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História da medicina legal

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Ive Maria medicina legal – 8 º semestre 
 
1 
Introdução à medicina legal 
Aula 1 
Pode-se dizer que é Ciência, Técnica e Arte. Ciência porque sistematiza seus métodos para objetivo determinado; técnica 
porque utiliza métodos em busca da verdade; e é arte porque, mesmo aplicando técnicas e métodos muito exatos e 
sofisticados em busca de uma verdade, exige qualidades instintivas para demonstrar de forma significativa; 
NOÇÕES HISTÓRICAS 
Dividindo de forma ampla a história da medicina legal, temos o período mais antigo, período romano, idade média, fase 
canônica e por fim a fase científica. 
PANORAMA MUNDIAL 
 
No panorama mundial começamos falando do período antigo 1248 A.C, e na medicina antiga quando se pensa em poder 
ligado à medicina e ao julgamento temos a figura do sacerdote, que julgava as pessoas, “curava” por intermédio divino, 
então na verdade, como não havia médicos, o sacerdote ocupava um lugar muito importante na medicina e no direito, 
exercendo a função de legislador e de médico. Nessa época o corpo era considerado sagrado, algo que não podia ser 
profanado, por isso temos muitas múmias embalsamadas do Egito antigo que até hoje se encontram muito bem preservadas. 
Isso é muito importante porque trouxe muito conhecimento, contribuindo diretamente para as técnicas de preservação atuais, 
um corpo que precisa fazer um translado internacional por exemplo, vai precisar de alguma técnica de preservação. 
Em seguida, à época de 18 A.C tem-se o código de Hamurabi, um marco na relação da medicina-legislativo, trazendo a 
máxima da Lei de Talião. Essa relação medicina e leis não era muito boa, pois previa a punição do médico, que não 
detinha a posição e o respeito que temos hoje, então quando em um procedimento o paciente perdia a mão por exemplo, 
devia-se então o médico também perdê-la. Então essa relação com as leis era essencialmente no sentido punir o médico, 
não trazia ainda o intuito do médico ajudar a justiça. 
Entrando no período Romano em 44 A.C, temos o primeiro registro de uma perinecroscopia de Caio Júlio César, que morreu 
por traição dos seus filhos com 23 golpes de adaga dadas pelos seus senadores. Então o médico de Júlio César (que não 
era legista) examinou o cadáver externamente, ou seja, fez uma perinecroscopia, uma ectoscopia e comprovou que dos 23 
golpes, apenas um tinha sido mortal; pouco provável que isso seja verdadeiro, pois na época o conhecimento de anatomia 
ainda não era muito bom, então certamente havia estruturas que poderiam ser vitais que ele ainda não sabia, e por último 
porque o exame interno é muito importante nesses casos, pois o exame externo pode ser confundidor. Então nessas 
circunstâncias, temos o primeiro relato de exame necroscópico, ainda que externo e rudimentar, já que ainda existia o culto 
como sagrado em relação ao corpo. 
No período da idade média não tivemos evoluções significativas quanto a medicina, lembrando que a igreja exercia uma 
influência muito forte, sem maiores esclarecimentos, porque tudo era justificado com as intenções divinas. No entanto, em 
1800 D.C, existiram as Leis Capilares de Carlos Magno que começaram a acenar para aa importância do médico ser 
ouvido em casos de morte violenta, mas isso ainda estava muito longe de ser uma autorização para a participação de um 
exame necroscópico. 
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Posteriormente no período Canônico, demarcado no finalzinho da idade média, quando ainda havia influência muito forte 
da igreja, se pensarmos principalmente nessa época, a igreja tinha um alicerce moral atrelado ao controle da sexualidade, 
já que se acreditava que o sexo poderia levar a sociedade ao caos. Nesse período tivemos uma evolução justamente na 
área de sexologia forense, porque tudo que acontecia ligado a essa área precisava ser averiguado, por exemplo, em uma 
suspeita de estupro ou uma mulher que queria separação religiosa acusando o marido de ser impotente. Essas situações 
precisavam ser analisadas, porque a igreja na área da sexologia tinha o objetivo de punir ou averiguar profundamente 
para que aquilo não se repetisse. 
Então se um homem fosse acusado de estupro, este era colocado nu em uma sala com virgens nuas que ficariam dançando 
ao seu redor e se ele apresentasse ereção durante essa movimentação era confirmado que ele era estuprador; os 
avaliadores eram os médicos e, em alguns casos, parteiras. No segundo exemplo, da mulher que quer a separação devido a 
impotência sexual do marido, o casal era colocado em uma sala contígua, as parteiras ou médicos em outra sala, uma 
cortina as separando, e o casal mantendo uma relação sexual para consumar realmente se o homem era impotente. 
Começa-se a pensar então na perícia voltada a sexologia, por exemplo, a perícia nas mulheres em caso de estupro, eram 
muito realizadas e geralmente por parteiras. 
Em 1234 temos um exame médico de virgindade instituído pelo Papa Gregório IX, que determinou que para o exame de 
virgindade deveria ser feito uma avaliação médico legal. E aqui, nesse sentido, era avaliado nos casos dos casamentos em 
que se suspeitava que as mulheres não eram mais virgens. 
Em 1507 temos o Código de Bamberg, na Alemanha que já determinava a avaliação médica em casos de morte violentas, 
mas não permitia ainda o exame interno, a necrópsia. Em 1532, vem a Constituição Carolina que permitia a necrópsia 
forense em um sentido mais amplo. Em 1575 temos o primeiro tratado Ocidental de Medicina Legal de Ambroise Parre, 
considerado o pai da medicina legal, esse compêndio foi o marco da medicina legal, o qual tratava não apenas da 
técnica de embalsamamento do cadáver, mas ainda da gravidade das feridas, de algumas formas de asfixia, do 
diagnóstico da virgindade e de outras questões. 
Dois séculos depois, inicia-se o período científico, e em 1814 tem o Traité des Poisons - tratado dos venenos - por Mateu 
Orfila, pai da toxicologia moderna. A partir do século XIX vemos um crescimento exponencial da Medicina Legal, agora 
vista como ciência, e traz alguns expoentes importantes como Tardieu, Brouardel, Lacassagne, Etienne Martin, Legrand 
du Saulle, Hofmann e Paltauf, Carrara. 
PANORAMA BRASILEIRO 
 
Com a vinda da corte portuguesa, houve a chegada da Faculdade de Medicina do Brasil em 1808, aqui na Bahia que 30 
anos depois virou a FAMEB. Em1830 temos o primeiro laudo de necrópsia forense - ainda que feito de forma rudimentar – e o 
primeiro código penal brasileiro. Consideramos essa fase como fase estrangeira, porque tudo que havia de referência era o 
que vinha de fora, então havia um grande “delay” devido à demora na chegada de informações. 
Em 1854 começa a regulamentação da atividade médico-pericial através do decreto nº 1.746, de 16 de abril de 1856 - 
quando se criou a Assessoria Médico-Legal, à qual cabia a realização dos exames de “corpo de delito” e outros 
necessários para a averiguação dos crimes e fatos suspeitados - não significando que era considerado uma profissão e sim 
uma atividade praticada por médicos de quaisquer especialidade quando solicitado, ou seja, ainda não existiam peritos 
oficiais. 
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3 
Em 1879 Agostinho de Lima professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro criou o 1º Curso Prático de 
Tanatologia Forense, despertando um interesse nos estudantes de medicina da época. Sendo um marco de transição da 
fase estrangeira para iniciar uma nacionalização. 
Até então, a disciplina medicina legal só existia nas faculdades de medicina, até que em 1891 Rui Barbosa aprovou na 
câmara dos deputados um decreto criando a Cátedra de Medicina Legal (medicina e direito) instituindo a disciplina nos 
cursos de direito. 
Em 1895 temos a posse de Raymundo Nina Rodrigues como catedrático de Medicina Legal da FAMEB, instituindo a fase 
de nacionalização no Brasil, por isso é considerado o pai da medicina legal no Brasil. Nessa época existia um científico 
CesareLombroso, que investiu em uma tese que sugeria que as características antropométricas do individuo determinavam o 
comportamento daquele individuo, ou seja, uma pré-determinação a um certo comportamento social e Nina seguiu essa tese, 
analisando o perfil de um “possível delinquente” associando ao negros brasileiros. Por outro lado, houve uma preocupação 
muito grande com a formação dos peritos oficiais, para que houvesse um serviço de qualidade, consequentemente 
aperfeiçoando a relação medicina-legislativo. 
Em 1896 houve a criação do Serviço Médico-Legal na Bahia, esse serviço contava com dois médicos que se incumbiam dos 
exames de lesões corporais, necrópsias, exames toxicológicos, verificações de óbitos. Em 1903 Afrânio Peixoto propõe 
reformulação no Gabinete Médico-Legal do Rio de Janeiro; Afrânio ficou conhecido por realizar a necrópsia de Euclides da 
Cunha que foi assassinado no duelo com Dilermando, amante de sua esposa. Afrânio também era escritor e assumiu o lugar 
de Euclides na Academia Brasileira de Letras. 
Oscar Freire de Carvalho, legista baiano, em 1911 foi Diretor do Serviço Médico-Legal, e no retorno a São Paulo em 1918 
Criou a Instituto Oscar Freire. Em 1941 tem a criação do Código de Processo Penal, e com ele houve a determinação dos 
peritos oficiais, configurando a investidura do cargo através do concurso público. 
A medicina legal na Bahia traz nomes como Virgílio Clímaco Damásio, Estácio Luiz Valente de Lima, Waldemar da Graça Leite 
e Maria Thereza Pacheco. 
DEFINIÇÃO 
As inúmeras relações com outras ciências tornam a medicina legal difícil de ser definida com precisão. No geral, cada um 
conceitua essa ciência, levando em conta a sua forma de atuação, ou como entende a sua prática, contribuição e 
importância. 
• “Conjunto de conhecimentos físicos e médicos próprios a esclarecer os magistrados na solução de muitas questões concernentes à 
administração de Justiça e dirigir os magistrados na elaboração de um certo número de leis.” (Orfila) 
• “A arte de fazer relatórios em juízo.” (Ambroise Paré) 
• “A aplicação dos conhecimentos médicos aos problemas judiciais.” (Nerio Rojas) 
• “A contribuição da Medicina e da tecnologia e outras ciências afins, às questões do Direito na elaboração das leis, na administração 
judiciária e na consolidação da doutrina.” (Genival Veloso de França) 
• ‘É ciência e arte extrajurídica auxiliar, alicerçada em um conjunto de conhecimentos médicos, paramédicos e biológicos destinados a 
defender os direitos e os interesses dos homens e da sociedade" (Croce e Croce Júnior). 
Todas as definições dizem da ligação da medicina com a lei, ou seja, o legista auxiliando à justiça por meio de provas 
periciais. Sabemos que o juiz não tem esse conhecimento médico para analisar determinada situação, por isso que alguém 
com esse domínio deve fazê-la. Então dizemos que o médico legista não atende um paciente, mas sim a justiça, e isso é feito 
de forma que a informação fique o mais clara possível para a pessoa não-médica. 
CLASSIFICAÇÃO E RELAÇÕES 
A definição histórica diz respeito as várias fases evolutivas da medicina legal e se divide em pericial, legislativa (auxilia na 
confecção e revisão das leis), doutrinária (no sentido da construção do conhecimento em medicina legal) e filosófica 
(quanto a deontologia); 
Sob o prisma profissional da medicina legal está inclinada à forma como se exerce na prática, se dividindo em pericial, 
criminalística e antropológica; sendo a última bem específica e detalhista, tendo um objetivo principal de identificação; 
A parte doutrinária é dividida em penal, civil canônica, trabalhista e administrativa, são basicamente áreas do direito para 
as quais a medicina legal está atuando 
Sob o ponto de vista didático, a medicina legal está dividida em geral e especial. A geral está ligada a parte de 
diceologia e deontologia, ou seja, direitos e deveres médicos. A especial abrange as áreas da antropologia, 
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traumatologia, sexologia, tanatologia, toxicologia, asfixiologia, psicologia, psiquiatria, desportiva, criminalística, criminologia, 
infortunística, genética, vitimologia; 
Em resumo, medicina legal se relaciona com todas as especialidades médicas e quanto as ciências sociais, ela empresta sua 
colaboração ao: 
• Direito penal – nos crimes de lesão corporal, aborto legal e criminoso, homicídio... 
• Direito civil – quanto a questões de paternidade, testamento, direito do nascituro... 
• Direito administrativo – na avaliação de funcionários públicos em afastamentos e aposentadorias; 
• Direito processual civil e penal – no estudo psicológico da testemunha, da confissão, da vítima e do delinquente; 
• Direito trabalhista – no estudo de doenças profissionais, acidentes de trabalho e insalubridades; 
MEDICINA ASSISTENCIAL X PERICIAL 
SITUAÇÃO PROBLEMA 1: 
 
1. Temos aqui uma idosa, cardiopata hipertensa, diabética. De repente a mesma tem uma perda súbita de consciência, a 
SAMU foi acionada e constatou o óbito. A senhora não tem nenhuma lesão externa. 
2. No segundo caso tem um individuo em óbito, com o corpo coberto, com manchas de sangue embaixo do corpo, 
aparentemente a causa mortis foram tiros. 
 
Qual das duas situações precisa ser necropsiada pelo IML? 
R: Apenas a segunda situação precisará ser necropsiada, pois se trata de uma causa externa e com sinais de violência 
(lesões com orifício de entrada por arma de fogo). Em resumo, os tipos de óbito que deverão ser encaminhados ao IML os 
casos de morte violenta, de causa externa, ou que manifeste suspeita (exemplo, paciente jovem sem causa mortis conhecida), 
tais como, envenenamento, afogamento, vítima de tiros, facada, acidentes, overdose... 
 
Quando se quer investigar uma morte natural, encaminha-se ao serviço de verificação de óbito que avalia as mortes 
naturais, é trabalho de um patologista. 
 
OUTRAS FORMAS DE ATUAÇÃO 
→ Prevenção de ações judiciais (conhecimento sobre deontologia e diceologia, conhecendo a importância de se 
preencher adequadamente um prontuário, a importância de informar e registrar que foi informado ao paciente os riscos 
de complicação de uma cirurgia); 
→ Conduta adequada em atendimento assistencial (descrever tudo que for feito, examinado, prescrito); 
→ Preenchimento adequado de documentos (inclusive da DO); 
→ Peritos “ad Hoc” - o código de processo penal em 1941 determinou que as perícias fossem feitas por peritos oficiais, 
mas existem peritos que são nomeados pelo juiz para aquela perícia - perito “ad Hoc”, geralmente utilizado em interior, 
onde não existe o serviço de perícia oficial, então, o juiz nomeia, de acordo com a situação, por exemplo, um cirurgião, 
ginecologista, pediatra, obstetra daquela cidade ou dos arredores, para fazer aquela perícia. Nesse caso, esse 
médico, vai precisar prestar o compromisso de que ele irá exercer fielmente aquela atividade. Hoje ocorre menos, 
praticamente todas as cidades do interior já estão sendo atendidas. Normalmente o juiz que nomeia, mas qualquer 
cargo policial pode fazer essa determinação. 
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SITUAÇÃO PROBLEMA 2: 
Você é um médico recém-formado que trabalha no hospital de Afrânio Peixoto, 
cidade de interior da Bahia. Havia no hospital, um paciente que estava internado há 
1 mês por conta de um acidente de moto, em que ele perdeu o controle do veículo 
em uma curva, e precisou de uma intervenção ortopédica. Foi submetido a 
procedimento cirúrgico e evoluiu uma infecção de ferida cirúrgica, que complicou 
com sepse. O paciente foi a 
óbito no seu plantão. Qual sua conduta? 
 
 
R: Não emite a declaração de óbito e encaminha ao IML, porque a causa foi 
externa, mesmo sendo conhecida (sepse), foi uma consequência direta do trauma, se 
fazendo necessária a investigação pericial. Independente da temporalidade, nos 
casos de morte violenta, sempre precisará necropsiar, porque a causa externa foi o motivo primáriodos eventos subsequentes 
(doenças, comorbidades, complicações) e consequentemente da morte. 
 
Exemplo: Paciente que levou um tiro e ficou paraplégico, depois de 5 anos, teve ITU (porque fazia cateterismo de repetição) 
com complicação e evoluiu para sepse, indo a óbito. Esse paciente deve ser obrigatoriamente periciado, porque a causa 
primária da sua complicação foi o trauma ainda que tenha ocorrido há anos.

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