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67 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA Unidade II TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO APROVEITADAS NA EAD E A UTILIZAÇÃO DO AMBIENTE VIRTUAL PARA A APRENDIZAGEM Introdução De acordo com Marcheti (2001, p. 7): [...] a educação hoje é uma prioridade política e social em todos os países. O processo, as técnicas e os meios de ensino e aprendizagem vêm sofrendo grandes alterações para continuar garantindo sua eficiência. Várias mudanças ocorreram devido a pesquisas realizadas que, aos poucos, foram alterando o foco de uma educação centrada no ensino, que desconsiderava qualquer diferença e preferência individual de aprendizagem, para uma postura mais flexível, tendo como objetivo o desenvolvimento individual e grupal de todos os envolvidos no processo. Nesse contexto, a informática, representada pelos mais diferentes recursos de tecnologia, foi aos poucos sendo incorporada na educação, de tal forma que hoje ninguém consegue imaginar nenhum processo de desenvolvimento cognitivo sem o apoio dela. Toda inclusão tecnológica na área educacional permeia as questões sociais, culturais e econômicas do país. Além disso, essa inclusão deve estar em conformidade com os projetos pedagógicos das instituições das quais faz parte. No contexto tradicional de ensino, podemos dizer que o conhecimento é considerado como a referência a posteriores ações cognitivas do indivíduo. Quem tem conhecimento é apenas o indivíduo ou grupo de indivíduos que tem acesso a ele, ou seja, o conhecimento está restrito ao indivíduo ou ao grupo e reflete as memórias cognitivas e afetivas do indivíduo ou da coletividade. É um conhecimento duradouro e estático, situado no tempo e no espaço, num contexto sociocultural determinado e que pode ser definido como “crença verdadeira justificada” (GRAYLING apud BUNNIN; TSUI‑JAMES, 2002, p. 41). 68 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II Figura 21 – Em busca de conhecimento através do estudo Em contrapartida, a informação caracteriza‑se por um conjunto “flutuante de fatos, um objeto circulando em rede”, e apenas se transforma em conhecimento pela ação de um sujeito histórico; por si só, a máquina não “conhece”, não exerce atividades cognitivas, não justifica, não está sujeita à influência de fatores socioculturais, emocionais e subjetivos, não é portadora de conhecimento, de “uma crença verdadeira justificada”, mas apenas armazena e processa dados (GRAYLING apud BUNNIN; TSUI‑JAMES, 2002, p. 41). Portanto, o conhecimento humano é uma atividade cognitiva complexa que extrapola o âmbito particular das ciências em geral e das tecnologias. As ciências produtivas, pelo seu caráter teleológico (de finalidade) e instrumentalista, que privilegia o como fazer, excluem questões fundamentais que devem ser colocadas no âmbito da informação e do “conhecimento” enformado, quais sejam, as questões éticas e políticas. Essa realidade etérea (virtual) faz com que, às vezes, o que até agora estava distante e desconhecido se faça próximo e comum. Enquanto isso, realidades muito próximas e familiares se distanciam de nossas consciências e vivências. Por sua vez, o mundo virtual tem provocado a aproximação do que está distante e o distanciamento do que está perto, dependendo do efeito de sua incorporação ou exclusão dos canais de comunicação e informação existentes na rede mundial. Desse modo, o que se pode alcançar através dessa rede corre o risco de desaparecer de nosso alcance ou, ao menos, ficar desconhecido (BUJÁN, 2002, p. 150). 5 A EAD E A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) Educação a distância é uma modalidade de educação onde o processo de ensino‑aprendizagem é mediado por tecnologias e ocorre entre pessoas remotamente localizadas e, também, em tempos diferentes. 69 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA Figura 22 – EaD e a aplicação de novos processos de ensino‑aprendizagem Vivemos uma nova era, em que transações comerciais são realizadas de maneira globalizada, ao mesmo tempo, entre organizações e pessoas localizadas nos mais diversos cantos do planeta. Cientistas de todo o mundo se reúnem virtualmente para realizar pesquisas e discutir resultados. Grandes volumes de dados são transmitidos, transferidos de lugares distantes em questão de segundos, transformando o planeta numa imensa rede global. [...] As TICS evoluem com muita rapidez. A todo instante surgem novos processos e produtos diferenciados e sofisticados: telefones celulares, softwares, vídeos, computador multimídia, internet, televisão interativa, videogames etc. Esses produtos, no entanto, não são acessíveis a todas as pessoas, pelos seus altos preços e necessidade de conhecimentos específicos para sua utilização. A velocidade das alterações no universo informacional exige atualização permanente. Para que todos possam ter informações que lhes garantam a utilização confortável das novas tecnologias é preciso um grande esforço educacional geral. Como as tecnologias estão em permanente mudança, a aprendizagem por toda a vida torna‑se consequência natural do momento social e tecnológico em que vivemos. Já não há momento determinado em que qualquer pessoa possa dizer que não há mais o que aprender. Ao contrário, a sensação é a de que quanto mais se aprende mais há para estudar, para se atualizar (KENSKI, 2007, p. 40‑1). As transformações provocadas pelas Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTICs) são irreversíveis, sem volta. Se não ficarmos atentos a elas, podemos perder para sempre o “trem da história” e ficar para trás, sem desfrutar os benefícios que a sociedade da informação nos proporciona. Com a popularização dos computadores e dos diversos dispositivos móveis, novas oportunidades se apresentam aos indivíduos de se qualificarem como pessoas e como profissionais para os novos desafios de uma sociedade em contínua transformação. 70 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II As NTICs têm ocupado vários papéis na sociedade atual. Ao ensino, elas têm propiciado grandes avanços, desde a automatização de tarefas administrativas até o apoio ao processo de aprendizagem. A junção das novas tecnologias multimídias com as possibilidades oferecidas pelas telecomunicações e a internet tem revolucionado a forma como o conhecimento é disseminado na sociedade, especialmente com a EaD. Apesar do grande destaque que a EaD tem recebido ultimamente, ela não é uma atividade nova. O esforço de levar conhecimento a pessoas distantes é realizado há muito tempo, tanto que alguns se confundem com o aparecimento da própria escrita. Tais esforços sempre foram potencializados com a evolução dos meios de comunicação, como a imprensa, e da telecomunicação, como o rádio, a televisão e, recentemente, a internet. A educação e a tecnologia caminham juntas, são indissociáveis e podem ser usadas como instrumento de elevação da qualidade de vida do ser humano, contribuindo para a sua formação humana, ética e profissional. Com as NTICs e o acesso à rede mundial de computadores, uma educação de qualidade se torna possível a todos, sobretudo àqueles que trabalham e não possuem recursos e tempo para frequentar regularmente uma escola de Ensino Superior. É um grande equívoco atribuir às informações da internet o status de “conhecimento”, uma vez que uma “informação”, um “dado” equivale a zero conhecimento se não for ressignificado por um sujeito com capacidade reflexiva. Vemos, atualmente, que algumas características em nossa sociedade referem‑se ao conhecimento e passam a exercer papel fundamental no mercado de trabalho, pois o que importa, neste momento, é ser diferente, ou seja, buscar soluções, ser criativo e introduzir novidades. Mas, para que isso ocorra, é necessário reunir o máximo de informaçõespossíveis, selecionar aquelas que atendam melhor aos seus objetivos e transformar essa grande quantidade de informações em conhecimento. Não importa qual é o ramo de atividade; o fundamental é que esse profissional tenha capacidade de inovar, de produzir conhecimentos novos e de saber aplicar o conhecimento adquirido da melhor maneira possível. Podemos dizer que estes são requisitos indispensáveis para a era da informática e da computação que estamos vivendo nos dias de hoje. Considerando todas essas mudanças, o ambiente escolar também deve ser repensado. Dessa forma, deixará de ser apenas um local onde ocorre, simplesmente, a transmissão dos saberes. Devemos lembrar que, para desencadear um processo de mudanças, é necessário que os educadores tenham consciência e desejo pessoal de encontrar melhores caminhos para o processo de ensino e de aprendizagem, mesmo sabendo que esse envolvimento não será fácil. As questões sobre tecnologia educacional são inúmeras, sendo utilizado o mesmo ambiente para dar diferentes significados a um mesmo instrumento. 71 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA No ambiente educacional, tanto as ferramentas quanto as tecnologias sempre estiveram presentes, facilitando o processo ensino‑aprendizagem. Hoje essa tecnologia está integrada às áreas de Comunicação e Informação de forma diferenciada. Conforme Rodrigues (2001, p. 337), “tecnologia é o conjunto de conhecimentos, especialmente princípios científicos, que se aplicam a um determinado ramo de atividade, explicação dos termos concernentes às artes e ofícios; o vocábulo peculiar de uma ciência, arte, indústria etc.”. A prática nos mostra que a relação entre educador e educando modifica‑se com a proximidade, a interação e a colaboração entre ambos. Portanto, o computador não substitui o educador, mas, sim, intensifica seu papel na preparação, condução e avaliação do processo ensino‑aprendizagem. Enfim, o educador continua sendo responsável por trazer os problemas que serão investigados, dando condições aos educandos para acessarem as informações, decodificá‑las, interpretá‑las e emitirem um julgamento. Contudo, a escola e os agentes que dela participam têm um grande desafio: o de incorporar ao seu trabalho novas formas de comunicação e conhecimento. Assim, podemos observar que a Informática não deve ser considerada somente como uma disciplina, pois é uma ferramenta a favor de todas as disciplinas, com uma linguagem própria, capaz de mediar a aprendizagem, devendo sempre estar inserida no contexto do projeto político‑pedagógico da escola. Ferraz (2008) afirma que a tecnologia sempre esteve presente como ferramenta e mediadora do processo de aprendizagem, entretanto, nos últimos anos, com a integração cada vez maior das tecnologias da informação e comunicação (TICs) e a incorporação delas no processo educacional, novas possibilidades e oportunidades têm surgido. Hoje, independentemente do nível educacional (básico, fundamental, médio ou superior), a tecnologia já faz parte do contexto pedagógico. Lembrete A integração de diferentes tecnologias ao processo educacional trouxe inúmeros benefícios, tais como a agilidade de acesso às informações, a flexibilidade de ensino e aprendizagem, a possibilidade de simular um ambiente educacional contextualizado, próximo à realidade profissional e pessoal do aprendiz etc. (FERRAZ, 2008). Com o dimensionamento favorável das vantagens de instrumentos como simulação, construção de protótipos, acesso a diferentes informações em tempo real etc., o processo de ensino e aprendizagem tem sofrido algumas adequações, a fim de incorporar cada vez mais essas tecnologias e, com isso, construir e ampliar possibilidades educacionais. Embora a inclusão de qualquer tecnologia ao ambiente educacional possa trazer novas oportunidades de ensino e aprendizagem e produzir uma sensação de encantamento por parte dos agentes envolvidos, é necessário ter a consciência de que, agregadas às possibilidades, também ocorrem mudanças culturais e sociais significativas. 72 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II Nos contextos específicos da inclusão social e da capacitação profissional, as tecnologias possibilitaram que a modalidade de EaD incrementasse a sua participação nos mercados acadêmico e corporativo, como uma estratégia diferenciada e complementar ao modelo presencial. Figura 23 – O investimento em NTICs é fundamental para a EaD Vale destacar que a EaD possui dois quesitos indispensáveis: o recurso tecnológico, que propicia o meio e possibilita a interface entre os três componentes básicos que citamos anteriormente, e a infraestrutura organizacional, que dá condições para que todo o processo ocorra eficazmente. Dessa maneira, a EaD deve ser compreendida como uma forma de ação educativa que sempre exige um trabalho de equipe. Não há mais o professor que trabalha sozinho, desenvolvendo isoladamente seu curso, mas uma equipe composta de pelo menos três profissionais: o que conhece o conteúdo, aquele que domina a tecnologia e aquele que tem ciência da metodologia que direciona o processo educacional. A modalidade a distância provê oportunidades de educação que utilizam estratégias diferenciadas para um número crescente de pessoas que procuram por modelos alternativos. Por meio dela, essas pessoas podem adquirir, atualizar ou complementar seu conhecimento pessoal ou profissional. Durante algum tempo, a modalidade a distância teve sucesso reconhecido de forma bem restrita, mas, nos últimos anos, isso vem mudando, principalmente no ambiente formal de educação, composto por instituições de ensino que oferecem cursos de graduação, pós‑graduação e extensão universitária nessa modalidade. No Brasil, a EaD ainda está bastante relacionada à formação de adultos (graduação, pós‑graduação, especialização, cursos de curta duração, capacitação profissional etc.), mas o cenário está, aos poucos, mudando. Com a reformulação, em 1996, das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), foi oficializada a modalidade a distância no país. Como resultado desse fato, os órgãos competentes pela regularização da educação estão cada vez mais atentos ao provimento de diretrizes que garantam a qualidade e múltiplas possibilidades ao processo de aprendizagem a distância. 73 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA A finalidade das LDBEN foi ajustar os princípios enunciados no texto constitucional para aplicação a situações reais, considerando o desenvolvimento das TICs e sua maior incorporação ao processo educacional. O artigo 80 das LDBEN (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), que definia como atribuição do poder público o incentivo ao desenvolvimento e à veiculação de programas de EaD em todos os níveis de ensino, foi regulamentado pelo Decreto nº 2.494, de 10 de fevereiro de 1998 (publicado no D.O.U., de 11 de fevereiro de 1998), que definia: Art. 1. Educação a distância é uma forma de ensino que possibilita a autoaprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação (BRASIL, 1998). Em 19 de dezembro de 2005, com a promulgação do Decreto nº 5.622, o nº 2.494 foi revogado, uma vez que este novo regulamentaria o artigo 80 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e as bases da educação nacional. O objetivo principal de todos os processos educacionais, independentemente da modalidade, é o desenvolvimento individual e coletivo, que abrange não só a construção de conhecimentos, competências e habilidades, mas também o desenvolvimento social, afetivo, de valores e de atitudes, ou seja, a educação deve estar integrada ao cenário sociocultural‑econômiconacional. Quando ouvimos o termo “tecnologia”, automaticamente pensamos em algo complexo e nem nos damos conta de que ela já faz parte do nosso cotidiano, quando utilizamos ferramentas como lápis, canetas, giz etc. Entende‑se por recursos tecnológicos “[...] produtos da tecnologia, qualquer objeto criado para facilitar o trabalho humano. Portanto, a roda, o machado, os utensílios domésticos, a televisão, o telefone, o trator e o relógio são recursos tecnológicos, assim como motores, engrenagens, turbinas, cabos e satélites” (BRASIL, 1998, p. 135). A apropriação dos recursos tecnológicos ocorre à medida que os utilizamos. O maior diferencial da quarta geração de EaD, responsável pelo crescimento da aplicação dessa modalidade de ensino no mundo, é a interatividade que as tecnologias digitais propiciam. Além da interatividade, muitas outras vieram reforçar a EaD, dentre as quais podemos citar os recursos mais presentes, como a comunicação por voz via internet, a utilização de programas de mensagem instantânea e o desenvolvimento de sistemas de informação para o apoio do aprendizado baseado em tecnologias da web. Os sistemas de informação para o apoio à EaD baseados nas tecnologias da web são denominados AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem). Tais sistemas podem oferecer diferentes ferramentas colaborativas, síncronas e assíncronas que permitem a utilização de diversas mídias para apoiar a EaD. Consequentemente, temos muitos ambientes virtuais de aprendizagem sendo desenvolvidos. Nesse sentido, algumas instituições de ensino construíram seus próprios sistemas AVA, embora também haja 74 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II algumas opções disponibilizadas por empresas de software para serem comercializadas e algumas opções de software livres. Figura 24 – O AVA agiliza o processo de ensino e acesso aos alunos Há alguns anos, não se imaginava a possibilidade da comunicação on‑line entre pessoas distantes fisicamente, nem o compartilhamento de informações por meio de envio de documentos e imagens. Com o avanço dos recursos tecnológicos, podemos nos comunicar com mais velocidade e de várias formas diferentes. No entanto, nem todas as pessoas podem ter acesso às tecnologias de informação e comunicação, o que acentua ainda mais as desigualdades sociais. Embora isso aconteça, a inclusão tecnológica é irreversível e traz consigo mudanças significativas para a vida em sociedade e para as formas do trabalho humano. O mercado de trabalho sofre sensíveis mudanças no que diz respeito à utilização de certos equipamentos, ao surgimento de novas funções e ao perfil do trabalhador. Atualmente, o perfil do trabalhador é baseado em conhecimentos atualizados, iniciativa, flexibilidade mental, atitude crítica, competência técnica, capacidade de criar novas soluções, tendo competência para lidar com a crescente quantidade de informações em novos formatos e com novas maneiras de acesso. Dessa forma, na educação há a esperança de redução das diferenças e das desigualdades. Para tanto, é necessário que os educadores acompanhem tais mudanças, oferecendo, assim, aos educandos uma formação atualizada. Podemos considerar, ainda, que a incorporação das novas tecnologias só tem sentido se for para melhorar a qualidade do ensino, contribuindo, assim, no processo ensino‑aprendizagem de forma positiva. 5.1 A educação através do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) são softwares educacionais via internet, utilizados como apoio às atividades de EaD. Esses softwares oferecem um conjunto de tecnologias de informação e comunicação, que permitem desenvolver as atividades no tempo, espaço e ritmo de cada participante. 75 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA Os ambientes virtuais de aprendizagem podem ser utilizados: em atividades presenciais, possibilitando aumentar as interações para além da sala de aula; em atividades semipresenciais, nos encontros presenciais e nas atividades a distância; e oferecendo suporte para a comunicação e troca de informações e interação entre os participantes. Conforme Moraes (2002, p. 203) “Em qualquer situação de aprendizagem, a interação entre os participantes é de extrema importância. É por meio das interações que se torna possível a troca de experiências, o estabelecimento de parcerias e a cooperação”. O uso do AVA oferece as seguintes vantagens: • a interação entre o computador e o aluno; • a possibilidade de se dar atenção individual ao aluno; • a possibilidade de o aluno controlar seu próprio ritmo de aprendizagem, assim como a sequência e o tempo; • a apresentação dos materiais de estudo de modo criativo, atrativo e integrado, estimulando e motivando a aprendizagem; • a possibilidade de ser usada para avaliar o aluno. Na EaD, o professor assume um novo papel e surge a função do tutor, que apoiado em diferentes ferramentas pedagógicas irá propiciar a interação do aprendiz com os diversos objetos de estudo/ conhecimento, colocando‑o como sujeito participativo da sua aprendizagem. Segundo Struchiner (1998, p. 3‑11): O tutor nessa nova modalidade aparece como uma figura desvinculada do modelo tradicional e que no modo de pensar sob o âmbito do construtivismo tenha um novo perfil. Seria um potencializador, que no processo do EaD atuaria como mediador, utilizando todos os espaços como forma de objetivar a participação coletiva, a independência, possibilitando a plena ação dos sujeitos no processo ensino‑aprendizagem. A EaD, utilizando‑se dos variados recursos pedagógicos e tecnológicos e de todo o apelo motivador intrínseco à mídia eletrônica, possibilita uma interação dinâmica que pode tornar‑se bastante produtiva se corretamente direcionada. Assim, o tutor deve atuar junto ao aprendiz como facilitador, incentivador dessa constante interação com os diversos objetos de conhecimento, numa atitude de coautor nesse processo de construção/produção do conhecimento. Atualmente, a prática da leitura é feita através da tela do computador. Muitos dizem que o livro acabou, que ninguém mais lê, que o texto está ameaçado, entretanto, vem a questão: o que há nas telas dos computadores não são os textos? Sabemos que eles vêm acompanhados de imagens, jogos e diversas formas de interatividade, mas a principal questão é que a leitura hoje ocorre de forma fragmentada: cada texto é elaborado separadamente da informação. Assim, durante a leitura, perde‑se a percepção 76 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II de totalidade e coerência que o livro impresso garante ao leitor; no entanto, os leitores habituados a ler em telas, ou seja, os leitores da modernidade, os verdadeiros leitores eletrônicos, não passam pelo papel. Assim, podemos nos questionar se as novas tecnologias comprometem o entendimento e o sentido completo de uma obra literária. É importante termos claro o que é um texto? O que é um livro? A tecnologia contribui com a possibilidade de acesso ao texto literário, mas também dificulta a compreensão na sua totalidade, no sentido completo da obra. Uma mesma superfície, a tela do computador, apresenta todos os tipos de texto no mundo eletrônico. Com isso, cabe à escola e aos meios de comunicação manter e difundir o conceito do que é uma criação intelectual, valorizando as duas formas de leitura, a digital e a impressa, sendo essa relação imprescindível para realizar a inter‑relação nos dias de hoje, afinal, a leitura e interpretação que fazemos daquilo que ouvimos, assistimos ou lemos representam as ferramentas de como utilizamos as informações que recebemos a partir dessas práticas e de que forma criamos e produzimos novos textos ou novas formas de interatividade a serem aplicadas com nossos possíveis leitores. Figura 25 – O que é um texto? O que é um livro? Os novos formatos digitaisestão substituindo os antigos formatos impressos de leitura? 77 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA Saiba mais A obra A Aventura do Livro: do Leitor ao Navegador, de Roger Chartier, enfoca um novo modo de organização da leitura e da escrita após o apogeu da internet. A obra nos apresenta um breve relato da história do texto, desde a sua estrutura como livro até a sua forma eletrônica. O diálogo entre Chartier e Lebrun (este último não é muito conhecido e suas obras não são divulgadas) apresenta‑nos um interessante caminho pelo qual temas, tempos e práticas nos levam a refletir sobre a nossa própria prática atual de leituras. Percebemos como podemos de fato integrá‑las ou talvez apenas desfrutá‑las e usufruir do que cada meio nos pode proporcionar em diferentes momentos de nossa vida. Leia: CHARTIER, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador – conversações com Jean Lebrun. Tradução Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Editora Unesp, 1998. A interação professor‑aprendiz na EaD se faz intermediada por um meio, recurso ou material estrategicamente elaborado, que estimule a autoaprendizagem no aprendiz, suprindo a ausência física dos participantes do curso. A metodologia utilizada deve permitir a comunicação ativa entre todos os participantes do ambiente, fazendo com que toda a informação necessária ao desenvolvimento e aquisição do conhecimento seja acessível a todos. Além disso, é indispensável que esse ambiente virtual permita a realização de questionamentos coordenados pelos tutores (professores) que gerem discussões, permitindo a comunicação a qualquer hora entre alunos e professores. Em um ambiente virtual de aprendizagem (AVA), os alunos costumam participar do aprendizado de um modo mais ativo, pois é decisivo que haja uma atuação pessoal para obter informações dos outros alunos participantes, recuperar material de apoio na rede, estudar um assunto e discuti‑lo com os colegas, tirar dúvidas com os professores, realizar um trabalho em conjunto ou mesmo expor o próprio conhecimento ou obter o dos outros. Para Sloczinski e Chiaramonte (2004, p. 10), A utilização de ambientes virtuais para compor o ambiente de aprendizagem viabiliza o acompanhamento do crescimento de cada aluno, uma vez que as ferramentas utilizadas guardam as interações realizadas. Dessa forma, os registros da percepção, autoavaliação e participação dos alunos podem ser sistematizados a partir da gravação de todas as suas interações. Isso 78 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II nos permite colocar que a aprendizagem ocorreu no todo com sucesso. Os conteúdos básicos foram desenvolvidos por todo o grupo e os alunos que atingiram os objetivos antes do tempo previsto desenvolveram outras habilidades propostas, que foram, da mesma forma, colocadas no ambiente. A interatividade é uma função absolutamente crítica do processo de aprendizagem em EaD e um fator importante a ser considerado, pois se trata não só da interatividade entre tutor‑aluno, aluno e material didático de apoio, alunos entre si ou alunos e instituição de ensino, mas sim da cultura grupal no que se refere às dificuldades individuais de cada um. As propostas didáticas que utilizam as TICs como instrumentos de aprendizagem devem ser complementadas e integradas com outras propostas de ensino. Para garantir a inovação pedagógica e as aprendizagens significativas, o professor precisa considerar os conhecimentos prévios dos alunos no que diz respeito aos recursos tecnológicos e ao conteúdo que será estudado, além de organizar as situações didáticas em função do nível de conhecimento dos alunos. Quando o professor utiliza uma ferramenta tecnológica como recurso pedagógico ou como fonte de informação para as situações didáticas criadas em sala de aula, ele possibilita que os alunos desenvolvam habilidades e atitudes para se relacionar com elas na vida, por meio das práticas sociais que permeiam a necessidade de utilização de tais recursos. 6 CRIATIVIDADE, INTERATIVIDADE E INTEGRAÇÃO SERÃO AS NOVAS PALAVRAS DE ORDEM Uma organização de aprendizagem é aquela que tem a habilidade de criar, adquirir e transferir conhecimento e de modificar seu comportamento para refletir sobre novos conhecimentos e insights (GARVIN, 1993, p. 4). As diferentes aprendizagens se dão por meio de sucessivas reorganizações do conhecimento e esse processo é protagonizado pelos educandos quando podem vivenciar experiências que lhes forneçam conteúdos apresentados de forma não simplificada e associados a práticas sociais reais. É importante destacar que não há aprendizagem sem conteúdo. Figura 26 – A interatividade e as sucessivas reorganizações de conhecimento 79 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA Pesquisas e produções teóricas realizadas, principalmente durante a última década, apontam a importância das aprendizagens específicas para os processos de desenvolvimento e socialização do ser humano, ressignificando o papel dos conteúdos nos processos de aprendizagem. Interatividade é a modalidade comunicacional que ganha centralidade na cibercultura. Representa um grande salto qualitativo em relação ao modo de comunicação de massa que prevaleceu até o final do século XX. O modo de comunicação interativa ameaça a lógica unívoca da mídia de massa, como superação do constrangimento da recepção passiva. Na cibercultura, ocorre a transição da lógica da distribuição (transmissão) para a lógica da comunicação (interatividade). Isso significa modificação radical no esquema clássico da informação baseado na ligação unilateral emissor‑mensagem‑receptor: • o emissor não emite mais, no sentido que se entende habitualmente, uma mensagem fechada, oferece um leque de elementos e possibilidades à manipulação do receptor; • a mensagem não é mais “emitida”, não é mais um mundo fechado, paralisado, imutável, intocável, sagrado, é um mundo aberto, modificável na medida em que responde às solicitações daquele que a consulta; • o receptor não está mais em posição de recepção clássica, é convidado à livre criação, e a mensagem ganha sentido sob sua intervenção. Na perspectiva da interatividade, o professor pode deixar de ser um transmissor de saberes para converter‑se em formulador de problemas, provocador de interrogações, coordenador de equipes de trabalho, sistematizador de experiências e memória viva de uma educação que, em lugar de prender‑se à transmissão, valoriza e possibilita o diálogo e a colaboração. Os fundamentos da interatividade podem ser encontrados em sua complexidade nas disposições da mídia on‑line. São três, basicamente (SILVA, 2003, p. 100‑55): a) participação – intervenção: participar não é apenas responder “sim” ou “não” ou escolher uma opção dada, significa modificar a mensagem; b) bidirecionalidade – hibridação: a comunicação é produção conjunta da emissão e da recepção, é cocriação, os dois polos codificam e decodificam; c) permutabilidade – potencialidade: a comunicação supõe múltiplas redes articulatórias de conexões e liberdade de trocas, associações e significações. Muitas das pautas culturais e saberes socialmente constituídos são aprendidos por meio do contato direto ou indireto com atividades diversas que ocorrem nas diferentes situações de convívio social das quais as crianças participam no âmbito familiar e cotidiano. Outras aprendizagens, no entanto, dependem de situações educativas criadas especialmente para que ocorram. O planejamento dessas situações envolve a seleção de conteúdos específicos a essas aprendizagens. 80 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II Nas organizações de aprendizagem atuais, as pessoas não são treinadas para exercerem suas funções, massim educadas a desempenhar com satisfação suas atividades, desenvolvendo o espírito de equipe e a criatividade. Durante o processo de aprendizagem, os educandos são respeitados em sua individualidade e autonomia e desenvolvem um trabalho com excelência, gerando a motivação para obter mais conhecimentos e aprender continuamente, pois possuem liberdade de resolver problemas, têm voz ativa nos processos dos quais fazem parte e utilizam mais o raciocínio e o senso crítico das coisas. Além disso, para a produção do conhecimento, é necessário respeitar a visão de mundo das pessoas e trabalhar junto com elas, no sentido de trocar sua maneira ingênua de entender o mundo por um modo mais crítico. Sendo assim, nas organizações de aprendizagem, a criatividade, o senso crítico e os relacionamentos interpessoais são fatores significativos para a aprendizagem, de modo a favorecer a prestação de serviços e produtos de qualidade. No processo de construção do conhecimento, os indivíduos utilizam‑se das mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem ideias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva, constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas sim fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação. Observação O e‑learning é um processo que aplica o potencial das tecnologias de informação e comunicação ao desenvolvimento da aprendizagem e da formação. É uma metodologia de aprendizagem e caracteriza‑se pelo uso da internet. Os formandos dispõem de conteúdos pedagógicos de audiotexto e videotexto com os quais vão interagir. O e‑learning é um processo personalizado, que permite a flexibilidade em termos de tempo e espaço, pois formador e aluno não se encontram fisicamente no mesmo local, mas ligados através da rede. Através da internet são transmitidos os conteúdos educativos e é feito o acompanhamento pelo formador. Essa metodologia permite ao aluno aprender ao seu ritmo, desenvolvendo as competências individuais que necessita, no menor tempo possível. Segundo o educador espanhol Fernando Hernández (2000), o currículo deveria ser organizado por projetos de trabalho, aplicados a partir da ação conjunta de alunos e professores. Segundo o autor, as diferentes fases de um projeto auxiliam os estudantes a desenvolverem a consciência do próprio processo de aprendizagem. Entretanto, todo projeto deve estar relacionado aos conteúdos trabalhados na escola, estabelecendo‑se limites e metas para a conclusão do trabalho. No trabalho com projetos não devemos desenvolver ações desconexas com a realidade vivenciada pelos envolvidos. Inseridos num contexto em que as disciplinas curriculares direcionam as ações escolares Highlight 81 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA com os alunos, o projeto permeia as diferentes nuances de cada componente curricular escolhido para a ação, trazendo aspectos significativos de cada disciplina abordada e relacionando‑os à proposta de construir o conhecimento para [re]conhecer o conhecimento a ser apreendido. A finalidade do ensino é promover nos alunos a compreensão dos problemas que pesquisam. Compreender é ser capaz de ir além da informação dada, é poder reconhecer as diferentes versões de um fato e buscar explicações, formulando hipóteses sobre as consequências dessa pluralidade de pontos de vista (HERNÁNDEZ, 2000, p. 183). As ações realizadas durante um projeto de trabalho proporcionam aos alunos e a nós, mediadores das propostas, conviver com a dinâmica de cada etapa vivenciada e ter a consciência de que cada uma faz parte de um todo maior, em que todos realizam o mesmo movimento, na mesma direção. É essencial que se ressignifique a prática do planejamento escolar, o que implica resgatar sua necessidade e suas possibilidades. Quando falamos em necessidade, nos referimos à necessidade de mudança; porém, muitos educadores habituados com suas práticas educativas não sentem necessidade de atualização, nem mesmo de aperfeiçoamento, em decorrência da satisfação ou da alienação que permeiam seu trabalho docente. Entre alguns educadores, a questão do planejamento é vista como algo desafiador para o meio educacional, o que gera uma ausência do desejo de planejar. O planejamento terá sentido quando o educador inserido nesse processo colocar‑se em uma perspectiva de mudança. Com a introdução da tecnologia no ambiente educacional, cabe ao educador ser o sujeito transformador do processo educativo. Para que isso ocorra, é fundamental: • Querer: capacidade de fazer alguma mudança, agir para que algo aconteça. • Poder: capacidade de realizar, produzir efeitos. Muitas pessoas ficam imaginando que o papel do educador está terminando. Muito pelo contrário! Exemplos disso são os cursos na modalidade EaD, já incorporados por nós, que buscam a construção da aprendizagem colaborativa. Você imagina seu curso sem um educador, o seu tutor? As novas tecnologias criaram novos espaços do conhecimento. [...] É um espaço potencializado pelas novas tecnologias, inovando constantemente nas metodologias. Novas oportunidades parecem abrir‑se para os educadores. Esses espaços de formação têm tudo para permitir maior democratização da informação e do conhecimento, portanto, menos distorção e menos manipulação, menos controle e mais liberdade. É uma questão de tempo, de políticas públicas adequadas e de iniciativa da sociedade (GADOTTI, 2000, p. 14). 82 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II Será que os educadores estão preparados para essa nova era da educação? Sabemos que as dificuldades encontradas por alguns educadores para incorporar essa tecnologia são enormes, mas já existem as redes federais e estaduais de escolas técnicas e os programas do Ministério do Trabalho e das secretarias estaduais e municipais do trabalho que ajudam a preparar o educador para conseguir assimilar esse novo paradigma. Em 2002, foi oferecido aos educadores efetivos da rede estadual de São Paulo o Programa de Educação Continuada (PEC), um curso no qual se trabalharam conteúdos, práticas e vivências por meio de aulas expositivas e, também, por meio da tecnologia (videoconferência, learning space e teleconferência). Desse curso, participaram algumas universidades que acreditam na melhoria do ensino por meio da tecnologia. Figura 27 – A formação de professores para EaD ajuda a preparar o educador para conseguir assimilar este novo processo Durante a formação de professores é preciso conscientizá‑los quanto à análise de sua prática e tomar decisões oportunas, igualmente, aos alunos. O processo reflexivo é essencial na aprendizagem e formação do professor. Refletir implica um processo de busca interior, pressupondo o distanciamento do senso comum, sendo este o que sustenta as relações de poder. No processo reflexivo, as palavras têm o papel de concretizar a consciência. O momento em que a reflexão é vista da mesma forma que a arte significa a superação do que é emocional e não consciente, pela razão ou consciência. A reflexão é uma forma de conhecimento através de um ato criador, partindo do reconhecimento e entendimento da ação para posterior transformação dela. Para haver reflexão é preciso de que a linguagem dê forma à ação e o envolvimento de outros indivíduos, os quais serão os mediadores no processo. Vive‑se um momento de questionamento da identidade do profissional docente, motivado pela insegurança entre incluir‑se no perfil do professor tradicional, detentor do conhecimento, como algo pronto, acabado; ou inovar, mediando um processo de construção significativa dele. 83 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA A construção de uma práticareflexiva requer do professor a investigação contínua de seu fazer pedagógico, pela atenção não só ao observável, ao falado e ao escrito, mas também ao não realizado, ao não falado e ao não escrito, que podem indicar limites no processo de aprendizagem dos alunos, na comunicação em sala de aula, nas situações de ensino e de avaliação e na relação pedagógica, cuja competência pode e deve ser construída já na formação docente. Essa prática reflexiva pressupõe a curiosidade constante do professor para com os alunos, um pensamento ágil e apurado e a sistemática de reflexão permanente sobre o processo ensino‑aprendizagem, numa perspectiva de ação‑reflexão‑ação. Lembrete Quem deseja assumir a docência precisa desenvolver competências e atitudes que devem estar no centro do ensino, tais como espírito crítico, capacidade de desenvolver aprendizagens autônomas, perseverança no estudo, responsabilidade pela sua aprendizagem, competências para a aprendizagem cooperativa, pluralismo metodológico e capacidade de iniciativa. Quais as competências que o professor deve possuir? As competências necessárias na prática do professor, segundo Perrenoud (2001), são as seguintes: 1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem. 2. Administrar a progressão das aprendizagens. 3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação. 4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho. 5. Trabalhar em equipe. 6. Participar da administração da escola. 7. Informar e envolver os pais. 8. Utilizar novas tecnologias. 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. 10. Administrar sua própria formação contínua. Não podemos dissociar as competências da relação com a profissão. Para formar professores mais competentes, aliando uma postura reflexiva e uma forte implicação crítica para o desenvolvimento da sociedade, é necessário desenvolver a profissionalização do professor. 84 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II Figura 28 – A formação do professor segue um padrão de treinamento em tecnologias O professor deve ter claro em sua formação alguns aspectos primordiais para o bom desenvolvimento da educação dos alunos: • Saber gerenciar a classe como uma comunidade educativa. • Saber organizar o trabalho no meio dos mais vastos espaços‑tempos de formação (ciclos, projetos da escola). • Saber conceber e dar vida aos dispositivos pedagógicos complexos. • Saber suscitar e animar as etapas de um projeto como modo de trabalho regular. • Saber identificar e modificar aquilo que dá ou tira o sentido aos saberes e às atividades educacionais. • Saber criar e gerenciar situações‑problemas, identificar os obstáculos, analisar e reordenar as tarefas. • Saber avaliar as competências em construção. Os sistemas educativos empregam, tanto quanto possível, professores que tenham uma formação inicial certificada. Podem, assim, esperar que eles tenham as competências exigidas, pelo simples fato de terem vencido um duplo obstáculo: obter um diploma e conseguir um emprego. Em certos sistemas, entretanto, essas duas barreiras são uma só, pois o diploma garante o emprego. Mesmo quando existe um verdadeiro mercado de trabalho, as competências não constituem necessariamente o critério dominante de seleção. 85 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA Em todos os casos, cada sistema gostaria que o certificado de formação inicial fosse garantia de competência. Essa esperança, parcialmente fundada, choca‑se, entretanto, com dois mecanismos bastante gerais: • as falhas da certificação no final da formação inicial; • a evolução das pessoas e das condições do trabalho de ensino. Numa profissão humanista, o que leva as pessoas a se superar nem sempre é desprovido de interesse. Pode‑se ter uma profunda satisfação narcisista em educar e instruir, em se sentir útil e necessário. O propulsor mais seguro do desenvolvimento das competências de um professor é o crescimento do sentido, da identidade, do domínio e do prazer profissionais que ele espera. Tudo isso pode se enraizar na satisfação do dever cumprido, na luta militante por uma boa causa ou em desafios mais pessoais. Saiba mais Leia a obra a seguir: VALENTE, J. A.; BUSTAMENTE, S. B. V. (Org.). Educação a distância: prática e formação do profissional reflexivo. São Paulo: Ed. Avercamp, 2009. Alguns dos tópicos de destaque na obra são: análise de projetos, construção coletiva de conhecimento, fundamentação de cursos de formação de educadores on‑line, reflexões do educador‑aluno, metarreflexão e (trans)formação permanente, papel da pesquisa na formação do professor reflexivo, sala de aula do século XXI, educação bimodal, design de sistemas e práticas participativas e papel da reflexão e dos mediadores na capacitação de aprendizes colaboradores. Se fosse assim com todos, cada um trabalharia espontaneamente para avaliar e desenvolver suas competências, como um atleta ou um artista. Mas, já que este não é o caso, a questão é: como atingir os que não estão espontaneamente prontos a refletir sobre suas práticas e a progredir ou aqueles para os quais esse não é o modo habitual de viver? Certamente, isso ocorrerá não se os submetermos a procedimentos formais de avaliação e de classificação, mas sim se os envolvermos em diversas formas de profissionalização interativa. O destino de um projeto de escola depende, entre outros fatores, das competências individuais e coletivas dos professores nele implicados. Conceber, negociar, conduzir um projeto de escola e prestar contas dele proporciona a cada um a oportunidade de se confrontar com as práticas dos outros e de se ter a medida de suas escolhas implícitas, de seus limites e da relação entre as primeiras e os segundos. 86 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II Na medida em que o corpo docente de uma escola está solidariamente comprometido num projeto, cada um se torna dependente dos outros e, portanto, passa a ter expectativas legítimas em termos de disponibilidade, de força de trabalho, de atitude, mas também de competências trazidas para a tarefa coletiva ou no âmbito de uma divisão equilibrada do trabalho. O próprio funcionamento de um projeto constitui um primeiro nível de regulação de competências, contanto que a instituição torne a solidariedade necessária e possível, o que pressupõe provavelmente uma alteração do estatuto das escolas. Novas fórmulas pedagógicas A atividade criadora, segundo Vygotsky (2009), corresponde a toda atividade humana geradora de algo novo, seja um objeto que representa o mundo externo, como o desenho, sejam determinadas construções cerebrais ou sentimentos que são despertados e manifestados unicamente no ser humano. Figura 29 – Vygotsky: a atividade criadora humana para gerar algo novo A partir do momento em que nascemos, construímos, ao longo do desenvolvimento, nosso mundo perceptivo. Jean Piaget (2002) propõe que essa construção é um processo ativo, em que o indivíduo não é apenas um observador passivo, mas também um explorador ativo do mundo em que vive. Percebemos que a percepção não depende apenas do objeto, mas principalmente do sujeito que o percebe. Não temos acesso direto ao mundo exterior e toda a realidade é mediada pelos nossos sentidos. Só podemos comparar percepções com outras percepções e nunca saberemos se a nossa percepção dos objetos corresponde exatamente ao que eles realmente são. Segundo Arnheim (2005, p. 35): Vejo um objeto. Vejo o mundo ao meu redor. Qual é o significado destas afirmações? Para os fins da vida cotidiana, o ver é essencialmente um meio de orientação prática, de determinar com os próprios olhos que uma certa coisa está presente num certo lugar e que está fazendo uma determinada coisa. Isto é identificação no seu sentido simples. 87 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am ação : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA A distinção entre “ver” e “conhecer”, entre aquilo que recebemos dos nossos sentidos e aquilo que ativamente acrescentamos a essas sensações, é um tema que cientistas, filósofos e artistas ao longo de toda a história buscaram compreender e proporcionaram o despertar de novas ideias sobre o tema. Essa busca em compreender o que é o “ver” e o “conhecer” também nos inquieta, ampliada pela questão trazida por Merleau‑Ponty (2004, p.16): Só se vê o que se olha. Que seria a visão sem nenhum movimento dos olhos, e como esse movimento não confundiria as coisas se ele próprio fosse reflexo ou cego, se não tivesse suas antenas, sua clarividência, se a visão não se antecipasse nele? Observação O filósofo francês Maurice Merleau‑Ponty (1999) desenvolveu em sua teoria reflexões sobre a fenomenologia, movimento filosófico segundo o qual, pressupondo apenas como lógos, o próprio mundo nos ensina que filosofar é reaprender a ver o mundo. Ver o mundo “como ele realmente é”, desvinculado de toda a mediação imposta pelo nosso aparelho cognitivo, é uma possibilidade por muitos perseguida. Nem sempre a visão de algo estrutura o conhecimento visual total de mundo. Muitas vezes apenas enxergamos aquilo que vemos, e o que vemos pode significar algo além do nosso olhar. Segundo Merleau‑Ponty (2004), precisamos refletir sobre esse olhar do mundo, fundamentando esse olhar em um pensar, isto é, um olhar que faz correlações visuais com o mundo, distanciando‑se das observações absolutas; um olhar que interpreta o mundo sem distanciar‑se do sujeito e do objeto, circunscrevendo um campo de pensamento. Nossa experiência do mundo visual pode ser descrita dizendo‑se que é estendida na distância e modelada em profundidade; ereta e imóvel em conjunto; ao mesmo tempo que ilimitada, colorida, texturizada, sombreada e iluminada. Preenchida por superfícies, bordas, formas e interstícios (GIBSON, 1974, p. 268). Aceitar que os objetos não têm vida, mas que adquirem sentido a partir da experiência de quem os olha e os possui, sendo também fonte de conhecimento, referendada pelos estudiosos citados, é também a proposta que Hernández (2000) nos apresenta: estudar sobre os objetos e aprender com eles sobre o “mundo” que representam e sobre as pessoas que se relacionam com eles. Hernández (2000) destaca que a compreensão de mundo deve ser capaz de adquirir habilidades que permitam ir além do mundo como ele é, como estamos acostumados a percebê‑lo, partindo de códigos e símbolos previamente estabelecidos pelo poder. Essa predisposição constitui um primeiro passo para refazer e renomear nosso mundo, dando sentido a ele. 88 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II Abordagens instrucionista e construcionista Uma grande linha conceitual de aprendizagem tem o objetivo de desenvolver o ensino de diferentes áreas do conhecimento por meio dos computadores (ALMEIDA, 2001). Neste caso, os computadores são empregados em diferentes níveis e modalidades, dependendo da abordagem adotada. Independentemente da abordagem, instrucionista ou construcionista, os elementos básicos envolvidos são: • educadores; • educandos; • computadores; • software ou programa computacional. Como discutimos anteriormente, é fundamental que o educador tenha consciência da importância da escolha do software com que ele vai trabalhar, selecionando‑o de acordo com os objetivos das atividades propostas. Almeida (2001, p. 19) afirma: As intenções e metas de uma atividade pedagógica são explicitadas no projeto de trabalho do professor, cujo objetivo fundamental é a aprendizagem do aluno, responsável por seus projetos de trabalho e por sua aprendizagem. Desse modo, cabe ao educador articular a utilização das tecnologias de informação e comunicação com outras atividades desenvolvidas em sala de aula, visando à aprendizagem do educando (ALMEIDA, 2001). Abordagem instrucionista Nessa abordagem, de acordo com Almeida (2001), o conteúdo a ser ensinado está subdividido em módulos. No final de cada módulo, o educando responde a uma pergunta, cuja resposta correta o leva para o próximo módulo. Caso ele erre, retorna ao módulo anterior até conseguir a resposta correta. Os processos pelos quais o educando passa para emitir determinada resposta são desprezados. Esse tipo de procedimento prepara os educandos para o domínio dos recursos da computação. Com base nessa abordagem, originou‑se uma nova disciplina totalmente dissociada das demais. Para essa disciplina, destina‑se uma pessoa (instrutor) que tenha somente domínio sobre o equipamento, consequentemente, sem preocupação com o processo ensino‑aprendizagem. Logo, não é necessário que seja um educador. Por essa razão, muitas vezes, encontramos nas escolas educandos navegando em algum software sem a mínima orientação, sem roteiro e objetivos preestabelecidos. Enfim, é uma navegação sem bússola e destino final. 89 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA O software instrucionista não permite que o pensamento do educando fique explícito. Para que o educador possa compreendê‑lo, ele precisa acompanhar todas as etapas da exploração e questionar o educando. Esse tipo de software apresenta um conteúdo fechado, preciso, claro, objetivo, com muitas imagens e sons, como as enciclopédias. Além disso, é estruturado de acordo com o pensamento de quem o elaborou, o que evidencia que o seu objetivo é simplesmente instruir o educando sobre um determinado tema (ALMEIDA, 2001). Podemos concluir que o educando recebe passivamente as informações da apresentação, sem interagir com o ambiente. Conforme Almeida (2001), a abordagem instrucionista teve sua origem na aplicação dos estudos de Skinner, que utilizava a máquina com o conceito de instrução programada, ou seja, o conteúdo é dividido em pequenos blocos, de acordo com a perspectiva de quem o planejou; ao final, os aprendizes respondem a várias questões. Caso esses aprendizes atinjam um mínimo de acertos, eles poderão prosseguir. Figura 30 – O software instrucionista não permite que o pensamento do educando fique explícito Abordagem construcionista Almeida (2001) afirma que, nessa abordagem, o computador não é o detentor do conhecimento, mas, sim, uma ferramenta por meio da qual o educando pode buscar informações na rede de comunicação, navegando de forma não linear, conforme sua maneira de pensar e suas necessidades. As informações obtidas são utilizadas em aplicativos, tais como: editor de textos, planilhas eletrônicas e apresentações, integradas a outras mídias, fazendo com que o educando consiga representar o seu conhecimento por meio de sucessivas operações que, no final, se mostram com nova roupagem. Nesta situação, o educador precisa se esforçar para compreender o processo mental do educando. Pode‑se afirmar que o educando “ensina” o computador, pois é ele quem direciona o seu trabalho “dizendo” o que deve ser feito e como deve ser formatado, além de qual imagem utilizar, diferentemente da situação anterior, em que o educando tinha que seguir por um caminho predefinido pelo autor do software. 90 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II Outra forma de representação do conhecimento sugerida por Almeida (2001) é a utilização de uma linguagem de programação que possibilite a aprendizagem ativa. Neste caso, diante de uma situação‑problema, o educando usará o seu conhecimento para guiar o computador, indicando quais operações serão executadas para solucionar a questão. Para Almeida (2001), a ação de tutorar um computador promove o desenvolvimento de novas e mais complexas estruturas do pensamento. Essa ação prevê que o educando participe ativamente de sua interação com o computador, respondendo ao comando do usuário, o que o torna autor e condutor do seuprocesso de aprendizagem. Almeida (2001) inclui, ainda, dentro dessa abordagem, atividades realizadas por meio de redes de comunicação a distância, sistemas de autoria, programas de criação de páginas para web, editores de desenhos, simulações, modelagens, programas e aplicativos, como gerenciadores de banco de dados e outros. Nessa abordagem, os usuários devem ser os criadores e participar ativamente do seu aprendizado. Portanto, a tecnologia tem que ser interativa e os aprendizes devem “dizer ao computador” o caminho que desejam percorrer para seu desenvolvimento cognitivo. Nesse contexto, os recursos existentes na realidade virtual são grandes aliados. Observe que a integração dessas mídias está não apenas tornando o processo de ensino‑aprendizagem mais real e efetivo, mas também propondo novas áreas de pesquisa e desenvolvimento. 7 CONHECIMENTO COMO REDE: A METÁFORA COMO PARADIGMA E COMO PROCESSO Autor do texto Conhecimento como Rede: a Metáfora como Paradigma e como Processo, Nilson José Machado leciona na USP desde 1972, inicialmente no Instituto de Matemática e Estatística e posteriormente, a partir de 1984, na Faculdade de Educação. Em seu texto, Machado apresenta a ideia do conhecimento como rede de significados. Discorre, portanto, da rede como metáfora, imagem ou paradigma na concepção de conhecimento, e também da metáfora como instrumento fundamental do próprio processo de construção das redes de significado. Ele apresenta alguns autores que já pensaram a ideia de rede no cenário epistemológico. Embora essa temática pareça relativamente recente, pelo menos com a ênfase da última década, fragmentos de tal noção encontram‑se presentes em temas de natureza cognitiva ou pedagógica há muito mais tempo. Entre alguns autores apresentados, Machado nos apresenta as colocações de Adorno (1992), que valoriza e reitera a metáfora de rede; Rousseau (apud BURKE, 1993), abordando a semiótica do nervo; Pagels (1990) e suas colocações sobre o conexionismo, comparando o sistema nervoso e os aparatos computacionais; Aebli (1982) e a construção do significado de palavras ou conceitos/ mimetismo; Ullmann (1982), que discorre sobre o campo associativo como rede de associações; Luria (1987) e os campos semânticos; e Hofstadter (1989), sobre as associações analógicas entre campos semânticos distintos. 91 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA Machado nos indica uma cronologia de mudanças no conceito de rede, entretanto, isso não quer dizer que termina uma concepção do conceito e começa outra, mas sim que há superações, complementações ao longo do tempo. Dentro dessa cronologia, o autor nos apresenta as concepções de rede para determinados autores, como Popper (1975), a qual propõe dominar o mundo, “conhecer” e “dominar” a natureza; Borges (1989), para quem a ciência, representada pela cartografia, busca o rigor e a perfeição na representação do mundo (mapas maiores, “precisos”, “rigorosos”); Mosterin (1987) e a coexistência de uma diversidade de teorias, reservando à eficácia o critério da escolha (“Somos como pescadores e nossas teorias são como redes”); Bunge (1973), que pretende estabelecer as vantagens e a imprescindibilidade da axiomatização; e Stegmuller (1981), sobre o sistema acentrado ou de múltiplos centros. Percebemos que múltiplas e variadas são as raízes da ideia de rede como metáfora para o conhecimento, sendo necessárias depurações iniciais para se pensar o significado desse conhecimento como rede. Assim, segundo Machado (1994), para que uma ideia de rede como metáfora para a representação do conhecimento possa ser construída e apresentar‑se como fecunda, a inspiração em inúmeros antecedentes previamente examinados, como os discursos do nervo, os campos semânticos, as redes elétricas etc., deve estar associada a uma depuração no sentido de aliviar‑lhe de acessórios dispensáveis, como o fechamento decorrente da intenção de dominação, a pressuposição de um progressivo refinamento ou a meta da formalização matemática. Somente assim podem emergir seus aspectos mais característicos, como o fato de que o material constitutivo da teia de conexões são significações, ou ainda, na dinâmica dessa teia, a dualidade entre nós e relações. Os processos cognitivos ocorrem em uma ação dinâmica: Teia de conexões Conhecimento Metáfora RelaçõesDinâmica Significações Ideia de rede Dualidade entre nós Figura 31 – Esquema da ação dinâmica dos processos cognitivos, segundo Machado (1994) É preciso compreender e apreender o significado de um objeto ou de um acontecimento e vê‑lo em suas relações com outros objetos ou acontecimentos. Os significados constituem, pois, feixes de relações e essas relações entretecem‑se, articulam‑se em teias, em redes, construídas socialmente e individualmente, e em permanente estado de atualização, individual e socialmente. A ideia de conhecer assemelha‑se à de enredar. A metáfora da rede contrapõe‑se diretamente à ideia de cadeia, de encadeamento lógico, de ordenação necessária. A rede descrita no texto de Machado (1994) subsiste em um “espaço de representações”, 92 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II constituindo uma teia de significações. Os pontos (nós) são significados de objetos, pessoas, lugares, proposições, teses... e as ligações são relações entre nós, não subsistindo isoladamente, mas apenas enquanto pontes entre pontos. Constrói‑se, assim, desde o início, “uma reciprocidade profunda“. A reflexão sobre as colocações de Nilson Machado nos faz recordar o que afirmam Gilles Deleuze e Félix Guattari (1980, p. 32) sobre rizoma: Contra os sistemas centrados (e mesmo policentrados), de comunicação hierárquica e ligações preestabelecidas, o rizoma é um sistema a‑centrado não hierárquico e não significante, sem general, sem memória organizadora ou autômato central, unicamente definido por uma circulação de estados. A concepção de conhecimento como uma teia acentrada de nós e relações significativas em permanente transformação e atualização impulsiona a uma radical mudança de perspectivas e expectativas, no que se refere ao planejamento das atividades didáticas. Entretanto, são diversas as possibilidades de vagar à toa, de se perder nessa proposta acentrada, mas um quadro de disciplinas nos fornece naturalmente um mapeamento. A metáfora da rede não pretende desqualificar ou menosprezar a importância das disciplinas nas práticas pedagógica, mas, sim, possibilitar a flexibilidade das fronteiras disciplinares. No conceito de fronteira está sempre implícita uma determinada articulação entre centro e margem. A busca de uma articulação entre as concepções e as ações docentes conduz naturalmente, no caso da metáfora da rede, à emergência da própria metáfora como instrumento decisivo na construção da rede cognitiva. Figura 32 – O mapeamento para buscar flexibilidade pedagógica Partindo dessa concepção de conhecimento em rede, a compreensão de novas práticas pedagógicas em sala de aula representa novos horizontes a serem seguidos nesse período de mudanças sociais e educacionais no Brasil. É preciso conhecer e aplicar novas possibilidades de ação pedagógica. Ser um profissional competente, nos dias de hoje, significa ir em busca de informações, se adequar, estar preparado para mudar. É preciso aceitar que a profissão se transforma e que essa evolução exige que todos os professores possuam novas competências e que lidem com os públicos mais diferenciados. 93 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA As competências referenciadas não têm a intenção de mostrar novas possibilidades técnicas, mas de evidenciar que ocorreram transformações no exercício da profissão de professor. Claro que não foi o vídeo, o computador ou a televisão que fez com que o professor mudasse, mas é preciso estar atentoàs mudanças e saber que ocorrem em qualquer profissão. A tecnologia avança; os métodos de ensino também. Os alunos não são mais os mesmos de muitos anos atrás: querem inovações, professores capacitados, uma boa relação professor‑aluno. Sendo assim, não basta que o professor termine o curso superior achando que não precisa se atualizar. Cabe ao professor investir em seu autoconhecimento e autodesenvolvimento para que possa oferecer um ensino de qualidade. Esperar que as coisas aconteçam nada resolve; é preciso buscar. Os focos previstos para a prática reflexiva são vários, indo desde a busca de formas alternativas de ensino ou conduta pedagógica até o próprio questionamento dos conhecimentos internalizados pelo professor. É este o caminho pretendido: analisar as concepções e atitudes que norteiam o trabalho do professor, para rever e redirecionar a postura em sala de aula, sempre na expectativa de se desenvolver com a máxima eficiência uma proposta de ensino de leitura e produção de textos. A formação oportuniza ao professor não só o saber em sala de aula. Ele precisa conhecer as questões de educação, as diversas práticas analisadas na perspectiva histórico e sociocultural e, ainda, o desenvolvimento do seu aluno nos seus múltiplos aspectos – afetivo, cognitivo e social –, bem como refletir criticamente sobre seu papel diante de seus alunos e da sociedade. 8 AS DIFERENÇAS ENTRE PLURIDISCIPLINARIDADE, INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO Transdiciplinar Interações e reciprocidades entre pesquisas = relação sistêmica. Interdisciplinar Interações ‑ reciprocidade das trocas = enriquecimento mútuo. Multidisciplinar Colaboração mútua de duas ou mais diciplinas = sem modificações ou enriquecimento. Figura 33 – A compartimentalização do saber 94 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II Atualmente, vivenciamos a compartimentalização do saber. As disciplinas são organizadas e trabalhadas como realidades estanques, sem interligação, dificultando a compreensão do conhecimento como um todo, sem permitir uma percepção ampliada da realidade. Em busca da superação dessa fragmentação, uma possibilidade de mudança é pensar na educação pluri, inter e transdisciplinar, baseada na integração das disciplinas, permitindo a construção de uma compreensão ampla e abrangente do saber. Cada professor tem sido um arquivista especializado numa disciplina, tendo a função de possibilitar o acesso dos alunos aos conteúdos. Nesse cenário encontramos alunos e professores incapazes de realizar interconexões entre os diferentes arquivos constituídos na aquisição dos saberes durante a vida (GADOTTI, 2000). O que é a pluridisciplinaridade? Conjunto de disciplinas a serem trabalhadas simultaneamente, sem transparecer as relações que possam existir entre elas, destinando‑se a um sistema de um só nível e de objetivos únicos, sem nenhuma cooperação. A multidisciplinaridade corresponde à estrutura tradicional de currículo nas escolas, o qual encontra‑se fragmentado em várias disciplinas. Refere‑se a uma colaboração mútua de duas ou mais disciplinas, ou áreas de conhecimento, mas sem que sejam modificadas ou enriquecidas. De acordo com o conceito de multidisciplinaridade, recorre‑se a informações de várias matérias para estudar um determinado elemento, sem a preocupação de interligar as disciplinas entre si. Assim, cada matéria contribuiu com informações próprias do seu campo de conhecimento, sem considerar que existe uma integração entre elas. Essa forma de relacionamento entre as disciplinas é considerada pouco eficaz para a transferência de conhecimentos, já que impede uma relação entre os vários conhecimentos. A ideia de pluridisciplinaridade tem origem na tentativa de estabelecer relação entre as disciplinas que, dessa forma, receberam um nome específico de acordo com a quantidade da integração existente entre elas. Essa relação seria uma tentativa de acabar com a visão de que a disciplina seria um tipo de saber específico que possui um objeto determinado e reconhecido, sem correlação entre si, constituindo‑se em subdivisões do conhecimento. Na multidisciplinaridade (ou pluridisciplinaridade), várias disciplinas analisam um dado objeto, sem que haja ligação necessária entre essas abordagens disciplinares. O que se faz é pôr em paralelo diferentes maneiras de enfocar um tema, que são coordenadas com vistas ao conhecimento global de uma determinada matéria – o que daria origem à chamada interdisciplinaridade. 95 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA O que é a interdisciplinaridade? Figura 34 – O novos caminhos para a interdisciplinaridade O movimento de interdisciplinaridade surgiu em meados da década de 1960, na França e na Itália, juntamente com os movimentos estudantis que reivindicavam um novo estatuto para universidades e escolas. No final da década de 1960, chegam ao Brasil alguns comentários distorcidos. Apenas na década de 1970 surge a primeira produção significativa sobre interdisciplinaridade, por meio de uma publicação de Hilton Japiassu (1976). Em sua publicação, o autor descreve os cuidados necessários ao se constituir uma equipe interdisciplinar, dos quais podemos destacar: • Facilitar a comunicação entre os membros da equipe. • Delimitar o problema. • Repartir tarefas. • Comunicar os resultados. Na década de 1970, Fazenda desenvolveu outro trabalho relacionado ao tema. Contudo, somente na década de 1980, após todos os esforços empreendidos na década anterior, os educadores começaram a se pronunciar em relação à interdisciplinaridade. Nesse momento, notou‑se que o educador interdisciplinar traria consigo um gosto especial por conhecer e pesquisar. Ele estaria comprometido com seu trabalho, ousando utilizar novas técnicas e procedimentos para ensinar seus alunos. 96 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II Atualmente, os temas de estudo são trabalhados nas escolas de forma interdisciplinar, as atividades são contextualizadas, o fazer deve ser criativo, com a marca pessoal daquele que está produzindo, e no final são feitas as apreciações estéticas das produções com a sistematização dos conteúdos assimilados. Trabalhando dessa forma, um tema poderá se transformar num projeto para o desenvolvimento da criatividade e aprendizagem. No momento em que decidimos desenvolver ações interdisciplinares, estas pressupõem uma reflexão profunda e inovadora sobre o conhecimento, pois a intervenção interdisciplinar nos aponta uma insatisfação com o saber fragmentado. Como afirma Santomé (1995, p. 176), “a educação obrigatória tem que recuperar uma de suas razões de ser: a de ser um espaço onde as novas gerações se capacitem para adquirir e analisar criticamente o legado cultural da sociedade”. Não existe interdisciplinaridade sem disciplinas e sem problematização (FAZENDA, 2002). O problema está presente nos recortes feitos nos conteúdos e suas relações arbitrárias que não possibilitam a compreensão de sua essencialidade. O desejo do conhecer ilimitado se perde e não buscamos saber como surgiram e se desenvolveram os conteúdos por nós estudados e que ao longo dos anos apresentamos aos nossos alunos. A ideia central do projeto interdisciplinar é trabalhar com as disciplinas, preservando as contribuições próprias de cada componente curricular. Acreditamos ser importante a socialização das disciplinas, considerando‑as como livros abertos a serem lidos e analisados por diferentes leitores, autores e produtores. Um olhar interdisciplinarmente atento recupera a magia das práticas, a essência de seus movimentos, mas, sobretudo, induz‑nos a outras superações, ou mesmo reformulações. Exercitar uma forma interdisciplinar de teorizar e praticar educação demanda, antes de mais nada, o exercício de uma atitude ambígua (FAZENDA, 1998, p.13). Fazenda (1998) nos apresenta um olhar interdisciplinar que nos motiva a pensarmos uma prática pedagógica diferente da rotina escolar formal que estamos acostumados. Durante o trabalho com projetos é preciso construir práticas sobre os contextos socioculturais em que estão inseridas as crianças, para que aprendam a interpretá‑los sob diferentes pontos de vista, possibilitando um novo olhar e uma ação, conscientemente, sobre o mundo. O desenvolvimento de projetos nos possibilita trabalhar com os alunos a desconstrução e reconstrução de imagens e ações próprias de seus contextos familiares, escolares ou culturais, buscando trazer para a ação o olhar do educando para aquilo que ele conhece e se apropria, transformando‑o em novo conhecimento. É importante pensar as aulas como projetos. Antunes (2001) nos indica que o projeto não pode ser um evento extracurricular, deve ser visto como uma linha da pesquisa em que o projeto pedagógico seja produzido pelo grupo dos professores, mas não só por eles. O projeto é, sobretudo, desenvolvido pelos alunos. 97 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA A interdisciplinaridade deve ir além da simples justaposição de disciplinas, ao interagirmos em busca de objetivos comuns. Devemos através do trabalho pedagógico arrolar as disciplinas em atividades ou projetos de estudo, projetos de pesquisa e ação. A interdisciplinaridade poderá ser uma prática pedagógica e didática eficaz ao cultivarmos um diálogo constante de questionamento, de aprovação, de indeferimento, de acréscimo e de transparência. Na interdisciplinaridade os alunos aprendem a visão do mesmo objeto sob prismas distintos. A prática da interdisciplinaridade possui uma linha de trabalho integradora que pode agregar um objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Quando problematizamos uma situação, o problema causador do projeto, pode ser uma experiência, um desencadeamento de ação para interferir na realidade. Devemos nos conscientizar que o projeto é interdisciplinar em sua compreensão, cumprimento e avaliação. A ação interdisciplinar envolve a contextualização do conhecimento, que mantém uma relação fundamental entre o sujeito que aprende e o componente a ser aprendido, evocando fatos da vida pessoal, social e cultural, principalmente o trabalho e a cidadania. Quando os alunos participam da tomada de decisão a respeito de um tema ou de um projeto, é possível que constituam relações entre os novos conteúdos e os conhecimentos que já possuem, conseguindo aprendizagens mais significativas, comparando, criticando, sugerindo ajustes, novas relações e organizações, abrindo portas para a interferência em uma realidade, desencadeando novas ações e construindo um compromisso com uma cidadania ativa. A interdisciplinaridade não deveria ser considerada como uma meta obsessivamente perseguida no meio educacional simplesmente por força da lei, como tem acontecido em alguns casos. Pelo contrário, ela pressupõe uma organização, uma articulação voluntária e coordenada das ações disciplinares orientadas por um interesse comum. Nesse ponto de vista, a interdisciplinaridade só vale a pena se for uma maneira eficaz de se atingir metas educacionais previamente estabelecidas e compartilhadas pelos membros da unidade escolar. Embora o discurso da interdisciplinaridade seja pregado entre as mais diferentes áreas da educação com objetivo de fazer com que os futuros profissionais obtenham melhores resultados em sala de aula, não são raros os casos em que esse novo método é alvo de rejeição e preconceito. Em parte, porque alguns professores, os mais radicais, preferem manter‑se fechados em seu universo e, também, porque trabalho em equipe ainda é um monstro que assusta muita gente. O professor interdisciplinar cultiva o desejo de enriquecimento por enfoques novos, de ultrapassar caminhos já trilhados e saberes já adquiridos. Enquanto educadores, devem trabalhar para saírem do papel de disciplinadores intelectuais e para que possam cumprir a missão de despertar, de provocar, de questionar e de se questionar. 98 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 Unidade II Figura 35 – Projetos interdisciplinares: as Artes Visuais Integradas para alunos pesquisadores em arte‑educação O que é a transdisiplinaridade? A transdisciplinaridade é uma nova abordagem científica e cultural que tenta compreender a natureza, a vida e a sociedade, ou seja, é a busca do sentido da vida por meio dos saberes. A transdisciplinaridade tenta criar uma visão contextualizada do conhecimento, da vida e do mundo, abandonando a visão fragmentada. Carvalho (2015) afirma que: A transdisciplinaridade não é método, mas estratégia, caminho errático que atravessa os saberes. Não se trata de um receituário de procedimentos a serem operacionalizados diante de objetos inertes. A palavra assusta, porque mexe com certezas consolidadas e nichos de poder. Na verdade, trata‑se de um domínio cognitivo que se localiza além das disciplinas, uma atitude teórico‑conceitual‑metodológica assemelhada a uma viagem sem porto definido. Exige conhecimento sedimentado das áreas‑tronco do pesquisador, mas vai além delas, para atingir a complexidade de problemas sócio‑históricos. Após analisar a definição de transdisciplinaridade, vamos transpô‑la para os problemas do dia a dia. Podemos perceber que eles são resolvidos de maneira transdisciplinar, enquanto os conhecimentos relacionados ao processo educacional tendem a ser racionalizados, descontextualizados e objetivos. No campo educacional, podemos destacar a internet como recurso que possibilita a aprendizagem, pois pela rede mundial de comunicação temos acesso a todas as partes do mundo, a bibliotecas virtuais de diversas universidades, além de podermos nos comunicar com pessoas de outros países e participar de grupos de discussões sobre todos os temas. 99 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTEGRADA Trabalho transdisciplinar Para que ocorra um trabalho transdisciplinar, é necessário que haja um redimensionamento da forma como a educação está estruturada no ambiente escolar. É preciso haver uma integração dos conhecimentos transmitidos, os quais devem ser entendidos em seu dinamismo, em sua pluralidade, de uma maneira articulada e multidisciplinar, pois a divisão dos conteúdos nas escolas perde o sentido do processo educacional. Para Abreu Junior (1996), um mesmo tema deve ser estudado por todas as disciplinas que têm implicações relacionadas àquele conteúdo específico, pois estudar uma disciplina de maneira estanque e fragmentada não tem validade científica, filosófica e histórica. Ele argumenta: Um tema como o homem deve ser estudado pelas ciências, pela história e geografia com todas as implicações éticas da busca da qualidade de vida para o homem. A fome, que dizima milhões de pessoas anualmente, não é um problema só de política econômica. A fome debilita o corpo, leva à morte, traz consternação e sentimentos depressivos aos entes queridos. Quando não leva à morte, a fome causa debilitação física e mental, prejudica a construção do conhecimento no corpo de quem estuda e dificulta a participação na cidadania (ABREU JÚNIOR, 1996, p. 177). A citação de Abreu Júnior demonstra de maneira objetiva a importância da integração dos conhecimentos. Um único tema leva a várias discussões e aprendizados. Mas, para ocorrer a transdisciplinaridade, é essencial que haja uma consciência entre os educadores das várias disciplinas. Construção do conhecimento Construir o conhecimento de maneira transdisciplinar é ultrapassar os limites: é a articulação entre o homem, a sociedade e a natureza, é uma atividade contínua em todo lugar, que independe da simples tarefa racional e cognitiva. Ao pensar a complexidade do cenário educacional, é
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