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Página | 1 Página | 2 (...) Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais: somos também o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos 'sem querer'. Sigmund Freud Sobre a Disciplina: Esta disciplina da pós-graduação possibilitará a compreensão da Introdução e a história da psicanálise criada por Sigmund Freud (1856-1939). Veremos a trajetória e história da psicanálise está indissociavelmente ligada à vida de Freud. A teoria criada por ele em Viena no início do século XX se difundiu por inúmeras áreas do saber, e seus termos circulam até mesmo em conversas coloquiais. Freud inaugurou uma nova área do conhecimento, uma nova forma de ver e pensar o mundo: as neuroses, a infância, a sexualidade, os relacionamentos humanos, a subjetividade, a sociedade etc. Docentes: Prof. Ms. Alessandro Euzébio Prof. Ms. Antônio Teixeira de Carvalho Filho Coordenação Geral de Pós-graduação Prof. Ms. Alessandro Euzébio E-mail: posgraduacao@institutogaio.com.br (11) 3277-4415 mailto:posgraduacao@institutogaio.com.br Página | 3 SUMÁRIO Olá seja bem-vindo (a) à Disciplina de Introdução e História da Psicanálise ............. 4 O Surgimento da Psicanálise................................................................................................. 4 Trajetória da Psicanálise como Área Livre e Científica .................................................... 6 Psicanálise e a Psicoterapia ................................................................................................... 7 O que Acontece na Psicanálise? ...........................................................................................8 Fundamentos da Psicanálise e o comportamento dos indivíduos ............................. 10 Mecanismos de Defesa ......................................................................................................... 11 Contribuições da Psicanálise aos Estudos Organizacionais ......................................... 15 A História do Movimento Psicanalítico .............................................................................22 Conceitos do Inconsciente ................................................................................................. 26 Quem É O Psicanálise E O Que Ele Faz? .......................................................................... 28 O Ampara Legal do Trabalho do Psicanalista No Brasil................................................ 29 Referências Bibliográficas ................................................................................................... 31 Página | 4 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA PSICANÁLISE Olá seja bem-vindo (a) à Disciplina de Introdução e História da Psicanálise (...) A maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois liberdade envolve responsabilidade, e a das pessoas tem medo da responsabilidade. Sigmund Freud O Surgimento da Psicanálise No desdobrar ao final do século XIX e início do Século XX , Freud, então um jovem médico neurologista, em Viena, incomodado com a pouca concretude cientifica das propostas terapêuticas oferecidas pela ciência médica para os quadros de histeria que se avolumavam na unidade hospitalar em que trabalhava, ao ter contato com inovadoras propostas de entendimento e tratamento para essa doença - muito especialmente pesquisas e propostas terapêuticas desenvolvidas por Charcot e Breuer -, entusiasmado pelos iniciais resultados por eles alcançados, decidiu-se por buscar respostas para além dos paradigmas limitantes do racionalismo e da exacerbada biologização das doenças, alcançando como inicial referência a existência do inconsciente - um revolucionário conceito que, através de estudos posteriores, se ampliou, adquirindo uma original e inovadora concepção, servindo ele, o inconsciente, como fundamento para criação, por Freud, da Psicanálise. Fonte: Google – hypenesse.com.br Interessante ponto de vista é textualizado por Maurano1 em relação à relevância do trabalho de Freud, quando de modo objetivo e bastante simples, afirma a que “... a grande contribuição trazida por 1 MAURANO, D. Para que serve a psicanálise? (Organizadora da coleção Nina Saroldi). 3.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010. Página | 5 Uma vez contextualizado, ainda que de modo bastante resumido, os cenários motivadores do surgimento da Psicanálise, entendo como relevante ver-se ressaltada, enquanto agregação de conhecimento, sua importância para a ciência contemporânea, socorrendo-me para tanto de manifestação de Schultz & Schultz2, que bem esclarecem essa visão de importância, asseverando que: “... com a Psicanálise e a Teoria do Inconsciente, Freud realiza a terceira grande ferida ao narcisismo humano [...] a primeira ferida foi perpetrada, séculos antes, pôr Copérnico, com a Teoria Heliocêntrica [...] a segunda ferida foi realizada por Darwin, que tira o homem do patamar de senhor e centro da criação, para o qual tudo foi feito, uma espécie única e destacada, e afirma que o homem é uma espécie superior que é proveniente de formas inferiores da vida animal [...] Freud realiza a terceira ferida narcísica ao criar a Psicanálise, descentrando o sujeito de si mesmo ao afirmar que o homem não é senhor de sua rópria casa, mas coabita com forças conflituosas existentes no sistema inconsciente [...] o homem, antes visto como posseiro de um local privilegiado (o lugar do conhecimento e da verdade), agora é visto como um ser movido por forças que sua própria razão desconhece e sobre as quais ele tem pouco ou nenhum controle,, portanto, o homem não é um agente racional sobre a vida, como se pensava [...] a psicanálise, portanto, promove uma ruptura com o saber existente, derrubando a razão e a consciência do lugar sagrado em que se encontrava”. (SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ,2020) 2 SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. 5.ª Ed. São Paulo: Cultix, 1992. In: CORDEIRO, E. F. O inconsciente em Sigmund Freud. Disponível em < https://www.psicologia.pt/ artigos/ver_artigo.php?codigo=A0745>. Acesso em: 10/04/2020. Freud foi a de tratar o sintoma não como um defeito ou degeneração, mas como uma via de expressão do sujeito”. https://www.psicologia.pt/%20artigos/ver_artigo.php?codigo=A0745 https://www.psicologia.pt/%20artigos/ver_artigo.php?codigo=A0745 Página | 6 Trajetória da Psicanálise como Área Livre e Científica A Psicanálise como vimos é uma disciplina ou área científica instituída por Sigmund Freud há cerca de mais de cento e vinte cinco anos. Designa-se teoria psicanalítica a todo um corpo de hipóteses que dizem respeito ao funcionamento e ao desenvolvimento da mente do Homem. Tem em sua base uma parte da psicologia geral e compreende aquelas que são consideradas as mais importantes contribuições para à psicologia humana e da medicina. Duas dessas hipóteses fundamentais, que foram exatamente confirmadas, são o princípio do determinismo psíquico, ou da causalidade, e a proposição de que a consciência é antes um atributo excepcional, do que um atributo comum dos processos psíquicos. Por outras palavras, para a teoria psicanalítica, os processos mentais inconscientes são de grande frequência e significado no que diz respeito ao funcionamento mental normal, bem como anormal. O sentido deste princípio leva-nos a admitir que nada do que se passa na mente é fortuito, nada acontece por acaso. Cada evento psíquico é determinado por aqueles que o precederam. (INSTITUTO GAIO 2018) Num contexto mais histórico, a primeira tentativa de explicar e classificar as doenças mentais, levou a separação dos doentes em dois tipos: Simples (semgrandes problemas ou distúrbios mentais) e Loucos/Alienados (for a da realidade, enormes perturbações) Os primeiros medicamentos para estas doenças datam do século XX, sendo estes à base de poções poliburmadas (burmetos) que pretendiam acalmar o sujeito. Na década de 50, descobriu-se um medicamento que baixava a tensão arterial, o que se pensava também que acalmava o indivíduo. Depois seguiram-se os antidepressivos (caso do LSD e do Prozac) que, embora fossem extremamente fortes, não ajudam em nada os pacientes. No final do século XIX, Sigmund Freud revogou que as neuroses se dão ao nível de todo o corpo, não obstante as influências do meio também terem alguma importância. Freud introduz a noção de inconsciente, afirmando que a maior parte das nossas ações vêm daí. Esta ideia valeu ao psicanalista a rejeição por parte da sociedade médica da altura. É em 1928, que a Filosofia reconhece oficialmente o inconsciente no Homem. A psicanálise surge como tentativa de explicar e curar as doenças do foro psíquico – razões e porquês dos sintomas – e para tal é necessário a busca da história clínica do sujeito. Página | 7 Psicanálise e a Psicoterapia Ainda hoje encontro inúmeras pessoas que estão muito confusas quanto à definição e o objetivo da Terapia, da Psicanálise ou da Psicoterapia. Muitas frustram-se ao escolher um tratamento e esperar o resultado de outro (que não vai chegar). O termo Terapia (do grego therapeía) quer dizer, de forma muito ampla, tratamento ou cura de doenças. Essa palavra é utilizada por uma gama muito grande de profissionais da saúde (das mais variadas formações) e serve como “um grande guarda-chuva” para divulgar qualquer forma de intervenção que busque a promoção da saúde (ex.: Acupuntura, Psicologia, Psicanálise, Biofeedback, Shiastu, Reiki, Psicoterapia, Hipnose, etc.). A psicoterapia é um termo genérico para falar das Terapias que atuam sobre o funcionamento psíquico/psicológico. Existem vários tipos de Psicoterapias (Psicanálise, Humanista, Cognitiva, Comportamental, Corporal, Transpessoal, etc.) que se diferenciam dependendo do tipo de entendimento das origens, manutenção, evolução e tratamento dos sinais e sintomas. A psicanálise como já vimos é uma área focada no tratamento psíquico criado em 1896 pelo austríaco Sigmund Freud. A Psicanálise é um método de intervenção clínica para quadros de neurose e de psicose que usa a investigação dos processos psicológicos através da “atenção flutuante” do psicanalista que irá analisar e interpretar a “livre associação” (falar tudo que vem a mente, mesmo que considere sem importância) do “analisando” (paciente). A psicanálise, de modo geral, tende a ser um tratamento de longo prazo. Portanto caro pós-graduando chegamos finalmente ao último ponto, a interpretação, que a psicanálise considera como a única arma eficiente em seu tratamento. Interpretar, no sentido psicanalítico, quer dizer comunicar ao paciente as emoções, fantasias e reações que ele ignora, que são inconscientes, e que causam suas ansiedades e sintomas. A interpretação dá ao paciente o "insight", isto é, uma percepção interna, de si próprio. O "insight" ganho pela interpretação é ao mesmo tempo uma compreensão intelectual e uma experiência emocional. Vou ilustrar com um exemplo: um paciente sentiu, na infância, muita agressividade contra seu pai. Este era muito severo e autoritário, o que impediu nosso paciente de expressar a menor agressividade contra o pai. Por medo do pai, ficou submisso e obediente, e esta submissão permaneceu como Página | 8 traço proeminente de seu caráter. Tinha muito medo de seus superiores, seja na escola, ou mais tarde no trabalho. Sempre submisso, perdeu toda iniciativa, não conseguia progredir e usar a capacidade que tinha. Não sabia quando odiava, no fundo, seus superiores, nem conhecia suas capacidades construtivas. Retirou-se mais e mais do convívio social onde existe competição, porque competição sempre necessita de certo grau de agressividade, o que era intolerável para o paciente, tanto a sua agressividade, como a dos outros. Agora, somente como exemplo vamos usar neste caso os métodos psicoterápicos dos quais falei: Sugestão: tenta-se persuadir o paciente de que ele é mais importante do que pensa e que não precisa ter medo de ninguém. Podemos ainda hipnotizá-lo, tentando fazer desaparecer a inibição e a vergonha que sente dos colegas e superiores. Também na hipnose podemos recuperar situações onde sua agressividade e iniciativa foram esmagadas pelo pai - hipnoterapia baseada na catarse. Podemos orientá-lo, apoiá-lo, encorajá-lo em relação a seus problemas - seria educação e suporte. Podemos dizer-lhe que tem medo dos superiores, medo de competir com os colegas, porque teve medo do pai. Isto não é ainda uma interpretação no sentido psicanalítico, mas um mero esclarecimento intelectual de pouco valor. O que Acontece na Psicanálise? Na relação analítica, embora o analista mostre compreensão e objetividade e embora a situação analítica lhe permita liberdade de expressar-se à vontade, o paciente vai sentir medo do analista, mostrar inibição e comportar-se com submissão e obediência. O paciente não está consciente deste comportamento. Se esta submissão e obediência são mostradas, quer dizer, interpretadas, no momento em que ocorrem na sessão, o paciente vai experimentar surpresa, vai ganhar nova percepção de si mesmo. Isto é "insight", e o "insight" foi ganho pela interpretação. Interpretação também é quando podemos mostrar ao paciente que ele, em certos momentos, nos odeia como odiava o pai em determinadas situações do passado. Assim ele vai compreender e sentir que sua submissão e obediência são somente uma fachada. Mostrando sua agressividade reprimida e seu ódio nos momentos em que surgem contra nós e principalmente à luz de suas próprias palavras e gestos, fazemos uma interpretação. É o "insight" que o paciente recebe pela interpretação, e é o fator mais importante para movimentar o processo de cura. Página | 9 Chegamos agora a mais uma diferença fundamental que existe entre psicanálise e as outras formas de psicoterapia. Isto é, como é utilizada a transferência do paciente. O primeiro grupo, da sugestão, orientação, educação e catarse, usa os aspectos positivos, quer dizer, a dependência, a confiança do paciente e sua idealização do terapeuta para melhor alcançar seus fins, de melhor poder influenciar o paciente. Os aspectos negativos da transferência, como hostilidade e desconfiança, ou são ignorados ou suprimidos por meio de gratificações e provas de apoio e amizade. As terapias analíticas ecléticas do segundo grupo analisam as relações atuais entre paciente e terapeuta, mas sem se interessar muito por suas origens infantis. Também elas não podem prescindir de apoio, orientação e educação. Somente a psicanálise recorre à análise sistemática e detalhada das relações transferenciais e suas origens. Mais umas palavras sobre o sentido da transferência no tratamento, o que é tão mal compreendido. No curso do tratamento desenvolve-se uma relação emocional entre paciente e analista com fortes elementos de afeição e hostilidade, que não podem ser concebidos apenas no quadro da situação presente. Esta relação, como já disse, constitui uma projeção no analista das relações infantis, reais e imaginárias do paciente. É fator importante que o paciente, no curso do tratamento, sinta de novo as relações que foram para ele, durante a sua infância, geradoras de perturbações. Na transferência, as relações insatisfatórias reais ou imaginárias com figuras importantes da infância são reativadas e revividas nas relações do paciente com o analista. Estas relações infantis e os sentimentos ligados a elas podem ser interpretados no momento exato de sua vivência. Desta maneira a interpretação fica sendo uma experiênciaemocional. Acho que os senhores podem compreender assim que a psicanálise não focaliza somente o passado, a infância, como muita gente pensa, nem somente o presente, mas sempre a interrelação entre o passado e o presente. A transferência faz compreender ao analista como o paciente sentiu e agiu no passado, e as situações da infância e as fantasias infantis que o paciente nos conta ajudam a compreender seus conflitos e seu comportamento atual. Os dois aspectos são interpretados para ele. Página | 10 Fundamentos da Psicanálise e o comportamento dos indivíduos De modo didático, buscando alinhar o todo contido nos fundamentos e princípios norteadores da Psicanálise ao comportamento dos indivíduos nas organizações, é importante ser entendido que Freud descobriu que as ações humanas, apesar de manifestas através de seu consciente, são condicionadas pelo inconsciente, havendo demonstrando que, acessando essa área (o inconsciente), torna-se possível identificar a raiz de certos distúrbios e comportamentos humanos. Na década de 1920, quando da apresentação da segunda tópica de seu trabalho, Freud propôs um modelo estrutural do aparelho psíquico, dividindo-o em três partes: Id, Ego e Superego. Segue abaixo algumas referenciais conceituais, que básicas, são apresentadas para efeito de facilitação do entendimento para a interrelação estabelecida entre essas estruturas - condição necessária para percepção da importância do que não é dizível, porém exerce grande influência sobre o comportamento humano nas organizações: a) Id - instância totalmente inconsciente; é formada por impulsos e desejos, desconhecendo para alcance da sua satisfação a razão e valores morais; instinto voltado à preservação da vida e a autopreservação, sempre em busca do prazer, o Id não lida bem com frustrações e quer sempre uma solução imediata para tudo - pulsões e desejos; b) Ego - O ego é racional e controla os instintos; constitui-se componente intermediário das energias mentais (atuando entre o Id (inconsciente) e o Superego (Ego ideal / também consciente); o Ego controla as experiências conscientes e regula a relação do indivíduo com o meio por ele ocupado; Página | 11 através dele, aprendemos sobre a realidade externa e orientamos nosso comportamento no sentido de evitar estados dolorosos, de ansiedade e punições; c) Superego - sua atuação objetiva reprimir e criticar ideias, impulsos e sentimentos que chegam ao Ego (consciente), julgando e decidindo terem os mesmos potencial para afetar o comportamento e/ou personalidade do indivíduo (o Superego, em sua essência, é judicativo, ou seja, é ele quem julga e decide). Mecanismos de Defesa Alcançado entendimento, ainda que de modo não tão aprofundado como se poderia avançar - até por não se constituir, esse, o objeto do presente trabalho -, porém esperando que os conceitos balizadores das funções do Id, Ego e Superego hajam ficado evidenciadas, bem como a interdependências estabelecidas entre essas três instâncias do aparelho psíquicos, necessário agora descrever os mecanismos de defesa do Ego, os quais se processam, em ciclos contínuos, a partir dessas instâncias. Esses mecanismos, presentes nos processos da psique de todos – sejam elas pessoas hígidas ou na daqueles que apresentem algum tipo de distúrbio ou disfunção -, afiguram- se formas de proteção e segurança do Ego contra as interferências do Id e do Superego. O Ego, como já citado, por controlar as experiências conscientes do Eu, regulando a relação do indivíduo com o meio por ele ocupado no seu específico contexto - inclusive orientando o comportamento dos indivíduos na evitação de estados dolorosos, de ansiedade e, muito especialmente, de desejos que a ele (Ego) chegam, emanados do Id - , se vê, por um lado, permanentemente instado pelo Id para satisfação de seus impulsos e desejos, sem qualquer freio da razão ou valorações morais lhes seja imposto, enquanto por outro lado, sofre pressões do Superego, que busca mediar, através de “freios e contrapesos" imposto por suas personalíssimas crenças e valores - introjetadas ao longo do individual processo de seu desenvolvimento como indivíduo -, para que seu comportamento e personalidade se adequem ao seu específico contexto vivencial. O Ego, portanto, precisa administrar forças antagônicas vindas do Id e do Superego; forças que exigem que o Ego satisfaça as pulsões e desejos advindas do Id e, ao mesmo tempo, reprimam os excessos externos ao Ego trazidos por conteúdos externos. Freud3 assegura que os “... mecanismos defensivos falsificam a percepção do sujeito, a ele fornecendo somente uma representação imperfeita e deformada da realidade”, tendo esses mecanismos, como objetivo-fim, preservar o sujeito. Com base nessa acepção, Página | 12 dado é se concluir existirem situações na vida cotidiana de todos que podem desencadear sentimentos e, num crescente, comportamentos que, inconscientes, tem potencial para provocar reações não necessariamente embasadas naquilo que por ele vislumbrado como fruto de sua imaginada racionalidade; e isso ocorre por que, diante de fatores adversos (ou como tal interpretados pelo sujeito), são ativados, silenciosamente, os referenciados mecanismos de defesa, cujo objetivo é proteger o Ego de um possível desprazer psíquico - mecanismo de segurança e autopreservação. Segue, para reflexão, o conceito de alguns desses mecanismos de defesa, com rápidas explicações para cada um deles: a) Repressão - consiste em afastar da consciência eventos e ideias provocadores de ansiedade; algumas doenças psicossomáticas podem estar relacionadas com a repressão; b) Negação - refere-se aos fatos da realidade que são rejeitados e substituídos por uma fantasia; no caso da fantasia, o indivíduo cria uma situação em sua mente que é capaz de eliminar o desprazer iminente, mas que, na realidade, é impossível de se concretizar; é uma espécie de teatro mental onde o indivíduo protagoniza uma história diferente daquela que vive na realidade, onde seus desejos não podem ser satisfeitos; nessa realidade criada, o desejo é satisfeito e a ansiedade diminuída; c) Racionalização - é o processo pelo qual o indivíduo apresenta uma justificativa para uma ação inaceitável; d) Formação reativa - consiste em uma atitude ambivalente - p. ex., o ódio torna- se inconsciente, e assim permanece enquanto reacende o amor - assim o ódio é 3 FREUD, S. Análise Terminável e Interminável. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996. substituído pelo amor, a crueldade pela gentileza, a obstinação pela submissão etc.; a formação reativa é um mecanismo caracterizado pela aderência a um pensamento contrário àquele que foi, de alguma forma, recalcado; nela, o pensamento recalcado se mantém como conteúdo inconsciente; as formações reativas têm a peculiaridade de se tornarem uma alteração na estrutura da personalidade, colocando o indivíduo em alerta, como se o perigo estivesse sempre presente e prestes a destruí-lo; um bom exemplo é o de uma pessoa com comportamentos homofóbicos, quando na verdade ela se sente atraída por pessoas do mesmo sexo; e) Isolamento - é o mecanismo em que um pensamento ou comportamento é isolado dos demais, de forma que fica desconectado de outros pensamentos; é uma defesa bastante Página | 13 comum em casos de neurose obsessiva; os exemplos desse mecanismo são diversos, como rituais, fórmulas e outras ideias que buscam a cisão temporal com os demais pensamentos, na tentativa de defesa contra a pulsão de se relacionar com outro; f) Projeção - trata-se de um mecanismo de defesa no qual o indivíduo atribui a outros seus próprios desejos e impulso, dos quais, por lhes serem inaceitáveis, procuram inconscientemente se livrar; a tendência é que o indivíduo repudie impulsos ou comportamentosindesejáveis, atribuindo a outros; é o deslocamento de um impulso interno para o exterior, ou do indivíduo para outro; os conteúdos projetados são sempre desconhecidos da pessoa que projeta, justamente porque tiveram de ser expulsos, para evitar o desprazer de tomar contato com esses conteúdos; g) Compensação - esse mecanismo de defesa tem por característica a tentativa do indivíduo de equilibrar suas qualidades e deficiências, por exemplo, uma pessoa que não tem boas notas e se consola por ser bonita. h) Identificação - mecanismo baseado na assimilação de características de outros, que se transformam em modelos para o indivíduo; esse mecanismo é a base da constituição da personalidade humana; como exemplo podemos citar o momento em que as crianças assimilam características parentais, para posteriormente poderem se diferenciar; esse momento é importante e tem valor cognitivo à Página | 14 medida que permite a construção de uma base onde a diferenciação pode ou não ocorrer; i) Regressão - é sem dúvida o mecanismo de defesa mais amplo; é o processo de retorno a uma fase anterior do desenvolvimento, onde as satisfações eram mais imediatas, ou o desprazer era menor; para melhor entendimento, um bom exemplo é o comportamento de crianças que, na dificuldade em seus relacionamentos com outras crianças, retornam, por exemplo, a fase oral e retomam o uso de chupetas, ou ainda, comem excessivamente. Isso posto, espero haver ficado claro que existem forças e mecanismos de defesa intangíveis todo tempo atuando sobre o consciente de todos, e que, em realidade, sua existência é que determina e/ou influencia o comportamento e a personalidade dos indivíduos na vida, no convívio social e no trabalho, exercendo sobre cada um de nós, de forma insidiosa, papel de grande relevância; e que, por assim ocorrer, as ações e decisões tomadas pelos profissionais de saúde - que muitas vezes podem até mesmo ser consideradas irracionais ou mesmo imaturas -, em verdade, refletem apenas crenças e valores impregnados por uma cultura que, desde os ciclos de sua específica formação, nele são incutidos. Portanto, mais importante do que a simples identificação de situações objetivas para efeito de planejamento de mudanças - como p. ex., implementação de alterações operacionais nos fazeres e processos do segmento -, é o entendimento das subjetividades presentes no “ser” e “fazer” dos profissionais de saúde que precisam ser entendidas e avaliadas, pois são elas que determinam / influenciam o “por quê” das práticas dos profissionais do segmento saúde serem feitas dessa ou daquela maneira. Assim, mostra- se como fundamental conhecer e bem saber lidar com os tácitos movimentos de defesa e negação desses profissionais, pois assim ocorrendo, as necessárias “intervenções” e/ou mudanças, quando realizadas, ver-se-ão atenuadas enquanto impacto para os recorrentes e inconscientes movimentos de resistência àquilo que, ainda que por hipótese, para eles seja entendido como possibilidades de interferência nas suas específicas “zonas de conforto”, deflagrando os citados mecanismos de defesa. Página | 15 Essa percepção encontra acolhimento em Godoi, que citando Broekstra, afirma que: “... as organizações, entendidas como sistemas simbolicamente intermediados pela linguagem, clama por teorias conscientes de que os fatos não falam por si e de que todo saber esta incrustado na práxis comunicativa cotidiana [...] práxis está que é anterior à estrutura [...] atuando sobre a linguagem, sobre o discurso, um estudo psicanalítico busca revelar as significações encobertas na forma de vida organizacional, transparecendo a normalidade subjacente às práticas coletivas”. Outro autor, Godoi avança em sua percepção, afirmando que “... as interpretações inconscientes no cenário organizacional são excluídas do campo da dizibilidade, do espaço da linguagem pública nas organizações e os motivos de ações vinculados a essas interpretações tornam-se aparentemente inofensivos [...] a função da psicanálise reside em reverter esse processo de excomunhão, de exílio, possibilitando a tematização das relações de poder e a ressimbolização dos desejos que não mais se anulem aos poderes [...] através da escuta dos silêncios, daquilo que o imaginário oficial das organizações impede representar, a psicanálise indica a condição institucional dos sentidos dependentes de uma condição burocrática de significação”. Contribuições da Psicanálise aos Estudos Organizacionais Sobre essa temática, a partir de uma citação que, aparentemente simples, muito contribui para as reflexões aqui estimuladas, Horkheimer propõe ter a psicanálise por intenção "... emancipar o homem de sua situação escravizadora"4. A partir dessa assertiva, a reducionista visão de que essa ciência teria como limite de atuação o indivíduo, seus conflitos e predisposições interiores e exteriores, adquire um sentido bem 4 HORKHEIMER, M. Eclipse of reason. RAMOS, A. G. A Nova Ciência das Organizações. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998. Página | 16 mais amplo, pois se torna possível perceber o indivíduo não mais como uma “ilha”, escravizado em seu particular mundo, e sim dele, mundo, fazendo parte - uma teia universal onde tudo e todos são influenciados e influenciam-se mutuamente. Alcançada essa nova percepção, o espectro de atuação a psicanálise em muito se vê ampliado, existindo nos fundamentos propostos por Freud - seguidos, ampliados e, através de releituras contemporâneas, adaptados à realidade dos tempos atuais - indicadores que ajudam a se realizar produtivas incursões e leitura do comportamento dos indivíduos nas organizações - inclusive indicativos preventivos e de realinhamento do “ser” e “fazer” organizacional. Bebendo dessa fonte, Godoi cita Horkheimer no artigo “As Organizações como Formações do Inconsciente”, propondo a modelagem de uma estrutura epistemológica cujo objetivo é a utilização dos fundamentos da psicanálise no campo organizacional. Para tal fim, valeu-se a autora da trilha indicada por Horkheimer para identificar “... brechas para a inserção de um saber novo, em um movimento de justificativa do onde e do porquê da psicanálise”. A base epistêmica por ela desenvolvida possui “... três etapas: o auto alerta aos problemas epistemológicos gerados pelo translado de conceitos de um campo ao outro do saber; o esclarecimento da noção de sujeito com a qual trabalha a psicanálise, diferentemente da psicologia herdada pelos estudos organizacionais; e, por fim, a descrição das novas relações sujeito-objeto de estudo produzidas pela utilização da teoria psicanalítica no campo organizacional”. Enriquez5 compartilha a mesma direção de Godoi, pois quando trata da questão de transposição da teoria psicanalítica para o campo organizacional, afirma que numa organização “... cada um, apesar de suas diferenças, é colocado nas malhas de um jogo geral que desde Hegel podemos designar como “a luta pelo reconhecimento” ou ainda o desejo de reconhecimento”. Confirmando essa percepção, literalmente cita Hegel, que afirmava ser “... a consciência-de-si e para si na medida e pelo fato de que ela existe (em e para si) para uma outra consciência-de si, isto é, ela só existe enquanto entidade 5 ENRIQUEZ, E. Imaginário social, recalcamento e repressão nas organizações. Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: V. 36/37, p. 53-97. Jan/Hun, 1974. Página | 17 reconhecida”. Segue Enriquez, propondo que para que haja consciência de si, é preciso que haja desejo [...] a consciência-de-si é desejo geral e fundamentalmente desejo do desejo do outro, isto é, desejo de reconhecimento [...] mas, nas organizações, não se trata de uma “luta de morte por outro prestígio”, mas de uma luta codificada que, ao invés de chegar a situar em duas posições extremas o mestre e oescravo, permitirá a cada um encontrar certos elementos de reasseguramento no interior de uma distribuição de papeis, a partir de status diferenciados no interior de uma pirâmide hierárquica”. Estabelecido esse cenário de permanente busca por identidade e reconhecimento, emerge no radar de prescrutações a questão da pulsão e do desejo, que atávicos da natureza humana, e de modo personalíssimo, tendem a criar um Ego imaginário cuja finalidade é experimentar como esse indivíduo vai ser colocado em cena pela organização - porém, para que esse cenário ganhe sentido é preciso mais bem entender como o Ego de cada ser humano se forma... Nesse sentido, de modo metafórico, podemos dizer que, de início, tal qual um espelho, conforme o autor assevera “... nós só podemos “ver” por que o outro nos “vê” e nos fala de nós”, ou seja, essa autoimagem se dá “... por uma identificação com a imagem dos outros sobre si que podemos ter uma imagem de nós mesmos” - nessa fase inicial de formação do Ego, se vê introjectado nos indivíduos a ideia de ser ele “mestre do que faz”, e em razão dessa equivocada percepção, ele passa miopemente a acreditar no que vê. Essa percepção, ao longo de sua vida, por haver sido incorporada ao seu Eu, será responsável por não conseguir apreender a realidade em sua plena dimensão, pois sua visão de mundo irá espelhar crenças e valores a ele propostos de fora para dentro - no segmento saúde, onde as formações exigem dedicação exclusiva em períodos que duram 04, 06, 08 e, em algumas especializações, até 10 anos, esse processo de espelhamento é bastante forte, ficando evidente que, mesmo inconscientemente, jovens recém-formados tendem a reproduzir, sem grandes críticas, comportamentos que a ele foram passados por seus mestres como “verdades” absolutas. Como complemento necessário para o entendimento do “imaginário” presente nas elucubrações de todos, Enriquez de modo bastante feliz afirma que “... a estruturação do imaginário para um sujeito é o que define o inconsciente como definitivamente inconsciente”. Enriquez prossegue sua linha de raciocínio, instigando aos leitores de seu artigo a refletir sobre “... porque o inconsciente permanece inconsciente”, ele próprio Página | 18 respondendo que “... o desejo tem sempre necessidade de caminhos indiretos para aparecer e se fazer entender, pois como escreveu V. Ségallen, só pode existir “o desejo imaginante” [...] é porque o inconsciente permanece inconsciente, porque o imaginário ai vela, que se poderão desenvolver projetos sociais, utopias, vontades de transformação do mundo [...] “o homem, esse sonhador definitivo”, como dizia Breton, não parou de sonhar, e seu sonho visa ao outro ou ao desejo do outro [...] e é porque o ser humano é constituído a partir do outro que se deve procurar no olhar a voz dos outros, nas marcas de reconhecimento dissipadas, nos sinais do poder aceito, de uma maneira lacrimante e repetitiva, a prova de sua existência; de sua existência e de sua identidade (logro motor, sempre submetido ao risco da cilada definitiva, na possibilidade de ser apenas o espelho estendido pelos outros)”. Sintetizando o todo de possibilidades de reflexão e entendimento delineadas a partir da simples aproximação de apenas alguns dos fundamentos da psicanálise com a lógica de estruturação e funcionamento das organizações de saúde, com elevado grau de certeza me é permitido afirmar que os discursos técnicos encobridores dos profissionais do segmento saúde, em tese, não se manifestam de forma consciente, apenas externalizando na definição de comportamentos, através de acionamentos inconscientes, de mecanismos de defesa e proteção e, em paralelo a eles o espelhamento de uma pretérita cultura e práticas neles introjectadas por seus mestres ao longo de sua formação – esse espelhamento cultural, resultado de subliminares induções, favorecem que a visão dos contextos promovam uma distanciamento autoimposto de suas práticas e percepção do mundo “distanciadas” das necessidades e expectativas de seus clientes e da própria organização, gerando conflitos e ambientes de grande tensão pelo reconhecimento de si e domínio-pertencimento das organizações. No dizer de Godoi, aqueles que desconhecem as subjetividades até aqui expostas, “... arvoram-se em revelar a verdade, desvelar a realidade organizacional, ignoram que o realismo em um sentido estrito é impossível, uma vez que o objeto alcançado pelo desejo é sempre metonímico, é sempre outro [...] otdo discurso que intencione restituir a realidade deve manter-se em uma perspectiva de permanente deslizamento de sentido [...] não há como fotografar, diagnosticar a realidade organizacional sem o aparato necessário a lidar com as intermediações, com as múltiplas realidades sobrepostas Página | 19 (Wirklichkeit): "não há nenhum desejo que seja admitido senão através da refração de todo tipo de mediações"”. No dizer de Lacan, “... o desejo de reconhecimento dos participantes da organização funciona como a porta imaginária ao reconhecimento do desejo simbólico. Em outros termos, só se tem acesso ao simbólico através do imaginário, ou seja, a demanda, os sintomas, as necessidades conscientes são os caminhos iniciais (e não podem ser tomados como fins últimos) ao reconhecimento do desejo em jogo [...] o sintoma é algo que vai no sentido do reconhecimento do desejo, porém sob a forma de um disfarce, de uma forma fechada, ilegível se não se possui a chave". Enquanto ressalva, entendo como necessário aqui ver-se esclarecido que a visão de espelhamento e formação do Ego, para sua total apreensão, implicaria num aprofundamento que aqui foge do objetivo em análise; entretanto, para o fim almejado, entendo que as inserções textualizadas, selecionadas como pontes capazes de conduzir você para uma compreensão mais abrangente do comportamento dos profissionais nas organizações de saúde, sejam suficientes para despertar interesse para um olhar mais atento do “por quê” os profissionais de saúde possuem um comportamento e reações de defesa e negação quando diante de algum tipo de confrontação ou solicitação de “explicações” sobre suas práticas e professos, cabendo a cada leitor, a partir das trilhas aqui indicadas, se for de seu interesse, ir adiante, pois ainda muito existe a se conhecer e são diversas as conexões possíveis de serem realizadas... Desde os primórdios da antiguidade (4.000 a.C. - invenção da escrita), o ser humano, a partir da empírica observação da natureza, busca entendimento para inter-relação estabelecida entre as dualidades nela identificadas - dia e noite, frio e calor, vida e morte etc. Imaginando existir opostos entre essas dicotomias, os povos do oriente começaram mais atentamente a observar tais fenômenos, buscando melhor compreender sua realidade, concluindo que, em verdade, entre esses opostos haviam complementaridades e que, para que a vida, a saúde e o bem-estar fossem alcançados era necessário que nesse processo houvesse equilíbrio... Dando concretude a tais observações, Lao Tse (antiga china) formulou a seguinte premissa: tudo na natureza é composto por dois aspectos opostos, que se completam entre si, condição necessária para que o equilíbrio seja alcançado em cada individualizado processo - esses aspectos opostos foram por ele nominado como princípios Yin e Yang. Essa elaboração empírica, Página | 20 resguardada as diferenças de nomenclatura das correntes de pensamento dos povos orientais, fundamenta “práticas de cura” que, até hoje, são reconhecidas como eficazes na prevenção e tratamento dos seres humanos - Ayurveda, MTC e seus desdobramentos terapêuticos. Apesar de serem os polos das dicotomias considerados como princípios opostos e independentes, eles são complementares entre si, servindo esse entendimento de meio para alcance de uma melhor percepção e racional compreensãodas muitas contradições identificadas na natureza humana, seja em termos de anatomia / fisiologia seja em termos de emoção / sentimento. Muito adiante no tempo, Descartes de modo transversal ressignifica esses fundamentos, resgatando a importância da razão e dos recursos do pensamento como caminho capaz de propiciar ao homem a avaliação de si mesmo e de tudo mais... Entretanto, mesmo caminhando seu pensamento nessa direção, barreiras são de alguma forma levantadas ao avanço de suas hipóteses, quando ele próprio chama a atenção para a possibilidade da subjetividade e a singularidade dos indivíduos poderem confundir o raciocínio objetivo e fazer com que conclusões equivocadas sejam alcançadas - essas barreiras, talvez, devam ser vistas com bastante parcimônia, face os limites e barreiras cognitivas presentes há época. Esse anseio se de criar métodos para neutralização de interferências do pensamento subjetivo em proposições de caráter geral - típico do pensamento cartesiano a partir daí surgido - abriu caminho para formulação da chamada ciência moderna (tudo precisa ser medido, pesado, precisa ser possível ver-se replicado etc.). Cerca de dois séculos depois, através de Charcot e Freud, as possíveis interferências da singularidade dos indivíduos e suas particulares percepções da racionalidade são de uma forma bem mais ampla repensadas, ou seja, a importância das subjetividades se vê ressaltada. Conforme propõe Denise Furtado, é esse “... movimento que vai inaugurar a contemporaneidade, propondo caracterizá-lo como momento da prevalência do apelo à libido, apelo ao amor e à sexualidade como via de solução dos problemas da vida. Será ele que dará margem ao surgimento da psicanálise”. Quanto a questão objeto do presente texto, a metáfora do barco, apresentada pela autora, traz bastante clareza ao sentido prático da proposição “Para que serve a Página | 21 Psicanálise?”, quando cita “... que se não se pode mudar a direção do vento, pode-se ao menos alterar a posição das velas”, esclarecendo que, às vezes, “... precisamos de ajuda para isso, e é aí que a Psicanálise pode nos servir”. A Psicanálise, em sentido amplo, poderia ver-se entendida como a clínica do desejo e seus impasses - o obscuro conflito entre o desejo que move o sujeito e aquilo que o censura -, daí a importância do sentido ético presente em todos seus processos de “intervenção” profissional. Nessa direção, a grande contribuição trazida por Freud foi a de tratar o sintoma não como um defeito ou degeneração, mas como uma via de expressão do sujeito. Daí o fundamento a ser observado quando da avaliação de qualquer processo psicanalítico: o “servir” da psicanálise exige que o sujeito “peça ajuda”, “peça a análise” e, principalmente, “deseje ser analisado”. Isso porque, sem que o sujeito efetivamente se decida pela terapia e bem compreenda os riscos que uma análise psicanalítica representa - o paciente será levado a abrir as portas de seu inconsciente -, seu recuo é previsível quando há eminência de acesso aos seus conflitos mais interiores. Freud percebeu, ao longo da construção de seus estudos e teorias, que os sintomas manifestos pelo sujeito, por maiores incômodos que lhe traga, representam uma manifestação inconsciente por ele encontrada para externalizar seus conflitos interiores - um mecanismo de defesa paradoxal entre sua autocensura e seus íntimos desejos. Como proposto por Denise Furtado, “... o desejo, enquanto conceito psicanalítico, é o ressentimento de uma falta, nostalgia da suposta presença da “Coisa” que teria nos salvado do desamparo”. De modo diferente das linhas tradicionais de intervenção, dirigida para o ideal, a psicanálise busca o auto direcionamento do sujeito em relação ao real, visto que o proposto direcionamento ao ideal tende a ser impossível (inalcançável), na medida em que o universo dos desejos e necessidades do sujeito é personalíssimo e concebido através de representações - assim o sendo, as coisas não são o que são, e sim o que representam para ele (sujeito). Portanto, cabe a Psicanálise tratar vazios existenciais presente nos indivíduos pela falta de alguma coisa ou falta de alguém – sentimentos de incompletude gerados por desejos e conflitos interiores não satisfeitos. A intenção do tratamento não é a cura, até porque não se pode curar conflitos que são da natureza humana... Cabe ao profissional Página | 22 levar o sujeito a encontrar caminhos próprios para redirecionar a forma de como experenciar sua vida. A História do Movimento Psicanalítico (Fichamento de Conteúdo / Citações) Por Antonio Teixeira de Carvalho Filho Freud, S. A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). São Paulo: Vol. XIV, Edição standart brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 1980. O autor apresenta, numa linha de tempo, as dificuldades por ele encontradas ao longo da construção da Psicanálise. Nesse caminhar construtivista de elaboração de suas teorias, ressalta as contribuições recebidas de Charcot e Breuer, creditando a esse último, inclusive, o mérito pela criação da psicanálise. Relata também as muitas críticas e injúrias manifestas por seus pares (médicos), bem como as reiteradas tentativas de descaracterização da essência psicanalítica por ele delineada a partir de suas teorias. Por último, apresenta o processo de crescimento da Psicanálise no mundo, bem como, novamente, relata as correntes desfiguradoras de pensamento que surgiram a partir da expansão da aceitação das práticas psicanalíticas – inclusive detalhando as dissociações havidas, em relação à essência psicanalítica, promovida por nomes como Jung, Adler e Lacan, dentre outros – inclusive os movimentos de poder e busca pelo protagonismo surgidos a partir, principalmente, de Congressos de Psicanálise havidos ao longo do período relatado no livro. Freud encerra a narrativa citando a metáfora de “Faca de Lichtenberg”, referindo-se às modificações introduzidas por Jung à Psicanálise: “Mudou o cabo e botou uma lâmina nova, e porque gravou nela o mesmo nome espera que seja considerada como o instrumento original”. Seguem algumas citações pinçadas do todo que, segundo entendo, ilustram o pensamento de Freud: Página | 23 “A finalidade do presente artigo foi estabelecer claramente os postulados e hipóteses fundamentais da psicanálise, demonstrar que as teorias de Adler e Jung eram totalmente incompatíveis com eles, e inferir que só levaria à confusão conjuntos de pontos de vista contraditórios receberem todos a mesma designação” “Embora por muitos anos a opinião popular continuasse a insistir em que havia “três escolas de psicanálise”, o argumento de Freud finalmente prevaleceu. Adler já escolhera a designação de “Psicologia Individual” para as suas teorias e logo depois Jung adotou a de “Psicologia Analítica” para as suas” “Em 1909, no salão de conferências de uma universidade norte-americana, tive a primeira oportunidade de falar em público sobre a psicanálise. A ocasião foi de grande importância para a minha obra, e movido por este pensamento declarei então que não havia sido eu quem criara a psicanálise: o mérito cabia a Joseph Breuer, cuja obra tinha sido realizada numa época em que eu era apenas um aluno preocupado em passar nos exames. Depois que fiz aquelas conferências, entretanto, alguns amigos bem- intencionados suscitaram em mim uma dúvida: não teria eu, naquela oportunidade, manifestado minha gratidão de uma maneira exagerada? Na opinião deles, devia ter feito o que já estava acostumado a fazer: encarado o “método catártico” de Breuer como um estágio preliminar da psicanálise, e a psicanálise em si como tendo tido início quando deixei de usar a técnica hipnótica e introduzi as associações livres” “As descobertas de Breuer...tinham como fundamento o fatode que os sintomas de pacientes histéricos baseiam-se em cenas do seu passado que lhes causaram grande impressão mas foram esquecidas (traumas); a terapêutica, nisto apoiada, que consistia em fazê-los lembrar e reproduzir essas experiências num estado de hipnose (catarse); e o fragmento de teoria disto inferido, segundo o qual esses sintomas representavam um emprego anormal de doses de excitação que não haviam sido descarregadas (conversão)... Creio que, na realidade, esta distinção só se aplica ao termo, e que a concepção nos ocorreu simultaneamente e em conjunto” Afirma Freud que “o conflito do momento e o fator desencadeante da doença devem ser trazidos para o primeiro plano na análise... isto era exatamente o que Breuer e eu fazíamos quando começamos a trabalhar com o método catártico. Conduzíamos a Página | 24 atenção do paciente diretamente para a cena traumática na qual o sintoma surgira e nos esforçávamos por descobrir o conflito mental envolvido naquela cena, e por liberar a emoção. As associações do paciente retrocediam, a partir da cena que tentávamos elucidar, até as experiências mais antigas, e compeliam a análise, que tencionava corrigir o presente, a ocupar-se do passado nela reprimida. Ao longo deste trabalho, descobrimos o processo mental, característico das neuroses, que chamei depois de “regressão” ... a princípio parecia nos levar regularmente até a puberdade; em seguida até os anos da infância que até então permaneciam inacessíveis a qualquer espécie de exploração” ” Minha primeira divergência com Breuer surgiu de uma questão relativa ao mecanismo psíquico mais apurado da histeria. Ele dava preferência a uma teoria que, se poderia dizer, ainda era até certo ponto fisiológica; tentava explicar a divisão mental nos pacientes histéricos pela ausência de comunicação entre vários estados mentais (“estados de consciência”, como os chamávamos naquela época), e construiu então a teoria dos “estados hipnóides” cujos produtos se supunham penetrar na “consciência desperta” como corpos estranhos não assimilados. Eu via a questão de forma menos científica; parecia discernir por toda parte tendências e motivos análogos aos da vida cotidiana, e encarava a própria divisão psíquica como o efeito de um processo de repulsão que naquela época denominei de “defesa”, e depois de “repressão”” “A teoria da repressão é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da psicanálise. É a parte mais essencial dela e, todavia, nada mais é senão a formulação teórica de um fenômeno que pode ser observado quantas vezes se desejar se se empreende a análise de um neurótico sem recorrer a hipnose. Em tais casos encontra-se uma resistência que se opõe ao trabalho da análise e, a fim de frustrá-lo, alega falha de memória. O uso da hipnose ocultava essa resistência; por conseguinte, a história da psicanálise propriamente dita só começa com a nova técnica que dispensa a hipnose” “A análise nos tinha levado até esses traumas sexuais infantis pelo caminho certo e, no entanto, eles não eram verdadeiros. Deixamos de pisar em terra firme... Por fim, veio a reflexão de que, afinal de contas, não se tem o direito de desesperar por não ver confirmadas as próprias expectativas; deve-se fazer uma revisão dessas expectativas. Se os pacientes histéricos remontam seus sintomas e traumas que são fictícios, então o fato Página | 25 novo que surge é precisamente que eles criam tais cenas na fantasia, e essa realidade psíquica precisa ser levada em conta ao lado da realidade prática. Essa reflexão foi logo seguida pela descoberta de que essas fantasias se destinavam a encobrir a atividade auto erótica dos primeiros anos de infância, embelezá-la e elevá-la a um plano mais alto. E agora, de detrás das fantasias, toda a gama da vida sexual da criança vinha à luz” “Pouco preciso dizer sobre a interpretação de sonhos. Surgiu como os prenúncios da inovação técnica que eu adotara quando, após um vago pressentimento, resolvi substituir a hipnose pela livre associação... o simbolismo na linguagem dos sonhos foi quase a última coisa a tornar-se acessível a mim, pois as associações da pessoa que sonha nos ajudam muito pouco a compreender símbolos... Só depois é que vim a apreciar em sua plena extensão essa modalidade de expressão dos sonhos. Isso ocorreu em parte por influência das obras de Stekel, cujos primeiros trabalhos têm muito mérito, mas que depois se desencaminhou totalmente. A estreita ligação entre a interpretação psicanalítica dos sonhos e a arte de interpretá-los segundo a prática tida em tão alta conta na antiguidade, só se tornou clara para mim muito depois. Mais tarde, descobri a característica essencial e a parte mais importante da minha teoria dos sonhos, ou seja, que a distorção dos sonhos é consequência de um conflito interno, uma espécie de desonestidade interna” “Aprendi a controlar as tendências especulativas e a seguir o conselho não esquecido de meu mestre, Charcot: olhar as mesmas coisas repetidas vezes até que elas comecem a falar por si mesmas” “Minha Interpretação de Sonhos e meu livro sobre chistes, entre outros, mostraram desde o início que as teorias da psicanálise não podem ficar restritas ao campo médico, mas são passíveis de aplicação a várias outras ciências mentais” “A análise nos proporcionou não somente a explicação de manifestações patológicas, como revelou sua conexão com a vida mental normal e desvendou relações insuspeitadas entre a psiquiatria e as demais ciências que lidam com as atividades da mente” ” A concepção da atividade mental inconsciente possibilitou fazer-se uma idéia preliminar da natureza da atividade criadora na literatura de imaginação, e a compreensão, adquirida no estudo dos neuróticos, do papel desempenhado pelos impulsos instintivos Página | 26 nos permitiu descobrir as fontes da produção artística e nos colocou face a dois problemas: como o artista reage a essa instigação e quais os meios que ele emprega para disfarçar suas reações” “Depois de se ter ouvido com cuidado a voz da autocrítica e de haver prestado certa atenção às críticas dos adversários, não resta mais nada a fazer senão sustentar, com todas as forças, as próprias convicções baseadas na experiência. A pessoa deve contentar-se em agir com o máximo de honestidade, não devendo assumir o papel de juiz, reservado ao futuro remoto. Dar ênfase a opiniões pessoais arbitrárias, em assuntos científicos, é mau; constitui claramente uma tentativa de questionar o direito da psicanálise de ser considerada uma ciência - aliás, depois de já ter sido esse valor depreciado pelo que foi dito antes [sobre a natureza relativa de todo o conhecimento]” ” Os homens são fortes enquanto representam uma idéia forte; se enfraquecem quando se opõem a ela. A psicanálise sobreviverá a essa perda e a compensará com a conquista de novos partidários. Para concluir, quero expressar o desejo de que a sorte proporcione um caminho de elevação muito agradável a todos aqueles que acharam a estada no submundo da psicanálise desagradável demais para o seu gosto. E possamos nós, os que ficamos, desenvolver até o fim, sem atropelos, nosso trabalho nas profundezas” Conceitos do Inconsciente Por Antonio Teixeira de Carvalho Filho Entender o conceito de inconsciente, como o percebo, exige a ampliação de nossa visão sobre aquilo que, convencional e socialmente, se vê aceito como objetivo - real. Enquanto o consciente externaliza-se como uma espécie de visão de mundo auto imposta para o cotidiano coletivo dos indivíduos, temporalmente mediada por experiências, lembranças e ações intencionais - arbitrada a partir de ciclos evolutivos temporais, que impõem à sociedade parâmetros civilizatórios pré-definidos como mecanismos de pesos e contrapesos -, o inconsciente representa, por assim dizer, a individualização do sujeito(apesar dos arquétipos e instintos que representam forças e padrões universalmente Página | 27 predominantes). O consciente, como propõe Freud em relação ao tempo de sua objetiva manifestação, tende a tornar-se uma espécie de objeto do discurso filosófico-social, substancializando-se segundo a vertente do pensamento prevalecente - o ocidental, de modo muito particular, tem grande dificuldade para pensar qualquer coisa que não seja objetiva, ou seja, tudo precisa ser medido, pesado, quantificado, possível de ser replicado etc., tendendo ele (homem ocidental) a opor resistência ou mesmo negação a conceitos de natureza subjetiva. Portanto, o inconsciente, por ser subjetivo, um sistema dinâmico, fundamentalmente regido por processos primários, representa o que podemos entender como um “pedaço submerso” da verdadeira dimensão do indivíduo, que livre dos freios impostos pela sociedade, coabita em constante interação com seu consciente, de algum modo interferindo em suas manifestações objetivas. O cartesiano conceito prevalecente que antecedeu Freud, muito especialmente aquele que embasa a chamada “ciência médica”, propunha que tudo quanto o ser humano dizia, fazia ou sentia era produto de sua consciência - portanto, sua percepção de mundo, seja ela descritiva, sistemática, dinâmica, econômica, ética etc., constituíam-se manifestações que externalizavam seu fazer e dizer objetivo – o endeusamento da razão se afigurava mandatório. Freud rompeu com esse paradigma, abrindo a porta do obscuro existente nos indivíduos, avançando especulações para além do nível consciente do ser, constatando que o inconsciente existia e poderia, em alguma medida, “comandar” a vida e até mesmo a fisiologia humana. Assim o sendo, de modo simplista, conforme entendo cabe aqui ser referenciado, propôs Freud que o indivíduo, conseguindo alcançar o necessário equilíbrio entre o consciente e o inconsciente ao longo de seu individual processo evolutivo – segmentos interdependentes, que se complementam entre si -, a tendência seria a de o indivíduo se tornar completo; ao passo que, não conseguindo alcançar esse equilíbrio, ou seja, não conseguindo o indivíduo superar suas obscuridades, a tendência possível seria a de que ele se tornasse um neurótico... Isso posto, reduzindo o escopo do texto ao objeto proposto como questionamento, podemos de modo livre reproduzir os conceitos indicados a partir da visão manifesta por Freud: Inconsciente Descritivo: descritivo pressupõe a observação do inconsciente de fora, ou seja, a partir da perspectiva de um observador – nesse caso nos será possível apenas perceber os produtos; são atos inesperados, não racionalizados, repentinamente surgidos em nossa consciência, que ultrapassam nosso saber e intenções, como p. ex. Os atos falhos, esquecimentos, sonhos; sejam essas manifestações normais ou patológicas, Página | 28 consciência do sujeito e para o psicanalista; entretanto, mesmo que, como profissionais, não consigamos identificar, num primeiro momento, sua razão, constituem-se a evidência de existir um processo inconsciente obscuro e ativo, passível de ver-se o produto obtido através delas permanecem surpreendentes e enigmáticos para a externalizado; Inconsciente Sistemático: segundo propõe Freud, nele leva-se em consideração uma rede de representações (conjunção de um traço de acontecimentos reais, investidos de energia), onde a fonte de excitação chama-se representação de coisa (por elas consistirem em imagens visuais, acústicas ou táteis de coisas ou pedaços de coisas impressas no inconsciente), e os produtos finais são as manifestações deturpadas do inconsciente; Inconsciente Dinâmico: seria a luta da ação que impulsiona e o recalcamento que impede, a fonte de excitação é chamada de representantes recalcados, e seu produto final são considerados produtos do inconsciente, estes que surgem sutilmente na consciência, devido a ação do recalcamento - os sintomas neuróticos são os exemplos clássicos dessa expressão; Freud considerava ser o recalcamento um jogo complexo de movimentos de energia, ou seja, uma espécie de jogo que, se por um lado objetiva conter e fixar no inconsciente as representações recalcadas (recalcamento primário), de outro lado busca reconduzir para o inconsciente eventuais representações que fugiram para o nível consciente (recalcamento secundário). Inconsciente Econômico: pode ele ser definido como a fonte de excitação representante das pulsões, e os produtos do inconsciente econômico são as fantasias ou comportamentos afetivos e escolhas amorosas inexplicáveis; Inconsciente Ético: pode ele ser definido como desejo (movimento de uma intenção inconsciente com o objetivo de satisfação absoluta) – como produto podemos citar as realizações parciais do desejo contrapostas à idealização do desejo pleno, que nunca é alcançado. Quem É O Psicanálise E O Que Ele Faz? O psicanalista é a pessoa que estudou uma formação livre em psicanálise ou curso de pós-graduação (obedecendo o tripé de formação). O Formado em psicanálise, o psicanalista tem a função de equilibrar e tornar mais clara a relação do “eu” interior do paciente com seus questionamentos internos e com os Página | 29 problemas do mundo. O método terapêutico criado pelo médico austríaco Sigmund Freud, que consiste na interpretação dos conteúdos inconscientes de palavras, ações e produções imaginárias de uma pessoa, baseada nas associações livres, na interpretação de sonhos e na transferência. o psicanalista pode ter formação em diferentes escolas psicanalíticas Esta abordagem psicoterápica também pode ser usada por profissionais de diversas áreas (serviço social, pedagogia, terapia holística, enfermagem e outros) além de psicólogos, psiquiatras e cada profissional pode utilizá-la de acordo com os limites da ciência estudada em sua formação. O diferencial do Psicanalista está no seu recurso primordial de trabalho: a interpretação do conteúdo do inconsciente bem como dos seus efeitos nas ações, palavras e pensamentos do indivíduo, o que se faz pelo manejo de duas ferramentas principais: a fala e a escuta. A busca por esse profissional parte, geralmente, de pessoas que questionam o comportamento humano através de pressões sociais, no trabalho e nos relacionamentos — e buscam compreender melhor a si mesmas para que, assim, possam entender como lidar com as frustrações de um mundo que não dá todas as respstas que esperam. São dois os fundamentos da teoria psicanalítica: 1) Os processos psíquicos são em sua imensa maioria inconscientes, a consciência não é mais do que uma fração de nossa vida psíquica total; 2) 2) os processos psíquicos inconscientes são dominados por nossas tendências sexuais. O Ampara Legal do Trabalho do Psicanalista No Brasil Entender o que cada profissional ligado à psicanálise e saúde mental tem como função é primordial para iniciar a busca pela melhora e cura da sua desordem mental. E lembre- se sempre de que problemas ligados à ordem mental e emocional não devem ser motivo de vergonha! • Possuir uma formação livre em psicanálise ou pós-graduação em psicanálise que obedeça ao tripé de formação psicanalítica. (Tanto a pós-graduação quanto a formação livre em psicanálise pelo Instituto GAIO possibilita a atuação como psicanalista). • CBO 2515-50 do Ministério do Trabalho - MTE; http://www.psicologiaviva.com.br/blog/e-possivel-encontrar-a-felicidade-no-trabalho/ http://www.psicologiaviva.com.br/blog/relacionamento-interpessoal/ http://www.psicologiaviva.com.br/blog/relacionamento-interpessoal/ Página | 30 • Estar vinculado em uma sociedade psicanalítica (Mas não obrigatória) A área de psicanálise não conselho de classe ou órgão regulador. • Estar em processo de estudos contínuo em psicanálise e supervisão (análise); • Ser ético, profissionale comprometido com a teoria e o método psicanalítico. Pelo CBO 2515-50 o psicanalista pode atuar como “psicoterapeuta/ terapeuta”; Nas áreas: consultório particular, clínicas, hospitais, escolas, órgãos públicos (área de saúde), Instituições sociais e particulares. Qual a área onde se concentra maior parte dos psicanalistas? Consultório particular, clínicas integradas, Organizações Sociais, Escolas e Hospitais (...) O psicanalista quando trabalha como “liberal” ele precifica o valor da sua consulta “sessão”, hoje varia de R$50,00 à 150,00 (média) ou mais.... Em média se ele tiver 15-20h semanais a média seria 2.075,00-3.700 reais (R$50,00- R$80,00) As instituições no geral costumam pagar em média R$2000,00 à 2.900,00 segundo a CATHO. Quando o psicanalista atua em órgãos público a média pode varia de R$1.200 à 2500,00 reais. Página | 31 Referências Bibliográficas FREUD, Sigmund. Um estudo autobiográfico. Rio de Janeiro: Imago, 1996a. . Uma breve descrição da Psicanálise. In:. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, vol XIX, 1996b p. 215-234. . Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos. In: . Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, vol XIX, 1996c p. 277–286. . O Ego e o Id. In: . Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, vol XIX, 1996b p.15 – 82. 1996d. . Inibição, sintomas e ansiedade. In: . Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago vol. XX, 1996e. ENRIQUEZ, E. Imaginário social, recalcamento e repressão nas organizações. Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: V. 36/37, p. 53-97. Jan/Hun, 1974. MAURANO, D. Para que serve a psicanálise? (Organizadora da coleção Nina Saroldi). 3.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010. MOURA, Joviane Aparecida de; SILVESTRE, Josel. Introdução à Psicanálise. Psicologado, [S.l.]. (2008). Disponível em https://psicologado.com.br/abordagens/psicanalise/introducao-a- psicanalise . Acesso em 28 Set 2020. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. 5.ª Ed. São Paulo: Cultix, 1992. In: CORDEIRO, E. F. O inconsciente em Sigmund Freud. Disponível em < https://www.psicologia.pt/ artigos/ver_artigo.php?codigo=A0745>. Acesso em: 10/04/2020. https://www.psicologia.pt/%20artigos/ver_artigo.php?codigo=A0745
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