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Tinha tudo pra dar certo se nao fosse eu!_ - Rodrigo Fernandes

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"Quando	o	mundo	estiver	unido	na	busca	do	conhecimento,	e	não	mais
lutando	por	dinheiro	e	poder,	então	nossa	sociedade	poderá	enfim	evoluir	a
um	novo	nível."
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http://lelivros.site
http://lelivros.org/parceiros/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=link
RODRIGO	FERNANDES
	
em
	
	
	
	
	
	
	
	
TINHA	TUDO	PRA
DAR	CERTO	SE	NÃO
FOSSE	EU
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
COPYRIGHT	©	2017	JACARÉ	BANGUELA
Todos	os	diretos	reservados.	Nenhuma	parte	deste	livro	poderá	ser
reproduzida,	de	forma	alguma,	sem	permissão	formal	por	escrita	do	autor,
exceto	as	citações	incorporadas	em	artigos	de	crítica	ou	resenhas.
	
AUTOR
Rodrigo	Fernandes
	
REVISÃO
Elba	Maria	Palmeira	Rabello	Rodrigo
Fernandes
	
CAPA
Rodrigo	Fernandes
	
DIAGRAMAÇÃO
Natanael	Andrade	Siliane
Bet
	
COORDENAÇÃO	EDITORIAL
Tempero	Propaganda
	
CATALOGAÇÃO	NA	FONTE
Bibliotecária	Vanessa	Pereira	CRB:	14/1446
	
	
Fernandes,	Rodrigo
Tinha	tudo	para	dar	certo	se	não	fosse	eu:	crônicas	de	uma	vida	amo-	rosa	de	merda	/	Rodrigo	Fernandes	–
[s.l.]	:	[s.n.],	2017.	164	p.	;	19	cm.
	
ISBN	978-85-923299-0-7
	
1.	Crônicas	Brasileiras.	2.	Comédia	Brasileira.	3.	Humor.	I.Título.	II.	Autor.
F363t
	
CDD:	869.935
CDU:	82-94(81)
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
TODOS	OS	DIREITOS	RESERVADOS	À	JACARÉ	BANGUELA
www.jacarebanguela.com.br
http://www.jacarebanguela.com.br/
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
“O	amor	bem-sucedido	não	interessa	a	 ninguém.”
Nelson	Rodrigues
	
	
DESCULPA!
	
Este	livro	é	apenas	um	grande	compilado	de	histórias	que	juntei	ao	longo
desses	31	anos	de	vida	mal	vivida.	Mas	não	são	histórias	aleatórias,	não	são
pensamentos	soltos	traduzidos	em	palavras	pra	que	você	possa	entender	o
que	eu	também	não	entendo	(!).	O	que	quero	(pretendo)	mostrar	aqui	é	a
obra	de	uma	cabeça	vazia	que	geralmente	serve	como	oficina	do	capeta,	mas
que	em	outros	momentos	guarda	histórias	reais	de	situações	constrangedoras
que	fazem	qualquer	pessoa	se	perguntar:	“por	que	esse	imbecil	fez	isso!?”.
	
A	resposta	é	simples	e	direta:	eu	não	faço	ideia!
	
É	como	disse	algum	sábio	(ou	Fábio,	não	me	lembro	agora):	“As	piores
decisões	geram	as	melhores	histórias”,	e	aqui	estou	eu	puxando	do	fundo	da
minha	memória	histórias	nas	quais	tomei	as	piores	decisões	e	acabei	me
dando	muito	mal	nesta	arte	que	pouco	domino:	a	conquista	amorosa.	Tudo	é
baseado	em	fatos	reais.	Todas	as	histórias	realmente	aconteceram,	mas
algumas	ganharam	um	pouco	mais	de	humor	para	divertir	você	que	está
lendo.
Em	relação	às	mulheres,	eu	sou	extremamente	apaixonado	por	elas.	Certa	feita	o
comediante,	amigo,	chapa	e	camarada	Diogo	Portugal	me	perguntou:
-	Banguela,	você	acha	que	o...	(não	vou	entregar	o	cara	aqui)	é	gay?
-	Não,	acho	que	não,	por	quê?
-	Porque	eu	nunca	vi	ele	namorando	nenhuma	mulher.
-	Você	nunca	me	viu	também!
-	Mas	você	é	um	tarado!
Sou,	é	verdade,	mas	na	maneira	mais	pura	desta	palavra.	Gosto	de
mulheres	e	gosto	de	relacionamentos,	só	não	soube	muito	bem	como
juntar	essas	duas	coisas	numa	só.	A	ideia	deste	livro	surgiu	por	pedidos
no	Twitter,	quando	eu	relatava	lá	as	minhas	tentativas	frustradas	de
conseguir	engatar	um	namoro	ou	simplesmente	 conseguir	engatar.	As
histórias	eram	 tantas	que	me	pediram	para	colocar	num	livro	e	eu	ainda
não	sei	se	estou	feliz	ou	triste
por	ter	reunido	50	delas.
Aqui	você	vai	ler	o	pior	de	mim,	as	minhas	piores	(ou	melhores,
depende	do	ponto	de	vista)	derrotas	amorosas.	Tudo	o	que	qualquer
homem	teria	vergonha	de	dizer	numa	mesa	de	bar,	eu	achei	engraçado
eternizar	num	livro.
Se	você	é	mulher	e	em	algum	dia	da	sua	vida	você	já	se	relacionou
amorosamente	comigo,	talvez	você	esteja	neste	livro.	E	se	você	é	uma
travesti...	saiba	que	eu	fiquei	uma	semana	remoendo	aquela	noite!
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
Sumário
1. O	Primeiro	Beijo
2. A	Perninha	Mole
3. Carnaval
4. Pesque	e...	Bate
5. O	Capacete
6. Não	sou	bom	com	linguagem	dos	sinais
7. Que	viagem!
8. Um	leão	sem	juba
9. O	resgate
10.Formas	geométricas	do	amor
11.O	fluxo
12.Aquela	Maria...
13.Fá	do	Clube	do	Whisky
14. Surpresaaaaa!
15.Milhagem
16.O	show	de	humor	que	terminou	sem	graça
17.Caí	na	Friendzone
18.Desastre	aéreo
19.Não	era	amor,	era	cilada
20. Rainha	da	Feira	da	Uva
21.O	corpo	fala
22. Afinal,	o	que	quer	um	comediante?
23. Muitas	sinapses	para	meu	cérebro	subdesenvolvido
24. As	voltas	do	mundo
25. Pagando,	ô,	pato!
26. Um	jovem	e	nerd
27. Guru	do	sexo
28. Tomando	banho	na	balada
29. Divina	goiana
30. Que	pressão	é	essa!?
31.O	falso	vencedor!
32. Poema	da	derrota
33. Quem	sabe?
34. A	primeira	faz	tchan,	a	segunda...
35. O	frango
36. A	mendiga	da	Augusta
37. Autoestima	é	tudo!
38. Know-how	de	tocos
39. Pagando	o	preço	da	conta
40. A	droga	do	sexo
41. O	dia	da	marmota
42. Romantismo	de	caminhoneiro
43. Cialis
44. Fui	enganado	por	um	megahair
45. O	bom	Banguela	bobo
46. Adorável	maldito	Tinder
47. O	David	Luiz
48. O	flato
49. Gentileza	gera	boas	más	histórias
50. A	russa	do	albergue
	
	
	
	
1.																	O	Primeiro	Beijo
Meu	 primeiro	 beijo	 deve	 ter	 sido	 como	 é	 o	 de	 qualquer	 um:	 cheio	 de
expectativas,	 com	 alguém	 que	 também	 estava	 a	 fim	 e	 certamente	 horrível	 (o
beijo,	não	a	pessoa).	Lembro	de	pensar	durante	o	beijo:	“qual	é	a	graça	de	ficar
batendo	 meus	 dentes	 nos	 dentes	 da	 outra	 pessoa?”.	 Naquela	 hora	 não	 fazia
sentido	 nenhum	 alguém	 gostar	 de	 beijar	 na	 boca.	 Porém	 existe	 uma	 relação
estranha	entre	meu	primeiro	beijo	e	vários	outros	que	eu	dei	na	vida:	uma	festa.
Acho	 que	 pelo	 fato	 do	 meu	 primeiro	 emprego	 ter	 sido	 aos	 15	 anos	 como
iluminador	(e	depois	DJ)	em	uma	casa	noturna,	meus	encontros	por	muito	tempo
aconteceram	 ao	 som	 de	 Vinny,	 Aqua,	 Corona,	 Kelly	 Key	 e	 até	 Morena
Tropicana	do	Alceu	Valença.	Ultimamente	tem	sido	mais	ao	som	de	Lady	Gaga,
Strokes	e	vez	ou	outra	um	Los	Hermanos,	ou	seja,	não	melhorou	tanto.
Nessa	 época	 me	 lembro	 de	 estar	 com	meu	 amigo	 Alberto	 numa	 festa	 e	 uma
mulher	 mais	 velha	 ir	 falar	 para	 ele	 que	 queria	 ficar	 comigo.	 Achei	 aquilo
interessante,	 afinal	 de	 contas	 as	 garotas	 do	 meu	 colégio	 nunca	 tinham	 se
interessado	por	mim	e	uma	mulher	com	o	dobro	(ou	mais)	da	minha	idade	tinha.
Isso	é	excitante	e	ao	mesmo	tempo	triste.
Nos	encontramos	num	canto	escuro,	 trocamos	algumas	 palavras	 e	 ela	 veio	me
beijar.	Como	 eu	 não	 sabia	 fazer	 isso,	 o	 beijo	 não	 tinha	 pressão,	 vazava	 ar,	 as
bocas	 não	 criavam	aquele	vácuo	do	beijo.	Aí	vieram	os	dentes	batendo	um	no
outro	e	eu	achando	essa	coisa	de	beijo	a	coisa	mais	 inútil	do	mundo	depois	do
mamilo	masculino	(pra	quê	serve	o	mamilo	masculino	além	de	marcar	na	roupa
em	dias	frios?).
Lembro	claramente	dela	me	perguntar:
-	É	a	primeira	vez	que	você	beija?
-	Claro	que	não!
-	Então	você	tem	problemas.	Esse	foi	o	pior	beijo	que	eu	já	dei	na	vida!
Nem	eu,	nem	ela	e	nem	ninguém	poderia	prever	quantos	problemas	eu	teria	em
relação	a	isso	dali	pra	frente!	Achoque,	no	mínimo,	uns	50.
	
2.																A	Perninha	Mole
Depois	 que	 eu	 fui	 promovido	 a	 DJ	 sem	 precisar	 passar	 pelo	 Big	 Brother,	 as
coisas	 começaram	 a	melhorar.	 Eu	 beijei	 vezes	 suficientes	 para	 aprender	 a	 dar
pressão	 na	 boca,	 saber	 o	 que	 fazer	 com	 a	 língua	 e	 deixar	 os	 meus	 dentes
minimamente	distantes	dos	delas.	Meu	primeiro	beijo	foi	horrível,	tudo	bem,	mas
minha	primeira	vez	no	sexo	superou	as	expectativas.	Foi	aos	18	anos	com	uma
garota	de	programa,	de	graça	e	bêbado	de	Natu	Nobilis	quente	num	motel	 em
Itaúba,	uma	cidade	com	nome	de	árvore	no	interior	do	Mato	Grosso.
Ser	DJ	fixo	em	uma	balada	tem	vantagens	e	desvantagens.	As	vantagens	são:	a
bebida	de	graça	e	estar	exposto	para	as	garotas	te	notarem.	As	desvantagem	são:
os	bêbados	pedindo	músicas	e	as	garotas	que	querem	transar	com	você	mas	pra
isso	precisam	esperar	 até	o	 fim	da	 festa.	E	 essa	garota	 esperou.	Se	 eu	não	me
engano,	a	minha	primeira	linguada	dentro	da	orelha	foi	ela	quem	me	deu	-	ou	a
irmã	mais	nova	de	um	grande	amigo	da	escola	-	não	lembro	agora.
No	fim	da	balada	eu	peguei	emprestado	o	carro	de	um	amigo	do	meu	irmão	sem
que	este	amigo	soubesse	e	fui	levar	a	garota	para	um	motel.	Lá	em	Sinop	(uma
cidade	no	interior	do	Mato	Grosso,	onde	eu	morava)	os	motéis	ficavam	na	beira
da	 estrada,	 um	 pouco	 longe	 da	 cidade	 e	 isso	 significava	 ter	 que	 entrar	 numa
rodovia	para	poder	transar.	Como	a	gente	iria	demorar	um	pouco	até	chegar	no
motel,	 a	 garota	 propôs	 uma	 ideia:	 um	 boquete	 enquanto	 eu	 dirigia...	 numa
rodovia	federal…	de	madrugada…	com	caminhões	carregados	de	madeira	e	soja
ultrapassando	o	tempo	todo.
Como	a	ideia	parecia	imbecil,	topei.
Ela	começou	e	eu	a	segurei	pelo	cabelo,	tentei	dar	um	ritmo.	Ultrapassei	alguns
caminhões,	 fechei	 os	olhinhos	 algumas	vezes	 e	 só	quando	 rampei	 três	 quebra-
molas	percebi	que	minha	perna	estava	respondendo	pouco	aos	meus	comandos
de	 pisar	 no	 freio	 e	 embreagem.	 Mais	 à	 frente	 vi	 um	 motel	 e	 tirei	 o	 pé	 do
acelerador.	 Liguei	 o	 pisca	 e	 entrei	 à	 esquerda,	 saindo	 da	 rodovia	 e	 apontando
para	a	entrada	do	motel.	A	garota	ainda	estava	ali	dando	o	melhor	dela.
Conforme	o	motel	se	aproximava	e	a	garota	continuava,	eu	tentava	pisar	fundo	na
embreagem	 e	 frear	 para	 entrar	 no	motel,	mas...	 e	 as	 perninhas	moles?	Cadê	 a
força?	Não	tinha!	Bati	de	frente	com	o	muro	do	motel	forte	o	bastante	pra	fazer
um	buraco	nele	com	o	carro.
Calma	que	tem	mais!
Segundo	 a	 primeira	 Lei	 de	 Newton,	 ‘um	 corpo	 em	 movimento	 tende	 a
permanecer	em	movimento’,	certo?	Assim	que	eu	bati	no	muro,	o	meu	corpo	todo
foi	 em	direção	 ao	 volante,	 mas	 lembre-se:	 tinha	 uma	 garota	 entre	 essas	 duas
coisas	e	comigo	na	sua	boca.
-	GLARP!
Quando	meu	corpo	voltou	pra	trás,	a	garota	levantou	tomando	ar	e	vomitou	no
painel	 todo	 do	 carro.	De	 espelhinho	 a	 espelhinho.	 Toda	 a	 janta	 e	 a	 bebida	 da
balada	ali	no	painel	do	carro	que	eu	nem	deveria	ter	pego!	O	gerente	do	motel
saiu	e	viu	um	carro	atravessado	no	muro,	uma	garota	vomitando	no	painel,	um
adolescente	 com	 o	 pau	 de	 fora	 e	 cara	 de	 desespero.	 Ele	 olhou	 pra	 mim	 e
compadeceu:	‘Que	noite,	hein?’.
É…	que	noite!
	
3.																Carnaval
O	 Carnaval	 é	 sempre	 uma	 ótima	 época	 para	 se	 pegar	 mulher,	 mas	 isso	 só
acontece	porque	 as	mulheres	 também	acham	esta	uma	ótima	época	para	pegar
uns	 caras.	 Eu	 estava	 em	 um	 clube	 em	 Sinop	 (MT)	 curtindo	 marchinhas	 de
carnaval,	 fazendo	 alguns	 passos	 do	Harmonia	 do	Samba,	me	 embebedando	de
cerveja	quente	e	foi	nesse	clima	de	amor	no	ar	que	eu	vi	esta	garota	linda	de	pele
clara	e	olhos	azuis.
Com	esses	atributos,	claro	que	vários	caras	estavam	chegando	nela	e	ela	dando
fora	em	 todos.	Ao	mesmo	 tempo	que	 isso	dá	um	mega	desânimo	de	 tentar,	dá
uma	 pontinha	 de	“se	 eu	 tentar	 e	 conseguir,	 eu	 vou	 ser	 o	 cara	mais	 fodão	 do
lugar!”.
Fui	conversar	com	ela	e	pelo	que	me	lembro	foi	mais	ou	menos	assim:
-	Oi.
-	Oi.
-	Você	tá	contando?
-	O	que?
-	O	número	de	caras	que	você	tá	dando	fora?
-	Hahahaha,	não.	Você	tá?
-	Olha,	não	peguei	do	começo	da	festa	mas	eu	já	contei	uns	cinco.
-	É,	não	deve	ser	muito	mais	que	isso.
-	Então	você	tá	só	aquecendo	ainda?	Vai	ser	difícil	pra	mim!
-	O	papo	até	agora	já	tá	durando	mais	que	os	outros.
-	Deve	ser	porque	não	vim	falar	que	te	achei	linda,	que	seus	olhos	são	lindos,	que
seu	sorriso	é	lindo,	que	sua	sobrancelha	é	linda,	que	seu	bafo	é	lindo...
-	Eu	tô	com	bafo?
-	De	cerveja	com	chiclete	mas	eu	gosto.
-	Quê!?
-	Quer	ir	lá	fora?
-	Pra	que?
-	Pra	gente	ficar.
-	Hahahahaha,	acha	que	é	assim?
-	Sei	lá.	Você	tá	dando	fora	em	tantos	caras	que,	ou	eu	tô	gastando	o	seu	tempo	ou
perdendo	o	meu.
-	Hum...	boa...
-	Vamos?
-	Vai	na	frente	e	eu	já	vou.
-	Por	que?
-	Porque	sim	ué.
-	Tá	bom.
Fui	 para	 o	 lado	 de	 fora	 onde	 tinham	 vários	 casais	 se	 pegando	 encostados	 no
muro	e	não	demorou	muito	para	começar	a	chover.	Todo	mundo	saiu	correndo
pra	dentro	do	clube	e	eu	fiquei	lá	esperando	na	chuva.	Sabe	por	que?	Porque	nos
filmes	isso	SEMPRE	funciona.	Só	por	isso.	Juro!	Fiquei	lá	ensopado	igual	uma
besta	porque	nos	filmes	isso	é	legal	de	se	fazer.
Não	 demorou	muito	 e	 ela	 apareceu	 na	 porta	 com	 uma	 amiga,	me	 viu	 lá	 todo
molhado	e	me	chamou	pra	dentro.	Fui.
-	Por	que	você	tava	na	chuva?
-	Porque	a	gente	combinou	lá	fora.
-	Mas	por	que	você	ficou	lá?
-	Porque	eu	não	queria	perder	por	NADA	a	chance	 de
poder	ficar	com	você.
A	amiga	dela	riu,	ela	riu	e	algumas	pessoas	em	volta	começaram	a	rir.
-	Mas	agora	você	tá	todo	molhado.
-	Pois	é.
-	E...	eu	não	quero	me	molhar.	Desculpa.
Ela	saiu	rindo	e	eu	fiquei	ali	uns	minutos	ainda	antes	de
decidir	ir	pra	casa	todo	molhado.	Malditas	comédias	românticas!
	
4.															Pesque	e...	Bate
Quando	 eu	 era	DJ	 acabei	 tocando	 também	 em	 alguns	Carnavais,	 todo	 tipo	 de
música.	De	 eletrônica	 ao	 sertanejo,	 passando	 pelo	 pagode	 e	 até	 as	marchinhas
tradicionais.	Toquei	todos	os	dias	a	noite	toda.	No	último	dia	de	Carnaval	eu	já
estava	 morto	 de	 cansado,	 mas	 uma	 garota	 da	 minha	 sala	 (cuja	 eu	 era
perdidamente	apaixonado)	tinha	me	chamado	pra	ir	na	quarta-feira	de	cinzas	pro
Pesque	e	Pague.
	
[PAUSA]
	
Pesque	 e	 Pague	 é	 um	 lugar	 afastado	 da	 cidade	 com	 vá-	 rios	 lagos	 artificiais
cheios	de	peixes.	Você	vai	lá,	pesca	e	paga	o	que	você	pescou	(dã!).	Além	desses
lagos	com	peixes,	tem	uns	sem	peixes	mas	com	uns	tobogãs	e	trampolins	pra	você
ir	só	se	divertir	sem	o	compromisso	de	pescar.
	
[DESPAUSA]
	
Na	verdade,	 ela	chamou	a	 sala	 toda,	mas	ninguém	se	manifestou	muito,	o	que
me	animou.	Como	eu	era	contratado	do	clube	que	eu	tocava	como	DJ,	durante	o
dia	eu	fazia	outros	serviços	pra	eles	e	neste	dia	eu	estava	fazendo	o	transporte	de
gelo	 e	 bebidas	 com	 a	 Saveiro	 do	 dono	 da	 balada.	 Depois	 de	 fazer	 algumas
viagens,	 fiquei	 liberado	do	trabalho...	e	de	carro.	Não	pensei	duas	vezes	e	parti
pro	Pesque	e	Pague.
Na	animação	de	encontrar	com	ela,	eu	voei	na	estrada	para	chegar	logo.	Assim
que	saí	da	rodovia	e	entrei	na	es-	trada	de	terra	que	levava	ao	lugar	eu	descobri
uma	coisa	maluca	quando	se	dirige	caminhonetes	(que	se	ensina	na	auto	escola
mas	que	eu	não	tinha	feito	ainda).	A	traseira	da	caminhonete	é	o	lugar	mais	leve
do	veículo	porque	a	distribuição	de	lataria	não	é	igual,	por	isso	sempre	colocam
aquelas	 câmaras	 cheias	 de	 areia	 dentro,	 pra	 ficar	 mais	 pesada	 e	 não...	 rodar.
Tchanã!	 Adivinha	 o	 que	 aconteceu	 quando	 eu	 saí	 da	 rodovia	 e	 entrei	 voando
numa	es-	trada	de	terra?
Os	 troianos	 ficariam	com	 inveja	do	 tamanho	do	cavalo	de	pau	que	 eu	dei!	Eu
rodei	 tanto	 que	 acho	 que	 se	 eu	 parasse	 do	 lado	 do	 Yudi	 ele	 me	 daria	 um
Playstation.
Rodei,	 rodei,	 rodei	 e	 invadi	 uma	 fazenda	 arrancando	 três	 tocos	 da	 cerca,
quebrando	o	para-brisa,	furando	o	radiador,	estourando	um	pneu	e	destruindo	a
frente	do	carro.	Abri	a	porta	pra	sair	do	carro	e	entrou	uns	10	kg	de	terra	no	meu
colo.	Uma	caminhonete	que	estava	passando	me	ajudou	a	sairdali,	eu	troquei	o
pneu	e	fui	ao	Pesque	e	Pague,	afinal,	EU	TINHA	OBJETIVOS	A	CUMPRIR!
Cheguei	lá	com	o	carro	saindo	mais	fumaça	que	en-	saio	do	Planet	Hemp,	com	a
roupa	 mais	 suja	 que	 a	 de	 um	 mendigo	 e	 mais	 cansado	 que	 o	 cabeleireiro	 da
Vanessa	da	Mata.	Estacionei	e	fui	até	os	tobogãs.	Lá	estava	ela,	linda,	de	biquíni,
dentro	 do	 lago,	 feliz,	 rindo	 e	 se	 beijando	 com	um	outro	colega	nosso	de	sala.
Fiquei	alguns	segundos	ali	olhando	a	cena.	Parecia	que	o	tempo	tinha	parado	mas
na	minha	cabeça	passou	um	flashback	muito	rápido	de	tudo	o	que	eu	tinha	feito
naquele	dia	pra	chegar	até	ali	e	ver	aquilo.	Eu	imagino	que	a	Vida	é	uma	velhinha
irônica,	que	ri	muito	de	situações	como	esta.
Voltei	 pro	 carro	 e	 decidi	 ir	 pra	 casa	 tentar	 achar	 uma	maneira	 de	 arrumar	 ele
antes	de	avisar	meus	patrões	da	merda	que	eu	tinha	feito.	No	meio	do	caminho	o
carro	morreu	sem	água	no	radiador.	Fiquei	parado	na	estrada	esperando	alguém
passar	pra	me	ajudar.
De	longe	eu	vi	meu	colega	de	classe	vindo	de	moto	com	ela	na	garupa.	Eu	podia
pedir	 uma	 ajuda	 pra	 eles	 mas	 sabe	 o	 que	 eu	 fiz?	 Disfarcei	 pra	 que	 eles	 não
vissem	que	era	eu	ali,	afinal,	eu	estava	todo	sujo	e	com	um	carro	bati-	do.	Eu	não
queria	que	ELA	me	visse	assim,	apesar	de	tudo	o	que	eu	tinha	passado	até	ali.
E	a	Vida	não	parava	de	rir	do	meu	lado.
	
5.																O	Capacete
Um	 dia	 a	 balada	 que	 eu	 trabalhava	 contratou	 novas	 funcionárias	 e	 eu	 me
apaixonei	por	uma	delas.	Ela	era	um	pouco	mais	velha	que	eu,	um	sorriso	grande
e	lindo,	cabelos	bem	pretos,	lisos	e	longos	e	um	corpo	sensual!
O	 pulo	 do	 gato	 é	 que	 ela	 era	 uma	MULHER,	 não	 uma	 garota.	As	 garotas	 da
minha	 sala	 eram	 legais,	 mas	 nunca	me	 deram	 bola.	Mentira.	 Lembro	 de	 uma
Jaqueline	que	era	a	fim	de	mim	no	primeiro	grau.	Nunca	mais	a	vi.	Enfim,	tive	a
sorte	 de	 ficar	 com	 essa	 minha	 colega	 de	 trabalho	 algumas	 vezes	 e	 chegamos
quase	a	transar	(a	menos	que	você	considere	punheta,	sexo).
Ela	tinha	uma	moto	pequena,	tipo	essas	de	50	cilindra-	das,	e	um	dia	chegou	a
me	mostrar	um	capacete	que	ela	curtia.	Ok,	anotado	na	memória!	Passaram-se	os
meses	e	chegou	no	mês	do	aniversário	dela.	Na	época	eu	só	trabalhava	como	DJ
e	não	ganhava	muito	dinheiro.	Eram	R$	30,00	por	noite	tocada.	Como	a	balada
abria	às	sextas	e	sábados,	meu	saldo	semanal	era	de	R$	60,00	e	para	comprar	 um
capacete	 de	R$	350,00	 eu	 tinha	 que	 trabalhar	seis	finais	de	semanas	sem	gastar
dinheiro.	 Fiz	 isso	 por	mais	 algumas	 semanas	 e	 juntei	 um	 pouco	mais	 do	 que
precisava.
Fui	 na	 loja	 comprar	 o	 capacete	 e	 tinha	 um	 cara	 comprando	 o	 último!	 Era	 o
último	 da	 cidade!	 Outro	 só	 por	 encomenda	 para	 no	 mínimo	 uma	 semana	 de
espera.	 O	 aniversário	 era	 NAQUELE	 dia,	 tinha	 que	 ser	 AQUELE	 capacete!
Negociei	 com	 o	 cara	 e	 acabei	 pagando	 suados	 R$	 450,00.	 Sim,	 eu	 estava
apaixonado	 por	 causa	 de	 umas	 punhetas	 (a	 baixa	 autoestima	 é	 maravilhosa
nesses	casos!).
Naquela	noite	eu	fui	até	a	casa	dela	entregar	o	presente.	Ela	estava	sozinha	e	eu
entrei,	animado.	Entreguei	o	presente,	ela	abriu	e	gostou	muito!	Nos	beijamos	e
começamos	a	nos	pegar.	Um	carro	parou	na	frente	da	casa	dela	e	buzinou,	ela	foi
ver	 quem	 era,	 eu	 olhei	 pela	 cortina	 e	 vi	 que	 era	um	dos	maiores	playboys	da
cidade.	Ela	 foi	 lá	conversar	 com	 ele	 e	 eu	 fiquei	 na	 casa,	 esperando	 ela	 voltar.
Passou	 um	 tempinho,	 eu	 olhei	 pela	 janela	 de	 novo	 e	 vi	 eles	 se	 beijando	 bem.
Tipo,	BEM!
Sentei	no	sofá	e	fiquei	sem	reação	olhando	pro	nada.	Eu	tinha	economizado	dois
meses	total	de	trabalho	por	aquele	capacete.	Levantei,	saí	da	casa	dela,	passei	por
eles	se	beijando,	ela	me	viu,	me	chamou,	eu	ignorei	e	fui	embora	a	pé	pra	casa.
Nunca	 mais	 ficamos	 ou	 falamos	 sobre	 isso.	 Simplesmente	 continuamos	 a
trabalhar	no	mesmo	lugar	sem	nos	falarmos	mais.
Eu	só	me	arrependo	de	uma	coisa	nessa	história	toda.	De	não	ter	voltado	aquela
noite	pra	buscar	o	capacete	de	volta.
	
6.		 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Não	sou	bom	com	linguagem	dos
sinais
Em	2003	 eu	me	mudei	de	Sinop,	no	 interior,	 para	Cuiabá,	 	 a	 capital	 do	Mato
Grosso,	 para	 estudar	 publicidade	 	 	 e	 propaganda	 na	UNIC	 –	Universidade	 de
Cuiabá.	Uma	maneira	de	conseguir	desconto	na	mensalidade	era	trabalhando	no
curso.	Como	eu	tinha	conhecimento	de	edição	de	áudio	por	ter	trabalhado	muito
tempo	como	DJ,	fui	para	a	rádio	do	curso	de	Jornalismo	atendendo	os	alunos	e
professores	pela	manhã,	o	que	não	atrapalhava	em	nada	meu	curso	à	noite.
Era	 o	 primeiro	 ano	 do	 curso	 de	 Jornalismo	 na	 UNIC	 e	 tinham	 várias	 alunas
muito	legais	e	bonitas	nele.	Como	eu	tinha	coração	fraco,	me	apaixonei	logo	por
várias,	mas	eu	já	estava	esperto	o	suficiente	para,	pelo	menos,	não	sair	avisando
elas	disso.	Fiquei	na	minha.	Todo	dia	 tinha	uma	aluna	de	 Jornalismo	na	 rádio,
seja	para	fazer	algum	trabalho	ou	para	matar	aula.	Os	caras	também	eram	gente
boa.	Todos	passavam	por	ali	no	horário	das	aulas	da	manhã	ou,	se	tempo	livre,	à
tarde.
Uma	dessas	alunas	ia	com	mais	frequência	à	tarde	e	eu	era	a	fim	dela,	mas	ela
era	 BEM	 patricinha.	 Gente	 boníssima	 e	 riquíssima.	 Ela	 tinha	 carrão,	 roupas
caras,	ficava	com	os	playboys	e	frequentava	os	camarotes	das	baladas.	Eu	dirigia
uma	 Variant	 1972	 emprestada	 do	 meu	 avô,	 usava	 camisetas	 que	 eu	 tinha
mandado	fazer	em	uma	dessas	gráficas	que	fazem	camisetas,	calça	cargo	cáqui,
era	tímido	e	ficava	na	pista	da	balada	porque	não	tinha	tantos	amigos	assim	pra
rachar	um	camarote.
Um	dia	ela	me	chamou	pra	 ir	numa	balada	cara	e	eu	 fui.	Chegando	 lá	 a	 vi	 no
camarote	 com	 um	 cara	 bonito,	 bem	 vestido,	malhado	 e	 que	 bebia	whisky.	 Eu
fiquei	 na	minha,	 na	 pista,	 com	 minha	 cara	 de	 trouxa,	 minha	 roupa	 boa	 da
Riachuelo,	meu	 corpo	 de	 publicitário	 e	meu	 copo	 com	Coca-Cola	 e	 gelo.	 Ela
passava	 por	mim,	 falava	 alguma	 coisa,	 ríamos	 e	 ela	 seguia.	 Foi	 assim	 a	 noite
toda	enquanto	ela	foi	bebendo	mais,	se	soltando	mais,	rindo	mais	e	apesar	de	eu
gostar	de	como	as	coisas	estavam	indo,	eu	percebi	que	não	rolaria	nada	entre	a
gente,	afinal	ela	estava	acompanhada	 de	 um	 cara	 lindíssimo	 (porra,	 o	 cara	 era
bonito	mesmo!)	e	era	muita	areia	pro	meu	caminhãozinho	(ela,	não	o	cara).
Fui	 embora	 sem	 avisar	 e	 mandei	 uma	 mensagem	 agradecendo	 o	 convite.	 Ela
respondeu:
-	Trouxa!
-	Quê?
-	Você	é	trouxa!	Eu	não	acredito	que	você	foi	embora!	Por	que	você	não	falou
comigo	antes	de	ir?
-	Porque	você	tava	no	camarote	com	a	sua	turma	lá.
-	Era	só	me	chamar!	Você	é	muito	trouxa!	Você	nunca	reparou	que	eu	sou	a	fim
de	você	não?
-	O	QUÊ!?
-	Todo	dia	 eu	 vou	 à	 tarde	 na	 rádio	 falar	 com	você	 e	 você	 nunca	 faz	 nada.	 Te
chamei	pra	balada	achando	que	você	faria	alguma	coisa	e	você	não	fez	nada!
-	Mas	você	tá	acompanhada	aí!
-	Do	meu	irmão!
-	Como	eu	ia	saber?	Você	não	me	falou!
-	Você	não	perguntou!
-	Vamos	nos	ver	amanhã	então?	Topa	ir	no	cinema?
-	Viu	como	você	é	trouxa!	Era	pra	você	voltar	aqui	agora!
-	Tá	bom,	vou	voltar.
-	Agora	 não	 quero	 mais.	 Você	 vai	 voltar	 porque	 eu	 falei	 e	 não	 porque	 você
queria.
-	Mas	eu	quero.
-	Não,	você	quer	encontrar	amanhã.	Amanhã	eu	não	quero	mais!
-	Então	eu	vou	agora.
-	Agora	eu	não	quero	mais	também.
Eu	não	voltei.	E	sabe	o	pior?	Todas	as	outras	vezes	que	nos	vimos	pessoalmente
eu	nunca	soube	como	tocar	no	assunto.
	
Ps.:	Leia	o	livro	“O	Corpo	Fala	-	Pierre	Weil”.	Me	ajudou	muito	com	situações
assim	anos	depois.
	
	
7.																Que	viagem!
Só	durante	a	faculdade	eu	percebi	algo	que	me	seguiu	pela	vida.	Eu	não	sou	bom
em	me	relacionar	amorosa-	mente	com	as	garotas	à	minha	volta.	Isso	porque	em
algum	momento	me	disseram:	 “Cara,	 tá	 a	 fim	da	mulher,	 chega	 com	o	pé	 na
porta!”,	e	como	eu	não	sou	bom	de	mira,	sempre	acerto	na	porra	do	batente	e
viro	amigo.
Por	isso	eu	comecei	a	tentar	as	amigas	dos	meus	amigos.	Uma	delas	era	amiga
da	 namorada	 do	meu	 amigo,	 estava	 bem	 longe	 de	mim,	 podia	 rolar!	 A	 gente
morava	em	Cuiabá	(MT)	e	os	nossos	chapase	camaradas	da	Cia	De	Comédia	Os
Melhores	 do	 Mundo	 iam	 fazer	 peça	 em	 Campo	 Grande	 (MS).	 As	 passagens
estavam	baratas	e	meu	amigo	queria	levar	a	namorada	dele	para	ver.	Gostei	da
ideia	e	armei	um	esquema:	comprei	um	par	de	passagens	também	e	falei	pra	essa
amiga	dos	meus	amigos	que	minha	companhia	furou	comigo	e	que	eu	estava	com
uma	passagem	sobrando.	Ela	quis	comprar	e	eu	disse	que	não	precisava,	eu	 já
tinha	 pago,	 só	 não	 queria	 ir	 sozinho	 ou	 de	 vela.	 Ela	 topou.	 Na	minha	 cabeça
subdesenvolvida	tudo	já	estava	subentendido.	Algo	como	“então...	eles	são	um
casal...	nós	estamos	indo	juntos...	bem...”,	mas	eu	esqueci	de	uma	coisinha:	eu
não	FALEI	 isso	para	ela.	Chegamos	em	Campo	Grande,	 fomos	 para	 o	 hotel	 e
ficamos	eu	e	meu	amigo	num	quarto,	a	namorada	dele	e	a	amiga	dela	em	outro,
na	 frente.	 À	 noite	 fomos	 para	 a	 peça,	 rimos,	 curtimos	 e	 seguimos	 para	 uma
balada.	Dançamos,	bebemos	e	meu	amigo	voltou	para	o	hotel	com	a	namorada.
Eu	 fiquei	 na	 balada	 com	a	garota.	Conversamos	um	pouco	mais,	bebemos	um
pouco	mais,	eu	fui	ficar	com	ela	e	ela	me	deu	um	fora.	Claro!	Disse	que	eu	estava
confundindo	as	coisas	e	que	ela	só	viajou	pela	curtição	da	viagem.
Tudo	bem,	lance	legal,	o	juiz	não	apitou,	segue	o	jogo.	Passamos	mais	um	tempo
na	 balada,	 voltamos	 para	 o	 hotel,	 dormimos	 no	 mesmo	 quarto,	 em	 camas
separadas,	num	silêncio	constrangedor	e	assim	fomos	até	chegarmos	em	Cuiabá,
quando	nunca	mais	nos	encontramos	de	novo.
Que	viagem!
	
8.															Um	leão	sem	juba
Durante	 a	 faculdade	 de	 Comunicação	 Social	 eu	 deixei	 o	 cabelo	 crescer,
experimentei	maconha	e	descobri	Legião	Urbana,	ou	seja,	tudo	normal.
Em	2006,	filmando	Futebol	Americano	em	Cuiabá	(MT).
	
Os	semestres	passaram	e	novas	alunas	chegaram	no	curso	de	Jornalismo.	Uma
delas	 era	 uma	 gracinha!	 Baixinha,	 pele	 branca,	 olhos	 azuis,	 sorriso	 lindo	 e
gargalhada	divertida.	Apaixonei!	Chamei	ela	para	o	cinema	e	ela	topou.	Fomos
ver	 um	 filme	 e	 o	 único	 que	 estava	 para	 começar	 era	 Hannibal	 –	 O	 Início.
Assistimos	e	nem	preciso	dizer	que	não	rolou	muito	clima	para	uns	beijos.
Nos	 dias	 seguintes	 eu	 comecei	 a	 buscar	 ela	 no	 trabalho	 e	 deixar	 em	 casa.
Conversávamos	 sobre	 tudo	 e	 isso	 me	 animava	 muito.	 Um	 dia	 ela	 disse	 que
gostaria	de	me	ver	de	cabelo	curto,	que	achava	que	eu	ficaria	mais	bonito.	Bem,
quem	tem	cabelo	comprido	sabe	como	é	DIFÍCIL	manter	ele	bom,	mas	eu	estava
disposto	a	tudo	pela	garota.
No	dia	seguinte,	antes	de	ir	buscá-la	no	trabalho,	passei	no	cabeleireiro	e	tosei	a
juba.	Foi-se	a	cabeleira	que	eu	adorava	ter,	mas	tudo	bem,	cheguei	no	trabalho
dela,	ela	me	viu	por	fora	do	carro,	fez	uma	cara	de	surpresa,	entrou	no	carro	e	eu:
-	Gostou?	Cortei.
-	Ficou	estranho.
-	...	oi?
-	Não	sei,	ficou	estranho.
-	Mas	você	não	queria	me	ver	de	cabelo	curto?
-	 Queria,	 mas	 acho	 que	 de	 cabelo	 comprido	 você	 fica	 melhor.	 Assim	 ficou
estranho.
Cara!	Que	ódio!	MAS	QUE	ÓDIO	QUE	EU	FIQUEI!	Eu
tinha	 demorado	meses	 pra	 deixar	 o	 cabelo	 grande!	 Fiquei	 tão	 puto	 que	 desde
então	eu	passei	a	só	usar	“cabelo	estranho”	na	minha	vida.	Nunca	mais	fui	buscar
ela	no	trabalho	e	também	nem	avisei	que	não	ia.	Foda-se!
Eu	gostava	daquele	cabelo.
	
9.																O	resgate
Sempre	gostei	de	comédias	 românticas	e	 suas	 incríveis	histórias	 fantasiosas	de
amor	e	humor.	Todas	as	voltas	que	a	vida	dá	e	as	decisões	desastrosas	que	fazem
aquela	confusão	ingênua	acabar	em	uma	bonita	cena	de	beijo	entre	o	trouxa	e	a
gatinha.	Eu,	na	minha	posição	super	clara	de	trouxa	que	sou,	sempre	tentei	fazer
coisas	legais	para	chegar	ao	final	do	filme	com	o	beijo	da	gatinha.	Demorei	um
tempo	pra	descobrir	que	só	eu	vivia	um	filme,	as	outras	pessoas	estavam	vivendo
o	mundo	real.
Certa	 vez	 fiquei	 com	 uma	 garota	 numa	 viagem	 de	 final	 de	 semana	 com	meu
primo	 e	 umas	 amigas	 dele.	 A	 garota	 era	 bem	 inteligente,	 muito	 divertida	 e
interessantíssima!	 Lembro	 que	 ela	 me	 ensinou	 a	 dançar	 forró,	 olha	 que
interessante!	Ficamos	o	final	de	semana	todo	e	assim	que	voltamos	para	Cuiabá
eu	quis	sair	com	ela,	e	é	aí	que	começa	a	história	que	só	eu	fazia	parte.
Peguei,	 com	 o	 meu	 primo,	 o	 endereço	 do	 trabalho	 dela	 e	 o	 setor	 que	 ela
trabalhava.	 Fui	 no	 shopping,	 comprei	 uma	 caixa	 de	 Ferrero	 Rocher,	 tirei	 um,
coloquei	num	envelope	e	deixei	na	recepção	do	trabalho	dela	com	um	bilhetinho:
	
“Sequestrei	 toda	a	 família	deste	Ferrero	Rocher,	 se	quiser	rever	os	outros	me
encontre	hoje	às	21h	em	 frente	a	bilheteria	do	cinema	do	Shopping	Pantanal.
Não	avise	a	polícia.	Venha	sozinha.	Um	Beijo.	Rodrigo	(o	primo	do	André).”
	
Ahhhh,	isso	foi	fofo,	vai!?	Poxa,	fiz	uma	piadinha,	fui	gentil,	levei	presentinho,
convidei	ela	para	sair	de	uma	forma	super	descontraída.	Claro	que	ia	dar	certo.
Nos	filmes	com	certeza	daria!
Lá	pelas	20h	mais	ou	menos	eu	me	arrumei	e	fui	pro	shopping	esperar	ela.
Resumindo.
Às	23h	o	shopping	fechou	e	ninguém	apareceu.	Ou	eu	fui	precipitado	ou	essas
coisas	só	funcionam	mesmo	nos	filmes.
Ps.:	Joguei	a	caixa	de	chocolates	no	lixo.
	
10.												Formas	geométricas	do	amor
Nem	 tudo	 é	 desastre	 na	minha	 vida	 amorosa.	Desta	 vez,	 por	 exemplo,	 eu	 estava
saindo	 várias	 vezes	 com	 uma	 garota	 e	 tudo	 corria	 bem.	 A	 gente	 ia	 junto	 nas
micaretas,	 nas	 festas	 rave,	 nos	 falávamos	 quase	 todos	 os	 dias	 pelo	 celular	 e
conversávamos	muito	 sobre	 tudo.	Porém	 (e	 sempre	haverá	um	porém),	 se	 tivesse
dado	tudo	certo	ela	não	estaria	neste	livro,	né?
No	 final	 do	meu	 curso	 de	 Publicidade	 e	 Propaganda	 em	Cuiabá	eu	consegui	um
estágio	de	três	meses	na	Globo	no	Rio	de	Janeiro,	dentro	do	Projac,	com	edição	de
programas	de	humor,	vinhetas,	novelas	e	cheguei	até	a	acompanhar	a	gravação	de
alguns	 capítulos	 das	 novelas	 7	 Pecados	 e	 Paraíso	 Tropical.	 Foi	 uma	 experiência
sensacional!	Tanto	que	assim	que	eu	ter-	minei	a	faculdade,	tudo	o	que	eu	queria	era
me	mudar	de	vez	para	o	Rio	de	Janeiro	e	trabalhar	com	entretenimento.
Porém,	finalmente		eu	estava		conseguindo		entrar	em	um	relacionamento		depois	
de	várias	 	 tentativas	 	 frustradas.	Será	que	o	Projac	podia	esperar	um	pouco	mais?
Será	 que	minha	vontade	de	 querer	 ser	 grande	no	Rio	 de	 Janeiro	 era	 só	mais	um
desejo	que	todo	mundo	tem	e	passa?	Eu	acreditei	que	sim	e	resolvi	ficar	em	Cuiabá,
pela	garota.
Um	dia,	 sem	avisar,	eu	 fui	até	a	 casa	dela	pra	gente	 se	ver.	Cheguei,	entrei	e	ela
estava	 conversando	 com	um	 cara	 no	 sofá.	 Até	 aí,	 tudo	 bem,	 pessoas	 conversam,
normal.	Mas	existe	uma	distância	mínima	que	as	bocas	precisam	estar	afastadas	para
que	possam	se	produzir	consoantes.	No	caso	deles	a	distância	era	igual	a	zero.
Fiquei	 ali	 na	 porta	 parado,	 olhando	 e	 esperando	 eles	 terminarem	 esse	 papo.
Terminaram,	ela	me	viu	e	se	assustou.	Eu	fiquei	sem	reação.	Ela	pulou	do	sofá	e
veio	falar	comigo.	Me	puxou	pelo	braço	e	me	levou	pra	cozinha.
-	Eu	explico!
-	...
-	Ele	é	um	cara	que	eu	fico	já	tem	um	tempo.
-	!
-	Antes	mesmo	de	começar	a	ficar	com	você.
-	!!
-	Tanto	que	ele	sabia	de	você	e	tudo	bem	pra	ele.
-	!?
-	Eu	gosto	muito	de	você!	Mesmo!	Você	é	uma	ótima	companhia.	Eu	me	divirto
muito	 com	você,	 acho	você	 inteligente,	 um	papo	super	 legal...	mas	eu	gosto	dele
também!
-	Tá,	entendi...	mas	eu	não	sei	se	quero	fazer	parte	disso.
-	Eu	quero	estar	mais	com	você,	mas	eu	gosto	dele	também.	Você	entende?
-	Olha,	eu	meio	que	deixei	de	me	mudar	pro	RJ	por	sua	causa	e	você	não	me	falou
nada	disso.	Eu	não	quero	fazer	parte	desse	triângulo	amoroso.	Acho	que	você	tem	que
escolher,	ou	eu	ou	ele.
-	…	é	ele.
O	Rio	de	Janeiro	é	mesmo	um	lugar	lindo,	não	é?	Morei	um	ano	lá!
	
11.													O	fluxo
Quando	me	mudei	 pro	Rio	 de	 Janeiro	 eu	 tinha	 certeza	 que	minha	 vida	 sexual
seria	uma	merda.	Se	já	era	ruim	na	cidade	onde	eu	nasci,	imagina	numa	cidade
onde	eu	nem	tinha	sido	convidado	pra	estar!	Eu	cheguei	tão	despreparado	no	Rio
de	Janeiro	que	consegui	alugar	um	apartamento	numa	sexta-feira	à	tarde,	mas	só
fui	teronde	dormir	na	segunda.	Não	tinha	nada	no	apartamento!	Dor-	mi	a	sexta,
o	sábado	e	o	domingo	no	chão	usando	minha	mochila	como	travesseiro	e	minhas
roupas	como	colchão	e	lençol.
Anos	 depois,	 quando	 contei	 sobre	 isso	 para	 o	meu	pai,	 falando	como	a	minha
chegada	no	Rio	foi	sofrida,	meu	pai	perguntou:	“Mas	por	que	você	não	comprou
um	colchão	inflável	e	um	lençol?	Depois	era	só	dobrar	e	guardar”.	Me	senti	um
imbecil	e	percebi	que	minha	chegada	no	RJ	só	foi	sofrida	por	pura	burrice	minha
mesmo.
No	final	de	semana	seguinte	eu	encontrei	uma	garota	de	Cuiabá	em	uma	balada
ali	pelo	bairro	de	Botafogo	e	pra	minha	maior	sorte	ela	conhecia	o	meu	blog,	o
Jacaré	 Banguela.	 Bingo!	 Fomos	 para	 o	 meu	 apartamento,	 tirei	 a	 roupa	 dela,
joguei	 na	 cama	 (ela,	 não	 a	 roupa)	 e	 transamos	 por	 horas!	 Tá,	 minutos.	 MAS
FORAM	 ÓTIMOS	 MINU-	 TOS!	 Assim	 que	 terminamos	 ela	 disse	 que	 não
estava	 se	 sentindo	 muito	 bem	 e	 que	 precisava	 ir	 ao	 banheiro.	 Fiquei	 meio
apreensivo,	mas	não	me	preocupei	muito.
Ela	estava	no	banheiro	e	eu	fui	ligar	a	luz	pra	achar						a	minha	cueca.	Quando
olhei	pra	minha	cama	TINHA	SANGUE	EM	TUDO!	Eu,	que	até	então	não	tinha
a	menor	intimidade	com	o	assunto	menstruação,	comecei	a	falar	comigo	mesmo
em	 pensamento:	 ‘Caralho!	 Eu	 cortei	 a	 garota	 com	 o	 meu	 pau!?	 Puta	 que	 me
pariu!	 Ela	 tá	 com	 hemorragia	 interna!	 Essa	 filha	 da	 puta	 vai	 morrer	 no	 meu
banheiro!	Como	que	eu	vou	explicar	isso	pra	polícia!	Como	eu	vou	explicar	isso
pra	minha	família!?	Eu	tô	fudido!	Acabou	minha	carreira!	Eu	matei	uma	mulher!
Puta	que	pariu!	Eu	matei	uma	mul…’
Eis	que	ela	sai	do	banheiro	e	me	vê	ali	desesperado	olhando	pra	cama.
-	Ai,	desculpa!
-	O	QUÊ!?
-	Eu	sabia	que	estava	menstruando	mas	não	achei	que	fosse	descer	hoje.
-	Descer	o	que?
-	Minha	menstruação.
-	Menstruação?
-	É.	Desculpa.	Eu	posso	mandar	lavar	pra	você.
-	Puta	 que	 me	 pariu...	 a f f ...	 caraaaaaaaaaalho...	 puta	merda...	graças	a	Deus!
-	Desculpa.
-	Relaxa	–	eu	disse,	sentando	na	beirada	da	cama	e	colocando	a	mão	na	cabeça,
aliviado.
-	Tá	tranquilo,	eu	mando	lavar	amanhã.
-	Mesmo?
-	Mesmo.
Eu	me	vesti,	 ela	 se	 vestiu	 e	 foi	 embora.	Enrolei	 todo	o	 lençol,	 coloquei	 numa
sacola	grande	e	 limpei	a	cena	do	crime.	No	dia	seguinte	eu	ia	viajar	cedo	para
outra	cidade	e	levei	o	lençol	até	a	lavanderia	do	lado	do	meu	prédio.	Eu	já	estava
sem	graça	por	ter	que	levar	aquilo	tudo	cagado	de	sangue	pra	alguém	lavar.	Eu
sei	 que	 eu	 seria	 julgado,	 mas	 eu	 não	 tinha	 opção	 (até	 porque	 era	 meu	 único
lençol!).
Cheguei	na	lavanderia	e	dei	de	cara	com	a	porta.	Era	sábado	de	manhã,	umas	9h
mais	ou	menos,	 eu	 tinha	que	 ir	pro	aeroporto	e	não	 tive	outra	opção:	 joguei	o
lençol	no	lixo.
Apesar	do	susto,	chamei	a	garota	pra	sair	mais	algumas	vezes,	mas	ela	sempre
tinha	algum	outro	compromisso.	Aposto	que	era	menstruar	na	cama	de	alguém!
Sorte	a	minha.
	
12.												Aquela	Maria...
No	 Rio	 de	 Janeiro	 as	 minhas	 aventuras	 ou	 desventuras	 amorosas	 só
aumentavam.	 Talvez	 pelo	 fato	 de	 eu	 ter	 começado	 a	 ler	 Nelson	 Rodrigues	 e
Sérgio	Porto,	nessa	época,	tenha	me	ajudado	a	QUERER	viver	umas	coisas	mais
malucas	como	as	que	eles	escreveram	(sem	os	suicídios	e	os	assassinatos,	claro).
Um	dia	um	amigo	me	chamou	para	ir	no	apartamento	de	uma	garota,	que	tinha	a
fama	de	já	ter	transado	com	vá-	rios	comediantes	amigos	nossos	do	Brasil	todo.
Problema	 nenhum!	 Pelo	 contrário,	 só	 vimos	 vantagem	 nisso.	 Assim	 como
existem	 as	 Marias-Chuteira,	 existem	 também	 as	 Marias-Comédia,	 afinal,	 as
Marias	 fazem	 o	 que	 quiserem.	 Naquela	 época,	 como	 além	 de	 blogueiro	 eu
estava	 começando	no	stand-up,	me	animei	em	ter	alguma	coisa	em	comum	com
os	grandes	comediantes	que	eu	era	fã,	nem	que	 fosse	 aquela	Maria.	Chegamos
no	 apartamento	 dela	e	 assim	 como	 combinado,	 ela	 estava	 com	 uma	 amiga	 lá.
Conversamos	um	pouco,	bebemos	um	pouco	e	meu	amigo	 não	 ficou	 a	 fim	 de
nenhuma	das	duas,	 disse	 que	queria	 ir	 embora	 e	 a	Maria	 anfitriã	 (a	Comédia)
pediu	para	ficarmos.	Ele	 insistiu	em	ir,	mas	disse	para	eu	ficar,	que	eu	 iria	me
divertir.	Fiquei.	Assim	que	meu	amigo	foi	embora	e	a	amiga	da	Maria	também,
fiquei	ali	com	ela	todo	animado.	Ela	perguntou	se	eu	queria	dormir	lá	e	eu	disse
que	sim.	Ela	sorriu,	me	levou	até	um	quarto	e	disse:
-	Fica	 nesse	 aqui,	 o	 cara	 que	 dorme	 aí	 é	 um	gringo	mas	 ele	 tá	 viajando.	Tem
cobertor	ali	no	armário.
-	E	você?
-	Eu	vou	dormir	aqui	no	meu,	tô	com	sono,	tenho	que	acordar	amanhã	cedo	pra	ir
trabalhar.	Quando	sair	só	encosta	a	porta	que	é	seguro	aqui.	Boa	noite.
Entrei	no	quarto,	deitei,	fiquei	uma	meia	hora	olhando	para	o	teto,	levantei,	fui
até	o	quarto	da	Maria	e	ela	tava	lá	roncando	de	boca	aberta.	Fui	embora.	Liguei
para	o	meu	amigo	 ir	me	buscar	e	ele	não	podia	pois	estava	ocupado	 transando
com	a	amiga	da	Maria.	Peguei	um	táxi	e	fui	pra	casa.	Puto!
Nessas	 horas	 eu	 até	 entendo	 os	 desfechos	 do	 Nelson	 Rodrigues	 e	 do	 Sérgio
Porto.
	
13.												Fá	do	Clube	do	Whisky
Eu	não	lembro	exatamente	quando	foi	que	eu	comecei	a	querer	ser	um	cara	mais
conhecido.	Talvez	quando	eu	vi-	rei	DJ	em	Sinop	(MT)	e	as	pessoas	começaram
a	 elogiar	 o	meu	 trabalho	 eu	 tenha	 sentido	 vontade	 de	 trabalhar	mais	 para	 ser
mais	elogiado.	Talvez.
O	meu	blog,	o	Jacaré	Banguela,	é	um	ótimo	termômetro	pra	 isso.	Muita	 gente
conhece	 e	 muita	 gente	 não,	 e	 é	 por	 isso	 que	 eu	 não	 uso	 ele	 como	 meu
sobrenome	na	 hora	de	me	apresentar	 pra	 alguém,	 porque	quando	 a	pessoa	 não
conhece,	é	só	meio	vergonhoso	eu	afirmar	que	ele	é	muito	conhecido	quando	a
outra	 pessoa	 nunca	 nem	ouviu	 falar.	 Lembro	 que	 estava	 com	 um	 amigo	 num
puteiro	 no	Rio	de	 Janeiro	 (aliás,	 só	 lá	 que	 eu	 entendi	 porque	 o	Rio	 de	Janeiro
é	 a	 Cidade	Maravilhosa)	 e	 uma	 das	 garotas	 de	programa	veio	falar	comigo.
-	Oi,	desculpa	perguntar,	mas...	você	é	o	cara	do	Jacaré	Banguela?
Pô,	inflei	igual	um	pavão	na	hora!	Pensei	comigo:	“já	que	ela	é	fã,	talvez	nem
cobre	pelo	programa	de	hoje!”.	Dei	um	sorrisinho	de	canto	de	boca,	olhei	para	o
meu	amigo,	fiz	cara	de	“Tá	vendo?	Fama!”	e	respondi:
-	Sou	sim.
-	Sério	mesmo?
-	Sé.rí.ssi.mo!
-	É	ele	mesmo,	o	cara	do	Jacaré	Banguela!	–	disse	a	garota	se	virando	pra	 trás
enquanto	dava	 este	 recado	para	um	outro	 cliente	que	 abriu	um	 sorrisão	 e	veio
falar	comigo.
-	 Pôôôôôô!	 Eu	 sou	 muito	 seu	 fã,	 cara!	 Mas	 como	 eu	 não	 sabia	 se	 era	 você
mesmo,	pedi	pra	ela	vir	perguntar.	Que	que	ce	tá	fazendo	aqui?
Que	pergunta	foi	essa!?	O	que	eu	estaria	fazendo	dentro	de	um	puteiro?	Ah,	 já
sei!	Virando	piada	para	o	meu	ami-	go	que	espalhou	a	história	para	todo	mundo
que	a	gente	conhece,	era	isso	que	eu	estava	fazendo	lá!
Só	de	raiva,	eu	me	lembro	que	peguei	a	garota	que	estava	com	o	fã,	levei	ela	pro
quarto	e	transamos.	Mas	tive	que	pagar.
Afinal	o	fã	era	o	cara,	não	ela.
	
14.												Surpresaaaaa!
Esta	fase	de	puteiro	foi	curta	e	intensa	mas	renderam	três	histórias	boas	para	este
livro.	Esta	aqui	é	a	do	meio	e	é	um	pouco	bosta.	Mesmo!
Nesta	época	de	puteiro	eu	meio	que	queria	entender	mais	como	era	fazer	sexo,
eu	tinha	feito	pouco	até	então	e	neste	meu	período	no	Rio	de	Janeiro	o	meu	blog,
o	Jacaré	Banguela,	lucrava	muito.	Deixei	muito	dinheiro	no	mesmo	puteiro.	Eu
era	um	cliente	fiel	àquelas	meninas,	ia	sempre	no	mesmo	puteiro.
A	cada	ida	eu	tentava	uma	posição	nova	com	aquelas	mulheres	mega	experientes
além	do	papai	e	mamãe	que...	porra...	essa	é	meio	que	automática.	Fui	fazendo
todas	que	eu	tinha	curiosidade	como	Coqueirinho,	De	Ladinho,	Frango	Assado,
De	 Pé,	 Balanço	 Sensual,	 Montaria	 Invertida,	 Carrinho	 De	 Mão,	 menos	 o	 69
porque...	né…	um	dia	eu	tive	curiosidade	pelo	cu.	Não	o	meu,	claro,	mas	o	delas.
Como	deve	ser	fazer	sexo	por	lá?	Será	que	mulher	gosta	(olha	que	ingênuo	que
eu	 era!)?	 Será	 que	 era	 só	 pedir	 que	 todas	 fariam?	 Bem,	 só	 tinha	 um	 jeito	 de
descobrir.	 Fui	 à	 casa	das	 “mulheres	de	vida	 fácil”	 (quem	criou	essa	 expressão
com	certeza	 foi	 uma	 esposatraída,	 porque	 pensa	 aí	 em	 transar	 com	uns	 cinco
desconhecidos	 por	 dia,	 por	 obrigação	 e	 por	 dinheiro.	 É	 fácil?	 Se	 você	 achou,
talvez	 você	 seja	 uma	 boa	 puta	 em	 potencial	 e	 só	 tá	 perdendo	 dinheiro	 não
fazendo	isso	ainda)	e	escolhi	uma	das	garotas	para	o	que	eu	queria.	Perguntei	se
ela	fazia	de	tudo	e	ela	disse	que	sim.	Ótimo!
Fomos	 para	 o	 quarto	 e	 começamos	 a	 brincadeira.	 Pedi	 para	 ela	 o	 cu.	 Assim,
direto	e	decidido.	Eis	que	ouço:
-	Claro,	seu	pau	é	ótimo	pra	comer	cu!
E	isso	é	um	elogio	difícil	de	aceitar.	Porque	ao	mesmo	tempo	que	aparentemente
é	 legal	 ter	 um	 pau	 “ótimo	 para	 comer	 cu”,	 eu	 não	 sei	 o	 que	 isso	 realmente
significa.	É	fino?	É	pequeno?	Não	machuca?	Eu	não	sei!
Voltemos	ao	cu.
Confesso	que	gostei	da	sensação,	me	pareceu	bem	interessante	mesmo,	fiquei	ali
repetindo	 os	movimentos	 e	 curtindo	o	 passeio.	Porém	 (olha	 ele	 aqui	 de	 novo!
Sempre	 haverá	 um	 porém!),	 eu	 caí	 numa	 cilada	 para	 qual	 eu	 não	 tinha
treinamento	para	escapar.
No	 linguajar	 gay	 eles	 têm	 uma	 frase	 que	 é	 “fazer	 a	 chuca	 para	 não	 passar
cheque”,	que	é	uma	maneira	mais	refina-	da	de	falar	“lavar	o	cu	por	dentro	para
não	cagar	no	pau	alheio”.	Bem,	digamos	que	eu...	ganhei...	um...	“cheque”.
Fiquei	decepcionado	com	a	falta	de	profissionalismo	da	moça.	Sabe	quando	você
vai	na	 lanchonete,	pede	um	copo	 de	 açaí	 e	 vem	 escorrendo	 açaí	 pelo	 copo?	É
desse	tipo	de	falta	de	profissionalismo	que	eu	tô	falando.	Não	pode	deixar	o	açaí
escorrer	do	copo!
Nunca	 mais	 fiz	 anal	 com	 uma	 garota	 de	 programa.	 Hoje	 faço	 só	 com	moças
belas,	recatadas	e	do	lar.
	
15.												Milhagem
Eu	comentei	que	ia	muito	neste	puteiro	do	Rio	de	Janeiro,	né?	Pois	é.	Ia	mesmo.
Não	 vou	 falar	 o	 nome	 dele	 aqui	 porque	 vai	 que	 na	 nota	 fiscal	 vem	 como
“restaurante”	ou	“comércio	de	bebidas?”	Aí	a	namorada	de	alguém	lê	 este	livro
e	 liga	os	pontos	sobre	onde	o	cara	sempre	 tem	uns	“almoços	de	reunião	com	o
pessoal	do	escritório”	e	eu	viro	estopim	de	uma	DR	desnecessária.	Deus	me	livre!
Mas	o	puteiro	fica	perto	da	lagoa	Rodrigo	de	Freitas,	naquele	córrego	que	tem	ali,
sabe?	Quase	em	frente	ao	Pão	de	Açúcar	do	lado	do	Jardim	Botânico	como	quem
vai	para	o	Humaitá.	Enfim.	Talvez	por	uma	carência	afetiva	das	várias	 mulheres	de
quem	eu	vinha	levando	fora	(por	minha	culpa,	confesso),	o	puteiro	passou	a	ser	o	meu
divã	por	um	tempo.	Um	longo	tempo.	Sabe	aquelas	histórias	que	a	gente	ouve	dos
caras	que	 vão	no	puteiro	para	conversar	com	a	puta?	Então,	eu	já	fui	esse	 tipo	de
cara.	 Já	 quis	 tirar	 umas	 garotas	 dessa	 vida	 como	 se	 eu	 fosse	 a	Mulher-Maravilha
livrando	essas	escravas	da	opressão	machista	que	as	 tratam	como	simples	objeto
de	prazer.
Mas	 eis	 um	 ponto.	A	 garota	 de	 programa	 está	 acima	 de	 qualquer	 ismo	 desses
porque	 um	 lado	 vê	 essa	mulher	como	 um	 simples	 objeto	 de	 prazer,	 o	 outro	 vê
como	o	símbolo	do	empoderamento	da	mulher	sobre	o	fato	dela	fazer	o	que	quiser
com	o	próprio	corpo,	 inclusive	lucrar.	E	elas	estão	cagando	muito	para	qualquer
conceito	sobre	o	que	elas	fazem	ou	deixam	de	fazer.
Elas	são	demais!	Amo	putas!
Eu	ia	tanto	neste	puteiro,	mas	TANTO,	que	um	dia	eu	cheguei,	falei	meu	nome
fantasia	(“Fernando	Rodrigues”,	que	tal?),	coloquei	minha	digital	no	aparelhinho
e	a	atendente	abriu	um	sorrisão	pra	mim:
-	Ih,	olha	que	beleza	senhor	Fernando!	Parabéns!
-	Eita!	Pelo	quê?
-	O	senhor	tem	vindo	muito	aqui,	não	é?
-	É,	acho	que	tenho.
-	Então,	a	casa	quer	te	parabenizar	por	isso.
-	Hum,	obrigado.	Valeu	casa!	Uhul!
-	Hahahaha...	é	mais	do	que	só	parabenizar!	Vamos	te	dar	um	bônus	hoje.
-	De	que?
-	Hoje	o	senhor	não	paga	nada.
-	Como	assim?
-	Nada.	O	senhor	vai	se	divertir	hoje	por	conta	da	nossa	casa.
-	Nem	bebida?
-	O	senhor	tem	direito	a	dois	drinks	e	uma	garota	por	conta	da	casa.	Só	hoje.
-	Uau!	Valeu!	Sensacional!	Obrigado	casa!
-	A	casa	é	que	agradece!
Usufruí	 de	 todos	 os	 benefícios	 deste	 dia	 com	muito	apreço	 pela	 gentileza.	Mas
quando	estava	voltando	para	casa	eu	pensei	que	 talvez	 fosse	a	 hora	de	 eu	parar
com	 isso.	 Se	 eu	 estava	 ganhando	milhas,	 é	 porque	 o	meu	 avião	 estava	 voando
demais	e	para	destinos	errados.	Nunca	mais	voltei	lá	e	nunca	mais	me	relacionei
com	uma	garota	de	programa.
Pelo	menos	não	uma	assumida.	Foi	bom	enquanto	durou.	Muito	bom!
	
	
16.												O	show	de	humor	que	terminou	sem
graça
Depois	 de	 desistir	 dos	 puteiros	 no	 Rio	 de	 Janeiro	 eu	voltei	a	tentar	ficar	com
as	mulheres	sem	que	eu	precisas-	se	pagar	e	isso	é	muito	difícil,	afinal,	para	que
as	 mulheres	 se	 interessassem	 por	 mim	 eu	 teria	 que	 ser...	 interessante.	 Me
dediquei	mais	 ao	 Jacaré	Banguela,	 no	 nível	 dos	 textos,	 às	 pesquisas	 para	 não
escrever	(muita)	 merda,	 ao	sarcasmo	e	 ironia	que	eu	sempre	odiei	 (!)	e	depois
de	 um	 tempo	algumas	garotas	 começaram	a	 se	 manifestar.	Com	uma	delas	 eu
comecei	a	sair	bastante.	Fui	numa	 festa	em	um	píer	em	Botafogo,	em	um	outro
dia	fomos	num	barzinho	no	Flamengo	e	na	terceira	vez	que	saímos	eu	levei	ela
para	assistir	um	show	de	stand-up	de	uns	amigos	(show	de	stand-up	é	ótimo	para
pegar	a	pessoa	que	você	quer.	Fica	a	dica.	Mas	cuidado!).
Ela	 adorou	o	 show,	 riu	muito,	 gostou	do	passeio	 e	 na	 saída	sugeri	para	ela	de
irmos	jantar	com	os	comediantes,	afinal,	eu	era	amigo	das	estrelas	e	queria	me
mostrar	um	cara	influente.	Ela	aceitou.
Chegamos	no	restaurante.	Eu,	ela,	um	dos	comediantes	e	um	outro	amigo	nosso.
Ficamos	conversando,	rindo,	bebendo,	comendo	e	eu	percebi	uma	coisa	estranha,
mas	fiquei	na	minha.	Assim	que	ela	saiu	para	ir	ao	banheiro	o	comediante	disse:
-	Banguela,	tá	rolando	uma	parada	estranha	aqui.
-	Eu	tô	vendo.
-	Ela	tá	pas...
-	Passando	o	pé	na	sua	perna.	Eu	tô	vendo.
-	Cara!	Eu	não	fiz	nada,	eu	juro.	Eu	tô	de	boa	aqui.	Quer	trocar	de	lugar	comigo?
-	Não,	relaxa.	Se	ela	quer	te	dar,	come		ela.
-	Mas	você	que	chamou	ela	pra	sair.
-	Azar	o	meu.
-	Não,	cara!	Come	ela!
-	Ela	não	quer	dar	pra	mim,	quer	dar	pra	você.	Come	ela	você.
-	Porra!
Ela	voltou	e	seguimos	outro	papo,	claro.	Conversamos	mais	um	pouco,	pedimos
a	 conta,	 pagamos	 e	 fomos	 embora.	 Como	 eu	 era	 o	 único	 de	 carro,	 fiquei	 na
função	 de	 deixar	 a	 turma	 em	 casa.	 Deixei	 o	 amigo	 primeiro	 e	 fui	 deixar	 o
comediante	para	depois	ir	deixar	a	garota	e	surpreender	ela	com	um	“Quer	que	eu
suba?”	ou	“Quer	 ir	 lá	 pra	 casa	 e	 depois	 eu	 te	 deixo	 na	 sua?”,	 afinal,	 só	 os
homens	da	mesa	sabiam	que	todos	ali	sabiam	o	que	estava	acontecendo,	para	ela
ninguém	sabia	de	nada.
Assim	 que	 eu	 parei	 na	 frente	 do	 prédio	 do	 comediante	 ele	 desceu...	 e	 ela
também.	 Eu	 e	 o	 comediante	 nos	 olhamos	 e	 ficamos	 sem	 reação.	 Isso	 sim	 foi
surpreendente!
Ela	disse	que	pegaria	um	 táxi	pra	 casa	depois,	mas	que	 tinha	 adorado	a	noite.
Bateu	a	porta	do	carro	e	eu	e	o	comediante	ainda	ficamos	uns	5	segundos	parados
sem	reação	antes	de	eu	acelerar	e	ir	embora.
Tudo	 bem.	 No	 dia	 seguinte	 o	 comediante	 disse	 que	 ela	 transava	 mal	 pra
caramba!	Acho	que	ele	mentiu	pra	mim	só	para	eu	não	me	sentir	 tão	mal	pela
noite	passada.
Valeu	cara!
	
17.												Caí	na	Friendzone
Todo	ano	em	Curitiba	tem	o	Festival	de	Curitiba	e	dentro	dele	o	Risorama,	um
festival	 de	 comédia	 organizando	 pelo	Diogo	 Portugal.	 Há	 vários	 anos	 que	 eu
tenho	o	prazer	de	ser	convidado	pra	ir	e	sempre	gosto	muito	de	estar	em	Curitiba.
Adoro	a	cidade,	o	clima	e...	é	claro,	as	mulheres	absurdamente	lindas	que	moram
lá.
Numa	 dessas	 vezes	 que	 eu	 fui,	 me	 encontrei	 com	 uma	 garota	 que	 era	 fã	 do
Jacaré	Banguela	há	alguns	anos	e	queria	me	encontrar	no	hotel.	Dei	uma	olhada
nas	fotos	dela	no	Facebook	e	a	garota	era	simplesmente	uma	das	mais	lindas	que
eu	já	vi	na	vida.	Sério!	Posso	garantir	isso	pois	estou	escrevendo	este	livro	anos
depois	de	tê-la	conhecido.	Pirei	com	ela	mas	não	demonstrei,	claro!
Ela	 disse	 que	 não	 conseguiria	 ir	 no	 hotel	 mas	 queria	 	 	 se	 encontrar	 comigo.
Chamei	pro	Risadaria	e	ela	 foi.	Se	divertiu	vendo	osshows,	conversamos	e	os
comediantes	 combinaram	 de	 ir	 numa	 festa	 sertaneja	 depois	 das	 apresentações.
Convidei	ela	para	ir	conosco	e	ela	topou.	Na	festa,	tocando	aquele	sertanejão	da
portêra	véia,	eu	 que	não	sou	bobo	nem	nada	chamei	ela	pra	dançar.	Eu	danço
médio,	já	tinha	aprendido	há	uns	anos	em	Cuiabá	(lembra?),	mas	quando	tô	com
a	confiança	alta,	parece	até	que	danço	bem.
Corpo	colado,	roçando	barba	no	pescoço,	ela	rindo,	nos	olhamos	de	pertinho,	fui
beijar	e...
-	Não!
-	Que?
-	Não,	por	favor	não!
E	quando	tem	um	“por	favor”	antes	de	um	“não”	a	coisa	fica	séria.	Travei.
-	O	que	foi?
-	Ah,	cara...	sério...	putz...	é	uma	merda	isso!	–	disse	ela	choramingando.
-	Tá	tudo	bem?	–	fiquei	preocupado.
-	Ah...	é	foda	isso	viu!
-	O	que	foi?	Fala	pra	mim.
Saímos	da	pista	e	fomos	pra	um	canto.
-	Tá	tudo	bem?	Eu	fiz	alguma	coisa	que	você	não	curtiu?
Desculpa.
-	Não,	não	fez...	sei	lá...	é	foda.
-	Me	fala	o	que	foi.
-	Ah...	pô...	todo	cara	que	eu	conheço	quer	me	pegar.	Sempre!	Toda	vez.
-	Bem,	você	é	bonita	e	muito	divertida.	Natural	que	os	caras	se	interessem.
-	Tá,	eu	sei,	mas	é	que	eu	quero	um	amigo	também!
-	E	você	não	tem	amigos	aqui	em	Curitiba?	–	já	tentando	tirar	o	meu	da	reta.
-	Não,	 só	 umas	 meninas	 que	 eu	 saio	 de	 vez	 em	 quando,	 mas	 eu	 queria	 um
homem.
-	Bom,	dá	pra	gente	ficar	e	eu	ser	amigo,	não?	-	não?
-	Ah,	sei	lá,	eu	prefiro	não.
-	Não	ser	minha	amiga?	Tudo	bem,	a	gente	fica	então.
-	Hahahaha...	não,	prefiro	não	ficar	com	você	e	ter	você	como	amigo.
-												Mas	bem	na	minha	vez?
-	Desculpa,	mas	eu	quero	só	ser	sua	amiga.
-	Bom,	 tá	 bom,	 então	 eu	 vou	 ali	 tentar	 pegar	 umas	 garotas	 e	 depois	 a	 gente
conversa	sobre	elas,	tá	bom?	–	fui	escroto?	Fui,	mas	calma...
-	Tá.
Voltei	pra	pista	e	ela	veio	atrás.
-	Peraí!
-	O	quê?
-	Eu	não	quero	que	você	fique	com	outra	garota.
-	Ué.	Não	posso	ficar	com	você	e	não	posso	ficar	com	outra	garota	também?
-	Não,	hoje	não.	Eu	vim	com	você	e	quero	ficar	 conversando	com	você.
Mulheres,	 me	 desculpa,	 mas	 esse	 tipo	 de	 pedido	 não	 faz	 o	 MENOR	 sentido.
Ainda	mais	vindo	de	alguém	que	eu	tinha	conhecido	NAQUELE	dia.	Segui.
-	…	eu	vou	embora.
-	Por	quê?
-	Já	tô	puto.
-	Comigo?
Fui	em	direção	a	saída,	paguei	meu	cartão	e	chamei	um	táxi.	Ela	veio	atrás.
-	Peraí,	eu	vou	com	você.
Entramos	no	táxi	e	eu	dei	o	endereço	do	meu	hotel.	Ela	disse	que	não	queria	ir
pra	lá.	Eu	disse	que	íamos	pro	meu	hotel	e	que	de	lá	ela	podia	ir	pra	casa	dela	no
mesmo	táxi.	Ok.	No	meio	do	caminho	ela	disse	que	tava	com	fome.
POOOOOOORRAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!	–	pensei.
Desviamos	para	um	McDonald’s.	Descemos,	 comemos,	 conversamos	e	 eu	não
toquei	no	assunto,	pagamos,	chamei	outro	táxi.	Ela	veio	e	me	abraçou.	Ficamos
abraçadinhos.	Chegou	o	táxi.	Dei	o	endereço	do	hotel,	ela	não	falou	nada.
Chegando	perto	do	hotel	ela	disse:
-	Vou	pra	minha	casa.
-	Tudo	 bem,	 estamos	 chegando	 no	 hotel.	 Eu	 fico	 lá	 e	você	vai	pra	 sua	casa
depois.
-	Mas	eu	tô	sem	dinheiro	pra	pagar	o	táxi.
Lembra	que	eu	disse	que	pra	mim	a	Vida	é	uma	velhinha	sacana?	Pois	é,	ela	era
a	motorista	do	táxi	e	ria	como	ninguém!
-	Deixa	eu	ficar	em	casa	antes?
-	Não	quer	ir	pro	hotel?
-	Não,	quero	ir	pra	casa.
Ela	deu	o	endereço,	demos	uma	volta	imensa	e	fomos	pra	casa	dela.	Assim	que
chegamos:
-	Então	tchau.	–	eu	disse.
-	Assim?
-	Assim	como?
-	Você	tá	bravo	comigo?
CARAAAAAAAAAALHOOOOOOOOOOO!!!!!	-	pensei
enquanto	respirava	fundo.
-	Não.
-	Mas	você	tá	seco.
-	São	quase	7h	da	manhã,	eu	só	tô	com	sono.
-	Tá	bom.	A	gente	se	vê	amanhã?	CLARO	QUE	NÃO,	Ô	CARALHO!!!
-	Pode	ser.
-	Você	me	liga?
-	Ligo.
-	Mesmo?
MEU	OVOOOOOOOOOOOO!!!!
-	Ligo.
-	Vou	esperar,	hein?
-	Tá	bom.
-	Você	nem	vai	ligar,	já	tô	vendo!
ALGUÉM	TEM	UMA	ARMA	PRA	EU	DAR	UM	TIRO	NESSA	FILHA	DA
PUTA!?
-	Vou	sim.	Agora	deixa	eu	ir	que	eu	tô	com	bastante	sono	mesmo.
-	Tá.
Ela	me	deu	um	abraço,	um	beijo	no	rosto	e	desceu	do	táxi.	Partimos.
-	Cara,	eu	não	teria	essa	sua	paciência	não!	–	disse	o	taxista.
-	Foi	difícil.
Excluí	 ela	 de	 todas	 as	 minhas	 redes	 sociais,	 apaguei	 o	 telefone	 e	 poderia	 até
dizer	 que	 não	 lembro	 mais	 o	 nome	 dela	 (porque	 não	 lembrava	mesmo),	 mas
enquanto	escrevia	este	texto	eu	lembrei,	procurei	no	Facebook	e	ela	está	casada.
Azar	do	cara.
	
18.												Desastre	aéreo
O	 Rio	 de	 Janeiro	 infelizmente	 não	 foi	 exatamente	 bom	 para	 mim
profissionalmente.	 Não	 que	 tenha	 sido	 ruim,	 mas	 as	 coisas	 não	 estavam
acontecendo	como	eu	queria.	Certa	vez,	conversando	com	o	chapa,	camarada	e
come-	diante	Fábio	Porchat	sobre	 isso	ele	me	perguntou:	“mas	você	era	bom?
Porque	se	você	não	era	bom,	a	culpa	não	era	da	cidade”.	E	eu	repensei	toda	a
minha	teoria	de	que	“O”	Rio	de	Janeiro	não	foi	bom	pra	mim.	Acho	que	eu	é	que
não	estava	pronto	para	o	Rio	de	Janeiro.
Mas	 o	 fato	 é	 que	 eu	 me	 mudei	 pra	 São	 Paulo	 um	 ano	 depois	 e	 as	 coisas
começaram	a	dar	certo	 (provavelmente	por	causa	das	porradas	que	eu	 levei	no
RJ).	Eu	estava	fazendo	Stand-up	há	algum	tempo	e	notei	que	em	São	Paulo	tem
mais	lugares	para	se	apresentar	que	no	Rio	de	Janeiro,	isso	me	deu	um	gás	para
me	dedicar	mais	a	essa	arte	que	eu	já	gostava	muito	como	espectador.
Certa	vez	voltando	de	avião	de	algum	lugar	que	eu	não	lembro	qual,	fiquei	por
último	pra	descer	porque	eu	tinha	colocado	 a	minha	mala	 no	 último	 bagageiro,
mas	sentei	no	meio	do	avião.	Nisso	uma	das	comissárias	estava	me	olhando	com
certa	curiosidade.	Ela,	linda	da	cabeça	aos	pés	(era	Tam.	Se	fosse	Varig...)	com
um	belo	de	um	sorriso	de	clareamento	a	laser.	Com	certeza	era!
Todos	saíram	e	eu	fui	buscar	minha	mala.	Ela	chegou	perto	e	perguntou:
-	Você	é	o	cara	do	Jacaré	Banguela?
-	Sou	sim.
-	Legal!	Eu	adoro	seu	blog.	Gosto	das	coisas	que	você	escreve	lá.
-	Ah,	tudo	bobagem!
-	Por	isso	que	é	bom.
-	Você	mora	aqui	em	São	Paulo?
-	Moro	sim.	Você	também?
-	Moro.	Depois	de	amanhã	vou	fazer	um	show	de	stand-up	num	evento	fechado	ali
no	Comedians	(bar	de	comédia).	Tá	afim	de	ir?
-	Ó!	Acho	que	tô	sim.	Tentei	ir	lá	uma	vez	mas	a	fila	tava
enorme	aí	eu	desisti.
-	 É	 evento	 fechado,	 não	 vai	 ter	 fila.	 Consigo	 colocar	 seu	 nome	 lá.	 Qual	 seu
celular?
-	Anota	meu	Face.	–	TOMA,	BOBO!
Anotado.	Mandei	 as	 coordenadas	 e	 ela	mandou	 o	nome	 dela	 e	 de	 uma	 amiga.
Isso	foi	em	2011	e	eu	realmente	não	era	muito	bom	no	stand-up.	Porém	como	ela
aceitou	 o	 convite,	 eu	 queria	 ser	 o	melhor	 comediante	 da	 noite.	De-	 corei	 bem
meu	texto,	escrevi	mais	algumas	coisas	e	parti	pro	show.	Assim	que	eu	entrei	no
palco	eu	a	vi	na	plateia.	Fiz	sinal	pra	ela,	ela	respondeu	com	um	tchauzinho	e	eu
comecei	a	fazer	as	piadas.
A	 primeira	 não	 funcionou	 muito	 bem,	 a	 plateia	 não	 riu.	 Disfarcei,	 segui	 e	 a
segunda	 funcionou	mais	 ou	menos.	 Bom!	 A	 terceira	 foi	 uma	meeeeeerda	 e	 a
partir	daí	mais	nenhuma	 piada	 funcionou.	 Foi	 um	 dos	 piores	 shows	 da	minha
vida!
Para	você	entender	qual	é	a	sensação	de	ser	um	come-	diante	com	piadas	ruins,	é
mais	ou	menos	como	quando	você	sonha	que	está	nu	no	meio	da	rua.	Sabe	essa
sensação	de	 estar	 em	público,	 em	completo	desespero	 e	não	 saber	o	que	 fazer
quando	todo	mundo	está	te	olhando?	É	exatamente	assim!
No	 final	 do	 show	 eu	 a	 procurei,	 mas	 ela	 já	 tinha	 ido	 embora.	 Mandei	 uma
mensagem	no	Facebook	pra	ela.
	
Nunca	mais	consegui	chamar	ela	pra	sair.	Acho	que	o	fato	dela	ter	me	bloqueado
no	Facebook	dificulta	também.	Acho!
	
19.												Não	era	amor,	era	cilada
Escrevendo	 este	 livro	 eu	 percebi	 que	 a	 única	 cidade	 que	 eu	 nunca	morei	mas
tenho	boas	histórias	ruins	da	minha	vida	é	Curitiba.	Imagina	se	eu	morasse!
Inspirado	por	filmes	e	histórias	 legais,	eu	já	comentei	aqui	em	outro	conto	que
de	 vez	 em	 quando	 eu	 fantasio	 situações	 românticas	 por	puro	prazer	 de	 querer
viver	uma	cena	de	 filme	mas	sempre	erro	na	hora	de	definir	e	avisar	o	elenco.
Geralmente	o	único	que	está	sabendo	que	aquilo	deveria	ser	uma	cena	de	filme
romântico	sou	eu.
Havia	 um	 tempo	 em	 que	 eu	 e	 esta	 garota	 estávamos	 nos	 falando	 muito	 pelo
WhatsApp.	Ela	em	Curitiba	e	eu	em	SãoPaulo.	Conversávamos	quase	todos	os
dias.	Falávamos	sobre	várias	coisas	e	mandávamos	ícones	fofos	um	para	o	outro
o	 tempo	 todo.	 Ficávamos	 batendo	 a	 nossa	 agenda	 para	 vermos	 quando	 seria
possível	 nos	 encontrar,	 se	 íamos	 um	 para	 a	 cidade	 do	 outro	 e	 todo	 aquele
romance	intenso	e	verdadeiro	que	só	o	vazio,	a	distância	e	a	superficialidade	da
virtualidade	podem	sempre	nos	proporcionar	(!)
Um	 dia,	 num	 sábado	 qualquer,	 eu	 acordei	 inspirado	 por	 Hollywood	 e	 pensei:
“vou	fazer	uma	surpresa	pra	ela!”.	Respirei	fundo,	levantei	da	cama,	tomei	um
banho,	peguei	meu	carro	e	fui	pra	Curitiba.	Foda-se!	Cinco	horas	de	estrada	(que
é	linda,	inclusive!),	música	alta	e	um	objetivo:	almoçar	com	a	garota,	passar	o	dia
com	ela,	um	bar	ou	balada	à	noite	e...	quem	sabe...	bem...	você	sabe.
Cheguei	 na	 cidade	 e	mandei	 uma	mensagem	para	 ela	 dizendo	 que	 estava	 lá	 e
queria	 almoçar,	 que	 foi	 uma	viagem	 de	 última	 hora	 (eu	 não	 queria	 revelar	 a
surpresa	logo)	e	que	eu	passaria	o	final	de	semana	em	Curitiba	para	fazer	umas
coisas.	Ela	se	animou	e	foi	me	encontrar.
Ela,	 assim	 como	 boa	 parte	 das	 garotas	 deste	 livro,	 era	 extremamente	 linda,
inteligente	e	legal.	Almoçamos,	conversamos,	 rimos	e	durante	a	 sobremesa	ela
quis	 saber	 o	 que	 eu	 estava	 fazendo	 em	 Curitiba,	 achei	 que	 seria	 uma	 ótima
oportunidade	de	falar	que	estava	lá	por	causa	dela.	Pensei:	“é	agora	que	ela	se
apaixona!”.
-	Vim	te	ver.
-	Que!?	–	respondeu	ela	meio	séria.
-	Vim	só	pra	te	ver.	A	gente	tava	combinando	isso	faz	tempo,	então	peguei	meu
carro	e	vim.
-	Mas...	por	quê?	–	já	bem	séria.
-	Ué...	porque	sim.	Precisa	de	um	motivo?
-	Você	veio	 só	 pra	 se	 encontrar	 comigo?	 –	meio	 desconfiada.
-	 	É,	oras.	A	gente	 se	 fala	 todo	dia	e	 fica	combinando	de	se	encontrar.	Eu	não
tinha	nada	pra	fazer	em	São	Paulo	neste	final	de	semana	e	vim	te	ver.
-	E	por	que	você	não	me	avisou	que	viria?
-	Porque	eu	queria	fazer	uma	surpresa.	Por	quê?	Fiz	alguma	coisa	errada?	Você
namora?
-	Não,	não	namoro,	mas...	não	acredito	que	você	veio	só	pra	me	ver.
-	Pra	te	ver,	conversar	com	você,	passar	o	dia	com	você,	sair	pra	um	bar	à	noite...
essas	coisas.
-	É...	não	sei...	–	disse	ela	já	dando	aquela	coçadinha	na	nuca	que	significa	“puta
merda,	o	que	eu	faço	agora!?”.
-	Não	gostou	de	eu	ter	vindo?
-	Gostei...	é	que...	é	estranho	você	vir	do	nada	“só	pra	me	ver”	(sim,	ela	fez	aspas
com	as	mãos).
-	Putz,	foi	mal,	eu	achei	que	você	ia	gostar	da	surpresa.	Ela	deu	uma	desculpa	de
que	 estava	 com	 a	 tarde	 toda	 ocupada	 e	 que	 não	 daria	 para	 me	 encontrar	 de
novo	 naquele	final	de	semana	INTEIRO.	Da	minha	parte	era	amor	mas	pra	ela
era	cilada.
	
20.											Rainha	da	Feira	da	Uva
Há	 dois	 ditados	 antigos	 na	 internet	 que	 serviam	 para	 desmerecer	 os	 blogueiros
quando	esses	começaram	a	ser	reconhecidos	como	mídia	de	massa	e	se	 tornaram
conhecidos,	 que	 eram:	 “ser	 famoso	 na	 internet	 é	 como	 ser	 rico	 no	 Banco
Imobiliário”	e	“ser	famoso	na	internet	é	como	ser	Rainha	da	Feira	da	Uva,	você	é
muito	conhecido,	mas	para	um	público	muito	específico	de	pessoas!”.
Eu	já	prefiro	a	piada	que	eu	fazia	nos	meus	primeiros	shows	de	stand-up:	“ser	uma
webcelebridade	é	 como	ser	o	personagem	principal	de	uma	novela...	da	Record,
porque	você	sai	na	rua	e	ninguém	te	reconhece	porque	nunca	te	viu	na	vida!”.
Mas	nós,	webcelebridades	(!),	sempre	tivemos	as	nossas	próprias	Feiras	da	Uva	e
Bancos	Imobiliários	que	são	esses	eventos	nerds	como	Campus	Party,	Comic	Con,
You	Pix,	os	eventos	de	Anime	e	todos	esses	lugares	que	costumam	reunir	muitos
jovens	com	seus	hormônios	à	flor	da	pele	e	a	ado-	ração	pelos	seus	ídolos	virtuais.
Eu	costumava	ser	um	desses	ídolos	nerd	(!)	Sério	(!!)	Mesmo	(!!!)
Em	um	desses	eventos	eu	conheci	uma	garota	que	eu	fiquei	bem	a	fim.	Ela	era	de
outra	cidade,	mas	estava	em	São	Paulo	porque	estava	participando	de	um	concurso
da	Garota	Mais	 Bonita	 da	 Internet	 (ou	 algo	 parecido	 com	 isso)	 e	 assim	 que	 eu
puxei	um	papo	com	ela,	ela	ficou	surpresa	em	saber	que	eu	a	conhecia	(lembre-se,
eu	costumava	ser	um	ídolo	nerd!).
Começamos	a	conversar	e	logo	no	início	ela	falou	do	namorado	dela.	Eu	dei	uma
travada,	mas	como	ela	 tinha	um	papo	 legal,	continuei.	Até	porque	hoje	em	dia	é
comum	 conhecer	 pessoas	 com	 relacionamento	 aberto,	 certo?	 Não	 por	 acaso	 ela
começou	a	falar	o	quanto	o	relacionamento	dela	era	uma	merda,	que	não	gostava
do	cara,	que	ele	não	dava	atenção	pra	ela,	que	quase	não	 transavam	mais	e	 eu...
entendi	o	código.
Fomos	 para	 uma	 festinha	 particular	 de	 um	 pessoal	 do	 evento	 que	 estávamos	 e
continuamos	 conversando.	Papo	vai,	papo	vem,	ficamos.	Fomos	embora,	cada	um
para	 o	 seu	destino	e	não	nos	falamos	mais	naquela	noite.	No	dia	seguinte	 saía	 o
resultado	da	votação	em	que	ela	estava	concorrendo.	Como	eu	estava	no	evento,	fui
ver	qual	seria	o	resultado.	Chegando	no	espaço	da	votação	a	vi	de	mãos	dadas	com
um	cara,	supus	que	fosse	o	tal	namorado.	Ela	me	viu	e	sorriu	amarelo,	mas	quando
o	namorado	dela	me	viu:
-	 NÃO	 ACREDITOOO!	 O	 JACARÉ	 BANGUELAAA!	 CA-	 RALHOOO!!!
VOCÊ	É	FODAAA!!!!!
Eu	quis	me	cagar	todo.
-	Caralho!	Eu	sou	muito	seu	fã,	cara!	Você	é	foda!	Puta	que	pariu!	Não	acredito	que
eu	 tô	 te	 vendo	 aqui	 na	 minha	 frente!	 Puta	 merda!	 Foda!	 Essa	 aqui	 é	 a	 minha
namorada.
-	Oi,	prazer.
-	Prazer.
-	Puta	que	pariu!	Tira	uma	foto	comigo.	Eu	tô	tremendo.	Caralho!	Eu	não	acredito!
O	Jacaré	Banguela!	Que	foda!	 Eu	te	acho	foda,	cara!	Amor,	tira	uma	foto	aqui,	eu
tô	tremendo	demais!	Puta	que	pariu!	Que	foda!
Click!
Eu	me	senti	mal,	muito	mal,	mal	mesmo.	Duas	semanas
depois	eu	tava	ficando	com	essa	menina	de	novo.	Droga!
	
21.												O	corpo	fala
A	maioria	das	relações	amorosas	que	eu	tive	até	aqui	duravam	apenas	uma	noite
por	vez	e	eu	não	 tinha	a	menor	vontade	de	me	 relacionar	por	mais	 tempo	que
isso.	Talvez	por	insegurança	de	um	relacionamento	mais	sé-	rio,	talvez	por	não
gostar	tanto	das	garotas	que	eu	havia	conhecido,	até	então,	ou	talvez	seja	o	fato
que	existem	7	bilhões	de	pessoas	na	Terra	e	não	faz	muito	sentido	se	relacionar
com	uma	só	a	vida	inteira.	Talvez.
Eu	havia	ganhado	um	pacote	de	viagem	para	duas	pessoas	numa	promoção.	Era
uma	boa	viagem	longa,	com	várias	escalas	até	chegar	ao	destino	final,	mas	ainda
as-	 sim,	boa.	Chamei	minha	mãe	e	ela	não	podia,	chamei	meu	 irmão	e	ele	não
podia,	chamei	uns	amigos	e	eles	não	podiam	e	aí	eu	resolvi	chamar	uma	garota
que	eu	já	 tinha	ficado	algumas	vezes.	Porém	(olha	ele	aqui	de	novo!),	eu	e	ela
não	éramos	íntimos	de	verdade.	Tínhamos	ficado	algumas	vezes	e	só,	sem	muito
papo	ou	romance.
A	viagem	seria	longa,	passaríamos	uma	semana	juntos	e	eu	tentei	ficar	de	boa,
afinal,	 era	 a	 primeira	 vez	 que	 eu	 estaria	muito	 tempo	 e	muito	 junto	 com	uma
garota.	Veja,	na	minha	primeira	oportunidade	real	de	estender	uma	relação	eu	já
me	aprisionei	com	uma	garota	por	uma	se-	mana!	Risco	alto!
Chegamos	 no	 hotel	 depois	 de	 horas	 de	 viagem,	 escalas,	 aeroportos,	 check-in,
alfândegas,	embarques,	desembarques,	esperas	e	principalmente	comidinhas	lixo
de	avião	e	aeroporto.	Além	de	serem	uma	fortuna,	são	uma	bomba	pra	qualquer
estômago.	Eu	estava	louco	de	vontade	de	ir	no	banheiro,	o	charuto	já	estava	no
beiço	e	fumegando!
Assim	que	entramos	no	quarto	ela	correu	para	o	banheiro	e	eu	fiquei	puto!	Me
controlei	 pra	 não	 cagar.	 Eu	 não	 sabia	 quanto	 tempo	 ela	 iria	 demorar	 e	minha
barriga	fazia	sons	estranhos.	Foi	o	tempo	da	garota	fechar	a	porta	do	banheiro,	eu
ouvir	o	barulho	da	tampa	do	vaso	abrindo	e	começar	uma	sinfonia	de	diarreia	que
a	vida	não	tinha	me	preparado	para	ouvir.
Se	a	comidinha	dos	aviões	fez	mal	pra	mim,	pra	ela	fez	MAL	PRA	CACETE.	Eu
fiquei	parado	no	centro	do	quarto,	 olhando	 pra	 porta	 do	 banheiro,	 com	 a	 boca
meio	aberta,	abismado,	ouvindo	o	que	eu	estava	ouvindo	e	segurando	na	alça	de
uma	mala.	Fiquei	ali	sem	reação	coexistindo	com	outro	ser	humano	que	estava
fazendo	a	coisa	mais	natural	do	planeta	e	a	briga	na	minha	cabeça	começou:
-	Claro	que	sim,todo	mundo	faz	isso!
-	Porra,	mas	eu	não	queria	saber!
-	Por	que	não?	Super	natural.
-	Porra,	mas	e	agora	como	eu	vou	olhar	pra	cara	dela?
-	Ué,	olhando!	Você	também	caga.
-	Eu	sei,	mas	eu	nunca	ouvi	outra	pessoa	cagando.
-	Nunca?
-	Sei	lá,	to	puxando	aqui	na	memória	e	não	lembro	de	ninguém.
-	Relaxa!
-	Ela	podia	ter	ligado	o	chuveiro,	sei	lá.	Eu	ligaria	o	chuveiro.
-	Mas	não	deu	tempo.
-	Porra,	se	feder	eu	vou	ficar	bem	puto!
-	É	possível	que	feda.
-	Porra,	eu	vou	ficar	bem	puto!
-	Mas	cocô	fede.	Qual	o	problema	de	feder?
-	Cheirar	o	meu	cocô	tudo	bem,	é	meu!	Eu	que	fiz!	Mas	o	de	outra	pessoa	não.
Ainda	mais	uma	garota.
-	Ahhhh...	qual	o	problema.
-	Meu	nariz!	Porra,	agora	toda	vez	que	a	gente	sair	pra	jantar	eu	já	sei	que	ela	vai
cagar	aqui.
-	E	você	não	vai?
-	Vou,	mas	eu	vou	ligar	o	chuveiro.
-	E	se	feder?
-	Não	vai	feder.
-	Não	tem	como	saber.
-	Peraí!	Porra!	Que	cheiro	é	esse?
-	É,	que	cheiro	é	esse!?	Fedeu.
Foi	uma	semana	ótima	mas	foi	uma	merda.
	
22.						Afinal,	o	que	quer	um	comediante?
Se	nem	Freud	conseguiu	descobrir	o	que	quer	uma	mulher,	imagina	eu	que	sou
um	 trouxa?	 Certa	 vez	 fiz	 um	 show	 num	 bar	 em	 São	 Paulo	 com	 vários
comediantes	mais	novos	que	eu,	tanto	na	idade	quanto	em	tempo	de	comédia.	No
elenco	tinha	uma	garota	que	estava	começando	na	carreira	mas	fez	boas	piadas.
Gostei	 da	 criatividade	 dela,	 de	 como	 ela	 se	 movimentava	 no	 palco,	 como
apresentava	as	piadas	e	as	saídas	que	ela	encontrou	para	as	piadas	que	não	tinham
sido	tão	boas.
No	final	do	show	eu	fui	parabenizá-la	e	dar	uns	pitacos	em	algumas	piadas	dela
(é	sempre	legal	quando	os	amigos	comediantes	fazem	isso,	acabam	dando	outro
ponto	de	vista	no	que	escrevemos.	Comediantes,	façam	isso	sempre!)	e	ficamos
conversando	sobre	várias	outras	coisas.
Ela	me	disse	que	morava	longe	e	que	estava	tarde,	o	metrô	estava	fechado	e	ela	ia
achar	 um	 jeito	 de	 ir	 para	 casa	 ou	 esperar	 o	metrô	 abrir.	 Como	 o	 bar	 em	 que
estávamos	era	perto	da	minha	casa	eu	chamei	ela	para	dormir	lá.	Ela	topou.
Só	lembrando	que	tínhamos	acabado	de	nos	conhecer.
Fomos	 para	 a	 minha	 casa	 e	 no	 caminho	 ela	 puxou	 um	 papo	 sobre	 dois
comediantes	que	ela	já	tinha	ficado.	Famosos,	amigos	meus.	Um	deles	ela	tinha
até	transado	já.	Eu	entendi	isso	como	uma	indireta.	Podia	ser	nada,	mas	começar
esse	papo	DO	NADA?	Desconfiei	positivamente.	Chegamos	na	minha	casa	e	ela
falou	que	estava	com	sono.	Mostrei	o	meu	quarto	e	falei	para	ela	ficar	à	vontade.
Falei	que	eu	dormiria	lá	também.	Ela	disse	que	tudo	bem.	Fui	na	cozinha,	tomei
uma	água,	voltei	pro	quarto	e
ela	já	estava	deitada.	De	roupa.
-	Vai	dormir	de	roupa?
-	É,	tô	com	frio.
-	Tem	edredom	aqui,	ó.
-	Ah,	obrigada.
-	Fica	à	vontade	aí.
Comecei	 a	 tirar	 minha	 roupa	 e	 fiquei	 de	 cueca.	 Ela	 tirou	 a	 dela	 e	 ficou	 de
calcinha	 e	 sutiã.	Deitamos	 um	 de	 frente	 pro	outro.	Nos	 encaramos	um	pouco,
rimos	e	eu	fui	beijar	ela.
-	Não.
-	Oi?
-	Não.	Melhor	não.
-	Peraí.	O	melhor	é	sim,	o	bom	é	‘calma	aí	vamos	devagar’	e	o	ruim	é	que	é	o
‘Não’.
-	Hahahaha...	tá,	é	verdade,	mas	não.
-	Ué,	achei	que	você	tava	a	fim.
-	Não,	acho	que	você	entendeu	errado.
Pausa	no	diálogo.	Eu	entendi	errado?	Então	atenção	que	é	hora	da	revisão:
01																			-	Nos	conhecemos	naquela	noite.
02																			-	Fomos	para	a	minha	casa.
03																			-	No	caminho	ela	falou	DO	NADA	sobre	os	outros
comediantes	que	ela	já	tinha	ficado/transado.
04																		-	Está	de	calcinha	e	sutiã	na	minha	cama.
05																			-	No	mesmo	edredom	que	eu.
Que	parte	eu	entendi	errado?
-	A	gente	não	vai	ficar?
-	Não,	 eu	 só	 quero	 dormir	mesmo	 e	 ir	 pra	minha	 casa	 amanhã,	mas	 eu	 posso
pegar	 um	 táxi	 e	 ir	 agora,	 eu	 peço	 pra	minha	mãe	 pagar	 quando	 eu	 chegar	 em
casa.	Eu	ligo	pra	ela	quando	eu	estiver	chegando,	ela	acorda	e	paga,	é	tranquilo.
-	Só	não	é	tranquilo	pra	sua	mãe.	Relaxa	aí.	Fica	de	boa	então,	eu	durmo	na	sala.
Amanhã	eu	te	levo	no	metrô.
-	Sério?	Mas	você	tá	bravo	comigo?
-	Não,	claro	que	não.	Fica	de	boa	aí.
Dormi	na	sala	e	no	dia	seguinte	levei	ela	até	o	metrô.
	
“A	grande	pergunta	que	não	foi	nunca	respondida	e	que	eu	não	fui	capaz	ainda
de	responder,	apesar	de	meus	trinta	anos	de	pesquisa	sobre	a	alma	feminina	é	–
O	que	quer	uma	mulher?”.	FREUD,	Sigmund.
	
Se	você	não	sabe,	meu	caro	Freud,	eu	não	tenho	a	ME-	NOR	ideia.	A	MENOR!
	
23.		 	 	 	 	 	 	 	 	 	Muitas	sinapses	para	meu	cérebro
subdesenvolvido
Ahhhh...	essa	aqui	é	uma	das	lembranças	mais	tristes	que	eu	tenho.	Eu	estava	no
palco	de	um	evento	de	 tecnologia	em	São	Paulo	e	essa	garota	me	assistiu.	Ela
não	sabia	quem	eu	era,	não	fazia	parte	do	meu	público,	mas	ficou	curiosa	pela
aglomeração	e	risadas	vindas	daquele	canto	do	salão.	Quando	meu	show	acabou
e	eu	tirei	algumas	fotos	com	algumas	pessoas	do	público,	ela	veio	se	apresentar	e
perguntar	quem	eu	era.
Ela	 era	 uma	 estudante	 de	 neurociência	 com	 foco	 em	mobilidade	e	estudos	em
cima	das	pesquisas	sobre	exoesqueleto	do	renomado	cientista	brasileiro	Miguel
Nicolelis.	Eu	já	tinha	lido	algumas	coisas	sobre	isso	e	fiquei	interessadíssimo	em
conversar	mais	 com	 ela	 sobre	 esta	 área.	 Ela	 era	 extremamente	 linda	 com	 um
sorriso	 largo	 e	 uma	 voz	 doce.	 Três	 frases	 trocadas	 com	 ela	 e	 eu	 já	 queria
repovoar	o	planeta	com	aquela	mulher.	Exagero?	Talvez,	mas	ela	era	sensacional
mesmo!!!
Batemos	um	papo	e	combinamos	de	sair.	Dias	depois	a	encontrei	em	uma	balada
no	centro	de	São	Paulo,	num	prédio	abandonado,	com	paredes	pichadas,	um	tipo
de	 música	 estranhíssima,	 pessoas	 dos	 mais	 diferentes	 tipos	 de	 vestimentas,
cabelos,	alturas,	pesos	e	sexos.	Parecia	que	eu	tinha	caído	sem	querer	numa	festa
dos	vendedores	da	Chilli	Beans.
Ficamos,	conversamos,	ficamos	mais	um	pouco,	o	dia	amanheceu	e	cada	um	foi
para	a	sua	casa	com	o	compro-	misso	de	nos	encontrarmos	novamente	outro	dia.
Trocamos	umas	mensagens	e	ela	topou	ir	dormir	na	minha	casa.	Busquei	ela	no
metrô	e	fomos.	Assistimos	um	pouco	de	TV,	ouvimos	música	e	 transamos	por
um	 bom	 tempo	 (perceba	 que	 eu	 não	 disse	 ‘muito	 tempo’,	mas	 sim,	 ‘um	 bom
tempo’,	 afinal,	 meu	 desempenho	 costumava	 ser	 bem	 mediano).	 Dormimos,
acordamos	 no	meio	 da	madrugada	 e	 transamos	 de	 novo.	 Rimos,	 conversamos
mais	 um	 pouco	 e	 dormimos.	Acordamos	 no	 começo	 do	 dia	 e	 transamos	mais
uma	vez,	desta	vez	sem	camisinha	porque...	bem,	porque	tem	momentos	na	vida
em	que	a	roleta	russa	parece	um	bom	esporte.
Levantamos,	 tomamos	 café	 da	manhã	 e	 eu	 a	 levei	 de	 volta	 ao	metrô	 (eu	 quis
levar	ela	em	casa,	mas	ela	não	quis).	A	única	coisa	que	eu	pedi	pra	ela	foi	que
tomasse	 a	 pílula	 do	 dia	 seguinte.	 Ela	 disse	 que	 isso	 desregulava	 toda	 a
menstruação	dela	e	que	doía	demais.	Eu	já	fiquei	preocupado,	mas	ela	disse	que
tomaria.
Caro(a)	leitor(a),	se	tem	uma	coisa	que	desespera	o	homem	é	ficar	na	dúvida	se
ele	vai	ou	não	ser	pai.	Não	há	frase	mais	preocupante	que:	“minha	menstruação
tá	atrasada”.	Mentira,	há	sim:	“Eu	acho	que	 tô	grávida”	faz	qualquer	homem
solteiro	amolecer	as	pernas.	Por	isso	a	cada	mensagem	que	ela	me	mandava	meu
coração	batia	gelado	e	eu	não	queria	puxar	este	assunto	com	ela.	Vai	que	num
azar	 qualquer	 ela	 me	 comunica	 da	 gravidez?	 Era	 melhor	 então	 que	 eu	 nem
perguntasse.
Umas	duas	 semanas	depois	da	nossa	 aventura,	 ela	me	manda	uma	mensagem
dizendo	que	eu	não	seria	papai.	Fiquei	tão	feliz	que	publiquei	a	mensagem	dela	na
internet.
	
Fiquei	aliviado	ao	mesmo	tempo	em	que	ela	ficou	MUI-	TO	PUTA	COMIGO.
Com	razão.	Ela	disse	que	tinha	gostado	de	estar	comigo	e	do	meu	papo,	mas	que
não	 queria	 servir	 de	 fonte	 de	 piadas	 pra	mim.	 Justo.	 Perdi	 uma	 das	mulheres
mais	inteligentes	e	interessantes	que	eu	já	tive.	Dois	anos	depois	voltamos	a	nos
falar.	Conversamos	um	pouco	e	ela	sugeriu	de	nos	encontrarmos	em	algum
barzinho	qualquer	dia.	Eu	sugeri	a	minha	casa.
	
	
Eeeeeeeitaaaaaa!!!	Não	há	exoesqueleto	que	aguente	essa	porrada	da	vida	não!
É	como	diz	a	piada	do	comediante	paraense	Victor	Camejo:	“A	diferença	entre	a
mulhere	Deus	é	que	Deus	per-	doa”.
	
24.											As	voltas	do	mundo
Um	dia	eu	me	apaixonei	de	verdade	e	a	sensação	é	a	mesma	de	quando	a	gente
vai	peidar	e	caga	sem	querer.	A	gente	não	queria	isso,	não	esperava	isso	e	muito
menos	 estava	 procurando	 por	 isso.	 Ela	 morava	 no	 Sul	 e	 passaria	 o	 final	 de
semana	em	São	Paulo.	 Já	 tínhamos	nos	 falado	pelo	Twitter,	DM	e	WhatsApp.
Ela	 tinha	 poucas	 fotos	 nas	 redes	 sociais,	 o	 que	 fez	 o	 jogo	 todo	 muito	 mais
sedutor.	 O	 papo	 já	 era	 interessante,	 ela	 era	 uma	 garota	 super	 inteligente	 e
divertida,	mas	eu	não	sabia	exatamente	como	ela	era	fisicamente.
No	dia	que	ela	chegou	em	São	Paulo	eu	já	a	convidei	pra	ir	em	uma	balada,	ela
topou	e	à	noite	fui	buscá-la	no	hotel.	Assim	que	ela	entrou	no	carro	meu	coração
bateu	mais	gelado.	Ela	era	extremamente	linda	e	tinha	um	sorriso	incrível!	Eu	me
apaixonei.	Fiquei	desconcertado	pra	conversar,	não	tinha	assunto,	gaguejava,	fiz
um	milhão	 de	piadinhas	 só	 porque	 eu	 percebi	 que	 ela	 gostava.	Me	 apaixonei.
Apesar	de	praticamente	 tudo	ser	perfeito	nela,	um	defeito	me	saltava	os	olhos:
ela	tinha	uma	autoestima	baixa,	bem	baixa	e	não	acreditava	em	tudo	o	que	era:
interessante,	 inteligente,	 divertida	 e	 linda.	 Já	 tinha	morado	 em	São	Paulo	uma
vez	e	namorado	um	cara,	mas	as	coisas	não	deram	certo	e	ela	voltou	pro	Sul.	Lá
ela	acabou	ficando	com	uns	caras	meio	babacas	e	estava	um	pouco	desiludida.
Nas	semanas	seguintes	que	nos	falamos	por	telefone	e	mensagens,	na	vez	que	eu
fui	 para	 o	 Sul	 gravar	 algumas	 coisas	 e	me	encontrei	 com	ela,	 numa	outra	vez
quando	ela	 estava	 indo	para	 a	Europa	 encontrar	 os	 pais	 e	 pegou	uma	 conexão
longa	 em	São	Paulo	 só	 para	 que	 a	 gente	 passasse	 um	 tempo	 juntos,	 em	 todas
essas	 vezes	 eu	 fui	 aos	 poucos	 fazendo	 ela	 voltar	 a	 acreditar	 nas	 múltiplas
qualidades	 que	 faziam	 dela	 a	 garota	 super	 interessante	 por	 quem	 eu	 estava
perdidamente	apaixonado.
Alguns	 meses	 depois	 ela	 me	 disse	 que	 iria	 se	 mudar	 para	 São	 Paulo	 no	 ano
seguinte.	Fiquei	muito	feliz.	As	energias	do	mundo	estavam	finalmente	jogando	a
meu	 favor.	 Nesse	 período	 eu	 estava	 viajando	 muito,	 gravando	 muito	 e
trabalhando	 muito,	 falávamos	 menos	 que	 antes	 e	 eu	 fui	 percebendo	 que	 ela
estava	 correspondendo	 pouco	 às	 minhas	 mensagens.	 Eu	 perguntava	 se	 estava
tudo	bem	e	ela	me	garantia	que	sim!	Eu	queria	saber	se	ela	estava	voltando	a	se
sentir	inferior	e	ela	dizia	que	não,	que	eu	realmente	tinha	ajudado	ela	a	voltar	a
se	 sentir	 bem.	 Eu	 ficava	 feliz	 com	 isso,	 ela	 nunca	 podia	 voltar	 a	 esquecer	 o
quanto	ela	era	interessante.
E	por	falar	em	voltar,	muita	coisa	voltou	na	vida	dela	semanas	depois.	Ela	voltou
a	manter	 a	 boa	 autoestima,	 voltou	 pra	 São	 Paulo	 e	 também	 voltou	 com	 o	 ex-
namorado	paulista.
Eu	também	voltei.	Voltei	a	lembrar	que	a	vida	é	assim:
“Às	 vezes	 você	 vai	 peidar	 e	 caga	 mas	 nem	 por	 isso	 você	 deixa	 de	 peidar”.
Espalhe	esta	bela	mensagem	aos	seus		filhos	e	netos.
	
25.											Pagando,	ô,	pato!
Dizem	que	o	bom	de	se	chegar	no	fundo	do	poço	é	que	só	existe	um	caminho	a
seguir:	 pra	 fora	 dele.	 Eu	 acredito,	 não	vejo	muita	vantagem	em	ser	pessimista
com	 as	 coisas.	 O	 otimismo	 te	 coloca	 em	 enrascadas	 bem	mais	 divertidas!	 Eu
estava	 saindo	 há	 algum	 tempo	 com	 uma	 garota	 de	outra	cidade	meio	longe	de
São	Paulo	e,	para	o	desespero	das	minhas	primas,	eu	fui	para	Nova	York	gravar
o	making	of	da	peça	“Sexo	–	A	Comédia”,	da	Cia.	 De	Comédia	Os	Melhores	do
Mundo	(grupo	e	peça	que,	anos	depois,	eu	passaria	a	atuar).	Digo	 ‘o	desespero
das	 minhas	 primas’	 porque	 eu	 costumo	 trazer	maquiagens	 e	mulherzices	 para
elas	 quando	 eu	 viajo	 para	 o	 exterior,	 mas	 quando	 estou	 saindo	 com	 alguma
garota	 a	minha	cota	de	 importação
tem	outro	destino.
Desta	vez	um	comprei	umas	vitaminas	que	a	garota	tinha	me	pedido	e	aproveitei
pra	levar	também	uns	cremes	que	eu	sabia	que	ela	iria	gostar.	Cheguei	no	Brasil,
peguei	 o	 endereço	 dela	 e	 mandei	 os	 presentes.	 Ela	 A-DO-ROU!	 Pontos	 pra
mim,	 afinal,	 no	 mundo	 das	 conquistas	 surpreender	vale	três	pontos,	na	frente
de	“chocolates”	que	vale	dois	e	“jantares”	que	vale	um	(não,	“sexo”	não	conta
ponto	mas	pode	tirar.	Sexo	é	mais	obrigação	mesmo).
Logo	que	os	adorados	presentes	chegaram	e	ela	pediu	o	número	da	minha	conta
para	 me	 pagar	 pelas	 vitaminas,	 eu	 neguei,	 claro!	 Afinal,	 eram	 presentes!	 Ela
insistiu	em	querer	me	pagar	e	eu	combinei	que	a	próxima	vez	que	ela	fosse	para
São	Paulo	o	nosso	jantar	seria	por	conta	dela,	ela	riu	e	eu	ri.	Eu	ri	porque	ela	riu,
mas	ela	riu	porque	sabia	que	isso	não	iria	acontecer.
Dias	depois	eu	descobri	que	ela	já	tinha	voltado	com	o	ex-namorado	quando	eu
mandei	os	presentes.	Merda!	Eu	devia	 ter	aceitado	o	pagamento,	meu	prejuízo
seria	menor.
Aposto	que	tudo	isso	foi	alguma	bruxaria	das	minhas	primas!
	
26.											Um	jovem	e	nerd
Eu	passei	vários	 anos	da	minha	vida	com	cara	de	nerd.	Não	que	eu	não	 tenha
essa	cara	agora,	mas	antes	eu	me	encaixava	direitinho	no	padrão.	Era	um	gordo
de	barba	e	óculos	de	aro	grosso	que	sempre	servia	como	referência	para	qualquer
parente	 que	 estivesse	 a	 fim	 de	 comprar	 um	 computador	 novo	 e	 não	 sabia	 a
melhor	opção.
Porém,	 apesar	 do	 visual,	 eu	 nunca	 fui	 esse	 nerd	 padrão.	 Até	 hoje	 não	 sei
configurar	 impressoras	e	muito	menos	escolher	um	bom	computador	nem	para
mim!	Já	fui	confundido	com	primos,	amigos	e	colegas	de	pessoas	aleatórias	que
me	perguntavam	se	eu	era	fulano	ou	ciclano	e	até	com	outros	caras	da	 internet
como	o	Alexandre	Ottoni	(o	cara	do	site	Jovem	Nerd)	ou	o	comediante	Rogério
Mor-	gado.
Mas	quando	fui	confundido	com	o	Alexandre	do	Jovem
Nerd	é	que	a	história	ficou	boa,	simplesmente	pelo	fato	de	eu	não	ter	percebido
que	a	garota	não	sabia	que	eu	era	eu.	A	culpa	não	foi	dela,	foi	das	circunstâncias.
Eu	estava	numa	balada	e:
-	Oi,	desculpa,	você	tem	um	blog	não	tem?
-	Oi.	Tenho	sim.
-	Putz!	Eu	acho	demais	o	que	você	faz!
-	Sério!?	Poxa,	obrigado!
-	Sério!	Acho	super	engraçado!
-	Legal.	Pô,	valeu!
-	Você	faz	vídeos	pro	You	Tube	também,	não	é?
-	Faço.
-	Eu	sabia!	Já	vi	seus	vídeos.	Acho	muito	demais,	você	tem	uma	energia	boa	e
uma	risada	que	eu	gosto	muito.	–	já	tava	querendo,	né?
-	Obrigado!	Você	é	a...?
Ela	 disse	 o	 nome	 dela	 e	 seguimos	 o	 papo	 sobre	 internet,	 filmes,	 cultura	 pop,
música	e	várias	outras	coisas.	Como	ela	estava	dando	papo	e	super	interessada,
eu	fui	pra	cima	e...	peguei.
Assim	que	terminamos	de	nos	beijar,	ela:
-	Nossa!	Eu	não	esperava	por	isso.
-	O	que?	Ficar	comigo?	Não	curtiu?
-	Curti,	você	beija	bem,	mas	foi	estranho.
-	Por	quê?
-	Sei	lá.	É	estranho.	Você	é	o	cara	da	internet	e	eu	vejo	seus	vídeos	faz	tempo.	É
estranho.
-	Bom,	agora	você	vai	ver	os	vídeos	e	saber	que	a	 gente
já	ficou.	Só.
Nisso	chegou	uma	amiga	dela	chamando	ela	para	ir	em-	bora.
-	Tenho	que	ir.	Manda	um	abraço	meu	pro	Azaghal!
-	Oi?
-	O	Azaghal,	manda	um	abraço	pra	ele!
E	a	minha	cabeça	começou	a	fazer	sinapses	numa	velocidade	absurda	para	achar
o	pacote	desta	informação	que	relacionava	eu	diretamente	ao	Azaghal.	O	pacote
veio:
	
Você	 já	 foi	 confundido	 outras	 vezes	 com	 o	 Alexandre	 Ottoni,	 o	 Jovem	 Nerd,
sócio	do	Azaghal.	Por	 isso	 ela	mandou	um	abraço	pro	Azaghal,	 ela	acha	que
você	é	o	Jovem	Nerd.
	
E	a	minha	reação	01	foi:
-	Podexá!	Mando	sim!	Beijo!
E	a	minha	reação	02	foi	mandar	um	tweet	na	hora	para	o	Alexandre.
	
Alexandre,	obrigado	pela	sua	fama!	Ouvi	dizer	que	você	beija	bem.	Parabéns	por
isso!
	
27.											Guru	do	sexo
Na	vida	há	muitas	“primeiras	vezes”,	até	mesmo	no	sexo.	Cada	nova	posição	é
uma	 primeira	 vez	 em	 ver	 se	 aquele	 jeito	 te	 agrada,	 cada	 nova	 garota	 é	 uma
primeira	 vez	 sobre	 como	 ou	 o	 quê	 pode	 agradar	 ela	 e	 assim	 por	 diante.	 Esta
garota	eu	conheci	numa	balada	perto	de	casa.	Ela	era	amiga	de	uma	amiga	e	no
mesmo	 dia	 que	 ficamos	 eu	 chamei	 ela	 pra	 ir	 pra	minha	 casa.	 Ela	 topou.	Nos
beijamos,	 tiramos	 a	 roupa	 e	 ela

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