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SOCIOLOGIA BRASILEIRA_245a0425f282c4f5ee297c8e2e0a4d9a

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Sociologia Brasileira
Prof. Mestre Paulino Peres
Reitor 
Prof. Ms. Gilmar de Oliveira
Diretor de Ensino
Prof. Ms. Daniel de Lima
Diretor Financeiro
Prof. Eduardo Luiz
Campano Santini
Diretor Administrativo
Prof. Ms. Renato Valença Correia
Secretário Acadêmico
Tiago Pereira da Silva
Coord. de Ensino, Pesquisa e
Extensão - CONPEX
Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza
Coordenação Adjunta de Ensino
Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman 
de Araújo
Coordenação Adjunta de Pesquisa
Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme
Coordenação Adjunta de Extensão
Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves
Coordenador NEAD - Núcleo de 
Educação à Distância
Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal
Web Designer
Thiago Azenha
Revisão Textual
Beatriz Longen Rohling
Caroline da Silva Marques
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Geovane Vinícius da Broi Maciel
Jéssica Eugênio Azevedo
Kauê Berto
Projeto Gráfico, Design e
Diagramação
André Dudatt
Carlos Firmino de Oliveira
2021 by Editora Edufatecie
Copyright do Texto C 2021 Os autores
Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade 
exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi-
tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem 
a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. 
 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP 
 
P437s Peres, Paulino Augusto 
 Sociologia brasileira / Paulino Augusto Peres. 
 Paranavaí: EduFatecie, 2021. 
 73 p.: il. Color. 
 
 
 
1. Sociologia. 2. Sociologia – História - Brasil. I. Centro 
Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. 
III. Título. 
 
 CDD: 23 ed. 301.0981 
 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 
UNIFATECIE Unidade 1 
Rua Getúlio Vargas, 333
Centro, Paranavaí, PR
(44) 3045-9898
UNIFATECIE Unidade 2 
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Paranavaí, PR
(44) 3045-9898
UNIFATECIE Unidade 3 
Rodovia BR - 376, KM 
102, nº 1000 - Chácara 
Jaraguá , Paranavaí, PR
(44) 3045-9898
www.unifatecie.edu.br/site
As imagens utilizadas neste
livro foram obtidas a partir 
do site Shutterstock.
AUTOR
Prof. Mestre Paulino Augusto Peres
● Graduado em História pela UNESPAR (Universidade Estadual do Paraná)
Campus de Paranavaí/PR.
● Especialista em Didática e Tecnologia na Educação pela FATECIE (Faculdade
de Ciências e Tecnologia do Norte do Paraná).
● Mestre em Ensino Profissionalizante de História pela UNESPAR - Campo
Mourão/PR.
● Professor na Escola Fatecie Max (séries finais do Ensino Fundamental).
● Professor no Colégio Fatecie Premium (Ensino Médio).
● Professor de filosofia, sociologia e ética no Ensino Superior.
CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/0165285728983866
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Seja muito bem-vindo (a).
A disciplina de sociologia brasileira é importante para que você entenda o que 
os pensadores entendem sobre o nosso país, nossa cultura, economia e sociedade. O 
Brasil é um país amplo e com diferenças regionais, ao mesmo tempo que demonstramos 
semelhanças. A intelectualidade brasileira afirma que o Brasil foi construído a partir das 
relações sociais presentes na colônia e que se estendem até os dias de hoje. 
Na unidade I vamos conhecer o pioneiro sobre estudos sociológicos a respeito da 
origem do povo brasileiro, Gilberto Freyre. Focados em sua principal e mais célebre obra 
Casa Grande & Senzala (1933) veremos como o autor desenvolve seu pensamento sobre 
a importância da miscigenação racial entre indígenas, brancos e africanos para a formação 
do Brasil. Para ele as relações socioculturais presentes na Casa grande e nas senzalas 
foram fundamentais para explicar o brasileiro de sua época.
Já na unidade II você irá conhecer o contraponto de Freyre, Sergio Buarque de 
Holanda. Holanda realiza um esforço semelhante ao de Freyre de tentar explicar o Brasil e 
seu povo, além disso, também compartilha com o autor de Casa Grande & Senzala a ideia 
de que é possível explicar o brasileiro a partir de suas relações culturais. Mas, diferente 
de Freyre, Buarque de Holanda em sua obra Raízes do Brasil (1936), vê na colonização 
portuguesa não uma dádiva, mas uma maldição. Suas críticas são extensas à colonização 
portuguesa, o que para ele nos influenciou até seus dias.
Na sequência veremos uma visão também totalizadora da explicação socio-histórica 
do Brasil em Caio Prado Junior, sobretudo em sua obra Formação do Brasil contemporâneo 
(1944). Prado Junior, ao contrário de seus antecessores, não traz explicações culturais, mas, 
materialista-dialético, entende a formação do Brasil à partir de suas relações econômicas. 
Para ele, o Brasil do século XX, não à toa, tem sua economia baseada na produção agrícola 
latifundiária e por isso mesmo, a classe política era quase totalmente formada por essa 
elite. As escolhas econômicas de Portugal dentro da colônia teriam determinado nossa 
formação.
Em nossa unidade IV, vamos finalizar o conteúdo dessa disciplina analisando três 
autores. O primeiro deles é Raymundo Faoro, baseado no conceito de patrimonialismo de 
sua obra Os Donos do Poder (1958) e poderemos vislumbrar suas críticas à colonização 
portuguesa ao mesmo tempo que tenta explicar as indigestas relações políticas do Brasil. 
Após teremos contato com um sociólogo contemporâneo, Jessé Souza e sua análise 
sobre a Elite do Atraso (2017) e como ela se apropriou dos conceitos de patrimonialismo 
(Raymundo Faoro) e de homem cordial (Sergio Buarque) para justificar seus interesses 
inconfessáveis e sair invisível e impune. Por fim, analisaremos as relações raciais no Brasil 
através do Pequeno Manual Antirracista (2020) de Djamila Ribeiro para percebermos que o 
racismo é uma herança histórica e que ainda permanece presente na sociedade e como a 
sociedade brasileira tenta esconder esse racismo.
Espero que seu horizonte de expectativas seja transformado, uma vez que todos 
nós, brasileiros, somos fruto de uma herança multiétnica, e que para entendermos nosso 
país, primeiro é necessário entender a nossa história e nossas relações sociais.
SUMÁRIO
UNIDADE I ...................................................................................................... 4
Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
UNIDADE II ................................................................................................... 21
Sociologia Brasileira:
Sergio Buarque de Holanda 
UNIDADE III .................................................................................................. 37
Sociologia Brasileira: Caio Prado Junior
UNIDADE IV .................................................................................................. 55
Sociologia Brasileira: Raymundo Faoro, Jessé Souza e Djamila 
Ribeiro 
4
Plano de Estudo:
● Gilberto Freyre e seus esforços para compreender o brasileiro;
● Hibridismo: as relações durante a colonização;
● O papel dos indígenas na formação do Brasil;
● Jesuíticas, africanos e portugueses.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender a formação do Brasil a partir de suas relações coloniais;
● Entender a relação entre os três povos formadores do Brasil e como 
os três contribuíram para o que somos hoje;
● Analisar como Gilberto Freyre estabeleceu uma 
explicação totalizante do Brasil;
● Compreender o conceito de democracia racial e sua 
importância para a sociologia brasileira.
UNIDADE I
Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
Prof. Mestre Paulino Peres
5UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
INTRODUÇÃO
O Brasil precisa ser compreendido através de suas relações sociais. Foi isso 
que pensou Gilberto Freyre quando escreveu Casa Grande & Senzala em 1933. Um dos 
maiores intelectuaisde nossa história explicou o Brasil tentando trazer o que há de melhor 
na cultura indígena, europeia e africana. Ele viu a influência destas etnias como positivas 
para o Brasil.
Nesta unidade levantaremos os principais conceitos de Gilberto Freyre presentes 
em sua obra Casa Grande & Senzala para compreender como este autor compreende o 
Brasil e o brasileiro.
Os conceitos de democracia racial, hibridismo, miscibilidade e adaptabilidade serão 
analisados e como eles contribuem para a formação do Brasil. Veremos a importância 
desse autor não só para o Brasil e sua compreensão, mas também para a popularização 
da sociologia brasileira.
6UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
1. GILBERTO FREYRE E SEUS ESFORÇOS PARA COMPREENDER O BRASILEIRO
Desde o século XIX que pretendia-se no Brasil a criação de uma teoria generalizadora 
da nação para explicar o Brasil através da relações entre as três etnias existentes nestas 
terras: indígenas, europeus e africanos. Na primeira metade do século XX Gilberto Freyre 
foi o responsável por colocar no papel essa ideia em seu célebre livro, Casa Grande & 
Senzala. Freyre e suas teorias sobre o Brasil se tornaram famosas dentro e fora do país. 
Freyre entrou para a história da história e sociologia do Brasil, mas não sem críticas.
Em Casa Grande & Senzala, Freyre analisa a colonização do Brasil e América 
apresentando a origem do povo brasileiro, sua cultura, formação social, étnica e econômica. 
Analisando a mistura das três etnias para a formação do Brasil se pergunta: quem é o povo 
brasileiro?
Ao analisar a colonização nos Estados Unidos percebe semelhanças no regime 
patriarcal estadunidense com o brasileiro: grandes fazendas agrícolas, elite branca liderada 
pelo senhor de escravos, exploração da mão de obra escravizada, violência psicológica e 
física, papel secundário da mulher. Também destaca suas diferenças: no Brasil, segundo 
ele, o senhor de escravos era menos dado aos castigos corporais para evitar rebeliões, 
revoltas ou fugas, gerando assim um melhor convívio entre as etnias possibilitando uma 
construção nacional baseada na mistura das “raças”.
7UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
Freyre acreditava que fatores genéticos, sociais e econômicos formavam a 
sociedade brasileira. Nessa sociedade o poder econômico do homem branco, através 
da monocultura latifundiária (sobretudo durante os ciclos do açúcar e café) dominava as 
demais etnias. O senhor de engenho através de suas riquezas possuía dominação plena 
sobre africanos e indígenas, considerando-se superiores e, portanto, achavam-se no direito 
de escravizar indígenas, primeiro, e africanos, depois.
A primeira forma de escravidão usada no Brasil foi a indígena. O indígena resistiu 
à escravidão e, por conhecer o território onde morava, ao fugir, era mais dificilmente 
encontrado pelo colonizados branco. Além disso, a comunicação entre os indígenas era 
mais fácil, pois durante a colonização portuguesa, durante muito tempo ocupando apenas 
as áreas próximas à costa, as populações indígenas eram do tronco tupi-Guarani, isto é, os 
vários povos que ali viviam, tinham um idioma semelhante e se entendiam. Em uma fuga da 
escravidão, o conhecimento do território e do idioma facilitou as fugas e dificultou a vida dos 
colonizadores, pois a fuga era o maior dos seus problemas em escravizar a mão-de-obra 
nativa. Não demorou para que os portugueses colocassem a alcunha de preguiçosos nos 
indígenas, alcunha que ainda hoje permanece em solo brasileiro. 
É preciso destacar o esforço de Freyre para valorizar a contribuição das etnias 
indígena e africana para a formação do brasileiro. O autor tenta recuperar positivamente as 
contribuições oferecidas pelas diversas culturas para a formação da nossa nacionalidade. 
Em relação aos africanos, acreditava que depois de um século de contato dos 
portugueses com a África durante as grandes navegações, já havia uma mistura entre 
esses povos de forma que não poderia considerá-los “puros” etnicamente. Ao contrário dos 
indígenas, pois para eles tudo era novidade, portanto, Freyre os considerava etnicamente 
puros.
Sobre os portugueses, o sociólogo destaca que foi a virtude da mobilidade que 
proporcionou aos portugueses a capacidade de conhecer e se integrar a outros povos:
A mobilidade foi um dos segredos da vitória portuguesa; sem ela não se 
explicaria ter um Portugal quase sem gente (...) conseguindo salpicar 
virilmente do seu resto de sangue e de cultura populações tão diversas e tão 
grandes em distância uma das outras (FREYRE, 2005, p. 70).
virtude importante e vantajosa aos portugueses seria a miscibilidade, pois para 
Freyre, ninguém como os portugueses teria se misturado tanto com as mulheres negras 
nas américas e gerado tantos filhos. Acreditava que essa mistura teria contribuído para um 
bom relacionamento entre as etnias.
8UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
Uma vez que teriam vindo apenas homens para colonizar o Brasil, a falta de mulheres 
brancas teria sido suprida com as mulheres negras. Isso se deu de forma violenta, através 
da violência sexual. A mulher negra foi reduzida à condição de objeto sexual e repercutiu 
na inveja da mulher branca loira. Assim, atitude da mulher branca foi ligar a cor da pele 
preta à feiura, ao mesmo tempo em que eram as preferidas dos portugueses assediadores: 
branca para casar, mulata para [manter relações sexuais], negra para trabalhar (FREYRE, 
2005, p. 72). A mulher mestiça, chamada à época de mulata era a preferida do assédio dos 
portugueses. Até hoje a mulher mestiça (ainda muito chamada de mulata) é símbolo de 
sexualidade, até mesmo chamada de “a cor do pecado”. A sexualização da mulher mestiça 
que se inicia na colônia se estende até o século XXI. De acordo com Freyre (2005, p. 110):
Costuma dizer-se que a civilização e a sifilização andam juntas. O Brasil, 
entretanto, parece ter-se sifilizado antes de se haver civilizado. A contaminação 
da sífilis em massa ocorreria nas senzalas, mas não que o negro já viesse 
contaminado. Foram os senhores das casas-grandes que contaminaram as 
negras das senzalas. Por muito tempo dominou no Brasil a crença de que 
para um sifilítico não há melhor depurativo que uma negrinha virgem.
As várias epidemias de sífilis (doença trazida pelos portugueses) foi apenas mais 
um retrato da violência. De fato, a violência contra a mulher preta colaborou com o aumento 
populacional da colônia. Assim, com essa mistura, Freyre aponta a influência da cultura 
africana sobre a europeia. Cultura que atinge a alimentação, a vida sexual, a religião e a 
vida doméstica. Ou seja, as relações durante a colonização proporcionaram um hubridismo 
cultural.
 
9UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
2. HIBRIDISMO: AS RELAÇÕES DURANTE A COLONIZAÇÃO
A cultura europeia dominou a africana após os conflitos existentes entre povos dos 
dois continentes o que resultou na escravização daqueles que perderam. Com a escravidão 
africana a questão racial passou a fazer parte do cotidiano da Colônia, se estendeu pelo 
Império e República e faz parte do nosso presente. A supremacia da raça branca, desde 
aquela época, tenta impor-se num jogo de identidades, na narração da nação brasileira: 
“o fortalecimento de indentidades locais pode ser visto na forte reação defensiva daqueles 
membros dos grupos étnicos dominantes que se sentem ameaçados pela presença de 
outras culturas” (HALL, 2006, p. 50).
A colonização aconteceu em um processo de equilíbrio e antagonismos regionais 
dentro de uma só nação e o povo era ligado à obediência às elites devido ao fato da classe 
dominante ser portuguesa ou descendente de portugueses e obedeciam os interesses da 
metrópole.
A chegada dos portugueses ao Brasil arruinou toda a estrutura social e econômica 
antes aqui predominante. As várias etnias indígenas foram dizimadas e o comunismo 
primitivo foi deixando de existir. Mas, para Freyre,algo de muito bom surgiu aqui após 
todo tipo de violência, a Democracia Racial, resultado da relação entre brancos, pretos e 
indígenas.
Para isso, é necessário entender que a Casa-grande era o lugar de excelência 
da manifestação do caráter brasileiro. Ela, a Casa-grande era residência quase feudal de 
poder. Ou seja, os brancos dominam.
10UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
Já os indígenas eram considerados atrasados, sem desenvolvimento técnico ou 
militar e os comparava a crianças sem maturidade: Para Freyre, “[...] não houve da parte 
dele [o indígena brasileiro] capacidade técnica ou política de reação que excitasse no branco 
a política do extermínio seguida pelos espanhóis no México e no Peru [...]” (FREYRE, 2005, 
p. 158).
Para o autor, o processo de colonização portuguesa, foi mais brando que o espanhol. 
Esse sim considerado genocidade por Freyre. O processo de colonização do Brasil não 
teria se dado através do extermínio, mas pela união, desde o escambo até os casamentos.
Híbrida desde o início, a sociedade brasileira é de todas da América a que se 
constituiu mais harmoniosamente quanto às relações de raça: dentro de um 
ambiente de quase reciprocidade cultural que resultou no máximo de apro-
veitamento dos valores e experiências dos povos atrasados pelo adiantado; 
no máximo de contemporização da cultura adventícia com a nativa, a do con-
quistador com a do conquistado. Organizou-se uma sociedade cristã na su-
perestrutura, com a mulher indígena, recém-batizada, por esposa e mãe de 
família; e servindo-se em sua economia e vida doméstica de muitas das tradi-
ções, experiências e utensílios da gente autóctone (FREYRE, 2005, p. 160).
O fragmento acima explicita a democracia racial. Mas, ao mesmo tempo em que 
reconhece a influência indígena, o faz sob a visão do colonizador. A cultura nativa foi 
absorvida pela dominante.
 
11UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
3. O PAPEL DOS INDÍGENAS NA FORMAÇÃO DO BRASIL
Freyre destaca também a importância dos indígenas para a construção da identidade 
brasileira. Para ele homens, mulheres e crianças indígenas contribuíram de diferentes 
formas para o Brasil. Sua análise é criticada por alguns autores pois consideram que a 
tentar valorizar as nações indígenas os coloca em um patamar inferior aos portugueses. 
Outros irão valorizar suas análises pois compreendem que, o autor, pelo menos se esforça 
para demonstrar a importância destes povos para o país. Mas o que diz Freyre?
Para ele a mulher indígena serviu aos portugueses para a geração e formação de 
família. Através dela enriqueceu-se a vida no Brasil, pois essa mulher teria trazido uma 
série de alimentos ainda hoje em uso, remédios, o desenvolvimento da criança, utensílios 
de cozinha, de higiene, etc. Freyre atrela a cultura familiar brasileira que envolve o cuidado 
materno, muito à influência da mulher indígena.
Afirmava ainda que essas indígenas andavam nuas e se ofereciam aos portugueses 
recém-chegados. O que não é uma mentira, mas é necessário lembrar que o homem 
branco foi, inicialmente, relacionado aos deuses e manter relação com um Deus seria uma 
obrigação.
No início por iniciativa das próprias indígenas e depois através da violência, a 
mulher indígena, elas supriram o grande problema da colonização: a falta de mulheres 
brancas. Assim, a indígena se torna a base da família brasileira. Portanto, a ocupação do 
território ocorre em parte, devido às crenças das mulheres indígenas, mas principalmente 
através da violência sexual imposta a elas.
12UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
Da união das mulheres indígenas com o homem branco português surge o caboclo, 
o primeiro com características que viriam a ser uma representação do brasileiro nortista. A 
influência indígena sobre norte e nordeste ainda é forte desde os nomes de estados como 
Maranhão, Piauí, Roraima, passando pela culinária onde a macaxeira/aipim e o tacacá, 
tucupi e açaí são bem presentes no dia-a-dia.
Os indígenas ainda, destaca o autor, colaboraram com as bandeiras, mas minimiza 
sua importância. Para ele a contribuição indígena: “[...] foi formidável: mas só na obra 
de devastação e de conquista dos sertões, de que ele o guia, o canoeiro, o guerreiro, o 
caçador e pescador [...]” (FREYRE, 2005, p. 163). Em outras palavras o indígena teria sido 
importante, mas somente para trabalhos braçais e sensoriais dentro da mata.
Essa ideia de que os reais desbravadores do sertão são os bandeirantes ainda é 
usada, sobretudo, na educação no estado de São Paulo que ensinam aos seus alunos que 
os bandeirantes foram desbravadores, conquistadores e responsáveis pela interiorização e 
expansão territorial brasileira. Nos últimos anos as práticas escravocratas e os massacres 
bandeirantes também estão sendo destacados, assim como a importância indígena neste 
processo de interiorização do território. Ainda de forma tímida, mas estão dando ao indígena 
o destaque que realmente teve nesse processo. 
Para além desses pontos, também identificou uma manifestação religiosa totêmica, 
a cor vermelha como protetiva contra os espíritos maus, amuletos da sorte e plantas 
medicinais. Sendo o totem objeto de adoração a religiosidade entre as nações indígenas 
era totêmica. Símbolos eram presentes em seus rituais desde suas pinturas a objetos. É 
importante ainda destacar que Freyre realiza uma análise geral e não tem como objetivo em 
sua obra Casa Grande & Senzala, dar destaque às diferenças culturais existentes entre as 
centenas de nações indígenas. 
Os laços matrimoniais também tinham destaque entre os indígenas. A exogamia 
era frequente para realização de laços entre nações indígenas. Era comum que nações 
indígenas entrassem em disputas territoriais entre si e uma forma que encontraram de colocar 
fim às suas guerras foi a prática da exogamia, que consistia em enlaces matrimoniais entre 
indígenas de nações étnicas diferentes para que deixassem suas rivalidades e formassem 
uma aliança.
Outra prática bastante comum foi a poligamia e foi uma das práticas mais combatidas 
pelos padres jesuítas. Uma das grandes características do cristianismo e de sua herança 
judaica é a pauta moral envolvendo a sexualidade. 
13UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
Os jesuítas utilizavam textos bíblicos que condenavam o relacionamento sexual 
com mais de uma pessoa e prezavam pelo casamento monogâmico, portanto a poligamia 
entre indígenas era vista como uma influência demoníaca e portanto, reprovada.
Em outras palavras, essas rivalidades culturais entre portugueses e indígenas 
demonstram que os povos nativos sofreram com a imposição cultural portuguesa. Até 
mesmo a obrigação do uso das roupas foi uma atitude que tira o indígena de seu estado 
de normalidade e o põe em estado de desconforto. O uso das roupas afetou suas tradições 
de moral e higiene. Eles usavam a roupa europeia e a descartavam apenas quando estava 
muito suja ou podre. Eles não sabiam como lidar com essa imposição: são povos de um 
asseio corporal e moral sexual diferentes dos portugueses.
As imposições culturais aos indígenas fracassaram com o passar do tempo, pois a 
maioria resistia em permanecer com as roupas, rejeitavam a divindade cristã, insistiam com 
a poligamia. A solução acabou sendo o ensino da cultura e língua portuguesa às crianças 
indígenas, os curumins. Sob uma prática efetiva de controle e vigilância, os portugueses 
utilizaram os pequenos indígenas para levar os costumes ensinados pelos padres jesuítas 
para dentro das habitações indígenas. Portanto, o curumim teve papel preponderante no 
processo de “civilização” do gentio (não cristão).
Conforme os curumins iam crescendo, a cultura cristã europeia ia se solidificando. 
Ao chegarem à fase adulta e terem filhos, estes eram uma nova geração de indígenas 
sendo ensinada pelos padres jesuítas. A cultura portuguesa se espalhou pela Colônia mais 
facilmente após o usodessa estratégia.
Outro ponto, que segundo Freyre teríamos herdado dos indígenas é o apreço pelo 
misticismo. Acredita ele que os medos presentes no imaginário brasileiro têm origem dentro 
da floresta. O povo teria herdado dos indígenas a superstição. A ideia de chás milagrosos, 
simpatias para resolução de problemas variados, para Freyre, essas práticas são práticas 
místicas herdadas da religiosidade indígena.
Gilberto Freyre, em sua análise sobre os indigenas traz uma enorme inovação, a da 
valorização de povos não europeus. Neste período a intelectualidade europeia, exportadora 
de ideias, criou teorias que afirmavam que a superioridade europeia em detrimento de 
outros povos. Dessa forma a intelectualidade local, inferiorizav os povos nativos e enaltecia 
os colonizadores brancos. Quando Freyre escreve na década de 1930, o darwinismo social 
e teorias eugenistas ainda eram muito populares. A obra de Freyre e seu desaque ao 
indígena é uma rebelião intelecual contra essas teses vindas da Europa. 
14UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
4. JESUÍTICAS, AFRICANOS E PORTUGUESES
A Reforma Protestante (1517) tornou-se um grande problema para a Igreja Católica, 
pois teria tirado da Igreja Romana pelo menos 40% de seus fiéis. Primeiro nos reinos 
germânicos com influência de Lutero, depois na Suíça sob a liderança de João Calvino e 
após na Grã-Bretanha após a revolta do Rei Henrique VIII.
Aos poucos os senhores feudais foram abandonando a fé católica com interesses 
não apenas religiosos e se juntaram ao protestantismo. Os influentes senhores feudais 
obrigaram seus servos a também aderirem a nova fé. A igreja Católica, nesse ponto, não 
tinha apenas menos fiéis, mas também menos receitas, portanto, precisava resistir ao 
avanço protestante para que sua própria existência, como instituição, fosse garantida.
A contrarreforma foi organizada no Concílio de Trento (1545-1563). Várias estratégias 
foram elaboradas para limitar o avanço do protestantismo: moralidade do episcopado; 
criação do índex (lista de livros proibidos); estabelecimento dos Tribunais do Santo Ofício 
(Inquisição); oficialização da prática da tortura; criação da Companhia de Jesus (jesuísmo).
A Companhia de Jesus, criado por Ignácio de Loyola, tinha como objetivo as “almas” 
do “Novo Mundo”. Uma vez que a quantidade de católicos teria sido reduzida na Europa, 
nas Américas haviam milhões de “almas pecadoras” a serem convertidas.
Os jesuítas foram os escolhidos pela Coroa portuguesa para a catequização das 
almas “selvagens” do Novo Mundo. O indígena, que teve sua humanidade questionada por 
diversos clérigos da Igreja Católica, teve sua humanidade garantida através da Sublimes 
Deus, Bula Papal escrita em 1537 pelo Papa Paulo III. 
15UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
Nela, é reconhecida a humanidade indígena, os nativos do continente americano, 
finalmente puderam ter garantida a existência de suas almas e, portanto, poderiam ser 
catequisados e suas almas salvas através da fé católica.
Após o reconhecimento da existência da alma dos nativos, os jesuítas vieram às 
Américas “direcionar essas almas aos céus”. Rapidamente esses jesuítas aprenderam o 
Tupi, enfrentaram os escravistas e desafiavam a Coroa portuguesa. Apesar dos pontos 
positivos nesses padres jesuítas, essa catequização também envolveu violência cultural, 
pois os padres não aceitavam os padrões culturais indígenas e os assimilavam ao culto 
aos demônios. Não aceitavam as religiões indígenas, nem seus idiomas e tão pouco suas 
práticas matrimoniais. Assim eram obrigados a abandonarem sua cultura. Para Freyre, 
a cultura portuguesa dominante sobre a indígena teria sido benéfica na construção do 
brasileiro, mas também valoriza diversos pontos da cultura indígena.
Para além desta questão cultural, economicamente, os portugueses aqui 
estabeleceram uma colônia de exploração e uma das obrigações dos donatários das 
capitanias hereditárias era produzir açúcar, isto é, a fundação da colônia do Brasil foi 
estabelecida na economia agrária que dominará o cenário brasileiro até nossos dias.
Quando Freyre escreve sua obra, (década de 1930) o país havia acabado de sair 
da chamada República do Café com Leite, que foi o nome dado ao esquema de poder 
orquestrado pela elite agrária brasileira, sobretudo as de São Paulo e Minas Gerais, ou seja, 
Freyre se dedicava a compreender o Brasil que vivia e percebeu a influência portuguesa 
colonial nesse processo.
Essa colonização com base em uma economia de exploração agrária teve como 
mão-de-obra o trabalho escravo. Os africanos, trazidos à revelia para o Brasil, segundo 
Freyre, lançaram as bases da nossa economia. Foi o trabalho escravizado que possibilitou 
a formação da Colônia Brasil e que sustentaria nossa economia por séculos.
A presença de africanos e africanas no país gerou o relacionamento com portugueses 
e indígenas hibridizando ainda mais a nossa sociedade. Para ele, essa miscigenação é a 
grande característica de nosso povo. A colonização portuguesa, portanto, formou um Brasil 
de sociedade agrária, escravocrata e híbrida.
Autor ainda, destaca pontos da cultura portuguesa que foram inseridos em nosso 
país. Os portugueses seriam mais unidos para Freyre, pois foram o primeiro povo europeu 
a constituir uma nação (1385), os primeiros a se lançarem ao grande mar (século XIV) e por 
isso mesmo, esse exemplo da união territorial de Portugal nos ajudou a manter as fronteiras 
do Brasil que permaneceram até os dias de hoje. Uma união vista entre os portugueses, 
mas não entre os europeus, que se dividiram em vários países. 
16UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
Outra característica que Gilberto Freyre destaca é a mobilidade, pois portugueses 
ao iniciarem as Grandes Navegações se provaram ser uma nação disposta a se deslocar 
para crescer e conquistas, esta mobilidade portuguesa também seria vista entre os padres 
jesuítas de Portugal, que se deslocaram até a Colônia para levar a fé católica.
Os portugueses após unificarem o território tinham a Espanha como adversária 
e única fronteira, ou seja, a única forma de driblar seus rivais seria via mar. As rotas 
comerciais mais importantes passavam pelo mediterrâneo, mas os muitos intermediários 
encareciam os produtos vindos do oriente, a solução era encontrar uma nova rota pelo 
Atlântico que contornasse o continente africano. Os portugueses se lançaram ao grande 
mar para solucionar suas dificuldades e, com essa ousadia, elogiada por Freyre, conseguiu 
tornar um pequeno país em uma grande potência.
Além da unidade territorial e mobilidade, a miscibilidade portuguesa, teria sido, para 
Freyre, a qualidade mais importante para a formação do Brasil, pois teria sido ela que uniu 
os povos que colonizaram essa terra, teria sido a miscibilidade que colaborou para um 
Brasil livre de racismo e fundado, no que chamou de Democracia Racial. Essa miscibilidade 
viria acompanhada de uma capacidade de assimilação sem igual entre os povos europeus. 
Para ele os portugueses assimilariam mais facilmente outras culturas podendo conviver 
com elas. Freyre aqui despreza o fato de que a suposta miscibilidade e assimilação na 
verdade foi feita através do extermínio de povos indígenas e suas culturas.
Essa miscibilidade ao estabelecer a democracia racial lança a ideia de que 
indígenas, brancos e negros viviam harmoniosamente no território o que proporcionou o 
sucesso dessa colonização e impôs limites às práticas racistas. Lembrando que as práticas 
racistas no Brasil, negadas por Freyre, se direcionavam a africanos e indígenas.
Em sua tentativa de elogiar a cultura indígena, acabou por perpetuar a ideia de 
que o indígena seria preguiçoso, pois teria pouca disposição para o trabalho agrícola. 
Também os classificou como os que teriam facilitado o intercurso sexual responsável pelo 
aumento demográfico da Colônia. E ainda afirmou que ofereceram pouca resistênciaà 
colonização e imposição religiosa. Apesar de tudo, sempre considerou os indígenas como 
a raça formadora do povo brasileiro.
Já o africano teria sido o grande responsável pelo desenvolvimento econômico da 
Colônia. Imprescindível às atividades econômicas e seria a raça “forte” na formação do 
brasileiro.
17UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
SAIBA MAIS
Gilberto de Mello Freyre. Nasceu em Recife, a 15 de março de 1900, e, nesta mesma 
cidade, faleceu a 18 de julho de 1987. Gilberto Freyre foi um polímata brasileiro. Como 
escritor, dedicou-se à ensaística da interpretação do Brasil sob ângulos da sociologia, 
antropologia e história. Foi também autor de ficção, jornalista, poeta e pintor. É considerado 
um dos mais importantes sociólogos do século XX. Recebeu da Rainha Elizabeth II o 
título de "Sir", sendo um dos poucos brasileiros detentores desta alta honraria da coroa 
britânica. Sobre Freyre, falou Monteiro Lobato: "O Brasil do futuro não vai ser o que 
os velhos historiadores disserem e os de hoje repetem. Vai ser o que Gilberto 
Freyre disser. Freyre é um dos gênios de palheta mais rica e iluminante que estas 
terras antárticas ainda produziram".
Fonte: FRAZÃO, D. Biografia de Gilberto Freyre. 2021. Disponível em: https://www.ebiografia.com/
gilberto_freyre/. Acesso em: 04 ago. 2022.
REFLITA 
“Freyre procurou e conseguiu criar um sentimento de identidade nacional brasileiro que 
permitisse algum ‘orgulho nacional’ como fonte de solidariedade interna”.
Fonte: Souza (2017). 
https://www.ebiografia.com/gilberto_freyre/
https://www.ebiografia.com/gilberto_freyre/
18UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
É inegável a importância de Gilberto Freyre para a intelectualidade brasileira. Suas 
obras ainda são obrigatórias para quem pretende compreender o Brasil. Seus escritos 
ainda são analisados vastamente no Brasil e no mundo. Sua contribuição é notória, tanto 
para simpatizantes quanto para críticos.
Percebemos que a contribuição de Freyre para a explicação do Brasil passa, 
primeiramente, pelas relações culturais entre povos indígenas, europeus e africanos. Em 
toda a sua obra, se esforça para construir uma narrativa intelectual que apresentasse esses 
povos como importantes para a construção do Brasil. 
No período em que escreve, a contribuição indígena e africana era negada, mas 
Freyre as vê como importantes e valoriza sua participação. Em sua análise, apesar do 
destaque dado a participação portuguesa, Freyre consegue trazer uma nova análise que 
tem mais a ver com a brasilidade.
Sua obra não pode ser reduzida ao seu conceito mais famoso “democracia racial”. 
Este conceito, muito atacado, onde Freyre afirma que existe uma harmonia na miscigenação 
do país e acaba por minimizar toda a violência colonizadora e o racismo herdado após 
o fim da escravidão. Apesar de ter valorizado demasiadamente o caráter positivo desse 
caráter híbrido de nossa composição social, ele alcança seu objetivo, trazer uma história e 
sociologia do Brasil que traz para o centro da discussão, indígenas e africanos.
 
19UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
LEITURA COMPLEMENTAR
Na obra na cita você terá contato com a obra de Freyre utilizada neste capítulo, 
através do artigo de Silva. Casa Grande & Senzala é uma das obras mais importantes 
da intelectualidade brasileira. O mito da democracia racial ainda é muito estudado e é 
necessário que seja compreendido.
Fonte: SILVA. M. L. A. M. Casa Grande & Senzala e o mito da democracia racial. 
Revista brasileira de ciências sociais, São Paulo, v. 39, n. 39, 2017.
 
20UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título: Casa Grande & Senzala
Autor: Gilberto Freyre.
Editora: Global.
Sinopse: Em 1933, após exaustiva pesquisa, Gilberto Freyre 
publica “Casa Grande & Senzala”, livro que revoluciona os estudos 
no Brasil, tanto pela novidade dos conceitos quanto pela qualidade 
literária. É considerado o livro capital da cultura brasileira. Passados 
quase 90 anos, continua sendo um clássico da nossa literatura, 
mostrando, com beleza e vigor, a formação do povo brasileiro pela 
mistura de raças e culturas. A atual edição possui introdução de 
Fernando Henrique Cardos. 
FILME/VÍDEO 
Título: Terra Vermelha
Ano: 2008.
Sinopse: Um grupo de indígenas vivem em uma fazenda 
trabalhando como escravos e ganham alguns trocados para 
posarem como atração turística. Eles decidem reivindicar suas 
terras e de seus ancestrais, começando um grande conflito com 
os fazendeiros.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=nOCFZWF_Wb4 
21
Plano de Estudo:
● Sergio Buarque, o oposto de Gilberto Freyre;
● Sergio Buarque e a culpa dos portugueses;
● Sergio Buarque e o Homem Cordial;
● Sergio Buarque, o homem cordial e a política brasileira
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender a origem e formação do Brasil à partir da colonização 
portuguesas e suas consequências;
● Entender os aspectos culturais dos portugueses e 
sua herança deixa a nós, brasileiros;
● Analisar como Sergio Buarque construiu uma explicação totalizante do Brasil;
● Compreender o conceito de homem cordial e sua 
importância para a sociologia brasileira.
UNIDADE II
Sociologia Brasileira:
Sergio Buarque de Holanda 
Prof. Mestre Paulino Peres
22UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre 22UNIDADE II Sociologio Brasileira: Sergio Buarque de Holanda
INTRODUÇÃO
Sergio Buarque de Holanda, assim como Gilberto Freyre, constrói uma narrativa 
a partir da análise das relações culturais do Brasil colonial presentes na relação entre os 
portugueses dominantes e indígenas e africanos dominados. Mas ao contrário de Freyre, 
Holanda vê a influência portuguesa no Brasil como algo negativo e duradouro em nosso 
comportamento.
Na unidade II levantaremos os principais conceitos de Sergio Buarque utilizados em 
seu mais famoso livro, Raízes do Brasil, escrito em 1936, para compreender o brasileiro. 
Vamos buscar compreender porque o autor entende a influência da colonização 
portuguesa como negativa, a partir da análise sobre a suporta desorganização, falta 
de planejamento dos portugueses. Entenderemos também porque coloca a alcunha de 
aventureiro aos portugueses e como toda essa construção teórica ajuda a desenvolver o 
conceito de homem cordial e como esse conceito, para ele, representa bem o povo brasileiro.
23UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre 23UNIDADE II Sociologio Brasileira: Sergio Buarque de Holanda
1. SERGIO BUARQUE, O OPOSTO DE GILBERTO FREYRE
Sergio Buarque com certeza é um dos maiores pensadores do Brasil e do que é o 
brasileiro, e assim como Gilberto Freyre, propuseram uma teoria geral da formação do nosso 
povo. Ambos de fato contribuíram muito para nossa formação teórica. A Holanda é dado 
os louros por ter uma visão teórica altamente eficiente sobre a nossa formação, já a Freyre 
resta a minimização de sua teoria a um único conceito, o de Democracia racial. Pensar 
Holanda e Freyre desta forma é uma maneira injusta de pensar a sociologia brasileira.
Recentemente muitos autores vem elaborando críticas a Holanda. Críticas que 
demoraram a ganhar força na Academia, enquanto que Freyre vem sofrido duras críticas 
a décadas. E isso levando em consideração que ambos escreveram suas principais obras 
na década de 1930. 
Casa Grande e Senzala, de Freyre, ganhou o Brasil e o mundo, não à toa esse autor é 
um dos principais do país até hoje. Seu famoso e controverso conceito de democracia racial 
que afirma que indígenas, portugueses e africanos criaram um Brasil livre de preconceitos 
raciais foi levado a sério por muito tempo pela intelectualidade mundial. Com o tempo esta 
teoria se mostrou falha, visto que o Brasil possui um racismo estrutural significativo.
Apesar deste conceito não ter aprovação na Academia, é necessário lembrar 
que Freyre, ao construir sua teoria, levou em consideração a importância de africanos eindígenas na construção do povo brasileiro. 
24UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre 24UNIDADE II Sociologio Brasileira: Sergio Buarque de Holanda
Valorizou diversas características destes dois povos. Portanto, a obra de Freyre é 
um esforço para apontar as qualidades do povo brasileiro.
Dito isto, pode-se afirmar que Sergio Buarque faz o inverso. O autor tem uma visão 
mais pessimista sobre o nosso povo, ele aponta diversos problemas em nossa construção, 
se esforçando sempre em tentar provar que o brasileiro, em sua construção, deu errado. 
Claro, Holanda não quer dizer que o brasileiro não tem jeito ou ainda que isso signifique que 
por aqui não existam qualidades, mas Holanda parece se incomodar com a visão otimista 
de Freyre.
É importante lembrar que Sergio Buarque viveu em um momento da história bra-
sileira onde a pobreza, desigualdade, miséria, analfabetismo eram grandes no país, muito 
mais que no século XXI. Apesar de ser um membro da elite carioca e morar no Leblon, se 
comovia com as massas desprezadas pelos presidentes da República do Café com Leite, 
representantes de uma elite agrária e indiferentes às mazelas do povo brasileiro. A sua 
principal obra, Raízes do Brasil, é uma denúncia a um país que não estava no caminho 
certo. 
Na tentativa de denunciar e explicar porque o Brasil não trilhava o rumo certo, 
acabou, sem intenção, inferiorizando o brasileiro ainda mais. Seu conceito de Homem 
Cordial mostra um brasileiro avesso há tudo aquilo que seria bom para a construção de um 
povo e de uma sociedade. Sergio Buarque de Holanda, portanto, seria o oposto de Gilberto 
Freyre. Freyre é otimista, Holanda, pessimista. Freyre ainda acreditava, Holanda, parece 
não alimentar muitas esperanças. Freyre acreditava que os portugueses colaboraram 
positivamente para a nossa colonização, já Sergio Buarque os culpa por todas as nossas 
mazelas. Realmente, são pessoas bem diferentes explicando um mesmo povo.
 
25UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre 25UNIDADE II Sociologio Brasileira: Sergio Buarque de Holanda
2. SERGIO BUARQUE E A CULPA DOS PORTUGUESES
Para Sergio Buarque de Holanda a colonização portuguesa trouxe ao Brasil a 
cultura da personalidade, isto é, o apego ao prestígio pessoal que resultou na ausência de 
uma moral de culto ao trabalho. Portanto, logo de início Holanda realiza sua primeira crítica 
aos portugueses.
Para ele, o desenvolvimento da Península Ibérica não foi o mesmo que o de outros 
países europeus. De Portugal teria vindo as fraquezas das instituições e falta de organização 
social, ideia que futuramente seria mais explorada por um seguidor de Holanda, Raymundo 
Faoro em Os donos do poder.
Mas mesmo entre os ibéricos existiam diferenças e desenvolveu a ideia de dois 
tipos de explorador no Brasil colonial, o trabalhador e o aventureiro. O trabalhador teria 
um olhar mais restrito, cuidadoso e direcionado, já o aventureiro possuía um olhar mais 
amplo e de esforço persistente. Acreditava que espanhóis se adequavam ao tipo ideal do 
trabalhador enquanto que os portugueses ao de aventureiro. Isso, para ele, teria gerado 
uma colônia mal organizada, sem planos a longo prazo, com cidades irregulares e com 
governos fracos e corruptos.
Para realizar sua Colônia na América os portugueses utilizaram a escravidão como 
mão-de-obra e assim supria o que faltava em sua economia. Primeiro escravizaram os 
indígenas e após os africanos. O indígena não se adaptou a escravidão, no olhar europeu, 
e por isso mesmo os substituíram pelos africanos.
26UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre 26UNIDADE II Sociologio Brasileira: Sergio Buarque de Holanda
 É importante destacar que a população africana no Brasil também não se adaptou 
a essa condição, porém, a diferença entre africanos e indígenas é que os nativos conheciam 
essa terra e após fugirem era quase impossível os recapturarem. Já os africanos, por 
desconhecer o Brasil, eram mais facilmente capturados e as diferenças de idioma também 
dificultavam a união entre eles, problema que quase não existia entre os indígenas, uma 
vez que a maioria dos escravizados eram de um mesmo tronco linguístico, o Tupi-guarani. 
Além disso, existia uma pressão católica pelo fim da escravização indígena.
Os africanos no Brasil eram trazidos de diversas regiões da África e eram muito 
diferentes entre si. A aposta dos portugueses era que reunissem em uma mesma senzala 
diversos africanos em que a maioria desconhecia a cultura do outro. Assim, aqueles homens 
e mulheres escravizadas não sentiam proximidade com os outros e não conseguiam se 
comunicar. Com os indígenas usar esta estratégia era mais difícil.
Para Sergio Buarque, como os portugueses já tinham contato com povos não 
europeus, através de suas navegações pioneiras em torno da África, conseguiram 
facilmente dominar os nativos e através da Companhia de Jesus possuíam uma forma de 
se comunicar muito mais simpática que a protestante. 
Os jesuítas, em suas missões reuniam os indígenas e os protegiam do ataque 
dos colonizadores e dos bandeirantes fazendo com que fossem vistos por muitas nações 
indígenas como protetores.
A construção econômica do Brasil baseado na escravidão fez o colono branco 
acreditar que o trabalho físico não dignificava o homem, mas sim o trabalho intelectual 
o que gerou uma dicotomia entre o mundo rural e urbano, pois o rural era considerado 
tradicional, atrasado e palco do trabalho braçal, enquanto que o urbano era o mundo dos 
valores modernos, avançados e o lugar do trabalho intelectual.
Sergio Buarque de Holanda elabora vários conceitos que opõe tipos ideais. É clara 
a influência da sociologia de Max Weber em Buarque de Holanda. Recorrendo à sociologia 
de Weber, Sergio Buarque identifica entre os ocupantes do continente americano os “tipos 
ideais” que nomeou de semeador e ladrilhador.
O ladrilhador seria o colonizador espanhol e estaria associado às cidades e a 
racionalidade. As cidades espanholas e suas colônias nas Américas são planejadas, 
desenhadas em linhas retas. A cidade, portanto, seria a empresa da razão, contrária à 
ordem natural, pois previa rigorosamente o plano para a existência das próprias cidades.
Já o semeador, que representa os portugueses, associou ao litoral e a cidades 
irregulares, sem planejamento. 
27UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre 27UNIDADE II Sociologio Brasileira: Sergio Buarque de Holanda
Para ele os portugueses não entraram no interior do país nos primeiros 200 anos 
pois não tinham planos a longo prazo, por isso construíram suas cidades no litoral, não à 
toa receberam o apelido de “caranguejos arranhadores da Costa”. As cidades, nascidas 
e crescidas sem o mínimo de planejamento tinham o objetivo de fazer fortuna rápida, 
dispensando um trabalho e organização regular.
Para além disso, ainda irá responsabilizar os portugueses pela forma de agir em 
sociedade dos brasileiros. Para ele, os brasileiros herdaram dos portugueses hábitos no 
cotidiano que atrapalham o desenvolvimento do país, entre eles a corrupção como a pior 
delas. Segundo ele tudo isso teria origem no intimismo de nossas relações, ou seja, no 
Brasil existiria o predomínio de relações humanas simples e diretas que rejeitam a polidez 
e a padronização, características da civilidade.
Aqui percebe-se como Holanda acreditava que o brasileiro não possui comportamento 
civilizado, e responsabiliza os portugueses por trazerem em suas caravelas os responsáveis 
por nos deixaram essa terrível herança.
Vai além, afirma que existe uma relação íntima entre a vida pública e privada que 
atrasou o desenvolvimento do país, fazendo com que nós, ao nos tornarmos independentes, 
rejeitássemos a tendência em todo o continente em se tornar uma República e formássemos 
um Império nas Américas e, claro trazendo desconfiança de todos os nossos vizinhos sobre 
nossas reais intenções. Ainda seria esse intimismo em nosso povo que fez denós o último 
país do continente a libertar os escravos. Ainda teria sido graças a esse nosso jeito de ser 
que mesmo se tornando uma República desde 1989 continuássemos a desprezar nosso 
povo. A esse comportamento brasileiro, Sergio Buarque nomeia de Homem Cordial.
 
28UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre 28UNIDADE II Sociologio Brasileira: Sergio Buarque de Holanda
3. SERGIO BUARQUE E O HOMEM CORDIAL
O homem cordial é, talvez, um dos mais famosos conceitos da sociologia brasileira. 
Presente nos livros acadêmicos e tido como um conceito-chave para a compreensão de 
Brasil, promove uma visão psicológica e cultural de nosso povo. Sergio Buarque elabora este 
conceito partindo do princípio que o brasileiro herdou práticas portuguesas e as incorporou 
a sua conduta, conforme, cita abaixo:
A lhaneza no trato, a hospitalidade, e generosidade, virtudes tão gabadas por 
estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do 
caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda 
a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio 
rural e patriarcal. Seria engano supor que essas virtudes possam significar 
“boas maneiras”, civilidade. São antes de tudo expressões legítimas de um 
fundo emotivo extremamente rico e transbordante. Na civilidade há qualquer 
coisa de coercitivo – ela pode exprimir-se em mandamentos e sentença (HO-
LANDA, 1999, p. 141).
Sergio Buarque tenta definir, mas não de forma absoluta, a identidade nacional 
brasileira através do conceito de homem cordial onde a nossa cordialidade enfatiza 
o predomínio de relações humanas baseadas nas emoções. Este aspecto de nossa 
cordialidade estaria presente, por exemplo, no excesso de diminutivos como expressão 
de afeto: o “Joãozinho”, a “Terezinha”, o “bonitinho” expressam bem, segundo ele, nosso 
caráter emocional.
Cordial então, não está ligado à forma como se entende no dia-a-dia, como alguém 
que é educada com a outra, mas está relacionado diretamente à origem desta palavra “cor” 
que é a mesma origem de palavras como “coração” e “cardíaco”. 
29UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre 29UNIDADE II Sociologio Brasileira: Sergio Buarque de Holanda
O conceito “cordial”, portanto, representa a metáfora que a sociedade deu ao 
coração, isto é, aos sentimentos. Em outras palavras, o homem cordial é o homem que age 
motivado por suas emoções, sendo assim, pouco racional.
O homem cordial seria, portanto, emotivo, superficial, intimista, familiar, sem coesão 
social, avesso às regras, pouco polido, não suportando viver consigo e por isso mesmo vivia 
nos outros, ou seja, pouco racionais. Esta é a característica que Sergio Buarque alcunha 
aos brasileiros, uma alcunha que acaba minimizando as práticas de relacionamento social 
entre os brasileiros.
Essa cordialidade em nossas relações teria, inclusive, nos trazido dificuldades na 
Constituição de um Estado brasileiro, pois o Estado tornou-se um prolongamento da família. 
O homem cordial não conseguiria, segundo ele, separar o público do privado. O rigor da lei 
é afrouxado e todos são amigos em todos os lugares. O Estado é dominado por uma elite 
que faria do Estado um “puxadinho” de sua família e assim o nepotismo se tornaria uma 
marca no poder político brasileiro. O Estado brasileiro seria propriedade da família, onde 
laços sentimentais e familiares são transportados para o ambiente do Estado.
A cordialidade do brasileiro se apresenta de diversas formas, desde um motorista 
tentando convencer o policial a não o multar, até uma “carteirada” de um juiz a ser parado 
em uma blitz. Em ambos os exemplos, vemos o desprezo pela formalidade ética, no primeiro 
caso o conhecido “jeitinho brasileiro”, no segundo o “você sabe com quem está falando?”
Percebe-se, portanto, como Sergio Buarque entende o brasileiro e o Brasil. Vê 
o Brasil como um país agrícola, rural e pouco desenvolvido. Para ele a política brasileira 
de sua época era extremamente corrupta assim como o povo brasileiro. Não demonstra 
grandes expectativas se o perfil do brasileiro continuasse sendo este. Evidentemente que 
o autor vive em período da história do Brasil onde realmente o Brasil não apresentava 
grandes mudanças e isso pode ter minado suas esperanças. 
Em 1936 quando publica Raízes do Brasil algumas mudanças apontavam no 
horizonte. A elite agrária havia sido enxotada do poder (1930), uma nova Constituição 
havia sido escrita (1934) e um governo democrático parecia que poderia trazer mudanças, 
mas em 1937 um golpe de Estado liderado por Getúlio Vargas, com inspiração fascista 
se concretizou no país, e as características cordiais envolvendo a política nacional se 
mostraram tão evidentes quanto antes.
A realidade brasileira, evidentemente alvo de críticas de Sergio Buarque, o motivou 
a pensar que o brasileiro era levado a esses tipos de relações cordiais como forma de 
driblar seus problemas. 
30UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre 30UNIDADE II Sociologio Brasileira: Sergio Buarque de Holanda
Também é importante lembrar que o autor jamais afirmou que nós, brasileiros 
seríamos os criadores de tal comportamento, mas que havíamos herdado de nossos 
colonizadores portugueses tal prática inspirados na desorganização do Estado português e 
seu plano colonial imediatista. 
As críticas mais recentes ao autor estão direcionadas exatamente sobre a forma 
como classifica os brasileiros, mas o mesmo o faz culpando os portugueses e nos coloca, 
na verdade, como vítimas de uma colonização cruel, desorganizada, exploratória, intimista 
e corrupta que geraria uma desenfreada rede de ligações familiares com o poder político.
 
31UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre 31UNIDADE II Sociologio Brasileira: Sergio Buarque de Holanda
4. SERGIO BUARQUE, O HOMEM CORDIAL E A POLÍTICA BRASILEIRA
A cordialidade brasileira afetou a nação de diversas formas, mas foi na política 
que mais teve visibilidade e gerou consequências. Para ele, a democracia foi sempre um 
mal-entendido no Brasil e não somente porque no período imperial (1822-1889) apenas 
pessoas ricas pudessem votar. Não somente porque durante a República Velha (1989-1930) 
pessoas não alfabetizadas eram excluídas do voto, o que fazia que quase a totalidade da 
população não votasse. Holanda afirma que a democracia não se consolidava no país, pois 
os grandes movimentos sociais e políticos vieram de cima para baixo, fazendo com que o 
povo sempre ficasse indiferente a tudo.
No Brasil, durante o Império, apesar do imperador não ser elegível, os cargos do 
legislativo eram, entretanto, a estrutura de poder brasileira que beneficiava a elite agrária do 
país criou o voto censitário que excluía do direito ao voto aqueles que não provassem que 
possuíam renda anual mínima de 100 mil réis. Uma lei claramente com o objetivo de excluir os 
mais pobres, negando a eles o direto à participação. Essa exclusão proporcionada pela elite e 
a classe política contribuiu para a manutenção da pobreza e gigantesca desigualdade social.
Com a chegada da República houve uma certa esperança de rompimento de 
práticas elitistas na política nacional. Este otimismo se mostrou ingênuo, uma vez que os 
militares ao assumirem o poder em 1889 organizam uma Constituição (1891) que manteve 
a exclusão dos mais pobres através da proibição do voto dos não alfabetizados. Apenas 
houve a substituição do voto censitário pelo voto restrito aos alfabetizados. 
32UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre 32UNIDADE II Sociologio Brasileira: Sergio Buarque de Holanda
Ambas as manobras políticas possuem o mesmo objetivo, a exclusão dos mais 
pobres. Sergio Buarque percebe que essas manobras demonstram não somente a 
sagacidade da classe política, mas as relações culturais que estão por trás delas. Relações 
baseadas na captura do Estado por uma pequena elite indiferente ao Estado Brasileiro 
e que privilegiavam seus negócios pessoaise que faziam do Estado uma parte de suas 
próprias práticas econômicas.
Além das questões políticas que envolvem os abusos da elite, Sergio Buarque 
aponta para uma herança entre a população em geral que envolve a estrutura cultural 
portuguesa e seu caráter autoritário e desorganizado. Seu diagnóstico sobre nós mesmos, 
apontou o autoritarismo, a ausência de uma ética do trabalho, o gosto pelo ócio que se 
traduziam naquilo que aponta como nossa reduzida capacidade de organização social e 
uma inclinação à anarquia e a desordem.
Portanto, a forma com que o Brasil poderia trilhar um rumo democrático, civilizado, 
desenvolvido seria realizar uma ruptura com o homem cordial, ou seja, deixarmos de ser 
cordiais, afetivos, intimistas, avesso às regras, etc. Assim, acreditava ele que o brasileiro 
jamais faria uma Revolução visto que nossa cordialidade não é compatível com rupturas, 
pois:
No Brasil, sempre foi uma camada miúda exígua que decidiu. O povo sempre 
está inteiramente fora disso. As lutas, ou mudanças são executadas por 
essa elite e em benefício dela, é óbvio. A grande massa navega adormecida, 
num estado letárgico, mas em certos momentos, de repente, pode irromper 
brutalmente (HOLANDA, 1999, p. 98).
Uma denúncia importante de Sergio Buarque. Ao afirmar que o poder político, através 
de relações cordiais, está nas mãos de um pequeno grupo, exclui o povo brasileiro. Apesar 
de sua dura afirmação sobre nosso povo ser demasiadamente cordial, demasiadamente 
afetivo e pouco racional, não poupou a elite brasileira dessa alcunha. Para ele a elite 
brasileira é tão cordial quanto as massas. 
Assim sendo, acreditava que apenas uma revolução poderia apagar no brasileiro 
os resquícios de nossa história colonial influenciada pelos portugueses e começar a 
traçar uma história nossa, diferente e particular. Entretanto, Sergio Buarque não acredita 
realmente que o brasileiro pudesse fazer uma revolução, pois considera nosso povo passivo 
e distante de grandes mudanças sociais. Alguns descordaram de Holanda, pois afirmam 
que o mesmo desconsiderou as revoltas de escravos, a formação de quilombos, revoltas 
como a Conjuração Baiana, Revolta dos Malês, além das revoltas regenciais como balaiada 
e cabanagem ou ainda os dois anos de guerra pela independência localizadas na província 
da Bahia. 
33UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre 33UNIDADE II Sociologio Brasileira: Sergio Buarque de Holanda
Na república diversas revoltas tenentistas, movimentos de banditismo agrário, 
greves urbanas ou até mesmo a Coluna Prestes. Todos esses exemplos mostram que 
o brasileiro também exerce papel ativo nas relações políticas do Brasil, mesmo sendo 
limitados pelas manobras políticas.
Sendo assim, para Sergio Buarque, as relações políticas brasileiras são permeadas 
pelo clássico comportamento cordial presente em todas as relações sociais brasileiras, 
sendo herança portuguesa. Assim, a corrupção e desorganização de nossa política seria 
tão presente devido à essa cordialidade, a esse relacionamento intimista que faz do Estado 
uma continuação da família, e assim, sem qualquer remorso os políticos fazem dos cargos 
públicos uma esfera da vida privada. Irmãos, primos, tios e amigos, para além da esfera 
íntima, são também, presentes na esfera pública. Isso só acontece, segundo ele, graças a 
existência do homem cordial brasileiro.
SAIBA MAIS
Sérgio Buarque de Holanda foi casado com a intelectual e escritora Maria Amélia de 
Holanda, apelidada Memélia. Com Maria Amélia, Sérgio teve sete filhos, entre os quais: 
o músico, cantor e compositor Chico Buarque de Holanda; a cantora e compositora 
Miúcha; a cantora, compositora, atriz, dramaturga e produtora Ana de Holanda; e a 
cantora e compositora Cristina Buarque. Miúcha, filha já falecida de Sérgio, era mãe da 
cantora, compositora e produtora Bebel Gilberto, cujo pai era o cantor e compositor João 
Gilberto.
Fonte: PORFIRIO, F. Sergio Buarque de Holanda. s/d. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/
sociologia/sergio-buarque-de-holanda.htm. Acesso em: 18 jun. 2022.
REFLITA 
“A inimizade bem pode ser tão cordial como a amizade, visto que uma e outra nascem 
do coração”
Fonte: Holanda (1995, p. 107).
https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/sergio-buarque-de-holanda.htm
https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/sergio-buarque-de-holanda.htm
34UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre 34UNIDADE II Sociologio Brasileira: Sergio Buarque de Holanda
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Sergio Buarque, assim como Gilberto Freyre escreveu na década de 1930 e ambos 
tentaram construir uma explicação total do Brasil a partir de suas origens miscigenadas. 
Apesar serem membros da elite brasileira, serem intelectuais de destaque, de se esforçarem 
intelectualmente com o mesmo propósito, tiveram conclusões diferentes sobre o Brasil.
Buarque de Holanda dispende esforços para mostrar porque o Brasil não deu certo. 
Ele em sua obra demonstra insatisfação com a herança cultural herdada dos portugueses, 
ao qual considerava afetivos e desorganizados. Holanda encontra seu bode expiatório, a 
colonização portuguesa e a partir dos hábitos coloniais destes constrói a ideia do brasileiro 
de sua época, o brasileiro cordial.
O homem cordial demonstra que ele não vê a população do país de forma positiva, 
muito pelo contrário, ele afirma que nossos hábitos, aparentemente benignos, na realidade 
são o nosso grande problema. Nossas relações intimistas e familiares foram estendidas 
para espaços onde nunca deveriam ter entrado, sobretudo o espaço público, sendo assim, 
o brasileiro cordial fez do espaço público extensão de sua própria casa.
Essas relações cordiais, emotivas, segundo Holanda, deveriam ser superadas para 
que o Brasil pudesse avançar como civilização. Somente uma revolução poderia nos tirar 
do legado português e nos deixaria livres para a construção de uma história brasileira.
Sergio Buarque, apesar de mostrar-se negativo em relação ao nosso passado e 
presente, apresentava certo otimismo quando falava em revolução. Via no Brasil potencial 
para que pudéssemos superar nossos problemas e deixar de ser uma nação desorganizada, 
corrupta e frágil. 
As recentes críticas intelectuais ao seu conceito de homem cordial vão em direção 
à ideia de que ele não acreditava no país e que inferiorizava o povo brasileiro. O conceito de 
Holanda realmente é bem duro em relação ao comportamento brasileiro, entretanto não o liga 
ao futuro do Brasil, mas ao seu passado e sua herança patrimonialista portuguesa. Portanto 
injusto é dizer que Holanda não possuía uma visão otimista do Brasil, muito pelo contrário, 
quando afirma que devemos realizar uma ruptura com nosso passado colonial, está afirmando 
seu otimismo em relação a nós mesmos. Sua expectativa por uma revolução, parece ser uma 
torcida fiel a um Brasil realmente livre de seu passado e com certeza, não cordial.
35UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre 35UNIDADE II Sociologio Brasileira: Sergio Buarque de Holanda
LEITURA COMPLEMENTAR
Acesse o material abaixo do Autor Sergio Costa e realize uma leitura aprofundada:
COSTA, Sergio. O Brasil de Sergio Buarque de Holanda. Scielo, São Paulo, v. 
29, n. 3, p. 821-840. Disponível em: https://www.scielo.br/j/se/a/DBbDXXxXGdQX6MMNv-
5T6Qft/?lang=pt. Acesso em: 04 ago. 2022.
 
https://www.scielo.br/j/se/a/DBbDXXxXGdQX6MMNv5T6Qft/?lang=pt
https://www.scielo.br/j/se/a/DBbDXXxXGdQX6MMNv5T6Qft/?lang=pt
36UNIDADE I Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre 36UNIDADE II Sociologio Brasileira: Sergio Buarque de Holanda
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO 
Título: Raízes do Brasil
Autor: Sergio Buarque de Holanda
Editora: Cia. Das Letras
Sinopse: Nunca será demasiado reafirmar que Raízes do Brasil 
inscreve-se como uma das verdadeiras obras fundadoras da 
moderna historiografia e ciências sociais brasileiras. Tanto no 
método de análise quanto no estilo da escrita, tanto na sensibilidade 
para a escolha dostemas quanto na erudição exposta de forma 
concisa, revela-se o historiador da cultura e ensaísta crítico com 
talentos evidentes de grande escritor. A incapacidade secular de 
separarmos vida pública e vida privada, entre outros temas desta 
obra, ajuda a entender muito de seu atual interesse. E as novas 
gerações de historiadores continuam encontrando, nela, uma fonte 
inspiradora de inesgotável vitalidade. Todas essas qualidades 
reunidas fizeram deste livro, com razão, no dizer de Antonio 
Candido, "um clássico de nascença".
FILME/VÍDEO
Título: Raízes do Brasil: uma cinebiografia de Sergio Buarque de 
Holanda
Ano: 2003
Sinopse: O filme Raízes do Brasil é um documentário dirigido por 
Nelson Pereira dos Santos a respeito da vida e da obra do escritor 
e jornalista Sérgio Buarque de Holanda, autor da obra Raízes do 
Brasil. O lançamento do longa-metragem no Brasil, em 2004, foi 
uma homenagem ao centenário de nascimento de Sérgio Buarque 
de Holanda (1902). O documentário inclui imagens do arquivo 
pessoal do escritor e cenas históricas.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=etUEsguoUx4 
37
Plano de Estudo:
● Caio Prado Junior: vida e obra;
● Caio Prado Junior: um intelectual materialista;
● Caio Prado Junior: a formação étnica do Brasil contemporâneo;
● Caio Prado Junior: análise da obra Formação do Brasil contemporâneo.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender a importância da origem do pensamento 
materialista dialético de Caio Prado;
● Entender sua análise como materialista e não do ponto de vista 
cultural como Freyre e Holanda;
● Analisar como Caio Prado Junior construiu uma 
explicação totalizante do Brasil;
● Compreender como a lógica econômica portuguesa determinou a lógica 
econômica e social na formação do Brasil. 
UNIDADE III
Sociologia Brasileira: Caio Prado Junior
Prof. Mestre Paulino Peres
38UNIDADE III Sociologia Brasileira: Caio Prado Junior
INTRODUÇÃO
Caio Prado Junior, ao contrário de seus antecessores, Freyre e Holanda, não 
realiza uma análise cultural do Brasil, mas material. Prado Junior, também retorna à colônia 
brasileira e percebe que os portugueses estabeleceram aqui uma colônia baseada na mão-
de-obra escravizada em latifúndios de monocultura. Para ele, sua época ainda conservava 
essas características e que esta seria a herança deixada pelos portugueses.
Nesta unidade compreenderemos os principais argumentos narrativos de Prado 
Junior presentes em sua obra, Formação do Brasil contemporâneo (1944) para compreensão 
do Brasil.
Aqui investigaremos porque Prado Junior analisa o Brasil a partir da economia e 
não da cultura, como seus antecessores. Também analisaremos sua narrativa histórica 
a respeito da economia colonial de dominação branca. Ainda procuraremos esclarecer 
que ele percebe a lógica econômica colonial portuguesa baseada em uma economia de 
monocultura agrária e latifundiária e como essa prática perpeuou-se pelo Brasil. 
39UNIDADE III Sociologia Brasileira: Caio Prado Junior
1. CAIO PRADO JUNIOR: VIDA E OBRA
O paulista Caio Prado Junior foi mais um cientista social brasileiro que se propôs a 
entender o Brasil, mas não do mesmo ponto de vista de seus antecessores, Gilberto Freyre 
e Sergio Buarque de Holanda. Os dois anteriores ao realizarem suas análises históricas e 
sociológicas do Brasil investiram em uma abordagem cultural. Caio Prado, marxista, fez 
uma análise materialista dialética. A análise da estrutura brasileira foi seu grande foco.
 Nasceu na capital paulista em 1907, de família aristocrática, foi ensinado em 
casa. Sua origem elitista contrasta com sua abordagem social materialista. Mesmo rico, 
sempre teve uma vida discreta e simples. Em sua infância e adolescência não conseguia 
compreender porque ele e sua família tinham tanto e os demais habitantes brasileiros tinham 
tão pouco, assim logo se interessou pelos estudos sobre o capital, pobreza, desigualdades 
e classes sociais.
Na década de 1920 a efervescência intelectual e política reinava em São Paulo. 
Um período de rebeldia na capital paulista o estimulava o que o levou a militar na esquerda 
política brasileira desde 1928. Logo, o Brasil viveria a “Revolução de 1930”, iniciamos a Era 
Vargas, expansão da democracia e dos direitos para logo em seguir sofrermos um Golpe de 
Estado em 1937, ascensão do fascismo e início da segunda guerra mundial. Os anos 1930 
foram da esperança ao fracasso e Caio Prado, durante o Estado Novo (1937-1945) escreve 
em 1942 sua obra mais famosa, Formação do Brasil Contemporâneo.
40UNIDADE III Sociologia Brasileira: Caio Prado Junior
Caio Prado, nesta célebre obra, explica o Brasil, não mais enfatizando os heróis 
individuais, mas a partir da análise de conjecturas em que os grupos políticos, segmentos da 
raça e de classe têm um papel privilegiado na explicação da história. Até 1930 a historiografia 
nacional estava dominada pela presença da história política, recheada de heróis nacionais 
(preferencialmente republicanos) e também por preconceitos antropológicos como a 
“superioridade racial” do homem europeu.
Formação do Brasil Contemporâneo é pioneira a utilizar uma perspectiva marxista, 
pois nela, vai procurar também as origens históricas do Brasil para compreender a evolução 
política e econômica do Brasil.
Neste período, Caio Prado, além de sua influência em Marx e Engels, sobre influência 
interna também. Em 1922 o Brasil presencia em São Paulo a Semana de Arte Moderna 
que introduziu no país novas técnicas de abordagem estrangeiras. Aberto a inovações, 
Caio Prado aceita desafios intelectuais. Deste movimento, bebe do antropofagismo de 
esquerda presente no Manifesto Antropofágico do poeta Oswald de Andrade. O poeta 
defende a cultura brasileira, defende ainda que ela poderia ser utilizada junto às influências 
internacionais, sobretudo das que vinham da Europa e América do Norte (pois a maior parte 
da cultura presente no país, vinham destes lugares).
Este nacionalismo de esquerda presente na antropofagia de Andrade e dos artistas 
modernistas também possuía seu contraponto, o movimento verde-amarelista liderado por 
Plínio Salgado do Partido Integralistas, partido autoritário de inspiração nazista dentro do 
Brasil. Movimento verde-amarelista esse que ganhou a admiração de Getúlio Vargas à 
época. O golpe de Estado dado por Vargas em 1937 teve início com o Plano Cohen, em que 
Vargas espalha a falsa notícia que comunistas e judeus tentavam dar um Golpe de Estado. 
Isso fez para que ele mesmo pudesse dar um auto-golpe.
Caio Prado, militante de esquerda, filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) 
seria, evidentemente, perseguido pelo governo. Caio Prado havia defendido a chegada do 
poder de Vargas em 1930, pois era crítico ferrenho da República aristocrática do Café com 
Leite (1905-1930). Em 1935 cria a Aliança Nacional Libertadora (ANL) que tinha membros 
de toda a esquerda e não apenas comunistas. Ainda em 1935 a ANL foi enquadrada na Lei 
de Segurança Nacional e entrou na ilegalidade. 
O PCB junto a ANL tentou uma insurreição armada sem sucesso que o deixou dois 
anos recluso. Após sua libertação se autoexilou na França onde manteve contato frequente 
com o PCF (Partido Comunista Francês). Retornou ao Brasil em 1939 percebendo que as 
tensões europeias poderiam levar a uma nova guerra, o que de fato ocorreu.
41UNIDADE III Sociologia Brasileira: Caio Prado Junior
De volta ao Brasil, Caio Prado teve dificuldades de realizar sua militância teórica e 
intelectual devido à forte repressão varguista. Vargas flertava com o nazi-fascismo, porém 
após pressão dos Estados Unidos se afasta da Alemanha nazista e das forças do Eixo. Como 
retaliação a Alemanha naufraga alguns navios mercantes brasileiros. Assim, o governo 
Vargas é pressionado pela opinião pública e se afasta ideologicamente da Alemanha e o 
Brasil se alia aos Aliados.
Com essa guinada à ideologia democrática no governo Vargas, figuras mais liberais 
ganhavam destaque no Governoe assim, Caio Prado e o PCB se aproximam do Governo. 
Acreditavam que a união contra o nazi-fascismo ajudaria a conquistar a democracia interna. 
Foi com essa convicção que Caio Prado Junior, o comunista, auxilia na criação da União 
Democrática Nacional (UDN), partido que ficaria famoso por ser altamente conservador.
Todos os problemas políticos que envolviam Caio Prado apenas o motivaram para 
continuar suas análises histórica e sociológicas. Quanto mais ele compreendia os desafios 
políticos e econômicos do Brasil mais inquieto ficava sobre as dificuldades brasileiras de 
superação do passado colonial. Acreditava ele que o século XX havia herdado os males do 
período colonial e imperial. Queria entender o sentido da colonização e sua aparente prisão 
sobre a produção de gêneros agrícolas.
No fim do Estado Novo, Caio Prado utilizaria a sua fortuna familiar para criar a Editora 
Brasiliense, que foi responsável por grande produção editorial de esquerda no país. Pela 
editora publicou ainda História Econômica do Brasil, onde mais uma vez, analisa o Brasil 
através de suas relações de produção onde o historiador tratou de aspectos econômicos do 
Império e República a partir do tripé latifúndio, monocultura e escravidão. 
Foi eleito deputado estadual em 1946 pelo PCB. Seu mandato foi curto, pois o 
clima de Guerra Fria que atemorizava o mundo levou o PCB novamente à ilegalidade pelo 
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acusado de ser um partido antidemocrático e controlado 
por interesses externos. Novamente seria preso, desta vez por três meses. 
Durante a década de 1950 manteve uma alta produção intelectual na Editora 
Brasiliense e nos anos 1960 publica seu mais polêmico livro, A revolução brasileira, onde 
rompe com ideias clássicas do PCB, que defendiam o desenvolvimento democrático-
burguês. 
Caio Prado, com certeza está em os grandes nomes das ciências sociais no Brasil. 
Sua análise é ampla e comparada as de Gilberto Freyre e Sergio Buarque. Outros viriam após 
e também entrariam nesse rol junto a esses três gigantes. A grande influência de Caio Prado 
é sua influência marxista que inspiraria e ainda inspira historiadores e sociólogos no Brasil. 
42UNIDADE III Sociologia Brasileira: Caio Prado Junior
2. CAIO PRADO JUNIOR: UM INTELECTUAL MATERIALISTA
As discussões teóricas sobre marxismo hoje são comuns na academia e fora dela 
o nome de Marx é utilizado com propósitos diversos. A popularidade do nome de Marx hoje 
nada é comparada ao marxismo do início do século XX no Brasil. As propostas socialistas 
já eram conhecidas nas maiores cidades em industrialização, pois imigrantes europeus as 
conheceram na Europa e aqui ela era estimulada. Mas ainda não tínhamos intelectuais 
marxistas, eram poucos e seus escritos não tinham grande circulação. Caio Prado surge um 
dos primeiros nomes de maior importância declaradamente marxistas na intelectualidade 
brasileira.
Materialista-histórico-dialético, Caio Prado, dentro de um objeto de estudo escolhido, 
relacionava a identidade (tese) à negação desta identidade (antítese) de modo que a última 
substituiria a primeira formando uma nova identidade/tese (síntese). Esse processo seria, 
portanto, cíclico, dialético. 
Assim como em Marx, Caio Prado não assume a dialética (tese/antítese/síntese) 
como algo espiritual, como ocorria na dialética de Hegel, mas sim, material (influência do 
materialismo de Feuerbach). Da mesma forma que Marx, Caio Prado assume o materialismo 
como condições materiais e históricas da sociedade, portanto, o materialismo é o método 
utilizado pelos marxistas baseado nas condições materiais de uma sociedade. 
43UNIDADE III Sociologia Brasileira: Caio Prado Junior
Estas condições materiais também podem ser compreendidas como relações de 
produção ou relações de trabalho, ou seja, para os marxistas só é possível compreender 
a sociedade a partir de suas relações de produção, de suas relações de trabalho, de suas 
relações econômicas.
O método materialista-histórico dialético é inovador no sentido que inverte a com-
preensão da sociedade dando destaque para aqueles que estão na estrutura da sociedade, 
pois se uma sociedade só pode ser compreendida em suas relações de trabalho, o traba-
lhador ganha destaque nesta análise, isto é, a sociedade agora seria entendida não mais a 
partir de seus personagens políticos, mas através de grupos que até aquele momento eram 
desprezados pela intelectualidade.
A obra de Caio Prado demostra sua predileção em explicar o Brasil através de suas 
relações econômicas, como o fragmento a seguir:
É, pois, sob a ação de fatores contraditórios que evoluirá a nossa economia: 
por um lado, assistiremos ao desenvolvimento daquele sistema (cafeeiro), 
que atinge então um máximo de expressão com o largo incremento, sem 
paralelo no passado, de umas poucas atividades de grande vulto econômico, 
com exclusão de tudo mais. Mas, doutro, veremos resultar daquele mesmo 
desenvolvimento os germes que evoluirão no sentido de comprometer a 
princípio, e afinal destruir (se bem que o processo não esteja ainda terminado 
nos dias que correm) a estrutura econômica tradicional do país (PRADO 
JÚNIOR, 2000, p. 214-215).
O autor deixa claro sua análise econômica (materialista) sobre a sociedade brasileira 
e também o aspecto contraditório (dialético) de sua explicação sobre o Brasil. Caio Prado 
compreende o país através da produção cafeeira e da força produtiva por trás dela, a 
escravidão. 
A economia colonial baseada na monocultura latifundiária prejudicava o país, 
portanto, para ele, seria através da economia que o Brasil deixaria de ser um país periférico. 
O marxista Caio Prado, ao contrário de que desavisados ingênuos críticos do socialismo 
dizem não realizou em sua obra uma orientação para a formação de uma Brasil socialista, 
muito pelo contrário, o autor afirmava que para o Brasil fazer parte do grupo de países 
dominantes seria necessário o desenvolvimento das relações capitalistas de produção. 
Pode parecer que há aqui uma contradição, mas não, Caio Prado é um marxista fiel ao 
determinismo econômico de Karl Marx.
Caio Prado acreditava que as relações de produção capitalistas deveriam se 
desenvolver até o ponto que o desenvolvimento das forças produtivas iria entrar em 
confronto com as relações de produção. A luta entre essas classes em um sistema de 
produção capitalista levaria o proletariado a uma revolução socialista. Isto é, assim como em 
44UNIDADE III Sociologia Brasileira: Caio Prado Junior
Marx, o autor afirma que uma sociedade socialista emergiria de uma sociedade plenamente 
capitalista através de uma luta de classes entre forças produtivas e donos dos meios de 
produção.
Apesar de ver no Brasil um capitalismo ainda emergente, percebe que a colonização 
no Brasil só teve sentido dentro da lógica do capitalismo europeu que se desenvolvia aos 
poucos desde o século XV. Para ele: 
No seu conjunto, e vista no plano mundial e internacional, a colonização dos 
trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, mais completa 
que a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a 
explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio 
europeu. É este o verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o Brasil 
é uma das resultantes; e ele explicará os elementos fundamentais, tanto no 
econômico como no social, da formação e evolução histórica dos trópicos 
americanos (PRADO JÚNIOR, 2000, p. 31).
Caio Prado, afirmava que o capitalismo no Brasil não havia se desenvolvido, 
pois seria refém do capitalismo europeu. O pacto colonial colocava a colônia brasileira 
totalmente submissa à sua metrópole portuguesa. Não havia qualquer tipo de liberdade 
econômica. Os portos estavam fechados ao mundo e nossa única alternativa econômica era 
Portugal. O colonialismo mercantilista intervinha de tal forma que Portugal era nosso único 
cliente. Mesmo que outras nações oferecessem

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