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DADOS DE COPYRIGHT Sobre a obra: A presente obra é disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo Sobre nós: O Le Livros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site: LeLivros.site ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link. "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível." http://lelivros.org/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=link http://lelivros.site/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=link http://lelivros.site http://lelivros.org/parceiros/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=link RODRIGO FERNANDES em TINHA TUDO PRA DAR CERTO SE NÃO FOSSE EU COPYRIGHT © 2017 JACARÉ BANGUELA Todos os diretos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, de forma alguma, sem permissão formal por escrita do autor, exceto as citações incorporadas em artigos de crítica ou resenhas. AUTOR Rodrigo Fernandes REVISÃO Elba Maria Palmeira Rabello Rodrigo Fernandes CAPA Rodrigo Fernandes DIAGRAMAÇÃO Natanael Andrade Siliane Bet COORDENAÇÃO EDITORIAL Tempero Propaganda CATALOGAÇÃO NA FONTE Bibliotecária Vanessa Pereira CRB: 14/1446 Fernandes, Rodrigo Tinha tudo para dar certo se não fosse eu: crônicas de uma vida amo- rosa de merda / Rodrigo Fernandes – [s.l.] : [s.n.], 2017. 164 p. ; 19 cm. ISBN 978-85-923299-0-7 1. Crônicas Brasileiras. 2. Comédia Brasileira. 3. Humor. I.Título. II. Autor. F363t CDD: 869.935 CDU: 82-94(81) TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À JACARÉ BANGUELA www.jacarebanguela.com.br http://www.jacarebanguela.com.br/ “O amor bem-sucedido não interessa a ninguém.” Nelson Rodrigues DESCULPA! Este livro é apenas um grande compilado de histórias que juntei ao longo desses 31 anos de vida mal vivida. Mas não são histórias aleatórias, não são pensamentos soltos traduzidos em palavras pra que você possa entender o que eu também não entendo (!). O que quero (pretendo) mostrar aqui é a obra de uma cabeça vazia que geralmente serve como oficina do capeta, mas que em outros momentos guarda histórias reais de situações constrangedoras que fazem qualquer pessoa se perguntar: “por que esse imbecil fez isso!?”. A resposta é simples e direta: eu não faço ideia! É como disse algum sábio (ou Fábio, não me lembro agora): “As piores decisões geram as melhores histórias”, e aqui estou eu puxando do fundo da minha memória histórias nas quais tomei as piores decisões e acabei me dando muito mal nesta arte que pouco domino: a conquista amorosa. Tudo é baseado em fatos reais. Todas as histórias realmente aconteceram, mas algumas ganharam um pouco mais de humor para divertir você que está lendo. Em relação às mulheres, eu sou extremamente apaixonado por elas. Certa feita o comediante, amigo, chapa e camarada Diogo Portugal me perguntou: - Banguela, você acha que o... (não vou entregar o cara aqui) é gay? - Não, acho que não, por quê? - Porque eu nunca vi ele namorando nenhuma mulher. - Você nunca me viu também! - Mas você é um tarado! Sou, é verdade, mas na maneira mais pura desta palavra. Gosto de mulheres e gosto de relacionamentos, só não soube muito bem como juntar essas duas coisas numa só. A ideia deste livro surgiu por pedidos no Twitter, quando eu relatava lá as minhas tentativas frustradas de conseguir engatar um namoro ou simplesmente conseguir engatar. As histórias eram tantas que me pediram para colocar num livro e eu ainda não sei se estou feliz ou triste por ter reunido 50 delas. Aqui você vai ler o pior de mim, as minhas piores (ou melhores, depende do ponto de vista) derrotas amorosas. Tudo o que qualquer homem teria vergonha de dizer numa mesa de bar, eu achei engraçado eternizar num livro. Se você é mulher e em algum dia da sua vida você já se relacionou amorosamente comigo, talvez você esteja neste livro. E se você é uma travesti... saiba que eu fiquei uma semana remoendo aquela noite! Sumário 1. O Primeiro Beijo 2. A Perninha Mole 3. Carnaval 4. Pesque e... Bate 5. O Capacete 6. Não sou bom com linguagem dos sinais 7. Que viagem! 8. Um leão sem juba 9. O resgate 10.Formas geométricas do amor 11.O fluxo 12.Aquela Maria... 13.Fá do Clube do Whisky 14. Surpresaaaaa! 15.Milhagem 16.O show de humor que terminou sem graça 17.Caí na Friendzone 18.Desastre aéreo 19.Não era amor, era cilada 20. Rainha da Feira da Uva 21.O corpo fala 22. Afinal, o que quer um comediante? 23. Muitas sinapses para meu cérebro subdesenvolvido 24. As voltas do mundo 25. Pagando, ô, pato! 26. Um jovem e nerd 27. Guru do sexo 28. Tomando banho na balada 29. Divina goiana 30. Que pressão é essa!? 31.O falso vencedor! 32. Poema da derrota 33. Quem sabe? 34. A primeira faz tchan, a segunda... 35. O frango 36. A mendiga da Augusta 37. Autoestima é tudo! 38. Know-how de tocos 39. Pagando o preço da conta 40. A droga do sexo 41. O dia da marmota 42. Romantismo de caminhoneiro 43. Cialis 44. Fui enganado por um megahair 45. O bom Banguela bobo 46. Adorável maldito Tinder 47. O David Luiz 48. O flato 49. Gentileza gera boas más histórias 50. A russa do albergue 1. O Primeiro Beijo Meu primeiro beijo deve ter sido como é o de qualquer um: cheio de expectativas, com alguém que também estava a fim e certamente horrível (o beijo, não a pessoa). Lembro de pensar durante o beijo: “qual é a graça de ficar batendo meus dentes nos dentes da outra pessoa?”. Naquela hora não fazia sentido nenhum alguém gostar de beijar na boca. Porém existe uma relação estranha entre meu primeiro beijo e vários outros que eu dei na vida: uma festa. Acho que pelo fato do meu primeiro emprego ter sido aos 15 anos como iluminador (e depois DJ) em uma casa noturna, meus encontros por muito tempo aconteceram ao som de Vinny, Aqua, Corona, Kelly Key e até Morena Tropicana do Alceu Valença. Ultimamente tem sido mais ao som de Lady Gaga, Strokes e vez ou outra um Los Hermanos, ou seja, não melhorou tanto. Nessa época me lembro de estar com meu amigo Alberto numa festa e uma mulher mais velha ir falar para ele que queria ficar comigo. Achei aquilo interessante, afinal de contas as garotas do meu colégio nunca tinham se interessado por mim e uma mulher com o dobro (ou mais) da minha idade tinha. Isso é excitante e ao mesmo tempo triste. Nos encontramos num canto escuro, trocamos algumas palavras e ela veio me beijar. Como eu não sabia fazer isso, o beijo não tinha pressão, vazava ar, as bocas não criavam aquele vácuo do beijo. Aí vieram os dentes batendo um no outro e eu achando essa coisa de beijo a coisa mais inútil do mundo depois do mamilo masculino (pra quê serve o mamilo masculino além de marcar na roupa em dias frios?). Lembro claramente dela me perguntar: - É a primeira vez que você beija? - Claro que não! - Então você tem problemas. Esse foi o pior beijo que eu já dei na vida! Nem eu, nem ela e nem ninguém poderia prever quantos problemas eu teria em relação a isso dali pra frente! Achoque, no mínimo, uns 50. 2. A Perninha Mole Depois que eu fui promovido a DJ sem precisar passar pelo Big Brother, as coisas começaram a melhorar. Eu beijei vezes suficientes para aprender a dar pressão na boca, saber o que fazer com a língua e deixar os meus dentes minimamente distantes dos delas. Meu primeiro beijo foi horrível, tudo bem, mas minha primeira vez no sexo superou as expectativas. Foi aos 18 anos com uma garota de programa, de graça e bêbado de Natu Nobilis quente num motel em Itaúba, uma cidade com nome de árvore no interior do Mato Grosso. Ser DJ fixo em uma balada tem vantagens e desvantagens. As vantagens são: a bebida de graça e estar exposto para as garotas te notarem. As desvantagem são: os bêbados pedindo músicas e as garotas que querem transar com você mas pra isso precisam esperar até o fim da festa. E essa garota esperou. Se eu não me engano, a minha primeira linguada dentro da orelha foi ela quem me deu - ou a irmã mais nova de um grande amigo da escola - não lembro agora. No fim da balada eu peguei emprestado o carro de um amigo do meu irmão sem que este amigo soubesse e fui levar a garota para um motel. Lá em Sinop (uma cidade no interior do Mato Grosso, onde eu morava) os motéis ficavam na beira da estrada, um pouco longe da cidade e isso significava ter que entrar numa rodovia para poder transar. Como a gente iria demorar um pouco até chegar no motel, a garota propôs uma ideia: um boquete enquanto eu dirigia... numa rodovia federal… de madrugada… com caminhões carregados de madeira e soja ultrapassando o tempo todo. Como a ideia parecia imbecil, topei. Ela começou e eu a segurei pelo cabelo, tentei dar um ritmo. Ultrapassei alguns caminhões, fechei os olhinhos algumas vezes e só quando rampei três quebra- molas percebi que minha perna estava respondendo pouco aos meus comandos de pisar no freio e embreagem. Mais à frente vi um motel e tirei o pé do acelerador. Liguei o pisca e entrei à esquerda, saindo da rodovia e apontando para a entrada do motel. A garota ainda estava ali dando o melhor dela. Conforme o motel se aproximava e a garota continuava, eu tentava pisar fundo na embreagem e frear para entrar no motel, mas... e as perninhas moles? Cadê a força? Não tinha! Bati de frente com o muro do motel forte o bastante pra fazer um buraco nele com o carro. Calma que tem mais! Segundo a primeira Lei de Newton, ‘um corpo em movimento tende a permanecer em movimento’, certo? Assim que eu bati no muro, o meu corpo todo foi em direção ao volante, mas lembre-se: tinha uma garota entre essas duas coisas e comigo na sua boca. - GLARP! Quando meu corpo voltou pra trás, a garota levantou tomando ar e vomitou no painel todo do carro. De espelhinho a espelhinho. Toda a janta e a bebida da balada ali no painel do carro que eu nem deveria ter pego! O gerente do motel saiu e viu um carro atravessado no muro, uma garota vomitando no painel, um adolescente com o pau de fora e cara de desespero. Ele olhou pra mim e compadeceu: ‘Que noite, hein?’. É… que noite! 3. Carnaval O Carnaval é sempre uma ótima época para se pegar mulher, mas isso só acontece porque as mulheres também acham esta uma ótima época para pegar uns caras. Eu estava em um clube em Sinop (MT) curtindo marchinhas de carnaval, fazendo alguns passos do Harmonia do Samba, me embebedando de cerveja quente e foi nesse clima de amor no ar que eu vi esta garota linda de pele clara e olhos azuis. Com esses atributos, claro que vários caras estavam chegando nela e ela dando fora em todos. Ao mesmo tempo que isso dá um mega desânimo de tentar, dá uma pontinha de “se eu tentar e conseguir, eu vou ser o cara mais fodão do lugar!”. Fui conversar com ela e pelo que me lembro foi mais ou menos assim: - Oi. - Oi. - Você tá contando? - O que? - O número de caras que você tá dando fora? - Hahahaha, não. Você tá? - Olha, não peguei do começo da festa mas eu já contei uns cinco. - É, não deve ser muito mais que isso. - Então você tá só aquecendo ainda? Vai ser difícil pra mim! - O papo até agora já tá durando mais que os outros. - Deve ser porque não vim falar que te achei linda, que seus olhos são lindos, que seu sorriso é lindo, que sua sobrancelha é linda, que seu bafo é lindo... - Eu tô com bafo? - De cerveja com chiclete mas eu gosto. - Quê!? - Quer ir lá fora? - Pra que? - Pra gente ficar. - Hahahahaha, acha que é assim? - Sei lá. Você tá dando fora em tantos caras que, ou eu tô gastando o seu tempo ou perdendo o meu. - Hum... boa... - Vamos? - Vai na frente e eu já vou. - Por que? - Porque sim ué. - Tá bom. Fui para o lado de fora onde tinham vários casais se pegando encostados no muro e não demorou muito para começar a chover. Todo mundo saiu correndo pra dentro do clube e eu fiquei lá esperando na chuva. Sabe por que? Porque nos filmes isso SEMPRE funciona. Só por isso. Juro! Fiquei lá ensopado igual uma besta porque nos filmes isso é legal de se fazer. Não demorou muito e ela apareceu na porta com uma amiga, me viu lá todo molhado e me chamou pra dentro. Fui. - Por que você tava na chuva? - Porque a gente combinou lá fora. - Mas por que você ficou lá? - Porque eu não queria perder por NADA a chance de poder ficar com você. A amiga dela riu, ela riu e algumas pessoas em volta começaram a rir. - Mas agora você tá todo molhado. - Pois é. - E... eu não quero me molhar. Desculpa. Ela saiu rindo e eu fiquei ali uns minutos ainda antes de decidir ir pra casa todo molhado. Malditas comédias românticas! 4. Pesque e... Bate Quando eu era DJ acabei tocando também em alguns Carnavais, todo tipo de música. De eletrônica ao sertanejo, passando pelo pagode e até as marchinhas tradicionais. Toquei todos os dias a noite toda. No último dia de Carnaval eu já estava morto de cansado, mas uma garota da minha sala (cuja eu era perdidamente apaixonado) tinha me chamado pra ir na quarta-feira de cinzas pro Pesque e Pague. [PAUSA] Pesque e Pague é um lugar afastado da cidade com vá- rios lagos artificiais cheios de peixes. Você vai lá, pesca e paga o que você pescou (dã!). Além desses lagos com peixes, tem uns sem peixes mas com uns tobogãs e trampolins pra você ir só se divertir sem o compromisso de pescar. [DESPAUSA] Na verdade, ela chamou a sala toda, mas ninguém se manifestou muito, o que me animou. Como eu era contratado do clube que eu tocava como DJ, durante o dia eu fazia outros serviços pra eles e neste dia eu estava fazendo o transporte de gelo e bebidas com a Saveiro do dono da balada. Depois de fazer algumas viagens, fiquei liberado do trabalho... e de carro. Não pensei duas vezes e parti pro Pesque e Pague. Na animação de encontrar com ela, eu voei na estrada para chegar logo. Assim que saí da rodovia e entrei na es- trada de terra que levava ao lugar eu descobri uma coisa maluca quando se dirige caminhonetes (que se ensina na auto escola mas que eu não tinha feito ainda). A traseira da caminhonete é o lugar mais leve do veículo porque a distribuição de lataria não é igual, por isso sempre colocam aquelas câmaras cheias de areia dentro, pra ficar mais pesada e não... rodar. Tchanã! Adivinha o que aconteceu quando eu saí da rodovia e entrei voando numa es- trada de terra? Os troianos ficariam com inveja do tamanho do cavalo de pau que eu dei! Eu rodei tanto que acho que se eu parasse do lado do Yudi ele me daria um Playstation. Rodei, rodei, rodei e invadi uma fazenda arrancando três tocos da cerca, quebrando o para-brisa, furando o radiador, estourando um pneu e destruindo a frente do carro. Abri a porta pra sair do carro e entrou uns 10 kg de terra no meu colo. Uma caminhonete que estava passando me ajudou a sairdali, eu troquei o pneu e fui ao Pesque e Pague, afinal, EU TINHA OBJETIVOS A CUMPRIR! Cheguei lá com o carro saindo mais fumaça que en- saio do Planet Hemp, com a roupa mais suja que a de um mendigo e mais cansado que o cabeleireiro da Vanessa da Mata. Estacionei e fui até os tobogãs. Lá estava ela, linda, de biquíni, dentro do lago, feliz, rindo e se beijando com um outro colega nosso de sala. Fiquei alguns segundos ali olhando a cena. Parecia que o tempo tinha parado mas na minha cabeça passou um flashback muito rápido de tudo o que eu tinha feito naquele dia pra chegar até ali e ver aquilo. Eu imagino que a Vida é uma velhinha irônica, que ri muito de situações como esta. Voltei pro carro e decidi ir pra casa tentar achar uma maneira de arrumar ele antes de avisar meus patrões da merda que eu tinha feito. No meio do caminho o carro morreu sem água no radiador. Fiquei parado na estrada esperando alguém passar pra me ajudar. De longe eu vi meu colega de classe vindo de moto com ela na garupa. Eu podia pedir uma ajuda pra eles mas sabe o que eu fiz? Disfarcei pra que eles não vissem que era eu ali, afinal, eu estava todo sujo e com um carro bati- do. Eu não queria que ELA me visse assim, apesar de tudo o que eu tinha passado até ali. E a Vida não parava de rir do meu lado. 5. O Capacete Um dia a balada que eu trabalhava contratou novas funcionárias e eu me apaixonei por uma delas. Ela era um pouco mais velha que eu, um sorriso grande e lindo, cabelos bem pretos, lisos e longos e um corpo sensual! O pulo do gato é que ela era uma MULHER, não uma garota. As garotas da minha sala eram legais, mas nunca me deram bola. Mentira. Lembro de uma Jaqueline que era a fim de mim no primeiro grau. Nunca mais a vi. Enfim, tive a sorte de ficar com essa minha colega de trabalho algumas vezes e chegamos quase a transar (a menos que você considere punheta, sexo). Ela tinha uma moto pequena, tipo essas de 50 cilindra- das, e um dia chegou a me mostrar um capacete que ela curtia. Ok, anotado na memória! Passaram-se os meses e chegou no mês do aniversário dela. Na época eu só trabalhava como DJ e não ganhava muito dinheiro. Eram R$ 30,00 por noite tocada. Como a balada abria às sextas e sábados, meu saldo semanal era de R$ 60,00 e para comprar um capacete de R$ 350,00 eu tinha que trabalhar seis finais de semanas sem gastar dinheiro. Fiz isso por mais algumas semanas e juntei um pouco mais do que precisava. Fui na loja comprar o capacete e tinha um cara comprando o último! Era o último da cidade! Outro só por encomenda para no mínimo uma semana de espera. O aniversário era NAQUELE dia, tinha que ser AQUELE capacete! Negociei com o cara e acabei pagando suados R$ 450,00. Sim, eu estava apaixonado por causa de umas punhetas (a baixa autoestima é maravilhosa nesses casos!). Naquela noite eu fui até a casa dela entregar o presente. Ela estava sozinha e eu entrei, animado. Entreguei o presente, ela abriu e gostou muito! Nos beijamos e começamos a nos pegar. Um carro parou na frente da casa dela e buzinou, ela foi ver quem era, eu olhei pela cortina e vi que era um dos maiores playboys da cidade. Ela foi lá conversar com ele e eu fiquei na casa, esperando ela voltar. Passou um tempinho, eu olhei pela janela de novo e vi eles se beijando bem. Tipo, BEM! Sentei no sofá e fiquei sem reação olhando pro nada. Eu tinha economizado dois meses total de trabalho por aquele capacete. Levantei, saí da casa dela, passei por eles se beijando, ela me viu, me chamou, eu ignorei e fui embora a pé pra casa. Nunca mais ficamos ou falamos sobre isso. Simplesmente continuamos a trabalhar no mesmo lugar sem nos falarmos mais. Eu só me arrependo de uma coisa nessa história toda. De não ter voltado aquela noite pra buscar o capacete de volta. 6. Não sou bom com linguagem dos sinais Em 2003 eu me mudei de Sinop, no interior, para Cuiabá, a capital do Mato Grosso, para estudar publicidade e propaganda na UNIC – Universidade de Cuiabá. Uma maneira de conseguir desconto na mensalidade era trabalhando no curso. Como eu tinha conhecimento de edição de áudio por ter trabalhado muito tempo como DJ, fui para a rádio do curso de Jornalismo atendendo os alunos e professores pela manhã, o que não atrapalhava em nada meu curso à noite. Era o primeiro ano do curso de Jornalismo na UNIC e tinham várias alunas muito legais e bonitas nele. Como eu tinha coração fraco, me apaixonei logo por várias, mas eu já estava esperto o suficiente para, pelo menos, não sair avisando elas disso. Fiquei na minha. Todo dia tinha uma aluna de Jornalismo na rádio, seja para fazer algum trabalho ou para matar aula. Os caras também eram gente boa. Todos passavam por ali no horário das aulas da manhã ou, se tempo livre, à tarde. Uma dessas alunas ia com mais frequência à tarde e eu era a fim dela, mas ela era BEM patricinha. Gente boníssima e riquíssima. Ela tinha carrão, roupas caras, ficava com os playboys e frequentava os camarotes das baladas. Eu dirigia uma Variant 1972 emprestada do meu avô, usava camisetas que eu tinha mandado fazer em uma dessas gráficas que fazem camisetas, calça cargo cáqui, era tímido e ficava na pista da balada porque não tinha tantos amigos assim pra rachar um camarote. Um dia ela me chamou pra ir numa balada cara e eu fui. Chegando lá a vi no camarote com um cara bonito, bem vestido, malhado e que bebia whisky. Eu fiquei na minha, na pista, com minha cara de trouxa, minha roupa boa da Riachuelo, meu corpo de publicitário e meu copo com Coca-Cola e gelo. Ela passava por mim, falava alguma coisa, ríamos e ela seguia. Foi assim a noite toda enquanto ela foi bebendo mais, se soltando mais, rindo mais e apesar de eu gostar de como as coisas estavam indo, eu percebi que não rolaria nada entre a gente, afinal ela estava acompanhada de um cara lindíssimo (porra, o cara era bonito mesmo!) e era muita areia pro meu caminhãozinho (ela, não o cara). Fui embora sem avisar e mandei uma mensagem agradecendo o convite. Ela respondeu: - Trouxa! - Quê? - Você é trouxa! Eu não acredito que você foi embora! Por que você não falou comigo antes de ir? - Porque você tava no camarote com a sua turma lá. - Era só me chamar! Você é muito trouxa! Você nunca reparou que eu sou a fim de você não? - O QUÊ!? - Todo dia eu vou à tarde na rádio falar com você e você nunca faz nada. Te chamei pra balada achando que você faria alguma coisa e você não fez nada! - Mas você tá acompanhada aí! - Do meu irmão! - Como eu ia saber? Você não me falou! - Você não perguntou! - Vamos nos ver amanhã então? Topa ir no cinema? - Viu como você é trouxa! Era pra você voltar aqui agora! - Tá bom, vou voltar. - Agora não quero mais. Você vai voltar porque eu falei e não porque você queria. - Mas eu quero. - Não, você quer encontrar amanhã. Amanhã eu não quero mais! - Então eu vou agora. - Agora eu não quero mais também. Eu não voltei. E sabe o pior? Todas as outras vezes que nos vimos pessoalmente eu nunca soube como tocar no assunto. Ps.: Leia o livro “O Corpo Fala - Pierre Weil”. Me ajudou muito com situações assim anos depois. 7. Que viagem! Só durante a faculdade eu percebi algo que me seguiu pela vida. Eu não sou bom em me relacionar amorosa- mente com as garotas à minha volta. Isso porque em algum momento me disseram: “Cara, tá a fim da mulher, chega com o pé na porta!”, e como eu não sou bom de mira, sempre acerto na porra do batente e viro amigo. Por isso eu comecei a tentar as amigas dos meus amigos. Uma delas era amiga da namorada do meu amigo, estava bem longe de mim, podia rolar! A gente morava em Cuiabá (MT) e os nossos chapase camaradas da Cia De Comédia Os Melhores do Mundo iam fazer peça em Campo Grande (MS). As passagens estavam baratas e meu amigo queria levar a namorada dele para ver. Gostei da ideia e armei um esquema: comprei um par de passagens também e falei pra essa amiga dos meus amigos que minha companhia furou comigo e que eu estava com uma passagem sobrando. Ela quis comprar e eu disse que não precisava, eu já tinha pago, só não queria ir sozinho ou de vela. Ela topou. Na minha cabeça subdesenvolvida tudo já estava subentendido. Algo como “então... eles são um casal... nós estamos indo juntos... bem...”, mas eu esqueci de uma coisinha: eu não FALEI isso para ela. Chegamos em Campo Grande, fomos para o hotel e ficamos eu e meu amigo num quarto, a namorada dele e a amiga dela em outro, na frente. À noite fomos para a peça, rimos, curtimos e seguimos para uma balada. Dançamos, bebemos e meu amigo voltou para o hotel com a namorada. Eu fiquei na balada com a garota. Conversamos um pouco mais, bebemos um pouco mais, eu fui ficar com ela e ela me deu um fora. Claro! Disse que eu estava confundindo as coisas e que ela só viajou pela curtição da viagem. Tudo bem, lance legal, o juiz não apitou, segue o jogo. Passamos mais um tempo na balada, voltamos para o hotel, dormimos no mesmo quarto, em camas separadas, num silêncio constrangedor e assim fomos até chegarmos em Cuiabá, quando nunca mais nos encontramos de novo. Que viagem! 8. Um leão sem juba Durante a faculdade de Comunicação Social eu deixei o cabelo crescer, experimentei maconha e descobri Legião Urbana, ou seja, tudo normal. Em 2006, filmando Futebol Americano em Cuiabá (MT). Os semestres passaram e novas alunas chegaram no curso de Jornalismo. Uma delas era uma gracinha! Baixinha, pele branca, olhos azuis, sorriso lindo e gargalhada divertida. Apaixonei! Chamei ela para o cinema e ela topou. Fomos ver um filme e o único que estava para começar era Hannibal – O Início. Assistimos e nem preciso dizer que não rolou muito clima para uns beijos. Nos dias seguintes eu comecei a buscar ela no trabalho e deixar em casa. Conversávamos sobre tudo e isso me animava muito. Um dia ela disse que gostaria de me ver de cabelo curto, que achava que eu ficaria mais bonito. Bem, quem tem cabelo comprido sabe como é DIFÍCIL manter ele bom, mas eu estava disposto a tudo pela garota. No dia seguinte, antes de ir buscá-la no trabalho, passei no cabeleireiro e tosei a juba. Foi-se a cabeleira que eu adorava ter, mas tudo bem, cheguei no trabalho dela, ela me viu por fora do carro, fez uma cara de surpresa, entrou no carro e eu: - Gostou? Cortei. - Ficou estranho. - ... oi? - Não sei, ficou estranho. - Mas você não queria me ver de cabelo curto? - Queria, mas acho que de cabelo comprido você fica melhor. Assim ficou estranho. Cara! Que ódio! MAS QUE ÓDIO QUE EU FIQUEI! Eu tinha demorado meses pra deixar o cabelo grande! Fiquei tão puto que desde então eu passei a só usar “cabelo estranho” na minha vida. Nunca mais fui buscar ela no trabalho e também nem avisei que não ia. Foda-se! Eu gostava daquele cabelo. 9. O resgate Sempre gostei de comédias românticas e suas incríveis histórias fantasiosas de amor e humor. Todas as voltas que a vida dá e as decisões desastrosas que fazem aquela confusão ingênua acabar em uma bonita cena de beijo entre o trouxa e a gatinha. Eu, na minha posição super clara de trouxa que sou, sempre tentei fazer coisas legais para chegar ao final do filme com o beijo da gatinha. Demorei um tempo pra descobrir que só eu vivia um filme, as outras pessoas estavam vivendo o mundo real. Certa vez fiquei com uma garota numa viagem de final de semana com meu primo e umas amigas dele. A garota era bem inteligente, muito divertida e interessantíssima! Lembro que ela me ensinou a dançar forró, olha que interessante! Ficamos o final de semana todo e assim que voltamos para Cuiabá eu quis sair com ela, e é aí que começa a história que só eu fazia parte. Peguei, com o meu primo, o endereço do trabalho dela e o setor que ela trabalhava. Fui no shopping, comprei uma caixa de Ferrero Rocher, tirei um, coloquei num envelope e deixei na recepção do trabalho dela com um bilhetinho: “Sequestrei toda a família deste Ferrero Rocher, se quiser rever os outros me encontre hoje às 21h em frente a bilheteria do cinema do Shopping Pantanal. Não avise a polícia. Venha sozinha. Um Beijo. Rodrigo (o primo do André).” Ahhhh, isso foi fofo, vai!? Poxa, fiz uma piadinha, fui gentil, levei presentinho, convidei ela para sair de uma forma super descontraída. Claro que ia dar certo. Nos filmes com certeza daria! Lá pelas 20h mais ou menos eu me arrumei e fui pro shopping esperar ela. Resumindo. Às 23h o shopping fechou e ninguém apareceu. Ou eu fui precipitado ou essas coisas só funcionam mesmo nos filmes. Ps.: Joguei a caixa de chocolates no lixo. 10. Formas geométricas do amor Nem tudo é desastre na minha vida amorosa. Desta vez, por exemplo, eu estava saindo várias vezes com uma garota e tudo corria bem. A gente ia junto nas micaretas, nas festas rave, nos falávamos quase todos os dias pelo celular e conversávamos muito sobre tudo. Porém (e sempre haverá um porém), se tivesse dado tudo certo ela não estaria neste livro, né? No final do meu curso de Publicidade e Propaganda em Cuiabá eu consegui um estágio de três meses na Globo no Rio de Janeiro, dentro do Projac, com edição de programas de humor, vinhetas, novelas e cheguei até a acompanhar a gravação de alguns capítulos das novelas 7 Pecados e Paraíso Tropical. Foi uma experiência sensacional! Tanto que assim que eu ter- minei a faculdade, tudo o que eu queria era me mudar de vez para o Rio de Janeiro e trabalhar com entretenimento. Porém, finalmente eu estava conseguindo entrar em um relacionamento depois de várias tentativas frustradas. Será que o Projac podia esperar um pouco mais? Será que minha vontade de querer ser grande no Rio de Janeiro era só mais um desejo que todo mundo tem e passa? Eu acreditei que sim e resolvi ficar em Cuiabá, pela garota. Um dia, sem avisar, eu fui até a casa dela pra gente se ver. Cheguei, entrei e ela estava conversando com um cara no sofá. Até aí, tudo bem, pessoas conversam, normal. Mas existe uma distância mínima que as bocas precisam estar afastadas para que possam se produzir consoantes. No caso deles a distância era igual a zero. Fiquei ali na porta parado, olhando e esperando eles terminarem esse papo. Terminaram, ela me viu e se assustou. Eu fiquei sem reação. Ela pulou do sofá e veio falar comigo. Me puxou pelo braço e me levou pra cozinha. - Eu explico! - ... - Ele é um cara que eu fico já tem um tempo. - ! - Antes mesmo de começar a ficar com você. - !! - Tanto que ele sabia de você e tudo bem pra ele. - !? - Eu gosto muito de você! Mesmo! Você é uma ótima companhia. Eu me divirto muito com você, acho você inteligente, um papo super legal... mas eu gosto dele também! - Tá, entendi... mas eu não sei se quero fazer parte disso. - Eu quero estar mais com você, mas eu gosto dele também. Você entende? - Olha, eu meio que deixei de me mudar pro RJ por sua causa e você não me falou nada disso. Eu não quero fazer parte desse triângulo amoroso. Acho que você tem que escolher, ou eu ou ele. - … é ele. O Rio de Janeiro é mesmo um lugar lindo, não é? Morei um ano lá! 11. O fluxo Quando me mudei pro Rio de Janeiro eu tinha certeza que minha vida sexual seria uma merda. Se já era ruim na cidade onde eu nasci, imagina numa cidade onde eu nem tinha sido convidado pra estar! Eu cheguei tão despreparado no Rio de Janeiro que consegui alugar um apartamento numa sexta-feira à tarde, mas só fui teronde dormir na segunda. Não tinha nada no apartamento! Dor- mi a sexta, o sábado e o domingo no chão usando minha mochila como travesseiro e minhas roupas como colchão e lençol. Anos depois, quando contei sobre isso para o meu pai, falando como a minha chegada no Rio foi sofrida, meu pai perguntou: “Mas por que você não comprou um colchão inflável e um lençol? Depois era só dobrar e guardar”. Me senti um imbecil e percebi que minha chegada no RJ só foi sofrida por pura burrice minha mesmo. No final de semana seguinte eu encontrei uma garota de Cuiabá em uma balada ali pelo bairro de Botafogo e pra minha maior sorte ela conhecia o meu blog, o Jacaré Banguela. Bingo! Fomos para o meu apartamento, tirei a roupa dela, joguei na cama (ela, não a roupa) e transamos por horas! Tá, minutos. MAS FORAM ÓTIMOS MINU- TOS! Assim que terminamos ela disse que não estava se sentindo muito bem e que precisava ir ao banheiro. Fiquei meio apreensivo, mas não me preocupei muito. Ela estava no banheiro e eu fui ligar a luz pra achar a minha cueca. Quando olhei pra minha cama TINHA SANGUE EM TUDO! Eu, que até então não tinha a menor intimidade com o assunto menstruação, comecei a falar comigo mesmo em pensamento: ‘Caralho! Eu cortei a garota com o meu pau!? Puta que me pariu! Ela tá com hemorragia interna! Essa filha da puta vai morrer no meu banheiro! Como que eu vou explicar isso pra polícia! Como eu vou explicar isso pra minha família!? Eu tô fudido! Acabou minha carreira! Eu matei uma mulher! Puta que pariu! Eu matei uma mul…’ Eis que ela sai do banheiro e me vê ali desesperado olhando pra cama. - Ai, desculpa! - O QUÊ!? - Eu sabia que estava menstruando mas não achei que fosse descer hoje. - Descer o que? - Minha menstruação. - Menstruação? - É. Desculpa. Eu posso mandar lavar pra você. - Puta que me pariu... a f f ... caraaaaaaaaaalho... puta merda... graças a Deus! - Desculpa. - Relaxa – eu disse, sentando na beirada da cama e colocando a mão na cabeça, aliviado. - Tá tranquilo, eu mando lavar amanhã. - Mesmo? - Mesmo. Eu me vesti, ela se vestiu e foi embora. Enrolei todo o lençol, coloquei numa sacola grande e limpei a cena do crime. No dia seguinte eu ia viajar cedo para outra cidade e levei o lençol até a lavanderia do lado do meu prédio. Eu já estava sem graça por ter que levar aquilo tudo cagado de sangue pra alguém lavar. Eu sei que eu seria julgado, mas eu não tinha opção (até porque era meu único lençol!). Cheguei na lavanderia e dei de cara com a porta. Era sábado de manhã, umas 9h mais ou menos, eu tinha que ir pro aeroporto e não tive outra opção: joguei o lençol no lixo. Apesar do susto, chamei a garota pra sair mais algumas vezes, mas ela sempre tinha algum outro compromisso. Aposto que era menstruar na cama de alguém! Sorte a minha. 12. Aquela Maria... No Rio de Janeiro as minhas aventuras ou desventuras amorosas só aumentavam. Talvez pelo fato de eu ter começado a ler Nelson Rodrigues e Sérgio Porto, nessa época, tenha me ajudado a QUERER viver umas coisas mais malucas como as que eles escreveram (sem os suicídios e os assassinatos, claro). Um dia um amigo me chamou para ir no apartamento de uma garota, que tinha a fama de já ter transado com vá- rios comediantes amigos nossos do Brasil todo. Problema nenhum! Pelo contrário, só vimos vantagem nisso. Assim como existem as Marias-Chuteira, existem também as Marias-Comédia, afinal, as Marias fazem o que quiserem. Naquela época, como além de blogueiro eu estava começando no stand-up, me animei em ter alguma coisa em comum com os grandes comediantes que eu era fã, nem que fosse aquela Maria. Chegamos no apartamento dela e assim como combinado, ela estava com uma amiga lá. Conversamos um pouco, bebemos um pouco e meu amigo não ficou a fim de nenhuma das duas, disse que queria ir embora e a Maria anfitriã (a Comédia) pediu para ficarmos. Ele insistiu em ir, mas disse para eu ficar, que eu iria me divertir. Fiquei. Assim que meu amigo foi embora e a amiga da Maria também, fiquei ali com ela todo animado. Ela perguntou se eu queria dormir lá e eu disse que sim. Ela sorriu, me levou até um quarto e disse: - Fica nesse aqui, o cara que dorme aí é um gringo mas ele tá viajando. Tem cobertor ali no armário. - E você? - Eu vou dormir aqui no meu, tô com sono, tenho que acordar amanhã cedo pra ir trabalhar. Quando sair só encosta a porta que é seguro aqui. Boa noite. Entrei no quarto, deitei, fiquei uma meia hora olhando para o teto, levantei, fui até o quarto da Maria e ela tava lá roncando de boca aberta. Fui embora. Liguei para o meu amigo ir me buscar e ele não podia pois estava ocupado transando com a amiga da Maria. Peguei um táxi e fui pra casa. Puto! Nessas horas eu até entendo os desfechos do Nelson Rodrigues e do Sérgio Porto. 13. Fá do Clube do Whisky Eu não lembro exatamente quando foi que eu comecei a querer ser um cara mais conhecido. Talvez quando eu vi- rei DJ em Sinop (MT) e as pessoas começaram a elogiar o meu trabalho eu tenha sentido vontade de trabalhar mais para ser mais elogiado. Talvez. O meu blog, o Jacaré Banguela, é um ótimo termômetro pra isso. Muita gente conhece e muita gente não, e é por isso que eu não uso ele como meu sobrenome na hora de me apresentar pra alguém, porque quando a pessoa não conhece, é só meio vergonhoso eu afirmar que ele é muito conhecido quando a outra pessoa nunca nem ouviu falar. Lembro que estava com um amigo num puteiro no Rio de Janeiro (aliás, só lá que eu entendi porque o Rio de Janeiro é a Cidade Maravilhosa) e uma das garotas de programa veio falar comigo. - Oi, desculpa perguntar, mas... você é o cara do Jacaré Banguela? Pô, inflei igual um pavão na hora! Pensei comigo: “já que ela é fã, talvez nem cobre pelo programa de hoje!”. Dei um sorrisinho de canto de boca, olhei para o meu amigo, fiz cara de “Tá vendo? Fama!” e respondi: - Sou sim. - Sério mesmo? - Sé.rí.ssi.mo! - É ele mesmo, o cara do Jacaré Banguela! – disse a garota se virando pra trás enquanto dava este recado para um outro cliente que abriu um sorrisão e veio falar comigo. - Pôôôôôô! Eu sou muito seu fã, cara! Mas como eu não sabia se era você mesmo, pedi pra ela vir perguntar. Que que ce tá fazendo aqui? Que pergunta foi essa!? O que eu estaria fazendo dentro de um puteiro? Ah, já sei! Virando piada para o meu ami- go que espalhou a história para todo mundo que a gente conhece, era isso que eu estava fazendo lá! Só de raiva, eu me lembro que peguei a garota que estava com o fã, levei ela pro quarto e transamos. Mas tive que pagar. Afinal o fã era o cara, não ela. 14. Surpresaaaaa! Esta fase de puteiro foi curta e intensa mas renderam três histórias boas para este livro. Esta aqui é a do meio e é um pouco bosta. Mesmo! Nesta época de puteiro eu meio que queria entender mais como era fazer sexo, eu tinha feito pouco até então e neste meu período no Rio de Janeiro o meu blog, o Jacaré Banguela, lucrava muito. Deixei muito dinheiro no mesmo puteiro. Eu era um cliente fiel àquelas meninas, ia sempre no mesmo puteiro. A cada ida eu tentava uma posição nova com aquelas mulheres mega experientes além do papai e mamãe que... porra... essa é meio que automática. Fui fazendo todas que eu tinha curiosidade como Coqueirinho, De Ladinho, Frango Assado, De Pé, Balanço Sensual, Montaria Invertida, Carrinho De Mão, menos o 69 porque... né… um dia eu tive curiosidade pelo cu. Não o meu, claro, mas o delas. Como deve ser fazer sexo por lá? Será que mulher gosta (olha que ingênuo que eu era!)? Será que era só pedir que todas fariam? Bem, só tinha um jeito de descobrir. Fui à casa das “mulheres de vida fácil” (quem criou essa expressão com certeza foi uma esposatraída, porque pensa aí em transar com uns cinco desconhecidos por dia, por obrigação e por dinheiro. É fácil? Se você achou, talvez você seja uma boa puta em potencial e só tá perdendo dinheiro não fazendo isso ainda) e escolhi uma das garotas para o que eu queria. Perguntei se ela fazia de tudo e ela disse que sim. Ótimo! Fomos para o quarto e começamos a brincadeira. Pedi para ela o cu. Assim, direto e decidido. Eis que ouço: - Claro, seu pau é ótimo pra comer cu! E isso é um elogio difícil de aceitar. Porque ao mesmo tempo que aparentemente é legal ter um pau “ótimo para comer cu”, eu não sei o que isso realmente significa. É fino? É pequeno? Não machuca? Eu não sei! Voltemos ao cu. Confesso que gostei da sensação, me pareceu bem interessante mesmo, fiquei ali repetindo os movimentos e curtindo o passeio. Porém (olha ele aqui de novo! Sempre haverá um porém!), eu caí numa cilada para qual eu não tinha treinamento para escapar. No linguajar gay eles têm uma frase que é “fazer a chuca para não passar cheque”, que é uma maneira mais refina- da de falar “lavar o cu por dentro para não cagar no pau alheio”. Bem, digamos que eu... ganhei... um... “cheque”. Fiquei decepcionado com a falta de profissionalismo da moça. Sabe quando você vai na lanchonete, pede um copo de açaí e vem escorrendo açaí pelo copo? É desse tipo de falta de profissionalismo que eu tô falando. Não pode deixar o açaí escorrer do copo! Nunca mais fiz anal com uma garota de programa. Hoje faço só com moças belas, recatadas e do lar. 15. Milhagem Eu comentei que ia muito neste puteiro do Rio de Janeiro, né? Pois é. Ia mesmo. Não vou falar o nome dele aqui porque vai que na nota fiscal vem como “restaurante” ou “comércio de bebidas?” Aí a namorada de alguém lê este livro e liga os pontos sobre onde o cara sempre tem uns “almoços de reunião com o pessoal do escritório” e eu viro estopim de uma DR desnecessária. Deus me livre! Mas o puteiro fica perto da lagoa Rodrigo de Freitas, naquele córrego que tem ali, sabe? Quase em frente ao Pão de Açúcar do lado do Jardim Botânico como quem vai para o Humaitá. Enfim. Talvez por uma carência afetiva das várias mulheres de quem eu vinha levando fora (por minha culpa, confesso), o puteiro passou a ser o meu divã por um tempo. Um longo tempo. Sabe aquelas histórias que a gente ouve dos caras que vão no puteiro para conversar com a puta? Então, eu já fui esse tipo de cara. Já quis tirar umas garotas dessa vida como se eu fosse a Mulher-Maravilha livrando essas escravas da opressão machista que as tratam como simples objeto de prazer. Mas eis um ponto. A garota de programa está acima de qualquer ismo desses porque um lado vê essa mulher como um simples objeto de prazer, o outro vê como o símbolo do empoderamento da mulher sobre o fato dela fazer o que quiser com o próprio corpo, inclusive lucrar. E elas estão cagando muito para qualquer conceito sobre o que elas fazem ou deixam de fazer. Elas são demais! Amo putas! Eu ia tanto neste puteiro, mas TANTO, que um dia eu cheguei, falei meu nome fantasia (“Fernando Rodrigues”, que tal?), coloquei minha digital no aparelhinho e a atendente abriu um sorrisão pra mim: - Ih, olha que beleza senhor Fernando! Parabéns! - Eita! Pelo quê? - O senhor tem vindo muito aqui, não é? - É, acho que tenho. - Então, a casa quer te parabenizar por isso. - Hum, obrigado. Valeu casa! Uhul! - Hahahaha... é mais do que só parabenizar! Vamos te dar um bônus hoje. - De que? - Hoje o senhor não paga nada. - Como assim? - Nada. O senhor vai se divertir hoje por conta da nossa casa. - Nem bebida? - O senhor tem direito a dois drinks e uma garota por conta da casa. Só hoje. - Uau! Valeu! Sensacional! Obrigado casa! - A casa é que agradece! Usufruí de todos os benefícios deste dia com muito apreço pela gentileza. Mas quando estava voltando para casa eu pensei que talvez fosse a hora de eu parar com isso. Se eu estava ganhando milhas, é porque o meu avião estava voando demais e para destinos errados. Nunca mais voltei lá e nunca mais me relacionei com uma garota de programa. Pelo menos não uma assumida. Foi bom enquanto durou. Muito bom! 16. O show de humor que terminou sem graça Depois de desistir dos puteiros no Rio de Janeiro eu voltei a tentar ficar com as mulheres sem que eu precisas- se pagar e isso é muito difícil, afinal, para que as mulheres se interessassem por mim eu teria que ser... interessante. Me dediquei mais ao Jacaré Banguela, no nível dos textos, às pesquisas para não escrever (muita) merda, ao sarcasmo e ironia que eu sempre odiei (!) e depois de um tempo algumas garotas começaram a se manifestar. Com uma delas eu comecei a sair bastante. Fui numa festa em um píer em Botafogo, em um outro dia fomos num barzinho no Flamengo e na terceira vez que saímos eu levei ela para assistir um show de stand-up de uns amigos (show de stand-up é ótimo para pegar a pessoa que você quer. Fica a dica. Mas cuidado!). Ela adorou o show, riu muito, gostou do passeio e na saída sugeri para ela de irmos jantar com os comediantes, afinal, eu era amigo das estrelas e queria me mostrar um cara influente. Ela aceitou. Chegamos no restaurante. Eu, ela, um dos comediantes e um outro amigo nosso. Ficamos conversando, rindo, bebendo, comendo e eu percebi uma coisa estranha, mas fiquei na minha. Assim que ela saiu para ir ao banheiro o comediante disse: - Banguela, tá rolando uma parada estranha aqui. - Eu tô vendo. - Ela tá pas... - Passando o pé na sua perna. Eu tô vendo. - Cara! Eu não fiz nada, eu juro. Eu tô de boa aqui. Quer trocar de lugar comigo? - Não, relaxa. Se ela quer te dar, come ela. - Mas você que chamou ela pra sair. - Azar o meu. - Não, cara! Come ela! - Ela não quer dar pra mim, quer dar pra você. Come ela você. - Porra! Ela voltou e seguimos outro papo, claro. Conversamos mais um pouco, pedimos a conta, pagamos e fomos embora. Como eu era o único de carro, fiquei na função de deixar a turma em casa. Deixei o amigo primeiro e fui deixar o comediante para depois ir deixar a garota e surpreender ela com um “Quer que eu suba?” ou “Quer ir lá pra casa e depois eu te deixo na sua?”, afinal, só os homens da mesa sabiam que todos ali sabiam o que estava acontecendo, para ela ninguém sabia de nada. Assim que eu parei na frente do prédio do comediante ele desceu... e ela também. Eu e o comediante nos olhamos e ficamos sem reação. Isso sim foi surpreendente! Ela disse que pegaria um táxi pra casa depois, mas que tinha adorado a noite. Bateu a porta do carro e eu e o comediante ainda ficamos uns 5 segundos parados sem reação antes de eu acelerar e ir embora. Tudo bem. No dia seguinte o comediante disse que ela transava mal pra caramba! Acho que ele mentiu pra mim só para eu não me sentir tão mal pela noite passada. Valeu cara! 17. Caí na Friendzone Todo ano em Curitiba tem o Festival de Curitiba e dentro dele o Risorama, um festival de comédia organizando pelo Diogo Portugal. Há vários anos que eu tenho o prazer de ser convidado pra ir e sempre gosto muito de estar em Curitiba. Adoro a cidade, o clima e... é claro, as mulheres absurdamente lindas que moram lá. Numa dessas vezes que eu fui, me encontrei com uma garota que era fã do Jacaré Banguela há alguns anos e queria me encontrar no hotel. Dei uma olhada nas fotos dela no Facebook e a garota era simplesmente uma das mais lindas que eu já vi na vida. Sério! Posso garantir isso pois estou escrevendo este livro anos depois de tê-la conhecido. Pirei com ela mas não demonstrei, claro! Ela disse que não conseguiria ir no hotel mas queria se encontrar comigo. Chamei pro Risadaria e ela foi. Se divertiu vendo osshows, conversamos e os comediantes combinaram de ir numa festa sertaneja depois das apresentações. Convidei ela para ir conosco e ela topou. Na festa, tocando aquele sertanejão da portêra véia, eu que não sou bobo nem nada chamei ela pra dançar. Eu danço médio, já tinha aprendido há uns anos em Cuiabá (lembra?), mas quando tô com a confiança alta, parece até que danço bem. Corpo colado, roçando barba no pescoço, ela rindo, nos olhamos de pertinho, fui beijar e... - Não! - Que? - Não, por favor não! E quando tem um “por favor” antes de um “não” a coisa fica séria. Travei. - O que foi? - Ah, cara... sério... putz... é uma merda isso! – disse ela choramingando. - Tá tudo bem? – fiquei preocupado. - Ah... é foda isso viu! - O que foi? Fala pra mim. Saímos da pista e fomos pra um canto. - Tá tudo bem? Eu fiz alguma coisa que você não curtiu? Desculpa. - Não, não fez... sei lá... é foda. - Me fala o que foi. - Ah... pô... todo cara que eu conheço quer me pegar. Sempre! Toda vez. - Bem, você é bonita e muito divertida. Natural que os caras se interessem. - Tá, eu sei, mas é que eu quero um amigo também! - E você não tem amigos aqui em Curitiba? – já tentando tirar o meu da reta. - Não, só umas meninas que eu saio de vez em quando, mas eu queria um homem. - Bom, dá pra gente ficar e eu ser amigo, não? - não? - Ah, sei lá, eu prefiro não. - Não ser minha amiga? Tudo bem, a gente fica então. - Hahahaha... não, prefiro não ficar com você e ter você como amigo. - Mas bem na minha vez? - Desculpa, mas eu quero só ser sua amiga. - Bom, tá bom, então eu vou ali tentar pegar umas garotas e depois a gente conversa sobre elas, tá bom? – fui escroto? Fui, mas calma... - Tá. Voltei pra pista e ela veio atrás. - Peraí! - O quê? - Eu não quero que você fique com outra garota. - Ué. Não posso ficar com você e não posso ficar com outra garota também? - Não, hoje não. Eu vim com você e quero ficar conversando com você. Mulheres, me desculpa, mas esse tipo de pedido não faz o MENOR sentido. Ainda mais vindo de alguém que eu tinha conhecido NAQUELE dia. Segui. - … eu vou embora. - Por quê? - Já tô puto. - Comigo? Fui em direção a saída, paguei meu cartão e chamei um táxi. Ela veio atrás. - Peraí, eu vou com você. Entramos no táxi e eu dei o endereço do meu hotel. Ela disse que não queria ir pra lá. Eu disse que íamos pro meu hotel e que de lá ela podia ir pra casa dela no mesmo táxi. Ok. No meio do caminho ela disse que tava com fome. POOOOOOORRAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!! – pensei. Desviamos para um McDonald’s. Descemos, comemos, conversamos e eu não toquei no assunto, pagamos, chamei outro táxi. Ela veio e me abraçou. Ficamos abraçadinhos. Chegou o táxi. Dei o endereço do hotel, ela não falou nada. Chegando perto do hotel ela disse: - Vou pra minha casa. - Tudo bem, estamos chegando no hotel. Eu fico lá e você vai pra sua casa depois. - Mas eu tô sem dinheiro pra pagar o táxi. Lembra que eu disse que pra mim a Vida é uma velhinha sacana? Pois é, ela era a motorista do táxi e ria como ninguém! - Deixa eu ficar em casa antes? - Não quer ir pro hotel? - Não, quero ir pra casa. Ela deu o endereço, demos uma volta imensa e fomos pra casa dela. Assim que chegamos: - Então tchau. – eu disse. - Assim? - Assim como? - Você tá bravo comigo? CARAAAAAAAAAALHOOOOOOOOOOO!!!!! - pensei enquanto respirava fundo. - Não. - Mas você tá seco. - São quase 7h da manhã, eu só tô com sono. - Tá bom. A gente se vê amanhã? CLARO QUE NÃO, Ô CARALHO!!! - Pode ser. - Você me liga? - Ligo. - Mesmo? MEU OVOOOOOOOOOOOO!!!! - Ligo. - Vou esperar, hein? - Tá bom. - Você nem vai ligar, já tô vendo! ALGUÉM TEM UMA ARMA PRA EU DAR UM TIRO NESSA FILHA DA PUTA!? - Vou sim. Agora deixa eu ir que eu tô com bastante sono mesmo. - Tá. Ela me deu um abraço, um beijo no rosto e desceu do táxi. Partimos. - Cara, eu não teria essa sua paciência não! – disse o taxista. - Foi difícil. Excluí ela de todas as minhas redes sociais, apaguei o telefone e poderia até dizer que não lembro mais o nome dela (porque não lembrava mesmo), mas enquanto escrevia este texto eu lembrei, procurei no Facebook e ela está casada. Azar do cara. 18. Desastre aéreo O Rio de Janeiro infelizmente não foi exatamente bom para mim profissionalmente. Não que tenha sido ruim, mas as coisas não estavam acontecendo como eu queria. Certa vez, conversando com o chapa, camarada e come- diante Fábio Porchat sobre isso ele me perguntou: “mas você era bom? Porque se você não era bom, a culpa não era da cidade”. E eu repensei toda a minha teoria de que “O” Rio de Janeiro não foi bom pra mim. Acho que eu é que não estava pronto para o Rio de Janeiro. Mas o fato é que eu me mudei pra São Paulo um ano depois e as coisas começaram a dar certo (provavelmente por causa das porradas que eu levei no RJ). Eu estava fazendo Stand-up há algum tempo e notei que em São Paulo tem mais lugares para se apresentar que no Rio de Janeiro, isso me deu um gás para me dedicar mais a essa arte que eu já gostava muito como espectador. Certa vez voltando de avião de algum lugar que eu não lembro qual, fiquei por último pra descer porque eu tinha colocado a minha mala no último bagageiro, mas sentei no meio do avião. Nisso uma das comissárias estava me olhando com certa curiosidade. Ela, linda da cabeça aos pés (era Tam. Se fosse Varig...) com um belo de um sorriso de clareamento a laser. Com certeza era! Todos saíram e eu fui buscar minha mala. Ela chegou perto e perguntou: - Você é o cara do Jacaré Banguela? - Sou sim. - Legal! Eu adoro seu blog. Gosto das coisas que você escreve lá. - Ah, tudo bobagem! - Por isso que é bom. - Você mora aqui em São Paulo? - Moro sim. Você também? - Moro. Depois de amanhã vou fazer um show de stand-up num evento fechado ali no Comedians (bar de comédia). Tá afim de ir? - Ó! Acho que tô sim. Tentei ir lá uma vez mas a fila tava enorme aí eu desisti. - É evento fechado, não vai ter fila. Consigo colocar seu nome lá. Qual seu celular? - Anota meu Face. – TOMA, BOBO! Anotado. Mandei as coordenadas e ela mandou o nome dela e de uma amiga. Isso foi em 2011 e eu realmente não era muito bom no stand-up. Porém como ela aceitou o convite, eu queria ser o melhor comediante da noite. De- corei bem meu texto, escrevi mais algumas coisas e parti pro show. Assim que eu entrei no palco eu a vi na plateia. Fiz sinal pra ela, ela respondeu com um tchauzinho e eu comecei a fazer as piadas. A primeira não funcionou muito bem, a plateia não riu. Disfarcei, segui e a segunda funcionou mais ou menos. Bom! A terceira foi uma meeeeeerda e a partir daí mais nenhuma piada funcionou. Foi um dos piores shows da minha vida! Para você entender qual é a sensação de ser um come- diante com piadas ruins, é mais ou menos como quando você sonha que está nu no meio da rua. Sabe essa sensação de estar em público, em completo desespero e não saber o que fazer quando todo mundo está te olhando? É exatamente assim! No final do show eu a procurei, mas ela já tinha ido embora. Mandei uma mensagem no Facebook pra ela. Nunca mais consegui chamar ela pra sair. Acho que o fato dela ter me bloqueado no Facebook dificulta também. Acho! 19. Não era amor, era cilada Escrevendo este livro eu percebi que a única cidade que eu nunca morei mas tenho boas histórias ruins da minha vida é Curitiba. Imagina se eu morasse! Inspirado por filmes e histórias legais, eu já comentei aqui em outro conto que de vez em quando eu fantasio situações românticas por puro prazer de querer viver uma cena de filme mas sempre erro na hora de definir e avisar o elenco. Geralmente o único que está sabendo que aquilo deveria ser uma cena de filme romântico sou eu. Havia um tempo em que eu e esta garota estávamos nos falando muito pelo WhatsApp. Ela em Curitiba e eu em SãoPaulo. Conversávamos quase todos os dias. Falávamos sobre várias coisas e mandávamos ícones fofos um para o outro o tempo todo. Ficávamos batendo a nossa agenda para vermos quando seria possível nos encontrar, se íamos um para a cidade do outro e todo aquele romance intenso e verdadeiro que só o vazio, a distância e a superficialidade da virtualidade podem sempre nos proporcionar (!) Um dia, num sábado qualquer, eu acordei inspirado por Hollywood e pensei: “vou fazer uma surpresa pra ela!”. Respirei fundo, levantei da cama, tomei um banho, peguei meu carro e fui pra Curitiba. Foda-se! Cinco horas de estrada (que é linda, inclusive!), música alta e um objetivo: almoçar com a garota, passar o dia com ela, um bar ou balada à noite e... quem sabe... bem... você sabe. Cheguei na cidade e mandei uma mensagem para ela dizendo que estava lá e queria almoçar, que foi uma viagem de última hora (eu não queria revelar a surpresa logo) e que eu passaria o final de semana em Curitiba para fazer umas coisas. Ela se animou e foi me encontrar. Ela, assim como boa parte das garotas deste livro, era extremamente linda, inteligente e legal. Almoçamos, conversamos, rimos e durante a sobremesa ela quis saber o que eu estava fazendo em Curitiba, achei que seria uma ótima oportunidade de falar que estava lá por causa dela. Pensei: “é agora que ela se apaixona!”. - Vim te ver. - Que!? – respondeu ela meio séria. - Vim só pra te ver. A gente tava combinando isso faz tempo, então peguei meu carro e vim. - Mas... por quê? – já bem séria. - Ué... porque sim. Precisa de um motivo? - Você veio só pra se encontrar comigo? – meio desconfiada. - É, oras. A gente se fala todo dia e fica combinando de se encontrar. Eu não tinha nada pra fazer em São Paulo neste final de semana e vim te ver. - E por que você não me avisou que viria? - Porque eu queria fazer uma surpresa. Por quê? Fiz alguma coisa errada? Você namora? - Não, não namoro, mas... não acredito que você veio só pra me ver. - Pra te ver, conversar com você, passar o dia com você, sair pra um bar à noite... essas coisas. - É... não sei... – disse ela já dando aquela coçadinha na nuca que significa “puta merda, o que eu faço agora!?”. - Não gostou de eu ter vindo? - Gostei... é que... é estranho você vir do nada “só pra me ver” (sim, ela fez aspas com as mãos). - Putz, foi mal, eu achei que você ia gostar da surpresa. Ela deu uma desculpa de que estava com a tarde toda ocupada e que não daria para me encontrar de novo naquele final de semana INTEIRO. Da minha parte era amor mas pra ela era cilada. 20. Rainha da Feira da Uva Há dois ditados antigos na internet que serviam para desmerecer os blogueiros quando esses começaram a ser reconhecidos como mídia de massa e se tornaram conhecidos, que eram: “ser famoso na internet é como ser rico no Banco Imobiliário” e “ser famoso na internet é como ser Rainha da Feira da Uva, você é muito conhecido, mas para um público muito específico de pessoas!”. Eu já prefiro a piada que eu fazia nos meus primeiros shows de stand-up: “ser uma webcelebridade é como ser o personagem principal de uma novela... da Record, porque você sai na rua e ninguém te reconhece porque nunca te viu na vida!”. Mas nós, webcelebridades (!), sempre tivemos as nossas próprias Feiras da Uva e Bancos Imobiliários que são esses eventos nerds como Campus Party, Comic Con, You Pix, os eventos de Anime e todos esses lugares que costumam reunir muitos jovens com seus hormônios à flor da pele e a ado- ração pelos seus ídolos virtuais. Eu costumava ser um desses ídolos nerd (!) Sério (!!) Mesmo (!!!) Em um desses eventos eu conheci uma garota que eu fiquei bem a fim. Ela era de outra cidade, mas estava em São Paulo porque estava participando de um concurso da Garota Mais Bonita da Internet (ou algo parecido com isso) e assim que eu puxei um papo com ela, ela ficou surpresa em saber que eu a conhecia (lembre-se, eu costumava ser um ídolo nerd!). Começamos a conversar e logo no início ela falou do namorado dela. Eu dei uma travada, mas como ela tinha um papo legal, continuei. Até porque hoje em dia é comum conhecer pessoas com relacionamento aberto, certo? Não por acaso ela começou a falar o quanto o relacionamento dela era uma merda, que não gostava do cara, que ele não dava atenção pra ela, que quase não transavam mais e eu... entendi o código. Fomos para uma festinha particular de um pessoal do evento que estávamos e continuamos conversando. Papo vai, papo vem, ficamos. Fomos embora, cada um para o seu destino e não nos falamos mais naquela noite. No dia seguinte saía o resultado da votação em que ela estava concorrendo. Como eu estava no evento, fui ver qual seria o resultado. Chegando no espaço da votação a vi de mãos dadas com um cara, supus que fosse o tal namorado. Ela me viu e sorriu amarelo, mas quando o namorado dela me viu: - NÃO ACREDITOOO! O JACARÉ BANGUELAAA! CA- RALHOOO!!! VOCÊ É FODAAA!!!!! Eu quis me cagar todo. - Caralho! Eu sou muito seu fã, cara! Você é foda! Puta que pariu! Não acredito que eu tô te vendo aqui na minha frente! Puta merda! Foda! Essa aqui é a minha namorada. - Oi, prazer. - Prazer. - Puta que pariu! Tira uma foto comigo. Eu tô tremendo. Caralho! Eu não acredito! O Jacaré Banguela! Que foda! Eu te acho foda, cara! Amor, tira uma foto aqui, eu tô tremendo demais! Puta que pariu! Que foda! Click! Eu me senti mal, muito mal, mal mesmo. Duas semanas depois eu tava ficando com essa menina de novo. Droga! 21. O corpo fala A maioria das relações amorosas que eu tive até aqui duravam apenas uma noite por vez e eu não tinha a menor vontade de me relacionar por mais tempo que isso. Talvez por insegurança de um relacionamento mais sé- rio, talvez por não gostar tanto das garotas que eu havia conhecido, até então, ou talvez seja o fato que existem 7 bilhões de pessoas na Terra e não faz muito sentido se relacionar com uma só a vida inteira. Talvez. Eu havia ganhado um pacote de viagem para duas pessoas numa promoção. Era uma boa viagem longa, com várias escalas até chegar ao destino final, mas ainda as- sim, boa. Chamei minha mãe e ela não podia, chamei meu irmão e ele não podia, chamei uns amigos e eles não podiam e aí eu resolvi chamar uma garota que eu já tinha ficado algumas vezes. Porém (olha ele aqui de novo!), eu e ela não éramos íntimos de verdade. Tínhamos ficado algumas vezes e só, sem muito papo ou romance. A viagem seria longa, passaríamos uma semana juntos e eu tentei ficar de boa, afinal, era a primeira vez que eu estaria muito tempo e muito junto com uma garota. Veja, na minha primeira oportunidade real de estender uma relação eu já me aprisionei com uma garota por uma se- mana! Risco alto! Chegamos no hotel depois de horas de viagem, escalas, aeroportos, check-in, alfândegas, embarques, desembarques, esperas e principalmente comidinhas lixo de avião e aeroporto. Além de serem uma fortuna, são uma bomba pra qualquer estômago. Eu estava louco de vontade de ir no banheiro, o charuto já estava no beiço e fumegando! Assim que entramos no quarto ela correu para o banheiro e eu fiquei puto! Me controlei pra não cagar. Eu não sabia quanto tempo ela iria demorar e minha barriga fazia sons estranhos. Foi o tempo da garota fechar a porta do banheiro, eu ouvir o barulho da tampa do vaso abrindo e começar uma sinfonia de diarreia que a vida não tinha me preparado para ouvir. Se a comidinha dos aviões fez mal pra mim, pra ela fez MAL PRA CACETE. Eu fiquei parado no centro do quarto, olhando pra porta do banheiro, com a boca meio aberta, abismado, ouvindo o que eu estava ouvindo e segurando na alça de uma mala. Fiquei ali sem reação coexistindo com outro ser humano que estava fazendo a coisa mais natural do planeta e a briga na minha cabeça começou: - Claro que sim,todo mundo faz isso! - Porra, mas eu não queria saber! - Por que não? Super natural. - Porra, mas e agora como eu vou olhar pra cara dela? - Ué, olhando! Você também caga. - Eu sei, mas eu nunca ouvi outra pessoa cagando. - Nunca? - Sei lá, to puxando aqui na memória e não lembro de ninguém. - Relaxa! - Ela podia ter ligado o chuveiro, sei lá. Eu ligaria o chuveiro. - Mas não deu tempo. - Porra, se feder eu vou ficar bem puto! - É possível que feda. - Porra, eu vou ficar bem puto! - Mas cocô fede. Qual o problema de feder? - Cheirar o meu cocô tudo bem, é meu! Eu que fiz! Mas o de outra pessoa não. Ainda mais uma garota. - Ahhhh... qual o problema. - Meu nariz! Porra, agora toda vez que a gente sair pra jantar eu já sei que ela vai cagar aqui. - E você não vai? - Vou, mas eu vou ligar o chuveiro. - E se feder? - Não vai feder. - Não tem como saber. - Peraí! Porra! Que cheiro é esse? - É, que cheiro é esse!? Fedeu. Foi uma semana ótima mas foi uma merda. 22. Afinal, o que quer um comediante? Se nem Freud conseguiu descobrir o que quer uma mulher, imagina eu que sou um trouxa? Certa vez fiz um show num bar em São Paulo com vários comediantes mais novos que eu, tanto na idade quanto em tempo de comédia. No elenco tinha uma garota que estava começando na carreira mas fez boas piadas. Gostei da criatividade dela, de como ela se movimentava no palco, como apresentava as piadas e as saídas que ela encontrou para as piadas que não tinham sido tão boas. No final do show eu fui parabenizá-la e dar uns pitacos em algumas piadas dela (é sempre legal quando os amigos comediantes fazem isso, acabam dando outro ponto de vista no que escrevemos. Comediantes, façam isso sempre!) e ficamos conversando sobre várias outras coisas. Ela me disse que morava longe e que estava tarde, o metrô estava fechado e ela ia achar um jeito de ir para casa ou esperar o metrô abrir. Como o bar em que estávamos era perto da minha casa eu chamei ela para dormir lá. Ela topou. Só lembrando que tínhamos acabado de nos conhecer. Fomos para a minha casa e no caminho ela puxou um papo sobre dois comediantes que ela já tinha ficado. Famosos, amigos meus. Um deles ela tinha até transado já. Eu entendi isso como uma indireta. Podia ser nada, mas começar esse papo DO NADA? Desconfiei positivamente. Chegamos na minha casa e ela falou que estava com sono. Mostrei o meu quarto e falei para ela ficar à vontade. Falei que eu dormiria lá também. Ela disse que tudo bem. Fui na cozinha, tomei uma água, voltei pro quarto e ela já estava deitada. De roupa. - Vai dormir de roupa? - É, tô com frio. - Tem edredom aqui, ó. - Ah, obrigada. - Fica à vontade aí. Comecei a tirar minha roupa e fiquei de cueca. Ela tirou a dela e ficou de calcinha e sutiã. Deitamos um de frente pro outro. Nos encaramos um pouco, rimos e eu fui beijar ela. - Não. - Oi? - Não. Melhor não. - Peraí. O melhor é sim, o bom é ‘calma aí vamos devagar’ e o ruim é que é o ‘Não’. - Hahahaha... tá, é verdade, mas não. - Ué, achei que você tava a fim. - Não, acho que você entendeu errado. Pausa no diálogo. Eu entendi errado? Então atenção que é hora da revisão: 01 - Nos conhecemos naquela noite. 02 - Fomos para a minha casa. 03 - No caminho ela falou DO NADA sobre os outros comediantes que ela já tinha ficado/transado. 04 - Está de calcinha e sutiã na minha cama. 05 - No mesmo edredom que eu. Que parte eu entendi errado? - A gente não vai ficar? - Não, eu só quero dormir mesmo e ir pra minha casa amanhã, mas eu posso pegar um táxi e ir agora, eu peço pra minha mãe pagar quando eu chegar em casa. Eu ligo pra ela quando eu estiver chegando, ela acorda e paga, é tranquilo. - Só não é tranquilo pra sua mãe. Relaxa aí. Fica de boa então, eu durmo na sala. Amanhã eu te levo no metrô. - Sério? Mas você tá bravo comigo? - Não, claro que não. Fica de boa aí. Dormi na sala e no dia seguinte levei ela até o metrô. “A grande pergunta que não foi nunca respondida e que eu não fui capaz ainda de responder, apesar de meus trinta anos de pesquisa sobre a alma feminina é – O que quer uma mulher?”. FREUD, Sigmund. Se você não sabe, meu caro Freud, eu não tenho a ME- NOR ideia. A MENOR! 23. Muitas sinapses para meu cérebro subdesenvolvido Ahhhh... essa aqui é uma das lembranças mais tristes que eu tenho. Eu estava no palco de um evento de tecnologia em São Paulo e essa garota me assistiu. Ela não sabia quem eu era, não fazia parte do meu público, mas ficou curiosa pela aglomeração e risadas vindas daquele canto do salão. Quando meu show acabou e eu tirei algumas fotos com algumas pessoas do público, ela veio se apresentar e perguntar quem eu era. Ela era uma estudante de neurociência com foco em mobilidade e estudos em cima das pesquisas sobre exoesqueleto do renomado cientista brasileiro Miguel Nicolelis. Eu já tinha lido algumas coisas sobre isso e fiquei interessadíssimo em conversar mais com ela sobre esta área. Ela era extremamente linda com um sorriso largo e uma voz doce. Três frases trocadas com ela e eu já queria repovoar o planeta com aquela mulher. Exagero? Talvez, mas ela era sensacional mesmo!!! Batemos um papo e combinamos de sair. Dias depois a encontrei em uma balada no centro de São Paulo, num prédio abandonado, com paredes pichadas, um tipo de música estranhíssima, pessoas dos mais diferentes tipos de vestimentas, cabelos, alturas, pesos e sexos. Parecia que eu tinha caído sem querer numa festa dos vendedores da Chilli Beans. Ficamos, conversamos, ficamos mais um pouco, o dia amanheceu e cada um foi para a sua casa com o compro- misso de nos encontrarmos novamente outro dia. Trocamos umas mensagens e ela topou ir dormir na minha casa. Busquei ela no metrô e fomos. Assistimos um pouco de TV, ouvimos música e transamos por um bom tempo (perceba que eu não disse ‘muito tempo’, mas sim, ‘um bom tempo’, afinal, meu desempenho costumava ser bem mediano). Dormimos, acordamos no meio da madrugada e transamos de novo. Rimos, conversamos mais um pouco e dormimos. Acordamos no começo do dia e transamos mais uma vez, desta vez sem camisinha porque... bem, porque tem momentos na vida em que a roleta russa parece um bom esporte. Levantamos, tomamos café da manhã e eu a levei de volta ao metrô (eu quis levar ela em casa, mas ela não quis). A única coisa que eu pedi pra ela foi que tomasse a pílula do dia seguinte. Ela disse que isso desregulava toda a menstruação dela e que doía demais. Eu já fiquei preocupado, mas ela disse que tomaria. Caro(a) leitor(a), se tem uma coisa que desespera o homem é ficar na dúvida se ele vai ou não ser pai. Não há frase mais preocupante que: “minha menstruação tá atrasada”. Mentira, há sim: “Eu acho que tô grávida” faz qualquer homem solteiro amolecer as pernas. Por isso a cada mensagem que ela me mandava meu coração batia gelado e eu não queria puxar este assunto com ela. Vai que num azar qualquer ela me comunica da gravidez? Era melhor então que eu nem perguntasse. Umas duas semanas depois da nossa aventura, ela me manda uma mensagem dizendo que eu não seria papai. Fiquei tão feliz que publiquei a mensagem dela na internet. Fiquei aliviado ao mesmo tempo em que ela ficou MUI- TO PUTA COMIGO. Com razão. Ela disse que tinha gostado de estar comigo e do meu papo, mas que não queria servir de fonte de piadas pra mim. Justo. Perdi uma das mulheres mais inteligentes e interessantes que eu já tive. Dois anos depois voltamos a nos falar. Conversamos um pouco e ela sugeriu de nos encontrarmos em algum barzinho qualquer dia. Eu sugeri a minha casa. Eeeeeeeitaaaaaa!!! Não há exoesqueleto que aguente essa porrada da vida não! É como diz a piada do comediante paraense Victor Camejo: “A diferença entre a mulhere Deus é que Deus per- doa”. 24. As voltas do mundo Um dia eu me apaixonei de verdade e a sensação é a mesma de quando a gente vai peidar e caga sem querer. A gente não queria isso, não esperava isso e muito menos estava procurando por isso. Ela morava no Sul e passaria o final de semana em São Paulo. Já tínhamos nos falado pelo Twitter, DM e WhatsApp. Ela tinha poucas fotos nas redes sociais, o que fez o jogo todo muito mais sedutor. O papo já era interessante, ela era uma garota super inteligente e divertida, mas eu não sabia exatamente como ela era fisicamente. No dia que ela chegou em São Paulo eu já a convidei pra ir em uma balada, ela topou e à noite fui buscá-la no hotel. Assim que ela entrou no carro meu coração bateu mais gelado. Ela era extremamente linda e tinha um sorriso incrível! Eu me apaixonei. Fiquei desconcertado pra conversar, não tinha assunto, gaguejava, fiz um milhão de piadinhas só porque eu percebi que ela gostava. Me apaixonei. Apesar de praticamente tudo ser perfeito nela, um defeito me saltava os olhos: ela tinha uma autoestima baixa, bem baixa e não acreditava em tudo o que era: interessante, inteligente, divertida e linda. Já tinha morado em São Paulo uma vez e namorado um cara, mas as coisas não deram certo e ela voltou pro Sul. Lá ela acabou ficando com uns caras meio babacas e estava um pouco desiludida. Nas semanas seguintes que nos falamos por telefone e mensagens, na vez que eu fui para o Sul gravar algumas coisas e me encontrei com ela, numa outra vez quando ela estava indo para a Europa encontrar os pais e pegou uma conexão longa em São Paulo só para que a gente passasse um tempo juntos, em todas essas vezes eu fui aos poucos fazendo ela voltar a acreditar nas múltiplas qualidades que faziam dela a garota super interessante por quem eu estava perdidamente apaixonado. Alguns meses depois ela me disse que iria se mudar para São Paulo no ano seguinte. Fiquei muito feliz. As energias do mundo estavam finalmente jogando a meu favor. Nesse período eu estava viajando muito, gravando muito e trabalhando muito, falávamos menos que antes e eu fui percebendo que ela estava correspondendo pouco às minhas mensagens. Eu perguntava se estava tudo bem e ela me garantia que sim! Eu queria saber se ela estava voltando a se sentir inferior e ela dizia que não, que eu realmente tinha ajudado ela a voltar a se sentir bem. Eu ficava feliz com isso, ela nunca podia voltar a esquecer o quanto ela era interessante. E por falar em voltar, muita coisa voltou na vida dela semanas depois. Ela voltou a manter a boa autoestima, voltou pra São Paulo e também voltou com o ex- namorado paulista. Eu também voltei. Voltei a lembrar que a vida é assim: “Às vezes você vai peidar e caga mas nem por isso você deixa de peidar”. Espalhe esta bela mensagem aos seus filhos e netos. 25. Pagando, ô, pato! Dizem que o bom de se chegar no fundo do poço é que só existe um caminho a seguir: pra fora dele. Eu acredito, não vejo muita vantagem em ser pessimista com as coisas. O otimismo te coloca em enrascadas bem mais divertidas! Eu estava saindo há algum tempo com uma garota de outra cidade meio longe de São Paulo e, para o desespero das minhas primas, eu fui para Nova York gravar o making of da peça “Sexo – A Comédia”, da Cia. De Comédia Os Melhores do Mundo (grupo e peça que, anos depois, eu passaria a atuar). Digo ‘o desespero das minhas primas’ porque eu costumo trazer maquiagens e mulherzices para elas quando eu viajo para o exterior, mas quando estou saindo com alguma garota a minha cota de importação tem outro destino. Desta vez um comprei umas vitaminas que a garota tinha me pedido e aproveitei pra levar também uns cremes que eu sabia que ela iria gostar. Cheguei no Brasil, peguei o endereço dela e mandei os presentes. Ela A-DO-ROU! Pontos pra mim, afinal, no mundo das conquistas surpreender vale três pontos, na frente de “chocolates” que vale dois e “jantares” que vale um (não, “sexo” não conta ponto mas pode tirar. Sexo é mais obrigação mesmo). Logo que os adorados presentes chegaram e ela pediu o número da minha conta para me pagar pelas vitaminas, eu neguei, claro! Afinal, eram presentes! Ela insistiu em querer me pagar e eu combinei que a próxima vez que ela fosse para São Paulo o nosso jantar seria por conta dela, ela riu e eu ri. Eu ri porque ela riu, mas ela riu porque sabia que isso não iria acontecer. Dias depois eu descobri que ela já tinha voltado com o ex-namorado quando eu mandei os presentes. Merda! Eu devia ter aceitado o pagamento, meu prejuízo seria menor. Aposto que tudo isso foi alguma bruxaria das minhas primas! 26. Um jovem e nerd Eu passei vários anos da minha vida com cara de nerd. Não que eu não tenha essa cara agora, mas antes eu me encaixava direitinho no padrão. Era um gordo de barba e óculos de aro grosso que sempre servia como referência para qualquer parente que estivesse a fim de comprar um computador novo e não sabia a melhor opção. Porém, apesar do visual, eu nunca fui esse nerd padrão. Até hoje não sei configurar impressoras e muito menos escolher um bom computador nem para mim! Já fui confundido com primos, amigos e colegas de pessoas aleatórias que me perguntavam se eu era fulano ou ciclano e até com outros caras da internet como o Alexandre Ottoni (o cara do site Jovem Nerd) ou o comediante Rogério Mor- gado. Mas quando fui confundido com o Alexandre do Jovem Nerd é que a história ficou boa, simplesmente pelo fato de eu não ter percebido que a garota não sabia que eu era eu. A culpa não foi dela, foi das circunstâncias. Eu estava numa balada e: - Oi, desculpa, você tem um blog não tem? - Oi. Tenho sim. - Putz! Eu acho demais o que você faz! - Sério!? Poxa, obrigado! - Sério! Acho super engraçado! - Legal. Pô, valeu! - Você faz vídeos pro You Tube também, não é? - Faço. - Eu sabia! Já vi seus vídeos. Acho muito demais, você tem uma energia boa e uma risada que eu gosto muito. – já tava querendo, né? - Obrigado! Você é a...? Ela disse o nome dela e seguimos o papo sobre internet, filmes, cultura pop, música e várias outras coisas. Como ela estava dando papo e super interessada, eu fui pra cima e... peguei. Assim que terminamos de nos beijar, ela: - Nossa! Eu não esperava por isso. - O que? Ficar comigo? Não curtiu? - Curti, você beija bem, mas foi estranho. - Por quê? - Sei lá. É estranho. Você é o cara da internet e eu vejo seus vídeos faz tempo. É estranho. - Bom, agora você vai ver os vídeos e saber que a gente já ficou. Só. Nisso chegou uma amiga dela chamando ela para ir em- bora. - Tenho que ir. Manda um abraço meu pro Azaghal! - Oi? - O Azaghal, manda um abraço pra ele! E a minha cabeça começou a fazer sinapses numa velocidade absurda para achar o pacote desta informação que relacionava eu diretamente ao Azaghal. O pacote veio: Você já foi confundido outras vezes com o Alexandre Ottoni, o Jovem Nerd, sócio do Azaghal. Por isso ela mandou um abraço pro Azaghal, ela acha que você é o Jovem Nerd. E a minha reação 01 foi: - Podexá! Mando sim! Beijo! E a minha reação 02 foi mandar um tweet na hora para o Alexandre. Alexandre, obrigado pela sua fama! Ouvi dizer que você beija bem. Parabéns por isso! 27. Guru do sexo Na vida há muitas “primeiras vezes”, até mesmo no sexo. Cada nova posição é uma primeira vez em ver se aquele jeito te agrada, cada nova garota é uma primeira vez sobre como ou o quê pode agradar ela e assim por diante. Esta garota eu conheci numa balada perto de casa. Ela era amiga de uma amiga e no mesmo dia que ficamos eu chamei ela pra ir pra minha casa. Ela topou. Nos beijamos, tiramos a roupa e ela
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