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Curso de interpretação BíBliCa (Bíblia Fácil) interpretação Bíblica - ETaVi Índice Os 10 Princípios Básicos da interpretação da bíblica ............... 3 divisão judaica da Bíblia .................................................................. 5 O novo testamento para os judeus ............................................... 7 divisão da Bíblia protestante ........................................................ 13 composição da Bíblia católica ....................................................... 18 O pensamento e diferenças das escolas de Alexandria e de Antioquia ............................................................... 20 As figuras de linguagem .................................................................. 33 esquemas das escolas: Marlon Ronald Fluck ............................. 40 3 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio Os 10 Princípios Básicos da interpretação da bíblica: Eis aqui os dez princípios que devem ser seguidos por quem deseja interpretar correta- mente a Bíblia: 1° – denomina-se princípio da unidade escriturística. Sob a inspiração divina a Bíblia ensina apenas uma teologia. Não pode haver diferença doutrinária entre um livro e outro da Bíblia. 2° – deixe a Bíblia interpretar a própria Bíblia. este princípio vem da Reforma Protestante. 3° – Jamais esquecer a Regra Áurea da interpretação, Chamada por Orígenes de Analogia da Fé. O texto deve ser interpretado através do conjunto das Escrituras e nunca através de tex- tos isolados. 4° – Sempre ter em vista o contexto. Ler o que está antes e o que vem depois para concluir aquilo que o autor tinha em men- te. 5° – Primeiro procura-se o sentido literal A menos que as evidências demonstrem que este é figurado. 6° – Ler o texto em todas as traduções possíveis – antigas e modernas Muitas vezes uma destas traduções nos traz luz sobre o que o autor queria dizer 4Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi 7° – Apenas um sentido deve ser procurado em cada texto. 8° – O trabalho de interpretação é científico, por isso deve ser feito com isenção de ânimo e desprendido de qualquer preconceito. (o que poderíamos chamar de “achismos”). 9° – Aprender a ler cuidadosamente o texto Fazer algumas perguntas relacionadas com a passagem para chegar a conclusões circuns- tanciais. Por exemplo: A) – Quem escreveu? B) – Qual o tempo e o lugar em que escreveu? C) – Por que escreveu? D) – A quem se dirigia o escritor? E) – O que o autor queria dizer 10° – Feita a exegese Se o resultado obtido contrariar os princípios fundamentais da Bíblia, ele deve ser coloca- do de lado e o trabalho exegético recomeçado novamente. 5 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio divisão judaica da Bíblia De acordo coma tradição dos judeus a Bíblia Judaica é composta de 24 livros que se agru- pam em 3 conjuntos: A Lei ou Instrução (de Moisés), Os Profetas e Os Escritos. Os livros de 1 e 2 Samuel, são reunidos em um só livro, e 1 Reis e 2 Reis, também são considerados um só livro, assim como os 12 profetas “menores” estão em um só livro - “Os 12 profetas”. A ordem da Bíblia Judaica é apresentada conforme abaixo: i. TORÁ ou inSTRUÇÃO de MOiSÉS também conhecido como Lei (5 livros): • Gênesis • Êxodo • Levítico • Números • Deuteronômio ii. PROFeTAS ou neViiM (total de 8 livros subdivididos em dois grupos): Profe- tas Anteriores (4 livros): • Josué • Juízes • Samuel • Reis Profetas Posteriores (4 livros): • Isaías • Jeremias • Ezequiel • Os 12 Profetas (menores): Oséias, Naum, Joel, Habacuque, Amós, Sofonias, Abdias, 6Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi Ageu, Jonas, Miquéias, Zacarias, Malaquias. iii. eScRiTOS ou KeTHUViM (total de 11 livros subdivididos em quatro gru- pos): Livros da Verdade (Poéticos) – 3 livros • Salmos • Provérbios • Jó Os 5 Rolos (5 livros ou rolos) • Cantares • Rute • Lamentações • Eclesiastes • Ester • Profético (1 livro) • Daniel O Resto dos escritos (2 livros) • Esdras-Neemias • Crônicas 7 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio O novo testamento para os judeus O Antigo Testamento contém os livros que norteiam a fé judaica. A origem do Povo he- breu, suas andanças sua organização como povo. O aparecimento dos profetas os livros que narram as orações do povo hebreu, os salmos etc. O Novo Testamento, tem outro sentido e narra uma outra história. Em seus 27 livros encontramos os 4 evangelhos, Ma- teus, Marcos, Lucas e João, os Atos dos Apóstolos, as 14 cartas Paulina e as outras 7 cartas terminando com o apocalipse. Esta literatura, não diz nada para que tem a fé judaica, não acreditam em Jesus, no máximo como um profeta, mas não filho de Deus, e não aceitam sua doutrina. A caminhada da Igreja nascente mostra nas 21 cartas os revezes das primei- ras comunidades, com respeito aos judeus. No Novo Testamento aparece no máximo as controvérsias de Jesus com os Judeus em especial os fariseus e nas cartas a perseguição dos judaizantes aos cristãos e judeus que se converteram ao cristianismo. Podemos dizer que para os judeus fiéis à Bíblia judaica e à lei, nada diz respeito a eles a mensagem de Jesus, nem a pertença a seu grupo. A não ser que haja conversão. Elas existem, mas são raras. Porque os judeus não acreditam em Jesus? Por séculos os judeus foram perseguidos por sua fé e pratica religiosa. Muitos tentaram impor suas ideias e aniquilar o judaísmo. Nem as cruzadas nem a inquirição implacável, nem os pogroms conseguiram manipular as almas judaicas cumprindo o seu intento. A chama do judaísmo A história comprova; os judeus vivem rejeitando o cristianismo. Porque? Porque somos simplesmente judeus, nascemos e vivemos o judaísmo e temos nossas pró- prias convicções. Mas quando judeus são seguidamente questionados, sobre esta ques- tão e não-judeus frequentemente perguntam; Porque os judeus não acreditam em Jesus? Preparamos alguns argumentos com o objetivo de não depreciar outras religiões, pois respeitamos a todos e por esta razão não fazemos proselitismo, mais sim apenas para esclarecer a posição judaica. 8Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi Veja a seguir as repostas dos judeus que justificam o fato de eles não crêem em Jesus 1. Jesus não preencheu as profecias messiânicas, o que a Torá diz acerca do Messias a) Construirá o terceiro templo sagrado B) Levará todos os judeus de volta a terra de Israel C) Introduzira uma era de paz mundial, e terminará com o ódio, opressão, sofrimento e doenças. Como esta escrito; Nação não erguera a espada contra nação, nem o homem aprendera a guerra D) Divulgara o conhecimento universal sobre o Deus de Israel – unificando toda a raça humana como uma só. Como esta escrito; Deus reinará sobre todo o mundo – naquele dia, Deus será um e o seu nome será um (Zc 14.9). O fato histórico é que Jesus não pre- encheu nenhuma destas profecias messiânicas 9 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio 2. O Cristianismo contradiz a teologia judaica A) Pai, Filho e espírito Santo, A teologia cristã apresenta Deus revelado na trindade (Mt 28.19). Compare isso com a base da fé judaica; “Ouve, ó Israel, o Eterno nosso Deus, o Senhor é o Único (Dt 6.4). Os judeus declaram a unicidade de Deus todos os dias, escrevendo-a sobre os batentes das portas, e atando-a à mão a cabeça. Esta declaração de unicidade de Deus são as primeiras palavras que uma criança judia aprende a falar, e as ultimas palavras pronunciadas antes de morrer. Na lei judaica, adorar um deus em três partes e considerado idolatria – um dos três pecados cardeais, que o judeus preferem desistir da vida a transgredir. Isto explica porque durante as Inquisições e através da história, os judeus desistiram da vida para não se converterem B) Um homem como deus Os cristãos acreditam que Deus veio à terra em forma humana comodisse Jesus “Eu e o Pai somos um (Jó 10;30). Maimônides devota a maior parte do “Guia para os perplexos” a ideia fundamental que Deus é incorpóreo, significando que ele não assume forma física. Deus é eterno acima do tempo. É infinito além do espaço. Não pode nascer, e não pode morrer. Dizer que Deus assume forma humana torna Deus pequeno, diminuindo tanto a sua unidade como a sua Divindade. Como diz a Torá: “Deus não é um mortal”. O judaísmo diz que o messias nascera de pais humanos, com atributos físicos normais, como qualquer outra pessoa. Não será um semi-deus, e não possuirá qualidades sobrenaturais. De fato, em cada geração vive um indivíduo com a capacidade de se tornar o Messias (Maimôni- des – Leis dos Reis 11.3) c) Um intermediário para a oração? • Uma ideia básica na crença crista que a prece deve ser dirigida através de um interme- diário – i, e., confessando-se os pecados a um padre. O próprio Jesus é um intermediário, pois disse: “Nenhum um homem chega ao Pai a não ser através de mim”. No judaísmo, a prece é assunto totalmente particular, entre cada pessoa e Deus. A Torá diz: Deus esta perto de todos que clamam por ele Sl 145.18. Alem disso os 10 mandamentos declaram: Não terá outros deuses diante de mim, significando que é proibido colocar um mediador 10Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi entre Deus e o homem (Maimônides – Leis da Idolatria cap 1) d) envolvimento no mundo físico O Cristianismo frequentemente trata o mundo físico como um mal a ser evitado. Maria, a mais sagrada mulher cristã para os católicos, é retratada como uma virgem. Padres e frei- ras são celibatários. E os mosteiros estão em locais remotos e segregados. Em contraste, o Judaísmo acredita que Deus criou o mundo físico não para nos frustrar, mas para nosso prazer. A espiritualidade judaica vem através do envolvimento no mundo físico de manei- ra tal que ascenda e eleve. O sexo no contexto apropriado é um dos atos mais sagrados que podemos realizar. O Talmud diz que se uma pessoa tem a oportunidade de saborear uma nova fruta e recusa-se a fazê-lo, terá de prestar contas por isso no Mundo Vindouro. As escolas rabínicas ensinam como viver entre o alvoroço da atividade comercial. Os ju- deus não se afastam da vida, elevam-na. 3. Jesus não personifica as qualificações pessoais do Messias A) Messias como profeta Jesus não foi um profeta. A profecia apenas pode existir em Israel quando a terra for habitada por uma maioridade de judeus. Durante o tempo de Ezra (cerca de 300 AEC), a maioria dos judeus recusou-se a mudar da Babilônia para Israel, e assim a profecia termi- nou com a morte dos três últimos profetas - Chagai, Zecharyá e Malachi. Jesus apareceu em cena aproximadamente 350 anos após a profecia ter terminado. B) descendente de david O Messias deve ser descendente do Rei David pelo lado paterno (veja Bereshit 49:10 e Yeshayáhu 11:1). Segundo a reivindicação cristã que Jesus era filho de uma virgem, não tinha pai - e dessa maneira não poderia ter cumprido o requerimento messiânico de ser descendente do Rei David pelo lado paterno! 11 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio c) Observância da Torá O Messias levará o povo judeu à completa observância da Torá. A Torá declara que todas as mitsvot permanecem para sempre, e quem quer que altere a Torá é imediatamente identificado como um falso profeta. (Devarim 13:1-4). No decorrer de todo o Novo Testa- mento, Jesus contradiz a Torá e declara que seus mandamentos não se aplicam mais. (veja João 1:45 e 9:16, Atos 3:22 e 7:37). 4) Versículos Bíblicos “referindo-se” a Jesus são traduções incorretas Os versículos bíblicos apenas podem ser entendidos estudando-se o texto original em hebraico - que revela muitas discrepâncias na tradução cristã. A - nascimento virgem A idéia cristã de um nascimento virgem é extraído de um versículo em Yeshayáhu des- crevendo uma “alma” que dá à luz. A palavra “alma” sempre significou uma mulher jovem, mas os teólogos cristãos séculos mais tarde traduziram-na como “virgem”. Isto relaciona o nascimento de Jesus com a idéia pagã do primeiro século, de mortais sendo impregnados por deuses. B - crucifixão O versículo em Tehilim 22:16 afirma: “Como um leão, eles estão em minhas mãos e pés.” A palavra hebraica ka’ari (como um leão) é gramaticalmente semelhante à palavra “ferir muito”. Dessa maneira o Cristianismo lê o versículo como uma referência à crucifixão: “Eles furaram minhas mãos e pés.” 5) A cRenÇA JUdAicA É BASeAdA nA ReVeLAÇÃO nAciOnAL Das 15.000 religiões na História Humana, apenas o Judaísmo baseia sua crença na reve- lação nacional - i.e., Deus falando a toda a nação. Se Deus está para iniciar uma religião, faz sentido que Ele falará a todos, não apenas a uma pessoa. O Judaísmo, é a única entre todas as grandes religiões do mundo que não confia em “rei- 12Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi vindicações de milagres” como base para estabelecer uma religião. De fato, a Torá afirma que Deus às vezes concede o poder de “milagres” a charlatães, para testar a lealdade ju- daica à Torá (Devarim 13:4). Maimônides declara (Fundações da Torá, cap. 8): “Os Judeus não creram em Moshê (Moisés), nosso mestre, por causa dos mila- gres que realizou. Sempre que a crença de alguém baseia-se na contemplação de milagres, tem dúvidas remanescentes, porque é possível que os milagres tenham sido realizados através de mágica ou feitiçaria. Todos os milagres realizados por Moshê no deserto aconteceram porque eram necessários, e não como prova de sua profecia. “Qual era então a base da crença judaica? A revelação no Monte Sinai, que vimos com nossos próprios olhos e ouvimos com nossos ouvidos, não dependendo do testemunho de outros... como está escrito: ‘Face a face, Deus falou com vocês...’ A Torá também declara: ‘Deus não fez esta aliança com nossos pais, mas conosco - que hoje estamos todos aqui, vivos.’ (Devarim 5:3).” O Judaísmo não são os milagres. É o testemunho da experiência pessoal de todo homem, mulher e criança. 13 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio divisão da Bíblia protestante Começaremos pelo antigo testamento 1 – Pentateuco ou torá – são os livros da lei É compostos pelos cinco primeiros livros da Bíblia e estão dispostos em ordem cronoló- gica. São eles: • Gêneses • Êxodo • Levítico • Números • Deuteronômio 2 – Livros históricos Este grupo de livros é composto por 12 livros que relatam toda a história de Israel, desde a entrada até a conquista da terra prometida Canaã. Também estão em ordem cronológi- ca. São eles: • Josué • Juízes • Rute • I e II Samuel • I e II Reis • I e II Crônicas • Esdras • Neemias • Ester 14Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi 3 - Livros poéticos • Composto por 5 livros, sendo estes escritos em forma de cânticos ou literatura poé- tica. Estes não estão organizados cronologicamente e sim pela sua relevância. São eles: • Jó • Salmo • Provérbios • Eclesiastes • Cantares 4 – Profetas maiores São 5 livros que relatam a história dos profetas que mais profetizaram na história de Isra- el. Estão expostos em ordem de relevância e não em cronológica. São eles: • Isaías • Jeremias • Lamentações • Ezequiel • Daniel 15 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio 5 – Profetas menores Este é o último grupo de livros do antigo testamento e está dividido em 12 livros que contam a história e ministérios de 12 grandes profetas de Israel. • Oséias • Joel • Amós • Obadias • Jonas • Miquéias • Naum • Habacuque • Sofonias • Ageu • Zacarias • Malaquias Como é organizado o novo testamento? Este é formado por 4 grupos de livros que são: 1 – evangelhos • Composto por 4 livros que narram a passagem de Jesus na terra, desde o seu nasci- mento, obra, ministério, redenção até asua ascensão aos céus. São eles: • Mateus • Marcos • Lucas • João 16Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi 2 – Histórico • Composto por apenas um livro que conta a história dos apóstolos e instituição da primeira igreja cristã na terra, a igreja primitiva. É ele: • Atos dos apóstolos 3 – epístolas ou cartas São Cartas escritas pelos apóstolos e direcionadas às igrejas de várias cidades, nações e continentes da terra. São um total de 21 cartas, sendo 13 escritas pelo apóstolo Paulo e 8 escritas por autores diversos. Estes livros estão organizados em ordem cronológica, sendo que as primeiras são as 13 do apóstolo Paulo. São elas: • Romanos • I e II Coríntios • Gálatas • Efésios • Felipenses • Colossenses • I e II Tessanolossenses • I e II Timóteo • Tito • Filemon 17 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio Na sequência vem as outras 8 que são de autores diversos: Que são: • Hebreus • Tiago • I e II Pedro • I, II e III João • Judas 4 – Revelações ou apocalipse Este grupo é composto por penas um livro que trás toda a revelação dos últimos aconte- cimentos da igreja aqui na terra. É ele: • Apocalipse A Bíblia é uma biblioteca de livros muito bem organizada e é de suma importância conhe- cer a sua formação ter uma melhor compreensão das revelações de Deus. 18Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi composição da Bíblia católica Vamos apresentar a composição da Bíblia católica, usada desde os Apóstolos, pelos San- tos Padres, pelos santos Doutores, e por toda a Igreja. Ela é composta de 73 livros, con- tando Lamentações e Jeremias separados. São 46 Livros do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento. A. Antigo Testamento das Origens aos Reis - 7 Livros: • Gênesis, Exôdo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué e Juízes. dos Reis de israel e o exílio - 7 Livros: • Rute, Samuel I, Samuel II, Reis I, Reis II, Crônicas I e Crônicas II. Fatos após o exílio na Babilônia - 7 Livros: • Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, Macabeus I e Macabeus II. Livros Sapienciais - ensino e Oração - 7 Livros: • Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos, Eclesiástico (ou Sirac) e Sabedoria. Profetas Maiores - Pregações - 6 Livros: -Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel e Daniel. Profetas Menores - 12 Livros: • Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zaca- rias, Malaquias. 19 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio B. novo Testamento evangelhos e Atos dos Apóstolos - 5 Livros: • Mateus, Marcos, Lucas, João e Atos dos Apóstolos. cartas de São Paulo - 14 Livros: • Carta aos Romanos, Coríntios I e II, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, Tessa- lonicenses I e II, Timóteo I e II, Tito, Filemon, Hebreus. (atribuição da carta aos hebreus a Paulo) cartas dos outros Apóstolos - 8 Livros: • Carta de Tiago, Pedro I e II, João I , II e III, Judas, Apocalipse. no período interbíblico se começa a interpretar a Bíblia Exatamente a Bíblia judaica Perido do exílio ou pós exílio Para interpretar o antigo testamento precisamos entender como eles pensavam na época Durante o exílio se forma as correntes de pensamentos encontradas nos dias de Jesus • Fariseus Paulo era fariseu • Escribas • Saduceus • Rabinos mestres do Judaísmo Exegetas do judaísmo Método de interpretação Mais influencias 20Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi “O PenSAMenTO e diFeRenÇAS dAS eScOLAS de ALeXAndRiA e de AnTiOQUiA” A escola de Alexandria prezava por uma interpretação alegoria O termo alegoria procede da combinação de dois termos gregos, allos, isto é, “outro”, e agoreyo, “falar”, ou “proclamar”. Literalmente significa “dizer uma coisa que significa ou- tra” 1. Origenes 2. Clemente 3. Tertuliano 4. Cirilo 5. Cipriano 6. Augustinho A escola de antioquia prezava por uma interpretação literal Esta escola surge para corrigir os erros praticados pela escola de Alexandria 1. Luciano 2. Gregoria 21 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio 1. A eScOLA de ALeXAndRiA Nos primórdios do século III a Igreja Alexandrina se desenvolve extraordinariamente e toma novos rumos. A literatura do anterior se encontrava profundamente atingida pela luta contra os perseguidores eclesiásticos. Dentro de uma nova orientação, uns escritores se empenham com afinco no combate e no ataque contra as bruxas, lançando as bases para a edificação de uma teologia mais elaborada, preparando racionalmente a abertura para um estudo científico da revelação. Até então, nenhum escritor cristão havia consi- derado o conflito da doutrina cristão como um todo, nem apresenta-lo de maneira siste- mática. A medida que a nova religião se propagava pelo mundo antigo, cada vez mais se fazia necessária a exposição das crenças de maneira ordenada, completa e exata. Quanto mais crescia o número de convertidos nas classes cultas, tanto mais importante se fazia a necessidade de dar a estes catecúmenos uma instrução a altura de seu meio ambiente e de formar mestres para este fim. Assim foi que nasceram as escolas teológicas, berço da ciência sagrada. Foi em Alexandria onde nasceu helenismo: a fusão de culturas oriental, egípcia e grega deu origem a uma nova civilização. A cultura judaica também encontrou ai terreno propício, onde o pensamento aludiu mais profundamente a mentalidade hebraica, dando origem a septuaginta. Quando o cristianismo se estabeleceu na cidade, nos fins do século I, entrou em contato com todos estes elementos. Consequentemente, surgiu a necessidade da fundação da Escola Teológica. Alexandria era Igreja numerosa, agitada, efervescente. 1.1. PeRSPecTiVA TeOLÓGicA. A escola de Alexandria é o centro mais antigo das ciências sagradas na história do cristia- nismo. O meio em que se desenvolveu lhe imprimiu traços característicos: interesse pela investigação metafísica do conteúdo da fé, preferência pela filosofia de Platão e a inves- tigação alegórica das Sagradas Escrituras. O método alegórico havia sido utilizado desde há muito tempo pelos filósofos gregos na interpretação dos mitos e fábulas dos deuses, que parecem em Homero e Hesíodo. Segundo Fílon, o sentido literal da Sagrada Escritura é tão somente o que a sombra é em relação ao corpo. A autentica verdade esta no sentido alegórico mais profundo. Os pen- 22Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi sadores cristãos de Alexandria adotaram este método, porque estavam convencidos de que a interpretação literal é indigna de Deus. Sem alegoria, nem a teologia nem a exegese teriam realizado os enormes avanços que conseguiam. Os mesmos pensadores encontra- ram nos escritos paulinos a colaboração da aplicabilidade alegórica na interpretação do Antigo Testamento. Os membros da Escola de Alexandria contou com valiosa colaboração de famosos alunos e professores. Entre eles citamos Clemente, Origenes, Dionisio, Ata- násio e etc. ORÍGeneS PERSPECTIVA TEOLÓGICA: Na Escola Antioquina, o objetivo da investigação escriturísti- ca era descobrir o sentido mais óbvio. Uma parte acusava o método alegórico de destruir o valor da Bíblia como história do passado convertendo-a numa fábula mitológica; a outra chamava “carnais” aqueles que se apagavam a uma letra. Tal Escola estabeleceu como princípio fundamental não reconhecer no Antigo Testamento, figuras de Cristo apenas ocasionalmente. Uma prefiguração do Senhor ali só era admitida se houvesse semelhança notória e clara analogia. A diversidade metodológica nada mais era do que um reflexo da filosofia grega. Seu rea- lismo e empirismo eram influenciados por Aristóteles, pretendendo ser uma escola racio- nalista, o que lhe induziu a certas heresias. 1.2. cLeMenTe Clemente quis colocar o conhecimento pagão ao serviço da compreensão da Bíblia. E entre as diversa ciências como aritmética, música,física etc., ele destaca a filosofia como sendo a mais importante. A filosofia permite ao cristão não só descobrir os erros filosófi- cos muitas vezes apresentados, como também ajuda a precisar o conteúdo da fé e permi- te elevar o nível de seu conhecimento. Um dos aspectos a partir do qual as obras de Clemente não muitas vazes analisadas, sua atitude em relação a filosofia grega. Num período em que os cristãos mostravam uma hostilidade para com a cultura grega, Clemente foi um dos primeiros a defendê-la e mes- mo valorizá-la. A grande conquista de Clemente é a de ter sido o fundador da teologia especulativa. Sua obra é dirigida a um público de elevado nível cultural notabilizando-se 23 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio pela confiança na palavra transmitida oralmente. Procura ser o mais obscuro possível em seus escritos temendo a distorção de seus ensinamentos. Conhecedor da obra de Fílon, influenciado pelo pensamento grego, Judaico-Alexandriaco e Judaico-Cristão, suas obras são fortemente marcadas pelo gnosticismo, se opondo ao gnosticismo herético e aperfei- çoando um gnosticismo cristão ortodoxo, respeitando profundamente a tradição, relacio- nando a identidade de Deus do Antigo com o do Novo Testamento. Defende a teoria de que se pode ser cristão sem nenhuma cultura, mas este precisa ser possuidor de uma cer- ta dialética filosófica para assimilar o conteúdo doutrinário e inteligível da verdade cristã. Isto é, seu sistema teológico está dominado pela doutrina do Logos que forma a Trindade junto com o Pai e Espírito, o que explica seu fracasso já que a teologia está dominada pela idéia de Deus e não pela de Logos. Eclesiologicamente concebe a hierarquia eclesial em três estratos: episcopado, presbite- rado e diaconato. Considera a Igreja como a única Virgem-Mãe e afirma que se distingue das seitas heréticas - na sua opinião o maior obstáculo para a conversão dos judeus e pagãos pela sensação de divisão que criam - por sua unidade e antigüidade. Declara que o batismo Suas obras se caracterizam pelo esforço de conduzir o pagão à conversão. Na exortação aos gregos sugere uma progressiva descoberta de deus. Voltado para o mundo grego apresenta a filosofia revestida de um caráter profético para a descoberta do Logos. Deixa claro que a verdade chega aos bárbaros pela filosofia. É através dela que eles ad- quirem o conhecimento de Deus e o seu perdão. O que fora a lei para os judeus, fora a filosofia para os gregos; a benevolência de Deus não se restringe aos judeus. Para que a ação do verbo seja eficaz ela necessita do conhecimento do homem. A razão humana é o elo pelo qual o sagrado se comunica ao homem. Mas para que haja tal comunicação o homem deve estar aberto a mensagem de Cristo e empenhado no seu conhecimento. Para ele a gnose é a realização da pessoa em todas as suas dimensões. A vida e as palavras e conformadas em si mesmas em sua referência ao verbo divino. É o desabrochar da fé em harmonia perfeita com a vida. A fé é uma força propulsora a um aprofundamento dos conhecimentos dos cristãos. Todavia, ela só existe se a razão possui a firme convicção de sua verdade. A escola de Alexandria atingiu seu apogeu com Origines, um dos mais ilus- tres pensadores de todos os tempo. Primogênito de uma numerosa prole cristã, recebeu desde cedo uma esmerada formação não só profana mas também religiosa. Órfão de pai, ainda muito jovem, se viu obrigado a dedicar-se ao ensino para garantir o sustento da fa- mília. A frente da famosa escola de catecúmenos, atraiu para a cidade um grande número 24Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi de discípulos movidos não apenas pelos seus ensinamentos, mas principalmente pelo seu exemplo de vida. Em relação com a doutrina da Divindade, Orígenes utilizou freqüente- mente o termo “trindade”, repelindo o modalismo que não distinguia entre as três pessoas divinas. Insiste em que o Filho não teve princípio nem houve um tempo em que não exis- tiria; também deu vida ao termo consubstancial (homoousios) que tanta transcendência teria no enfrentamento com Ario. Orígenes supõe uma ordem hierárquica dentro da Trin- dade, o que explica ter sido acusado de subordinacionismo. No que se refere o aspecto mariológico podemos dizer que Orígenes chama mãe de Deus (Theotokos) a Maria, não diretamente, mas de forma indireta e melhor ainda seríamos dizer que ele é insistente na necessidade de acolher Maria como mãe de Deus a fim de compreender o Evangelho. Sua teologia, influenciado pelo platonismo, o levou a cometer graves erros dogmáticos, especialmente na doutrina da pré-existencia da alma humana. Um outro obstáculo de seu sistema foi a interpretação alegórica, pois com este método introduziu na exegese um subjetivismo perigoso, induzindo a arbitrariedade e o erro. Se ao longo de sua vida atraiu grande número de amigos, também e não menor o de inimigos. Se de pois de sua morte as controvérsias se multiplicam, a causa se deve ao desaparecimento da maior parte de suas obras literárias. A teologia de Origines é profundamente marcada por um espírito de contínua busca. Profundo conhecer das Escrituras, seus escritos são sempre voltados a exegese sem enquadra-lo num sistema determinado, dando liberdade do leitor para uma interpretação mais espontânea. Na elaboração de sua teologia procura profundar a tradição e propor metas para a interpretação dando possíveis solução. Pela interpreta- ção alegórica dava ao Antigo Testamento uma explicação simbólica, prefigurando a Boa Nova aos seus eventos e personagens. Os escritos vétero-testamentários, nada mais são do que a preparação para uma recepção consciente da revelação em sua plenitude. Para uma interpretação mais autentica das Escrituras é indispensável dissociar o sentido lite- ral, que representa o Corpo de Cristo, do sentido espiritual que é a alma nas Escrituras. Para se passar do sentido literal ao sentido espiritual se faz mister a comparação de um texto escrituístico com outros da mesma Escritura, mesmo assim é impossível se chegar ao fim de uma interpretação em uma totalidade, pois a Escritura outra coisa não é senão a revelação do Cristo-Logos e este por sua vez se manifesta a cada homem de modo a ser aprendido um na mensagem. Quando mais o homem se institui nas Sagradas Escritu- ras, tanto mais ele se aproxime da imagem e semelhança de Deus. Se o homem perdera a imagem por causa do pecado, esta deve ser reencontrada e aperfeiçoada, passando de imagem a semelhança de Deus, tal desenvolvimento espiritual na vida terrena, mas viu na vida futura, na bem-aventurança celeste, onde não mais se encontramos os obstáculos do 25 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio plano material e só então a participação do homem no Espírito Divino atingirá um cume, na plenitude. 1.4. TeRTULiAnO Tertuliano, converso em 193, habitou Cartago. Em 270 adotou uma postura favorável ao montanismo, chegando a ser chefe de um grupo extremista dentro deste movimento ao qual se denominou tertulianistas e que chegou até a época de Agostinho de Hipona. • Possível que a contribuição principal de Tertuliano à Teologia seja em relação à dou- trina da Trindade. Ele foi o primeiro aplicar o termo “Trinitas” para as três pessoal e assim em De pud. XXI, fala da “Trindade de uma divindade, Pai, Filho e Espírito Santo”. Expôs também a idéia de que o Filho era da mesma substância que o Pai, assim como “há uma só substância nos três que estão unidos entre si”. Sua doutrina trinitária se adiantou, pois, em um século ao símbolo de Nicéia. No seu período montanista - visão da Igreja-instituição - iria cedendo ante a visão de uma Igreja espiritual formada pelos homens espirituais, am- bas estão em confronto e opostas. Em suma, podemos matizar que Tertuliano acreditava no milenarismo e pensava que, pelo fim do mundo, os justos ressuscitaram para reinar com Cristo em Jerusalém por um perí- odo de mil anos. 1.5. ciRiLO Nasceu em Alexandria por volta de 403 tomouparte na destituição de João Crisóstomo no sínodo da Encina e sua aversão a este personagem se manteve até o ano de 417. A partir de 428, época em que Nestório fora consagrado bispo de Constantinopla, opôs-se ativamente a ele, contradizendo sua tese em uma missiva pascal; neste combate, que logo levou ao das respectivas escolas da Alexandria e de Constantinopla, impulsionou Nestó- rio e Cirilo a solicitar a interpretação do papa Celestino. Um sínodo celebrado em Roma condenou Nestório uma vez que aprovava a teologia de Cirilo. Ante a postura áspera deste para com seu concorrente o imperador Teodósio II convocou um concílio em Éfeso em cuja primeira sessão Nestório foi deposto e excomun- gado. No curso do mesmo se reconheceu também o título de mãe de Deus (Theotokos) 26Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi aplicado a Maria, se bem que seu conteúdo se referia mais a categorias cristológicas que mariológicas. Quatro dias mais tarde, a chegada de João de Antioquia provocou a con- vocação de um novo sínodo no qual se depôs e excomungou Cirilo. Teodósio, tentando evitar um conflito, optou por declarar despostos Nestório e Cirilo e encarcerar a ambos. Posteriormente permitiu que Cirilo regressasse a sua sede enquanto Nestório partia para seu mosteiro de Antioquia. No afã de perseguir o nestorianismo, Cirilo esteve na iminên- cia de condenar a Teodoro de Mopsuétia, que havia sido mestre de Nestório, apesar de que se declarou, já em seu leito de morte, contrário a tal medida. É atribuído a Cirilo a criação do método escolástico em teologia, aduzindo em defesa de seus argumentos não só o testemunho das Escrituras também o dos Padres. Certamente não fora o primeiro a utilizar este sistema, mas sim é verdade que o fez com uma profusão desconhecida até então. Como os arianos e os apolinaristas utilizou as provas derivadas da razão de man- ter sua tese. Sua cristologia inicial não foi senão uma cópia da de Atanásio, no entanto, o enfrentamento com Nestório o levou a perfilar de maneira mais sutil sua terminologia, antecipando, anterior à Calcedônia, a dualidade das naturezas existentes em Cristo. 1.6. ciPRiAnO Cipriano converso por meio de Cecílio. Ao estourar a perseguição de Décio em 250 ocul- tou-se, atitude que não seria bem vista por todos. Pouco depois do martírio do papa Fa- biano, viu-se compelido a enviar uma carta à igreja de Roma explicando o porquê de sua conduta e relatando os testemunho de outras pessoas que asseguravam que ele nunca havia abandonado seus deveres de pastor. Cipriano era contrário a recepção, a reconci- liação dos lapsi, que renegavam a fé, tal fato provocou a oposição de um setor eclesial no qual se destacava Novato, que iria até a Roma para apoiar Novaciano contra o novo papa Cornélio. Cipriano excomungou seus opositores escrevendo suas missivas “acerca dos erros e acerca da unidade da Igreja”. A principal contribuição teológica de Cipriano se dá em sua eclesiologia. “Salus extra Ec- clesiam non est”, eis a tese que ilustra comparando a Igreja com uma mãe, com a arca de Noé. Fundamento da unidade eclesial é a submissão ao bispo que só responde diante de Deus. Do que está expresso em CSEL III, 1, 436, depreende-se que não reconhecia uma supremacia de jurisdição do bispo de Roma sobre seus colegas nem tampouco que Pedro houvera recebido poder sobre os demais apóstolos, daí a explicação sua oposição ao papa Estêvão na questão do batismo dos hereges. 27 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio Ao que se refere ao Batismo recusa o realizado pelos hereges e se mostrou de administrar o batismo de crianças o mais rápido possível. Martírio é um batismo superior ao de água. Ao que se diz sobre a Penitência, Cipriano optou por uma postura que condenava o laxis- mo de seu clero e o rigorismo de Novaciano. Numa perspectiva atual, sua tese parece-nos muito rígida, mas este aspecto deve situar-se dentro dos padrões de conduta da época. Em relação à Eucaristia é autor do único escrito anterior a Nicéia consagrado exclusiva- mente a este tema. Seu ponto de vista é interessante porque incide especialmente no caráter sacrificial da Ceia do Senhor. 2. A eScOLA de AnTiOQUiA A Escola de Antioquia, fundada por Luciano de Samosata, foi uma reação contrária aos excessos e fantasias do método alegórico origenista . O ponto central de tal escola era o próprio texto Sagrado, procurando induzir seus discípulos a uma interpretação literal, o estudo histórico e gramatical do mesmo. Luciano de Samosata fundou a escola de Antio- quia nos princípios do século IV . Os teólogos antioquenos rejeitavam o método alegóri- co, próprio dos alexandrinos, que em sua opinião desvirtuava o reto sentido dos textos bíblicos, com o risco de os converter em pura mitologia. A escola de Antioquia cultivava a interpretação literal da Escritura e inspirava-se no realismo da filosofia aristotélica. 2.2. GReGÓRiO, O TAUMATURGO. Gregório nasceu de um família nobre em Neocesaréia do Porto. Transferindo-se para Ce- saréia por motivos familiares, ali entrou em contato com o cristianismo e se fez batizar sob a influência de Origines, de quem havia sido discípulo. Na véspera de sua partida proferiu um discurso acadêmico de despedida ao seu venerado mestre. Discurso este que muito tem contribuído para os estudos sobre a pessoa de Origines. Compôs um breve símbolo que, ainda que se ao dogma da trindade, é notável pela exatidão de seu concei- tos. Redige também um tratado sobre a possibilidade e a impassibilidade de Deus, onde trata incompatibilidade do sofrimento com a idéia de Deus. Deus Não pode estar sujeito ao sofrimento. Ele • livre em mas decisões. Pelo seu sofrimento voluntário, o Filho de Deus derrotou a morte e provou a sua impassibilidade. 28Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi 2.3. LUciAnO de AnTiOQUiA Homem excelente em todos os aspectos, segundo Eusébio, de vida moderada e versado nas ciências Sagradas. Não foi um escritor profano. Jerônimo fala de seu trabalho sobre a fé, sem dar nenhuma informação sobre o conteúdo. Conhecia perfeitamente o hebrai- co e corrigia a versão grega do antigo testamento segundo o original hebraico. Revisou também o texto de Novo Testamento. Sua escola se opunha ao Alegorismos da escola Alexandrina. Se dedicou a interpretação literal das Escrituras e com seu método exegético formou um grade número de escritos. Percursor da doutrina a ser chamada de Arianismo. Sacerdote da comunidade de Antioquia, esteve excomungado por longo período sob o pontificado de três bispos. Ario e os seus futuros partidários foram educados por Luciano em Antioquia, o que nos remete a um idéia de que teria sido um padre do arianismo . 3. OS cOncÍLiOS Dentre os sete concílios da antigüidade cristã ainda hoje tidos como ecumênicos pela maioria das Igrejas, destacam-se pela autoridade doutrinária e importância histórica os quatro primeiros, de Nicéia a Calcedônia. Não há dúvida que estes primeiros concílios ecumênicos são caracterizados por uma real continuidade histórica e sob este aspecto constituem uma unidade à parte. A formulação do dogma trinitário foi a grande empresa teológica século IV, e a ortodoxia católica teve o Arianismo como adversário. O Arianismo entroncava em certas doutrinas antigas que acentuavam de modo exagerado e unilateral a unidade de Deus, a ponto de destruírem a distinção de Pessoas na Santíssima Trindade - Sabelisnismo - ou de subordinarem o Filho ao Pai, fazendo-o inferior a Este - Subordina- cionismo. Um Subordinacionismo radical inspirava os ensinamentos do presbítero alexan- drino Ario, o qual não só fazia o Filho inferior ao Pai, como negava inclusivamente a sua natureza divina. A unidade absoluta como a mais nobre das criaturas, Não Filho natural, mas filho adotivo de Deus ao qual de modo impróprio era lícito chamar também Deus. A doutrina ariana revelava uma clara influência da filosofia helenística com a sai noção de Deus Supremo e um conceito do Verbo muito afimdo demiurgo platônico, ser intermédio entre Deus e o mundo, e artífice, ao mesmo tempo da criação. A relação existente entre Arianismo e filosofia grega explica a sua rápida difusão e o favorável acolhimento que en- controu entre os intelectuais racionalistas impregnados de helenismo. As seqüelas afeta- vam o dogma da Redenção que teria carecido de eficácia se o Verbo encarnado não fosse verdadeiro Deus. A Igreja de Alexandria apercebeu-se da transcendência do problema e, 29 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio após tentar dissuadir Ario do seu erro, procedeu à sua condenação num sínodo de bispos do Egito. O Arianismo tinha-se convertido já num problema de dimensão universal que exigiu a convocação do primeiro concílio ecumenico da História cristã. Nicéia em 325 - devido as afirmações de Ario, segundo as quais Cristo foi “criado”- de- finiu que o verbo encarnado é da mesma substância (homoousios, consubstancial) que o Pai, Deus nascido de Deus, ou seja, a divindade do verbo, empregando um termo que exprimia de modo inequívoco a sua relação com o Pai: consubstancial. O Símbolo niceno proclamava que o Filho, Jesus Cristo, “Deus de Deus, Luz da Luz, deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado” é “consubstancial ao Pai”. Atanásio ainda era jovem se fez monge nos desertos do Egito. Depois de feito diácono da igreja alexandrina, foi com seu bispo Alexandre ao concílio de Nicéia, onde se distinguiu pelo combate ao cristianismo. Atanásio é uma das grandes figura de bispo da história antiga. Talhado no granito, intran- sigente até a violência, é ele um bispo da Resistência. Atanásio não foi um teólogo espe- culativo mas antes um pastor preocupado com a ameaça de paganização helenista que implicava a heresia de Ario. Seu desejo é salvaguardar a pureza da “tradição, doutrina e fé da Igreja católica que o Senhor deu, os apóstolos pregaram e os padres conservaram”. Pai e Filho têm a mesma natureza e são eternos. Esta tese tem uma importância suprema para a redenção já que não poderíamos ser salvos sem que Deus se fizesse homem. A par- tir deste ponto pode-se considerar Maria como mãe de Deus. O Espírito Santo não pode ser criatura formando parte da Trindade uma vez que é Deus também. É mais também possível que a oposição ao arianismo que marcou toda a sua vida tenha sido o que levou Atanásio a negar a validade do batismo ariano. A base de sua atitude não procedia do fato que os arianos não usaram a forma trinitária no batismo mas por acreditar que os mes- mos conferiam uma fé distorcida e pode-se ver sua influência no cânon 19 do Concílio de Nicéia, onde se ordena que os paulianistas que desejam voltar à Igreja católica devem ser batizados de novo. A postura de Atanásio sobre a Eucaristia não é totalmente clara. O Cristianismo pregava que os logos era como uma criatura, subordinado ao Pai. Combaten- do tal heresia o Concílio de Nicéia definiu que o filho que o filho de Deus é consubstancial ao Pai, o que significa que não é criado, mas compartilha a essência do Pai. “Cremos em um só Deus Pai onipotente, criador de todas as cosias, visíveis e invisíveis; em um só Se- nhor Jesus Cristo Filho de Deus, unigênito, nascido do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstancial ao Pai, por quem todas as coisa foram feitas, as do céu e as da terra, que por nós e por nossa salvação desceu do céu e se encarnou, se fez homem, padeceu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, 30Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi donde a de vir a julgar os vivos e os mortos”. A vitória da ortodoxia em Nicéia foi seguida por um “pós-concílio” de sinal radicalmente oposto, que constitui um dos episódios mais surpreendentes da História cristã. Eusébio de Nicomédia influenciou muito na corte im- perial e nos finais do reinado de Constantino pareceu que o arianismo ia prevalecer. Desde meados do século IV, o Arianismo dividiu-se em três facções: • Os radicais “anomeus”, que faziam finca-pé na dessemelhança do Filho relativamente ao Pai; • Os “homeus”, que consideravam o Filho Homoios ao Pai; • Os chamados semiariano, os mais próximos da ortodoxia, para os quais o Filho era substancialmente semelhante ao Pai. A obra teológica dos chamados “Padres Capadócios” desenvolveu a doutrina nicena e atraiu muitos seguidores das tendências moderadas do Arianismo que em pouco tempo desapareceu do horizonte da Igreja Universal, para sobreviver apenas como a forma de Cristianismo professada pela maioria dos povos germânicos invasores do Império. A teo- logia trinitária foi completada no Concílio I de Constantinopla com a definição da divin- dade do Espírito santo, ante a heresia que a negava: o Macedonismo. Deste modo, antes de finalizar o século IV, a doutrina católica da Santíssima Trindade ficou fixada no seu conjunto no Símbolo Niceno-Constantinopolitano. Um aspecto da teologia trinitária não estava declerado expressamente no Símbolo: as relações do Espírito Santo com o Filho. Este ponto daria lugar mais tarde à célebre questão do Filioque, destinada a converter-se em pomo de discórdia entre Oriente e Ocidente cristãos. Portanto, Constantinopla em 381: esforça-se para pôr fim ao arianismo, reafirmando a divindade de Cristo, bem como a do Espírito Santo, contestada por Eunômio. Após a con- trovérsia sobre a divindade do Logos, os cristãos se voltaram para o Espírito Santo: houve quem professasse ver o Espírito Santo como mera criatura. O arauto principal deste tese foi Macedôneo, bispo de Constatinopla; donde o nome de macedonismo. Reunindo o concílio, ficou estabelecido que o Espírito Santo é Deus, da mesma substância que o Pai e o Filho. Consequentemente o símbolo Niceno foi completado: “Cremos no Espírito Santo, fonte da vida que procede do Pai, que é adorado e glorificado com o Pai e o Filho e que falou pelos profetas” 31 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio Definida a doutrina da Santíssima Trindade, a teologia teve de encarar de modo imediato o Mistério de Cristo, não em relação com as outras Pessoas Divinas, mas em si mesmo. A questão fundamental era, em substância, esta: Cristo é perfeito Deus e perfeito homem; mas como se conjugaram nele a divindade e a humanidade? Perante esta pergunta as duas grande escolas teológicas do Oriente adotaram posições contrapostas. A escola ale- xandrina fez finca-pé na perfeita divindade de Cristo: a natureza divina penetrava de tal modo a humanidade - como o fogo o ferro incandescente - que se daria uma união inter- na, uma “mistura” de natureza. A escola de Antioquia insistia, pelo contrário, na perfeita humanidade de Cristo. A união das duas naturezas nele seria apenas externa ou moral: por isso, mais que encarnação haveria que falar de inabitação do Verbo que habitaria no homem Jesus como numa túnica ou numa tenda. Éfeso em 431: nenhuma definição parece ter saído desse concílio. Em 433 um “ato de união” diz: “nós confessamos, portanto, nosso Senhor Jesus Cristo, Filho único de Deus, Deus perfeito, composto de uma alma racional, de um corpo, gerado do Pai antes dos séculos, se- gundo a divindade, nascido nesses últimos dias da Virgem Maria”. O arianismo levou a Igreja a insistir na divindade de Cristo. A questão cristológica pôs-se abertamente quando o bispo Nestório de Constantinopla, da escola antioquena, pregou publicamente contra a Maternidade divina de Maria, à qual negou o título de Theotókos - mãe de Deus - atribuindo-lhe apenas o de Christotokos - mãe de Cristo. Produziram-se tumultos populares e o patriarca de Alexandria, São Cirilo denunciou a Roma a doutrina nestoriana. O papa Celestino I pediu a Nestório uma retratação, que este se recusou a fazer. O concílio de Éfeso, reunido nessa altura pelo imperador Teodósio II foi muito aci- dentado, devido à rivalidade entre bispos alexandrinos e antioquenos. Mas houve acordo e compôs-se uma profissão de fé na qual se formulava a doutrina da “união hipostática”das duas naturezas em Cristo e se designava Maria com o título de Mãe de Deus. Nestório foi deposto e desterrado; grupos de partidários seus subsistiram, contudo, no Próximo Oriente e formaram uma Igreja Nestoriana que durante muitos séculos desenvolveu uma importante obra missionária por terras da Ásia. O patriarcado de Alexandria tinha alcan- çado crescente poder na primeira metade do século V e vários dos seus bispos intervie- ram ativamente em assuntos internos da Igreja de Constantinopla. Aconteceu que após a morte de São Cirilo as tendências extremistas se impuseram em Alexandria. A doutrina de Éfeso das duas naturezas na única pessoa de Cristo não pareceu satisfatória aos teólogos alexandrinos, por entenderem que duas naturezas equivalia a duas pessoas; e afirmaram 32Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi que em Cristo não haveria mais do que uma natureza, posto que na Encarnação a nature- za humana tinha sido absorvida pela divina. Esta doutrina - Monofisismo - foi anunciada em Constantinopla arquimandria Eutiques, que foi privado do seu ofício pelo patriarca Flaviano. Interveio então o patriarca de Alexandria, Dióscoro, que conseguiu o apoio do imperador Teodósio II. Um concílio reunido em Ésfeso (449) na presidência de Dióscoro, celebrou-se sob o sinal de violência. O patriarca de Constantinopla foi deposto e dester- rado; impediu-se a leitura da epístola dogmática do Papa dirigida a Flaviano, de que eram portadores os legados pontifícios e condenou-se a doutrina das duas naturezas em Cristo. O papa Leão Magno batizou essa assembléia com um apelativo que passou à História: “la- trocínio de Éfeso”. Assim que os imperadores Pulquéria e Marciano sucederam a Teodósio II, o papa Leão pediu a reunião de um novo sínodo ecumênico: foi o de Calcedônia em 451 que reage contra o monofisismo, que é uma só natureza em Cristo, e afirma “um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito em sua divindade, perfeito em sua humani- dade, verdadeiro Deus, verdadeiro homem”. O concílio aderiu de modo unânime à doutrina cristológica contida na epístola de Leão magno a Flaviano: “Pedro falou pela boca de Leão”, aclamaram os padres. A profissão de fé que se redigiu reconhecia as duas naturezas em Cristo, “sem que haja confusão, nem divisão, nem separação entre elas. Mas o Monofi- sismo, longe de desaparecer, lançou raízes profundas em várias regiões do oriente, em particular no Egito. A condenação do Monofisismo foi entendida como um ataque à sua Igreja e as tradições de Atanásio e Cirilo. Um Patriarcado monofisita surgiu em Alexandria, contra o Patriarcado “melquita” ou imperial. Constantinopla em 453: condena os erros atribuídos a Orígenes e a três teólogos - Teodo- ro de Mopsuéstia, Teodoreto de Ciro e Ibas. O papa Leão I homologou a condenação dos erros, e não das pessoas. O concílio visava principalmente o nestorianismo. Este contexto histórico explica os esforços dos imperadores seguintes por encontrarem fórmulas de compromisso que, sem contradizerem o Símbolo de Calcedônia pudessem ser aceitáveis pelos monofisitas e assegurassem a fidelidade destas populações ao Império. 33 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio As figuras de linguagem 1. O que é uma figura de linguagem? Figura de linguagem é simplesmente uma palavra ou frase usada fora de seu emprego ou sentido original. 2. Por que se utilizam figuras de linguagem? 2.1 As figuras de linguagem acrescentam cor e vida “O Senhor é a minha rocha” (Sl. 18:2) é uma forma viva de se dizer que podemos confiar no Senhor, pois ele é forte e inabalável. 2.2 As figuras de linguagem chamam a atenção O interesse do ouvinte ou leitor é despertado. Isso fica nítido na advertência de Paulo em Fp. 3:2, cuidado com esses cães. 2.3 As figuras de linguagem tornam os conceitos abstratos mais concretos A frase: “por baixo de ti estende os braços eternos” (Dt. 33:27) certamente transmite uma idéia mais concreta do que “O senhor te sustentará”. 2.4 As figuras de linguagem ficam mais registradas na memória A afirmação de Oséias “Como vaca rebelde se rebelou Israel…” (Os. 4:16) é mais fácil de lembrar do que se tivesse escrito: “Israel é extremamente teimoso”. 2.5 As figuras de linguagem sintetizam uma idéia Elas captam a idéia de forma mais abreviada, elas dizem muito em poucas palavras. A fa- mosa metáfora: “O Senhor é meu Pastor…” (Sl 23:1) nos transmite rapidamente a idéia do cuidado de um pastor com suas ovelhas. 2.6 As figuras de linguagem estimulam a reflexão As figuras de linguagem levam o leitor a parar e pensar. Quando lemos Salmos 52:8 – “quanto a mim, porém, sou como a oliveira verdejante, casa de Deus…” – somos desafia- dos a meditar nas semelhanças que este símile nos traz à mente. 34Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi 3. Como saber se uma expressão apresenta sentido figurado ou literal? Em geral, uma expressão está em sentido figurado quando destoa do assunto, ou quando não combina com os fatos, experiência ou observação. Quando o Cleber Machado narra um jogo de futebol e diz que o “Porco” venceu o “Leão”, não quis dizer realmente que um porco (animal) venceu um leão (animal), mas sim que o Palmeiras venceu o Sport, ou seja, naquele contexto (futebol) faz todo sentido. As regras abaixo nos ajudam a identificar as figuras de linguagem. 1. Adote sempre o estilo literal das passagens, a menos que hajam boas razões para não fazê-lo. Por exemplo, quando João disse que 144.000 serão selados – 12.000 de cada uma das 12 tribos de Israel – não há razão para não respeitarmos o sentido normal, literal (Ap. 7:4-8). No entanto, no verso seguinte o apóstolo faz menção do “Cordeiro” (v. 9), o que, obviamente é uma referência a Jesus, não a um animal, como João 1:29 deixa claro. 2. Se o sentido literal resultar numa impossibilidade, o sentido verdadeiro é o figurado. O Senhor disse para jeremias que o havia posto como “coluna de ferro e por muros de bronze” (Jr. 1:18). 3. O sentido é o figurado se o literal resultar em um absurdo, como no caso das árvores baterem palmas (Is. 55:12). 4. Adote o sentido figurado se o literal sugerir imoralidade. Com seria um ato de cani- balismo comer a carne de Jesus e beber seu sangue, é evidente que ele estava usando o sentido figurado (Jo. 6:53-58). 5. Veja se a expressão figurada vem acompanhada de uma explicação literal. Aqueles que dormem (1 Ts. 4:13-15) logo em seguida são chamados de “os mortos” (v. 16). 6. Às vezes uma figura é realçada por um adjetivo qualitativo, como Pai celeste (Mt. 6:14), “o verdadeiro pão” (Jo. 6:32), a pedra que vive (1 Pe. 2:4). Isso indica que o substan- tivo anterior não deve ser entendido em seu sentido literal. 35 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio 4. A linguagem figurada é oposto da interpretação literal? Não devemos achar que o sentido figurado seja o oposto do sentido literal. O sentido fi- gurado transmite a verdade literal, ou seja, o autor apenas escreveu a mensagem literal de outra forma, para reforçar seu sentido; mas, os fatos são literais. Não devemos confundir com a alegorização, que já foi vista na aula 03 deste módulo. Por exemplo, quando dizemos: “Fulano virou um bicho quando soube”, claro que não quer dizer que virou um animal, mas ficou furioso. Porém a verdade é literal, seja falando de uma forma ou de outra. 5. Alguns tipos de figuras de linguagem 5.1 As figuras de linguagem que transmitem comparação Símile – É uma comparação que lembra outra explicitamente. Pedro usou um símile quan- do disse que “…toda carne é como a erva…” (1 Pe. 1:24). Jesus também fez uso do símile quando disse: “…eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos”. A dificuldade dos símiles é descobrir as semelhanças entre os dois elementos. Em que aspecto a carne é como a erva. De que forma os cristãos são como cordeiros? Metáfora – É uma comparação em que um elemento representa outro, sendo que os dois são essencialmente diferentes. Em uma metáforaa comparação está implícita. Temos um exemplo disso em Isaías 40:6: “Toda a carne é erva”. Note que é diferente da expressão em 1 Pedro, acima. Jesus comparou seus seguidores ao sal: “Vós sois o sal da terra” (Mt. 5:13). Quando Jesus afirmou: “Eu sou a porta” (Jo. 10:7-9), “Eu sou o bom pastor” (vv. 11- 14) e “Eu sou o pão da vida” (6:48), ele estava fazendo comparações. O leitor é levado a pensar de que forma Jesus assemelha-se a tais elementos. Hipocatástase – Não é uma figura de linguagem tão conhecida, mas também faz uma comparação, na qual a semelhança • Indicada diretamente. Davi, no Salmos 22: 16, disse: “Cães me cercam…”. Ele não es- tava se referindo aos caninos, mas sim aos seus inimigos. Os falsos mestres também são chamados de cães em Filipenses 3:2, e lobos vorazes em Atos 20:29. Em João 1:29, João Batista fez uso de uma hipocatástase quando exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus”. 36Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi 5.2 As figuras de linguagem que transmitem substituição Metonímia – A metonímia consiste em trocar uma palavra por outra. Por exemplo, quando afirmamos que o Congresso tomou uma decisão, queremos dizer que os deputados e se- nadores tomaram a decisão. Pode ser também que a causa seja usada em lugar do efeito. Os opositores de Jeremias disseram: “…vinda, firamo-lo com a língua…” (Jr. 18:18). Como seria absurdo produzir ferimentos com a língua, é claro que eles estavam referindo-se a palavras. Em Atos 11:23, temos outro exemplo quando fala de Barnabé: “…e, vendo a graça de Deus…”. O sentido aqui só pode ser o do efeito da graça, pois a graça, na reali- dade não pode ser vista. Temos exemplos de substituição de elementos relacionados ou semelhantes. quando Paulo disse: “Não podeis beber o cálice do Senhor…” (1 Co. 10:21), ele não estava se referindo ao cálice propriamente dito, mas sim ao conteúdo do cálice. Quando o Senhor disse para Oséias que “a terra se prostituiu…”, a palavra terra diz respei- to à população. Sinédoque – É a substituição do todo pela parte, ou da parte pelo todo. Em Lucas 2:1, a Bíblia nos diz que o imperador César Augusto emitiu um decreto de que deveria ser feito o censo “do mundo todo”. Ele falou do todo, mas estava se referindo ao Império Romano. É óbvio que Provérbios 1:16 – “…os seus pés correm para o mal…” – não significa que somente os pés corriam para o mal. Os pés são a parte que representa o todo. Áquila e Priscila arriscaram suas próprias cabeças (Rm 16:4). Nesta sinédoque, “suas cabeças” re- presenta suas vidas, o todo. Personificação – É a atribuição de características ou ações humanas a objetos inanimados, a conceitos ou animais. A alegria é uma emoção atribuída ao deserto, em Isaías 35:1. Isa- ías 55:12 fala de montes cantando e árvores batendo palmas. A morte personifica-se em Romanos 6:9 e em 1 Coríntios 15:55. Antropomorfismo – é a atribuição de qualidades ou ações humanas a Deus, como ocorre nas referências aos dedos de Deus (Sl. 8:3), a seus ouvidos (31:2) e a seus olhos (2 Cr. 16:9). Antropopatia – Esta figura de linguagem atribui emoções humanas a Deus, como vemos em Zacarias 8:2: “…tenho grandes zelos de Sião”. Zoomorfismo – Se o antropomorfismo atribui qualidades humanas a Deus, o zoomorfis- 37 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio mo atribui características animais a Deus (ou outros). Em Salmos 91:4, faz-se referência a penas e asas. Jó descreveu o que ele considerou como ira de Deus contra ele quando disse: “…contra mim rangeu os dentes…” (Jó 16:9). Apóstrofe – É uma referência direta a um objeto como se fosse uma pessoa, ou uma pes- soa ausente ou imaginária, como se estivesse presente. O salmista empregou um após- trofe em Salmos 114:5: “Que tens, ó mar, que assim foges?…” Miquéias fala diretamente à terra, em Miquéias 1:2: “Ouvi, todos os povos, prestai atenção, ó terra…”. Em Salmos 6:8, o salmista fala como se seus inimigos estivessem presentes: “Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade…”. Eufemismo – Consiste na substituição de uma expressão desagradável por outra mais sua- ve. Falamos da morte mediante eufemismos: “passou desta para melhor”, “bateu as botas”. A Bíblia fala da morte dos cristãos como um adormecimento (At. 7:60; 1 Ts. 4:13-15). 5.3 As figuras de linguagem que transmitem omissão ou supressão Elipse – é uma supressão de uma palavra facilmente subentendida. É a omissão inten- cional de um termo facilmente identificável pelo contexto ou por elementos gramaticais presentes na frase.Em 1 Co. 15:5, “os doze”, representa “os doze apóstolos”. Pergunta retórica – Uma pergunta retórica é aquela que não exige resposta; seu objetivo é forçar o leitor a respondê-la mentalmente e avaliar suas implicações. Quando Deus per- guntou para Abraão: “Acaso para Deus há algo muito difícil?…” (Gn. 18:14), ele não espe- rava ouvir uma resposta. A intenção era que o patriarca refletisse mentalmente. Paulo fez uma pergunta retórica em Romanos 8:31: “… se Deus é por nós, quem será contra nós?”. Estas perguntas são formas de se transmitir informações. 5.4 As figuras de linguagem que transmitem exageros ou atenuações Hipérbole – É uma afirmação exagerada em que se diz mais do que o significado literal, com o objetivo de dar ênfase. Vejamos em Deuteronômio 1:28 a resposta dos espias isra- elitas sobre a tomada de Canaã: “”…as cidades são grandes e fortificadas até os céus…” Litotes – É uma frase suavizada ou negativa para expressar uma afirmação. É o oposto da hipérbole. Quando dizemos: “Ele não é um mal goleiro”, na realidade queremos dizer que 38Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi ele é um goleiro muito bom. Esta atenuação dá ênfase à frase. Em Atos 21:39, Paulo disse: “… eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante”, quis dizer que Tarso era uma cidade importante. Ironia – É uma forma de ridicularizar indiretamente sob a forma de elogio. Geralmente vem marcada pelo tom de voz da pessoa que fala, para que os ouvintes percebam. Por isso, às vezes é difícil saber se algo escrito é, ou não, uma ironia. O contexto nos ajuda a perceber isso. Por exemplo Mical, filha do rei Saul, disse a Davi: “… que bela figura fez o rei de Israel…” (2 Sm. 6:20). O versículo 22 nos mostra que o sentido pretendido era o opos- to, ou seja, o rei havia se humilhado agindo daquela maneira. Em 1 Reis capítulo 18, no episódio de Elias contra os profetas de baal, vemos que Elias ironizou a baal várias vezes. Pleonasmo – Consiste na repetição de palavras ou no acréscimo de palavras semelhantes. Atos 2:30 quer dizer literalmente “Deus lhe havia jurado com juramento”. Como para nos- sa língua é uma repetição desnecessária a NTLH traduziu sem esta repetição. 5.5 As figuras de linguagem que transmitem incoerências Oxímoro – Consiste na combinação de dois termos opostos ou contraditórios. Quando falamos, por exemplo, “um silêncio eloqüente”, empregamos um oxímoro. Em Fp. 3:19, Paulo diz que a glória dos inimigos de Cristo está em sua infâmia; em Romanos 12:1 so- mos desafiados a sermos “sacrifícios vivos”. Paradoxo – É uma afirmação aparentemente absurda ou contrária ao bom senso. Um pa- radoxo não é uma contradição; é simplesmente algo que parece ser o oposto do que em geral se sabe. Jesus utilizou muitos paradoxos em seus ensinos. Um deles nos diz que quem quiser salvar sua vida deve perdê-la. Os humilhados serão exaltados. O maior no reino de Deus é o menor. Se você quiser viver então morra. 6 Como devemos interpretar as figuras de linguagem? 6.1 descobrir se existe alguma figura de linguagem Às vezes a figura de linguagem não é reconhecida no texto, causando um grande proble- ma de interpretação. Quando Paulo falou sobre suportar as adversidades como um bom soldado, competir com um atleta e receber os frutos da safra como um fazendeiro (2 Tm. 2:3-6), ele não estava instruindo soldados, atletas ou fazendeiros. Quando Jesus disse: “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis para os porcos as vossas pérolas…”(Mt. 7:6), não estava se referindo a cães ou porcos literalmente. Cães e porcos eram considerados animais impuros. Portanto o que deve ser entendido aqui é que 39 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio não devemos confiar as coisas santas aos ímpios. Em Jó 38:7, não devemos entender que as estrelas realmente cantam. Devemos entender que a criação se alegrou com a obra criadora de Deus (personificação). Por outro lado, às vezes uma declaração normal é confundida com figura de linguagem. Em Amós 4:9, não há motivo para crermos de se tratar de adversidades espirituais, pois de fato estas coisas aconteceram. 6.2 descobrir a imagem e o objeto na figura de linguagem Em certos casos, ambos são evidentes no versículo, como acontece em Isaías 8:7. A prin- cípio pode-se ficar na dúvida se a inundação é real ou figurada. A resposta está no verso seguinte. Portanto, podemos afirmar que a imagem são as águas impetuosas e o objeto é o rei da Assíria. Contudo, algumas vezes, o objeto não é especificado e pode até ser con- fundido. Foi o que aconteceu com as palavras de Jesus em João 2:19: “Destruí este san- tuário…”. Santuário era a imagem e os leitores (e ouvintes) pensaram que o objeto fosse o templo de Herodes, quando na realidade, Jesus estava falando de seu próprio corpo. 6.3 especificar o elemento de comparação Muitas vezes a imagem está expressa, porém, o objeto embora não esteja explícito, é in- dicado pelo contexto. Em Lucas 5:34 não diz que o noivo é Jesus, mas o significado está implícito, já que no verso seguinte Jesus diz que o noivo seria tirado deles. 6.4 não presumir que uma figura sempre signifique a mesma coisa Em Oséias 6:4, o orvalho simboliza a brevidade do amor de Judá, enquanto em 14:5 fala da bênção do Senhor sobre Israel. 6.5 Sujeitar as figuras a limites por meio da lógica e da comunicação Quando Jesus falou para a igreja de Sardes “…virei como um ladrão…” (Ap. 3:3), não quis dizer que viria para roubar. No caso, o elemento de comparação é que viria repentinamen- te. Quando Jó falou das “colunas” da terra se estremecendo (Jó 9:6), estava falando das montanhas, não como se a terra se apoiasse em colunas. 40Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi esquemas das escolas: Marlon Ronald Fluck 1 comunhão com o autor da Bíblia Quanto mais conhece-lo mais conhecera a Bíblia 1) Leia com dicionários por perto Não existe mágica para atingir a primeira etapa, a da pré-compreensão. O único jeito é ter um bom nível de leituras. Além de ler bastante, você pode potencializar essa leitura se es- tiver com dicionários por perto. Viu uma palavra esquisita, que você não conhece? Pegue um caderninho (vale a pena separar um caderno só pra isso) e anote-a. Em seguida, vá ao dicionário e marque o significado ao lado da palavra. Com o tempo o seu vocabulário irá crescer e não vai ser mais preciso ficar recorrendo ao dicionário toda hora. 3) Leia no papel Um estudo feito em 2014 descobriu que leitores de pequenas histórias de mistério em um Kindle, um tipo de leitor digital, foram significantemente piores na hora de elencar a or- dem dos eventos do que aqueles que leram a mesma história em papel. Os pesquisadores justificam que a falta de possibilidade de virar as páginas pra frente e pra trás ou controlar o texto fisicamente (fazendo notas e dobrando as páginas) limita a experiência sensorial e reduz a memória de longo prazo do texto e, portanto, a sua capacidade de interpretar o que aprendemos. Ou seja, sempre que possível, estude por livros de papel ou imprima as explicações (claro, fazendo um uso sábio do papel, sem desperdícios!). Vale fazer notas em cadernos, pois já foi provado também que quem faz anotações à mão consegue lembrar melhor do que estuda. 4) Reserve um tempo do seu dia para ler devagar Uma das maiores dificuldades de quem precisa ler muito é a falta de concentração. Quem tem dificuldades para interpretar textos e fica lendo e relendo sem entender nada pode estar sofrendo de um mal que vem crescendo na população da era digital. Antes da inter- net, o nosso cérebro lia de forma linear, aproveitando a vantagem de detalhes sensoriais (a própria distribuição do desenho da página) para lembrar de informações chave de um livro. Conforme nós aumentamos a nossa frequência de leitura em telas, os nossos hábi- tos de leitura se adaptaram aos textos resumidos e superficiais (afinal, muitas vezes você 41 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio tem links em que poderá “ler mais” – a internet é isso) e essa leitura rasa fez com que a gente tivesse muito mais dificuldade de entender textos longos. Os especialistas explicam que essa capacidade de ler longas sentenças (principalmente as sem links e distrações) é uma capacidade que você perde se você não a usar. Os defensores do “slow-reading” (em tradução literal, da leitura lenta) dizem que o recomendável é que você reserve de 30 a 45 minutos do seu dia longe de distrações tecnológicas para ler. Fazendo isso, o seu cérebro poderá recuperar a capacidade de fazer a leitura linear. Os benefícios da leitura lenta vão bem além. Ajuda a reduzir o estresse e a melhorar a sua concentração. Depois de treinar bastante e ler muito, você estará pronto para interpretar os mais diversos tipos de texto! Mãos à obra 5) Faça meditações Meditar faz parte da cultura de vários povos, e Deus sempre recomendou ao povo he- breu que meditasse em sua palavra, meditar é pensar na palavra, sussurrar a palavra, falar a palavra para você em uma espécie de diálogo intrapessoal, meditar e colocar a mente naquilo que leu, é colocar o texto estudado dentro do coração Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. (Salmos 1:2) 6) coloque as orações na ordem direta A ordem direta é a que organiza as palavras da seguinte forma: sujeito + predicado + com- plemento. Esse é o jeito objetivo de entender uma oração. Faça o exercício de reorganizar as orações que estão na ordem indireta, principalmente os enunciados das questões. 7) Fique atento a todos os detalhes Preste atenção no texto (tabelas, imagens, citações). Circule os nomes dos personagens, das cidades, datas e nações 8) Olhe para os períodos, versos e parágrafos em conjunto Escolha uma ou duas palavras que resumam o que você leu nos trechos menores, para se lembrar depois. Em seguida, procure relações entre o que você acabou de ler. Por exem- plo: de oposição, causa e consequência, adição. Fazemos o procedimento acima para clas- sificar orações subordinadas, mas ele também pode ser útil para a interpretação como um todo. 42Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi 9) Faca perguntas contrarias ao texto Ex: O que seria da humanidade se Jesus não tivesse morrido? O que seria de Jonas se o Grande peixe não tivesse engolido? O que seria de Israel se o Faraó tivesse alcançado eles no mar vermelho? 10) Reescreva ou explique para você mesmo Reescreva o que você acabou de ler de maneira resumida e utilizando sinônimos. Se pre- ferir, escreva em tópicos. O objetivo desta dica é ter certeza de que você interpretou o texto e também consegue explicar de maneira simples. Exercite-se para aprender a Bíblia escrevendo o que você entendeu com as passagens que lê. Também é interessante você escrever o que entendeu dos versículos ou passagens que lê com suas próprias palavras. 11) converse sobre o texto que esta estudando A palavra de Deus é viva, voce pode conversar com ela (Hb 4.12) Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma 12) Converse com os que lêem, peça opiniões, faça perguntas Faca como os hebreus faziam nas sinagogas, eles conversavam sobre, a lei, os profetas e os salmos, assim eles conseguiam compreender os planos e propósitos de Deus. Quando você conversa sobre o texto, você amplia o seu nível de compreensão para a interpreta- ção do mesmo 13) Busque osoriginais do Hebraico e Grego Lembrando sempre que a bíblia não foi escrita e nem pensada em português, latim, ou outra língua familiar ao português. Ela foi entregue por Deus ao ser humano em Hebraico, Aramaico e grego 14) Texto e contexto: Certa vez ouvi que “texto sem contexto é pretexto”. Não podemos ser desonestos com o texto bíblico, precisamos buscar fundamentação na Palavra de Deus. A palavra ‘texto’, etimologicamente está ligada à palavra ‘tecido’, com sentido de uma costura de palavras. O intérprete é como um ‘tecelão’ que desfia e tece o texto. Procure conhecer em que contexto foi escrito, ou seja, o que estava acontecendo quando 43 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio o autor escrevia o texto. Basta uma leitura mais cuidadosa para descobrir estes fatores. Às vezes é preciso recorrer ás referências citadas no texto ou então reler partes anteriores do mesmo. O assunto pode ter começado no capítulo anterior e se concluir em capítulos adiante. Somente lendo todo o contexto, será possível saber toda a história. Por exemplo, o texto do Salmo 51, que é uma oração de arrependimento de Davi, foi es- crito no contexto do seu pecado com Betesseba, descrito em II Samuel 11 e 12. Sabendo disso, se torna possível compreender melhor o texto do salmo, bem como saber o seu desfecho histórico e espiritual. Alguns textos são introduzidos com seu contexto, como em Isaías 6.1, quando o profeta teve um poderoso encontro com Deus, resultando no seu chamado profético. O texto deixa claro que tudo aconteceu “no ano da morte do rei Uzias”, ou seja, em meio a uma grande crise em toda a nação, Deus levanta Isaías para profetizar. Um trecho é chamado de PERÍCOPE, que pode ser encontrada pelas subdivisões apre- sentadas nos capítulos, mas que deve ser analisada com cuidado para não dividir o texto incorretamente. A perícope é um trecho completo, com uma mensagem ou história. Evite dividir uma perícope. O melhor é fazer a leitura total do trecho. Um texto do Antigo Testamento está sob o contexto da Lei, na Velha Aliança (Hebreus 8). Um texto do Novo Testamento está sob o contexto da Graça, sob a Nova Aliança em Cristo. Saber diferenciar isto, evita muitas confusões. 14 Linguagem do Texto: Cada texto tem uma linguagem apropriada. Dependendo do texto, pode-se perceber o sentimento do autor ou o clima que o fato ocorreu. Então é importante tentar sentir o teor da linguagem utilizada. Os livros da Bíblia estão agrupados de acordo com o assunto. Esta disposição foi organi- zada nas Escrituras para facilitar a leitura. No Antigo Testamento, os primeiros cinco livros formam o Pentateuco, que são os livros da lei. Depois vêm os livros Históricos, depois os livros Poéticos e então os livros dos Profetas. No Novo Testamento, os primeiros quatro livros são os Evangelhos, depois vem o texto Histórico de Atos dos Apóstolos, então uma série de Cartas do Apóstolo Paulo, seguidas de outras Cartas Pastorais de outros Apóstolos e por fim o livro de Apocalipse que é um texto de revelação. Percebe-se uma progressão literária nos textos. Começando o A.T. com lei, depois histó- 44Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi ria, depois poesia e então profecia. Também o N.T. começa com a descrição da vida de Jesus nos evangelhos, depois a história da Igreja, em seguida com orientações pastorais práticas e por fim com as revelações apocalípticas. A leitura se torna cada vez mais fácil à media que vamos estudando. Uma coisa é ler uma lei e outra uma história, uma poesia ou uma profecia. Por isso, a lei- tura se torna diferente de acordo com a linguagem utilizada. 15 Referências Bíblicas As referências Bíblicas apontam para textos similares ou que tenham a ver com o assun- to. O propósito das referências é criar ‘links’ entres textos comuns. Podemos encontrar referências nos rodapés das bíblias de estudo que nos levam a outros textos que falam do mesmo assunto. Por exemplo, o texto de Isaías 53 se refere ao sacrifício de Cristo, descrito em Mateus 27. Logo em seguida vemos o mesmo texto citado no encontro de Felipe e o Eunuco, em Atos 8.32,33. Mais adiante, em Hebreus 9.11-28 o mesmo contexto é explicado de forma mais abrangente. Se você ler estes textos separadamente, terá uma compreensão limitada dos mesmos, mas se fizer uma ligação entre eles, estudando-os, então poderá entender melhor o seu significado. A Bíblia tem muitos textos paralelos que dizem a mesma coisa em livros diferentes, por autores diferentes e consequentemente com óticas distintas. Isso não desvaloriza, mas enriquece o texto. Um autor pode citar detalhes que outro autor não descreveu. Deste modo, um texto completa o outro, formando o contexto bíblico. 16 Palavras chave: As palavras chave são expressões importantes do texto. Descobrindo a palavra chave, o texto pode ser dissecado facilmente. O tema também é mais corretamente orientado pela palavra chave. Em diversas perícopes, existe um termo que é enfatizado através da repetição da mesma. Por exemplo, em I Coríntios 13, a palavra amor é o tema de todo o capítulo e em Deutero- nômio 28 as expressões bênção e maldição que indicam o tema da obediência. Além de encontrar a palavra chave do texto é preciso saber o seu significado. Outro exemplo está em João 15, onde a palavra ‘videira’ está em evidência. Neste caso também é necessário discernir o sentido da expressão e entender que se trata de uma planta que 45 interpretação Bíblica - ETaVi Pr. Samuel Procópio produz uvas, mas que está representando a pessoa de Jesus. A Bíblia é um livro escrito para o povo. Os autores bíblicos, em sua maioria eram pessoas simples e mesmo os mais cultos, sempre estavam interessados em que o texto fosse com- preendido facilmente pelo povo. Por isso é fácil a compreensão, desde que se aprenda a estudar corretamente. As palavras chave são muito usadas pelos autores bíblicos para mostrar com clareza o sentido do texto. O propósito é fazer lembrar pelo menos uma palavra de todo o texto. 17 diálogo com o texto: Antes de perguntar para qualquer pessoa, pesquisar em qualquer livro ou tirar conclusões, deve-se perguntar ao próprio texto para saber as circunstâncias do texto. Passe o texto por uma prova de INTERPRETAÇÃO com perguntas básicas a respeito do mesmo. Para uma boa mensagem é preciso primeiro entender o texto Bíblico e para isso é ne- cessário fazer uma interpretação do contexto. Conversar com o texto é uma prática que facilita grandemente sua compreensão. Perguntas para fazer ao texto: -O quê? De que assunto trata o texto ou o que aconteceu. -Quem? As pessoas que são faladas no texto. Você pode copiar os nomes delas fazendo uma lista ou grifar no próprio texto. -Quando? Se texto mostra em que momento aconteceu ou que período estava sendo falado. -Onde? Local onde aconteceu o fato ou foi escrito o texto. -como? Alguns detalhes de como aconteceu tudo ou o que está sendo dito no texto. -Por quê? O objetivo da mensagem ou seu significado prático para a época e para as pes- soas que são faladas no texto e como pode servir para nós hoje. Nem todos os textos trarão estas respostas claramente, sendo necessário ler mais profun- damente ou pesquisar em livros de referência. Mas a maioria dos textos bíblicos pode-se encontrar muitas destas respostas. Muitas coisas que a Bíblia não traz respostas são mistérios de Deus (leia Deuteronômio 29.29), mas devemos focar naquilo que as Escrituras deixam claro para nosso conhecimen- to. O propósito destas lacunas de informações é nos fazer mais humildes, reconhecendo a Grandeza de Deus. Mesmo assim, os intérpretes da lei, no tempo de Jesus eram pessoas vaidosas e arrogantes por se acharem conhecedores das escrituras (Mateus 7.1-5). Se gastarmos a vida toda estudando tudo o que foi revelado na Palavra e mesmo assim 46Pr. Samuel Procópio interpretação Bíblica - ETaVi não conseguiremos esgotar seu conteúdo tão profundo (João 21.25). 18 Ferramentas: Deus honra o preparo e o estudo da Bíblia. Por isso Jesus
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