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…………………….……………………….…..…LESÕES DA CAVIDADE ORAL…………….………………………………………… Caso 7 - Módulo 1- Hanna Leal SEMIOLOGIA DA CAVIDADE ORAL Devem ser examinados lábios, mucosa jugal, gengivas, dentes, palato, assoalho da boca e língua. ● A região das amígdalas e da orofaringe deve ser inspecionada com uso do abaixador de língua (lembrar que a língua deve permanecer dentro da cavidade oral e o abaixador deve ser posicionado no terço médio da língua). Caso haja reflexo nauseoso intenso, pode ser utilizado anestésico tópico como lidocaína spray a 10%. ● Os óstios de drenagem das glândulas salivares também devem ser avaliados (parotídeos: na altura do segundo molar superior, submandibular e sublingual: no assoalho da boca, laterais ao freio lingual). Deve-se atentar para coloração, alterações da superfície, umidade e presença de lesões nessas regiões. Os dentes devem ser avaliados quanto ao estado de conservação, oclusão das arcadas e posição da mandíbula e presença de alterações inflamatórias e infecciosas adjacentes. ● A língua, quanto à forma, alteração da consistência, presença de lesões e mobilidade (na paralisia do nervo hipoglosso, a língua desvia para o lado paralisado). ● Na região amigdaliana, devem ser observados: presença ou ausência de amígdala, tamanho, simetria, presença de sinais infecciosos/secreção purulenta, caseum, lesões ulceradas ou com aspecto necrótico (tumoral/infeccioso). ● A região da parede posterior da orofaringe deve ser inspecionada em busca de secreção, lesões, hipertrofia de folículos linfóides, bem como secreção pós-nasal. ANATOMIA DA CAVIDADE ORAL CANDIDOSE ORAL ● Entre as espécies que provocam infecção em seres humanos, Candida albicans é a mais comum; Candida glabrata, Candida parapsilosis e Candida tropicalis são responsáveis pela maioria dos demais casos de infecção. ● As espécies de Candida produzem um amplo espectro de doenças cuja gravidade varia desde uma infecção localizada das membranas mucosas a doença disseminada potencialmente fatal. ● Fatores predisponentes locais (como higiene oral precária e prótese dentária) e sistêmicos (como diabetes, gravidez, neoplasia disseminada, corticoterapia, radioterapia, quimioterapia, xerostomia, imunodepressão – incluindo a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, HIV – e antibioticoterapia prolongada) podem levar a quebra da barreira epitelial, facilitando a colonização da mucosa pelo fungo; Baixo fluxo salivar ou alterações em sua composição aumentam a incidência de candidose oral. ● Normalmente, a doença atinge os extremos de faixa etária (crianças e idosos). Patogênese A candidíase orofaríngea, pode resultar de fatores locais ou de disfunção das células T. A resposta imune do hospedeiro constitui o principal determinante da gravidade da infecção. As infecções locais estão, com frequência, relacionadas com a proliferação excessiva de Candida em …………………….……………………….…..…LESÕES DA CAVIDADE ORAL…………….………………………………………… Caso 7 - Módulo 1- Hanna Leal consequência de alterações na microbiota normal. FATOR DE RISCO + IMUNODEFICIÊNCIA = quebra da barreira epitelial, facilitando a colonização da mucosa pelo fungo. ●A candidíase orofaríngea secundária à disfunção das células T é mais comumente observada em pacientes com infecção pelo HIV. Quadro clínico Essa doença fúngica comum tem três formas clínicas: pseudomembranosa, eritematosa (atrófica) e hiperplásica (leucoplaquia por Candida). ● A candidíase pseudomembranosa, geralmente de duração relativamente curta, ocorre em qualquer local e consiste em placas fúngicas brancas que podem ser removidas, deixando uma base vermelha ou sangrante. ● As lesões da candidíase hiperplásica são brancas, apresentam hifas fúngicas nas camadas superficiais do epitélio hiperqueratótico, não se propagam e são mais frequentemente encontradas na mucosa bucal anterior ou na língua. ● A candidíase eritematosa se apresenta com lesões vermelhas. Todas as formas de candidíase oral representam crescimento excessivo ou infecção superficial por espécies de Candida da flora oral, induzido por várias causas, como supressão da flora bacteriana por antibióticos sistêmicos, disfunção salivar crônica, diabetes melito não controlado ou anemia e imunossupressão (especialmente em pacientes infectados pelo HIV). CANDIDÍASE ORAL ERITEMATOSA (ATRÓFICA) A candidíase oral eritematosa (atrófica) é uma condição crônica caracterizada por eritema e atrofia das papilas filiformes no dorso da língua ou por eritema irregular e mal definido no palato, língua ou mucosa bucal. Geralmente é acompanhada por sensação de queimação na mucosa oral e sensibilidade a alimentos picantes. Ela ocorre mais comumente em pacientes com hipofunção salivar crônica (p. ex., síndrome de Sjögren ou efeitos de fármacos anticolinérgicos), mas também ocorre em pacientes que usam próteses dentárias removíveis infectadas por Candida, nas quais o eritema da mucosa está restrito à área que sustenta a prótese dentária. …………………….……………………….…..…LESÕES DA CAVIDADE ORAL…………….………………………………………… Caso 7 - Módulo 1- Hanna Leal Diagnóstico É, com frequência, estabelecido clinicamente. As culturas raramente estão indicadas. A confirmação pode ser obtida por raspagem das lesões e realização de uma preparação de KOH a 20% ou coloração de Gram à procura de leveduras em brotamento. Nos casos em que a doença é recorrente ou não responde ao tratamento-padrão, é necessário efetuar uma cultura das lesões para estabelecer se o agente etiológico é uma espécie mais resistente, como C. glabrata ou C. krusei. Tratamento ● Inicialmente, deve-se afastar e tratar fatores locais e sistêmicos predisponentes. ● A higiene oral adequada é mandatória. Próteses dentárias devem pernoitar em solução com hipoclorito, clorexidina a 5% ou água bicarbonatada. ● Nos casos mais simples (pseudomembranosa), podem ser utilizados bochechos e gargarejos de nistatina tópica a 100.000/mL (5 mL), cinco vezes ao dia, por 2 semanas, continuando o uso por 1 semana após o desaparecimento das lesões. Recentemente, passou-se a preconizar o uso de clorexidina em bochechos como adjuvante na terapia tópica antifúngica. ● As lesões atróficas, como glossite romboide mediana, requerem o uso de miconazol gel oral duas vezes ao dia, por 14 a 21 dias. ● Outras opções terapêuticas incluem o uso de fluconazol na dose de 200mg no 1ºdia, por via oral, seguido por uma dose diária de 100 mg até 10 a 14 dias após a regressão da doença, sendo a dose dobrada para as formas sistêmicas de candidíase. → Cetoconazol também pode ser empregado, nas doses de 200 ou 400 mg/dia, para as formas mais resistentes, mantendo-se também por cerca de 10 dias após a regressão da doença. Em imunodeprimidos, deve ser usado cetoconazol na dose de 400 mg/dia, durante um mínimo de 20 dias. HERPES SIMPLES →O herpes simples vírus (HSV) é um DNA vírus classificado em tipos I e II. O tipo I está mais frequentemente associado às lesões orofaciais, e o tipo II, às lesões genitais, porém também pode ocorrer o contrário. A transmissão se dá por meio de contágio com fluidos corporais infectados. →O período de incubação é de geralmente 2 a 12 dias (em média, 4 dias). A forma primária da doença é a chamada gengivoestomatite herpética, que afeta crianças na faixa etária entre 1 e 3 anos. →Após a infecção primária, o vírus atravessa a barreira mucosa, migra através da bainha periaxonal, retrogradamente, até atingir o gânglio trigeminal, onde permanece latente até a reativação. Indivíduos predispostos podem desenvolver quadro de herpes simples recorrente, sobretudo na região dos lábios – herpes labial recorrente. → A recorrência com reativação do vírus pode ocorrer em resposta a uma variedade de estímulos fisiológicos, infecciosos, psíquicos ou ambientais (exposição à radiação ultravioleta solar, estados gripais, estresse emocional e resposta ao trauma) Quadro clínico As duas principais manifestações clínicas são a gengivoestomatite herpética primária e as infecções recorrentes. …………………….……………………….…..…LESÕES DA CAVIDADE ORAL…………….…………………………………………Caso 7 - Módulo 1- Hanna Leal → na gengivoestomatite herpética, a criança apresenta vesículas orais pequenas e dolorosas, localizadas na mucosa bucal, gengival e da língua, mal-estar, cefaleia, febre e linfadenopatia cervical. As vesículas rapidamente se rompem, tornando-se úlceras que podem coalescer, formando lesões maiores. Em geral, o quadro perdura por 12 dias, causando dificuldades para a alimentação e a ingestão de líquidos e provocando hipersialorreia. →Pacientes previamente expostos a esse vírus podem desenvolver lesões recorrentes (secundárias) como aglomerados de pequenas vesículas, mais comumente nos lábios (herpes labial) e menos comumente na mucosa queratinizada da gengiva ou palato duro. Essas lesões contêm vírus vivos e tendem a reaparecer no mesmo local, mas com menos frequência com o aumento da idade Histopatologia: A vesícula herpética é uma bolha intraepitelial. As células mostram degeneração “em balão”, enquanto outras contêm inclusões intranucleares conhecidas como corpos de Lipschutz. O tecido conjuntivo subjacente usualmente está infiltrado por células inflamatórias. Diagnóstico Em 80% dos casos é clínico. Nos casos mais complexos, o exame citológico de esfregaço ainda é uma técnica confiável para o diagnóstico do herpes simples ativo. Além disso, encontram-se também células gigantes multinucleadas de Tzanck. ● À parte os estudos de imunofluorescência, em que se nota a presença de IgG nos espaços intraepiteliais em 100% dos pacientes, C3 (50%) e IgA (30%), ou a pesquisa de anticorpos circulantes IgM em níveis correlacionados ao grau de atividade da doença, positiva em 80 a 90% dos pacientes ● a cultura para isolamento do vírus continua sendo o método de diagnóstico definitivo para a doença ( “exame-gol”) Tratamento É sintomático, com analgésicos e hidratação da criança. OBS: Em caso de infecção bacteriana secundária, utiliza-se antibiótico. ● O uso de aciclovir pomada a 5%, nos casos de herpes recorrente labial, pode ser útil no início do quadro, na fase de hiperestesia. ● Aciclovir sistêmico deve ser usado em casos graves, para crianças, na dose de 15 mg/kg, e cinco vezes ao dia, até um máximo de 200 mg; em adultos, na dose de 200 mg, cinco vezes ao dia, e 400 mg, cinco vezes ao dia para imunossuprimidos. Lesões aftoides Estomatite aftoide recorrente É uma doença comum caracterizada por úlceras pequenas, circulares ou ovaladas, de margens circunscritas, halo eritematoso, fundo amarelado ou acinzentado e recorrentes, de aparecimento inicial na infância ou na adolescência. Acometem a mucosa bucal, a face ventral da língua, os lábios e a mucosa alveolar. Etiopatogênese → não esclarecida ● Há predisposição genética da doença; (frequência aumentada de certos tipos de antígenos de histocompatibilidade (HLA) e uma história familiar positiva) ● Supõe-se que: deficiência de ferro sérico, estresse emocional, trauma local e pH bucal ácido estejam relacionados com sua origem. →Microscopicamente, células mononucleares infiltram o epitélio com desenvolvimento de edema. Esse estágio pré-ulcerativo é seguido por aumento de dor e desenvolvimento de edema papular localizado, acompanhado de halo eritematoso reativo, que representa vasculite localizada com denso infiltrado mononuclear. A imunopatogênese provavelmente envolve mecanismo de resposta imune mediada por células, com, geração de células T e fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa) por macrófagos e …………………….……………………….…..…LESÕES DA CAVIDADE ORAL…………….………………………………………… Caso 7 - Módulo 1- Hanna Leal mastócitos. O TNF-alfa desencadeia o processo inflamatório por seu efeito sobre a adesão das células endoteliais e a quimiotaxia de neutrófilos. TNF-alfa também tem um importante papel em atividades de regulação imune, incluindo a expressão de antígenos de histocompatibilidade classes I e II. Aumento na expressão desses antígenos foi detectado nas células epiteliais basais nos estágios pré-ulcerativos e ulcerativos das lesões de EAR. Esses antígenos provavelmente desempenham papel no dano tecidual, fazendo com que as células basais sejam alvo do ataque de linfócitos T CD8+ na fase ulcerativa. Clinicamente, a EAR se apresenta de três maneiras: aftas menores, maiores e herpetiformes; → AFTAS MENORES: Úlceras aftoides menores (doença de Mikulicz). São múltiplas (normalmente duas ou três lesões), dolorosas, ovais e arredondadas, com 2 a 4 mm de diâmetro, estão localizadas em áreas não queratinizadas do epitélio e regridem após 7 a 10 dias. A recorrência é variável. → AFTAS MAIORES: As úlceras aftoides maiores são menos frequentes, porém mais graves, múltiplas (normalmente uma a seis lesões), durando de 6 semanas até alguns meses. Também é conhecida como doença de Sutton. As úlceras são usualmente com 1 a 3 cm de diâmetro, podendo acometer qualquer área da mucosa oral, língua e palato. Podem deixar cicatrizes após remissão. → AFTAS HERPETIFORMES: As úlceras herpetiformes são pequenas, dolorosas e múltiplas (duas a 200), diferentes das lesões por HSV por não ter o vírus e pela ausência do estágio vesicular, duram de 1 a 2 semanas, e são as mais raras; Diagnóstico de EAR → O diagnóstico da EAR é clínico, baseado na história e nos achados de exame físico. →Deve-se solicitar hemograma, dosagem de folato, ferritina sérica e vitamina B12 →O exame histológico mostra apenas uma lesão ulcerada acompanhada de infiltrado inflamatório inespecífico. Imunofluorescência é negativa!! Lembrar: na EAR, as aftas não possuem fase vesicular, diferentemente do que ocorre com o HSV. TRATAMENTO (O tratamento é paliativo e não curativo) Em linhas gerais, o tratamento se baseia no uso de anti-inflamatórios, imunossupressores, antibióticos se necessário, ingestão de iogurte e lactobacilos, e controle emocional com psicoterapia ou medicação caso o componente psicogênico desempenhe um papel importante. ● Entre as drogas de uso tópico, o corticosteróide com orabase (betametasona e triancinolona) pode diminuir a duração da crise, minorar o processo inflamatório local e facilitar a cicatrização. ● SURTO AGUDO → O uso sistêmico de corticosteróides, em casos graves (prednisona, 20 a 40 mg/dia, por 7 a 10 dias), deve ser controlado, por conta dos inúmeros efeitos colaterais quando de uso prolongado. ● Para a prevenção das crises, a melhor droga é a talidomida (50 a 100 mg/dia), por sua ação anti-TNF-alfa, mas seus efeitos colaterais e teratogênicos limitam seu uso. Uma ótima opção é a dapsona (100 a 200 mg/dia). …………………….……………………….…..…LESÕES DA CAVIDADE ORAL…………….………………………………………… Caso 7 - Módulo 1- Hanna Leal DOENÇA PERIODONTAL → São um grupo de infecções orais que acometem o periodonto, que são os tecidos duros e moles que sustentam e mantêm os dentes na maxila e na mandíbula. → Trata-se de uma condição mundial, sendo a causa mais comum de perda dentária. A doença periodontal em sua forma mais prevalente está associada ao acúmulo excessivo de placa bacteriana nos dentes e raízes. → A maioria dos casos de doença periodontal começa com inflamação da gengiva – denominada gengivite – que evolui para perda do osso de suporte ao redor das raízes dos dentes. → A base do tratamento é a remoção de cálculos subgengivais e depósitos de biofilme usando métodos mecânicos (escovação dentária, fio dental, raspagem e alisamento radicular). FONTES: Goldman, Lee, e Andrew I. Schafer. Goldman-Cecil Medicina. Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Grupo GEN, 2022. Martins, Mílton de, A. et al. Clínica Médica, Volume 6: Doenças dos Olhos, Doenças dos Ouvidos, Nariz e Garganta, Neurologia, Transtornos Mentais. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Editora Manole, 2016.
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