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Apostila-Introducao-e-Historia-da-Psicanalise-2

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(...) Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais: somos também o que 
lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, 
os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos 'sem querer'. 
Sigmund Freud 
 
Sobre a Disciplina: 
 
Esta disciplina da pós-graduação possibilitará a compreensão da Introdução e a 
história da psicanálise criada por Sigmund Freud (1856-1939). Veremos a 
trajetória e história da psicanálise está indissociavelmente ligada à vida de 
Freud. A teoria criada por ele em Viena no início do século XX se difundiu por 
inúmeras áreas do saber, e seus termos circulam até mesmo em conversas 
coloquiais. Freud inaugurou uma nova área do conhecimento, uma nova forma 
de ver e pensar o mundo: as neuroses, a infância, a sexualidade, os 
relacionamentos humanos, a subjetividade, a sociedade etc. 
 
Docentes: 
Prof. Ms. Alessandro Euzébio 
Prof. Ms. Antônio Teixeira de Carvalho Filho 
 
 
Coordenação Geral de Pós-graduação 
Prof. Ms. Alessandro Euzébio 
E-mail: posgraduacao@institutogaio.com.br (11) 3277-4415 
mailto:posgraduacao@institutogaio.com.br
 
Página | 3 
 
 
SUMÁRIO 
 
Olá seja bem-vindo (a) à Disciplina de Introdução e História da Psicanálise ............. 4 
O Surgimento da Psicanálise................................................................................................. 4 
Trajetória da Psicanálise como Área Livre e Científica .................................................... 6 
Psicanálise e a Psicoterapia ................................................................................................... 7 
O que Acontece na Psicanálise? ...........................................................................................8 
Fundamentos da Psicanálise e o comportamento dos indivíduos ............................. 10 
Mecanismos de Defesa ......................................................................................................... 11 
Contribuições da Psicanálise aos Estudos Organizacionais ......................................... 15 
A História do Movimento Psicanalítico .............................................................................22 
Conceitos do Inconsciente ................................................................................................. 26 
Quem É O Psicanálise E O Que Ele Faz? .......................................................................... 28 
O Ampara Legal do Trabalho do Psicanalista No Brasil................................................ 29 
Referências Bibliográficas ................................................................................................... 31 
 
 
 
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INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA PSICANÁLISE 
Olá seja bem-vindo (a) à Disciplina de Introdução e História da 
Psicanálise 
 
(...) A maioria das pessoas não quer 
realmente a liberdade, pois liberdade envolve responsabilidade, 
e a das pessoas tem medo da responsabilidade. 
Sigmund Freud 
 
 
 
O Surgimento da Psicanálise 
 
 
No desdobrar ao final do século XIX e início do Século XX , Freud, então um jovem 
médico neurologista, em Viena, incomodado com a pouca concretude cientifica das 
propostas terapêuticas oferecidas pela ciência médica para os quadros de histeria que se 
avolumavam na unidade hospitalar em que trabalhava, ao ter contato com inovadoras 
propostas de entendimento e tratamento para essa doença - muito especialmente 
pesquisas e propostas terapêuticas desenvolvidas por Charcot e Breuer -, entusiasmado 
pelos iniciais resultados por eles alcançados, decidiu-se por buscar respostas para além 
dos paradigmas limitantes do racionalismo e da exacerbada biologização das doenças, 
alcançando como inicial referência a existência do inconsciente - um revolucionário 
conceito que, através de estudos posteriores, se ampliou, adquirindo uma original e 
inovadora concepção, servindo ele, o inconsciente, como fundamento para criação, por 
Freud, da Psicanálise. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Google – 
hypenesse.com.br 
Interessante ponto de vista é textualizado 
por Maurano1 em relação à relevância do 
trabalho de Freud, quando de modo 
objetivo e bastante simples, afirma a que 
“... a grande contribuição trazida por 
 
1 MAURANO, D. Para que serve a psicanálise? (Organizadora da coleção Nina Saroldi). 
3.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010. 
 
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Uma vez contextualizado, ainda que de modo bastante resumido, os cenários 
motivadores do surgimento da Psicanálise, entendo como relevante ver-se ressaltada, 
enquanto agregação de conhecimento, sua importância para a ciência contemporânea, 
socorrendo-me para tanto de manifestação de Schultz & Schultz2, que bem esclarecem 
essa visão de importância, asseverando que: “... com a Psicanálise e a Teoria do 
Inconsciente, Freud realiza a terceira grande ferida ao narcisismo humano [...] a primeira 
ferida foi perpetrada, séculos antes, pôr Copérnico, com a Teoria Heliocêntrica [...] a 
segunda ferida foi realizada por Darwin, que tira o homem do patamar de senhor e centro 
da criação, para o qual tudo foi feito, uma espécie única e destacada, e afirma que o 
homem é uma espécie superior que é proveniente de formas inferiores da vida animal 
[...] Freud realiza a terceira ferida narcísica ao criar a Psicanálise, descentrando o sujeito 
de si mesmo ao afirmar que o homem não é senhor de sua rópria casa, mas coabita com 
forças conflituosas existentes no sistema inconsciente [...] o homem, antes visto como 
posseiro de um local privilegiado (o lugar do conhecimento e da verdade), agora é visto 
como um ser movido por forças que sua própria razão desconhece e sobre as quais ele 
tem pouco ou nenhum controle,, portanto, o homem não é um agente racional sobre a 
vida, como se pensava [...] a psicanálise, portanto, promove uma ruptura com o saber 
existente, derrubando a razão e a consciência do lugar sagrado em que se encontrava”. 
(SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ,2020) 
 
 
 
2 SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. 5.ª Ed. São Paulo: Cultix, 
1992. In: CORDEIRO, E. F. O inconsciente em Sigmund Freud. Disponível em < 
https://www.psicologia.pt/ artigos/ver_artigo.php?codigo=A0745>. Acesso em: 
10/04/2020. 
Freud foi a de tratar o sintoma não como um defeito ou degeneração, mas como uma via 
de expressão do sujeito”. 
https://www.psicologia.pt/%20artigos/ver_artigo.php?codigo=A0745
https://www.psicologia.pt/%20artigos/ver_artigo.php?codigo=A0745
 
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Trajetória da Psicanálise como Área Livre e Científica 
 
 
A Psicanálise como vimos é uma disciplina ou área científica instituída por Sigmund 
Freud há cerca de mais de cento e vinte cinco anos. Designa-se teoria psicanalítica a todo 
um corpo de hipóteses que dizem respeito ao funcionamento e ao desenvolvimento da 
mente do Homem. Tem em sua base uma parte da psicologia geral e compreende 
aquelas que são consideradas as mais importantes contribuições para à psicologia 
humana e da medicina. 
Duas dessas hipóteses fundamentais, que foram exatamente confirmadas, são o princípio 
do determinismo psíquico, ou da causalidade, e a proposição de que a consciência é 
antes um atributo excepcional, do que um atributo comum dos processos psíquicos. Por 
outras palavras, para a teoria psicanalítica, os processos mentais inconscientes são de 
grande frequência e significado no que diz respeito ao funcionamento mental normal, 
bem como anormal. O sentido deste princípio leva-nos a admitir que nada do que se 
passa na mente é fortuito, nada acontece por acaso. Cada evento psíquico é 
determinado por aqueles que o precederam. (INSTITUTO GAIO 2018) 
Num contexto mais histórico, a primeira tentativa de explicar e classificar as doenças 
mentais, levou a separação dos doentes em dois tipos: Simples (semgrandes problemas 
ou distúrbios mentais) e Loucos/Alienados (for a da realidade, enormes perturbações) 
Os primeiros medicamentos para estas doenças datam do século XX, sendo estes à base 
de poções poliburmadas (burmetos) que pretendiam acalmar o sujeito. Na década de 50, 
descobriu-se um medicamento que baixava a tensão arterial, o que se pensava também 
que acalmava o indivíduo. Depois seguiram-se os antidepressivos (caso do LSD e do 
Prozac) que, embora fossem extremamente fortes, não ajudam em nada os pacientes. 
No final do século XIX, Sigmund Freud revogou que as neuroses se dão ao nível de todo o 
corpo, não obstante as influências do meio também terem alguma importância. Freud 
introduz a noção de inconsciente, afirmando que a maior parte das nossas ações vêm daí. 
Esta ideia valeu ao psicanalista a rejeição por parte da sociedade médica da altura. 
É em 1928, que a Filosofia reconhece oficialmente o inconsciente no Homem. A 
psicanálise surge como tentativa de explicar e curar as doenças do foro psíquico – razões 
e porquês dos sintomas – e para tal é necessário a busca da história clínica do sujeito. 
 
 
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Psicanálise e a Psicoterapia 
 
 
Ainda hoje encontro inúmeras pessoas que estão muito confusas quanto à definição e o 
objetivo da Terapia, da Psicanálise ou da Psicoterapia. Muitas frustram-se ao escolher um 
tratamento e esperar o resultado de outro (que não vai chegar). 
O termo Terapia (do grego therapeía) quer dizer, de forma muito ampla, tratamento ou 
cura de doenças. Essa palavra é utilizada por uma gama muito grande de profissionais da 
saúde (das mais variadas formações) e serve como “um grande guarda-chuva” para 
divulgar qualquer forma de intervenção que busque a promoção da saúde (ex.: 
Acupuntura, Psicologia, Psicanálise, Biofeedback, Shiastu, Reiki, Psicoterapia, Hipnose, 
etc.). 
A psicoterapia é um termo genérico para falar das Terapias que atuam sobre o 
funcionamento psíquico/psicológico. Existem vários tipos de Psicoterapias (Psicanálise, 
Humanista, Cognitiva, Comportamental, Corporal, Transpessoal, etc.) que se diferenciam 
dependendo do tipo de entendimento das origens, manutenção, evolução e tratamento 
dos sinais e sintomas. 
A psicanálise como já vimos é uma área focada no tratamento psíquico criado em 1896 
pelo austríaco Sigmund Freud. A Psicanálise é um método de intervenção clínica para 
quadros de neurose e de psicose que usa a investigação dos processos psicológicos 
através da “atenção flutuante” do psicanalista que irá analisar e interpretar a “livre 
associação” (falar tudo que vem a mente, mesmo que considere sem importância) do 
“analisando” (paciente). A psicanálise, de modo geral, tende a ser um tratamento de 
longo prazo. 
 
Portanto caro pós-graduando chegamos finalmente ao último ponto, a interpretação, 
que a psicanálise considera como a única arma eficiente em seu tratamento. 
Interpretar, no sentido psicanalítico, quer dizer comunicar ao paciente as emoções, 
fantasias e reações que ele ignora, que são inconscientes, e que causam suas ansiedades 
e sintomas. A interpretação dá ao paciente o "insight", isto é, uma percepção interna, de 
si próprio. O "insight" ganho pela interpretação é ao mesmo tempo uma compreensão 
intelectual e uma experiência emocional. Vou ilustrar com um exemplo: um paciente 
sentiu, na infância, muita agressividade contra seu pai. Este era muito severo e 
autoritário, o que impediu nosso paciente de expressar a menor agressividade contra o 
pai. Por medo do pai, ficou submisso e obediente, e esta submissão permaneceu como 
 
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traço proeminente de seu caráter. Tinha muito medo de seus superiores, seja na escola, 
ou mais tarde no trabalho. Sempre submisso, perdeu toda iniciativa, não conseguia 
progredir e usar a capacidade que tinha. Não sabia quando odiava, no fundo, seus 
superiores, nem conhecia suas capacidades construtivas. Retirou-se mais e mais do 
convívio social onde existe competição, porque competição sempre necessita de certo 
grau de agressividade, o que era intolerável para o paciente, tanto a sua agressividade, 
como a dos outros. 
Agora, somente como exemplo vamos usar neste caso os métodos psicoterápicos dos 
quais falei: Sugestão: tenta-se persuadir o paciente de que ele é mais importante do que 
pensa e que não precisa ter medo de ninguém. Podemos ainda hipnotizá-lo, tentando 
fazer desaparecer a inibição e a vergonha que sente dos colegas e superiores. Também 
na hipnose podemos recuperar situações onde sua agressividade e iniciativa foram 
esmagadas pelo pai - hipnoterapia baseada na catarse. Podemos orientá-lo, apoiá-lo, 
encorajá-lo em relação a seus problemas - seria educação e suporte. Podemos dizer-lhe 
que tem medo dos superiores, medo de competir com os colegas, porque teve medo do 
pai. Isto não é ainda uma interpretação no sentido psicanalítico, mas um mero 
esclarecimento intelectual de pouco valor. 
 
O que Acontece na Psicanálise? 
 
 
Na relação analítica, embora o analista mostre compreensão e objetividade e embora a 
situação analítica lhe permita liberdade de expressar-se à vontade, o paciente vai sentir 
medo do analista, mostrar inibição e comportar-se com submissão e obediência. O 
paciente não está consciente deste comportamento. Se esta submissão e obediência são 
mostradas, quer dizer, interpretadas, no momento em que ocorrem na sessão, o paciente 
vai experimentar surpresa, vai ganhar nova percepção de si mesmo. Isto é "insight", e o 
"insight" foi ganho pela interpretação. Interpretação também é quando podemos mostrar 
ao paciente que ele, em certos momentos, nos odeia como odiava o pai em 
determinadas situações do passado. Assim ele vai compreender e sentir que sua 
submissão e obediência são somente uma fachada. Mostrando sua agressividade 
reprimida e seu ódio nos momentos em que surgem contra nós e principalmente à luz de 
suas próprias palavras e gestos, fazemos uma interpretação. É o "insight" que o paciente 
recebe pela interpretação, e é o fator mais importante para movimentar o processo de 
cura. 
 
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Chegamos agora a mais uma diferença fundamental que existe entre psicanálise e as 
outras formas de psicoterapia. Isto é, como é utilizada a transferência do paciente. O 
primeiro grupo, da sugestão, orientação, educação e catarse, usa os aspectos positivos, 
quer dizer, a dependência, a confiança do paciente e sua idealização do terapeuta para 
melhor alcançar seus fins, de melhor poder influenciar o paciente. Os aspectos negativos 
da transferência, como hostilidade e desconfiança, ou são ignorados ou suprimidos por 
meio de gratificações e provas de apoio e amizade. 
 
 
As terapias analíticas ecléticas do segundo grupo analisam as relações atuais entre 
paciente e terapeuta, mas sem se interessar muito por suas origens infantis. Também 
elas não podem prescindir de apoio, orientação e educação. 
 
Somente a psicanálise recorre à análise sistemática e detalhada das relações 
transferenciais e suas origens. Mais umas palavras sobre o sentido da transferência no 
tratamento, o que é tão mal compreendido. No curso do tratamento desenvolve-se uma 
relação emocional entre paciente e analista com fortes elementos de afeição e 
hostilidade, que não podem ser concebidos apenas no quadro da situação presente. Esta 
relação, como já disse, constitui uma projeção no analista das relações infantis, reais e 
imaginárias do paciente. É fator importante que o paciente, no curso do tratamento, sinta 
de novo as relações que foram para ele, durante a sua infância, geradoras de 
perturbações. 
Na transferência, as relações insatisfatórias reais ou imaginárias com figuras importantes 
da infância são reativadas e revividas nas relações do paciente com o analista. Estas 
relações infantis e os sentimentos ligados a elas podem ser interpretados no momento 
exato de sua vivência. Desta maneira a interpretação fica sendo uma experiênciaemocional. 
Acho que os senhores podem compreender assim que a psicanálise não focaliza somente 
o passado, a infância, como muita gente pensa, nem somente o presente, mas sempre a 
interrelação entre o passado e o presente. A transferência faz compreender ao analista 
como o paciente sentiu e agiu no passado, e as situações da infância e as fantasias 
infantis que o paciente nos conta ajudam a compreender seus conflitos e seu 
comportamento atual. Os dois aspectos são interpretados para ele. 
 
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Fundamentos da Psicanálise e o comportamento dos indivíduos 
 
 
De modo didático, buscando alinhar o todo contido nos fundamentos e princípios 
norteadores da Psicanálise ao comportamento dos indivíduos nas organizações, é 
importante ser entendido que Freud descobriu que as ações humanas, apesar de 
manifestas através de seu consciente, são condicionadas pelo inconsciente, havendo 
demonstrando que, acessando essa área (o inconsciente), torna-se possível identificar a 
raiz de certos distúrbios e comportamentos humanos. Na década de 1920, quando da 
apresentação da segunda tópica de seu trabalho, Freud propôs um modelo estrutural do 
aparelho psíquico, dividindo-o em três partes: Id, Ego e Superego. 
Segue abaixo algumas referenciais conceituais, que básicas, são apresentadas 
para efeito de facilitação do entendimento para a interrelação estabelecida entre essas 
estruturas - condição necessária para percepção da importância do que não é dizível, 
porém exerce grande influência sobre o comportamento humano nas organizações: 
 
a) Id - instância totalmente inconsciente; é formada por impulsos e desejos, 
desconhecendo para alcance da sua satisfação a razão e valores morais; instinto voltado 
à preservação da vida e a autopreservação, sempre em busca do prazer, o Id não lida 
bem com frustrações e quer sempre uma solução imediata para tudo - pulsões e desejos; 
b) Ego - O ego é racional e controla os instintos; constitui-se componente intermediário das 
energias mentais (atuando entre o Id (inconsciente) e o Superego (Ego ideal / também 
consciente); o Ego controla as experiências conscientes e regula a relação do indivíduo 
com o meio por ele ocupado; 
 
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através dele, aprendemos sobre a realidade externa e orientamos nosso comportamento 
no sentido de evitar estados dolorosos, de ansiedade e punições; 
c) Superego - sua atuação objetiva reprimir e criticar ideias, impulsos e sentimentos que 
chegam ao Ego (consciente), julgando e decidindo terem os mesmos potencial para 
afetar o comportamento e/ou personalidade do indivíduo (o Superego, em sua essência, 
é judicativo, ou seja, é ele quem julga e decide). 
 
Mecanismos de Defesa 
 
 
Alcançado entendimento, ainda que de modo não tão aprofundado como se poderia 
avançar - até por não se constituir, esse, o objeto do presente trabalho -, porém 
esperando que os conceitos balizadores das funções do Id, Ego e Superego hajam ficado 
evidenciadas, bem como a interdependências estabelecidas entre essas três instâncias 
do aparelho psíquicos, necessário agora descrever os mecanismos de defesa do Ego, os 
quais se processam, em ciclos contínuos, a partir dessas instâncias. 
Esses mecanismos, presentes nos processos da psique de todos – sejam elas pessoas 
hígidas ou na daqueles que apresentem algum tipo de distúrbio ou disfunção -, afiguram- 
se formas de proteção e segurança do Ego contra as interferências do Id e do Superego. 
O Ego, como já citado, por controlar as experiências conscientes do Eu, regulando a 
relação do indivíduo com o meio por ele ocupado no seu específico contexto - inclusive 
orientando o comportamento dos indivíduos na evitação de estados dolorosos, de 
ansiedade e, muito especialmente, de desejos que a ele (Ego) chegam, emanados do Id - 
, se vê, por um lado, permanentemente instado pelo Id para satisfação de seus impulsos 
e desejos, sem qualquer freio da razão ou valorações morais lhes seja imposto, enquanto 
por outro lado, sofre pressões do Superego, que busca mediar, através de “freios e 
contrapesos" imposto por suas personalíssimas crenças e valores - introjetadas ao longo 
do individual processo de seu desenvolvimento como indivíduo -, para que seu 
comportamento e personalidade se adequem ao seu específico contexto vivencial. O 
Ego, portanto, precisa administrar forças antagônicas vindas do Id e do Superego; forças 
que exigem que o Ego satisfaça as pulsões e desejos advindas do Id e, ao mesmo tempo, 
reprimam os excessos externos ao Ego trazidos por conteúdos externos. 
Freud3 assegura que os “... mecanismos defensivos falsificam a percepção do sujeito, a 
ele fornecendo somente uma representação imperfeita e deformada da realidade”, tendo 
esses mecanismos, como objetivo-fim, preservar o sujeito. Com base nessa acepção, 
 
Página | 12 
 
dado é se concluir existirem situações na vida cotidiana de todos que podem 
desencadear sentimentos e, num crescente, comportamentos que, inconscientes, tem 
potencial para provocar reações não necessariamente embasadas naquilo que por ele 
vislumbrado como fruto de sua imaginada racionalidade; e isso ocorre por que, diante de 
fatores adversos (ou como tal interpretados pelo sujeito), são ativados, silenciosamente, 
os referenciados mecanismos de defesa, cujo objetivo é proteger o Ego de um possível 
desprazer psíquico - mecanismo de segurança e autopreservação. 
Segue, para reflexão, o conceito de alguns desses mecanismos de defesa, com rápidas 
explicações para cada um deles: 
a) Repressão - consiste em afastar da consciência eventos e ideias provocadores de 
ansiedade; algumas doenças psicossomáticas podem estar relacionadas com a 
repressão; 
b) Negação - refere-se aos fatos da realidade que são rejeitados e substituídos por uma 
fantasia; no caso da fantasia, o indivíduo cria uma situação em sua mente que é capaz de 
eliminar o desprazer iminente, mas que, na realidade, é impossível de se concretizar; é 
uma espécie de teatro mental onde o indivíduo protagoniza uma história diferente 
daquela que vive na realidade, onde seus desejos não podem ser satisfeitos; nessa 
realidade criada, o desejo é satisfeito e a ansiedade diminuída; 
c) Racionalização - é o processo pelo qual o indivíduo apresenta uma justificativa para uma 
ação inaceitável; 
d) Formação reativa - consiste em uma atitude ambivalente - p. ex., o ódio torna- se 
inconsciente, e assim permanece enquanto reacende o amor - assim o ódio é 
 
3 FREUD, S. Análise Terminável e Interminável. Edição Standard Brasileira das Obras 
Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 
 
substituído pelo amor, a crueldade pela gentileza, a obstinação pela submissão etc.; a 
formação reativa é um mecanismo caracterizado pela aderência a um pensamento 
contrário àquele que foi, de alguma forma, recalcado; nela, o pensamento recalcado se 
mantém como conteúdo inconsciente; as formações reativas têm a peculiaridade de se 
tornarem uma alteração na estrutura da personalidade, colocando o indivíduo em alerta, 
como se o perigo estivesse sempre presente e prestes a destruí-lo; um bom exemplo é o 
de uma pessoa com comportamentos homofóbicos, quando na verdade ela se sente 
atraída por pessoas do mesmo sexo; 
e) Isolamento - é o mecanismo em que um pensamento ou comportamento é isolado dos 
demais, de forma que fica desconectado de outros pensamentos; é uma defesa bastante 
 
Página | 13 
 
comum em casos de neurose obsessiva; os exemplos desse mecanismo são diversos, 
como rituais, fórmulas e outras ideias que buscam a cisão temporal com os demais 
pensamentos, na tentativa de defesa contra a pulsão de se relacionar com outro; 
f) Projeção - trata-se de um mecanismo de defesa no qual o indivíduo atribui a outros seus 
próprios desejos e impulso, dos quais, por lhes serem inaceitáveis, procuram 
inconscientemente se livrar; a tendência é que o indivíduo repudie impulsos ou 
comportamentosindesejáveis, atribuindo a outros; é o deslocamento de um impulso 
interno para o exterior, ou do indivíduo para outro; os conteúdos projetados são sempre 
desconhecidos da pessoa que projeta, justamente porque tiveram de ser expulsos, para 
evitar o desprazer de tomar contato com esses conteúdos; 
g) Compensação - esse mecanismo de defesa tem por característica a tentativa do 
indivíduo de equilibrar suas qualidades e deficiências, por exemplo, uma pessoa que não 
tem boas notas e se consola por ser bonita. 
h) Identificação - mecanismo baseado na assimilação de características de outros, que se 
transformam em modelos para o indivíduo; esse mecanismo é a base da constituição da 
personalidade humana; como exemplo podemos citar o momento em que as crianças 
assimilam características parentais, para posteriormente poderem se diferenciar; esse 
momento é importante e tem valor cognitivo à 
 
Página | 14 
 
 
medida que permite a construção de uma base onde a diferenciação pode ou não 
ocorrer; 
i) Regressão - é sem dúvida o mecanismo de defesa mais amplo; é o processo de retorno a 
uma fase anterior do desenvolvimento, onde as satisfações eram mais imediatas, ou o 
desprazer era menor; para melhor entendimento, um bom exemplo é o comportamento 
de crianças que, na dificuldade em seus relacionamentos com outras crianças, retornam, 
por exemplo, a fase oral e retomam o uso de chupetas, ou ainda, comem 
excessivamente. 
 
Isso posto, espero haver ficado claro que existem forças e mecanismos de defesa 
intangíveis todo tempo atuando sobre o consciente de todos, e que, em realidade, sua 
existência é que determina e/ou influencia o comportamento e a personalidade dos 
indivíduos na vida, no convívio social e no trabalho, exercendo sobre cada um de nós, de 
forma insidiosa, papel de grande relevância; e que, por assim ocorrer, as ações e decisões 
tomadas pelos profissionais de saúde - que muitas vezes podem até mesmo ser 
consideradas irracionais ou mesmo imaturas -, em verdade, refletem apenas crenças e 
valores impregnados por uma cultura que, desde os ciclos de sua específica formação, 
nele são incutidos. 
Portanto, mais importante do que a simples identificação de situações objetivas para 
efeito de planejamento de mudanças - como p. ex., implementação de alterações 
operacionais nos fazeres e processos do segmento -, é o entendimento das 
subjetividades presentes no “ser” e “fazer” dos profissionais de saúde que precisam ser 
entendidas e avaliadas, pois são elas que determinam / influenciam o “por quê” das 
práticas dos profissionais do segmento saúde serem feitas dessa ou daquela maneira. 
Assim, mostra- se como fundamental conhecer e bem saber lidar com os tácitos 
movimentos de defesa e negação desses profissionais, pois assim ocorrendo, as 
necessárias “intervenções” e/ou mudanças, quando realizadas, ver-se-ão atenuadas 
enquanto impacto para os recorrentes e inconscientes movimentos de resistência àquilo 
que, ainda que por hipótese, para eles seja entendido como possibilidades de 
interferência nas suas específicas “zonas de conforto”, deflagrando os citados 
mecanismos de defesa. 
 
Página | 15 
 
 
Essa percepção encontra acolhimento em Godoi, que citando Broekstra, afirma que: 
 
“... as organizações, entendidas como sistemas simbolicamente intermediados pela 
linguagem, clama por teorias conscientes de que os fatos não falam por si e de que todo 
saber esta incrustado na práxis comunicativa cotidiana [...] práxis está que é anterior à 
estrutura [...] atuando sobre a linguagem, sobre o discurso, um estudo psicanalítico busca 
revelar as significações encobertas na forma de vida organizacional, transparecendo a 
normalidade subjacente às práticas coletivas”. 
Outro autor, Godoi avança em sua percepção, afirmando que “... as interpretações 
inconscientes no cenário organizacional são excluídas do campo da dizibilidade, do 
espaço da linguagem pública nas organizações e os motivos de ações vinculados a essas 
interpretações tornam-se aparentemente inofensivos [...] a função da psicanálise reside 
em reverter esse processo de excomunhão, de exílio, possibilitando a tematização das 
relações de poder e a ressimbolização dos desejos que não mais se anulem aos poderes 
[...] através da escuta dos silêncios, daquilo que o imaginário oficial das organizações 
impede representar, a psicanálise indica a condição institucional dos sentidos 
dependentes de uma condição burocrática de significação”. 
 
Contribuições da Psicanálise aos Estudos Organizacionais 
 
Sobre essa temática, a partir de uma citação que, aparentemente simples, muito 
contribui para as reflexões aqui estimuladas, Horkheimer propõe ter a psicanálise por 
intenção "... emancipar o homem de sua situação escravizadora"4. A partir dessa 
assertiva, a reducionista visão de que essa ciência teria como limite de atuação o 
indivíduo, seus conflitos e predisposições interiores e exteriores, adquire um sentido bem 
 
4 HORKHEIMER, M. Eclipse of reason. RAMOS, A. G. A Nova Ciência das Organizações. Rio 
de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998. 
 
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mais amplo, pois se torna possível perceber o indivíduo não mais como uma “ilha”, 
escravizado em seu particular mundo, e sim dele, mundo, fazendo parte - uma teia 
universal onde tudo e todos são influenciados e influenciam-se mutuamente. Alcançada 
essa nova percepção, o espectro de atuação a psicanálise em muito se vê ampliado, 
existindo nos fundamentos propostos por Freud - seguidos, ampliados e, através de 
releituras contemporâneas, adaptados à realidade dos tempos atuais - indicadores que 
ajudam a se realizar produtivas incursões e leitura do comportamento dos indivíduos nas 
organizações - inclusive indicativos preventivos e de realinhamento do “ser” e “fazer” 
organizacional. 
Bebendo dessa fonte, Godoi cita Horkheimer no artigo “As Organizações como 
Formações do Inconsciente”, propondo a modelagem de uma estrutura epistemológica 
cujo objetivo é a utilização dos fundamentos da psicanálise no campo organizacional. 
Para tal fim, valeu-se a autora da trilha indicada por Horkheimer para identificar “... 
brechas para a inserção de um saber novo, em um movimento de justificativa do onde e 
do porquê da psicanálise”. A base epistêmica por ela desenvolvida possui “... três etapas: 
o auto alerta aos problemas epistemológicos gerados pelo translado de conceitos de um 
campo ao outro do saber; o esclarecimento da noção de sujeito com a qual trabalha a 
psicanálise, diferentemente da psicologia herdada pelos estudos organizacionais; e, por 
fim, a descrição das novas relações sujeito-objeto de estudo produzidas pela utilização 
da teoria psicanalítica no campo organizacional”. 
Enriquez5 compartilha a mesma direção de Godoi, pois quando trata da questão de 
transposição da teoria psicanalítica para o campo organizacional, afirma que numa 
organização “... cada um, apesar de suas diferenças, é colocado nas malhas de um jogo 
geral que desde Hegel podemos designar como “a luta pelo reconhecimento” ou ainda o 
desejo de reconhecimento”. Confirmando essa percepção, literalmente cita Hegel, que 
afirmava ser “... a consciência-de-si e para si na medida e pelo fato de que ela existe (em 
e para si) para uma outra consciência-de si, isto é, ela só existe enquanto entidade 
 
 
5 ENRIQUEZ, E. Imaginário social, recalcamento e repressão nas organizações. Revista 
Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: V. 36/37, p. 53-97. Jan/Hun, 1974. 
 
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reconhecida”. Segue Enriquez, propondo que para que haja consciência de si, é preciso 
que haja desejo [...] a consciência-de-si é desejo geral e fundamentalmente desejo do 
desejo do outro, isto é, desejo de reconhecimento [...] mas, nas organizações, não se trata 
de uma “luta de morte por outro prestígio”, mas de uma luta codificada que, ao invés de 
chegar a situar em duas posições extremas o mestre e oescravo, permitirá a cada um 
encontrar certos elementos de reasseguramento no interior de uma distribuição de 
papeis, a partir de status diferenciados no interior de uma pirâmide hierárquica”. 
Estabelecido esse cenário de permanente busca por identidade e reconhecimento, 
emerge no radar de prescrutações a questão da pulsão e do desejo, que atávicos da 
natureza humana, e de modo personalíssimo, tendem a criar um Ego imaginário cuja 
finalidade é experimentar como esse indivíduo vai ser colocado em cena pela 
organização 
- porém, para que esse cenário ganhe sentido é preciso mais bem entender como o Ego 
de cada ser humano se forma... Nesse sentido, de modo metafórico, podemos dizer que, 
de início, tal qual um espelho, conforme o autor assevera “... nós só podemos “ver” por 
que o outro nos “vê” e nos fala de nós”, ou seja, essa autoimagem se dá “... por uma 
identificação com a imagem dos outros sobre si que podemos ter uma imagem de nós 
mesmos” - nessa fase inicial de formação do Ego, se vê introjectado nos indivíduos a ideia 
de ser ele “mestre do que faz”, e em razão dessa equivocada percepção, ele passa 
miopemente a acreditar no que vê. Essa percepção, ao longo de sua vida, por haver sido 
incorporada ao seu Eu, será responsável por não conseguir apreender a realidade em sua 
plena dimensão, pois sua visão de mundo irá espelhar crenças e valores a ele propostos 
de fora para dentro - no segmento saúde, onde as formações exigem dedicação 
exclusiva em períodos que duram 04, 06, 08 e, em algumas especializações, até 10 anos, 
esse processo de espelhamento é bastante forte, ficando evidente que, mesmo 
inconscientemente, jovens recém-formados tendem a reproduzir, sem grandes críticas, 
comportamentos que a ele foram passados por seus mestres como “verdades” absolutas. 
Como complemento necessário para o entendimento do “imaginário” presente nas 
elucubrações de todos, Enriquez de modo bastante feliz afirma que “... a estruturação do 
imaginário para um sujeito é o que define o inconsciente como definitivamente 
inconsciente”. Enriquez prossegue sua linha de raciocínio, instigando aos leitores de seu 
artigo a refletir sobre “... porque o inconsciente permanece inconsciente”, ele próprio 
 
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respondendo que “... o desejo tem sempre necessidade de caminhos indiretos para 
aparecer e se fazer entender, pois como escreveu V. Ségallen, só pode existir “o desejo 
imaginante” [...] é porque o inconsciente permanece inconsciente, porque o imaginário ai 
vela, que se poderão desenvolver projetos sociais, utopias, vontades de transformação 
do mundo [...] “o homem, esse sonhador definitivo”, como dizia Breton, não parou de 
sonhar, e seu sonho visa ao outro ou ao desejo do outro [...] e é porque o ser humano é 
constituído a partir do outro que se deve procurar no olhar a voz dos outros, nas marcas 
de reconhecimento dissipadas, nos sinais do poder aceito, de uma maneira lacrimante e 
repetitiva, a prova de sua existência; de sua existência e de sua identidade (logro motor, 
sempre submetido ao risco da cilada definitiva, na possibilidade de ser apenas o espelho 
estendido pelos outros)”. 
Sintetizando o todo de possibilidades de reflexão e entendimento delineadas a partir da 
simples aproximação de apenas alguns dos fundamentos da psicanálise com a lógica de 
estruturação e funcionamento das organizações de saúde, com elevado grau de certeza 
me é permitido afirmar que os discursos técnicos encobridores dos profissionais do 
segmento saúde, em tese, não se manifestam de forma consciente, apenas 
externalizando na definição de comportamentos, através de acionamentos 
inconscientes, de mecanismos de defesa e proteção e, em paralelo a eles o 
espelhamento de uma pretérita cultura e práticas neles introjectadas por seus mestres ao 
longo de sua formação – esse espelhamento cultural, resultado de subliminares induções, 
favorecem que a visão dos contextos promovam uma distanciamento autoimposto de 
suas práticas e percepção do mundo “distanciadas” das necessidades e expectativas de 
seus clientes e da própria organização, gerando conflitos e ambientes de grande tensão 
pelo reconhecimento de si e domínio-pertencimento das organizações. No dizer de 
Godoi, aqueles que desconhecem as subjetividades até aqui expostas, “... arvoram-se em 
revelar a verdade, desvelar a realidade organizacional, ignoram que o realismo em um 
sentido estrito é impossível, uma vez que o objeto alcançado pelo desejo é sempre 
metonímico, é sempre outro [...] otdo discurso que intencione restituir a realidade deve 
manter-se em uma perspectiva de permanente deslizamento de sentido [...] não há como 
fotografar, diagnosticar a realidade organizacional sem o aparato necessário a lidar com 
as intermediações, com as múltiplas realidades sobrepostas 
 
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(Wirklichkeit): "não há nenhum desejo que seja admitido senão através da refração de 
todo tipo de mediações"”. No dizer de Lacan, “... o desejo de reconhecimento dos 
participantes da organização funciona como a porta imaginária ao reconhecimento do 
desejo simbólico. Em outros termos, só se tem acesso ao simbólico através do 
imaginário, ou seja, a demanda, os sintomas, as necessidades conscientes são os 
caminhos iniciais (e não podem ser tomados como fins últimos) ao reconhecimento do 
desejo em jogo [...] o sintoma é algo que vai no sentido do reconhecimento do desejo, 
porém sob a forma de um disfarce, de uma forma fechada, ilegível se não se possui a 
chave". 
Enquanto ressalva, entendo como necessário aqui ver-se esclarecido que a visão de 
espelhamento e formação do Ego, para sua total apreensão, implicaria num 
aprofundamento que aqui foge do objetivo em análise; entretanto, para o fim almejado, 
entendo que as inserções textualizadas, selecionadas como pontes capazes de conduzir 
você para uma compreensão mais abrangente do comportamento dos profissionais nas 
organizações de saúde, sejam suficientes para despertar interesse para um olhar mais 
atento do “por quê” os profissionais de saúde possuem um comportamento e reações de 
defesa e negação quando diante de algum tipo de confrontação ou solicitação de 
“explicações” sobre suas práticas e professos, cabendo a cada leitor, a partir das trilhas 
aqui indicadas, se for de seu interesse, ir adiante, pois ainda muito existe a se conhecer e 
são diversas as conexões possíveis de serem realizadas... 
Desde os primórdios da antiguidade (4.000 a.C. - invenção da escrita), o ser humano, a 
partir da empírica observação da natureza, busca entendimento para inter-relação 
estabelecida entre as dualidades nela identificadas - dia e noite, frio e calor, vida e morte 
etc. Imaginando existir opostos entre essas dicotomias, os povos do oriente começaram 
mais atentamente a observar tais fenômenos, buscando melhor compreender sua 
realidade, concluindo que, em verdade, entre esses opostos haviam complementaridades 
e que, para que a vida, a saúde e o bem-estar fossem alcançados era necessário que 
nesse processo houvesse equilíbrio... Dando concretude a tais observações, Lao Tse 
(antiga china) formulou a seguinte premissa: tudo na natureza é composto por dois 
aspectos opostos, que se completam entre si, condição necessária para que o equilíbrio 
seja alcançado em cada individualizado processo - esses aspectos opostos foram por ele 
nominado como princípios Yin e Yang. Essa elaboração empírica, 
 
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resguardada as diferenças de nomenclatura das correntes de pensamento dos povos 
orientais, fundamenta “práticas de cura” que, até hoje, são reconhecidas como eficazes 
na prevenção e tratamento dos seres humanos - Ayurveda, MTC e seus desdobramentos 
terapêuticos. Apesar de serem os polos das dicotomias considerados como princípios 
opostos e independentes, eles são complementares entre si, servindo esse entendimento 
de meio para alcance de uma melhor percepção e racional compreensãodas muitas 
contradições identificadas na natureza humana, seja em termos de anatomia / fisiologia 
seja em termos de emoção / sentimento. 
Muito adiante no tempo, Descartes de modo transversal ressignifica esses 
fundamentos, resgatando a importância da razão e dos recursos do pensamento como 
caminho capaz de propiciar ao homem a avaliação de si mesmo e de tudo mais... 
Entretanto, mesmo caminhando seu pensamento nessa direção, barreiras são de alguma 
forma levantadas ao avanço de suas hipóteses, quando ele próprio chama a atenção para 
a possibilidade da subjetividade e a singularidade dos indivíduos poderem confundir o 
raciocínio objetivo e fazer com que conclusões equivocadas sejam alcançadas - essas 
barreiras, talvez, devam ser vistas com bastante parcimônia, face os limites e barreiras 
cognitivas presentes há época. Esse anseio se de criar métodos para neutralização de 
interferências do pensamento subjetivo em proposições de caráter geral - típico do 
pensamento cartesiano a partir daí surgido - abriu caminho para formulação da chamada 
ciência moderna (tudo precisa ser medido, pesado, precisa ser possível ver-se replicado 
etc.). 
Cerca de dois séculos depois, através de Charcot e Freud, as possíveis 
interferências da singularidade dos indivíduos e suas particulares percepções da 
racionalidade são de uma forma bem mais ampla repensadas, ou seja, a importância das 
subjetividades se vê ressaltada. Conforme propõe Denise Furtado, é esse “... movimento 
que vai inaugurar a contemporaneidade, propondo caracterizá-lo como momento da 
prevalência do apelo à libido, apelo ao amor e à sexualidade como via de solução dos 
problemas da vida. Será ele que dará margem ao surgimento da psicanálise”. 
Quanto a questão objeto do presente texto, a metáfora do barco, apresentada 
pela autora, traz bastante clareza ao sentido prático da proposição “Para que serve a 
 
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Psicanálise?”, quando cita “... que se não se pode mudar a direção do vento, pode-se ao 
menos alterar a posição das velas”, esclarecendo que, às vezes, “... precisamos de ajuda 
para isso, e é aí que a Psicanálise pode nos servir”. 
A Psicanálise, em sentido amplo, poderia ver-se entendida como a clínica do 
desejo e seus impasses - o obscuro conflito entre o desejo que move o sujeito e aquilo 
que o censura -, daí a importância do sentido ético presente em todos seus processos de 
“intervenção” profissional. Nessa direção, a grande contribuição trazida por Freud foi a de 
tratar o sintoma não como um defeito ou degeneração, mas como uma via de expressão 
do sujeito. Daí o fundamento a ser observado quando da avaliação de qualquer processo 
psicanalítico: o “servir” da psicanálise exige que o sujeito “peça ajuda”, “peça a análise” e, 
principalmente, “deseje ser analisado”. Isso porque, sem que o sujeito efetivamente se 
decida pela terapia e bem compreenda os riscos que uma análise psicanalítica representa 
- o paciente será levado a abrir as portas de seu inconsciente -, seu recuo é previsível 
quando há eminência de acesso aos seus conflitos mais interiores. 
Freud percebeu, ao longo da construção de seus estudos e teorias, que os 
sintomas manifestos pelo sujeito, por maiores incômodos que lhe traga, representam 
uma manifestação inconsciente por ele encontrada para externalizar seus conflitos 
interiores - um mecanismo de defesa paradoxal entre sua autocensura e seus íntimos 
desejos. Como proposto por Denise Furtado, “... o desejo, enquanto conceito 
psicanalítico, é o ressentimento de uma falta, nostalgia da suposta presença da “Coisa” 
que teria nos salvado do desamparo”. De modo diferente das linhas tradicionais de 
intervenção, dirigida para o ideal, a psicanálise busca o auto direcionamento do sujeito 
em relação ao real, visto que o proposto direcionamento ao ideal tende a ser impossível 
(inalcançável), na medida em que o universo dos desejos e necessidades do sujeito é 
personalíssimo e concebido através de representações - assim o sendo, as coisas não são 
o que são, e sim o que representam para ele (sujeito). 
Portanto, cabe a Psicanálise tratar vazios existenciais presente nos indivíduos pela 
falta de alguma coisa ou falta de alguém – sentimentos de incompletude gerados por 
desejos e conflitos interiores não satisfeitos. A intenção do tratamento não é a cura, até 
porque não se pode curar conflitos que são da natureza humana... Cabe ao profissional 
 
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levar o sujeito a encontrar caminhos próprios para redirecionar a forma de como 
experenciar sua vida. 
 
A História do Movimento Psicanalítico 
 
(Fichamento de Conteúdo / Citações) Por Antonio Teixeira de Carvalho Filho 
 
 
Freud, S. A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros 
trabalhos (1914-1916). São Paulo: Vol. XIV, Edição standart brasileira das obras psicológicas 
completas de Sigmund Freud, 1980. 
O autor apresenta, numa linha de tempo, as dificuldades por ele encontradas ao longo da 
construção da Psicanálise. Nesse caminhar construtivista de elaboração de suas teorias, 
ressalta as contribuições recebidas de Charcot e Breuer, creditando a esse último, 
inclusive, o mérito pela criação da psicanálise. 
Relata também as muitas críticas e injúrias manifestas por seus pares (médicos), bem 
como as reiteradas tentativas de descaracterização da essência psicanalítica por ele 
delineada a partir de suas teorias. Por último, apresenta o processo de crescimento da 
Psicanálise no mundo, bem como, novamente, relata as correntes desfiguradoras de 
pensamento que surgiram a partir da expansão da aceitação das práticas psicanalíticas – 
inclusive detalhando as dissociações havidas, em relação à essência psicanalítica, 
promovida por nomes como Jung, Adler e Lacan, dentre outros – inclusive os 
movimentos de poder e busca pelo protagonismo surgidos a partir, principalmente, de 
Congressos de Psicanálise havidos ao longo do período relatado no livro. 
Freud encerra a narrativa citando a metáfora de “Faca de Lichtenberg”, referindo-se às 
modificações introduzidas por Jung à Psicanálise: “Mudou o cabo e botou uma lâmina 
nova, e porque gravou nela o mesmo nome espera que seja considerada como o 
instrumento original”. 
Seguem algumas citações pinçadas do todo que, segundo entendo, ilustram o 
pensamento de Freud: 
 
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“A finalidade do presente artigo foi estabelecer claramente os postulados e hipóteses 
fundamentais da psicanálise, demonstrar que as teorias de Adler e Jung eram totalmente 
incompatíveis com eles, e inferir que só levaria à confusão conjuntos de pontos de vista 
contraditórios receberem todos a mesma designação” 
“Embora por muitos anos a opinião popular continuasse a insistir em que havia “três 
escolas de psicanálise”, o argumento de Freud finalmente prevaleceu. Adler já escolhera a 
designação de “Psicologia Individual” para as suas teorias e logo depois Jung adotou a de 
“Psicologia Analítica” para as suas” 
“Em 1909, no salão de conferências de uma universidade norte-americana, tive a primeira 
oportunidade de falar em público sobre a psicanálise. A ocasião foi de grande 
importância para a minha obra, e movido por este pensamento declarei então que não 
havia sido eu quem criara a psicanálise: o mérito cabia a Joseph Breuer, cuja obra tinha 
sido realizada numa época em que eu era apenas um aluno preocupado em passar nos 
exames. Depois que fiz aquelas conferências, entretanto, alguns amigos bem- 
intencionados suscitaram em mim uma dúvida: não teria eu, naquela oportunidade, 
manifestado minha gratidão de uma maneira exagerada? Na opinião deles, devia ter feito 
o que já estava acostumado a fazer: encarado o “método catártico” de Breuer como um 
estágio preliminar da psicanálise, e a psicanálise em si como tendo tido início quando 
deixei de usar a técnica hipnótica e introduzi as associações livres” 
“As descobertas de Breuer...tinham como fundamento o fatode que os sintomas de 
pacientes histéricos baseiam-se em cenas do seu passado que lhes causaram grande 
impressão mas foram esquecidas (traumas); a terapêutica, nisto apoiada, que consistia 
em fazê-los lembrar e reproduzir essas experiências num estado de hipnose (catarse); e o 
fragmento de teoria disto inferido, segundo o qual esses sintomas representavam um 
emprego anormal de doses de excitação que não haviam sido descarregadas 
(conversão)... Creio que, na realidade, esta distinção só se aplica ao termo, e que a 
concepção nos ocorreu simultaneamente e em conjunto” 
Afirma Freud que “o conflito do momento e o fator desencadeante da doença devem ser 
trazidos para o primeiro plano na análise... isto era exatamente o que Breuer e eu 
fazíamos quando começamos a trabalhar com o método catártico. Conduzíamos a 
 
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atenção do paciente diretamente para a cena traumática na qual o sintoma surgira e nos 
esforçávamos por descobrir o conflito mental envolvido naquela cena, e por liberar a 
emoção. As associações do paciente retrocediam, a partir da cena que tentávamos 
elucidar, até as experiências mais antigas, e compeliam a análise, que tencionava corrigir 
o presente, a ocupar-se do passado nela reprimida. Ao longo deste trabalho, 
descobrimos 
o processo mental, característico das neuroses, que chamei depois de “regressão” ... a 
princípio parecia nos levar regularmente até a puberdade; em seguida até os anos da 
infância que até então permaneciam inacessíveis a qualquer espécie de exploração” 
” Minha primeira divergência com Breuer surgiu de uma questão relativa ao mecanismo 
psíquico mais apurado da histeria. Ele dava preferência a uma teoria que, se poderia 
dizer, ainda era até certo ponto fisiológica; tentava explicar a divisão mental nos 
pacientes histéricos pela ausência de comunicação entre vários estados mentais 
(“estados de consciência”, como os chamávamos naquela época), e construiu então a 
teoria dos “estados hipnóides” cujos produtos se supunham penetrar na “consciência 
desperta” como corpos estranhos não assimilados. Eu via a questão de forma menos 
científica; parecia discernir por toda parte tendências e motivos análogos aos da vida 
cotidiana, e encarava a própria divisão psíquica como o efeito de um processo de 
repulsão que naquela época denominei de “defesa”, e depois de “repressão”” 
“A teoria da repressão é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da 
psicanálise. É a parte mais essencial dela e, todavia, nada mais é senão a formulação 
teórica de um fenômeno que pode ser observado quantas vezes se desejar se se 
empreende a análise de um neurótico sem recorrer a hipnose. Em tais casos encontra-se 
uma resistência que se opõe ao trabalho da análise e, a fim de frustrá-lo, alega falha de 
memória. O uso da hipnose ocultava essa resistência; por conseguinte, a história da 
psicanálise propriamente dita só começa com a nova técnica que dispensa a hipnose” 
“A análise nos tinha levado até esses traumas sexuais infantis pelo caminho certo e, no 
entanto, eles não eram verdadeiros. Deixamos de pisar em terra firme... Por fim, veio a 
reflexão de que, afinal de contas, não se tem o direito de desesperar por não ver 
confirmadas as próprias expectativas; deve-se fazer uma revisão dessas expectativas. Se 
os pacientes histéricos remontam seus sintomas e traumas que são fictícios, então o fato 
 
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novo que surge é precisamente que eles criam tais cenas na fantasia, e essa realidade 
psíquica precisa ser levada em conta ao lado da realidade prática. Essa reflexão foi logo 
seguida pela descoberta de que essas fantasias se destinavam a encobrir a atividade auto 
erótica dos primeiros anos de infância, embelezá-la e elevá-la a um plano mais alto. E 
agora, de detrás das fantasias, toda a gama da vida sexual da criança vinha à luz” 
“Pouco preciso dizer sobre a interpretação de sonhos. Surgiu como os prenúncios da 
inovação técnica que eu adotara quando, após um vago pressentimento, resolvi 
substituir a hipnose pela livre associação... o simbolismo na linguagem dos sonhos foi 
quase a última coisa a tornar-se acessível a mim, pois as associações da pessoa que 
sonha nos ajudam muito pouco a compreender símbolos... Só depois é que vim a apreciar 
em sua plena extensão essa modalidade de expressão dos sonhos. Isso ocorreu em parte 
por influência das obras de Stekel, cujos primeiros trabalhos têm muito mérito, mas que 
depois se desencaminhou totalmente. A estreita ligação entre a interpretação 
psicanalítica dos sonhos e a arte de interpretá-los segundo a prática tida em tão alta 
conta na antiguidade, só se tornou clara para mim muito depois. Mais tarde, descobri a 
característica essencial e a parte mais importante da minha teoria dos sonhos, ou seja, 
que a distorção dos sonhos é consequência de um conflito interno, uma espécie de 
desonestidade interna” 
“Aprendi a controlar as tendências especulativas e a seguir o conselho não esquecido de 
meu mestre, Charcot: olhar as mesmas coisas repetidas vezes até que elas comecem a 
falar por si mesmas” 
“Minha Interpretação de Sonhos e meu livro sobre chistes, entre outros, mostraram desde 
o início que as teorias da psicanálise não podem ficar restritas ao campo médico, mas são 
passíveis de aplicação a várias outras ciências mentais” 
“A análise nos proporcionou não somente a explicação de manifestações patológicas, 
como revelou sua conexão com a vida mental normal e desvendou relações 
insuspeitadas entre a psiquiatria e as demais ciências que lidam com as atividades da 
mente” 
” A concepção da atividade mental inconsciente possibilitou fazer-se uma idéia 
preliminar da natureza da atividade criadora na literatura de imaginação, e a 
compreensão, adquirida no estudo dos neuróticos, do papel desempenhado pelos 
impulsos instintivos 
 
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nos permitiu descobrir as fontes da produção artística e nos colocou face a dois 
problemas: como o artista reage a essa instigação e quais os meios que ele emprega para 
disfarçar suas reações” 
“Depois de se ter ouvido com cuidado a voz da autocrítica e de haver prestado certa 
atenção às críticas dos adversários, não resta mais nada a fazer senão sustentar, com 
todas as forças, as próprias convicções baseadas na experiência. A pessoa deve 
contentar-se em agir com o máximo de honestidade, não devendo assumir o papel de 
juiz, reservado ao futuro remoto. Dar ênfase a opiniões pessoais arbitrárias, em assuntos 
científicos, é mau; constitui claramente uma tentativa de questionar o direito da 
psicanálise de ser considerada uma ciência - aliás, depois de já ter sido esse valor 
depreciado pelo que foi dito antes [sobre a natureza relativa de todo o conhecimento]” 
” Os homens são fortes enquanto representam uma idéia forte; se enfraquecem quando 
se opõem a ela. A psicanálise sobreviverá a essa perda e a compensará com a conquista 
de novos partidários. Para concluir, quero expressar o desejo de que a sorte proporcione 
um caminho de elevação muito agradável a todos aqueles que acharam a estada no 
submundo da psicanálise desagradável demais para o seu gosto. E possamos nós, os que 
ficamos, desenvolver até o fim, sem atropelos, nosso trabalho nas profundezas” 
 
 
Conceitos do Inconsciente 
 
Por Antonio Teixeira de Carvalho Filho 
 
 
 
Entender o conceito de inconsciente, como o percebo, exige a ampliação de nossa visão 
sobre aquilo que, convencional e socialmente, se vê aceito como objetivo - real. 
Enquanto o consciente externaliza-se como uma espécie de visão de mundo auto 
imposta para o cotidiano coletivo dos indivíduos, temporalmente mediada por 
experiências, lembranças e ações intencionais - arbitrada a partir de ciclos evolutivos 
temporais, que impõem à sociedade parâmetros civilizatórios pré-definidos como 
mecanismos de pesos e contrapesos -, o inconsciente representa, por assim dizer, a 
individualização do sujeito(apesar dos arquétipos e instintos que representam forças e 
padrões universalmente 
 
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predominantes). O consciente, como propõe Freud em relação ao tempo de sua objetiva 
manifestação, tende a tornar-se uma espécie de objeto do discurso filosófico-social, 
substancializando-se segundo a vertente do pensamento prevalecente - o ocidental, de 
modo muito particular, tem grande dificuldade para pensar qualquer coisa que não seja 
objetiva, ou seja, tudo precisa ser medido, pesado, quantificado, possível de ser replicado 
etc., tendendo ele (homem ocidental) a opor resistência ou mesmo negação a conceitos 
de natureza subjetiva. Portanto, o inconsciente, por ser subjetivo, um sistema dinâmico, 
fundamentalmente regido por processos primários, representa o que podemos entender 
como um “pedaço submerso” da verdadeira dimensão do indivíduo, que livre dos freios 
impostos pela sociedade, coabita em constante interação com seu consciente, de algum 
modo interferindo em suas manifestações objetivas. 
O cartesiano conceito prevalecente que antecedeu Freud, muito especialmente aquele 
que embasa a chamada “ciência médica”, propunha que tudo quanto o ser humano dizia, 
fazia ou sentia era produto de sua consciência - portanto, sua percepção de mundo, seja 
ela descritiva, sistemática, dinâmica, econômica, ética etc., constituíam-se manifestações 
que externalizavam seu fazer e dizer objetivo – o endeusamento da razão se afigurava 
mandatório. Freud rompeu com esse paradigma, abrindo a porta do obscuro existente 
nos indivíduos, avançando especulações para além do nível consciente do ser, 
constatando que o inconsciente existia e poderia, em alguma medida, “comandar” a vida 
e até mesmo a fisiologia humana. Assim o sendo, de modo simplista, conforme entendo 
cabe aqui ser referenciado, propôs Freud que o indivíduo, conseguindo alcançar o 
necessário equilíbrio entre o consciente e o inconsciente ao longo de seu individual 
processo evolutivo – segmentos interdependentes, que se complementam entre si -, a 
tendência seria a de o indivíduo se tornar completo; ao passo que, não conseguindo 
alcançar esse equilíbrio, ou seja, não conseguindo o indivíduo superar suas obscuridades, 
a tendência possível seria a de que ele se tornasse um neurótico... 
Isso posto, reduzindo o escopo do texto ao objeto proposto como questionamento, 
podemos de modo livre reproduzir os conceitos indicados a partir da visão manifesta por 
Freud: 
Inconsciente Descritivo: descritivo pressupõe a observação do inconsciente de fora, ou 
seja, a partir da perspectiva de um observador – nesse caso nos será possível apenas 
perceber os produtos; são atos inesperados, não racionalizados, repentinamente 
surgidos em nossa consciência, que ultrapassam nosso saber e intenções, como p. ex. Os 
atos falhos, esquecimentos, sonhos; sejam essas manifestações normais ou patológicas, 
 
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consciência do sujeito e para o psicanalista; entretanto, mesmo que, como profissionais, 
não consigamos identificar, num primeiro momento, sua razão, constituem-se a 
evidência de existir um processo inconsciente obscuro e ativo, passível de ver-se o 
produto obtido através delas permanecem surpreendentes e enigmáticos para a 
externalizado; 
 
Inconsciente Sistemático: segundo propõe Freud, nele leva-se em consideração uma 
rede de representações (conjunção de um traço de acontecimentos reais, investidos de 
energia), onde a fonte de excitação chama-se representação de coisa (por elas 
consistirem em imagens visuais, acústicas ou táteis de coisas ou pedaços de coisas 
impressas no inconsciente), e os produtos finais são as manifestações deturpadas do 
inconsciente; 
 
Inconsciente Dinâmico: seria a luta da ação que impulsiona e o recalcamento que 
impede, a fonte de excitação é chamada de representantes recalcados, e seu produto 
final são considerados produtos do inconsciente, estes que surgem sutilmente na 
consciência, devido a ação do recalcamento - os sintomas neuróticos são os exemplos 
clássicos dessa expressão; Freud considerava ser o recalcamento um jogo complexo de 
movimentos de energia, ou seja, uma espécie de jogo que, se por um lado objetiva conter 
e fixar no inconsciente as representações recalcadas (recalcamento primário), de outro 
lado busca reconduzir para o inconsciente eventuais representações que fugiram para o 
nível consciente (recalcamento secundário). 
 
Inconsciente Econômico: pode ele ser definido como a fonte de excitação representante 
das pulsões, e os produtos do inconsciente econômico são as fantasias ou 
comportamentos afetivos e escolhas amorosas inexplicáveis; 
Inconsciente Ético: pode ele ser definido como desejo (movimento de uma intenção 
inconsciente com o objetivo de satisfação absoluta) – como produto podemos citar as 
realizações parciais do desejo contrapostas à idealização do desejo pleno, que nunca é 
alcançado. 
 
Quem É O Psicanálise E O Que Ele Faz? 
 
O psicanalista é a pessoa que estudou uma formação livre em psicanálise ou curso de 
pós-graduação (obedecendo o tripé de formação). 
O Formado em psicanálise, o psicanalista tem a função de equilibrar e tornar mais clara a 
relação do “eu” interior do paciente com seus questionamentos internos e com os 
 
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problemas do mundo. 
O método terapêutico criado pelo médico austríaco Sigmund Freud, que consiste na 
interpretação dos conteúdos inconscientes de palavras, ações e produções imaginárias 
de uma pessoa, baseada nas associações livres, na interpretação de sonhos e na 
transferência. o psicanalista pode ter formação em diferentes escolas psicanalíticas 
Esta abordagem psicoterápica também pode ser usada por profissionais de diversas 
áreas (serviço social, pedagogia, terapia holística, enfermagem e outros) além de 
psicólogos, psiquiatras e cada profissional pode utilizá-la de acordo com os limites da 
ciência estudada em sua formação. 
O diferencial do Psicanalista está no seu recurso primordial de trabalho: a interpretação 
do conteúdo do inconsciente bem como dos seus efeitos nas ações, palavras e 
pensamentos do indivíduo, o que se faz pelo manejo de duas ferramentas principais: a 
fala e a escuta. 
A busca por esse profissional parte, geralmente, de pessoas que questionam o 
comportamento humano através de pressões sociais, no trabalho e nos 
relacionamentos — e buscam compreender melhor a si mesmas para que, assim, possam 
entender como lidar com as frustrações de um mundo que não dá todas as respstas que 
esperam. 
São dois os fundamentos da teoria psicanalítica: 
 
1) Os processos psíquicos são em sua imensa maioria inconscientes, a consciência não é 
mais do que uma fração de nossa vida psíquica total; 
2) 2) os processos psíquicos inconscientes são dominados por nossas tendências sexuais. 
 
O Ampara Legal do Trabalho do Psicanalista No Brasil 
 
Entender o que cada profissional ligado à psicanálise e saúde mental tem como função é 
primordial para iniciar a busca pela melhora e cura da sua desordem mental. E lembre- se 
sempre de que problemas ligados à ordem mental e emocional não devem ser motivo de 
vergonha! 
• Possuir uma formação livre em psicanálise ou pós-graduação em psicanálise que 
obedeça ao tripé de formação psicanalítica. (Tanto a pós-graduação quanto a formação 
livre em psicanálise pelo Instituto GAIO possibilita a atuação como psicanalista). 
• CBO 2515-50 do Ministério do Trabalho - MTE; 
http://www.psicologiaviva.com.br/blog/e-possivel-encontrar-a-felicidade-no-trabalho/
http://www.psicologiaviva.com.br/blog/relacionamento-interpessoal/
http://www.psicologiaviva.com.br/blog/relacionamento-interpessoal/
 
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• Estar vinculado em uma sociedade psicanalítica (Mas não obrigatória) A área de 
psicanálise não conselho de classe ou órgão regulador. 
• Estar em processo de estudos contínuo em psicanálise e supervisão (análise); 
• Ser ético, profissionale comprometido com a teoria e o método psicanalítico. 
Pelo CBO 2515-50 o psicanalista pode atuar como “psicoterapeuta/ terapeuta”; 
Nas áreas: consultório particular, clínicas, hospitais, escolas, órgãos públicos (área de 
saúde), Instituições sociais e particulares. 
Qual a área onde se concentra maior parte dos psicanalistas? 
Consultório particular, clínicas integradas, Organizações Sociais, Escolas e Hospitais (...) O 
psicanalista quando trabalha como “liberal” ele precifica o valor da sua consulta 
“sessão”, hoje varia de R$50,00 à 150,00 (média) ou mais.... 
 
Em média se ele tiver 15-20h semanais a média seria 2.075,00-3.700 reais (R$50,00- 
R$80,00) 
As instituições no geral costumam pagar em média R$2000,00 à 2.900,00 segundo a 
CATHO. 
Quando o psicanalista atua em órgãos público a média pode varia de R$1.200 à 2500,00 
reais.
 
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Referências Bibliográficas 
 
FREUD, Sigmund. Um estudo autobiográfico. Rio de Janeiro: Imago, 1996a. 
. Uma breve descrição da Psicanálise. In:. Obras psicológicas completas de Sigmund 
Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, vol XIX, 1996b p. 215-234. 
. Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos. In: . Obras 
psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: 
Imago, vol XIX, 1996c p. 277–286. 
. O Ego e o Id. In: . Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard 
brasileira. Rio de Janeiro: Imago, vol XIX, 1996b p.15 – 82. 1996d. 
. Inibição, sintomas e ansiedade. In: . Obras psicológicas completas 
de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago vol. XX, 1996e. 
 
ENRIQUEZ, E. Imaginário social, recalcamento e repressão nas organizações. Revista 
Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: V. 36/37, p. 53-97. Jan/Hun, 1974. 
MAURANO, D. Para que serve a psicanálise? (Organizadora da coleção Nina Saroldi). 3.ed. 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010. 
MOURA, Joviane Aparecida de; SILVESTRE, Josel. Introdução à Psicanálise. Psicologado, 
[S.l.]. (2008). Disponível em 
https://psicologado.com.br/abordagens/psicanalise/introducao-a- psicanalise . Acesso 
em 28 Set 2020. 
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. 5.ª Ed. São Paulo: Cultix, 
1992. In: CORDEIRO, E. F. O inconsciente em Sigmund Freud. Disponível em < 
https://www.psicologia.pt/ artigos/ver_artigo.php?codigo=A0745>. Acesso em: 
10/04/2020. 
https://www.psicologia.pt/%20artigos/ver_artigo.php?codigo=A0745

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