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Tecnologia em Gestão Pública SUPERIOR Andréa Martins Andujar Anderson Antônio Mattos Martins 2014 MODELOS DE GESTÃO A543m Andujar, Andréa Martins Modelos de gestão / Andréa Martins Andujar, Anderson Antônio Mattos Martins. – 2. ed. – Florianópolis : IFSC, 2014. 134 p. : il. ; 28 cm Inclui Bibliografia. ISBN: 978-85-64426-80-1 1. Administração. 2 Organização. I. Título. . CDD: 658 Copyright © 2013, Instituto Federal de Santa Catarina - IFSC. Todos os direitos reservados. 2ª Edição adaptada ao novo projeto gráfico e instrucional do Departamento de Educação a Distância - EaD - IFSC. A responsabilidade pelo conteúdo desta obra é do(s) respectivo(s) autor(es). O conteúdo desta obra foi licenciado temporária e gratuitamente para utilização no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, através do IFSC. O leitor compromete-se a utilizar o conteúdo desta obra para aprendizado pessoal. A reprodução e distribuição ficarão limitadas ao âmbito interno dos cursos. O conteúdo desta obra poderá ser citado em trabalhos acadêmicos e/ ou profissionais, desde que com a correta identificação da fonte. A cópia total ou parcial desta obra sem autorização expressa do(s) autor(es) ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sanções previstas no Código Penal, artigo 184, Parágrafos 1o ao 3o, sem prejuízo das sanções cabíveis à espécie. Catalogado por: Laura da Rosa Bourscheid CRB14/983 Departamento de Educação a Distância Créditos do Livro FICHA TÉCNICA E INSTITUCIONAL [ Reitoria ] Maria Clara Kaschny Schneider [ Pró-Reitoria de Ensino ] Daniela de Carvalho Carrelas [ Diretoria do Centro de Referência em Formação e EaD ] Gislene Miotto Catolino Raymundo [ Chefia do Departamento de Educação a Distância - EaD/IFSC ] Fabiana Besen [ Coordenação do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Pública ] Giovani Cavalheiro Nogueira [ Coordenação - Produção de Materiais Didáticos - EaD/IFSC ] Ana Karina Corrêa [ Projeto Gráfico e Instrucional - Livros didáticos - EaD/IFSC ] Aline Pimentel Carla Peres Souza Daniela Viviani Elisa Conceição da Silva Rosa Sabrina Bleicher EDIÇÃO 2014 [ Conteúdo ] Andréa Martins Andujar Anderson Antônio Mattos Martins [ Design Gráfico ] Rafael Martins Alves [ Design Instrucional ] Verônica Ribas Cúrcio [ Capa e Editoração Eletrônica ] Rafael Martins Alves [ Revisão Gramatical ] Beatrice Gonçalves [ Infográficos ] Rafael Martins Alves [ Tratamento de imagens ] Rafael Martins Alves [ Imagens ] Wikimedia Commons <http://commons.wikimedia.org/> Free Images <http://www.freeimages.com/> Prezado estudante, Seja bem-vindo! O Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), preocupado em transpor distâncias físicas e geográficas, percebe e trata a Educação a Distância como uma possibilidade de inclusão. No IFSC são oferecidos diferentes cursos na modalidade a distância, ampliando o acesso de estudantes catarinenses, como de outros estados brasileiros, à educação em todos os seus níveis, possibilitando a disseminação do conhecimento por meio de seus campus e polos de apoio presencial conveniados. Os materiais didáticos desenvolvidos para a EaD foram pensados para que você, caro aluno, consiga acompanhar seu curso contando com recursos de apoio a seus estudos, tais como videoaulas, ambiente virtual de ensino aprendizagem e livro didático. A intenção dos projetos gráfico e instrucional é manter uma identidade única, inovadora, em consonância com os avanços tecnológicos atuais, integrando os vários meios disponibilizados e revelando a intencionalidade da instituição. Bom estudo e sucesso! Equipe de Produção dos Projetos Gráfico e Instrucional Departamento EaD/IFSC Sumário Modelos de Gestão 1. Aspectos Gerais da Administração 07 2. Enfoque Clássico e Movimento Humanístico da Administração 27 3. A Abordagem Estruturalista da Administração 69 4. Novas Abordagens Organizacionais 85 5. Teoria do Desenvolvimento Organizacional 99 6. Teoria Neoclássica 109 Considerações Finais 129 Sobre os Autores 130 Referências 131 A unidade curricular Ide Modelos de Gestão a requer um talento especial de quem a pratica, uma sensibilidade especial, Caro (a) estudante, nesta unidade curricular, você vai explorar as principais teorias administrativas que constituem a base na qual se assentam as práticas de gestão nas organizações. As teorias administrativas configuram um corpo de conhecimentos, de valores e de visão de mundo. Você vai percorrer caminhos que vislumbram a evolução dessas teorias para modelos mais elaborados com o propósito de fornecer-lhe recursos que o ajudarão a lidar com os desafios das organizações contemporâneas. O material aqui proposto é de fácil entendimento e combina uma releitura de fundamentos e posições de renomados autores e de reflexões, resultado de uma ampla revisão bibliográfica. Não temos a pretensão de esgotar o tema, mas o objetivo de proporcionar-lhe subsídios para uma atuação qualificada. Bons estudos! Aspectos Gerais da Administração MODELOS DE GESTÃO UNIDADE 1 Ao final desta unidade, você será capaz de identificar os conceitos básicos de Administração, reconhecer a importância da Administração nos dias atuais, identificar as habilidades e funções necessárias a um gestor, definir organizações e caracterizar o ambiente organizacional além de entender o surgimento das teorias administrativas. Andréa Martins Andujar Anderson Antônio Mattos Martins Aspectos Gerais da Administração As teorias da Administração e as organizações As teorias da Administração praticadas ao longo do tempo basearam-se em diferentes modelos de condução das organizações como, por exemplo, da organização da Igreja Católica, que conta com um modelo de hierarquia simples; da organização militar, com conceitos de unidade de comando, linha, centralização e estratégia; e da Revolução Industrial, que conta com uma visão de especialistas da produção em série e a concepção da adaptação do homem à máquina. Aspectos Gerais da Administração 9 Para Chiavenato (2004), cada teoria administrativa surgiu como resposta aos problemas organizacionais relevantes de sua época e todas foram bem-sucedidas nas soluções específicas para tais problemas. Segundo o autor, todas as teorias administrativas são aplicáveis às situações atuais e o administrador precisa conhecê- las para ter à sua disposição um naipe de alternativas para cada situação. Para que você tenha uma visão das teorias administrativas ao longo do tempo, a tabela abaixo mostra a relação dos anos com as respectivas teorias: Teorias administrativas. Anos Teorias 1903 Administração Científica 1909 Teoria da Burocracia 1916 Teoria Clássica 1932 Teoria Relações Humanas 1947 Teoria Estruturalista 1951 Teoria dos Sistemas 1954 Teoria Neoclássica 1957 Teoria Comportamental 1962 Desenvolvimento Organizacional 1972 Teoria da Contingência A Teoria Geral da Administração (TGA) é o corpo de conhecimentos a respeito das organizações e do processo de administrá-las. Não existem teorias, fórmulas ou receitas definitivas na Administração, o que há é um conjunto de conhecimentos produzidos a partir da experiência prática das organizações. Teoria Geral O que estuda a TGA A Teoria Geral da Administração (TGA) estuda a Administração das organizações do ponto de vista da interação e interdependência entre seis principais variáveis, conforme demonstra a figura a seguir: Estrutura Ta re fa Pessoa Tecn olog ia Am biente Co m pe tit ivi da de As variáveis apresentadas na figura constituem os principais componentes no estudo da Administração das organizações. O comportamento desses componentes é sistêmico e complexo: cada uminfluencia e é influenciado pelos outros e a adequação e a integração entre eles constituem o desafio da Administração. A professora Sônia Ferreira Ferraz, diretora da Câmara de Formação Profissional do Conselho Federal de Administração, salientou no Seminário Nacional sobre TGA, em 2006, que a TGA mostra o efeito cumulativo e gradativamente abrangente das diversas teorias com suas diferentes contribuições e enfoques. Para a autora, todas as teorias administrativas são válidas, embora cada qual valorize uma ou alguma das seis variáveis básicas. Vamos ver então o porquê de estudar TGA: • as teorias guiam as decisões da Administração: o estudo da teoria nos ajuda a compreender os processos fundamentais e, baseados nisso, a escolher uma linha eficaz de ação. Em essência, uma teoria é um conjunto coerente de pressupostos elaborados para explicar as relações entre dois ou mais fatos observáveis. Portanto, as teorias Aspectos Gerais da Administração 11 permitem-nos prever o que acontecerá sob certas situações. Com esse conhecimento, podemos aplicar diferentes teorias da Administração a diferentes situações. • as teorias dão forma à nossa visão das organizações: a partir do estudo das teorias da Administração é possível verificar ou identificar a forma como a organização se estrutura. Veja, por exemplo, a linha de montagem de Henry Ford. Ela é uma aplicação bastante prática da teoria da Administração Científica, que propõe que os administradores podem determinar cientificamente o melhor modo de se realizar qualquer tarefa. Essa teoria é baseada no pressuposto de que as pessoas não gostam de trabalhar e precisam de uma supervisão atenta e de incentivo financeiro. Em anos recentes, entretanto muitos fabricantes enfrentaram uma crise de produtividade e de qualidade, o que os forçou a repensar as premissas da teoria da Administração Científica Até mesmo a marca Ford, que foi uma das primeiras a adotar a teoria da Administração Científica, precisou rever seus conceitos e atualmente adota um novo conjunto de pressupostos com relação aos empregados. • as teorias conscientizam sobre o ambiente empresarial: cada uma das teorias é produto de seu ambiente – das forças sociais, econômicas, políticas e tecnológicas presentes num dado tempo e lugar. Esse conhecimento irá ajudar a compreender porque certas teorias são mais apropriadas a determinadas circunstâncias do que outras. No início do século XX, por exemplo, havia falta de mão de obra especializada por isso, era preciso encontrar modos de produção que tornassem cada trabalhador mais eficiente. Nesse contexto, a abordagem de Henry Ford fazia muito sentido. Hoje, entretanto, quando o nível geral de educação é mais elevado e temos um grande suprimento de mão de obra, outras teorias são mais eficazes. • as teorias são uma fonte de novas ideias: as teorias nos dão a chance de assumir um ponto de vista diferente com relação às situações do cotidiano. Serão estudadas diversas escolas do pensamento administrativo, que foram sendo desenvolvidas numa sequência histórica, sendo que as ideias posteriores não substituíram as anteriores. Em vez disso, cada nova escola complementa ou coexiste com as existentes. Ao mesmo tempo, cada escola continuou a se desenvolver e até mesmo a se difundir com outras. Para que serve a Administração? A palavra administração vem do latim ad (direção, tendência para) e minister (subordinação ou obediência) e significa aquele que presta um serviço a outro. No entanto, a palavra administração sofreu uma radical transformação em seu significado original. A tarefa da Administração passou a ser a de interpretar os objetivos propostos pela organização e transformá-los em ação organizacional por meio de planejamento, organização, direção e controle a fim de alcançar tais objetivos e garantindo a competitividade. A Administração é o processo ou a atividade dinâmica, que consiste em tomar decisões sobre objetivos e recursos. O processo de administrar é inerente a qualquer situação em que haja pessoas utilizando recursos para atingir algum objetivo. A finalidade última deste processo é garantir a realização de objetivos por meio da aplicação de recursos. Em épocas de incertezas como as de hoje, a Administração torna-se uma das mais importantes áreas da atividade humana, pois sua tarefa básica é a de fazer com que os processos funcionam e garantam resultados, de maneira eficiente e eficaz. Nas organizações, sejam indústrias, comércio, organizações de serviços públicos, hospitais, universidades, instituições militares ou qualquer outra forma de empreendimento humano, a eficiência e a eficácia com que as pessoas trabalham em conjunto para conseguir objetivos comuns dependem diretamente da capacidade daqueles que exercem a função administrativa. O avanço tecnológico e o desenvolvimento do conhecimento humano não produzem por si só efeitos se não houver qualidade na administração efetuada sobre os grupos organizados de pessoas para que haja aplicação efetiva dos recursos humanos e materiais. A Administração, nesse sentido, passa a ser considerada a principal chave para a solução dos mais graves problemas que atualmente afligem o mundo moderno. Muitos autores procuraram definir Administração. Idalberto Chiavenato suscita algumas definições: • Administração é o processo pelo qual um grupo de pessoas dirige as ações de outras no sentido de alcançar objetivos comuns; EFICIENTE [ GLOSSÁRIO ] Agente de ação; que produz realmente um efeito. EFICAZ [ GLOSSÁRIO ] Que dá bom resultado, que produz o efeito desejado. Aspectos Gerais da Administração 13 • Administração é o processo de trabalhar com e através de outras pessoas para alcançar, eficientemente, objetivos organizacionais pelo uso eficiente de recursos limitados em um ambiente mutável. • Administração representa a busca de objetivos organizacionais de uma maneira eficiente e eficaz através de planejamento, organização, liderança e controle dos recursos organizacionais. • Administração refere-se a duas coisas: coletivamente a todos os administradores de uma organização; e ao estudo do que os administradores fazem. Toda organização é tocada por administradores. • Administração é o processo de alcançar objetivos organizacionais pelo trabalho com e através de pessoas e demais recursos organizacionais. Três características são fundamentais: Administração é um processo ou séries de atividades relacionadas, envolve e se concentra no alcance de objetivos organizacionais e busca alcançar tais objetivos através do trabalho das pessoas e demais recursos organizacionais. Para Maximiano (2011), a finalidade da Administração é garantir a realização de objetivos por meio da aplicação de recursos: IDALBERTO CHIAVENATO [ QUEM ] Idalberto Chiavenato é reconhecido e prestigiado pela excelência de seus trabalhos em Administração e em recursos humanos. É um dos autores nacionais mais conhecidos e respeitados na área de Administração de empresas e recursos humanos. Graduado em Filosofia/Pedagogia, com especialização em Psicologia educacional pela Universidade de São Paulo, em Direito pela Universidade Mackenzie e pós-graduado em Administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas, é mestre e doutor em Administração pela City University of Los Angeles (EUA). Foi professor da Fundação Getúlio Vargas e de várias universidades no exterior além de ser consultor de empresas. RECURSOS Pessoas Informação e conhecimento Espaço Tempo Dinheiro DECISÕES Planejamento Organização Execução Direção OBJETIVOS Resultados esperados do sistema O trabalho do administrador, em qualquer organização, é o de ser a ponte entre os meios (recursos financeiros, tecnológicos e humanos) e os fins (objetivos). Como elo entre os recursos e os objetivos de uma organização, cabe ao administrador combinar os recursos na proporção adequada. É importante você entender que, qualquer queseja a posição ou o nível que o administrador ocupe, os resultados são alcançados por meio da efetiva cooperação dos seus subordinados. Funções da Administração A partir de agora, você vai conhecer as funções da Administração: planejamento, organização, direção e controle. Veja cada uma delas mais detalhadamente a seguir: Planejamento O planejamento consiste em determinar antecipadamente os objetivos almejados pela organização e traçar formas para alcançá- los. Por meio da função administrativa, o planejamento define onde se quer chegar (where), o que deve ser feito (what), quando (when), como (how), por que (why), quem (who) deve fazer o trabalho e em que sequência. Existem três níveis distintos de planejamento na organização: o planejamento estratégico, o tático e o operacional. Vejamos as características principais de cada um deles: • Planejamento estratégico: é o mais amplo e abrange toda a organização; é projetado para longo prazo (em geral para os próximos cinco anos); é definido pela cúpula organizacional; e é macro-orientado. • Planejamento tático: é feito em nível departamental; é projetado para o médio prazo (geralmente de um a cinco anos); é menos genérico e mais detalhado; é definido pelo nível intermediário da organização. • Planejamento operacional: é feito para cada tarefa ou atividade específica; é projetado para o imediato (curto prazo: menos de um ano); é definido pelo nível operacional; é micro-orientado. Aspectos Gerais da Administração 15 As características mais marcantes do planejamento, segundo Diniz (2004), são as apresentadas no quadro abaixo: Características da função planejamento Características da função planejamento Planejamento é um processo permanente e contínuo Não se esgota em um único plano de ação, é realizado continuamente pela empresa. Planejamento é sempre voltado para o futuro Está sempre ligado intimamente à previsão, embora não se confunda com ela. Planejamento visa à racionalidade da tomada de decisão Ao estabelecer esquemas para o futuro, o planejamento funciona como um meio de orientar o processo decisório, dando-lhe maior racionalidade e subtraindo a incerteza inerente à qualquer tomada de decisão. Planejamento visa selecionar entre várias alternativas um curso de ação Quando se escolhe um curso de ação que prossegue no tempo, deixam-se de lado todas as demais alternativas que foram rejeitadas por algum motivo ou razão. Planejamento é sistêmico Deve considerar a totalidade da empresa, do órgão ou da unidade para o qual foi feito, sem omitir as relações internas e externas. Planejamento é interativo Pressupõe avanços e recuos, alterações e modificações em função dos eventos novos e inesperados que ocorram tanto no ambiente interno como no ambiente externo da empresa ou unidade. Planejamento é uma técnica de alocação de recursos Visa à definição, ao dimensionamento e à alocação dos recursos humanos e não humanos da empresa ou unidade de uma forma antecipadamente estudada e decidida. Planejamento é uma técnica cíclica Conforme vai sendo executado e realizado, o planejamento permite condições de avaliação e de mensuração para novos planejamentos, com informações e perspectivas mais seguras e corretas. Planejamento é uma função administrativa que interage com as demais Está intimamente relacionado com a organização, direção e controle, influenciando e sendo influenciado por todas elas a todo momento e em todos os níveis da organização. Planejamento é uma técnica de coordenação e de integração Ele permite a coordenação e integração de várias atividades no sentido da realização dos objetivos desejados. Planejamento é uma técnica de mudança e de inovação Constitui uma das melhores maneiras de se introduzir deliberadamente mudança e inovação em uma empresa sob uma forma previamente definida e escolhida e devidamente programada para o futuro. Fonte: DINIZ, Danusa F. Costa. Apostila de Teoria Geral da Administração. FEAT, Ibaiti, 2004. Organização A organização consiste em determinar as atividades necessárias ao alcance dos objetivos planejados (especialização), em agrupar as atividades em uma estrutura lógica (departamentalização) e em designar as atividades às pessoas específicas (cargos e tarefas). A função administrativa da organização pode ser feita em três níveis: global, departamental e em nível das tarefas e operações: • Organização ao nível global: abrange a empresa como um todo. É o desenho organizacional que pode assumir três tipos: linear, funcional e do tipo linha-staff. Veja: • Organização linear: a estrutura organizacional é simples e baseia-se na autoridade linear, isto é, cada superior tem autoridade única e absoluta sobre os seus subordinados. • Organização funcional: a estrutura organizacional baseia-se no princípio funcional ou princípio da especialização das funções. • Organização linha-staff: tem-se a prestação de serviços especializados e de consultoria técnica, influenciando indiretamente o trabalho dos órgãos de linha por meio de sugestões, recomendações, consultoria e prestação de serviços como planejamento, relatórios, dentre outros. • Estabelece um esforço coordenado. • Fornece uma direção para gerentes e não gerentes. • Obriga as pessoas a olharem para frente, a se anteciparem. • Reduz as incertezas e esclarece as consequências. • Reduz as atividades sobrepostas ou redundantes, evita o desperdício. • Estabelece objetivos e padrões que ajudam no controle. Planejamento ORGANIZAÇÃO LINEAR [ GLOSSÁRIO ] A organização linear tem suas origens na organização dos antigos exércitos e na organização eclesiástica dos tempos medievais. Entre o superior e os subordinados existem linhas diretas e de autoridade baseadas no direito organizacional de exigir o cumprimento de ordens e de responsabilidadesna execução de tarefas. LINHA-STAFF [ GLOSSÁRIO ] A organização linha-staff é o resultado da combinação entre a organização linear e a organização funcional, permitindo atividade conjunta e coordenada dos órgãos de linha e dos órgãos de staff ou assessoria Aspectos Gerais da Administração 17 • Organização em nível departamental: abrange cada departamento; é o desenho departamental ou departamentalização. Entende-se por departamentalização a configuração organizacional usada para agrupar as diversas atividades da organização. • Organização em nível das tarefas e operações: focada em cada tarefa ou atividade; é o desenho dos cargos ou tarefas sendo feita por meio da descrição e análise de cargos. Direção A direção é a função administrativa que compreende as decisões que acionam recursos, especialmente de pessoas, para realizar tarefas e alcançar objetivos. É a função administrativa que se refere às relações interpessoais dos administradores com os seus subordinados em todos os níveis da organização. Constitui uma das mais complexas funções administrativas pelo fato de envolver orientação, assistência à execução, comunicação, motivação e todos os processos por meio dos quais os administradores buscam alcançar os objetivos da organização. Fonte: CHIAVENATO (2004). Organização Linear e Organização Funcional, respectivamente A direção também pode se dar em três níveis distintos: global, departamental e operacional: • Direção em nível global: abrange a organização como um todo. Compete ao presidente da empresa e a cada diretor em sua respectiva área e corresponde ao nível estratégico da organização. • Direção em nível departamental: abrange cada departamento da organização. É a chamada gerência e corresponde ao nível tático da organização. • Direção em nível operacional: abrange cada grupo de pessoas ou de tarefas. É a chamada supervisão e corresponde ao nível operacional da empresa. Para entender melhor a estrutura da função direção, o quadro a seguir ilustra seus níveis e abrangências: Nível de organização Nível de direção Cargos envolvidos Abrangência InstitucionalDireção Diretores e altos executivos A empresa ou áreas da empresa Intermediário Gerência Gerentes e pessoal de meio de campo Cada departamento ou unidade da empresa Operacional Produção Supervisores e encarregados Cada grupo de pessoas ou tarefas Controle Controle é a tomada de decisões e ações para assegurar a realização dos objetivos. A finalidade dessa função administrativa é assegurar que os resultados do que foi planejado, organizado e dirigido se ajustem aos objetivos previamente estabelecidos. O controle acontece em quatro fases de modo cíclico, conforme ilustra a figura seguir: Fonte: CHIAVENATO, Idalberto. Introdução a Teoria Geral da Administração. Rio de Janeiro: Campus, 2004. Aspectos Gerais da Administração 19 Fonte: CHIAVENATO (2004; 2007). A função do controle busca verificar se a atividade controlada está ou não alcançando os resultados esperados e pode se dar em três níveis: global, departamental ou operacional: Controle em nível global (estratégico): é macro-orientado e engloba a empresa como um todo. É genérico, sintético, abrangente e a longo prazo. Controle em nível departamental (tático): aborda cada unidade da empresa separadamente. É realizado a médio prazo e é mais detalhado, portanto menos genérico. Controle em nível operacional: é detalhado, específico e analítico. Aborda apenas cada tarefa ou operação sendo a curto prazo. Na figura a seguir, você tem uma visão abrangente das funções administrativas: Estabelecimento de padrões Observação do desempenho Ação corretiva Comparação do desempenho com o padrão estabelecido Dentro desse contexto, é possível entender quem são os verdadeiros administradores. Maximiano (2011) define que os verdadeiros administradores são as pessoas ou gerentes que tomam decisões de administração. Podem ser indivíduos ou grupos. Para o autor, são todas as pessoas que administram sistemas ou recursos. Definir missão. Formular objetivos. Definir os planos para alcançá-los. Programar as atividades. Dividir trabalho. Designar as atividades. Agrupar as atividades em órgãos e cargos Alocar recursos. Definir autoridade e responsabilidade. Designar as pessoas. Coordenar os esforços. Comunicar. Motivar. Liderar. Orientar. Definir padrões. Monitorar o desempenho. Ação corretiva. Planejamento Organização Direção Controle Fonte: CHIAVENATO (2004, 2007). Os administradores são planejadores, organizadores, líderes e controladores da organização. Os administradores trabalham com qualquer pessoa, em qualquer nível dentro ou fora das organizações auxiliando no alcance dos objetivos das mesmas. Habilidades básicas do administrador As habilidades básicas do administrador estão divididas em três: conceituais, técnicas e humanas: • Habilidades técnicas: compreensão e proficiência num determinado tipo de atividade especialmente naquela que envolva métodos, processos, procedimentos ou técnicas. É fácil visualizar a habilidade técnica de um cirurgião, de um músico, de um contador no instante em que desempenham Aspectos Gerais da Administração 21 suas funções. Representam o conhecimento específico, normalmente, associado à área funcional. Em recursos humanos, as habilidades estão voltadas ao conhecimento da legislação trabalhista, cargos e salários e métodos de avaliação. Já na produção, estão voltadas ao conhecimento dos métodos, processos, insumos e materiais. • Habilidades humanas: dizem respeito à habilidade das pessoas em trabalhar com os outros, de aceitar a existência de opiniões e convicções contrárias às suas, de compreender o que os outros querem dizer com palavras e gestos, de criar um ambiente de boa vontade e segurança e de serem suscetíveis aos anseios e motivações do outro. • Habilidades conceituais: representam a necessidade de se ter uma visão do todo. Inclui o reconhecimento de como as diversas funções numa organização dependem umas das outras e de que modo as mudanças, em qualquer uma das partes da organização, afetam as demais. Elas refletem a capacidade de transformar conhecimentos em ação, expressos pelos objetivos, políticas, interesses e procedimentos organizacionais. A competência nessas habilidades depende do treinamento e dos processos de educação. As habilidades técnicas, humanas e conceituais estão interligadas, contudo variam em importância e grau nos diferentes níveis da organização. A figura a seguir ilustra os três tipos de habilidades gerenciais e sua relação com a posição na hierarquia: Administração Superior Gerência Intermediária Supervisão de primeira linha Habilidades Conceituais Habilidades Humanas Habilidades Técnicas Fonte: KATZ; KAHN (1978). Desafios da Administração Novas formas administrativas foram criadas em virtude do surgimento de novas arquiteturas organizacionais impostas pelas demandas da era pós-industrial. Essa previsão baseia- se no princípio evolucionário de cada idade e desenvolve uma forma organizacional apropriada a suas características, pois cada contexto exige uma forma organizacional diferente, apropriada as suas características. Para Feltrin (2007), tais mudanças se devem a: • mudanças rápidas e inesperadas principalmente no campo do conhecimento e da explosão populacional impondo novas e crescentes necessidades a que as atuais organizações não têm condições de atender; • crescimento das organizações que se tornam complexas e internacionais; • atividades que exigem pessoas de competência diversas e altamente especializadas envolvendo problemas de coordenação e, principalmente, de acompanhamento das rápidas mudanças. Vários fatores poderão provocar profundos impactos sobre as organizações e empresas, dentre eles, o crescimento das organizações, a concorrência, a sofisticação da tecnologia, as taxas elevadas de inflação, a globalização da economia, a internacionalização dos negócios e a visibilidade maior das organizações: • Crescimento das organizações: as organizações bem- sucedidas tendem ao crescimento e à ampliação de suas atividades, seja em termos de tamanho e de recursos, na expansão de seus mercados ou no volume de suas operações. O crescimento é uma decorrência inevitável do êxito organizacional. À medida que a organização cresce, ocorre uma subdivisão interna (divisão do trabalho) e especialização dos órgãos e, em decorrência, maior necessidade de coordenação e integração das partes envolvidas para garantir a eficiência e eficácia. O mundo externo é caracterizado por mudanças rápidas e frequentes e para acompanhar com sucesso essas mudanças, os administradores generalistas e dotados de habilidades genéricas e variadas terão perspectivas mais promissoras Aspectos Gerais da Administração 23 do que os administradores especialistas e concentrados em poucas habilidades gerenciais. • Concorrência mais aguda: à medida que aumentam os mercados e os negócios, crescem também os riscos da atividade empresarial. O produto ou serviço que demonstre ser superior ou melhor será o mais procurado. O desenvolvimento dos produtos ou serviços exigirá maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento, aperfeiçoamento das tecnologias, dissolução de velhos e criação de novos departamentos, busca incessante de novos mercados e a necessidade de competir com outras organizações. • Sofisticação da tecnologia: com o uso das telecomunicações, do computador e do transporte, as organizações e empresas estão internacionalizando suas operações e atividades. A tecnologia proporciona uma eficiência e uma precisão maior e com isso, o trabalhador tem mais tempo para executar tarefas mais complicadas que exijam planejamento e criatividade. A tecnologia introduz novos processos e instrumentos que causam impactos sobre a estrutura e o comportamento das organizações. • Taxas elevadas de inflação: os custos de energia, matérias-primas, mão de obra e do dinheiro estão se elevando continuamente. A inflação exigirá, cadavez mais, maior eficiência da administração das organizações para que essas possam obter melhores resultados com os recursos disponíveis e programas de redução de custos operacionais. A inflação imporá novas pressões e ameaças sobre as organizações lucrativas. • Globalização da economia e internacionalização dos negócios: o esforço de exportação e a criação de novas subsidiárias em outros territórios estrangeiros é um fenômeno que influenciará organizações do futuro e sua administração. A globalização e o intercâmbio planetário fazem com que a competição se torne mundial. • Visibilidade maior das organizações: enquanto crescem, as organizações tornam-se competitivas, mais sofisticadas, internacionalizam-se mais e, com isso, aumentam sua influência ambiental. Ou seja, as organizações chamam mais atenção do ambiente e do público e passam a ser mais vistas e percebidas. A visibilidade da organização (capacidade de chamar a atenção dos outros) pode ocorrer de modo positivo ou negativo. A tarefa do administrador é desafiadora, pois o mesmo defronta-se com uma série de mudanças rápidas e bruscas, carregadas de ambiguidades e incertezas. As organizações Desde o inicio do século XX, as organizações passaram por diversas mudanças com a introdução de novas tecnologias, o que tem causado impacto na vida social e política das pessoas. Na Revolução Industrial (1900-1950), o formato da organização era piramidal e centralizador. As pessoas eram consideradas recursos de produção como as máquinas e a concepção admitida era natureza, capital, trabalho. Já no período Neoclássico (1950 a 1990), com o fim da Segunda Guerra, o mundo começou a mudar mais intensamente. A competitividade passou a ser mundial. Surgiu então a concepção da Administração de recursos humanos, dando ênfase às pessoas como recursos vivos e não como uma parte das máquinas. Na atual Era da Informação, as mudanças, além de rápidas, tornaram-se inesperadas. A globalização da economia acelerou a competitividade e as organizações passaram a acreditar que o capital mais importante é o conhecimento. Passaram a investir nas pessoas como seus capitais intelectuais e o RH cedeu lugar a uma nova abordagem: a gestão de pessoas. As organizações recebem diferentes classificações, entre elas, destacam-se: Associações de benefícios mútuos: os beneficiários principais são os próprios participantes. Nesse caso configuram cooperativas, consórcios e sindicatos. Organizações de interesses comerciais: os beneficiários principais são os proprietários, acionistas e investidores, como Aspectos Gerais da Administração 25 empresas privadas, tanto sociedades anônimas como de participação limitada. Organizações de serviços: os beneficiários principais são grupos de clientes e a sociedade, como hospitais, universidades e agências sociais. Organizações de Estado: os principais beneficiários são os cidadãos, o público em geral, como por exemplo, Correios, instituições jurídicas e saneamento. O ambiente organizacional Chiavenato apud Santos (2001) afirma que ambiente é tudo o que envolve externamente uma organização ou um sistema. É o contexto no qual uma organização está inserida. Como a organização é um sistema aberto, ela mantém transações e intercâmbio com seu ambiente. Isso faz com que tudo o que ocorre externamente no ambiente passe a influenciar internamente o que ocorre na organização. Tudo o que acontece no ambiente geral pode afetar direta ou indiretamente todas as organizações porque é constituído de um conjunto de condições semelhantes para todas as organizações. Essas condições são de ordem: • Tecnológicas, já que o desenvolvimento tecnológico tem influência sobre as organizações, que precisam se adaptar e incorporar tecnologias oriundas do ambiente geral para não perderem competitividade. • Legais, porque a legislação vigente pode afetar direta ou indiretamente as organizações, auxiliando-as ou impondo restrições às suas operações. • Políticas, referindo-se às decisões e definições tomadas em nível federal, estadual ou municipal que influenciam as organizações. • Econômicas, constituídas pela conjuntura (inflação, balanço de pagamentos, distribuição de renda), que determina o desenvolvimento econômico ou a retração econômica e que condicionam fortemente as organizações. • Demográficas, referindo-se às taxas de crescimento da população, raça, religião, sexo, idade e distribuição [ Palácio dos Correios, São Paulo. ] AMBIENTE GERAL [ GLOSSÁRIO ] é o ambiente genérico e comum que afeta e influencia a todas as organizações. geográfica que determinam as características do mercado atual e futuro das organizações. • Ecológicas, referindo-se ao fato de que as organizações influenciam e são influenciadas por aspectos ecológicos tais como poluição, clima, transportes, comunicações, etc. • Culturais, para mostrar que a cultura de um povo interfere nas organizações através das expectativas e hábitos de seus participantes e de seus consumidores. O ambiente de tarefa ou operacional é o mais próximo e imediato de cada organização. É constituído por: • fornecedores de entradas, que fornecem todos os tipos de recursos (materiais, financeiros, humanos, tecnológicos) que uma organização necessita para trabalhar; • clientes ou usuários, representados pelos consumidores das saídas da organização; • concorrentes, tanto em relação aos recursos quanto em relação aos consumidores; • entidades reguladoras, que regulam ou fiscalizam as atividades da organização; • stakeholders, como elementos influenciadores relevantes que podem afetar ou serem afetados pelo alcance das ações da organização (SANTOS, 2001). Para Stoner (1999), as organizações operam dentro de um contexto do qual dependem para sobreviver, manter-se, crescer e desenvolver-se. É do ambiente que as organizações obtêm recursos e informações necessárias ao seu funcionamento e é no ambiente que colocam o resultado de suas operações. À medida que ocorrem mudanças no ambiente, as operações das organizações são influenciadas por essas mudanças. AMBIENTE DE TAREFA [ GLOSSÁRIO ] é o segmento do ambiente geral do qual uma determinada organização extrai seus insumos e deposita os seus resultados. STAKEHOLDERS [ GLOSSÁRIO ] palavra que significa depositários. Pessoa ou grupo com interesse na performance da organização e no meio ambiente na qual ela opera. Enfoque Clássico e Movimento Humanístico da Administração MODELOS DE GESTÃO UNIDADE 2 Ao concluir o estudo desta unidade, você vai compreender as origens e os fundamentos do enfoque clássico da Administração, o universo conceitual da abordagem humanística além de conhecer as principais teorias e estilos de liderança e entender como se dá o processo decisório nas organizações. Andréa Martins Andujar Anderson Antônio Mattos Martins Enfoque Clássico e Movimento Humanístico da Administração A Administração e seu contexto histórico e social As grandes organizações que surgiram no passado como o Império Romano, a Igreja Católica e os exércitos tinham tanta necessidade de Administração quanto às organizações modernas ou pós Revolução Industrial. A Administração nasceu como ciência independente durante a Revolução Industrial. No despontar do século XX, as teorias formuladas refletiam as necessidades das empresas da época, com Enfoque Clássico e Movimento Humanístico da Administração 29 ênfase na produção eficiente de bens para atender a um mercado crescente. Valendo-se dessa realidade, dois engenheiros desenvolveram trabalhos sobre Administração. Um era norte-americano, Frederick Winslow Taylor, que desenvolveu a chamada Escola de Administração Científica, cuja preocupação principal estava centrada no aumento da eficiência da indústria através da racionalização do trabalho operário. O outro era europeu, Henri Fayol, que desenvolveu a chamada Teoria Clássica, com objetivo de aumentar a eficiência da empresapor meio de sua organização e da aplicação de princípios gerais da Administração com bases científicas. Suas ideias constituem as bases da chamada abordagem clássica da Administração. Administração Científica Ênfase nas tarefas Abordagem Clássica da Administração Teoria Clássica Observação do desempenho Taylor Fayol Fonte: CHIAVENATO (2004). ABORDAGEM CLÁSSICA DA ADMINISTRAÇÃO [ SAIBA MAIS ] No livro “A Riqueza das Nações”, de 1776, Adam Smith mostra as vantagens da divisão do trabalho. Sua teoria baseia-se na especialização dos operários, afirmando que operários especializados podem ser mais eficientes em detrimento a operários que tenham que fabricar o produto inteiro. É importante caracterizar que as teorias desenvolvidas retratam o momento histórico em que são produzidas. A Escola de Administração Científica, desenvolvida nos EUA a partir dos trabalhos de Taylor, era formada, principalmente, por engenheiros como F. W. Taylor, Henry Lawrence Gantt, Frank Bunker Gilbreth, Harrington Emerson, Henry Ford entre outros. Henry Ford (1863-1947) foi fundador, em 1903, da empresa Ford Motor. É, sem dúvida, o mais conhecido de todos os precursores da Administração Científica, revolucionando e inovando a estratégia comercial do século XX. Iniciou sua vida como mecânico projetando um modelo de automóvel em 1899. Ao produzir automóveis, ele propôs uma inovação no sistema produtivo. A proposta era produzir um número maior de produtos com garantia de qualidade e pelo menor custo possível. Tal fato teve considerável impacto sobre a maneira de viver do homem, pois, em 1913, sua empresa já fabricava 800 carros por dia. Em 1914, repartiu com os seus funcionários uma parte do controle acionário da empresa e estabeleceu o salário mínimo por uma jornada de trabalho de oito horas, quando na época a jornada era de 10 a 12 horas. Em 1926, já tinha 88 fábricas e empregava em torno de 150 mil pessoas fabricando dois milhões de carros por ano. Utilizou um sistema de concentração vertical, produzindo desde a matéria-prima inicial ao produto final acabado. Ele propunha uma concentração horizontal através de uma cadeia de distribuição comercial por meio de agências próprias. A racionalização da produção deu origem à linha de montagem, a qual permite a produção em série ou em massa. Por esse sistema, o produto é padronizado bem como o maquinário, material, mão de obra e o desenho, o que proporciona um custo reduzido. Daí a produção de grandes quantidades, cuja condição é a capacidade de consumo em massa. A condição chave da produção em massa é a simplicidade por meio de três aspectos: • a progressão do produto através do processo produtivo é planejada, ordenada e contínua; • o trabalho é entregue ao trabalhador em vez de deixá-lo com a iniciativa de ir buscá-lo; • as operações são analisadas em seus elementos constituintes. O quadro a seguir apresenta os três princípios de Ford: Enfoque Clássico e Movimento Humanístico da Administração 31 Os três princípios de Ford Princípio da intensificação Diminuir o tempo de duração com o emprego imediato dos equipamentos e da matéria-prima e a rápida colocação do produto no mercado. Princípio da economicidade Consiste em reduzir o volume do estoque da matéria-prima em transformação fazendo com que o automóvel seja pago à empresa antes de vencido o prazo de pagamento da matéria-prima adquirida e dos salários. A velocidade de produção deve ser rápida: “o minério sai da mina no sábado e é entregue, sob a forma de um carro, ao consumidor na terça-feira à tarde”. Princípio da produtividade Aumentar a capacidade de produção do homem no mesmo período (produtividade) por meio da especialização e da linha de montagem. O operário ganha mais e o empresário tem maior produção, consequentemente, maior ganho . Fonte: CHIAVENATO (2004). A preocupação dessa abordagem era aumentar a produtividade da empresa por meio do aumento da eficiência no nível operacional. Pode-se então dizer que a abordagem da Administração Científica era uma abordagem de baixo para cima e das partes para o todo. A atenção estava voltada para o método de trabalho, para os movimentos necessários à execução da tarefa bem como para o tempo padrão determinado para a sua execução. Enquanto a ênfase nas tarefas era a principal característica da Administração Científica, a corrente denominada de Teoria Clássica - desenvolvida na França a partir dos trabalhos pioneiros de Henri Fayol, seguido por James D. Mooney, Lyndall F. Urwick, Luther Gulick entre outros - buscava o aumento da eficiência da empresa por meio da forma e da disposição dos departamentos da organização e de suas inter-relações estruturais. A ênfase era na anatomia, na estrutura e na fisiologia da organização, sendo essa abordagem caracterizada como de cima para baixo. Partindo do topo da organização para as suas partes componentes que são os departamentos. Existia um predomínio na atenção para a estrutura organizacional vislumbrando-se a melhor maneira de subdividir a empresa sob centralização de um chefe principal. As origens da abordagem clássica decorrem das consequências geradas pela Revolução Industrial podendo ser resumidas em dois fatos: • crescimento acelerado e desorganizado das empresas, gerando assim a necessidade de um planejamento da produção em detrimento da improvisação; • necessidade de aumentar a eficiência e a competência das organizações, procurando-se obter o melhor rendimento possível dos recursos e fazer frente à concorrência e à competição que crescia entre as empresas. Teoria da Administração Científica A Administração Científica teve início por volta do ano de 1900 pelo engenheiro americano Frederick Winslow Taylor, que provocou uma verdadeira revolução no pensamento administrativo e no mundo industrial da sua época. Sua preocupação original foi tentar eliminar o fantasma do desperdício e das perdas sofridas pelas indústrias americanas e elevar o nível de produtividade por meio da aplicação de métodos e técnicas da engenharia industrial. Enfoque Clássico e Movimento Humanístico da Administração 33 Frederick Winslow Taylor (1856-1915), fundador da Administração Científica, nasceu em Filadélfia, nos EUA. Veio de uma família de princípios rígidos e foi educado em uma mentalidade de disciplina, devoção ao trabalho e - de uso racional dos recursos Iniciou sua carreira como operário na Midvale Steel Co., passando a capataz e contramestre até chegar a função de engenheiro, quando se formou pela Stevens Institute. Na época vigorava o sistema de pagamento por peça ou tarefa. Os patrões procuravam ganhar o máximo na hora de fixar o preço das tarefas, enquanto os operários reduziam o ritmo de produção para contrabalançar o pagamento por peça determinado pelos patrões. Tal fato levou Taylor a estudar o problema de produção para tentar uma solução que atendesse a patrões e empregados. O primeiro período de Taylor corresponde à época da publicação de seu livro “Shop Management” (Administração de Oficinas), em 1903, sobre técnicas de racionalização do trabalho do operário por meio do estudo de tempos e movimentos. Taylor começou por baixo, junto com os operários do nível de execução, efetuando um paciente trabalho de análise das tarefas de cada operário. Ele observou que o operário médio produzia muito menos do que era potencialmente capaz com o equipamento disponível. Concluiu que se o operário mais produtivo percebesse que obtém a mesma remuneração que seu colega menos produtivo, ele acabaria se acomodando, perdendo o interesse e não produzindo de acordo com sua capacidade. Daí a necessidade de pagar mais ao operário que produz mais. Em resumo, Taylor diz que: • o objetivo de uma boa administração é pagar salários melhores aos trabalhadores e reduzir os custos unitários da produção. Para realizar tal objetivo, a Administração deve aplicar métodos científicos de pesquisa e experimentospara formular princípios e estabelecer processos padronizados que permitam o controle das operações fabris; O termo Administração Científica foi utilizado como forma de tentar aplicar métodos científicos de mensuração e observação aos problemas da Administração buscando alcançar elevada eficiência industrial. • os empregados devem ser colocados em seus postos com materiais e condições de trabalho adequados para que as normas possam ser cumpridas; • os empregados devem ser treinados para aperfeiçoar suas aptidões e executar tarefas para que a produção normal seja cumprida,(ou seja, fazer as tarefas com a máxima economia de esforço/tempo); • a Administração precisa criar uma atmosfera de cooperação entre os trabalhadores para que haja um bom ambiente de trabalho. O segundo momento de Taylor corresponde à publicação de seu livro “Princípios de Administração Científica” (1911) quando concluiu que a racionalização do trabalho operário deveria ser logicamente acompanhada de uma estruturação geral da empresa e que tornasse coerente a aplicação dos seus princípios. Nesse segundo período, o autor desenvolveu estudos sobre a Administração geral, a qual denominou Administração Científica, sem deixar, contudo, sua preocupação com relação à tarefa do operário. Taylor considerou que as indústrias de sua época padeciam de três males: • vadiagem sistêmica dos operários que reduziam a produção a cerca de um terço do que o padrão para evitar a redução dos salários pela gerência. Conforme o autor, cinco causas eram determinantes para a vadiagem no trabalho: ◊ O engano disseminado entre os trabalhadores de que o maior rendimento do homem e das máquinas provocava desemprego. ◊ O sistema de administração que força os operários à ociosidade no trabalho a fim de proteger seus interesses pessoais. ◊ Os métodos empíricos ineficientes utilizados nas empresas com os quais os operários desperdiçam grande parte do seu esforço e tempo. ◊ Desconhecimento pela gerência das rotinas de trabalho e do tempo necessário para sua realização. ◊ Falta de uniformidade das técnicas e dos métodos de trabalho. Enfoque Clássico e Movimento Humanístico da Administração 35 De acordo com Taylor, a implantação da Administração Científica deve ser gradual e obedecer a um certo período de tempo para evitar alterações bruscas que causem descontentamento por parte dos empregados e prejuízos aos patrões. Essa implantação requer um período de quatro a cinco anos para um progresso efetivo. Para Taylor, os elementos da Administração Científica são: • estudo de tempos e padrões de produção; • supervisão numerosa e funcional ao invés de um contramestre único; • padronização de máquinas, ferramentas, instrumentos e material; • planejamento do desenho de tarefas e cargos; • disposição de princípio de exceção para a direção (relatórios condensados para superiores identificando separadamente exceções à linha geral); • uso de regras de cálculo e de outros implementos para economizar tempo; • folhetos de instrução para cada operário; • codificação mnemotécnica para identificação de produtos e ferramentas; • sistemas de rotinas e sistemas modernos de custos; • prêmios de produção pela execução eficiente das tarefas. Taylor verificou que os operários aprendiam a executar as tarefas do trabalho por meio da observação dos companheiros vizinhos. Notou que isso levava a diferentes métodos para fazer a mesma Taylor representou um marco crucial na evolução das ideias sobre produção, riqueza e relações entre empregados e empregadores. O autor buscou transformar a Administração em uma ciência seleção científica, treinamento científico e cooperação harmoniosa entre trabalhador e gerência, tornaram-se seus quatro princípios. tarefa e a uma grande variedade de instrumentos e ferramentas para cada operação. Utilizando a análise científica e um cuidadoso estudo de tempos e movimentos, o autor estabeleceu método e ferramentas para o desempenho das tarefas. Para Taylor, o operário não tem formação, capacidade nem meios para analisar cientificamente seu trabalho e para estabelecer racionalmente o método ou processo mais eficiente. Com a Administração Científica ocorre uma repartição de responsabilidades: • a gerência fica com o planejamento, estudando o trabalho e estabelecendo o método; a supervisão fica responsável pela assistência contínua ao operário durante a produção; • o operário fica responsável somente pela execução do trabalho. Buscando substituir os métodos de trabalho empíricos por científicos, Taylor desenvolveu a chamada Organização Racional do Trabalho (ORT), que é fundamentada por Feltrin (2007). Análise do trabalho e estudo dos tempos e movimentos Conhecido como motion-time study, o estudo dos tempos e movimentos era o instrumento básico para a racionalização do trabalho. Taylor observou cada tarefa, decompondo-a em operações da tarefa no intuito de formar uma série ordenada de movimentos simples. Os movimentos inúteis eram eliminados e os movimentos úteis simplificados e racionalizados a fim de proporcionar economia de tempo e de esforço ao operário. Com essa análise, conseguia-se por meio de um cronômetro medir o tempo médio de um operário na execução de uma determinada tarefa. Nesse tempo médio, era adicionado o tempo de entrada e de saída do operário na empresa bem como determinadas esperas e necessidades pessoais, resultando no chamado tempo padrão. Como consequência disso, tem-se a padronização de um método de trabalho e a padronização de um tempo destinado à execução de uma determinada tarefa. As vantagens do estudo dos tempos e movimentos são: • elimina movimentos inúteis e os substitui por outros mais eficazes; • racionaliza a seleção e treinamento do pessoal; • melhora a eficiência do operário e o rendimento da produção; • distribui uniformemente o trabalho para que não haja períodos de falta ou excesso de trabalho; • oferece base uniforme para salários equitativos e prêmios de produção. Estudo da fadiga humana O estudo dos movimentos tem a finalidade de evitar movimentos inúteis na execução de uma tarefa e dessa forma, executar o mais economicamente possível, do ponto de vista fisiológico, os movimentos úteis e proporcionar aos movimentos um ritmo apropriado. O estudo dos movimentos baseia-se na anatomia e na fisiologia humana. Frank Gilbreth estudou os efeitos da fadiga na produtividade do operário e constatou que a fadiga predispõe o trabalhador para: • diminuição da produtividade; • diminuição da qualidade; • perda de tempo; • aumento da rotatividade de pessoal; • doenças e acidentes; • diminuição da capacidade de esforços. Para reduzir a fadiga no ambiente de trabalho, Gilbreth propôs princípios de economia de movimentos classificados em três grupos: • relativos ao uso do corpo humano; • relativos ao arranjo material do local de trabalho; • relativos ao desempenho das ferramentas e dos equipamentos. A Administração Científica pretendia racionalizar os movimentos eliminando os que produziam a fadiga e os que não estavam diretamente relacionados com a tarefa executada pelo trabalhador. Divisão do trabalho e especialização do operário Cada operário era especializado em uma determinada tarefa. Sua limitação na execução de uma única operação ou tarefa, de maneira contínua, automática e repetitiva, fez com que ele encontrasse na linha de produção sua principal base de aplicação. Dessa forma, o operário perdeu a liberdade e a iniciativa de estabelecer sua forma de trabalho. Desenho de cargos e de tarefas A preocupação básica da Administração Científica passou a ser a racionalização do trabalho e consequentemente o desenho de cargos simples e elementares no intuito de obter o máximo de especialização de cada trabalhador. Os cargos e as tarefas são desenhados para uma execução automatizada por parte do trabalhador. A simplicidade dos cargos permite controle e acompanhamento visualpor parte do supervisor, enfatizando o conceito de linha de montagem ou linha de produção. Em vez do trabalhador executar sua tarefa ao redor da matéria-prima, essa passa por uma linha móvel de produção na qual cada operário especializado executa, sequencialmente, sua tarefa. Enfoque Clássico e Movimento Humanístico da Administração 39 A simplificação no desenho dos cargos permite as seguintes vantagens: • admissão de empregados com qualificações mínimas e salários menores, reduzindo os custos de produção; • minimização dos custos de treinamento; • redução de erros na execução, diminuindo os refugos e rejeições; • facilidade de supervisão, permitindo que cada supervisor controle um número maior de subordinados; • aumento da eficiência do trabalhador, permitindo maior produtividade; • incentivos salariais e prêmios de produção. Taylor e seus seguidores elaboraram planos de incentivos salariais e de prêmios de produção com a ideia de que a remuneração baseada no tempo, como o salário mensal, não estimula ninguém a trabalhar, mas deve ser substituída pela remuneração baseada na produção de cada operário por peça. Isto é, o operário que produz pouco ganha pouco e o que produz mais, ganha de acordo com a sua produção. A produção individual até o nível de 100% de eficiência era remunerada pelo número de peças produzidas. Acima de 100% de eficiência, a remuneração por peça era acrescida de um prêmio de produção ou incentivo salarial adicional que aumentava à medida que se elevava a eficiência do operário. Conceito de Homo Economicus A Administração Científica baseou-se no conceito de Homo Economicus (homem econômico), supondo que toda pessoa é influenciada, exclusivamente, por recompensas salariais, econômicas e materiais. Segundo essa teoria, o homem procura o trabalho não porque gosta, ele é motivado a trabalhar pelo medo da fome e pela necessidade de dinheiro para sobreviver. Essa visão estreita da natureza humana via o operário da época como um indivíduo limitado, mesquinho, preguiçoso e culpado pela vadiagem e desperdício das empresas. Dessa forma, ele deveria ser controlado por meio do trabalho racionalizado e do tempo padrão. Condições ambientais de trabalho como iluminação e conforto O conforto do operário e a melhoria do ambiente físico passam a ser valorizados não porque as pessoas merecessem, mas porque eram essenciais para a melhoria da eficiência do trabalhador. As condições de trabalho que mais preocupavam a Administração Científica eram: • adequação de instrumentos e ferramentas de trabalho e de equipamentos de produção para minimizar o esforço do operador e a perda de tempo na execução da tarefa; • arranjo físico das máquinas e equipamentos para racionalizar o fluxo de produção; • melhoria do ambiente de trabalho de maneira que o ruído, a ventilação, a iluminação e o conforto no trabalho não reduzissem a eficiência do trabalhador; Enfoque Clássico e Movimento Humanístico da Administração 41 • projeto de instrumentos e equipamentos especiais como transportadores, seguidores, contadores e utensílios para reduzir movimentos inúteis. Padronização de métodos e de máquinas Para reduzir a variabilidade e a diversidade no processo produtivo, eliminar o desperdício e aumentar a eficiência, a organização racional do trabalho também passou a preocupar-se com a padronização dos métodos e processos, padronização das máquinas e equipamentos, ferramentas e instrumentos de trabalho, matérias-primas e componentes. A padronização conduz à simplificação à medida que a uniformidade reduz a variabilidade e as exceções que complicam o processo. Supervisão funcional A especialização de um operário deve ser acompanhada por uma supervisão, que nada mais é do que a existência de uma pessoa especializada em determinada área que tenha autoridade funcional sobre os subordinados da mesma especialidade funcional. A Administração Funcional consiste em dividir o trabalho de maneira que cada homem, desde o assistente até o superintendente, tenha que executar a menor variedade de funções. A supervisão funcional representa a aplicação da divisão do trabalho e da especialização no nível dos supervisores e chefes. A Administração Funcional é um tipo de organização que permite que especialistas transmitam a cada operário o conhecimento e a orientação. Separa o planejamento do trabalho mental e braçal e permite a utilização do princípio da divisão do trabalho, reduzindo ao mínimo as funções de cada operário. Teoria da Administração Científica busca determinar cientificamente os melhores métodos para a realização de qualquer tarefa e para selecionar, treinar e motivar os trabalhadores. Teoria Clássica As origens da abordagem clássica da Administração remontam às consequências geradas pela Revolução Industrial. O crescimento acelerado e desorganizado das empresas ocasionou uma gradativa complexidade na administração exigindo uma abordagem científica mais apurada para substituir o empirismo e o improviso até então dominantes. Com o aumento da complexidade das empresas, foi preciso substituir as teorias de caráter totalizante e global por teorias microindustriais de alcance médio e parcial, como veremos adiante. Para atender a esse novo perfil de empresa, foi necessário criar condições de planejamento da produção e reduzir a improvisação. Houve aumento da eficiência e da competência das organizações, no sentido de se obter o melhor rendimento possível dos recursos e fazer face à concorrência e à competição que se avolumavam entre as empresas. Com a substituição do capitalismo liberal pelos monopólios, instalou-se nos Estados Unidos, entre 1880 e 1890, a produção em massa, aumentando o número de assalariados nas indústrias, tornando-se necessário evitar o desperdício e economizar mão de obra. Por conta disso, intensificou-se a divisão do trabalho entre os que planejam e os que executam as atividades de trabalho. Os primeiros fixam os padrões de produção, descrevem os cargos, fixam funções, estudam métodos de Administração e normas Enfoque Clássico e Movimento Humanístico da Administração 43 de trabalho, criando condições econômicas e técnicas para o surgimento do Taylorismo nos Estados Unidos e do Fayolismo na Europa. O panorama do início do século XX tinha as características e elementos para inspirar a criação de uma ciência da Administração visto que havia: • uma imensa variedade de empresas com tamanhos diferenciados; • problemas de baixo rendimento dos recursos utilizados; • desperdício de materiais; • insatisfação generalizada entre os operários; • intensa concorrência; • alto volume de perdas por decisões mal formuladas, entre outros. O objetivo fundamental para os engenheiros era desenvolver uma ciência da Administração, cujos princípios, em substituição às leis científicas, pudessem ser aplicados para resolver os problemas das organizações. Para Henri Fayol (1841-1925), a Administração é uma atividade comum a todos os empreendimentos humanos (governo, política, família, negócios, justiça) que exige algum grau de planejamento, organização, comando, coordenação e controle, razão pela qual todos devem estudá-la. Por conta disso, era necessário criar uma Teoria Geral da Administração para que a disciplina pudesse ser ensinada. Henri Fayol foi o principal colaborador da Teoria Clássica. Nascido em Istambul (Turquia), foi com dezessete anos estudar na Escola de Minas em Saint Étiene (França), graduando-se como engenheiro civil de minas em 1860. Engenheiro de minas, expôs sua teoria de administração no livro “Administração Industrial e Geral”, publicado em 1916. Fayol desenvolveu uma teoria para o corpo administrativo da empresa. Daí o nome de Teoria Anatômica. A proposta era dar ênfase à gerência para aprimorar o controle da organização. A preocupação básica de Fayol era aumentar a eficiência da empresa TAYLORISMO [ SAIBA MAIS ] sistema de produção industrial baseadona organização racional do trabalho e na remuneração das pessoas em função da produção alcançada com o qual se procura estimular as pessoas para obter a máxima de produção com alta qualidade e com o mínimo de tempo e de custo. Fonte: LACOMBE, Francisco; HEILBORN, Gilberto. Administração: princípios e tendências. São Paulo: Saraiva, 2004. FAYOLISMO [ SAIBA MAIS ] valorização do “como fazer” em detrimento do “por que fazer”, caracterizando o processo mecanicista da profissão em que os manuais de normas, rotinas e procedimentos técnicos devem especificar e trazer descrições detalhadas dos passos a serem seguidos nas atividades desenvolvidas bem como dos agentes que devem desempenhá-las. Fonte: IMAP, 2013. por meio da forma e disposição dos órgãos competentes da organização (departamentos) e suas inter-relações estruturais. Daí a ênfase na anatomia (estrutura) e na fisiologia (funcionamento) da organização. Nesse sentido, a abordagem da corrente anatômica e fisiológica é uma abordagem inversa à da Administração Científica, ou seja, de cima para baixo (da direção para a execução) e do todo (organização) para as suas partes componentes (departamentos). Nessa corrente de pensamento, foca-se a atenção na estrutura organizacional levando-se em consideração os princípios gerais da Administração e a departamentalização. Há um cuidado com a síntese e com a visão global para que se encontre a melhor maneira de subdividir a empresa, sob centralização de um chefe principal. É uma corrente teórica e administrativamente orientada cuja ênfase na estrutura é a sua principal característica (FELTRIN, 2007). Características da Teoria Anatômica A Teoria Anatômica caracteriza-se por seu enfoque prescritivo e normativo, pois prescreve quais os elementos da administração (funções do administrador) e quais os princípios gerais que o administrador deve adotar em sua atividade. Conforme essa teoria, as funções básicas de uma empresa são: • técnica (produção e manufatura); • comercial (compra, venda e troca); • financeira (procura e utilização de capital); • segurança (proteção da propriedade e das pessoas); • contabilidade (registro de estoques, balanços, custos e estatísticas); • administração (planejamento, organização, comando, coordenação e controle = POC³). Segundo Fayol, a função administrativa tem o encargo de formular o programa de ação geral da empresa. O autor define o ato de administrar como planejar (prever), organizar, coordenar, comandar e controlar e caracteriza esses elementos como formadores do processo administrativo inerentes à atividade do administrador em qualquer nível ou área de atividade da empresa. Sendo cada um desses elementos ou funções definidos da seguinte forma: Enfoque Clássico e Movimento Humanístico da Administração 45 • planejar (prever): visualizar o futuro e traçar o programa de ação; • organizar: pode ser dividida em organização material e social, deve dotar a empresa de todos os utensílios e processos úteis e necessários ao seu funcionamento; • comando: dirigir o pessoal, fazer funcionar; • coordenar: estabelecer a harmonia de funcionamento das atividades. Sincroniza coisas e ações e adapta os meios aos fins; • controlar: consiste em verificar se as coisas estão sendo executadas conforme planejadas. Para Fayol, as funções administrativas são distribuídas proporcionalmente entre todos os níveis hierárquicos da organização. À medida que se desce o nível hierárquico, aumenta a proporção das outras funções da empresa e, à medida que se sobe, aumenta a extensão e o volume das funções administrativas, conforme se pode observar na figura a seguir: Funções Administrativas Prever Organizar Comandar Coordenar Controlar Outras Funções não-administrativas MAIS ALTOS MAIS BAIXOS Fonte: CHIAVENATO (2004). Fayol completa sua teoria com a proposição de 14 princípios que devem ser seguidos para que a administração seja eficaz (veja no quadro a seguir): Princípios de Fayol 1. Divisão do trabalho Designação de tarefas específicas para cada indivíduo, buscando a especialização para aumentar a produção. 2. Autoridade e responsabilidade O direito de mandar e poder se fazer obedecer ao mesmo tempo em que o chefe assume responsabilidades. 3. Disciplina Obediência, assiduidade, atividade e o respeito aos demais acordos que se estabelecem entre os agentes da organização e ela própria. 4. Unidade de comando Para execução de qualquer ato, os agentes devem receber ordens de apenas um chefe. Com isso, busca-se evitar a dualidade de comando e os consequentes conflitos. 5. Unidade de direção Existência de um único programa sob responsabilidade de um único chefe para operações ou tarefas que visam a um mesmo fim. 6. Subordinação do interesse particular ao geral Os interesses da empresa estão acima dos interesses individuais. 7. Remuneração pessoal O trabalho deve ir além do salário, é preciso que haja distribuição de prêmios, participação em lucros e oferecimento de subsídios para que de fato aconteça o aumento da produtividade. 8. Centralização Seu grau deve variar de acordo com o tipo de empresa e a capacidade do chefe. 9. Hierarquia Cadeia de comando, escala de autoridade desde o primeiro ao último nível da empresa. 10. Ordem Cada coisa no seu devido lugar, um lugar para cada pessoa e cada pessoa no seu devido lugar. 11. Equidade Tratamento justo e benevolente com as pessoas, não excluindo o rigor e a energia quando necessários. 12. Estabilidade pessoal A rotatividade de pessoal é prejudicial para a especialização das pessoas. Quanto mais tempo uma pessoa permanecer no cargo, mais tempo ela tem para aprender suas funções e realizá-las de forma apreciável. 13. Iniciativa Liberdade de propor e de executar, a capacidade de visualizar um plano e assegurar o sucesso. Deve ser estimulada principalmente em momentos de crises. 14. União pessoal Convergência de esforços, espírito de equipe. Enfoque Clássico e Movimento Humanístico da Administração 47 Fayol e seus seguidores concebem a organização como se fosse uma estrutura, tal pensamento reflete a influência de antigas organizações militares ou eclesiásticas com elementos tradicionais e hierarquizados. Os autores partem da concepção de escala de autoridade para caracterizar a divisão do trabalho. A ideia é a de que as organizações com maior divisão do trabalho são mais eficientes do que as com menor divisão. Dessa forma, a preocupação da Teoria Clássica era com a divisão no nível dos órgãos que compõem a organização, como departamentos, divisões, seções e unidades. Essa divisão do trabalho pode acontecer verticalmente, conforme os níveis hierárquicos, definindo- se os escalões da organização e seus níveis de autoridade ou horizontalmente, pelos tipos de atividades da organização, sendo cada departamento ou seção, de um mesmo nível hierárquico, responsável por uma atividade específica. Confronto das ideias de Taylor e Fayol A figura a seguir mostra o confronto de ideias de Taylor e Fayol: Taylor Teoria Clássica Administração Científica Ênfase nas tarefas Através do aumento da eficiência no nível operacional, buscava aumentar a eficiência da empresa Fayol Teoria Clássica Ênfase na estrutura Aumentar a eficiência através da forma e disposição dos componentes da organização e suas interrelações Fonte: CHIAVENATO (2004). Segundo Chiavenato (2004), a Teoria Clássica apresenta alguns pontos críticos: • abordagem simplificada da organização formal, não considera os aspectos psicológicos e sociais das organizações; • ausência de trabalhos experimentais, os conceitos são fundamentados na observação e no senso comum, não confrontam a teoria com elementos de prova; • excesso de racionalismo na concepção da Administração; • Teoria da Máquina; • abordagem incompleta da organização; • a organização como sistema fechado. É possível identificar as diferentes visões destes grandes pensadores,como ilustra o seguinte quadro: Frederick Taylor Administração Científica Henry Ford Linha de montagem Henri Fayol Processo de administração Aplicação de métodos de pesquisa para identificar a melhor maneira de trabalhar. Seleção e treinamento científicos de trabalhadores. Especialização do trabalhador. Fixação do trabalhador no posto de trabalho. Trabalho (produto em processo de montagem) passa pelo trabalhador. Administração da empresa é distinta das operações de produção. Administração é o processo de planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar. Fonte: MAXIMIANO (2011) Enfoque Clássico e Movimento Humanístico da Administração 49 Abordagem humanística da Administração A abordagem humanística começou logo após a morte de Taylor, em 1915, mas foi somente a partir da década de 1930 que encontrou aceitação nos Estados Unidos, principalmente, por suas características democráticas. Com a abordagem humanística da Administração, a teoria administrativa passa por uma revolução conceitual: a transferência da ênfase na tarefa que era dada pela Administração Científica, e na estrutura organizacional da Teoria Clássica, para a ênfase nas pessoas que trabalham nas organizações. Teoria das Relações Humanas (TRH) A Teoria das Relações Humanas, também denominada Escola Humanística da Administração, surgiu nos Estados Unidos como consequência imediata das conclusões obtidas na experiência de Hawthorne, desenvolvida por Elton Mayo e seus colaboradores, como um movimento de reação e oposição à Teoria Clássica da Administração. As origens da Teoria das Relações Humanas remontam quatro pontos em especial: • a necessidade de humanizar e democratizar a Administração, libertando-a dos conceitos rígidos e mecanicistas da Teoria Clássica e adequando-a aos novos padrões de vida do povo americano. Nesse sentido, revelou- se um movimento tipicamente americano e voltado para uma democratização dos conceitos administrativos; • o desenvolvimento das chamadas ciências humanas, principalmente a Psicologia e a Sociologia bem como a sua crescente influência intelectual e suas primeiras tentativas de aplicação à organização industrial. As Ciências Humanas, gradativamente, passaram a demonstrar a inadequação dos princípios da Teoria Clássica; • as ideias da Filosofia pragmática de John Dewey e da Psicologia Dinâmica de Kurt Lewin foram - fundamentais para o fortalecimento da abordagem humanistica na Administração. Elton Mayo é considerado o fundador da escola. Dewey, indiretamente, e Lewin, mais diretamente, também contribuíram para sua concepção; • as conclusões da experiência de Hawthorne, desenvolvida entre 1927 e 1932, sob a coordenação de Elton Mayo, pondo em xeque os principais postulados da Teoria Clássica da Administração. Elton Mayo, concluiu que: • as pessoas e suas motivações são essenciais para a empresa; • existe elo entre o moral e a produção; • o comportamento dos operários é ditado pela lógica do sentimento, • o comportamento dos patrões é comandado pela lógica do custo e da eficiência. A experiência de Hawthorne A experiência de Hawthorne coordenada por Elton Mayo entre 1927 e 1932, foi realizada pelo Conselho Nacional de Pesquisas (EUA) na fábrica de Hawthorne da Western Eletric Company, situada em Chicago. Tinha como objetivo avaliar a correlação entre iluminação e a eficiência dos operários que era medida por meio da produção. O objetivo do trabalho foi estendido e estudou também a fadiga, os acidentes de trabalho, a rotatividade de pessoal e o efeito das condições de trabalho sobre a produtividade das pessoas. Nessa pesquisa, o elemento surpresa e as dificuldades foram consideradas variáveis de natureza psicológica. Conclusões da experiência de Hawthorne Dentre as principais conclusões da experiência de Hawthorne, têm- se (CHIAVENATO, 2004): • Nível de produção é resultante da integração social: o nível de produção não é determinado pela capacidade física ou fisiológica do empregado, como postulava a Teoria Clássica, mas por normas sociais e expectativas grupais. É a capacidade social do trabalhador que determina o seu ELTON MAYO [ SAIBA MAIS ] (1880-1949) foi psicólogo e professor em Harvard. Conduziu nos ateliers Hawthorne da Western Electric de Chicago uma série de experiências científicas que o levaram a conclusão que o simples fato de se interessar pelos trabalhadores, dá aos mesmos motivação. Enfoque Clássico e Movimento Humanístico da Administração 51 nível de competência e eficiência e não sua capacidade de executar movimentos eficientes dentro do tempo estabelecido. Desse modo, quanto maior a integração social no grupo de trabalho, maior é a disposição de produzir. • Comportamento social dos empregados: o comportamento do indivíduo se apoia totalmente no grupo. Os trabalhadores não agem ou reagem isoladamente como indivíduos, mas como membros de grupos. A qualquer desvio das normas grupais, o trabalhador sofre punições sociais ou morais dos colegas, no intuito de se ajustar aos padrões do grupo. Isso significa que a administração não pode tratar os empregados um a um, como se fossem átomos isolados e sim como membros de grupo e sujeitos às influências sociais. • Recompensas e sanções sociais: o comportamento dos trabalhadores está condicionado a normas e padrões sociais. Os operários que produziam muito acima ou abaixo da norma socialmente determinada perdem a afeição e a consideração dos colegas. Os operários preferiam então produzir menos e ganhar menos, a por em risco as suas relações amistosas com os colegas. Os precursores da Administração Científica, baseados no conceito do Homo Economicus, pelo qual o homem é motivado e incentivado por estímulos salariais, elaboravam planos de incentivo salarial para elevar a eficiência e baixar os custos operacionais. No entanto, para a Teoria das Relações Humanas, a motivação econômica é secundária na determinação do rendimento do trabalho, pois as pessoas são motivadas pela necessidade de reconhecimento, de aprovação social e de participação nas atividades dos grupos sociais nos quais convivem. • Grupos informais: ao contrário dos autores clássicos, os humanistas concentravam-se nos aspectos informais da organização, como grupos, comportamento social dos empregados, crenças, atitudes, expectativa e motivação. A empresa passou a ser vista como uma organização social composta de grupos sociais informais cuja estrutura nem sempre coincide com a organização formal da empresa. • Relações humanas: as relações humanas são as ações e atitudes desenvolvidas a partir dos contatos entre pessoas e grupos. Cada pessoa possui uma personalidade própria que a diferencia e que influi no comportamento e atitude das outras pessoas com quem mantém contato. O comportamento das pessoas é influenciado pelas atitudes e normas informais existentes nos grupos dos quais participa. É dentro da organização que surgem as oportunidades de relações humanas devido ao grande número de grupos e interações resultantes. • Importância no conteúdo do cargo: Mayo e seus colaboradores verificaram que os operários trocavam de posição para variar e evitar a monotonia, o que contrariava a política da empresa. Essas trocas provocavam efeitos negativos na produção, mas elevavam a moral do grupo. Verificou-se, então, que o conteúdo e a natureza do trabalho têm influência sobre a moral do trabalhador. Trabalhos simples e repetitivos tornam-se monótonos e maçantes afetando negativamente a atitude do trabalhador e reduzindo a sua satisfação e eficiência. • Ênfase nos aspectos emocionais: os elementos emocionais não planejados e irracionais do comportamento humano merecem atenção especial da Teoria das Relações Humanas. Com a Teoria das Relações Humanas, uma nova linguagem passa a dominar o repertório administrativo: fala-se agora em motivação, liderança, comunicação, organização informal, dinâmica de grupo
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