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2 
 
 
 
3 
 
 
Prof. Dr. Rodrigo Silva 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
 
 
 
 
 
1ª Edição 
2017 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
Palavra do Professor autor 
Sobre o autor 
Ambientação à disciplina 
Trocando ideias com os autores 
Problematizando 
 
UNIDADE I – ESTRUTURA DA BÍBLIA 
 
Peculiaridades de um Livro 
Nomes para a Palavra de Deus 
Organização do Livro Sagrado 
Antigo testamento 
Pentateuco ou Torá 
Livros Históricos 
Livros Poéticos 
Livros Proféticos 
Novo Testamento 
Geografia dos eventos bíblicos 
Uma coletânea de Histórias 
Um livro perigoso 
Inspiração e revelação 
 
UNIDADE II - O CANON BÍBLICO 
Como foram escolhidos os livro da Bíblia? 
O Cânon do Novo Testamento 
Cânon do Antigo Testamento 
Período Intertestamentário 
A Septuaginta 
Apócrifos, pseudoepígrafos e Deuterocanônicos 
Línguas Originais da Bíblia 
 
6 
 
Hebraico e Aramaico 
Grego 
 
UNIDADE III: A TRANSMISSÃO DO TEXTO BÍBLICO 
Períodos Bíblicos 
Período de reduplicação 
Período da unificação textual 
O Período das impressões 
Período de crítica e de revisão 
A Crítica Textual 
O Trabalho da Crítica Textual 
 
UNIDADE IV- A COMPREENSÃO DA BÍBLIA 
As principais traduções da Bíblia 
Antigo testamento 
Novo Testamento 
Versões modernas 
Versões em português 
A Bíblia no Brasil - Traduções parciais 
Traduções completas 
 
Explicando melhor a pesquisa 
Leitura Obrigatória 
Pesquisando na internet 
Saiba Mais 
Vendo com os olhos de ver 
Revisando 
Autoavaliação 
Bibliografia 
Bibliografia da Web 
Vídeos 
 
7 
 
Palavra do professor 
 
 Ao dar início a tarefa de cursar Teologia tem-se em mira vários objetivos, 
mas sem dúvida o maior de todos é conhecer a revelação de Deus para o homem. 
A Teologia cristã parte do pressuposto que Deus existe e que ele se revelou de 
várias maneiras. Entretando a Biblia consitui a revelação especial de Deus para o 
homem. Seu principal objetivo é revelar ao homem o plano da salvação. Por meio 
dessa revelação o homem passa a compreender que o Deus único é composto por 
três pessoas divinas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e que as Pessoas Divinas 
planejaram a criação do homem bem como o plano para resgatá-lo do pecado e da 
sua natureza caída. 
 
Mas nesse momento nos voltamos para os aspectos formais do livro 
sagrado. Quando foi escrito? Quem são seus escritores? Como o livro foi 
organizado? Podemos confiar nas traduções modernas?Nao teria a Bíblia sido 
alterada ao longo dos séculos? Essa e outras questões serão respondidas nessa 
disciplina. 
 
Seja bem vindo (a)! 
 
O autor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
Sobre o autor 
 
Rodrigo Pereira da Silva é filosofo e Pós-doutor com 
concentração em Arqueologia Bíblica pela Andrews 
University, EUA. Doutor em Arqueologia Clássica pela 
Universidade de São Paulo com bolsa da Capes a partir de 
novembro de (2010 a março de 2011). Doutorado em 
Teologia Bíblica pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. 
Assunção - atualmente vinculada à PUC SP (2001). 
Especialização em Arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém (1998). 
Mestrado em Teologia Histórica pelo Centro de Estudos Superiores da Companhia 
de Jesus - atual Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE (1996). 
Graduado em Filosofia pelo Centro Universitário Assunção (1999), possui também 
graduação em Teologia pelo Instituto Adventista de Ensino do Nordeste (1992). É 
professor de Teologia e Arqueologia do Centro Universitário Adventista de São 
Paulo - Campus Engenheiro Coelho, SP (UNASP-ec), curador do Museu Paulo 
Bork de Arqueologia do Oriente Médio. 
 
 
9 
 
Ambientação 
 
A Bíblia é, sem dúvida, o livro mais impresso e divulgado no mundo inteiro. 
Seria também o mais estudado? Difícil dizer. Mas o fato é que uma pesquisa das 
Sociedades Bíblicas Unidas (UBS) concluiu que cerca de 2,5 bilhões de cópias 
tinham sido impressas e distribuídas entre 1815 e 1975. Porém, mais 
recentemente, o Guiness publicou que este número superaria mais de 5 bilhões de 
exemplares distribuídos em 349 idiomas (algumas fontes dizem 6 bilhões). Se 
considerarmos ainda aqueles que têm pelo menos partes da Bíblia em seu 
vernáculo natal, esse número saltaria para mais de 2.400 idiomas ao redor do 
mundo que possuem a Bíblia traduzida no todo ou em parte. 
 
Somente os Gideões Internacionais distribuem por dia mais de 170 mil 
exemplares da Bíblia em todo mundo. Isso significa que a cada minuto ou o tempo 
em que você levar para ler toda essa página, 120 novas bíblias foram entregues a 
alguém em diferentes cantos do planeta (BEAL 2011). 
 
O segundo livro no ranking de mais publicado e distribuído do mundo seria o 
famoso Livro Vermelho do Comunista Mao Tsé-Tung que trazia citações do ditador 
chinês compilados por Lin Piao, seu ministro da defesa. Diferente da Bíblia, esta 
era uma distribuição e leitura obrigatórias, impostas pelo governo. Mesmo assim, o 
que se tem aqui é um distante segundo lugar, pois de acordo com as fontes oficiais 
o livro vermelho estaria disponível em menos de 40 idiomas com uma tiragem de 
pouco mais de 1 bilhão de cópias distribuídas pela China e restante do mundo 
(LEESE, 2011). 
Que contraste não é mesmo? E as diferenças não param por ai. O conteúdo 
de ambos os livros é assombrosamente diferente. De acordo com o Livro Vermelho 
de Mão, “devemos apoiar tudo o que o inimigo combate e combater tudo o que o 
inimigo apoia” e mais: “a revolução é uma insurreição, um ato de violência pelo 
qual uma classe derruba a outra.” 
 
 
10 
 
Já na contramão desta cultura temos os ensinos de Cristo que diz: “tudo o 
que quereis que os homens vos façam, fazei a eles vós também” (Mateus 7:12). 
Além disso temos o conselho de Paulo: “Não deixeis vencer do mal, mas vence o 
mal com o bem” (ROMANOS 12:21). 
 
O livro vermelho tornou-se uma espécie de Bíblia para a juventude chinesa 
dos anos 60 e 70 e foi peça chave do maior fervor ou fanatismo revolucionário do 
século 20, a chamada Revolução Cultural que ceifou a vida de muitas pessoas e 
tornou a China um dos países mais isolados do mundo inteiro. 
 
Alguns podem argumentar que a Bíblia também provocou muitas mortes nos 
tempos da inquisição, mas isso não é verdade. Foi a autoridade eclesiástica de 
então que mandou matar em nome da fé. A leitura da Bíblia, além de proibida para 
a população em geral, era um dos motivos da pena capital, pois muitos foram 
mortos apenas por possuir em casa um exemplar do livro sagrado ou tentar lê-lo 
por conta própria sem autorização da Igreja. Autoridade eclesiástica e 
ensinamentos bíblicos não são necessariamente sinônimos perfeitos. A história, 
portanto, das Escrituras Sagradas está bem distante daquela relacionada ao Livro 
Vermelho da China Comunista. 
 
 
 
 
 
Bons estudos! 
 
 
11 
 
Trocando ideias com os autores 
 
Para ampliar ainda mais seus estudos sobre esta disciplina, 
convido você a ler o livro Introdução à Bíblia. Este volume 
fornece respostas a perguntas intrigantes como estas: 
Se a Bíblia foi escrita por homens, por que é considerada a 
Palavra de Deus? Como ter certeza de que o conteúdo da 
Bíblia não foi alterado com o tempo? O que a arqueologia 
tem a dizer sobre a confiabilidade das Escrituras? Existem 
contradições na Bíblia? Que devo fazer para começar a 
formar minha biblioteca pessoal em português? Além de analisar essas questões 
altamente relevantes, o estudante da Bíblia também será equipado com 
ferramentas para o estudo das Escrituras. São publicações que devem compor sua 
biblioteca particular: diversas versões das Escrituras, Bíblias de Estudo, obras de 
consulta, livros de teologia sistemática, comentários bíblicos, introdução bíblica, 
história da igreja e da teologia e livros de teologia prática, além deum capítulo 
destinado exclusivamente ao método de pesquisa. 
 
HARRIS, R. Laird. Introdução à Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2005. 
Outra maravilhosa leitura essencial voltada para aqueles 
que estão em busca de um conhecimento maior da Palavra 
de Deus, bem como estudantes de seminário, é o livro 
Merece Confiança o Antigo Testamento? Esta obra trata-
se de uma leitura crítica, com ela você poderá levantar 
excelentes discussões. A escolha do autor vincula-se a um 
ponto de vista mais conservador, sob uma perspectiva 
ortodoxa. No entanto são apresentadas, de forma imparcial, 
teorias distintas – liberal ou neo-ortodoxa. 
 
ARCHER JUNIOR, Gleason L.; CHOWN, Gordon (Trad.). Merece confiança o 
Antigo Testamento? 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 2005. 
 
12 
 
 
Guia de Estudo: Após a leitura das obras, realize uma comparação entre as ideias 
dos autores, em seguida faça um texto dissertativo-argumentativo sobre o que mais 
lhe chamou atenção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
Problematizando 
 
A Biblia vem composta pelo Antigo e Novo testamento, é aceita pelo 
Cristianismo em geral como a Palavra de Deus. Segundo a tradição, os primeiros 
livros foram escritos cerca de 1500 a.C aproximadamente. Seu último livro a ser 
escrito foi em 95 d.C, ou seja, estamos distante do último livro a ser escrito cerca 
de 2000 anos. Totalizando a nossa distância no tempo dos primeiros escritos cerca 
de 3500 anos. A Biblia foi escrita dentro de uma cosmovisão do povo hebreu, tem 
sem dúvida seu contexto histórico e cultural próprio, bem como sóciopolítico. 
 
Sendo assim faz-se pertinente a seguinte pergunta: um livro assim, tão 
distante de nós e de nossa cultura tem algo relevante a nos falar? Não teria a 
Biblia sido modificada ao longo dos séculos por uma elite no afã de se perpertuar 
no poder e usá-la para seus objetivos egoístas? No processo de escrita e de coisas 
dos originais não teriam os monges copistas cometidos erros graves ao ponto de 
comprometer a fidelidade das Escrituras? Como podemos saber? 
 
 
Guia de Estudo: Após a leitura acima, reflita sobre os questionamentos e 
responda, disponibilizando na sala virtual compartilhando com seus colegas. 
 
 
14 
 
ESTRUTURA DA BÍBLIA 
1 
CONHECIMENTO 
 
Conhecer os aspectos relevantes da Introdução à Bíblia com ênfase na 
organização da Bíblia e suas divisões, bem como no conceito de inspiração e 
revelação. 
 
HABILIDADE 
 
 Ser capaz de compreender e interpretar textos sobre o tema bem como ser 
capaz de fazer exposição escrita, pública em eventos, palestras, seminário em 
ambiente acadêmico e eclesiástico acerca do tema. 
 
ATITUDE 
 
 Buscar desenvolver e exercitar capacidade reflexiva crítica acerca do objeto 
estudado e incorporá-la na sua práxis. 
 
 
15 
 
Peculiaridades de um Livro 
 
Além da grande tiragem existente, há muitos outros detalhes que fazem da 
Bíblia um livro incomum, ou, mais propriamente, um livro sem igual. 
Vejamos algumas: 
 
1) A Bíblia foi o primeiro livro impresso no ocidente por Johnnes Gutenberg 
entre 1450 e 1455. Ela também foi o primeiro livro impresso em português, 
no ano de 1487 na região do Algarve, Portugal. 
 
2) Foi também o livro mais proibido, perseguido e que sofreu tentativas de 
destruição em toda a história. Só à guisa de ilustração, em 303 d.C., 
Diocleciano decretou que cada cópia da Bíblia Cristã fosse queimada. 
Presume-se que centenas, senão milhares de cópias tenham se perdido. 
Por pouco não teríamos o Novo Testamento. Muitos foram mortos apenas 
por possuir uma cópia parcial da Bíblia em seus lares. 
 
 
3) Até mesmo a igreja foi contrária à divulgação bíblica. Em 1199 o papa 
Inocêncio III proibiu a tradução da Bíblia para o vernáculo francês e decretou 
que seria um perigo se a Bíblia fosse lida por pessoas simples do povo. 
Quem fosse apanhado lendo ou ensinando a Bíblia na França seria morto. 
Várias Bíblias foram queimadas a mando da Igreja. 
 
4) Apesar de tantas destruições textuais, a Bíblia é o livro da antiguidade com a 
maior quantidade de cópias manuscritas que se tem notícia. Enquanto a 
Ilíada de Homero (o clássico com maior número de cópias preservadas) 
conta com apenas 643 manuscritos, a Bíblia tem mais de 40 mil cópias se 
incluirmos os textos em grego e hebraico, as traduções antigas e porções 
preservadas antes da invenção da imprensa. 
 
 
 
16 
 
5) A Bíblia é, sem dúvida, o livro mais controverso da história. Nomes de peso 
como Emanuel Kant (1724-1804), Abraão Lincoln (1809-1865), Isaac 
Newton (1643-1727) o amam e recomendam sem qualquer hesitação. Por 
outro lado, nomes igualmente de peso o rejeitam e desprezam sua leitura. 
Voltaire (1694-1778), Nietzsche (1844-1900) e Sartre (1905-1980) são 
alguns deles. Seja como for, percebe-se que não é um livro 
necessariamente dos menos intelectuais, pois embora haja mentes 
brilhantes que o rejeitem, há outras que o amam profundamente. 
 
6) Curiosamente o texto bíblico não se setoriza em apenas um grupo de 
pessoas. Ele desperta o interesse e atende às necessidades de jovens, 
adultos, crianças, cultos, iletrados, ricos, pobres. É a obra mais 
ecleticamente social de toda a história – tanto do ocidente quanto do oriente. 
 
 
7) Embora existam muitos livros de autoajuda ou reflexivos que tenham 
mudado a mente de várias pessoas, nenhuma produção literária da história 
modificou tantas vidas como a Bíblia Sagrada. Bêbados, traficantes, 
prisioneiros, depressivos, suicidas potenciais, assassinos são apenas alguns 
dos milhões e milhões ao longo da história que tiveram vida transformada 
pelo contato com esse livro em particular. 
 
Bruce Metzger (1987), eminente teólogo especialista em crítica textual do 
Novo Testamento comenta que certa vez ouviu falar que a Bíblia poderia ser 
comparada a uma piscina cheia de água. Uma piscina com uma parte tão rasa que 
as crianças poderiam ficar em pé e outra tão profunda que um elefante poderia 
nadar nela sem qualquer dificuldade. Pois bem, a Bíblia é um maravilhoso resumo 
que contêm passagens em alguns casos bem densas e profundas. Mas, no geral, 
se apresenta como um conteúdo simples o bastante para que qualquer um possa 
por conta própria lê-la e entender os desígnios de Deus para cada pessoa. 
 
 
 
 
17 
 
Nomes para a Palavra de Deus 
 
Não encontramos nas Escrituras o nome “Bíblia”. Esse título foi usado pela 
primeira vez em relação à Palavra de Deus, por João Crisóstomo, um patriarca e 
reformador de Constantinopla (354-407 d.C.). 
 
O nome Biblia deriva de Byblos que é o nome de uma importante cidade 
portuária da região dos fenícios que hoje fica no Líbano. Foram os gregos que 
deram esse nome ao lugar, devido à sua importância no comércio de papiro – um 
tipo de papel importado do Egito. Aliás Byblos também era o nome que os gregos 
davam ao papel que os egípcios preferiam chamar de “wadj”. 
 
Pois bem, com a diferença de apenas uma letra, Byblos virou Biblos e 
passou a significar “livro”. O diminutivo de livro em grego é Biblion que quer dizer 
livrinho e o plural é Biblia que quer dizer “livrinhos”. Foi justamente por ser uma 
coleção de pequenos livros que a Escritura Sagrada passou a ser chamada de 
Bíblia, nome este que ficou até os dias de hoje. 
 
Tudo indica que foi Crisóstomo, um autor cristão do IV século, que usou 
pela primeira vez o nome Bíblia para se referir ao Antigo e Novo Testamento 
(BRUCE, 1988). Contudo, há indícios de que já em 223 d.C., o título era vez ou 
outra usado por seguidores do cristianismo para referirem-se aos escritos dos 
apóstolos e, antes deles, judeus helenistas que viviam em Alexandria valiam-se da 
expressão “ta bíblia” (os livrinhos) para indicar uma tradução grega do Antigo 
Testamento normalmente conhecida como Septuaginta. Mais à frente você 
conhecerá a história dessa tradução. 
 
No contexto do judaísmo, a palavraEscritura Sagrada é preferível à 
palavra Bíblia que eles têm como um apelido cristão. Eles também se valem muito 
do termo Tanak que seria uma abreviatura de três palavras hebraicas, a saber: 
 
18 
 
Torá (lei), Neviim (profetas) e Ketuvim (escritos). Estas, por sua vez, representam 
as três maiores divisões da Escritura, embora também seja comum referirem-se a 
ela como apenas a Torá ou a Lei e os Profetas. Esta divisão, aliás, já era 
conhecida nos tempos do Novo Testamento, pelo que Jesus fez uso dela em 
diversos momentos de seu ministério (cf. por ex. Mateus 7: 12; 11: 13; 22: 40; 
Lucas 10:26; 16: 16, 17; 24:44; João 1: 45; 10:34). 
 
Hoje em dia os cristãos costumam dividir a Bíblia em Antigo e Novo 
Testamento. Essa é uma nomenclatura que não pode ser confundida, pois com o 
advento de uma cultura tecnológica repleta de updates e novas versões, a 
expressão “antigo” ou “velho” Testamento pode indicar algo obsoleto, sem valor 
para atualidade, fora de moda. Contudo, não é nada disso. Toda a Palavra de 
Deus, do primeiro ao último livro será sempre atual para aquele que crê. 
 
O nome Antigo Testamento foi criado por Melito de Sardis em cerca de 170 
d.C. para referir-se aos livros sagrados escritos antes da vinda de Jesus Cristo a 
esse mundo e Novo Testamento, para os que foram escritos depois de sua vinda. 
A primeira parte, portanto, seria uma espécie de prenúncio do Messias que haveria 
de vir e a segunda um anúncio do Messias que veio e que voltará. A primeira conta 
a história do povo da criação e queda do Mundo, mas se concentra na cidade de 
Israel. Já a segunda concentra-se no ministério de Jesus e na história da Igreja 
Cristã primitiva. 
 
 Por que Antigo e Novo Testamento e não Antiga e Nova Escritura? É bem 
verdade que, algumas das antigas versões gregas preferiam chamar essas 
porções de Antiga e Nova Aliança. Mas, ao que tudo indica, os teólogos 
consideraram que sendo a aliança ou o acordo de Deus com os homens algo que 
demanda muito mais a ação divina que a ação humana, preferiram traduzir o termo 
por testamentum que quer dizer justamente isso, um testamento que Deus em 
pessoa deixou para nós. Uma herança em forma de livro (VOS 1915). 
 
 
19 
 
Organização do Livro Sagrado 
 
Como você pode ver na seção acima, não se trata na verdade de um livro, 
mas de uma coleção de pequenos livros que juntos formam a famosa Bíblia 
Sagrada. Eles foram escritos por aproximadamente 40 autores num período de 
aproximadamente 1600 anos que vai do século XV a.C. ao final século I d.C. 
 
Esses livros são normalmente referidos como o cânon bíblico ou o cânon 
das Escrituras. Por esse nome (cânon) entenda a lista dos livros considerados 
sagrados pela comunidade religiosa. E mais uma vez precisamos recorrer ao grego 
para entender isso. É que cânon vem de “kanoni” que quer dizer “regra” ou “vara de 
medir”. O termo foi então escolhido pelos cristãos para diferenciar livros sagrados 
(ou canônicos) de livros comuns, mas alguns dizem que a ideia já vinha dos judeus 
(ULRICH 2002). 
 
O Cânon Hebraico contém 24 livros. Cada um era disposto num rolo de 
pergaminho conforme o costume mais antigo. Já o Antigo Testamento, conforme 
adotado pelo cristianismo, tem muito mais que isso e as razões não são difíceis de 
entender. Primeiro porque os cristãos dividiram alguns dos livros que na versão 
hebraica aparecem como um só volume. Por exemplo, Samuel, Reis e Crônicas 
agora aparecem como I e II Samuel, I e II Reis e I e II Crônicas. O mesmo se dá 
com Esdras e Neemias – originalmente um só livro – mas que hoje aparecem como 
dois diferentes compêndios. E assim por diante. 
 
Os nomes com os quais estamos mais acostumados a nomear os livros do 
AT vêm do grego, através da titulação que aparece na Septuaginta, uma antiga 
versão grega das Escrituras que será apresentada mais à frente. Já os judeus 
costumavam chamar os cinco primeiros livros de Moisés a partir das duas primeiras 
palavras que apareciam no texto. Assim, seus títulos hebraicos seriam: 
 
 
20 
 
 
 Torá 
Bereshit (No princípio...) (Gênesis) 
Shemot (Os nomes...) (Êxodo) 
Vayikra (E Ele chamou...) (Levítico) 
Bamidbar (No deserto...) (Números) 
Devarim (As palavras...) (Deuteronômio) 
 
 NEVIIM (Profetas): 
Yehoshua (Josué) 
Shoftim (Juízes) 
Shmuel (I & II Samuel) 
Melakhim (I & II Reis) 
Yeshayah (Isaias) 
Yirmyah (Jeremias) 
Yechezqel (Ezekiel) 
 
 Os Doze (tratados como um livro) 
Hoshea (Hosea) 
Yoel (Joel) 
Amos 
Ovadiá (Obvadia) 
Yoná (Jonas) 
Mikhá (Micah) 
Nachum 
Chavakuk (Chabacuque) 
Tzefanyá (Zephanias) 
Chagai 
Zecharia (Zacarias) 
Malachi 
 
 KETUVIM (Escritos): 
Tehilim (Salmos) 
 
21 
 
Mishlei (Provérbios) 
Iov (Jó) 
Shir Ha-Shirim (Cântico dos cânticos) 
Ruth 
Eichá (Lamentações) 
Kohelet (nome do autor) (Eclesiastes) 
Esther 
Daniel 
Ezra & Nechemyah (Nehemia) (tratado como um livro) 
Divrei Ha-Yamim (As palavras dos diasdays) (Crônicas) 
 
Além disso, existe uma discussão (mais à frente falaremos dela) 
concernente aos chamados livros apócrifo ou deuterocanônicos. Trata-se de uma 
coleção de livros que não faziam parte do cânon original da Bíblia Hebraica (e por 
isso foram rejeitados pelos protestantes), mas que terminaram aceitos e incluídos 
pelas igrejas Ortodoxa, Etíope e Católica. 
 
Se colocássemos os livros da Bíblia numa estante de biblioteca eles 
estariam assim organizados segundo a forma cristã: 
 
22 
 
 
Figura 1 
 
Como você pode ver pelo desenho acima, os cinco primeiros livros 
(coloridos de marrom) foram escritos por Moisés e recebem o nome de Pentateuco. 
Eles trazem a história do mundo desde a criação até à primeira parte da história do 
povo hebreu e seu período de peregrinação no deserto, quando ainda não eram 
uma nação propriamente dita. Isso vai desde as origens da humanidade até por 
volta do século XIV a.C. 
 
A seguir temos mais três livros (também em tom marrom) que narram 
episódios ocorridos no tempo em que Israel se assentava na terra prometida e vivia 
governado por Juízes e Sacerdotes. Já a coleção seguinte (em tom verde) dá 
sequência à história contando uma nova fase administrativa em que Israel agora 
era governado por reis. Essa fase foi interrompida pela tragédia do cativeiro da 
 
23 
 
Babilônia que pôs fim à monarquia de Israel. Ambas as coleções são classificadas 
como Livros Históricos e cobrem um período de aproximadamente 700 anos que 
vai desde o século XIV até ao século VI a.C. (Ver figura 1) 
 
Os três livros em cor bege (Esdras, Neemias e Ester) narram episódios 
ocorridos após o cativeiro Babilônico, quando o povo já não tinha mais um rei e 
lutava para reconstruir sua identidade nacional. Eles também fazem parte dos 
Livros Históricos e podem ser situados no século V a.C. 
 
A próxima coleção de cor vermelha poderia ser chamada de um parêntese 
na cronologia dos fatos, pois traz uma coleção de músicas, poesias, drama e ditos 
populares que narram a sabedoria do povo de Israel. Tanto é que os especialistas 
costumam chamar essa coleção de Livros Poéticos ou Sabedoria. Um destaque 
especial é a história de Jó, o homem que representa o sofrimento de todos os que 
se sentem abandonados por Deus. (Ver figura 1). 
 
Então a história dá um recuo para apresentar um conjunto especial de 
livros chamados Proféticos. Trata-se da coleção de oráculos e episódios históricos 
envolvendo homens que tiveram o dom de profecia e exortaram Israel e outros 
povos a voltarem-se para Deus especialmente nos tempos da monarquia e no 
período pós-cativeiro. Note que eles estão divididos em dois grupos identificados 
por dois tons de azul. ( Conferir figura 1) 
 
Os primeiros quatro livros (Isaías, Jeremias, Lamentações e Ezequiel) são 
– devido ao seu volume de conteúdo literário – chamados profetas maiores e os 
demais (que na bíblia hebraica aparecem como umsó livro), profetas menores. O 
livro de Daniel – que aqui aparece no grupo dos profetas menores – é um caso à 
parte. Os cristãos o reconhecem como profeta, mas no meio judaico ele é 
reconhecido apenas como um homem sábio, não como um profeta. Embora, a bem 
da verdade, os sábios do Talmude eram divididos quanto a isso e Jesus chamou a 
Daniel de profeta (MATEUS 24:15). 
 
24 
 
O Talmude é uma coleção de 63 tratados judaicos envolvendo assuntos religiosos, 
legais, éticos e históricos compilados por antigos rabinos. Ele foi publicado no V 
século d.C. na Babilônia onde viviam muitos judeus. É a mais importante coleção 
de leis e interpretações do judaísmo seguida até hoje pelos judeus ortodoxos. 
Veja Halachot Gedolot Capítulo 76; Seder Olam Rabbah, capítulo 20; Comentário 
do Rabino Shlomo Ytizchaki Rashi ao Megillah, ibid. 
 
 
Eis a seguir um esquema cronológico dos livros do AT em relação à 
história que eles relatam. 
 
 
Figura 2 
 
Observando essa seção de estudos temos então as coleções que formam 
o Novo Testamento. Os quatro primeiros livros em amarelo são os evangelhos que 
narram a vida e o ministério de Jesus Cristo. A seguir temos, isolado dos demais, o 
livro de Atos que conta a história da Igreja Cristã primitiva com destaque para o 
ministério do apóstolo Paulo. (Ver figura 1) 
 
25 
 
A longa coleção como mostra a (Figura 1) – dividida em dois tons de verde 
– são as cartas ou epístolas cristãs. As treze primeiras são atribuídas à autoria de 
Paulo e, por isso, chamadas Epístolas Paulinas. As demais são conhecidas como 
epístolas universais e foram escritas por outros autores. 
 
Epístola vem do grego antigo e significa uma espécie de carta especial enviada a 
um amigo ou a uma comunidade em particular, tratando de assuntos políticos, 
filosóficos, morais ou teológicos. 
 
Um caso especial é quanto a Hebreus. Os autores ainda estão divididos 
quanto à sua autoria, se ela pertence ou não à pena do apóstolo Paulo. Há quem 
diga que ela nem pode ser considerada uma epístola, mas que seria antes um 
sermão ou tratado teológico baseado nos ensinamentos de Paulo. Seja como for, 
ainda que a autoria não seja diretamente paulina, o conteúdo certamente é. 
 
Finalmente, o último livro em roxo é o Apocalipse, cujo conteúdo traz 
revelações dadas por Deus ao apóstolo João para mostrar os eventos que 
ocorreriam no mundo e na história da igreja desde os dias apostólicos até à 
segunda vinda de Cristo e a restauração de todas as coisas no paraíso restaurado 
por Deus. (Ver fiura 1) 
 
Livro por Livro 
 
A Bíblia demorou muitos anos para atingir a forma e o conteúdo que hoje 
conhecemos. Ela começou a ser escrita no século XV a.C. e terminou no final do I 
século d.C. Logo foram mais de 1.400 anos de produção efetuada por certa de 40 
diferentes autores. 
O AT foi escrito na região de Israel, na Babilônia (onde o povo judeu ficou 
exilado), no Egito e na Pérsia. Já o NT foi escrito em Israel, Síria, Ásia Menor, 
 
26 
 
Roma (Itália) e partes da moderna Grécia e Turquia (que faziam parte do antigo 
Império Romano). 
A maior parte dos Livros do AT foi escritos em Hebraico, com algumas 
poucas sessões em Aramaico e o NT foi todo escrito em grego koiné – uma versão 
popular do grego clássico falado na antiga Grécia. 
Uma vez apresentada a organização da Bíblia em livros e a lógica por 
detrás desta listagem, seria interessante conhecer um pouco de cada livro, sua 
origem, seus propósitos, possível data e autoria e o significado de seus títulos. 
Algumas autorias e datas serão hipotéticas, pois se baseiam na tradição judaica. 
Outros já são mais seguros de serem classificados. Igualmente as datas são 
aproximadas e remontam a quando o livro começou a ser redigido. Alguns, no 
entanto, demoraram décadas para assumir a forma que estão hoje. É o caso de 
Isaías e Daniel que começaram a ser escritos quando os respectivos profetas ainda 
eram jovens e terminaram quando já eram avançados em anos. 
 
Antigo Testamento 
 
 Pentateuco ou Torá – Torá, como já foi dito, significa Lei e refere-se, 
normalmente, aos cinco primeiros livros escritos por Moisés. Pentateuco é o 
nome grego da mesma coleção e quer dizer “cinco rolos” ou “cinco livros”. 
 
Livro Significado Conteúdo Data e Autoria 
Gênesis Origem Este livro mostra 
a história desde a 
criação e queda 
do ser humano 
até a entrada dos 
filhos de Jacó 
para viverem no 
Egito. 
Moisés – ca. 
1450 a.C. 
Êxodo Saída Como Deus livrou 
os hebreus da 
escravidão no 
Egito e fez uma 
aliança com eles. 
Moisés – ca. 
1450 a.C. 
Levítico Nome de uma Leis e Moisés – ca. 
 
27 
 
das tribos de 
Israel 
regulamentos 
acerca do oficio 
no santuário. 
1450 a.C. 
Números Relativo so censo 
do povo hebreu 
Censo do povo 
hebreu 
promovido 
durante sua 
caminhada pelo 
deserto 
Moisés – ca. 
1450 a.C. 
Deuteronômio Repetição das 
leis 
Moisés pronuncia 
três discursos de 
despedida antes 
de morrer. Neles 
recapitulou com o 
povo as leis 
dadas por Deus 
Moisés – ca. 
1450 a.C. 
 
 Livros históricos 
 
Josué Nomeado 
segundo o autor 
principal 
Viória dos 
israelitas sobre 
seus inimigos 
cananeus. 
Distribuição das 
tribos na terra 
prometida. 
Josué (24.26) e 
outros autores 
(24.29-33). Ca. 
1350 a.C. 
Juízes Juízes Os istaelitas 
tomam atitudes 
que quebram seu 
pacto com Deus. 
O Senhor, então, 
manda juízes 
para livra-los de 
povos inimigos 
Samuel (?) ca. 
930 a.C. 
Rute Nomeado 
segundo a 
personagem 
principal 
Narra a história 
dos ancestrais do 
rei Davi. 
Samuel (?) ca. 
960 a.C. 
Samuel I e II Nomeado 
segundo autor 
principal 
Começos da 
Monarquia em 
Israel 
Samuel; Natã e 
Gade ( 1 Cr 
29.29) ca. 900 
a.C. 
Reis I e II Reis História da 
monarquia unida 
e dividida de 
Israel 
Jeremias 
(segundo a 
tradição e o 
Talmude) Esd 
1:1; 2 Cr 
36:22 ca. 600 
 
28 
 
a.C. 
Crônicas I e II Relatos História da 
Monarquia de 
Saul à chegada 
de 
Nabucodonosor 
Esdras (segundo 
a tradição) 450 
a.C. 
Esdras Nomeado 
segundo o autor 
Restauração de 
Judá na terra de 
Canaã 
Esdras (porque 
muito se fala dele 
na primeira 
pessoa) ca. 450 
a.C. 
Nemias Nomeado 
segundo o 
personagem 
principal 
Recnstrução de 
Jerusalém 
Neemias 
(segundo a 
tradição) ca. 450 
a.C. 
Ester Nomeado 
sengundo a 
personagem 
principal 
Uma história de 
heroísmo e 
libertação dos 
judeus durante o 
governo da 
Pérsia 
Mardoquel (?) 
cerca de 500 a.C. 
 Livros Poéticos 
Jó Nomeado 
segundo o 
personagem 
principal 
Uma das mais 
antigas 
teodiceias 
lidando com o 
problema do mal 
e do sofrimento 
humano. 
Moisés (segundo 
a tradição) ca. 
1450 a.C. 
Salmos Derivado de 
Psalterion um 
instrumento 
musical de 
cordas 
Coletânia de 
hinos do povo 
judeu. 
Vários 
Provérbios Provérbios Coletânea de 
ditados de 
sabedoria 
Salomão 
(segundo a 
tradição) (1 Rs 
4.29-34; 10.24), Pv 
1.1, Mais poemas de 
Agur (cap. 30), 
Lemuel (cap. 31). 
Foram compilados 
pelos escribas de 
Ezequias (25.1).960 
a.C. 
Eclesiastes Pregador Meditação sobre 
o significado da 
contingência 
desta vida. 
Salomão 
(segundo a 
tradição) ca. 960 
a.C. 
Cantares Cânticos Este poema Salomão 
 
29 
 
descreve o gozo e 
o êxtase do amor. 
Simbolicamente 
tem sido aplicado 
ao amor de Deus 
por Israel 
(segundo a 
tradição) 960 a.C. 
 
Livros Proféticos 
 Profetas maiores – Os profetas maiores são a coletânea de profecias mais 
extensas. Assim o termo “maior” efere-se ao tamanho ou ao tempo em que 
tais profetas permaneceram profetizando. 
Isaías Segundo o 
autor 
O profeta Isaías trouxe a 
mensagem do juízo de 
deus às nações, anunciou 
um rei futuro, à 
semelhança de davi, e 
prometeu uma era de paz 
e tranquilidade. 
Isaías ca. 700 
a.C. 
Jeremias Segundo o 
autor 
Muito antes da destruição 
de Judá pela 
Babilônia, Jeremias 
predisse o justo juízo de 
deus. Embora sua 
mensagem seja 
majoritariamente de 
destruição, Jeremiastambém falou do novo 
pacto com Deus. 
 
Jeremias ca. 
587 a.C. 
Lamentações Segundo o 
autor 
Tal qual Jeremias havia 
predito, Jerusalém caiu 
cativa da Babilônia. Este 
livro registra cinco 
"lamentos" pela cidade 
caída. 
Lamentações 
ca. 600 a.C. 
Ezequiel Segundo o 
autor 
A mensagem de Ezequiel 
foi dada aso judeus 
cativos da 
Babilônia. Ezequiel usou 
histórias e parábolas para 
falar do juízo, da 
esperança e da 
restauração de Israel. 
Ezequiel ca. 
700 a.C. 
Daniel Segundo o 
autor 
Daniel se manteve fiel a 
Deus, mesmo 
Daniel ca. 600 
a.C. 
 
30 
 
enfrentando muita 
pressões quando cativo 
na Babilônia. Este livro 
inclui as visões proféticas 
de Daniel. 
 Profetas menores – São os doze últimos livros do AT, assim conhecidos 
por seu pequeno volume literário. 
Oseas Segundo o 
autor 
Oséias se vale de sua 
experiência conjugal, em 
que ele era dedicado à 
sua esposa, mesmo 
sabendo que ela era infiel, 
para ilustrar o adultério 
que Israel tinha comentido 
contra Deus e para 
mostrar como o fiél amor 
de Deus pelo seu povo 
nunca muda. 
Oseas 750 
a.C. 
Joel Segundo o 
autor 
Depois de uma praga de 
gafanhotos, Joel 
admoesta o povo para 
que se arrependa. 
Joel 800 a.C. 
Amós Segundo o 
autor 
Durante um tempo de 
properidade, este profeta 
de Judá pregou aos ricos 
líderes de Israel sobre o 
Juízo de Deus; insistia em 
que pensassem nos 
pobres e oprimidos, antes 
de pensarem em sua 
própria satisfação. 
Amós 760 
a.C. 
Obadias Segundo o 
autor 
Obadias profetizou o juízo 
sobre Edom, um país 
vizinho de Israel. 
Obadias 586 
a.C. 
Jonas Segundo o 
autor 
Jonas não queria pregar 
para a gente de Nínive, 
que era inimiga de seu 
próprio país. Quando, 
finalmente levou a 
mensagem enviada por 
Deus, seus habitantes se 
arrependeram. 
 
Jonas 760 
a.C. 
Miqueias Segundo o 
autor 
A mensagem de Miquéias 
para Judá era de juízo, 
invés de perdão, 
esperança e 
Miqueias ca. 
700 a.C. 
 
31 
 
restauração. Especialme
nte notável é um versículo 
em que resume o que 
Deus requer de nós (6:8). 
Naum Segundo o 
autor 
Naum anunciou que Deus 
destruiria o povo de 
Nínive por sua crueldade 
na guerra. 
Naum 612.C. 
Habacuque Segundo o 
autor 
Este livro apresenta um 
diálogo entre Deus e 
Habacuque sobre a 
justiça e o sofrimento. 
Habacuque 
600 a.C. 
Sofonias Segundo o 
autor 
Este profeta anunciou o 
dia do Senhor, que trazia 
juízo a Judá e às nações 
vizinhas. Esse dia, que 
haveria de vir seria de 
destruição para muitos, 
mas um peueno 
remanescente, sempre fiel 
a Deus, sobreviveria para 
abençoar o mundo inteiro. 
Sofonias 630 
a.C. 
Ageu Segundo o 
autor 
Depois que o povo voltou 
do exílio, Ageu o 
admoestou para que 
dessem prioridade a Deus 
e reconstruíssem em 
primeiro lugar o templo, 
mesmo antes de 
reconstruírem suas casas. 
Ageu 520 a.C. 
Zacarias Segundo o 
autor 
Como Ageu, Zacarias 
instou o povo a 
reconstruir o templo, 
assegurando-lhes ajuda e 
benção de Deus. Suas 
visões apontavam para 
um futuro brilhante. 
Zacarias 520 
a.C. 
Malaquias Segundo o 
autor 
Após o retorno do exílio, o 
pov voltou a descuidar de 
sua vida 
religiosa. Malaquias 
passou a inspirá-los 
novamente, falalndo-lhes 
do "Dia do Senhor". 
Malaquias 
450 a.C. 
 Novo Testamento 
 Evangelhos – Os Evangelhos são ainda divididos em duas partes: primeiro 
vêm os chamados “Evangelhos Sinóticos”, isto é, evangelhos oriundos de 
 
32 
 
uma só ótica. Depois, em separado, vem o Evangelho de João que segue 
um estilo e fontes próprias. 
Mateus Segundo o autor Este evangelho cita 
muitos textos do 
velho 
Testamento. Ele se 
destinava 
primordialmente ao 
público como o 
Messias prometido 
nas Escrituras do 
Velho 
Testamento. Mateus 
narra a história de 
Jesus desde seu 
nascimento até sua 
ressureição e põe 
ênfase especial nos 
ensinamentos do 
Mestre. 
Mateus ca. 60 
d.C. 
Marcos Segundo o autor Marcos escreveu um 
Evangelho curto, 
conciso e cheio de 
ação. Seu objetivo 
era aprofundar a fé e 
a dedicação da 
comunidade para a 
qual ele escrevia. 
Marcos ca. 50 
d.C. 
Lucas Segundo o autor Neste Evangelho é 
enfatizado como a 
salvação em Jesus 
está ao alcance de 
todos. O evangelista 
mostra como Jesus 
estava em contato 
com as pessoas 
pobres, com os 
necessitados e com 
os são desprezados 
pela sociedade. 
Lucas ca. 60 d.C. 
João Segundo o autor O Evangelho de 
João, pela sua 
forma, se coloca à 
parte dos outros 
três. João organiza 
sua mensagem 
enfocando sete 
sinais que apontam 
para Jesus como 
João Ca. 96 d.C. 
 
33 
 
Filho de Deus. Seu 
estilo literário é 
reflexivo e cheio de 
imagens e figuras. 
 
 Atos – esse é o único livro do gênero no Novo Testamento. Ele conta a 
história original do inicio da Igreja Cristã com ênfase no trabalho de Paulo. 
 
Atos Segundo o 
conteúdo 
Um relato dos 
eventos da 
história e da 
ação da igreja 
Cristã primitiva, 
mostrando 
como a fé se 
propagou no 
mundo 
mediterraneo de 
então. 
Lucas ca. 65 d.C. 
 
 Cartas de Paulo – a coleção de cartas ou epístolas chamadas paulinas 
compreende um total de treze correspondências que Paulo teria enviado às 
igrejas por ele fundadas na Ásia Menor. A ordem que se encontram no NT 
não correspondem à data em que foram escritas. Elas foram organizadas 
não cronologicamente, mas de acordo com sua extensão. 
Teólogos liberais têm colocado em dúvida a autoria paulina de várias 
cartas atribuídas ao apóstolo. Com base nesta compreensão, eles dividem assim 
essa parte do Novo Testamento: 
1 – Cartas proto-paulinas: são as cartas que seguramente teriam sido 
escritas por Paulo. São elas: Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Filipenses, 
I Tessalonicenses e Filemon. 
2 – Cartas deutero-paulinas: são aquelas cuja não é segura ou é negada 
por certo número de teólogos. A saber: Efésios, Colossenses e II 
Tessalonicenses. 
 
34 
 
3 – Cartas trito-paulinas: epístolas que, segundo alguns comentaristas, 
dificilmente seriam do apóstolo Paulo, pois usam uma linguagem diversa e 
tratam de problemas que existiam nas comunidades no final do I Século. 
 Hebreus ainda é um caso à parte. Alguns exegetas chegam a dizer de 
maneira bem humorada que a epístola de Paulo aos hebreus não é epístola, não é 
de Paulo e não é aos hebreus. Contudo, ainda que assim seja, seu conteúdo e sua 
teologia são profundamente paulinas pelo que podemos, sem cometer um grande 
equívoco, situá-la entre o chamado corpus paulinum. 
Outro aspecto interessante é o de que as cartas não foram escritas do 
próprio punho do Apóstolo. Ele as ditava (cf. Rom 16:22) e às vezes assinava (cf. 
Gal 6:11). Talvez a carta a Filemon tenha sido o único escrito com sua própria mão. 
Neste módulo adotamos a apresentação mais conservadora que aceita 
como autênticas as cartas tradicionalmente atribuídas a Paulo – acrescida da carta 
aos hebreus. As datas são igualmente hipotéticas. Sendo assim, esta é a divisão 
que propomos: 
1 – Cartas maiores: Romanos, I e II Coríntios, Gálatas e I e II 
Tessalonicenses. 
2 – Cartas da prisão (escritas quando Paulo estava preso em Roma): 
Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon. 
3 – Cartas pastorais: I e II Timóteo e Tito. 
Romanos Segundo o 
destinatário 
Paulo escreve 
aos romanos 
sobre a vida no 
Espírito, que é 
dada pela fé aos 
que crrêm em 
Cristo. O 
apóstolo 
reafirma a 
grande bondade 
de Deus e 
declara que, 
atavés de Jesus 
Cristo, Deus nos 
Paulo, 58 
d.C. 
 
35 
 
aceita e nos 
liberta de 
nossos pecados 
I e II Coríntios Segundo o 
destinatário 
Uma análise 
dos problemas 
enfrentados 
pela igreja de 
Corinto. 
Discenção, 
imoralidade, 
problemas 
quanto a forma 
da adoração 
pública e 
confusão sobre 
os dons do 
Espírito. Paulo 
escreve sobre 
as dificuldades 
que alguns 
falsos profetas 
haviam trazido 
ao seu 
ministério. 
Paulo, 57 
d.C. 
Gálatas Segundo o 
destinatário 
A liberdade da 
pessoa que crê 
em Cristo com 
respeito à 
Lei.Paulo 
declara que é 
somente pela fé 
que as pessoas 
são 
reconciliadas 
com Deus. 
Paulo, 57 
d.C. 
Efésios Segundo o 
destinatário 
O tema central 
desta carta é o 
propósito eterno 
de Deus: Jesus 
Cristo é a 
cabeça da 
igreja, que é 
formada a partir 
de muitas 
nações e raças. 
Paulo, 63 
d.C. 
Filipenses Segundo o 
destinatário 
A enfase desta 
carta está no 
gozo que o 
crente em Cristo 
encontra em 
todas as 
Paulo 64 
d.C. 
 
36 
 
circunstâncias 
da vida. 
Colossenses Segundo o 
destinatário 
o apóstolo 
Paulo conclama 
aos cristão de 
Colossos que 
abandonem 
suas 
superstições e 
tomem a Cristo 
como o centro 
de sua vida. 
Paulo 63 
d.C. 
I e II 
Tessalonicenses 
Segundo o 
destinatário 
O apóstolo 
Paulo dá 
orientações aos 
cristãos de 
Tessalonica a 
respeito do 
estado dos 
mortos e da 
segunda vinda 
de Cristo. 
Paulo 49 e 
52 d.C. 
I e II Timótes Segundo o 
destinatário 
Estas cartas 
serviram de 
orientação a 
Timóteo, um 
jovem líder da 
igreja 
primitiva. O 
apóstolo Paulo 
lhe dá 
conselhos sobre 
a adoração, o 
ministério e os 
relacionamentos 
dentro da igreja. 
Paulo, 63 
d.C. 
Tito Segundo o 
destinatário 
Tito era ministro 
em 
Creta. Nesta 
carta Paulo o 
orienta sobre 
como ajudar os 
novos cristãos. 
Paulo 64 
d.C. 
Filemon Segundo o 
destinatário 
Filemon é 
instado a 
perdoar seu 
escravo 
Onésimo que 
havia 
fugido. Filemon 
deveria aceitá-lo 
Paulo 63 
d.C. 
 
37 
 
de volta como a 
um amigo em 
Cristo. 
Hebreus Segundo o 
destinatário 
Nesta carta, o 
autor exorta os 
novos cristãos a 
não observarem 
mais os ritos 
cerimoniais do 
judaismo, pois, 
em Cristo, eles 
já foram todos 
cumpridos. 
?, 62 d.C. 
 Epístolas universais – Tratam-se de cartas inspiradas, mas que não foram 
escritas por Paulo. Elas são chamadas de universais, gerais ou católicas 
por que são dirigidas às comunidades cristãs como um todo. Cada uma foi 
nomeada de acordo com seu autor. 
Tiago Segundo o autor Irmão do Senhor 
Jesus, este Tiago 
foi apedrejado 
até a morte, 
pastor da igreja 
em Jerusalém. 
Sua carta é para 
encorajar os 
crentes que 
punham sua fé à 
prova exortar e 
instruí-los 
concernentes ao 
resultado da fé, 
na vida de 
retidão e boas 
obrasTiago 
aconselha os 
cristãos a 
viverem na 
prática sua fé e, 
além disso, 
oferece idéias 
sobre como isso 
pode ser feito. 
Tiago ca. 49 d.C. 
I e II Pedro Segundo o autor Estas cartas 
foram escritas 
para confortar os 
cristãos da igreja 
primitiva que 
Pedro ca. 60 d.C. 
 
38 
 
estavam sendo 
perseguidos por 
causa de sua fé. 
Nelas, Pedro 
adverte os 
cristãos sobre os 
falsos mestres e 
os estimula a 
continuarem 
leiais a Deus. 
I, II e III João Segundo o autor A primeira carta 
explica deste 
corpus traz 
verdades básicas 
sobre a vida 
cristã com enfase 
no mandamento 
de amarem uns 
aos outros. A 
seguir, temos 
outra carta 
dirigida à 
"senhora eleita e 
aos seus filhos". 
Nela o autor 
adverte os 
cristãos quanto 
aos falsos 
profetas. 
Finalmente, em 
contraste com 
sua segunda 
carta, esta fala da 
necessidade de 
receber os que 
pregam a Cristo. 
João ca. 90 d.C. 
Judas Segundo o autor Judas (que não é 
o apostolo que 
traiu o senhor), 
possivelmente 
outro irmão de 
Jesus e de Tiago. 
Ele adverte seus 
leitores sobre a 
má influência de 
pessoas alheias 
à irmandade dos 
cristãos. 
Judas ca. 65 d.C. 
 
39 
 
Apocalípse – este é outro escrito de característica única na coleção de textos do 
NT. Ele segue as características de um tipo de literatura chamada apocalíptica, 
relativamente comum entre os judeus. É uma forma distinta de fazer profecias. 
Apocalipse Nomeado 
segundo o estilo. 
Foi escrito para 
encorajar os 
cristãos que 
estavam sendo 
perseguidos e 
para firmá-los na 
confiança de que 
deus cuidará 
deles. Usando 
símbolos e 
visões, o escritor 
ilustra o triunfo do 
bem sobre o mal 
e a criação de 
uma nova terra e 
um novo céu 
João 90 d.C. 
 
 
 
A palavra “católica” embora hoje designe o nome do maior ramo eclesiástico do 
cristianismo, tinha outro sentido no passado. Ela vem do grego katholikos com o 
sentido de “geral” ou “universal”. É esse o sentido usado em relação às epístolas 
não paulinas do NT. 
 
 
 
Geografia dos Eventos Bíblicos 
 
No mapa abaixo temos a abrangência geográfica dos eventos 
mencionados na Bíblia, indicando a localidade onde os mesmos tiveram lugar. 
Como você pode ver, embora Deus tenha escolhido os judeus para revelar sua 
Palavra profética, a revelação não ficou restrita aos limites de Israel. 
<arte> 
 
 
40 
 
 
Figura 3 
 
Uma coletânea de histórias 
 
É muito interessante observar que a Bíblia é antes de tudo um livro de 
histórias e também um livro histórico. Ou seja, não se trata de uma coleção de 
lendas como as mitologias gregas ou as fábulas de Isopo e La Fontaine. Os 
episódios descritos são reais e tiveram seu lugar na história. 
 
Ao invés de inspirar os profetas a escreverem um tratado filosófico sobre a 
divindade, a Providência preferiu dar aos homens um livro que narra a história de 
Deus em meio à história da humanidade. Por isso, não seria errado chamar a Bíblia 
de “uma história de Deus”, embora, é claro, sendo um ser eterno, o Altíssimo não 
possa ser confinado aos limites de uma biografia. 
Existem cinco vantagens básicas em se descrever a Deus através de uma 
história de suas ações: 
 
41 
 
 
1- Todos geralmente gostam de histórias. Adultos, crianças, iletrados ou 
eruditos e todos têm facilidade para reproduzir pelo menos a essência de 
seu conteúdo. Assim fica mais fácil, às gerações que se seguem, transmitir o 
conteúdo da revelação divina. 
 
2- Histórias dão um fundamento racional e evidenciável para a mensagem que 
se pretende transmitir. Ou seja, se a história que a Bíblia apresenta for 
verdadeira ela será verificável e a Teologia que se assenta nesta história 
também o será. Logo, é possível verificar sua legitimidade. Mesmo, é claro, 
que jamais possamos provar ou explicar com critérios humanos eventos 
como, por exemplo, a ressurreição de Cristo dentre os mortos. 
 
 
3- Histórias reais costumam deixar traços em todas as culturas que 
testemunharam seu acontecimento. Logo, pressupondo que as bases 
históricas da Bíblia (a criação, a queda humana, o dilúvio etc) sejam eventos 
de repercussão universal, é de se esperar que outras culturas fora da Bíblia 
também façam menção deles e isso permite que mesmo povos que não 
tiveram contato direto com a revelação escriturística possam ter algum 
acesso, por mínimo que seja, às verdades ali apresentadas. 
 
4- Quando uma história é boa, as pessoas tendem naturalmente a transmiti-la 
para outros. É como uma boa piada que mesmo quem não é muito 
engraçado arrisca repeti-la na esperança de que outros riam também. 
 
 
5- Finalmente, recontar uma história passada traz consigo a vantagem de 
repetir emocionalmente o evento como se o mesmo estivesse mais uma vez 
acontecendo diante dos nossos olhos. Isso ajuda na preservação do fato e 
da mensagem que ele contém. 
 
 
 
 
42 
 
 
Um livro perigoso 
 
A Bíblia traz sobre si uma reinvindicação muito séria que, se for verdadeira, 
faz dela o livro mais importante de todos os tempos e se for mentirosa o mais 
terrível que a humanidade já produziu. Ela diz que é de origem divina: “Toda a 
Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para o ensino, para a repreensão, para 
a correção e para a instrução na justiça” (II Tim. 3:16). Por isso o escritor George 
Bernard Shaw estava de certo modo correto quando chamou a Bíblia de “o livro 
mais perigoso do mundo”. 
 
Afinal de contas, um livro que se declara vindo de Deus só pode ser 
creditado a dois fatores: histerismo ou inspiração. Seja qual for a alternativa 
adotada, é impossível ficar neutro em relação a ele, principalmente nós que 
vivemos no ocidente. Ou ela é inteiramente absoluta ou incrivelmente obsoleta. 
 
Imagine agoraque a Bíblia nunca houvesse sido escrita? Ou preservada 
até nossos dias? O que teria acontecido? Uma resposta precisa é difícil de ser 
dada, mas James Kennedy e Jerry Newcombe lançaram-se ao desafio de 
encontrar uma resposta. Eles escreveram juntos o livro What If the Bible Had never 
Been Written? (E Se a Bíblia nunca houvesse sido escrita?) e concluíram que 
praticamente todos os grandes exploradores, cientistas, escritores, artistas, 
políticos e educadores do ocidente foram tão influenciados por este livro que sem 
ele esses homens jamais teriam feito as contribuições que fizeram. 
 
Exagero? Difícil dizer. Mas pelo menos uma coisa pode ser dita e que 
calaria muitos que consideram a Bíblia um livro sem significado positivo. Dizem que 
certa vez um antropólogo descrente da Bíblia estava entrevistando o missionário 
Kata Ragoso, da nova Guiné. Em uma de suas perguntas ele insinuou o que o 
nativo achava de ter sua cultura terrivelmente modificada pelos hábitos trazidos por 
esse livro de brancos. Era realmente um motivo de agradecimento? 
 
43 
 
Se é motivo para eu agradecer, não sei – respondeu Ragoso – mas para 
você deveria ser, caso contrário eu o estaria agora cozinhando para o meu almoço 
conforme o costume de meus ancestrais que praticavam canibalismo! 
 
Imagine agora os milhares, milhões de pessoas, que tiveram sua vida 
mudada para melhor por causa da leitura deste livro chamado Biblia Sagrada! É 
claro que houve muitos outros clássicos que trouxeram benefícios para a 
humanidade, mas nenhum deles transformou diretamente tantas multidões de 
diferentes níveis sociais e culturais. Tome por exemplo um livro como O Capital de 
Karl Marx. Ele realmente influenciou muito os rumos da economia moderna, mas 
quantos presidiários poderiam ser citados que deixaram o mundo do crime por 
terem lido os escritos de Marx? Quantos assassinos se arrependeram de seus 
crimes e mudaram de vida por terem lido os pensamentos do marxismo? Quantas 
pessoas tiveram uma morte mais tranquila porque em seu leito um amigo leu 
trechos sobre a dialética e a luta de classes? 
 
Isso mostra que o mundo pode estar repleto de bons e excelentes livros, 
mas só a Bíblia pode se dizer inspirada. E o que significa essa palavra 
“inspiração”? 
 
De um modo bastante simplificado podemos dizer que inspiração significa 
“que vem diretamente de Deus”, isto é, que tem origem divina. Em latim, esse 
termo significa “soprar para dentro”, assim como um adulto faz ao insuflar um balão 
de ar. Seria também essa a imagem figurativa de Deus soprando o Espírito na 
mente de uma pessoa. Em seu correspondente grego, esse termo só aparece uma 
vez no Novo Testamento nesta passagem de II Timóteo 3:16. 
 
Ali, ele vem da junção de duas palavras gregas Theos (que quer dizer 
Deus) e Pneustos (que quer dizer sopro, espírito). Logo, algo que foi soprado por 
Deus, ou simplesmente “inspirado” por ele – o mesmo sentido da versão latina. 
 
 
44 
 
Inspiração e revelação 
 
Quando Paulo diz que toda Escritura é inspirada por Deus, está 
evidentemente fazendo referência à já mencionada coleção de livros sagrados que 
ele conhecia em sua época, a saber: a Lei, os Profetas e os Salmos conforme 
vimos em Lucas 24:44. Todos vieram de Deus e para os cristãos ambos (Antigo e 
Novo Testamentos) são considerados Escrituras (I Cor. 2:10-13; I Timóteo 5:18; II 
Pedro 3:15-16). 
 
Isso nos leva a entender que a inspiração envolve, via de regra, um agente 
humano usado por Deus. É, noutras palavras, a operação divina que toma conta do 
autor sagrado, esclarecendo-o, guiando-o, assistindo-o na execução de sua tarefa. 
Foi isso que o autor de Hebreus quis dizer ao afirmar que Deus falou nos tempos 
antigos aos pais pelos profetas (Heb 1:1). Mas como se dava esse processo? 
 
Veja essa declaração de Davi em 2ª Samuel 23:2: “O Espírito do Senhor 
fala por meu intermédio”. Somando o que foi dito com essa declaração de Davi, 
podemos concluir que a Bíblia é um livro divino, mas não caiu pronto do Céu. Ela 
foi se formando ao longo do tempo, admitiu rascunhos, contextos, pequenas 
edições. Para que a Bíblia se concretizasse, o Espírito Santo Se serviu de 
instrumentos que eram humanos e que conservavam a respectiva personalidade, o 
caráter, talento e gênio, os hábitos intelectuais e poderes de estilo típicos de sua 
época. Deus não violentou nem destruiu as faculdades daqueles que escolheu para 
transmitir sua mensagem. O autor continuava sendo um ser humano com suas 
pecualiaridades e seu próprio modo de pensar. É claro que Deus não permitiria à 
humanidade do profeta intervir de modo a prejudicar o conteúdo da revelação. Não 
obstante, é notório, por exemplo, que homens simples como Pedro e João 
escreveram de modo simples, com vocabulário reduzido e expressões mais 
simplórias, bem diferente de Salomão ou Paulo com toda a erudição que lhes dizia 
respeito. Por isso A carta aos Romanos é muito mais primorosa e repleta de figuras 
literárias que o discurso de Pedro expresso no livro de Atos capítulo 3. 
 
 
45 
 
De acordo com o que a própria Bíblia nos dá a entender, com a história de 
Gênesis capítulos 1 a 3, não era plano original de Deus usar um livro para se 
comunicar com os seres humanos. Ao que tudo indica, Adão e Eva tinham franca 
comunhão com seu Criador e, possivelmente, outros agentes celestiais. 
 
Mas a entrada do pecado causou uma ruptura entre criatura e Criador (Isa. 
59:2). O Senhor agora tinha de usar outros meios de se comunicar com o ser 
humano e a revelação nos indica alguns deles: 
 
 1 – anjos vindos em forma humana (Zac. 1:9; Luc. 1:11, 18, 19). 
 2 – visões (Daniel 7:2; Apoc. 1:19) 
 3 – sonhos (Números 12:6; Gênesis 37:5 e 9). 
 4 – a impressão do Espírito Santo (II Pedro 1:21; II Sam. 23:11 e 12). 
 5 – as obras da natureza (Romanos 1:20; Col. 1:13-18) 
 6 – revelações especiais feitas até por quem não é profeta (Mateus 27:19) 
 
Algumas destas formas de comunicação divina podem ocorrer ainda em 
nossos dias. Mas a providência não as considerou o canal mais seguro para 
garantir a preservação dos oráculos celestiais, por isso o Senhor resolveu escolher 
alguns em especial para que fossem usados como escritores inspirados por ele 
para produzirem o seu livro especial – inspirado e autenticado pelo próprio Espírito 
de Deus. Esse livro conteria a revelação especial de Deus dada aos homens. 
 
A Bíblia diz que os que foram eleitos para a tarefa de produzir a Bíblia eram 
“movidos pelo Espírito Santo de Deus” (II Pedro 1:21), logo, as palavras, 
expressões, concatenação das ideias poderiam até ser humanas mas a autoria em 
última instância pertencia a Deus. O teólogo alemão Karl Rahner (1961) encontrou 
um modo interessante de explicar esse fenômeno. Ele percebeu que o termo latino 
“autor” para designar Deus como autor das escrituras poderia ser um tanto dúbio, 
então, ele se lembrou que em alemão você pode falar de alguém como autor 
literário (Verfasser) ou como como originador de um livro (Urheber). Assim, 
 
46 
 
segundo Rahner, Deus originou os livros sagrados, isto é, propiciou que fossem 
produzidos, mas não os escreveu no sentido de que ditou suas palavras ou utilizou-
se do profeta como se fosse uma máquina de escrever ou um teclado de 
computador ele inspirou os pensamentos e ensinos na mente de seus servos, mas 
a linguagem e as imagens usadas eram do próprio profeta em meio à cultura e 
cosmovisão em que ele estava. 
 
Os agentes humanos poderiam, portanto, se valer de pesquisa, 
depoimento de testemunhas, descrição de eventos e até material que não fosse 
inspirado (Lucas 1:1-4). Todos esses métodos, no entanto, tinham a direção do 
Espirito Santo a fim de que o lado humano não afetasse a essência daquilo que 
Deus intentava transmitir (João 16:13 cf. Apoc. 22:19). 
 
 É interessante definir a palavra profeta que vem originalmente do mundo 
grego para referir-seao que fala algo em lugar de uma autoridade espefialmente 
divina ou sobrenatural. Por isso ele pode em algumas vezes dar uma advertência, 
revelar uma situação ou ainda antever acontecimentos futuros. 
 
Varios povos, além dos judeus, diziam possuir mensageiros com dom 
profético, entre eles estavam os mulçumanos, os sibilinos e os gregos, dentre 
outros. No caso bíblico, a orientação é checar se um profeta vem ou não de Deus 
pois assim como há verdadeiros profetas também há falsos líderes dizendo-se 
inspirados por Deus quando na verdade não receberam nenhuma mensagem do 
Altíssimo (cf Deut 18:20-22; Mat 7:15-20; Rom 16:17-18; I Tes. 5:20-21) 
 
REFLETINDO: Como podemos reconhecer um falso profeta? Estudando a Bíblia. 
Se alguém prega algo que vai contra a Bíblia, é falso profeta. Também é importante 
ver se a profecia se cumpre. Se não acontecer, é porque veio da imaginação da 
pessoa, não de Deus. 
 
 
47 
 
Por isso, é possível dizer que a Escritura também tem característica 
autoritativa. Ela não pode ser desrespeitada (João 10:35), nem violada sem 
consequências (Mateus 5:17-20). Ela vem de Deus (Mateus 22:31; II Pe 1:18-20). 
Foi revelada e inspirada por ele. 
 
Os termos “inspiração” e “revelação” são muitas vezes empregados 
indistintamente, por exprimirem apenas aspectos diferentes da mesma verdade 
grandiosa. 
 
 As Escrituras podem, em resumo, ser definidas como uma produção 
literária feita por escritores inspirados, contendo uma série de revelações de Deus 
feitas ao ser humano. 
 
Revelação bíblica é Deus tornar conhecido Seus pensamentos, Suas 
intenções, Seus desígnios, Seus mistérios (Isa 55:8-9; Rom 11:33-34; Apoc 1:1). 
 
Considerando que existe um Deus que transcende o universo, é razoável 
supor que esse mesmo Deus se revele às suas criaturas numa linguagem que elas 
possam compreender. Caso contrário, ficaria sem sentido a comunicação 
divino/humana o conhecimento do altíssimo permaneceria uma utopia. A Bíblia é a 
mensagem de Deus posta em palavras humanas, porque ele resolveu revelar-se à 
humanidade para que essa mesma humanidade compreenda suas verdades. A 
Escritura, pois, tem que ver mais com o conteúdo desta revelação. 
 
A Bíblia está repleta de expressões como: “e falou o Senhor”, “eis o que diz 
o Senhor”, “veio a mim a palavra do Senhor”. Daí estar corretíssimo referir-se a 
esse conjunto de revelações como sendo a “Palavra de Deus”. A propriedade de 
denominarmos o conjunto destas revelações de “A Palavra de Deus”. 
Etimologicamente, revelação vem do latim “revelo”, que significa descobrir, 
desvendar, levantar o véu. Revelação significa, portanto, descobrimento, 
 
48 
 
manifestação de algo que está escondido. A palavra grega correspondente à latina 
“revelação” é “apocalipse”. 
 
Por isso é importante ao se falar de “inspiração” bíblica, ter bem claro 
também o que ela não é: 
 
 1 – Não é uma inspiração humana natural. Muitos pensam que os autores 
da Bíblia eram apenas gênios literários como Carlos Drummond de Andrade 
ou Cora Coralina. A Escritura é muito clara em dizer que a genialidade de 
sua mensagem não vinha da capacidade natural deles. Deus falava através 
deles (2Sm 23.2 c/c At 1.16; Jr 1.9 c/c Ed 1.1; Ez 3.16-17; At 28.25). 
 
 2 – Não é uma inspiração emocional ou até mesmo espiritual como a que 
sentimos hoje diante de uma música inspiradora ou oração fervorosa. A 
emoção de um culto inspirador pode até conter graus de elevação espiritual, 
momentos em que nos sentimentos mais cheios de poder ou mais emotivos. 
Isso não dava com o profeta de Deus, ou ele era plenamente inspirado por 
Deus ou não era. Não havia graus de inspiração. Além disso, sensação 
comum da presença de Deus pode ser algo permanente (I Joao 2:27), ao 
passo que a manifestação profética era algo ocorrido num dado momento 
em que o vidente mal esperava (Dan. 10:4 e 5). 
 
 3 – A inspiração não admite hierarquias proféticas. Ou seja, um profeta não 
é mais ou menos inspirado que outro. Uns podem ter tido visões 
historicamente mais relevantes, outros podem ter recebido apenas a 
mensagem audível e nada mais, porém, uma vez reconhecidos como 
legítimos nenhum deles foi mais ou menos inspirado que o outro. O profeta 
simplesmente é ou não é inspirado não existe graus de inspiração profética. 
 
49 
 
 4 – Inspiração não é onisciência. Ou seja, o projeta muitas vezes se limitava 
a reproduzir aquilo que via, conforme o Senhor lhe mostrava. Ele mesmo, 
muitas vezes, não entendia plenamente todas as nuanças daquilo que o 
Senhor comunicava nem discernia os detalhes do futuro cumprimento de 
suas profecias. Daniel é um caso clássico. A Bíblia diz que ele chegou a 
adoecer por não compreender perfeitamente tudo o que vira em visão e, ao 
que tudo indica, mesmo por ocasião de sua morte ainda guardava muitas 
incógnitas em seu coração. Muitos que vierem depois dele, entenderiam 
suas profecias melhor do que ele mesmo (Daniel 12:4 e 9). 
 
 5 – A inspiração não se prende às intenções do profeta. Foi por perceber 
esta realidade que os exegetas usaram uma expressão latina “sensus 
plenior” cuja tradução literal seria “um sentido mais amplo”. Isto quer dizer 
que o texto pode nos dizer mais do que o profeta intentava transmitir, pois as 
intenções de Deus podem ser mais profundas e abrangentes que o contexto 
imediato do autor bíblico (BROWN, 1955). Por exemplo, Isaías 7:14 ao 
profetizar que uma virgem daria a luz a um menino especial provavelmente 
estaria pensando num príncipe de seus dias que nasceria da casa de Acaz. 
Ele nunca imaginaria a figura de uma virgem de Nazaré carregando um 
recém-nascido numa manjedoura da cidade de Belém. É importante, porém, 
que se diga que esse conhecimento mais profundo do texto só pode ser 
descoberto pela iluminação que o Espirito Santo concede à medida que a 
igreja vai se aprofundando no entendimento da revelação dada por Deus. 
 
 6 – A inspiração também não é um ditado de Deus ao profeta. Existe uma 
ideia popular de origem desconhecida, segundo a qual Deus teria feitio um 
ditado verbal ao ouvido do escritor bíblico, de modo que não haja espaço 
para a atividade pessoal nem para o estilo do escritor inspirado. Isso não é 
verdade. Lucas, por exemplo, fez cuidadosa investigação de fatos 
conhecidos (Lucas 1:4) e Pedro reconhecia que o estilo de Paulo era difícil 
às vezes de ser entendido (II Pedro 3:16). Essa teoria do ditado faz dos 
escritores bíblicos verdadeiros gravadores de áudio sem nenhum tipo de 
 
50 
 
noção ou raciocínio. Pelo contrário, eles eram serem pensantes que 
interagiam com a mensagem que recebiam de Deus. 
 
 7 – A inspiração não é uma mera reflexão. Essa ideia, hoje pouco em voga, 
fez sucesso nos anos 1920 quando foi pela primeira vez exposta no livro “Eu 
e TU” escrito pelo filósofo existencialista Martin Buber. Ele a chamou de 
Teologia do Encontro. Na sua opinião, Deus e o profeta se encontravam 
misticamente, mas Deus não falava nada. Apenas deixava-se sentir. Então, 
depois de um tempo, o profeta escreve uma reflexão pessoal de seu 
encontro com Deus e os homens a canonizam. Um dos grandes 
divulgadores desta teoria para os arraiais do cristianismo foi Emil Brunner. 
A declaração de que a Escritura é inspirada por Deus é feita de várias 
formas ao longo da Bíblia. No Novo Testamento encontramos referências aos 
profetas mais antigos como “Homens que falaram da parte de Deus” e “que foram 
movidos pelo Espírito Santo”, “o Espírito de Cristo que estava neles testificou”. 
 
Existem, portanto, cinco textos principais que você deveria aprender para 
entender essa ideia de revelação e inspiração bíblica. 
Observe abaixo: 
1 – 2Timóteo 3:16 – “Toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para 
ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”. 
2 – 2Pedro 1:20-21 – “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da 
Escrituraé de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por 
vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo 
Espírito Santo”. 
3 – Mateus 5:17-18 – “Não cuideis que vim destruir a Lei ou os profetas: não vim 
ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo, que até que o Céu e a Terra 
passem, nem um jota ou til se omitirá da Lei, sem que tudo seja cumprido”. 
 
51 
 
4. João 10:35 – “A Escritura não pode ser anulada”. 
5. João 17:17 – ‘A tua Palavra é a verdade’. 
 
A Inspiração é uma operação do Espírito Santo, atuando nos homens, de 
acordo com as leis da constituição humana; que não é neutralizada pela influência 
divina, mas aproveitada como um veículo para a expressão completa da 
mensagem de Deus. A Inspiração está geralmente combinada com o progresso 
moral e espiritual do Doutrinador, de maneira que há no todo uma conformidade 
moral entre o Profeta e a sua doutrina. (WESTCOTT Apud APOLINÁRIO 1989) 
 
 
O bispo Ellicott, em seu livro “Aids to Faith”, escreveu: 
A Escritura é a revelação através de meios humanos da inteligência infinita 
de Deus para a mente finita do homem, e reconhecendo nós na palavra 
escrita não só o elemento divino, mas também o elemento humano, 
cremos verdadeiramente que o Espírito Santo penetrou tanto a mente do 
escritor, iluminou a sua alma, e apoderou-se dos seus pensamentos que 
ele, sem lhe ser tirada a sua individualidade, recebeu tudo quanto era 
necessário para o habilitar a expor a Verdade divina em toda a sua 
plenitude. (ELLICOTT Apud APOLINÁRIO 1989, p.411). 
 
Em suma, as verdades contidas na Bíblia são divinas, mas o modo de 
expressá-las é humano. Noutras palavras, este é um livro onde Deus fala com 
sotaque humano. Mas isso envolve outra pergunta-chave que tem a ver com a 
indagação inicial deste tópico. Como saber que livros são ou não inspirados por 
Deus para acrescentá-los ou removê-los do cânon sagrado? 
 
 
52 
 
O CÂNON BÍBLICO 
2 
 
CONHECIMENTO 
 
Conhecer os aspectos relevantes da Introdução à Bíblia com ênfase no 
processo seletivo dos livros que compõem a coleção do Velho e do Novo 
Testamento. 
 
HABILIDADE 
 
 Ser capaz de compreender e interpretar textos sobre o tema bem como 
fazer exposição escrita, pública em eventos, palestras, seminários em ambiente 
acadêmicos e religiosos acerca do tema. 
 
ATITUDE 
 
 Buscar desenvolver e exercitar capacidade reflexiva crítica acerca do objeto 
estudado e incorporá-la na sua práxis acadêmica e religiosa. 
 
 
 
53 
 
Como foram escolhidos os livros da Bíblia? 
 
A Bíblia Sagrada hoje é composta de 66 livros que são reconhecidos tanto 
por católicos quanto protestantes, evangélicos e cristãos ortodoxos. Os católicos e 
ortodoxos, é claro, acrescentam alguns livros à coleção que ainda serão estudados 
nesta disciplina. Eles são chamados de deuterocanônicos ou apócrifos, 
dependendo do autor que se lê. 
 
Seja como for, o que nos interessa por ora é descobrir por que estes e não 
outros livros foram incorporados no cânon das Escrituras. A resposta é simples: 
porque estes foram inspirados por Deus para esse fim. Mas como saber quais 
foram inspirados? 
 
Existe uma acusação muito conhecida de que os livros da Bíblia foram 
decididos por questões políticas, desenvolvidas especialmente em convocações 
eclesiásticas como o famoso concílio de Niceia realizado no ano 325 d.C. 
 
Basta uma pesquisa na Internet e você verá uma quantidade enorme de 
sites dizendo que este concílio, convocado pelo imperador Constantino, foi o 
primeiro encontro de todos os bispos da Igreja Cristã, e que nele inventaram ou 
editaram o Novo Testamento removendo, por exemplo, textos que narravam um 
casamento entre Jesus e Maria Madalena ou que negavam a divindade de Jesus. 
 
Ainda segundo essa teoria, foi ali que queimaram ou proibiram a leitura de 
muitos outros evangelhos que continuam verdades históricas sobre Jesus que não 
foram aprovadas pela igreja. Esses evangelhos foram considerados apócrifos e 
banidos do cristianismo oficial. 
 
Estas afirmações, no entanto, não são precisas e não coincidem com a 
verdade dos fatos. Basta para isso pesquisar as atas que mostram o que foi 
 
54 
 
discutido no concílio e o que os mais antigos historiadores falaram a respeito dele. 
O imperador Constantino, por exemplo, que convocou o encontro, não tinha 
nenhuma cultura formal ou teológica para decidir nada. 
 
Embora ele fosse realmente um líder político, sua intenção não era tomar 
partido de um ou outro lado, mas fazer com que a igreja que ele estava apoiando 
eliminasse divisões internas que poderiam prejudicar o processo. Estas divisões 
eram em concernentes à relação divina entre Jesus e Deus Pai; a construão da 
primeira parte de um credo da igreja, a fixação da data da páscoa e a promulgação 
de do chamado direito canônico que seria um conjunto de leis e regulamentos 
adotados pelos líderes da igreja para a organização do cristianismo em Roma. 
 
Quanto aos anais do encontro, os 318 bispos reunidos expediram um credo 
(symbolum), 20 cânones e uma carta à Igreja de Alexandria. As atas, é claro, 
chegaram até nós de forma fragmentária mas em nenhuma delas, nem mesmo no 
registro dos historiadores que descreveram o encontro, há qualquer indício que 
afirme que no Concílio de Niceia discutiu-se quais os evangelhos fariam ou não 
parte do Novo Testamento. Não há menção a esse assunto em nenhuma das 
pautas, muito menos em relação ao estabelecimento de uma lista oficial de livros 
que comporiam a Bíblia Sagrada. 
 
 
Um cânone ou cânon é um termo que deriva da palavra grega kanon, que designa 
uma vara utilizada como instrumento de medida, e que normalmente se caracteriza 
como um conjunto de regras (ou, frequentemente, como um conjunto de modelos) 
sobre um determinado assunto. 
 
 A evidência, aliás, aponta no sentido contrário. Embora houvesse por 
algum tempo certa disputa quanto aos livros de Hebreus, Tiago, II Pedro, II João, 
Judas e Apocalipse, os cristãos primitivos já tinham em mente que livros eram ou 
não inspirados por Deus para compor as Escrituras cristãs. 
 
 
55 
 
O cânon Muratoriano escrito 150 anos antes do concílio já mencionava os 
evangelhos que fariam parte da Bíblia. Esse mesmo cânon, juntamente com 
Origenes (outro escritor antigo do cristianismo) possivelmente já utilizavam os 27 
livos que temos hoje no Novo Testamento. Igualmente, outros autores que viveram 
bem antes do concílio – como por exemplo, Papias, Justino e Ireneu de Lion - 
também já abordavam a questão dos evangelhos e dos livros neotestamentários 
que seriam ou não inspirados por Deus (ACKROYD e EVANS, 1970). 
 
Tatiano foi outro autor convertido ao cristianismo pela pregação de Justino, 
o Martir, em torno de 150 d.C. .Após longos estudos de doutrinação ele retornou à 
Síria e organizou uma composição dos quatro evangelhos com o fim de harmonizá-
los em todas as suas narrativas. Essa composição recebeu o nome de 
“Diatessaron” que quer dizer “harmonia através dos quatro”. Em pouco tempo essa 
obra serviu de texto litúrgico para a igreja siríaca centralizada em Edessa. 
 
Mesmo entre os autores controversos, reconhecidos como hereges pela 
igreja do II século, encontramos pistas de um cânon formalizado pela maioria da 
igreja Cristã. Marcião de Sinope é um exemplo clássico. Atuando ainda como 
bispo na Ásia menor, ele propôs uma cisão teológica entre o que ele chamou de 
“Deus do Novo Testamento” e “Deus do Antigo Testamento”. 
 
O primeiro seria um Deus bom, caridoso e cheio de misericórdia para com 
os homens. Já o segundo seria um Deus legalista, condenador, pronto para 
condenar a quem cometesse o menor deslize. Em virtude deste raciocínio, Marcião 
rejeitou praticamente todo o Antigo Testamento e só aceitou partes do Novo. Seu 
cânon constava apenas das epístolas de Paulo (menos as epístolas pastorais) e do 
evangelhode Lucas, com exceção dos textos que ligavam Jesus ao Antigo 
Testamento. 
 
Embora alguns acadêmicos reputem o cânon de Marcião como original ou 
como evidência de que não havia ainda uma lista oficial de livros inspirados dentro 
 
56 
 
do cristianismo, é possível ver aqui outra hipótese: de que já havia um cânon quase 
totalmente sistematizado. Caso contrário, a tarefa de Marcião se limitaria a criar um 
cânon e não rejeitar uma lista já existente. 
 
Em favor desta ideia é possível citar uma passagem de Tertuliano que 
diz: 
“Desde que Marcião separou o Novo Testamento do Antigo, ele segue 
necessariamente aquilo que ele mesmo separou, ao passo que foi apenas por sua 
própria autoridade que ele separou o que antes estava unificado. Sendo, pois, algo 
unificado antes de sua separação, o fato desta subsequente separação prova o 
fato de que foi um homem que efetuou essa separação”. (De praescriptione 
haereticorum 30). 
 
 Portanto, embora pudesse haver ainda uma ou outra disputa acerca de 
alguns livros, pode-se dizer que grande parte do Novo Testamento já era 
reconhecida como tal na metade do segundo século d.C. ou até antes disso. 
 
Numa carta escrita no ano 367 d.C. Atanásio, bispo de Alexandria, 
apresentou uma lista dos livros que comporiam os 27 que temos hoje no Novo 
Testamento. Ele foi o primeiro a usar a palavra “canonizados” para se referir a eles 
(BRAKKE, 1994). 
 
Assim, percebe-se que os membros da Igreja de longa data reconheciam 
os autores que eram inspirados por Deus e esses próprios autores já sabiam que 
estavam escrevendo um livro especial. Isso, aliás, já vem desde os tempos do 
Antigo Testamento quando um profeta iniciava sua mensagem dizendo “Veio a mim 
a Palavra do Senhor dizendo...” ou “Assim diz o Senhor”. 
 
Estas expressões indicam que eles sabiam de antemão que estavam 
escrevendo uma Escritura Sagrada e que sua mensagem era de procedência 
 
57 
 
divina. A questão era confirmar se sua “consciência profética” era verdadeira ou 
charlatã e havia critérios para isso. Afinal, embora houvesse a advertência dada 
pelo próprio Deus para não se desprezassem as profecias (I Tes 5:20) e que 
cressem nos profetas a fim de prosperar e estar seguros (II Cron. 20:20), o povo 
também era orientado a não acreditar rapidamente em qualquer um que se dizia 
mensageiro do Senhor. "Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai 
os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo 
mundo fora." I JOÃO 4:1 (veja também Mateus 7:15). 
 
Em primeiro lugar, o verdadeiro profeta deveria promover a obediência a 
Deus (Deut.13:1-4). Suas profecias, quando não fossem claramente condicionais 
deveriam se cumprir para que o povo soubesse que o Senhor realmente falou por 
intermédio dele (Jer. 28:9). O verdadeiro profeta sempre discursará em harmonia 
com a Lei de Deus e as outras revelações anteriormente dadas (ISA. 8:19 E 20). 
 
Finalmente, as obras desse profeta, isto é, os frutos de sua vida, revelariam 
ou não suas credenciais divinas (Mateus 7:25). E o principal de seus frutos seria, 
para os cristãos do I século, o enaltecimento da pessoa de Jesus Cristo (I JOÃO 
4:1-3). 
Os apóstolos receberam a promessa de que o Espírito Santo lhes faria 
lembrar todas as coisas que o Cristo havia dito (João 14:26). Este mesmo Espírito 
os conduziria a toda verdade (João 16:13). Eventos fenomenais ocorridos por 
ocasião do Pentecostes e testemunhados por milhares de pessoas em Jerusalém 
confirmavam que sua mensagem não era fruto de uma histeria ou alucinação 
(ATOS 2:4). 
O canon do novo testamento 
O mesmo se pode dizer da inesperada e espantosa conversão de Paulo, 
um dos principais inimigos do cristianismo. Sendo ele mesmo autor de boa parte do 
Novo Testamento, a Igreja com o tempo reconheceu suas credenciais proféticas e 
recebeu suas cartas como Palavra de Deus (I Tes. 2:13). Estas mesmas cartas ou 
cópias delas circulavam pelas igrejas ainda durante o período apostólico (Col. 4:16) 
 
58 
 
e o próprio apóstolo Pedro reconheceu-as como inspiradas por Deus equivalentes 
às demais Escrituras Sagradas (II Pedro 3:15-16). Paulo, por sua vez, citou uma 
expressão de Cristo possivelmente retirada de Lucas 10:7 e a introduziu com a 
expressão “Pois assim declara a Escritura” (I TIM. 5:18). 
 
A Igreja Cristã foi definida em Efésios 2:20 como uma casa “fundamentada 
nos apóstolos e profetas”. Ora, tal expressão indica que eles já trabalhavam com 
escritos tanto de um grupo quanto de outro. Logo, essa larga aceitação de livros 
ainda nos tempos apostólicos em contraste com umas poucas disputas ocorridas 
posteriormente indicam que eles já tinham bem amadurecida a ideia de possuírem 
uma coleção de escritos inspirados. É possível, contudo, que alguns destes 
escritos não tenham sobrevivivo até nossos dias. 
 
Um caso exemplar seria a forte suspeita de que Paulo havia escrito mais 
de duas cartas aos coríntios e que, infelizmente, se perderam. Em duas 
passagens, ele se refere a conteúdos enviados à igreja mas que não estão em 
nenhuma parte das cartas atuais. 
 
Em I Coríntios 5:9 ele fala de uma carta anterior, de modo que a que 
chamamos Primeira Coríntios na verdade não foi a primeira. Já em II Coríntios 2:4 
ele diz que escreveu anteriormente aos membros em meio a muita tribulação e 
angústia, mas os estudiosos não conseguem ligar com o conteúdo de Primeira 
Coríntios de modo que são grandes as possibilidades de haver outra(s) cartas 
perdidas de Paulo. 
E temos ainda uma referência em Colossenses 4:16 a uma carta enviada 
aos cristãos de Laodiceia, cujo conteúdo ninguém atualmente conhece. De igual 
modo, alguns estudiosos pensam que a Carta aos Filipenses seria, na verdade, 
uma coleção de vários bilhetes. 
 
Mas, por que algumas cartas se perderam? Por que não foram 
preservadas? Não o sabemos. O máximo que se pode dizer é que o que foi 
 
59 
 
preservado por Deus foi o suficiente para a nossa salvação e não é fruto de 
decisões conciliares posteriores. 
 
Veja que curioso o exemplo de Clemente de Roma: por volta do final do I 
século d.C., ele estava atuando como presbítero da igreja cristã e, estando em 
Roma, enviou cartas para a igreja em Corinto. Ele também se demonstrou 
familiarizado com as cartas de Paulo e as tratou como palavra de Deus. Alguns 
pensam que esse Clemente seria o mesmo mencionado por Paulo em Filipenses 
4:3 (veja Eusébio de Cesareia, Ecclesiastical History, III. 38, 4) . 
 
Clemente também faz menções ocasionais a certas “palavras de Jesus” e, 
embora elas fossem autoritativas para ele, não são tratadas como “evangelhos” 
muito menos como escritos inspirados. Ao que tudo indica eram sentenças que ele 
tinha de memória, possivelmente transmitidas de maneira oral, mas que não foram 
preservadas de forma escrita como no caso dos evangelhos. Noutras palavras, 
diferente das epístolas de Paulo, esses ditos de Cristo, conquanto fossem 
significativos para o autor, não eram reputados como Escritura Sagrada do 
cristianismo (METZGER, 1987). 
 
Se levarmos em conta o fenômeno da inspiração profética, podemos dizer 
que Deus determinou o cânon e a igreja apenas o reconheceu e aceitou. Não foi 
ela quem o criou. 
 A Palavra de Deus era reconhecidamente inspirada e tinha autoridade 
religiosa desde sua concepção. Sua origem era celestial como diz o Salmo 119:89: 
“Para sempre, ó Senhor, está firmada a tua palavra no céu.” 
 
Que critérios, portanto, teria a Igreja cristã primitiva para reconhecer os livros 
que eram inspirados por Deus? 
 
 
60 
 
Por evidências indiretas e citações de vários autores antigos, eis algumas 
perguntas básicas que eles provavelmente fariam: 
 
1 – Este livro fora escrito por um profeta ou seguidor direto de Cristo de quem as 
pessoas davam bom testemunho? 
2 - Os apóstolos ainda vivos aprovavam seu conteúdo ou eram seus autores 
diretos?

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