Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ruan Silva Rabelo 1 PROCESSO PENAL PERSECUÇÃO PENAL (PERSECUTIO CRIMINIS) CONCEITO A persecução penal nada mais é do que o Estado, com toda a sua força, perseguir/ir atrás de saber se houve um crime e quem o praticou, para, então aplicar a pena prevista na legislação. Em outras palavras, a persecução penal é o caminho pelo qual o Estado irá seguir visando obter as seguintes perguntas: houve um crime? Como foi e quem o praticou? A persecução penal é dividida em duas fases: a investigativa (normalmente feita pela Polícia Judiciária – Polícia Federal e Polícia Civil) e a processual (ocorre no âmbito do Poder Judiciário - daí já estamos falando de uma ação penal, tema de outra aula). Essa divisão é fundamental para você entender a natureza do inquérito policial, que é o tema da nossa aula de hoje. Um crime abala a ordem pública, e, como é dever do Estado garantir a paz social, cabe a ele, por meio de seus órgãos, investigar o crime e punir o apontado autor do crime. ATENÇÃO Aqui, quando eu uso as palavras crime e autor, faço sem aquele rigor todo que a gente aprende no Direito Penal. PERGUNTA Por que não pulamos já para a ação penal? Não seria mais fácil, já que a polícia não ia ter todo o trabalho de investigar todos os crimes que ocorrem? Veja, senhores, que nesse ponto há a forte incidência da presunção de inocência do indivíduo que supostamente praticou um crime. Portanto, o Estado não pode iniciar ações penais sem algo que, ao menos em tese, diminua tal presunção. No momento da ocorrência da suposta prática criminosa, a presunção de inocência está no seu grau máximo, que vai diminuindo com o andar das investigações feitas pela polícia. Gosto de exemplificar isso com um gráfico. Vejamos: Ruan Silva Rabelo 2 Presunção de inocência Investigações Ação penal Tempo Portanto, perceba que no cometimento da suposta infração penal, a presunção de inocência do indivíduo está em seu grau máximo, que vai diminuindo (via de regra) com o andamento das investigações. É por isso que investigamos logo que temos notícia de que algum crime aconteceu. Essa investigação trará uma mínima condição para que, na segunda fase da persecução penal (a ação penal), possamos discutir a culpa ou não de alguém que é presumidamente inocente até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Essa investigação policial é feita pela polícia judiciária pelo instrumento que denominamos inquérito policial. Apenas a polícia se vale do inquérito policial. Outros órgãos, quando investigam, chamam seu próprio procedimento de outros nomes. Inquérito é coisa de polícia! Pois bem, vamos organizar o raciocínio desenvolvido até aqui: 1) Chega até a polícia a notícia de um crime (notitia criminis) - A notitia criminis é a notícia de um crime (ainda que em tese) que chega até a polícia; 2) Iniciamos a primeira fase da persecução penal, que é a investigação criminal (persecutio criminis) - A persecutio criminis é a busca estatal pelo autor do crime e pela materialidade do crime; 3) Buscamos um suporte probatório mínimo para uma futura ação penal (informatio delicti) - A informatio delicti é a investigação, é a primeira fase da persecutio criminis; 4) Forma-se a opinio delicti - A opinio delicti é a opinião formada pelo “dono da ação penal”, que é, em se tratando das ações penais públicas, o Ministério Público. Explicando melhor: depois que o Ministério Público pega o resultado das investigações, vai decidir se inicia ou não uma ação penal contra aquele sujeito. A polícia ajuda na formação da opinio delicti do dominus litis. Ruan Silva Rabelo 3 Pois bem, feita esta breve introdução sobre a persecução penal, vamos iniciar o tema inquérito policial. INQUÉRITO POLICIAL CONCEITO Inquérito policial é PROCEDIMENTO administrativo não obrigatório, de cunho informativo e instrumental, sigiloso e escrito, que serve como base a uma futura ação penal. O que o inquérito não é um processo administrativo. Não é processo! Guarde isso! Inquérito não é, nunca foi e nunca será processo. Isso porque no âmbito do inquérito policial ninguém está sendo acusado de nada. Ninguém será apenado com nada. Estamos investigando. E porque fazemos isso? Para informarmos (por isso a natureza informativa do inquérito) ao “senhor da ação penal”, que é, em regra, o Ministério Público, como e quando ocorreu um crime e quem o teria praticado. Ajudamos na formação da opinio delicti do dominus litis. Esse é o papo que você deve gravar. Ademais, no âmbito do inquérito policial, não há a observância do contraditório e da ampla defesa, motivo pelo qual não se fala em produção de provas, mas sim na produção e ELLEMENTOS DE INFORMAÇÃO. Disso decorre o valor probatório do inquérito: ele é relativo (justamente porque não é observado os princípios acima destacados). Prova é “coisa” de processo, e o inquérito policial NÃO é processo. CARACTERÍSTICAS Escrito (art. 9°, CPP) Notitia criminis Persecutio criminis Informatio delicti Opinio delicti Art. 9° Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade. Ruan Silva Rabelo 4 Art. 9° Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela Sigiloso (art. 20, CPP) Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. A regra do inquérito policial é o sigilo, entretanto, quando falamos em sigilo nesse instrumento, é importante mencionar que existem dois tipos: o externo e o interno. O sigilo externo é aquele observado sob a perspectiva da sociedade, ou seja, não é qualquer indivíduo que chegará a uma delegacia de polícia que terá acesso aos autos do inquérito. Já o sigilo interno é aquele observado pelo juiz, promotor, delegado e o advogado do investigado. Para esses indivíduos, não faz sentido manter sigilo, já que eles estão diretamente ligados à apuração do suposto delito. IMPORTANTE É muito importante termos conhecimento de uma súmula editada pelo Supremo Tribunal Federal. Trata-se da Súmula Vinculante n° 14, que assim dispõe: Súmula Vinculante 14 - É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. Portanto, senhores, vejam que os advogados têm direito a terem acesso aos autos do inquérito, entretanto, eles só podem ter acesso aos autos JÁ DOCUMENTADOS. Grave isso, já caiu em prova um milhão de vezes. Você pode perguntar: professor, mas por que isso? Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Súmula Vinculante 14 - É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. Ruan Silva Rabelo 5 É simples. Imaginemos que no curso de uma investigação a autoridade policial esteja diante de uma situação que se torne imprescindível o uso da interceptação telefônica. A autoridade judiciária defere o pedido do delegado e este começa a escutar as conversas telefônicas do investigado. Certo dia chega o defensor do investigado à delegacia de polícia e pede os autos do inquérito. A autoridade policial é obrigada a permitir o acesso. Nessa hora, o defensor vê que seu cliente está grampeado,e, imediatamente, telefona para o mesmo e diz para ele se livrar do telefone. Ora, a investigação nesse ponto falhou. Perceba que, por estar em andamento, a interceptação telefônica ainda não pode constar nos autos, sob pena de prejudicar a investigação. É justamente por isso que o defensor só tem acesso aos autos JÁ DOCUMENTADOS. INQUISITIVO Essa característica diz respeito ao fato de ser de que não há contraditório e ampla defesa no curso da investigação, vez que não há acusação de nada, há tão somente a busca pela autoria e materialidade de um suposto crime. Dessa característica implica que o valor probatório produzido no curso do inquérito possui valor relativo. Inquisitivo, por outra via, não significa arbitrário! Todos os direitos e garantias fundamentais do indivíduo devem ser respeitados. DISPENSÁVEL (12; 27 E 39, §5° DO CPP) Também aparece em provas como: prescindível/não obrigatório/desnecessário. Vejamos a literalidade da lei: Ora, não existem investigações feitas apenas pela polícia. O próprio Ministério Público pode realizar suas próprias investigações. A Receita Federal, o IBAMA, as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI’s) são outros exemplos. Esses órgãos podem realizar suas Art. 39, § 5°. O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias. Ruan Silva Rabelo 6 próprias investigações que não são feitas por meio de inquérito policial, haja vista que inquérito policial somente a polícia faz. Assim, resta evidente que o inquérito policial é dispensável. INDISPONÍVEL (ART. 17, CPP) Uma vez instaurado o inquérito policial, este não pode ser arquivado pela autoridade policial, ou seja, o delegado de polícia não pode “abrir mão” do inquérito. Vai ter que seguir com aas investigações até fazer seu relatório final. Vejamos: Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito. Delegado de Polícia nunca arquivou, não arquiva, e nunca vai arquivar inquérito policial. Grave isso porque despenca em prova. O examinador vai contar alguma história bonita e vai afirmar que a autoridade policial pode arquivar o inquérito para tentar levar você ao erro. Não caia nessa. JAMAIS um delegado vai arquivar um inquérito, independente do que o examinador falar na questão. OFICIAL Nada mais é do que a investigação ser conduzida por um órgão oficial do Estado, que, no caso, é a Polícia Judiciária. OFICIOSO Não confunda com a característica anterior. Embora os nomes sejam parecidos, trata- se de institutos totalmente diversos. A oficiosidade significa que o delegado pode agir de ofício. E o que é agir de ofício? É agir “sem ninguém mandar”. Logo que a autoridade policial tiver conhecimento do crime, ele não precisa, por exemplo, esperar que o juiz o mande ir ao local do crime. De ofício ele se dirige ao local e começa com as diligências preliminares. “De ofício/ ex officio” significa que é o dever do cargo. Não precisa ninguém mandar começar as investigações. É o seu ofício. É o seu trabalho. Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito. Ruan Silva Rabelo 7 DISCRICIONÁRIO (ART. 6°, CPP) Está diretamente ligada ao “investigar”. É o conduzir a investigação. É o “como” agir. Vejamos o que diz a lei: PERGUNTA O delegado é obrigado a seguir a ordem desses incisos acima? Art. 6°. Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; IV - ouvir o ofendido; V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) Ruan Silva Rabelo 8 NÃO! E por quê? Justamente porque o inquérito é discricionário, ou seja, na prática, dependendo de qual seja o crime, o “como” investigar será diferente. Investigar um crime de homicídio não vai ser investigado do mesmo jeito que um crime contra a ordem financeira. Portanto, o delegado de polícia tem a possibilidade de escolher quais os procedimentos que ele julga adequado para investigar o crime. Lembrando que não existem somente essas diligências acimas, em outras leis existem outras condutas possíveis, ou seja, o Código de Processo Penal apresenta um rol meramente exemplificativo. ESCRITO Aqui não há necessidade de tecer considerações. É autoexplicativo. O inquérito policial precisa ser escrito, isto é, documentado. NOTITIA CRIMINIS Já falamos disso. A notitia criminis é a notícia de um crime que chega aos ouvidos daquele que conduz a investigação no âmbito da polícia – Delegado de Polícia. Existem basicamente 4 espécies: Notitia criminis direta, imediata, espontânea, não provocada Decorre de atividades naturais da polícia. A notícia de um crime chega ao Delegado por conta de uma atividade da imprensa ou mesmo investigações policiais. Notitia criminis indireta, mediata, não espontânea, provocada Decorre uma manifestação escrita (formal) de um terceiro. O Juiz, Promotor, vítima ou seu representante legal podem se manifestar e noticiar um crime ao Delegado. É o caso de representação/requerimento da vítima ou seu representante legal, requisição do juiz ou do promotor. Notitia criminis coercitiva É o caso que vocês irão realizar futuramente. Um sujeito é preso em flagrante. Um auto de prisão em flagrante será realizado e será instaurado um inquérito policial. Os arts. 301 e seguintes do CPP tratam da prisão em flagrante – leitura obrigatória. NOTITIA CRIMINIS INQUALIFICADA Ruan Silva Rabelo 9 Essa modalidade por vezes é inserida na direta/espontânea/não-provocada. É o que o senso comum chama de “denúncia anônima”. Você que está estudando para a polícia deve ter cuidado com esse termo. Não é denúncia! Denúncia é o nome que se dá à peça inicial acusatória de uma ação penal pública. Quem denuncia é o Promotor, não um indivíduo. O sujeito que, de modo anônimo, faz uma ligação à polícia e noticia um crime age no sentido de ver apurada uma possível infração penal. Só isso! Essa notícia de crime tem esse nome, pois não conseguimos qualificar o sujeito, visto que ele se vale do anonimato. INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL A instauração do inquérito depende da natureza da ação penal (que iremos ver em outra aula). No nosso ordenamento jurídico, temos as seguintes espécies de ação penal: Nos crimesde ação penal pública incondicionada, pode se iniciar da seguinte forma: 1) De ofício – art. 5°, I, CPP 2) Requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público – art. 5°, II, CPP Ação penal Pública Incondicionada Condicionada Privada Ruan Silva Rabelo 10 3) Requerimento do ofendido ou de seu representante legal – art. 5°, §1°, CPP Nesse caso, caso haja a recusa pelo delegado de polícia, existe a possibilidade de recurso para o Chefe de Polícia (Art. 5°, §2°, CPP) 4) Notícia oferecida por qualquer do povo – art. 5°, §3°, CPP (delatio criminis simples) 5) Auto de prisão em flagrante delito Nos crimes de crimes de ação penal pública condicionada, pode se iniciar da seguinte forma: 1) Representação da vítima – art. 5°, §4°; art. 24, CPP (delatio criminis postulatória). 2) Requisição do Ministro da Justiça – art. 24, CPP. Nos crimes de crimes de ação penal privada, pode se iniciar da seguinte forma: 1) Requerimento da vítima ou de seu representante legal – art. 5°, §5°, CPP. INDICIAMENTO Indiciar é, num inquérito policial, apontar alguém como suposto autor ou partícipe de uma infração penal. Apenas o Delegado pode indiciar alguém. Promotor não indicia! Juiz não indicia! Nenhuma outra autoridade indicia ninguém. CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL Chegamos no fim do inquérito policial. A autoridade policial precisa encerrá-lo. Para isso, existe um prazo, que varia de acordo com a situação do investigado, isto é, se ele se encontra preso ou solto. Qual seria o prazo? O CPP, em seu art. 10, caput, traz a regra geral, porém, outras leis trazem outros prazos. Vejamos: Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. Ruan Silva Rabelo 11 Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. Para resumir os principais prazos, guarde esta tabela: Investigado preso Investigado solto Regra geral do art. 10, caput 10 + 15 * 30 + 30... Inquérito Policial Federal 15 + 15 30 Inquérito Policial Militar 20 40 + 20 Lei de Drogas 30 + 30 90 + 90 Crimes conta a economia popular 10 + Perceba que eu coloquei um (*) quando estamos lidando com um inquérito policial regulado pelo CPP e o investigado está preso. Aqui existe uma novidade trazida pelo chamado “pacote anticrime”. O Pacote Anticrime, em seu art. 3°-B, §2° trouxe a possibilidade de prorrogação de prazo quando o indivíduo tiver preso. Vejamos: §2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a §2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada. Ruan Silva Rabelo 12 investigação não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada. Todavia, essa previsão legal está suspensa, ou seja, sem validade. Portanto, hoje, para fins de prova, devemos levar a regra anterior à esta mudança. Pois bem, vimos o prazo para a conclusão do inquérito. E findado esse prazo, o que acontece? Vejamos o que dispõe o CPP: Art. 10 (...) §1° A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente. §2° No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas. Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito. Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. Assim, como podemos ver, quando o delegado terminar o inquérito, este fará um relatório com os eventuais elementos informativos que apontem indícios suficientes de autoria e materialidade do crime. Tudo isso formará a opinio delicti do dominus litis. E para onde vai o inquérito juntamente com esse relatório? Art. 10, §1° A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente. Em algum momento ele “cairá nas mãos” do Promotor de Justiça (que é seu destinatário final). E aí? O MP pode: Art. 10 (...) §1° A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente. §2° No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas. Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito. Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. Art. 10, §1° A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente. Ruan Silva Rabelo 13 1) Oferecer a denúncia, ou seja, propor o início de uma ação penal contra o(s) indiciado(s) ou seja, o promotor entende que há indícios suficientes de autoria e prova da materialidade 2) Requerer novas diligências que julgue imprescindíveis ao oferecimento da denúncia à Autoridade Policial – art. 13, II e art. 16 do CPP; CF/88, art. 129, VIII. Nesse caso, o Delegado, em regra, é obrigado a cumprir tal requerimento, salvo flagrantes ilegalidades. 3) Concluir pelo arquivamento do inquérito policial. ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO No que se referre ao arquivamento do inquérito, vejamos o CPP: Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. Da leitura do dispositivo, percebemos que são duas as possibilidades: 1) O MP pede arquivamento e o juiz concorda – o inquérito é arquivado. Simples assim. Trata-se de um ato complexo, segundo o direito administrativo. Em que um ato (o arquivamento) depende da manifestação de duas vontades independentes. 2) O MP pede arquivamento e o juiz discorda. Nesse caso, o inquérito é enviado ao Procurador-Geral de Justiça (PGJ – é o chefe do MP Estadual). Aqui surgem três possibilidades de ação: a. O PGJ concorda com o juiz e, ele mesmo, oferece a denúncia b. O PGJ concorda com o juiz e designa outro membro do MP para oferecer a denúncia c. O PGJ discorda do juiz, que deverá arquivar o inquérito Preciso alertá-lo que o Pacote Anticrime trouxe uma nova redação para o art. 28. Ocorre que esta parte também está com a validade suspensa por tempo indefinido. Logo, vamos explicar como era o “antes” do Pacote. Repito, o “antes” continua valendo! Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgãodo Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. Ruan Silva Rabelo 14 Uma vez arquivado o inquérito, é possível desarquivar? Depende. Vejamos o que diz o CPP: O art. 395, II e III, trata da rejeição da denúncia (ou queixa-crime) e o art. 397 trata das hipóteses de absolvição sumária. Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (...) II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. Art. 397. (...) o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou IV - extinta a punibilidade do agente. A depender da razão do arquivamento, há uma ou outra consequência. E a compreensão disso passa pela correta leitura do art. 18, CPP, combinado com a Súmula 524 do STF. Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia. Súmula 524 do STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas. Para resumir, vejamos o quadro abaixo: Motivo do Arquivamento Desarquiva? Faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal Sim Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (...) II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. Art. 397. (...) o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou IV - extinta a punibilidade do agente. Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia. Súmula 524 do STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas. Ruan Silva Rabelo 15 Falta de justa causa para o exercício da ação penal Sim Atipicidade Não Presença de excludente de ilicitude STF: Sim STJ: Não Presença de excludente de culpabilidade Não Presença de causa excludente de punibilidade Não, salvo certidão de óbito falsa Dou por encerrado o assunto inquérito policial. Agora é resolver inúmeras questões. Abraço e bons estudos. Força e Honra. Ruan Silva Rabelo 2022
Compartilhar