a sugestão hipnótica, Charcot consegue entender a histeria e concluir, portanto, que 
os sintomas não são de origem orgânica, mas ainda não sabia como curá-los. 
De volta a Viena, em outra cena, Freud realiza uma conferência sobre seus achados sobre 
a histeria; defende que, independentemente da origem dos pensamentos que instauraram 
o sintoma, esses pensamentos permanecem desconhecidos pelo paciente. Assim, postula 
a existência do inconsciente. 
"Em psicanálise, o inconsciente é um lugar desconhecido pela consciência: uma “outra cena”. 
Na primeira tópica elaborada por Sigmund Freud, trata-se de uma instância ou um sistema (Ics) 
constituído por conteúdos recalcados que escapam às outras instâncias, o pré-consciente e o 
consciente (Pcs-Cs). Na segunda tópica, deixa de ser uma instância, passando a servir para 
qualificar o isso e, em grande parte, o eu e o supereu". (ROUDINESCO & PLON, 1998, p. 375) 
Todavia, suas ideias não foram bem recebidas pela sociedade médica vienense que 
entendia que os métodos utilizados por Freud não eram científicos, em oposição às lições 
dos experimentos fisiológicos. 
Freud, então, conhece Breuer, um médico com ideias convergentes às suas. Na cena que 
se segue, Breuer apresenta o caso de sua paciente Cecily. Durante as sessões de hipnose, 
o médico questionava a paciente, voltando do sintoma até sua fonte; ao lembrar e reviver o 
trauma, os sintomas histéricos desapareciam, pois havia uma descarga da emoção atrelada 
à situação traumática que fora retirada da consciência (método catártico). 
Freud passa a utilizar o método que aprendeu com Breuer, no entanto, é proibido de utilizar 
a hipnose no hospital em que trabalha; o professor Meynert o acusa de renunciar à ciência, 
ao fazê-lo. Mais uma vez, a noção de cientificidade daquela sociedade é evidenciada: como 
o lugar da razão e da “verdade”. Freud escolhe, então, seguir com suas investigações e 
deixa o hospital. 
Durante os atendimentos de Carl von Schlossen (David McCallum), um paciente que atacou 
o seu pai com uma faca, aparentemente, sem motivo, Freud descobre que o ódio que o 
rapaz tinha pelo pai, originava-se no forte desejo sexual que nutria pela própria mãe. 
Elementos essenciais para as formulações ao respeito do complexo de Édipo. No entanto, 
pode-se notar que, naquele momento, até mesmo para Freud era difícil incluir a sexualidade 
em suas teorizações. 
Em outra cena, Breuer convida Freud para acompanhar os atendimentos de Cecily, que 
apresenta cegueira. Em seus relatos sobre a morte do pai, a paciente conta que médicos 
foram até seu quarto no hotel, tarde da noite, para leva-la ao hospital para o reconhecimento 
de seu corpo; comenta que as enfermeiras eram estranhas e tocavam música naquele lugar. 
Ao perceber algumas contradições no discurso, Freud intervém, conduzindo Cecily a entrar 
em contato com a verdade: policiais buscaram Cecily e a levaram até um bordel, onde seu 
pai havia morrido nos braços de uma prostituta; a cena é tão aterrorizante para a jovem, que 
naquele momento perdeu a visão. Ao retornar do transe hipnótico, após reviver aquela 
memória, Cecily volta a enxergar. 
Em outro momento do filme, percebemos a dificuldade de Breuer lidar com as demandas de 
natureza afetivo-sexual apresentadas pela paciente. O médico temia que a relação com a 
atendida prejudicasse o seu casamento e, por esse motivo, abandona o tratamento quando 
Cecily passa a apresentar sinais de parto, na ocasião em que o médico decide viajar. Desse 
modo, Freud assume o caso no lugar colega. 
Em outra cena, Cecily passa a resistir às sessões de hipnose, levando Freud a atualizar sua 
técnica. Assim, por meio da associação livre de ideias, a paciente conta sobre o seu 
relacionamento com o pai e menciona uma situação em que sua mãe sofreu um acidente, 
momento em que pode assumir o lugar da mãe em algumas tarefas. “Foi a época mais feliz 
da minha vida”, afirma Cecily. 
Em um ato falho, a paciente menciona que foi criada como uma prostituta, mas queria dizer 
protestante. Freud percebe esse ato como uma via de acesso ao inconscientee segue com 
sua investigação, questionando a paciente sobre a primeira vez que ouviu essa palavra. Da 
mesma forma, Freud passa a tentar entender os sentidos atribuídos pela paciente, por meio 
de sua linguagem simbólica, ao relato de seus sonhos. Outra técnica utilizada pelo 
terapeuta, foi sentar-se atrás da paciente, de modo que ela não pudesse vê-lo e, assim, 
falasse sem censuras; de certa forma, temos aqui um convite ao divã. 
Em outra cena, Freud recebe flores de Cecily e sua esposa, Martha, questiona se a paciente 
está apaixonada por ele. O médico reconhece a situação e afirma que a jovem atribui um 
significado erótico à relação com o terapeuta, mas que não deixará o caso. Talvez tenha 
identificado o fenômeno da transferência como motor da análise. “Não há outra maneira de 
chegar ao inconsciente”, conclui. Podemos definir a transferência como: 
“...um processo constitutivo do tratamento psicanalítico mediante o qual os desejos 
inconscientes do analisando concernentes a objetos externos passam a se repetir, no âmbito da 
relação analítica, na pessoa do analista, colocado na posição desses diversos objetos”. 
(ROUDINESCO & PLON, 1998, pg. 766-767) 
Em suas investigações, o médico chega, precipitadamente, à conclusão de que Cecily havia 
sido abusada sexualmente pelo seu pai na infância, mas a resposta não lhe parecia 
suficiente. Freud então passa a investigar suas próprias memórias da infância. Recorda-se 
de uma cena em que presenciou a mãe trocando de roupa e o desejo que a situação lhe 
despertou. A mãe iria se deitar com o pequeno Freud, mas seu pai chega em busca da 
esposa, que deixa o filho dormindo sozinho; uma interdição ao desejo. 
Assim, Freud percebe que o pai de Cecily não a seduziu. “Não era ele quem desejava a 
filha. Era ela quem o queria. E não foi uma lembrança que ela reprimiu. Era uma fantasia!”, 
conclui. Dessa forma, Freud se vê diante de um dos achados mais audaciosos de sua teoria: 
a presença da sexualidade na infância. Em relação à fantasia, temos a seguinte 
conceituação: 
"Termo utilizado por Sigmund Freud, primeiro no sentido corrente que a língua alemã lhe confere 
(fantasia ou imaginação), depois como um conceito, a partir de 1897. Correlato da elaboração 
da noção de realidade psíquica* e do abandono da teoria da sedução*, designa a vida imaginária 
do sujeito* e a maneira como este representa para si mesmo sua história ou a história de suas 
origens: fala-se então de fantasia originária." (ROUDINESCO & PLON, 1998, pg. 223) 
Finalmente, nas últimas cenas do filme, Freud apresenta sua teoria à Breuer que a 
desaprova, pelo fato da ideia de sexualidade na infância lhe causar aversão. Esta visão 
demasiadamente moralista se torna ainda mais evidente, quando as postulações de Freud 
sobre a desenvolvimento psicossexual infantil são recebidas às vaias pelo auditório do 
congresso em que se apresenta. 
Podemos concluir, portanto, que Freud foi responsável por uma mudança radical na maneira 
de se pensar a vida psíquica, lançando luz a áreas da psique até então obscurecidas pela 
moralidade e filosofia vitorianas. Sexualidade, inconsciente e recalque estão na base de sua 
teoria, a psicanálise; termo usado tanto para se referir a teoria, como ao método de 
investigação e a prática profissional (BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 2008). 
 
REFERÊNCIAS: 
 
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes 
Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. – 14. ed. – São Paulo: 
Saraiva,2008. 
FREUD, Além da Alma. Direção de John Huston. Estados Unidos: Universal International, 
1962. 1 DVD (139 min.). 
ROUDINESCO, Elisabeth; PLON. Dicionário de psicanálise. Tradução de Vera Ribeiro, 
Lucy Magalhães; supervisão da edição brasileira por Marco Antonio Coutinho Jorge. Rio de 
Janeiro: Zahar, 1998.

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