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AN02FREV001/ REV 3.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/ REV 3.0 2 CURSO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/ REV 3.0 3 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 2 EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA 2.1 ADAPTAÇÕES CURRICULARES NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA 2.2 EDUCAÇÃO INCLUSIVA DOS SURDOS 3 METODOLOGIA DE ENSINO BILÍNGUE 3.1 ORALISMO 3.2 COMUNICAÇÃO TOTAL 3.3 BILINGUISMO 3.4 A AQUISIÇÃO DE L1 E L2: O CONTEXTO DA PESSOA SURDA 4 LIBRAS 4.1 ALFABETO MANUAL BRASILEIRO 4.2 LIBRAS X LÍNGUA PORTUGUESA 5 O LÉXICO OU VOCABULÁRIO DA LIBRAS 5.1 ESTRUTURA SUBLEXICAL DOS SINAIS A PARTIR DE SUAS UNIDADES MÍNIMAS DISTINTIVAS 6 MORFEMAS LEXICAIS E MORFEMAS GRAMATICAIS 7 FORMAÇÃO DE PALAVRAS POR DERIVAÇÃO E POR COMPOSIÇÃO 8 ASPECTO VERBAL 9 ITENS LEXICAIS PARA TEMPO E MARCA DE TEMPO 10 QUANTIFICAÇÃO E INTENSIDADE 11 CLASSIFICADORES 12 INCORPORAÇÃO DE ARGUMENTO 13 INTÉRPRETE DE LIBRAS 13.1 ATRIBUIÇÕES DO INTÉRPRETE 13.2 HISTÓRIA DO PROFISSIONAL TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS 13.3 CÓDIGO DE ÉTICA 13.4 O INTÉRPRETE EDUCACIONAL 14 PROLIBRAS – EXAME NACIONAL DE CERTIFICAÇÃO DE INTÉRPRETES E AN02FREV001/ REV 3.0 4 PROFESSORES DE LIBRAS MÓDULO II 15 CORES 16 ANIMAIS/NATUREZA 17 ESCOLAR 18 SÉRIES 19 DISCIPLINAS 20 FACULDADE / CURSOS 21 CORPO HUMANO 22 HIGIENE 23 DOENÇAS 24 SEXUALIDADE 25 POLÍTICA 26 PAÍSES 27 ESTADOS E CIDADES DO BRASIL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/ REV 3.0 5 MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO A língua oral é o principal meio pelo qual os seres humanos se comunicam e é por meio da audição que nós, desde pequenos, adquirimos a capacidade de aprendizagem e conceitos necessários para convivermos em sociedade, como por exemplo, a leitura e a escrita, que são indispensáveis para as relações entre pessoas e também para o próprio desenvolvimento intelectual e cultural do indivíduo. Nosso objetivo é introduzir conhecimentos teóricos e práticos que possam orientar os aprendizes e/ou professores a rever suas práticas de atendimento educacional especializado à luz dos novos referenciais pedagógicos da inclusão, considerando os aspectos sociais e emocionais, que, de alguma forma, interferem na aprendizagem e que requerem de nós mudanças de paradigmas. Dessa forma, o curso de LIBRAS Intermediário, ainda que com conhecimentos básicos, vem auxiliar o cursista no sentido de facilitar a comunicação visual gestual, proporcionando discussões e esclarecimentos que nortearão sua práxis. Pois as pessoas com surdez possuem o potencial. Falta-lhes a base. E a Língua Brasileira de Sinais é o principal meio que se apresenta para “deslanchar” esse processo. AN02FREV001/ REV 3.0 6 2 EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA Educação Especial e Educação Inclusiva – características na área da surdez De acordo com a Declaração de Salamanca, necessidades especiais abrangem desde pessoas que apresentam dificuldades de escolarização decorrentes de condições econômicas e socioculturais até pessoas com todo tipo de deficiência. A Educação Inclusiva é um processo de transformação da escola que passa pela formação de professores, pelo envolvimento de toda a comunidade escolar (crianças, professores e funcionários, pela participação plena da família) que suaviza a angústia daqueles que vivenciam esse processo e auxilia no entendimento das diferenças entre integração e inclusão. Entende-se por inclusão uma escola que esteja ciente de sua função pedagógica, à disposição do aluno com procedimentos, recursos e pessoal disponível para desenvolver seu papel com competência e compromisso. Por meio da inclusão a criança deficiente teria possibilidades de presenciar e vivenciar modelos de interação que dificilmente teria em escolas especiais, com seus pares. Com a implementação da atual Lei de Diretrizes e Bases e a clara intenção do princípio inclusivo que a fundamenta, a adoção e a implementação de currículos abertos e flexíveis, que atendam à diversidade do alunado presente na escola, passou a ser objeto de discussão nas diretrizes curriculares e nos cursos de formação continuada dos sistemas de ensino. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB, nº 9394/1996) estabelece que os sistemas de ensino devam assegurar, principalmente, professores especializados ou devidamente capacitados, que possam atuar com qualquer pessoa especial na sala de aula. AN02FREV001/ REV 3.0 7 O conceito de Escola Inclusiva conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial (MEC/SEESP, 1998) (…) implica uma nova postura da escola comum, que propõe no projeto político pedagógico, no currículo, na metodologia de ensino, na avaliação e na atitude dos educandos, ações que favoreçam a integração social e sua opção por práticas heterogenias. A escola capacita seus professores prepara-se, organiza-se e adapta-se para oferecer educação de qualidade para todos, inclusive, para os educandos com necessidades especiais (...) Fonte: http://www.alb.com.br/anais15/Sem10/leniseortega.htm De acordo com Glat a educação de alunos com necessidades educativas especiais, que antes se realizava por modelo de atendimento clínico e segregado, hoje está para a chamada Educação Inclusiva. Esta preconiza que todos os alunos, mesmo os com necessidades educativas especiais devem ser inseridos no sistema regular de ensino, com o mínimo possível de distorção idade-série. Glat (2007) revela que a educação inclusiva só será efetivada se o sistema educacional for renovado, modernizado, abrangendo ações pedagógicas, porque a inclusão é desafiadora e os docentes devem fazer parte dessa mudança. As crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas regulares, que a elas devem se adequar, pois tais escolas “constituem os meios mais capazes para combater as atitudes discriminatórias, construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos... (Glat,2007, p. 8-9). Na Política Nacional de Educação Especial elaborada em 1994 (MEC/SEESP, 1994), o MEC estabelece como diretrizes da Educação Especial apoiar o sistema regular de ensino para a inserção dos portadores de deficiências, e dar prioridade ao financiamento de projetos institucionais que envolvam ações de integração. Esta mesma definição foi posteriormente reforçada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n°. 9.394/96) e, mais recentemente nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. De acordo com Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial (MEC/SEESP, 2001), a Escola deve propor no projeto político-pedagógico, no currículo, na metodologia, na avaliação e nas estratégias de ensino, ações que favoreçam a inclusão social e práticas educativas diferenciadas que atendam a todos os alunos. AN02FREV001/ REV 3.0 8 De acordo com GLAT (1999) a inclusão é fundamental para a construção de uma sociedade democrática. O respeito às diferenças e a igualdade de oportunidades requer o movimento de incluir, que faz uma ruptura com o movimento da exclusão. Este debate vemsendo promovido por diferentes instâncias e países, incluindo o Brasil, portanto a inclusão é a garantia a todos do acesso contínuo ao espaço comum na vida em sociedade, que deverá estar organizada e orientada, respeitando a diversidade humana, as diferenças individuais, promovendo igualdade de oportunidades de desenvolvimento para toda a vida. 2.1 ADAPTAÇÕES CURRICULARES NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA O conceito de adaptações curriculares, consideradas como: estratégias e critérios de atuação docente, admitindo decisões que oportunizam adequar a ação educativa escolar às maneiras peculiares de aprendizagem dos alunos, considerando que o processo de ensino-aprendizagem pressupõe atender à diversificação de necessidades dos alunos na escola (MEC/SEESP/SEB, 1998, p. 15). As adaptações curriculares constituem, pois, possibilidades educacionais de atuar frente às dificuldades de aprendizagem dos alunos. Pressupõe que se realize a adaptação do currículo regular, quando necessário, para torná-lo apropriado às peculiaridades dos alunos com necessidades especiais. Não um novo currículo, mas um currículo dinâmico, alterável, passível de ampliação, para que atenda realmente a todos os educandos. Nessas circunstâncias, as adaptações curriculares implicam a planificação pedagógica e as ações docentes fundamentadas em critérios que definem: o que o aluno deve aprender; como e quando aprender; que formas de organização de ensino são mais eficientes para o processo de aprendizagem; como e quando avaliar o aluno. As Adaptações Curriculares são os ajustes e modificações que devem ser promovidos nas diferentes instâncias curriculares, para responder às necessidades de cada aluno, e assim favorecer as condições que lhe são necessárias para que se efetive o máximo possível de aprendizagem. AN02FREV001/ REV 3.0 9 As Adaptações Curriculares são providências que devem ser implementadas para atender às necessidades educacionais de cada aluno, inclusive às necessidades educacionais especiais, de forma a favorecer-lhes o acesso ao conhecimento e seu uso funcional, na administração de sua própria vida, e no processo de transformação da sociedade. O currículo para uma escola inclusiva, entretanto, não se resume apenas a adaptações feitas para acomodar os alunos com deficiências ou demais necessidades especiais. A escola inclusiva demanda uma nova forma de concepção curricular, que tem que dar conta da diversidade do seu alunado. Ferreira (2003), utilizando-se da Declaração de Salamanca UNESCO (1994), considera escola inclusiva aquela que “reconhece e satisfaz as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos...”. De acordo com o INES as adaptações de currículo constituem criar condições físicas, ambientais e materiais para o aluno, na sua unidade escolar de atendimento; propiciar os melhores níveis de comunicação e interação com as pessoas com as quais convive na comunidade escolar, favorecer a participação nas atividades escolares; propiciar o mobiliário, equipamentos específicos necessários e salas adaptadas; fornecer ou atuar para a aquisição dos equipamentos e recursos materiais específicos necessários: próteses auditivas, treinadores da fala, software educativo, entre outros; adaptar materiais de uso comum em sala de aula: slides, cartazes, entre outros; adotar a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS (no processo ensino-aprendizagem e avaliativo), além de material escrito e computador. Adaptações curriculares de modo geral envolvem modificações organizativas, nos objetivos e conteúdos, nas metodologias e na organização didática, na organização do tempo e na filosofia e estratégias de avaliação, permitindo o atendimento às necessidades educativas de todos os alunos em relação à construção do conhecimento. (Oliveira & Machado apud, GLAT, 2007). Um currículo que leve em conta a diversidade deve ser, antes de tudo, flexível, e passível de adaptações, sem perda de conteúdo. Deve ser desenhado tendo como objetivo geral a “redução de barreiras atitudinais e conceituais”, e se pautar em uma “resignificação do processo de aprendizagem na sua relação com o desenvolvimento humano”. (Oliveira & Machado apud, GLAT, 2007). AN02FREV001/ REV 3.0 10 A inclusão de alunos com necessidades especiais na classe regular implica o desenvolvimento de ações adaptativas, visando à flexibilização do currículo, para que ele possa ser desenvolvido de maneira efetiva em sala de aula, e atender as necessidades individuais de todos os alunos. A Educação Inclusiva, entendida sob a dimensão curricular, significa que o aluno com necessidades especiais deve fazer parte da classe regular, aprendendo as mesmas coisas que os outros – mesmo que de modos diferentes – cabendo ao professor fazer as necessárias adaptações (UNESCO, s/d). Segundo Mendes (2002), para atender os alunos com necessidades educacionais com qualidade, a escola deve modificar-se no aspecto político (construção de uma rede de suportes capaz de formar pessoal e promover serviços na escola, na comunidade, na região); no aspecto educacional (capacidade de planejar, programar e avaliar programas para diferentes alunos em ambientes da escola regular) e no aspecto pedagógico (o uso de estratégias de ensino que favoreçam a inclusão e descentralize a figura do professor, o incentivo às tutorias por colegas, a prática flexível, a efetivação de currículos adaptados). 2.2 EDUCAÇÃO INCLUSIVA DOS SURDOS No caso do surdo, para que seja realizada uma verdadeira integração, é importante oferecer os conteúdos por meio de recursos visuais, tais como figuras, material concreto,quando possível, marcações nos quadros negros durante as aulas com cores diferentes, utilizando ao máximo a memória visual. O surdo tem o direito de se organizar em grupos, mantendo sua identidade linguística e cultural, como qualquer minoritário, da mesma forma como frequentar escola especial onde se faz uso de sua língua materna – LIBRAS. Apesar de a proposta Inclusiva ser obra maravilhosa, “no papel”, está ainda aquém do idealizado. Caso seja focalizada a leitura labial, oralização, leitura e escrita reflete uma educação voltada para as habilidades do professor ouvinte não para a criança surda, deixando de considerar que a principal língua do surdo é a LIBRAS. É importante proporcionar intérpretes de língua de sinais para melhor acompanhamento das aulas AN02FREV001/ REV 3.0 11 Entretanto, com a inclusão dos surdos no processo educacional, vimos que esses sujeitos não alcançam desenvolvimento pleno em virtude do seu historicismo, ou seja, o poder dos ouvintes que queriam que os sujeitos surdos se adaptassem ao modelo ouvinte, impondo o oralismo e o treino auditivo, não respeitando a identidade surda. Porém, agora, a difusão da língua de sinais e de sua identidade cultural permitiu aos sujeitos surdos os meios de desenvolvimento de seu potencial. Para que haja a inclusão social das pessoas surdas, com o objetivo de participação social efetiva, sem a inevitável submissão, as quais as minorias são expostas, as escolas precisam organizar-se, considerando três critérios: a interação por intermédio da língua de sinais, a valorização de conteúdos escolares e a relação conteúdo-cultura surda. A linguagem dos surdos - LIBRAS – é o ponto de partida que dá sustentação a todas as reflexões que tratarem sobre a temática. Quando se trata de inclusão, a valorização da língua de sinais para os surdos é uma das questões essenciais, como possibilidade de igualdade de condições de desenvolvimento entre as pessoas. 3 METODOLOGIA DE ENSINO BILÍNGUE 3.1 ORALISMO Tem como objetivo integrar os surdos nas comunidades ouvintes por meio da fala, condicionando-os e desenvolvendo-osna linguagem oral. Para se ter uma boa comunicação é importante que o Surdo oralize bem. O oralismo tem como principal objetivo habilitar o surdo a falar fazendo que ele se integre nas comunidades ouvintes. AN02FREV001/ REV 3.0 12 3.2 COMUNICAÇÃO TOTAL • Tem como objetivo a comunicação, usando ao mesmo tempo duas línguas, oral e visual, por exemplo, no nosso caso: Português e LIBRAS, os sinais são usados na ordem da Língua Oral (S.V. O/ S.O.V), não respeitando a própria Língua de Sinais, uma comunicação BIMODAL. Passou-se a trabalhar com um português sinalizado; ou seja, fazia-se uma tentativa de usar a estrutura gramatical da língua portuguesa representada. 3.3 BILINGUISMO • É uma proposta de ensino usada por escolas, igrejas, empresas que se propõe a deixar acessível aos Surdos às duas Línguas. • Priorizando as seguintes ordens: – Sinais; – Leitura; – Escrita; – Fala (opcional). 3.4 A AQUISIÇÃO DE L1 E L2: O CONTEXTO DA PESSOA SURDA Ao longo da história da educação de surdos no Brasil sempre houve uma preocupação exacerbada com o desenvolvimento da linguagem, e as propostas pedagógicas sempre foram alcançadas quando se diz respeito à linguagem. Mas perde-se de vista o processo educacional integral da criança surda. AN02FREV001/ REV 3.0 13 Por isso há pesquisas que procuram um meio de garantir o desenvolvimento da criança surda por meio de métodos de oralização como formas de aprendizagem próximas às dos ouvintes; “fazer o surdo falar e ler os lábios permitirá o acesso à linguagem”, embora a maior parte dos adultos surdos não tenha se adaptado com estes métodos. Alguns profissionais da educação de surdos reconhecem o fracasso para alguns surdos que participaram neste processo de aprendizagem A partir dos anos 60, crianças que eram surdas e com pais surdos, que tiveram contato com as línguas de sinais, tiveram condições iguais às de crianças ouvintes, pois lhes foi dado o direito de usar uma língua visual espacial, que garantiu uma compreensão melhor de mundo (MEIR, 1980; LOUEW,1984, LILLO- MARTIN,1986; PETITTO, 1987). Os articuladores primários das línguas de sinais são as mãos que movimentam no espaço em frente ao corpo e articulam sinais em determinadas locações nesse espaço. Um sinal pode ser articulado com uma ou duas mãos, um mesmo sinal pode ser articulado com a mão direita (tipicamente) para os destros ou com a esquerda (para os canhotos), sem alterar o seu significado, sendo que sinais articulados com as duas mãos também ocorrem e apresentam restrições em relações ao tipo de interação entre as mãos. LIBRAS, assim como as outras línguas de sinais, é basicamente produzida pelas mãos, embora movimentos do corpo e da face também desempenham funções fundamentais. Fonologia e morfologia: o objeto de estudo é o mesmo, mas com enfoques diferentes; são áreas correlacionadas Morfologia deriva do grego morphé significa forma unidades mínimas. A fonética e a fonologia das línguas de sinais são áreas da Linguística que estudam as unidades mínimas dos sinais que não apresentam isoladamente o significado. São investigações dos dedos; mãos abertas/fechadas; dedos flexionados/estendidos; abertura dos dedos; alguns morfemas livres constituem palavras, outros parte das palavras. A estrutura dos sinais brasileiros é complexa e apresenta uma série de propriedades que não são encontradas nas línguas orais. AN02FREV001/ REV 3.0 14 4 LIBRAS Língua Brasileira de Sinais – particularidades de uma língua visual-gestual A LIBRAS, Língua Brasileira de Sinais, é uma língua da modalidade visual- gestual (ou espaço-visual), pois a informação linguística é recebida pelos olhos e reproduzido pelas mãos. É uma língua de modalidade espaço-visual, com uma estrutura linguística distinta da língua portuguesa, sendo completa como qualquer língua oral. A língua de sinais é a língua natural das pessoas surdas. É adquirida naturalmente a partir do contato com falantes dessa língua. A LIBRAS é a língua visual/gestual utilizada pela comunidade surda do Brasil. O surdo não aprende sozinho a LIBRAS. Ele precisa conviver com um surdo adulto que use esta língua para que possa adquirir língua e linguagem. Existem sinais diferentes em outras regiões do país, como também acontece com algumas palavras da Língua Portuguesa. A LIBRAS tem uma gramática própria que é diferente do português. Devemos aprender a LIBRAS com um surdo que seja envolvido com a comunidade surda. Não é uma língua difícil de aprender, mas precisa de empenho e uso frequente. É a língua materna dos surdos brasileiros e, como tal, pode ser aprendida por qualquer pessoa interessada pela comunicação com a comunidade surda. Como língua, esta é composta de todos os componentes pertinentes às línguas orais, como gramática, semântica, pragmática, sintaxe e outros elementos, preenchendo, assim, os requisitos científicos para ser considerada instrumental linguístico de poder e força. Possui todos os elementos classificatórios identificáveis de uma língua e demanda de prática para seu aprendizado, como qualquer outra língua. Foi a partir da década de 60 que as línguas de sinais foram estudadas e analisadas, passando então a ocupar um status de língua. É uma língua viva e autônoma, reconhecida pela linguística. Pesquisas com filhos surdos de pais surdos estabelecem que a aquisição precoce da Língua de Sinais dentro do lar é um AN02FREV001/ REV 3.0 15 benefício e que esta aquisição contribui para o aprendizado da língua oral como segunda língua para os surdos. Os estudos em indivíduos surdos demonstram que a Língua de Sinais apresenta uma organização neural semelhante à língua oral, ou seja, que essa se organiza no cérebro da mesma maneira que as línguas faladas. A língua de sinais apresentada, por uma língua, um período crítico precoce para sua aquisição, considerando-se que a forma de comunicação natural é aquela para a qual o sujeito está mais bem preparado, levando-se em conta a noção de conforto estabelecido diante de qualquer de aquisição na tenra idade. A utilização da língua de sinais vem sendo reconhecida como um caminho necessário para a efetiva mudança nas condições oferecidas pela escola no atendimento educacional de alunos surdos. Apesar de haver várias questões controvertidas perpassando a discussão nessa área, além de ambiguidades e indefinições nas propostas, quanto à necessidade desse caminho para a escolarização do surdo. Concretizá-lo envolve desafios, como o modo pelo qual se pode lidar com a participação de duas línguas nas experiências escolares. Alguns mitos são comuns em relação às línguas de sinais em geral, e com LIBRAS não é diferente. Eis os principais: Mito 1: A língua de sinais seria uma mistura de pantomima (mímica) e gesticulação concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos. Mito 2: Haveria uma única e universal língua de sinal usada por todas as pessoas surdas. Porém essa concepção ainda faz parte do senso comum. Mito 3: Haveria uma falha na organização gramatical da língua de sinais que seria derivada das línguas de sinais, sendo um pidgin sem estrutura própria subordinado e inferior a língua orais. Mito 4: A língua de sinais seria um sistema conteúdo restrito, sendo expressiva e linguisticamente inferior ao sistema de comunicação oral. Mito 5: As línguas de sinais derivam da comunicação espontânea dos ouvintes. Mito 6: As línguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfério direito do cérebro, uma vez que esse hemisfério é responsável pelo processo de informação espacial enquanto o esquerdo, pela linguagem. AN02FREV001/ REV 3.0 16 Língua de Sinais: Língua de modalidade gestual-visual. Tem como canal ou meio de comunicação movimentos gestuais e expressõesfaciais. A LIBRAS é considerada a língua natural dos surdos. As línguas de sinais são diferentes nos diferentes países. Língua de Sinais pode ser definida como uma língua natural e utilizada pela maioria dos Surdos do mundo. A Língua de Sinais tem como estrutura fundamental o visual-gestual, sendo pronunciada pelo corpo e percebida pela visão, sua aprendizagem requer atenção visual, memória visual, expressão corporal e facial e agilidade manual. Língua Brasileira de Sinais é utilizada pela maioria dos Surdos no Brasil, como qualquer outra língua, possui expressões que diferem de região para região (regionalismo), que traz mais legitimidade como língua, ao contrário do que muitos pensam, a Língua de Sinais não são simplesmente mímicas ou gestos soltos, utilizados para facilitar a comunicação, possui estrutura gramatical própria, iniciada por Eduard Huest, educador trazido da França pelo imperador Dom Pedro II, para o ensino dos Surdos. 4.1 ALFABETO MANUAL BRASILEIRO O alfabeto manual de Língua Brasileira de Sinais é composto por configurações de mãos que representam as letras do alfabeto ocidental, possibilita a formação de qualquer palavra da Língua Portuguesa. A datilologia (alfabeto manual): usada para expressar nomes de pessoas, lugares e outras palavras que não possuem sinal, estará representada pelas palavras separadas por hífen. Ex.: V-A-L-D-I-R AN02FREV001/ REV 3.0 17 ALFABETO MANUAL 4.2 LIBRAS X LÍNGUA PORTUGUESA Como as demais línguas de sinais, devido à modalidade sinalizada, as pessoas geralmente acreditam que a LIBRAS é simplesmente uma representação gestual da língua portuguesa. A LIBRAS é uma língua natural completamente desenvolvida. Ela não é derivada do português e contém estruturas e processos que não encontramos no português. Tampouco é uma língua simplificada. É uma língua completa, com uma gramática própria e única. O primeiro passo para a compreensão da LIBRAS e de como ela contrasta com outras línguas é entender a distinção entre línguas e modalidades, ou seja, os canais pelos quais as línguas são produzidas. AN02FREV001/ REV 3.0 18 De acordo com Baron (1981), há três principais canais: o falado, o escrito e o sinalizado. O canal falado é o canal primário, o mais familiar, para ouvintes, ou seja, oral-auditivo. Os demais são dependentes, no sentido de que elas representam conceitos indiretamente. A modalidade escrita pode ser primária ou secundária, mas geralmente essa modalidade é secundária, pois a escrita é a representação da fala. Ela não ocorre naturalmente da forma como a fala faz. Para os surdos, a modalidade sinalizada é primária, ao passo que a escrita é secundária. As línguas humanas possuem características, uma das mais importantes é a produtividade. São compostas de um conjunto limitado de partes que podem ser combinadas para formar um conjunto potencialmente ilimitado de estruturas. Por exemplo, sons podem ser combinados para formar diferentes palavras e palavras podem ser combinadas para formar um número infinito de sentenças. Este aspecto da produtividade manifesta-se de duas formas: na produção e na compreensão. A limitação sensorial do alunado surdo impede que adquira naturalmente a Língua Portuguesa, o que reflete negativamente no seu desempenho escolar. Assim, faz-se necessária a busca de uma metodologia de ensino de Língua Portuguesa, como segunda língua, para os surdos. A leitura e a escrita da Língua Portuguesa apresentam-se como um dos maiores problemas na educação dos surdos, uma vez que o não domínio ou domínio precário dessa língua reflete significativamente na sua vida acadêmica e na sua participação social, cultural e profissional efetiva. A tabela abaixo ilustra algumas das principais diferenças entre LIBRAS e Língua Portuguesa. Tabela 1. Diferenças entre LIBRAS e Língua Portuguesa LIBRAS Língua Portuguesa Visual-espacial Oral-auditiva Baseada nas experiências visuais das comunidades surdas, mediante as interações culturais surdas Baseada nos sons AN02FREV001/ REV 3.0 19 Apresenta uma sintaxe espacial incluindo os chamados classificadores Usa uma sintaxe linear, utilizando a descrição para captar o uso de classificadores Utiliza a estrutura de foco por meio de repetições sistemáticas Este processo não é comum na Língua Portuguesa Utiliza as referências anafóricas por intermédio de pontos estabelecidos no espaço que exclui ambiguidades Utiliza referências anafóricas, mas algumas frases apresentam ambiguidade Não tem marcação de gênero O gênero é marcado a ponto de ser redundante Atribui um valor gramatical às expressões faciais Esse fator não é considerado como relevante, apesar de poder ser substituído pela prosódia Coisas que são ditas nas línguas de sinais não são ditas usando o mesmo tipo de construção gramatical da língua portuguesa. Assim, há vezes que uma grande frase é necessária para dizer poucas palavras em uma ou outra língua A escrita não é alfabética A escrita é alfabética No ensino comum, a Língua Portuguesa para surdos vem sendo ministrada inadequadamente, num contexto de metodologias que consideram o Português como língua materna, não considerando as especificidades do processo de ensino de uma língua oral-auditiva a um usuário de uma língua visual-espacial. Isso leva a um alto índice de fracasso. Isso se deve, em parte, a uma formação deficiente dos professores, em que faltam: Conteúdos curriculares de Língua Portuguesa nos cursos de Pedagogia; Conhecimentos relativos à diferença entre metodologias de ensino de Língua Portuguesa como primeira e como segunda língua; Conhecimentos das metodologias de ensino de línguas. AN02FREV001/ REV 3.0 20 O aprendizado da Língua Portuguesa se constitui em realidades diferentes para alunos surdos e ouvintes. Apesar de decodificarem a Língua Portuguesa, os surdos têm dificuldades de compreensão de textos lidos. As práticas de letramento a que os surdos foram submetidos não privilegiam a leitura, mas o oralismo. Este tinha como objetivo integrar os surdos à comunidade ouvinte por meio do desenvolvimento da expressão oral. Os resultados negativos da filosofia oralista, aliado à divulgação de estudos sobre a Língua de Sinais, levam à mudança no enfoque educacional: a introdução dos sinais no ensino de surdos, sob a perspectiva da Comunicação Total. A surdez não é mais vista como patologia, nem o surdo como um doente. A Comunicação Total faz uso de vários recursos comunicativos buscando melhoria das habilidades de fala ou de leitura orofacial. Nesse contexto, a língua de sinais é usada apenas como um dos recursos para o ensino da língua oral. Considerando o ensino da língua portuguesa escrita para crianças surdas, há dois recursos muito importantes a serem usados em sala de aula: o relato de estórias e a produção de literatura infantil em sinais. O relato de estórias inclui a produção espontânea das crianças e a do professor, bem como a produção de estórias existentes; portanto, de literatura infantil. A comunidade surda tem como característica a produção de estórias espontâneas, bem como de contos e piadas que passam de geração a geração relatadas por contadores de estórias em encontros informais, normalmente, em associações de surdos. Infelizmente, nunca houve preocupação de registrar tais contos. Pensando em alfabetização, tal material é fundamental para esse processo se estabelecer, pois aprende a ler os sinais, dará subsídios às crianças para aprender a ler as palavras escritas na língua portuguesa. O povo surdo é o conjunto de sujeitos surdos que não habitam o mesmo local, mas que estão ligados por uma origem, tais como a cultura surda, usa a LIBRAS, têm costumes e interesses semelhantes, histórias e tradições comunse qualquer outro laço compartilhado (STROBEL, 2006). O surdo tem o direito de se organizar em grupo, mantendo sua identidade linguística e cultural, como qualquer grupo minoritário. AN02FREV001/ REV 3.0 21 Da mesma forma, tem o direito de frequentar escola onde à língua natural, a língua de sinais se faz presente para que tenha acesso a todos os conteúdos escolares e desenvolvimento pleno em todas as áreas (VALENTIM, 1995). Quanto ao termo “surdo”, podemos dizer que é o termo com o qual as pessoas que não ouvem referem-se a si mesmas e a seus pares. Podemos definir uma pessoa surda como aquela que vivencia um deficit de audição que a impede de adquirir, de maneira natural, a língua oral-auditiva usada pela auditiva usada pela comunidade majoritária e que constrói sua identidade calcada principalmente nesta diferença, utilizando-se de estratégias cognitivas e de manifestações comportamentais e culturais diferentes das pessoas que ouvem. (...) Não se usa a expressão “deficiente auditivo” numa tentativa de ressituar o conceito de surdez, visto que esta expressão é a utilizada, preferencialmente, no contexto médico-clínico, enquanto o termo “surdo” está mais afeito ao marco sociocultural da surdez. A distinção entre surdos e ouvintes é mais que uma questão de audiologia, é uma questão de significado: os conflitos e diferenças que surgem referem-se a formas de ser. (SÁ, 2006). A discussão anterior deve deixar claro que, na comunidade surda, atitudes específicas bastante intensas estão associadas à língua. É importante que o aprendiz da 2ª língua seja exposto a essas atitudes por duas razões: em primeiro lugar, porque isso ajudará a compreender as pessoas surdas e o contexto cultural; em segundo lugar, terá contato com a cultura surda, onde desenvolverá processos de aquisição de linguagens nos diferentes níveis, adquirindo identidade e fluência na comunidade. Questionamento: Quais as principais diferenças encontradas entre LIBRAS e Língua Portuguesa? 5 O LÉXICO OU VOCABULÁRIO DA LIBRAS AN02FREV001/ REV 3.0 22 O léxico pode ser definido ‘grosso modo’ como o conjunto de palavras de uma língua. No caso da LIBRAS, as palavras ou itens lexicais são os sinais. Pensa- se frequentemente que as palavras ou sinais de uma língua de sinais são constituídos a partir do alfabeto manual como, por exemplo: (1) a) C-E-R-T-O b) M-Y-R-N-A c) C-H-O-P-P Entretanto, não é este o caso. A soletração manual das letras de uma palavra em português, como no exemplo (1), é a mera transposição para o espaço, por meio das mãos, dos grafemas da palavra da língua oral. Isto é, um meio de se fazerem empréstimos em LIBRAS. Assim, como temos a palavra “xerox” em português que é um empréstimo do inglês, os exemplos em (1) ilustram os inúmeros empréstimos da LIBRAS. (1) a) é a soletração do nome de uma pessoa, isto é, de um nome próprio em português porque os nomes próprios, em LIBRAS, são diferentes. Assim, quando uma pessoa quer apresentar alguém a alguém, primeiro soletrará seu nome em português (M-Y-R-N-A) e, se ele tiver um nome em LIBRAS, este será articulado em seguida. O exemplo (2) ilustra um usuário da LIBRAS apresentando uma pessoa chamada Myrna a seu interlocutor. Exemplo (2): A: 3 APRESENTAR 2. NOME M-Y-R-N-A. SINAL MYRNA. (= Vou apresentá-la a você, o nome dela é M-Y-R-N-A. Seu sinal (nome próprio em LIBRAS) é Myrna). (1-b) é a soletração de uma palavra em português “chopp” palavra para cujo conceito não há sinal ou palavra em LIBRAS. Nesse caso, é a palavra escrita do português que será transposta para o espaço por meio da soletração manual. (1-a) é a soletração de uma palavra em português para cujo conceito há um sinal em LIBRAS o qual não é conhecido por um dos usuários, em geral um ouvinte. Exemplo (3): A: RESPOSTA CERTA (= A resposta está certa) B: O-QUE ISTO, CERTO (= O que quer dizer este sinal?) A: C-E-R-T-O (= certo) B: O-K ( Ah! Ok) AN02FREV001/ REV 3.0 23 Ou então, uma pessoa pode soletrar C-E-R-T-O para mostrar a outra como se escreve esta palavra em português. Nesse caso, a soletração manual é um meio de verificação, questionamento ou veiculação da ortografia de uma palavra em português. Entretanto, o sinal mesmo para o conceito “certo” em LIBRAS é o que se segue ao lado da ilustração da soletração manual da palavra certo: C-E-R-TO CERTO Agora sim temos uma palavra de LIBRAS. Podemos perceber que ela não é articulada de forma linear como são as soletrações em (1). Esta palavra ou sinal tem uma estrutura distinta daquela das soletrações ou das palavras em português. As palavras, em português, são formadas pela justaposição linear de seus componentes ou unidades mínimas distintas. 5.1 ESTRUTURA SUBLEXICAL DOS SINAIS A PARTIR DE SUAS UNIDADES MÍNIMAS DISTINTIVAS A palavra ou item lexical certo, em português, é formada dos seguintes componentes ou unidades: em português falado /sertu/. Temos aqui cinco sons ou fonemas, isto é, cinco componentes ou unidades mínimas da palavra falada certo. em português escrito certo AN02FREV001/ REV 3.0 24 Temos aqui cinco letras ou grafemas componentes da palavra escrita. Não consideramos a letra uma unidade mínima como o fonema porque o fonema, às vezes, é representado, na escrita, por mais de uma letra, como é o caso de: /xatu/ - chato /x/ - ch ou, às vezes uma só letra pode representar mais de um fonema, como em: /leksiku/ - léxico /ks/ - x Assim, são cinco os componentes ou as unidades mínimas constitutivas das palavras em português. Essas unidades mínimas são chamadas fonemas que sabemos ser sequencialmente combinadas para formar as palavras. Pode-se observar pela descrição das unidades mínimas de CERTO, em LIBRAS, e de certo, em português, que as características das unidades dos sinais são espaciais (forma da mão ou do sólido, movimento linear e com retenção, vetores orientacionais da mão, etc.) e que as características das unidades das palavras faladas são de natureza acústico-sonoras (passagem livre ou obstruída dos sons, sonoridade, posição da articulação posterior, frontal, média na boca, etc.). Como vimos, as palavras da LIBRAS e do português se estruturam a partir de unidades mínimas sonoras e espaciais, respectivamente. Essas unidades ou fonemas, como já dissemos, são distintivas, porque, quando substituídas uma por outra, geram uma nova forma linguística com um significado distinto. Por exemplo, em LIBRAS, temos: São duas palavras ou sinais distintos com significados também distintos somente pelo fato de o primeiro sinal - APRENDER - ser articulado na testa e de o segundo - SÁBADO - ser articulado na boca do usuário. Isto é, há uma característica espacial distinta nos sinais, o ponto de articulação, que os distingue. Essas características, /na testa/ e /na boca/, são unidades mínimas distintivas equivalentes AN02FREV001/ REV 3.0 25 aos fonemas das palavras pata e bata do português, /p/ e /b/, que também distinguem as formas linguísticas e seus significados. APRENDER e SÁBADO, em LIBRAS, e pata e bata, em português, são pares mínimos porque suas formas fonológicas são idênticas em tudo, exceto em uma característica espacial (ponto de articulação) para os primeiros e fonética (sonoridade) para os últimos. Vejamos outros pares mínimos em LIBRAS: Pares Mínimos em LIBRAS EDUCAR/EDUCAÇÃO ACOSTUMAR/COSTUME Par mínimo distinto pela Configuração de Mão VERDE (SP) GELADO (SP) Par mínimo distinto pelo Movimento Por meio dos exemplos acima em LIBRAS e em português, mostramos que as palavras da LIBRAS também são constituídas a partir de unidades mínimas distintivas chamadas, em línguas orais, de fonemas. O número dessas unidades é AN02FREV001/ REV 3.0 26 finito e pequeno porque, seguindoo princípio de economia, eles se combinam para gerar um número infinito de formas ou palavras. Então, o léxico da LIBRAS, assim como o léxico de qualquer língua, é infinito no sentido de que sempre comporta a geração de novas palavras. Antigamente, pensava-se que a LIBRAS era pobre porque apresentava um número pequeno de sinais ou palavras. Pode acontecer o fato de que uma língua que não é usada em todos os setores da sociedade ou que é usada em uma cultura bem distinta da que conhecemos não apresente vocábulos ou palavras para um determinado campo semântico, entretanto, isso não significa que esta língua seja pobre porque potencialmente ela tem todos os mecanismos para criar ou gerar palavras para qualquer conceito que vier a ser utilizado pela comunidade que a usa. Por exemplo, a LIBRAS não tinha um sinal para o conceito “linguística” até poucos anos. À medida que os surdos foram se inteirando do que se faz em linguística, do que significa linguística, houve a necessidade de gerar um sinal para esse conceito. O sinal LINGUÍSTICA não é soletração da palavra em português, porém, tem um vestígio de empréstimo porque a configuração de mão escolhida é L (apenas os dedos polegar e indicador estendidos), uma configuração própria da LIBRAS, porém, que costuma representar a letra “L”no alfabeto manual. Este sinal é realizado com as duas mãos, palmas para baixo com o polegar de uma mão quase tocando o da outra, na frente do busto, fazendo movimentos de rotação positiva e de translação retilínea para os lados. Entretanto, não é qualquer combinação de unidades mínimas distintivas que será permitida pela língua. Há restrições e devido a elas é que vamos dizer que certas formas não são aceitas naquele sistema linguístico enquanto outras o são. Uma forma como lbresk não será identificado pelos falantes do português como uma forma bem formada ou como uma palavra dessa língua. Isto porque o padrão fonológico do português é CV (consoante + vogal) e devido a outros tipos de restrições. Na forma lbresk o uso de várias consoantes e a sequência de certos tipos de consoantes faz com que esta forma fuja aos padrões aceitos pela Língua Portuguesa. Desse modo, uma forma constituída a partir das unidades mínimas da LIBRAS não será aceita enquanto palavra dessa língua se fugir aos padrões que regem a formação de suas palavras. Por exemplo, um sinal em que o articulador AN02FREV001/ REV 3.0 27 principal é a mão esquerda ou em que a mão direita é a mão de apoio não será considerado uma palavra bem formada da LIBRAS. As unidades descritas acima são chamadas unidades mínimas distintivas porque distinguem palavras, como nos exemplos citados para a LIBRAS, APRENDER e SÁBADO, que se distinguem pelo ponto de articulação: testa e boca, respectivamente. Da mesma forma, as palavras pata e bata, em português, se distinguem pela característica fonética sonoridade, ou seja, a primeira é surda e a segunda é sonora. Assim, /p/ e /b/ são duas unidades mínimas distintivas ou fonemas e os pontos de articulação /na testa/ e /na boca/ também são unidades mínimas, desta vez da LIBRAS, ou “fonemas”. Daqui para frente, quando falarmos de “fonemas” da LIBRAS estamos nos referindo às suas unidades espaciais que não têm nada a ver com som ou fone, porém, que funcionam igualmente aos fonemas das línguas orais. Como podemos observar os princípios e mecanismos que são utilizados na estruturação de palavras a partir de unidades mínimas são os mesmos em português e em LIBRAS. O que difere é a natureza das características das unidades que são restritas pela modalidade oral-auditiva, em português, e pela modalidade visual/espacial, em LIBRAS. É devido às mesmas restrições que as unidades ou fonemas do português se organizam ou estruturam sequencialmente ou linearmente no tempo enquanto que as unidades ou “fonemas” da LIBRAS se estruturam simultaneamente ou ao mesmo tempo no espaço. As unidades mínimas distintivas em LIBRAS são as seguintes de acordo com os parâmetros Configuração de Mãos, Ponto de Articulação, Movimento- Orientação e Expressão Facial. Vejamos esses parâmetros no sinal CERTO/CERTEZA, ilustrado a seguir: FIGURA DO SINAL CERTO COM SEUS PARÂMETROS AN02FREV001/ REV 3.0 28 Configurações de Mão da LIBRAS São os formatos que as mãos reproduzem para realização dos sinais. Expressão não manuais da LIBRAS Rosto Parte Superior Sobrancelhas franzidas Olhos arregalados Lance de olhos Sobrancelhas levantadas Rosto Parte Inferior Bochechas infladas Bochechas contraídas Lábios contraídos e projetados e sobrancelhas franzidas Correr da língua contra a parte inferior interna da bochecha Apenas a bochecha direita inflada Contração do lábio superior Franzir do nariz Cabeça Balanceamento para frente e para trás (sim) Balanceamento para os lados (não) Inclinação para frente Inclinação para o lado Inclinação para trás AN02FREV001/ REV 3.0 29 wh Rosto e Cabeça Cabeça projetada a frente, olhos levemente cerrados, sobrancelhas franzidas (ex.: o que?, quando?, como?, quando, por que?) wo Cabeça projetada para trás, e olhos arregalados (ex.: quem?) Tronco 6 MORFEMAS LEXICAIS E MORFEMAS GRAMATICAIS Os morfemas são unidades que podem ter funções lexicais ou gramaticais. Por exemplo, as palavras casas, construção e impossível do português são constituídas dos seguintes morfemas: casa - s (plural) constru- ção (nome) possível- im (negação) morfema lexical morfema gramatical Em LIBRAS, nem sempre os morfemas que formam as palavras são equivalentes aos do português. Podemos, porém, ilustrar os morfemas da LIBRAS como se segue: SENTAR - movimento repetido (marca de nome) BONITO - expressão facial ~~ (marca de grau aumentativo) BONITO - expressão facial Ô (marca de grau diminutivo) FALAR - 2 mãos e movimentos longos (aspecto continuativo) PEGAR - Cl:5 Classificador para objetos redondos grandes PEGAR - Cl:F Classificador para objetos pequenos e pequenos PODER - movimentos da cabeça (negação): NÃO PODER POSSÍVEL - movimento inverso das mãos (negação): IMPOSSÍVEL SABER - movimento da mão para fora (negação): NÃO SABER morfema lexical morfema gramatical Vejamos algumas ilustrações dos sinais acima: AN02FREV001/ REV 3.0 30 FALAR OSB: Este exemplo também utilizado na pg. 37 FALAR SEM-PARAR FALAR PELOS COTOVELOS FALAR + aspecto continuativo OSB: Este exemplo também utilizado na pg. 37 PEGAR + Cl: 5 PODER/POSSÍVEL NÃO-PODER IMPOSSÍVEL SABER NÃO SABER 7 FORMAÇÃO DE PALAVRAS POR DERIVAÇÃO E POR COMPOSIÇÃO AN02FREV001/ REV 3.0 31 As ilustrações acima são exemplos de formação de palavras por derivação. CADEIRA é derivado de SENTAR por meio do movimento repetido do primeiro; BONITINHO é derivado de BONITO por intermédio da adjunção da expressão facial ~~ , marca de grau aumentativo; BONITÃO é derivado de BONITO por meio da adjunção do afixo expressão facial Ô, marca de grau diminutivo; FALAR-SEM- PARAR é derivado de FALAR por meio da adjunção da mão esquerda e do alongamento dos movimentos, marca de aspecto continuativo; PEGAR-BOLA é derivado de PEGAR por meio da adjunção do afixo Cl:5, classificador para objetos redondos grandes; PEGAR-AGULHA é derivado de PEGAR por meio da afixação do morfema gramatical Cl:F, classificador para objetos pequenos e pequenos; NÃO PODER é derivado de PODER por meio do afixo negativo, movimentos da cabeça para os lados; IMPOSSÍVEL é derivado de POSSÍVEL por meio da inversão do movimentode para baixo para os lados, afixo também negativo; NÃO SABER e derivado de SABER por meio da afixação de um movimento da mão para fora, morfema negativo também. Por meio desses exemplos, observa-se que as primeiras palavras são formadas a partir de seus radicais aos quais se juntam afixos ou morfemas gramaticais, pelo processo de derivação. As palavras ou sinais em LIBRAS também podem ser formados pelo processo de composição, isto é, pela adjunção de dois sinais simples em formas compostas. Por exemplo: CASA + CRUZ = IGREJA MULHER + PEQUENO = MENINA HOMEM + PEQUENO = MENINO Alguns sinais como SENTAR e CADEIRA são distintos quanto à forma para as categorias verbo e nome, porém, a maioria deles não se distingue quanto às categorias verbo, nome, adjetivo e advérbio. O que vai defini-las como tal é sua função na sentença. Podemos, entretanto, ilustrar alguns casos de palavras que poderiam ser derivadas de outras como é o caso de construir e construção, em português. Por exemplo, nas sentenças abaixo, identificamos um mesmo item lexical como nome ou verbo, dependendo da sentença em que aparecem: ELE NÃO LIMPAR-CHÃO-Cl:Y (com escova) AN02FREV001/ REV 3.0 32 (=Ele não limpou com escova o chão) ELE LIMPAR-CHÃO-Cl:Y (com escova) NÃO-Y (=Ele não fez a limpeza do chão com a escova) No primeiro exemplo, o item lexical LIMPAR-CHÃO-Cl:Y tem uma função verbal. Entretanto, na segunda sentença, LIMPAR-CHÃO-Cl:Y tem uma função nominal, ou seja, é um substantivo porque vem acompanhado de um verbo leve, NÃO-Y, que devido à sua natureza de verbo sem valência não pode ser considerado um nome. Nesse caso, como os verbos chamados leves sempre vêm acompanhados de um nome e como o único item capaz de preencher esta função nominal é o sinal LIMPAR-CHÃO-Cl:Y, diremos que ele pode pertencer a ambas categorias: LIMPAR-CHÃO-Cl:Y - verbo LIMPAR-CHÃO-Cl:Y - nome O mesmo ocorre com as demais categorias: adjetivo, advérbio. 8 ASPECTO VERBAL A LIBRAS, assim como várias línguas de sinais e orais, modula o movimento dos sinais para distinguir entre os aspectos pontual, continuativo ou durativo e iterativo. O aspecto pontual se caracteriza por se referir a uma ação ou evento ocorrido e terminado em algum ponto bem definido no passado. Em português, quando dizemos “ele falou na televisão ontem”, sabemos que a ação de falar se deu no passado, em um período de tempo determinado “ontem”. Em LIBRAS, temos um sinal FALAR para um contexto linguístico similar. Por exemplo, ELE FALAR VOCÊ ONTEM (=ele falou com você ontem). Entretanto, temos também o sinal FALAR- SEM-PARAR que se refere a uma ação que tem uma continuidade no tempo como AN02FREV001/ REV 3.0 33 no exemplo ELE FALAR-SEM-PARAR AULA (=ele falou sem parar durante a aula). Vejam alguns sinais: FALAR FALAR-SEM-PARAR (aspecto pontual) (aspecto continuativo) OSB: Este exemplo também utilizado na pg. 37 O mesmo ocorre com o verbo OLHAR que pode sofrer alteração em um ou mais de seus parâmetros e, então, denotar aspecto durativo. Os sinais ilustrados abaixo poderiam aparecer em contextos linguísticos como os que se seguem: OLHAR (pontual) OLHAR VOCÊ ONTEM VOCÊ NÃO ENXERGAR (pontual) OLHAR (durativo) ELE FICAR-OLHANDO-LONGAMENTE MAR (durativo) AN02FREV001/ REV 3.0 34 OLHAR (durativo) ELA PASSAR TODOS-OLHAR-CONTINUADAMENTE (durativo) No segundo sinal para ‘olhar’, a configuração de mão e o ponto de articulação mudam de G1 para 5 e dos olhos para o nariz. Com isso, temos a formação de outra palavra com valor aspectual durativo. O verbo VIAJAR com valor aspectual pontual abaixo poderia ser utilizado em sentenças como PAULO VIAJAR BRASÍLIA ONTEM, enquanto que o sinal verbal com valor iterativo apareceria em sentenças do tipo PAULO VIAJAR- MUITAS- VEZES. O aspecto iterativo refere-se à ação ou evento que se dá repetidas vezes. Vejamos os sinais abaixo: VIAJAR (pontual) VIAJAR (iterativo) Esse tipo de afixação que encontramos na LIBRAS, por meio da alteração do movimento, da configuração de mão e/ou do ponto de articulação do verbo que seria considerado raiz ou radical, não é encontrado em português. 9 ITENS LEXICAIS PARA TEMPO E MARCA DE TEMPO AN02FREV001/ REV 3.0 35 A LIBRAS não tem em suas formas verbais a marca de tempo como o português. Como vimos, essas formas podem se modular para aspecto. Algumas delas também se flexionam para número e pessoa. Dessa forma, quando o verbo refere-se há tempo passado, futuro ou presente, o que vai marcar o tempo da ação ou do evento serão itens lexicais ou sinais adverbiais como ONTEM, AMANHÃ, HOJE, SEMANA-PASSADA, SEMANA-QUE-VEM. Com isso, não há risco de ambiguidade porque se sabe que o que está sendo narrado iniciou-se com uma marca no passado, enquanto não aparecer outro item ou sinal para marcar outro tempo, tudo será interpretado como tendo ocorrido no passado. Os sinais que veiculam conceito temporal, em geral, vêm seguidos de uma marca de passado, futuro ou presente da seguinte forma: Movimento para trás, para o passado; Movimento para frente, para o futuro; e Movimento no plano do corpo, para presente. Alguns desses sinais, entretanto, incorporam essa marca de tempo não requerendo, pois, uma marca isolada como é o caso dos sinais ONTEM e ANTEONTEM ilustrados a seguir: ONTEM ANTEONTEM Outros sinais como ANO requerem o acompanhamento de um sinal de futuro ou de presente, mas, quando se trata de passado, ele sofre uma alteração na direção do movimento de para frente para trás e, por si só já significa ‘ano passado’. Os sinais de ANO e ANO-PASSADO podem ser observados nas ilustrações que se seguem: AN02FREV001/ REV 3.0 36 ANO ANO-PASSADO É interessante notar, que uma linha do tempo constituída a partir das coordenadas: passado (atrás)- presente (no plano do corpo)- futuro (na frente), pode ser observada também em línguas orais como o português e o inglês como mencionado no início desse curso. Uma estruturação completamente diferente do tempo foi observada por nós na Língua de Sinais Urubu-Kaapor, língua de sinais da comunidade indígena Urubu habitante da Floresta Amazônica, onde o tempo futuro é para cima e o presente no torso do usuário dessa língua. O passado não parece ser marcado. Isso levou-nos a considerar que as línguas Portuguesa e LIBRAS não são tão distintas assim naquilo que não depende de restrições decorrentes da modalidade visual/espacial, veiculando, assim, uma visão de mundo muito similar, pelo menos nos aspectos semânticos até o momento estudados por nós. As diferenças que vimos apontando ultimamente na estruturação gramatical e lexical da LIBRAS e do português parecem não apontar tanto para diferenças culturais, mas são sim em razão de a primeira usar o espaço e de a segunda utilizar o meio acústico, para estruturar os significados lexicais e gramaticais. 10 QUANTIFICAÇÃO E INTENSIDADE A quantificação é obtida em LIBRAS por meio do uso de quantificadores como MUITO, mas incorporar a quantificação, prescindindo, pois, o uso desse tipo de palavras. Assim, podemos observar nos exemplos com o verbo OLHAR acima que o olhar pontual é realizado com apenas um dedo estendido enquanto que os AN02FREV001/ REV 3.0 37 outros dois sinais são realizados com as mãos abertas, ou seja, com os dedos estendidos. Dessa forma, esse tipo de alteração do parâmetro Configuração de Mão iconicamente representa uma maior intensidade na ação (FICAR-OLHANDO- LONGAMENTE) ou um maior número de referentes sujeitos (TODOS-FICAR- OLHANDO). Essa mudança de configuração de mãos, aumentando-se o número de dedos estendidospara significar uma quantidade maior pode ser ilustrada pelos sinais UMA-VEZ, DUAS-VEZES, TRÊS-VEZES: UMA-VEZ DUAS-VEZES TRÊS-VEZES Às vezes, alongando-se o movimento dos sinais e imprimindo-se a ele um ritmo mais acelerado, obtêm uma maior intensidade ou quantidade. Isso é o que ocorre com os sinais FALAR e FALAR-SEM-PARAR, exemplificados acima nas páginas 30 e 33, e com os sinais LONGE e MUITO-LONGE ilustrados abaixo: LONGE MUITO-LONGE Como se pode observar, os mecanismos espaciais utilizados pela LIBRAS para obter significados e efeitos de sentido distinguem-se daqueles utilizados pela AN02FREV001/ REV 3.0 38 Língua Portuguesa. Nessa, as formas ou marcas são muito mais arbitrárias e se apresentam em forma de segmentos sequencialmente acrescentados ao item ou palavra modificada. Em LIBRAS, ocorre com muita frequência uma mudança interna, isto é, uma alteração no interior da própria palavra. 11 CLASSIFICADORES Como algumas línguas orais e como várias línguas de sinais, a LIBRAS possui classificadores, um tipo de morfema gramatical que é afixado a um morfema lexical ou sinal para mencionar a classe a que pertence o referente desse sinal, para descrevê-lo quanto à forma e tamanho, ou para descrever a maneira como esse referente é segurado ou se comporta na ação verbal. Os classificadores em línguas orais como o japonês e o navajo são sufixos dos numerais e dos verbos, respectivamente. Em LIBRAS, como dificilmente se pode falar em prefixo e em sufixo porque os morfemas ou outros componentes dos sinais se juntam ao radical simultaneamente, preferimos dizer que os classificadores são afixos incorporados ao radical verbal ou nominal. Assim, nos exemplos abaixo, pode-se observar o classificador V e V, que respectivamente, referem-se à maneira como uma pessoa anda e como um animal anda. ANDAR (para pessoa) ANDAR (para animal) AN02FREV001/ REV 3.0 39 O classificador em ANDAR (para pessoa) pode ser utilizado também com outros significados como ‘duas pessoas passeando’ ou ‘um casal de namorados’ (no caso das pontas dos dedos estarem voltadas para cima), ‘uma pessoa em pé’ (pontas dos dedos para baixo), etc. Este classificador é representado pela configuração de mãos em V, como se segue: Uma pessoa andando Duas pessoas andando, ou em pé namorando ou passeando O classificador C pode representar qualquer tipo de objeto cilíndrico profundo como um copo, uma caixa, uma urna como no exemplo abaixo do sinal VOTAR: VOTAR Classificador C Outros classificadores podem ser os morfemas representados pelas configurações de mão B e Y como se segue: AN02FREV001/ REV 3.0 40 Classificador B Classificador Y O classificador B refere-se e descreve superfícies planas como mesa, parede, chão, etc. enquanto que o classificador Y refere-se e descreve objetos multiformes ou com formas irregulares, porém não planos nem finos. O classificador G1 é que é utilizado para descrever objetos finos e longos. Inúmeros são os classificadores em LIBRAS, sua natureza semântica e sua função. Entretanto, apenas mencionamos alguns a título de ilustração. 12 INCORPORAÇÃO DE ARGUMENTO As línguas orais e de sinais apresentam vários casos de incorporação de argumento ou complemento. Por exemplo, em português, podemos citar o verbo engavetar que, em uma análise sintático-semântica, poderia ser decomposto em um verbo básico de o tipo colocar e em um complemento desse verbo que seria um locativo na gaveta. Assim, podemos dizer “eu coloquei os livros na gaveta” ou “eu engavetei os livros”. O constituinte na gaveta, um locativo, argumento ou complemento de colocar, foi incorporado a este verbo e em decorrência disso temos a outra forma verbal engavetar que prescinde do locativo como complemento porque já carrega esta informação em seu próprio item lexical. Temos, pois, uma forma lexical derivada de outra mais básica, porém, desta vez não pelo processo de derivação por afixação nem por composição, como discutido acima, mas sim pelo que se chama de incorporação de argumento. Em LIBRAS, o processo de incorporação de argumento é muito frequente e visível devido às características espaciais e icônicas dos sinais. Os três verbos AN02FREV001/ REV 3.0 41 abaixo ilustram esse tipo de incorporação. O primeiro, o verbo BEBER/TOMAR pode ser usado sem incorporação em sentenças do tipo: BEBER CERVEJA (= eu bebi cerveja) Porém, se o objeto direto do verbo for, por exemplo, café ou chá, o verbo incorporará este argumento e teremos formas verbais diferentes, como demonstram as ilustrações a seguir: BEBER, TOMAR BEBER-CAFÉ CHÁ (segurar x-tipo de objeto) em LIBRAS (CI: B A e CI: F) Outro exemplo de incorporação pode ser ilustrado pelo verbo ALUGAR/PAGAR-MENSALMENTE em que o verbo PAGAR que normalmente é articulado sobre a mão de apoio em B passa a ser articulado na mão de apoio (mão esquerda) em G1, a mesma do sinal MÊS. Assim, uma parte deste sinal incorpora- se ao sinal PAGAR, substituindo-a. Vejamos o sinal: ALUGAR/PAGAR-MENSALMENTE AN02FREV001/ REV 3.0 42 O mesmo processo de incorporação pode ser também observado no sinal que deriva do sinal verbal COMER, ao qual se incorpora o objeto direto MAÇÃ: COMER COMER-MAÇÃ Exercício: 1. LIBRAS é Língua ou linguagem? Por quê? 13 INTÉRPRETE DE LIBRAS • Trata-se de um tradutor que se coloca entre os que ouvem e se expressam por voz e os que se comunicam por meio de gestos, sinais e alfabeto manual. • Esse interprete facilita em muito a comunicação, a compreensão dos surdos e o acesso as informações. • O interprete da Língua Brasileira de Sinais é aquele que, tomando a posição do sinalizador ou falante, transmite os seus pensamentos, palavras e emoções, servindo de elo entre duas modalidades de comunicação. A habilidade requerida de um profissional interprete é: • Competência na Língua Portuguesa. • Competência na Língua Brasileira de Sinais. AN02FREV001/ REV 3.0 43 O intérprete é um profissional bilíngue, que efetua a comunicação. O intérprete deve ter: Domínio da Língua de Sinais; Conhecimento das implicações da surdez no desenvolvimento do indivíduo surdo; Conhecimento da comunidade surda e convivência com ela; Formação acadêmica, em curso de interpretação, reconhecido por órgão competente. 13.1 ATRIBUIÇÕES DO INTÉRPRETE • A presença do intérprete é fundamental, quando o surdo se depara face às diferentes situações. Essas circunstâncias podem ser formais ou informais e envolvem: • Intérprete dos meios de comunicação de massa, (rádio, cinema, televisão); • Palestras, conferências, seminários, simpósios, e outros tipos de reuniões; • Interpretações em locais como hospitais, repartições públicas, portos, aeroportos, estações ferroviárias, igrejas, escolas, atendimento telefônico e em situações de emergências ou de lazer; • Ligações telefônicas na rua, em casa ou demais locais; • Em apresentações artísticas (cinema, teatro, etc.); AN02FREV001/ REV 3.0 44 • Na consulta médica, na avaliação e no tratamento psicológico, na assistência social, a participação do intérprete viabiliza a compreensão entre as pessoas envolvidas, tornando mais eficaz o atendimento; • No treinamento formal oferecido por escolas de qualquer nível, a interação; • “aluno – professor – conteúdo ministrado” só é possível se a mensagem for interpretada eficientemente; • Nas reuniões profissionais, escolares ou terapêuticas, o intermediário permiteo exercício da discussão e a troca de experiências, avivando o debate e tornando mais eficiente o trabalho de grupo; • Nos tribunais, o papel do intérprete é igualmente relevante. • Eles atuam na decodificação da língua oral em língua de sinais, e vice- versa transmitindo com fidelidade a informação ou depoimento, a bem da justiça. 13.2 HISTÓRIA DO PROFISSIONAL TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS Em vários países há tradutores e intérpretes de língua de sinais. A história da constituição deste profissional se deu a partir de atividades voluntárias que foram sendo valorizadas enquanto atividade laboral na medida em que os surdos foram conquistando o seu exercício de cidadania. A participação de surdos nas discussões sociais representou e representa a chave para a profissionalização dos tradutores e intérpretes de língua de sinais. Outro elemento fundamental neste processo é o reconhecimento da língua de sinais em cada país. À medida que a língua de sinais do país passou a ser reconhecida enquanto língua de fato, os surdos passaram a ter garantias de acesso a ela enquanto direito linguístico. Assim, consequentemente, as instituições se viram obrigadas a garantir acessibilidade por meio do profissional intérprete de língua de AN02FREV001/ REV 3.0 45 sinais. A seguir serão apresentados os fatos históricos relevantes sobre a constituição do profissional intérprete de Língua de sinais no Brasil: a) Presença de intérpretes de língua de sinais em trabalhos religiosos iniciados por volta dos anos 80. b) Em 1988, realizou-se o I Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais organizado pela FENEIS que propiciou, pela primeira vez, o intercâmbio entre alguns intérpretes do Brasil e a avaliação sobre a ética do profissional intérprete. c) Em 1992, realizou-se o II Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais, também organizado pela FENEIS que promoveu o intercâmbio entre as diferentes experiências dos intérpretes no país, discussões e votação do regimento interno do Departamento Nacional de Intérpretes fundado mediante a aprovação do mesmo. d) De 1993 a 1994, realizaram-se alguns encontros estaduais. e) A partir dos anos 90, foram estabelecidas unidades de intérpretes ligadas aos escritórios regionais da FENEIS. Em 2002, a FENEIS sedia escritórios em São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Teófilo Otoni, Brasília e Recife, além da matriz no Rio de Janeiro. f) Em 2000, foi disponibilizada a página dos intérpretes de língua de sinais www.interpretels.hpg.com.br Também foi aberto um espaço para participação dos intérpretes por meio de uma lista de discussão via e-mail. Esta lista é aberta para todos os intérpretes interessados e pode ser acessada por meio da página dos intérpretes. g) No dia 24 de abril de 2002, foi homologada a lei federal que reconhece a língua brasileira de Sinais como língua oficial das comunidades surdas brasileiras. Tal lei representa um passo fundamental no processo de reconhecimento e formação do profissional intérprete da língua de Sinais no Brasil, bem como, a abertura de várias oportunidades no mercado de trabalho que são respaldadas pela questão legal. O que envolve o ato de Interpretar? AN02FREV001/ REV 3.0 46 Envolve um ato “Cognitivo-Linguístico”, ou seja, é um processo em que o intérprete estará diante de pessoas que apresentam intenções comunicativas específicas e que utilizam línguas diferentes. O intérprete está completamente envolvido na interação comunicativa (social e cultural) com poder completo para influenciar o objeto e o produto da interpretação. Ele processa a informação dada na língua fonte e faz escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo que devem se aproximar o mais apropriadamente possível da informação dada na língua fonte. Assim sendo, o intérprete também precisa ter conhecimento técnico para que suas escolhas sejam apropriadas tecnicamente. Portanto, o ato de interpretar envolve processos altamente complexos. Quem é intérprete de língua de sinais? É o profissional que domina a língua de sinais e a língua falada do país e que é qualificado para desempenhar a função de intérprete. No Brasil, o intérprete deve dominar a língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Além do domínio das línguas envolvidas no processo de tradução e interpretação, o profissional precisa ter qualificação específica para atuar como tal. Isso significa ter domínio dos processos, dos modelos, das estratégias e técnicas de tradução e interpretação. O profissional intérprete também deve ter formação específica na área de sua atuação (por exemplo, a área da educação). Qual o papel do intérprete? AN02FREV001/ REV 3.0 47 Realizar a interpretação da língua falada para a língua sinalizada e vice- versa observando os seguintes preceitos éticos: a) confiabilidade (sigilo profissional); b) imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não interferir com opiniões próprias); c) discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu envolvimento durante a atuação); d) distância profissional (o profissional intérprete e sua vida pessoal são separados); e) fidelidade (a interpretação deve ser fiel, o intérprete não pode alterar a informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito de algum assunto, o objetivo da interpretação é passar o que realmente foi dito). 13.3 CÓDIGO DE ÉTICA O código de ética é um instrumento que orienta o profissional intérprete na sua atuação. A sua existência justifica-se a partir do tipo de relação que o intérprete estabelece com as partes envolvidas na interação. O intérprete está para intermediar um processo interativo que envolve determinadas intenções conversacionais e discursivas. Nestas interações, o intérprete tem a responsabilidade pela veracidade e fidelidade das informações. Assim, ética deve estar na essência desse profissional. A seguir é descrito o código de ética que é parte integrante do Regimento Interno do Departamento Nacional de Intérpretes (FENEIS). Capítulo 1 AN02FREV001/ REV 3.0 48 Princípios fundamentais Artigo 1º. São deveres fundamentais do intérprete: 1º. O intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente, confidente e de equilíbrio emocional. Ele guardará informações confidenciais e não poderá trair confidencias, as quais foram confiadas a ele; 2º. O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante o transcurso da interpretação, evitando interferências e opiniões próprias, a menos que seja requerido pelo grupo a fazê-lo; 3º. O intérprete deve interpretar fielmente e com o melhor da sua habilidade, sempre transmitindo o pensamento, a intenção e o espírito do palestrante. Ele deve lembrar-se dos limites de sua função e não ir além de a responsabilidade; 4º. O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência e ser prudente em aceitar tarefas, procurando assistência de outros intérpretes e/ou profissionais, quando necessário, especialmente em palestras técnicas; 5º. O intérprete deve adotar uma conduta adequada de se vestir, sem adereços, mantendo a dignidade da profissão e não chamando atenção indevida sobre si mesmo, durante o exercício da função. Capítulo 2 Relações com o contratante do serviço 6º. O intérprete deve ser remunerado por serviços prestados e se dispor a providenciar serviços de interpretação, em situações onde fundos não são possíveis; 7º. Acordos em níveis profissionais devem ter remuneração de acordo com a tabela de cada estado, aprovada pela FENEIS. Capítulo 3 Responsabilidade profissional 8º. O intérprete jamais deve encorajar pessoas surdas a buscarem decisões legais ou outras em seu favor; 9º. O intérprete deve considerar os diversos níveis da Língua Brasileirade Sinais bem como da Língua Portuguesa; 10º. Em casos legais, o intérprete deve informar à autoridade qual o nível de comunicação da pessoa envolvida, informando quando a interpretação literal não é AN02FREV001/ REV 3.0 49 possível e o intérprete, então terá que parafrasear de modo claro o que está sendo dito à pessoa surda e o que ela está dizendo à autoridade; 11º. O intérprete deve procurar manter a dignidade, o respeito e a pureza das línguas envolvidas. Ele também deve estar pronto para aprender e aceitar novos sinais, se isso for necessário para o entendimento; 12º. O intérprete deve esforçar-se para reconhecer os vários tipos de assistência ao surdo e fazer o melhor para atender as suas necessidades particulares. Capítulo 4 Relações com os colegas 13º. Reconhecendo a necessidade para o seu desenvolvimento profissional, o intérprete deve agrupar-se com colegas profissionais com o propósito de dividir novos conhecimentos de vida e desenvolver suas capacidades expressivas e receptivas em interpretação e tradução. Parágrafo único. O intérprete deve esclarecer o público no que diz respeito ao surdo sempre que possível, reconhecendo que muitos equívocos (má informação) têm surgido devido à falta de conhecimento do público sobre a área da surdez e a comunicação com o surdo. 13.4 O INTÉRPRETE EDUCACIONAL O intérprete educacional é aquele que atua como profissional intérprete de língua de sinais na educação. É a área de interpretação mais requisitada atualmente. Na verdade, essa demanda também é observada em outros países: “Nos Estados Unidos, em 1989, estimava-se que 2200 intérpretes de língua de sinais estivessem atuando nos níveis da educação elementar e no ensino secundário. (...) Atualmente, mais de um terço dos graduados nos cursos de formação de intérpretes são empregados em escolas públicas. AN02FREV001/ REV 3.0 50 O intérprete especialista para atuar na área da educação deverá ter um perfil para intermediar as relações entre os professores e os alunos, bem como, entre os colegas surdos e os colegas ouvintes. No entanto, as competências e responsabilidades destes profissionais não são tão fáceis de serem determinadas. Há vários problemas de ordem ética que acabam surgindo em função do tipo de intermediação que acaba acontecendo em sala de aula. Muitas vezes, o papel do intérprete em sala de aula acaba sendo confundido com o papel do professor. Os alunos dirigem questões diretamente ao intérprete, comentam e travam discussões em relação aos tópicos abordados com o intérprete e não com o professor. O próprio professor delega ao intérprete a responsabilidade de assumir o ensino dos conteúdos desenvolvidos em aula ao intérprete. Muitas vezes, o professor consulta o intérprete a respeito do desenvolvimento do aluno surdo, como sendo ele a pessoa mais indicada a dar um parecer a respeito. O intérprete, por sua vez, se assumir todos os papéis delegados por parte dos professores e alunos, acaba sendo sobrecarregado e, também, acaba por confundir o seu papel dentro do processo educacional, um papel que está sendo constituído. Vale ressaltar que se o intérprete está atuando na educação infantil ou fundamental, mais difícil torna-se a sua tarefa. As crianças mais novas têm mais dificuldades em entender que aquele que está passando a informação é apenas um intérprete, é apenas aquele que está intermediando a relação entre o professor e ela. Diante dessas dificuldades, algumas experiências têm levado à criação de um código de ética específico para intérpretes de língua de sinais que atuam na educação. Em alguns casos, ao intérprete de língua de sinais é permitido oferecer feedback do processo de ensino-aprendizagem ao professor, por exemplo. Se essa possibilidade existe, poder-se-ia prever que o intérprete assumiria a função de tutoria mediante a supervisão do professor, o que em outras circunstâncias de interpretação não seria permitido. No entanto, isso poderia gerar muitos problemas... Os intérpretes-tutores deveriam estar preparados para trabalharem com as diferentes áreas do ensino. Se a eles fossem atribuídas às responsabilidades com o ensino, eles deveriam ser professores, além de serem intérpretes. E se estiverem assumindo a AN02FREV001/ REV 3.0 51 função de professores, por que estariam sendo contratados como intérpretes? Considerando tais questões, poder-se-ia determinar que o intérprete assumirá somente a função de intérprete que em si já se basta e caso seja requerido um professor que domine língua de sinais que este seja contratado como tal. Ainda se podem levantar outros problemas que surgem em relação aos intérpretes em sala de aula. Por exemplo, o fato dos intérpretes interagirem com os professores pode levar a um problema ético, pois é natural travar comentários a respeito dos alunos durante os intervalos. O código de ética prevê que o intérprete seja discreto e mantenha sigilo, não faça comentários, não compartilhe informações que foram travadas durante sua atuação. Assim, o código de ética dessa especialidade deveria também prever que ao intérprete fosse permitido apenas fazer comentários específicos relacionados à linguagem da criança, à interpretação em si e ao processo de interpretação quando estes forem pertinentes para o processo de ensino-aprendizagem. Outro aspecto a ser considerado na atuação do intérprete em sala de aula é o nível educacional. O intérprete de língua de sinais poderá estar atuando na educação infantil, na educação fundamental, no ensino médio, no nível universitário e no nível de pós-graduação. Obviamente que em cada nível devem-se considerar diferentes fatores. Nos níveis mais iniciais, o intérprete estará diante de crianças. Há uma série de implicações geradas a partir disso. Crianças têm dificuldades em compreender a função do intérprete puramente como uma pessoa mediadora da relação entre o professor e o aluno. A criança surda tende a estabelecer o vínculo com quem lhe dirige o olhar. No caso, o intérprete é aquele que estabelece essa relação. Além disso, o intérprete deve ter afinidade para trabalhar com crianças. Por outro lado, o adolescente e o adulto lidam melhor com a presença do intérprete. Nos níveis posteriores, o intérprete passa a necessitar de conhecimentos cada vez mais específicos e mais aprofundados para poder realizar as interpretações compatíveis com o grau de exigência dos níveis cada vez mais adiantados da escolarização. De modo geral, aos intérpretes de língua de sinais da área da educação é recomendado redirecionar os questionamentos dos alunos ao professor, pois dessa forma o intérprete caracteriza o seu papel na intermediação, mesmo quando este papel é alargado. Nesse sentido, o professor também precisa passar pelo processo AN02FREV001/ REV 3.0 52 de aprendizagem de ter no grupo um contexto diferenciado com a presença de alunos surdos e de intérpretes de língua de sinais. A adequação da estrutura física da sala de aula, a disposição das pessoas em sala de aula, a adequação da forma de exposição por parte do professor são exemplos de aspectos a serem reconsiderados em sala de aula. Cabe apresentar outra questão, há vários professores que também são intérpretes de língua de sinais. O próprio MEC está procurando formar professores enquanto intérpretes. Isso acontece, pois alguns professores acabam assumindo a função de intérprete por terem um bom domínio da Língua de sinais. Nesse caso, esse profissional tem duas profissões: a de professor e a de intérprete de língua de sinais. A proposta do MEC em formar intérpretes, selecionando professores da rede regular de ensino objetiva abrir este campo de atuação dentro das escolas. Assim, o "professor-intérprete" deve ser o profissional cuja carreira é a do magistério e a atuação na rede de ensino pode efetivar-se