Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Capítulo Preparas para Restau rações de Amá lgama Aspectos Gerais O an1álgan1a de prata é u1n 1naterial dentário utilizado há 1nuito te1npo para restaurar os dentes afetados pela doença cárie. E1nbora seja n1uito con1- batido na atualidade pelo uso do n1ercúrio e pela es- tética desfavorável, ainda é bastante utilizado para restaurar dentes posteriores, principahnente por sua versatilidade, seu baixo custo e por suas exce- lentes propriedades físicas, resultando en1 restaura- ções de alta qualidade e grande durabilidade. Con10 grande desvantagem, esse 1naterial não apresenta adesão à estrutura dental, tornando necessário que detenninadas características específicas sejan1 ob- servadas na fonna do preparo, para que dente e res- tauração possan1 resistir ao estresse 1nastigatório. Neste capítulo, abordarn1os os passos necessários para a realização do preparo dental para a confec- ção de restaurações de a1nálga1na, de n1odo a habi- litar o leitor a realizar esse procedin1ento. Durante o treinan1ento inicial dos estudantes de Odontolo- gia, todas as etapas deven1 ser realizadas e1n n1ane- quins con1 sin1ulação das lesões cariosas. O uso de n1anequins se1n as lesões sünuladas, co1n os dentes íntegros, tende1n a induzir o aluno a aprender for- n1as esteriotipadas de preparo dental, pois ele não possui nenhum tipo de referência do que deve ser ren1ovido. Na perspectiva atual, apenas a porção do dente afetado pela lesão deve ser tratado de fonna Carlos Rocha Gomes Torres invasiva, sendo o preparo o 1nenor possível. Sendo assin1, para cada tan1anho de lesão, un1a forn1a di- ferente de cavidade resultará, e1nbora os princípios gerais devan1 ser sen1pre seguidos. A extensão pre- ventiva deve ser substituída pela in1plen1entação de n1edidas preventivas, co1no a orientação do pacien- te sobre a doença, re1noção n1ecânica da placa, uso racional do flúor e, quando o controle de placa for n1ais difícil, o uso de selantes de fóssulas e fissu- ras. Para fins didáticos, as diferentes situações en- volvendo os preparos dentais para amálga1na serão apresentadas separada1nente, segundo as classifica- ções de Black e de Mount & Hu1ne. Materiais e Instrumental Necessários Para a realização do preparo dental para res- tauração de a1nálga1na, os seguintes 1nateriais e instru1nentais são necessários: • pano de ca1npo estéril ou no caso de treina1nen- to e1n n1anequhn un1 plástico para bancada; • avental de 1nanga longa e equipa1nentos de pro- teção individual básicos, con10 luvas de proce- din1ento, n1áscara, gorro e óculos de proteção; • 1nanequhn con1 shnulação das lesões cariosas para treinan1ento en1 laboratório; 343 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica • micromotor e contra-ângulo. Embora a maioria dos procedimentos odontológicos sejam reali- zados na clínica com a turbina de alta rotação, o treinamento inicial em manequim deve ser rea- lizado de preferência com a turbina em baixa rotação, até que o aluno desenvolva habilidade manual e tenha pleno domínio da técnica. • pinça clínica; • espelho clínico plano n• 5 com superfície refle- tora de 19 plano; • sonda exploradora dupla nº 5; • instrumentos rotatórios para contra-ângulo (CA) ou para alta rotação (FG) com adaptador para contra-ângulo. Pode-se optar pelo uso das brocas carbide ou das pontas diamantadas (Fig. 10.1). Esses instrumentos são identificados pela sua forma básica. >- Esférica - Ponta diamantada 1011 ou brocas 2, 4 e 6. >- Troncocônica invertida longa com topo pla- no e bordas arredondadas - Pontas diaman- tadas 1148 e 1150 ou broca 245. >- Troncocônica invertida curta de topo plano e bordas nítidas - Ponta diamantada 1031 ou broca 33 ~. >- Cilíndrica de topo plano e bordas arredonda- das - Pontas diamantadas 1090A e 1092A. >- Troncocônica de topo plano - Pontas dia- mantadas 1061 e 1063 ou broca 169. • machado para esmalte 14/ 15 (10-6-14); • recortadores de margem gengival 28 (10-95-7- 14) e 29 (10-80-7-14); Fig. 10.1 - Instrumentos rotatórios utilizados para o prepa- ro dental para restaurações de amálgama. 344 • pinça de Müller para carbono; • carbono para articulação de pequena espessura (< 10 µm) de duas cores (preto e vermelho). • porta-matriz tipo Tofflemire; • tiras de aço para matriz de 5 e 7 mm; • cunhas de madeira. O instrumental e material necessários devem ser dispostos sobre o campo de trabalho numa se- quência lógica de uso, como se pode observar na figura 10.2. Manobras Prévias Como já comentado no capítulo 6, antes de iniciar o preparo dental, devem ser feitas algumas checagens para garantir o sucesso do tratamento. Em primeiro lugar, deve-se verificar as condições de saúde periodontal e pulpar, realizando uma to- mada radiográfica quando necessário, para avaliar a profundidade do preparo e sua proximidade com a câmara pulpar (Fig. 6.22A e B). Faz-se a anestesia da região e antissepsia da cavidade bucal, através de um bochecho com uma solução de digluconato de clorexidina a 0,12% por 1 minuto.1 No caso de restaurações que envolvam as superfícies oclusais e/ou proximais, deve-se checar também se ocorreu algum tipo de migração dental ou extrusão, que impossibilite a restauração correta da anatomia dental original (Fig. 6.21A e B). A seguir, faz-se a checagem da oclusão empregando um papel-car- bono e um pinça de Müller.2 Deve-se voltar o lado ·- 11 ........... 0 • • h • •• •• ,. a a ---- Fig. 10.2 - 1 nstrumentos e materiais dispostos para o pre- paro dental. vermelho do carbono para o dente em questão, pe- dindo-se para o paciente realizar, então, movimen- tos de protrusão, lateralidades direita e esquerda. As guias de desoclusão marcados devem ser anali- sados. A seguir, vira-se o carbono de forma que o lado preto fique voltado para o dente que visamos restaurar e instrui-se o paciente para ocluir sobre ele, registrando assim os contatos em oclusão cen- tral (OC) (Fig. 10.3A e B). Nenhum contato com o dente antagonista deve se localizar na interface entre o remanescente dental e a futura restauração (Fig. 6. 26A e B). O preparo pode ser realizado com ou sem iso- lamento absoluto do campo operatório. Porém, se ao passar o fio dental entre os dentes ele estiver es- garçando, pode ser melhor isolar depois, evitando- -se que o lençol de borracha se rasgue.2 No caso de cavidades amplas e profundas, o isolamento prévio evita maior contaminação da polpa caso ela seja exposta inadvertidamente, aumentando as chances de sucesso do tratamento conservador por meio de um capeamento direto.2 Caso o preparo tenha sido iniciado sem isolamento e a cavidade se tornar pro- funda com maior risco de exposição, ele deve ser interrompido e o isolamento aplicado. Preparo de Classe I ou Local 1 São cavidades localizadas em regiões de cicatrí- culas e fissuras e podem envolver apenas uma face dental, consideradas cavidades simples, ou mais do que uma face, denominadas cavidades compostas. A 1 O Prepares para Restaurações de Amálgama Cavidade simples Para fins meramente ilustrativos, exemplifica- remos a sequência completa de preparo nos dentes 34 e 47, embora os princípios apresentados pos- sam ser aplicados para todos os dentes posteriores (Figs. 10.4A-I e 10.SA-F). Abertura e forma de contorno Caso se esteja diante de uma lesão de cárie oculta, observada radiograficamente, mas com a superfície do esmalte íntegra, devemos realizar a abertura das cavidades com instrumentos rotató- rios, utilizando uma ponta diamantada ou broca esférica, posicionada perpendicular ao plano oclu- sal, ou uma broca ou ponta diamantada cilíndrica ou cônica invertida longa, inclinada no sentido me- siodistal, num ângulo de 45º com a superfície que pretendemos intervir (Fig. 10.4B e C).3 Com essa inclinação, a aresta entre o topo da broca e sua la- teral entrará em contato com a superfície, aumen- tando a eficiência de corte ou desgaste.4 A cavidade égradualmente alargada para criar acesso à denti- na. Em algumas situações, a cavidade pode já estar aberta pelo colapso do esmalte socavado pela lesão, tornando essa etapa desnecessária. Deve-se iniciar a abertura pela fosseta mais profunda ou a mais afetada pela cárie5 ou, sempre que possível, pela fosseta afetada mais distal, pois isso proporciona melhor visibilidade para a extensão mesial. Deve- mos nos lembrar que a broca deve penetrar na es- trutura rodando e não parar até ser removida do . .. 'St~ • ' . ' ... ~ -it ' . • ~. • Fig. 103 - Checagem dos contatos oclusais. (A} Utilização da pinça de Müller para posicionar o carbono entre as arcadas; (B} contatos demarcados (preto - oclusão central; vermelho - contatos em lateralidade. 345 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica , _ • • Fig. 10.4 - Preparo dental de Classe I ou local 1 em molar inferior. (A} Demarcação dos contatos com papel-carbono; (B} abertura com ponta diamantada esférica perpendicular à superfície oclusal; (C} abertura com a ponta troncocõnica inver- tida inclinada em relação à superfície oclusal; (D- F} penetração de metade da ponta ativa do instrumento rotatório 1148 e delimitação da forma de contorno; (G} análise das paredes do preparo para a checagem da presença de tecido cariado remanescente (setas); (H) modificação do contorno cavitário para remover as áreas afetadas; (1) aspecto final. 346 1 O Prepares para Restaurações de Amálgama ' Fig. 10.5- Preparo de Classe I ou local 1 no primeiro pré-molar inferior. (A) Demarcação dos pontos de contato; (B) abertu- ra com uma ponta diamantada esférica; (C) posicionamento da ponta diamantada perpendicular ao plano que tangencia as pontas das cúspides; (D) delimitação do contorno da cavidades; (E) aspecto das paredes circundantes convergentes para oclusal em virtude do uso da ponta troncocônica invertida; (F) aspecto final do preparo dental. contato com o dente.2 Contudo, não se deve entrar ou sair com a broca rodando de dentro da cavidade bucal do paciente. Deve-se, então, definir a área do dente a ser in- cluída no preparo. O princípio básico a ser conside- rado é o da máxima preservação da estrutura dental remanescente. No passado, definia-se a abertura da cavidade como 1/3 da distância entre o vértice das cúspides, o que levava a um considerável en- fraquecimento do dente, com redução de aproxi- madamente 33% de sua resistência à fratura. Nos prepares considerados modernos, essa distância foi 347 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica reduzida para~. o que não reduzia de forma tão ex- pressiva a resistência do dente. 6 Contudo, atualmen- te, nenhwna extensão preventiva deve ser realizada, assim como dimensões estereotipadas não devem ser seguidas. Dessa maneira, apenas a área afetada pela lesão de cárie deve ser englobada no preparo.7·8 As margens devem ser estendidas até encontrar um esmalte hígido, independentemente se ele esti- ver socavado ou não. O esmalte socavado pode ser posteriormente protegido com dentina artificial, empregando-se cimentos ionoméricos. Outro fator que determinará a largura do pre- paro é a necessidade de torná-la possível de ser restaurada. Sendo assim, por menor que seja a le- são, a abertura deve ser tal que permita a entrada do menor instrumento condensador de amálgama, o que é considerado uma forma de conveniência.5 No caso de lesões pequenas, a abertura deve ser restrita ao diâmetro do menor instrumento rota- tório com formato adequado para o preparo.2 O preparo mais conservador, com remoção de me- nos estrutura, minimiza a resposta pulpar e man- tém a resistência do remanescente, pela menor deflexão de cúspide, praticamente eliminando as chances de fratura de cúspide. 5•7·9 Além disso, as restaurações mais estreitas, em geral menor que 1 mm, apresentam menos fraturas marginais e for- mação de valamento do que as largas, diminuindo a necessidade de substituição.7•1º Isso ocorre em virtude do istmo oclusal estreito usualmente co- locar as margens do preparo longe das áreas ini- ciais de contato e permite a oclusão ocorrer sobre a estrutura dental remanescente. 10- 12 Além disso, as restaurações menores são condensadas melhor por serem usados condensadores menores, resul- tando em maior pressão de condensação, remo- vendo mais mercúrio e melhorando a adaptação do material restaurador.7 Segundo Almquist et ai., 11 se o paciente for ensinado a limpar comple- tamente seus dentes, não é necessário estender as margens da cavidade mais do que o necessário para adequar o preparo e fazer seu acabamento. Qualquer restauração que for adequadamente po- lida pelo cirurgião-dentista pode ser limpa pelo paciente. Se o paciente não limpar os seus dentes, não importa a quantidade de extensão preventiva realizada, pois ela não será capaz de prevenir uma destruição cariosa adicional 348 Nos dentes posteriores, as cúspides são sepa- radas por sulcos, e o esmalte nas bases dos sulcos pode ser confluente ou separado por uma fissu- ra, que se estende da superfície do esmalte para a junção amelodentinária. Embora a lesão de cárie geralmente comece numa fissura oclusal, ela é fre- quentemente isolada a uma única área, ou a poucas áreas ao longo da extensão do sulco. Raramente, todo o sulco está cariado. Em lesões de fissura iso- ladas, cavidades separadas devem ser preparadas, sem a necessidade de conectá-Ias, a não ser que exista menos de 0,5 mm entre elas (Fig. 6.24A-C).2 A penetração da broca é feita na área da lesão de cárie e a cavidade é alargada e aprofundada para remover o tecido cariado, até atingir o esmalte sa- dio. Após as cavidades terem sido completadas, se necessário, os sulcos não cariados podem ser pro- tegidos com um selante oclusal7 Com exceção dos casos em que o amálgama é usado para cobertura de cúspide, Osborne & Summitt7 comentaram que "Quanto mais larga a restauração, mais curta será sua vida útil". Se o preparo for conservador, tamanho 1 ou 2 segundo Mount & Hume, 13 devemos utilizar a ponta diamantada 1148 ou 1150 ou a broca 245, que têm forma de tronco de cone invertido longo (Fig. 10.1). Com esses instrumentos, as paredes circundantes serão convergentes para oclusal. Se o preparo for extenso, tamanho 3 ou 4, devemos utilizar a ponta diamantada cilíndrica com bordas arredondadas 1090A ou 1092A (Fig. 10.1). Com esses instrumentos, as paredes serão paralelas en- tre si.5•8 No momento da realização do contorno do preparo, a penetração deve ser restrita a cerca de 0,2 a 0,5 mm5•14 além do limite amelodentinário, o que já proporciona um preparo com cerca de 1,5 mm de profundidade no sulco central, ou 2 mm em relação ao ângulo cavossuperficial vestibular ou lingual 2 Considera-se como ponto de referên- cia para essa profundidade o ponto mais profundo da fóssula central. Consequentemente, fora desse ponto, as paredes circundantes terão altura maior, proporcionando maior espessura do material res- taurador. Podemos usar a extensão da ponta ativa do instrumento rotatório como referência de pro- fundidade. 2 A ponta diamantada 1148 e a broca 245 têm 3 mm de comprimento, logo a penetra- ção de metade de sua extensão já proporcionará a profundidade necessária (Fig. 10.4D-F). Ao se uti- lizarem as pontas diamantadas 1150 e 1090A ou 1092A que apresenta uma ponta ativa de 4 mm, o uso de metade dessa extensão também é um valor referencial satisfatório. Após penetrar a profundi- dade necessária, deve-se movimentar o instrumen- to no sentido mesiodistal, com o longo eixo parale- lo ao longo eixo do dente, mantendo uma profun- didade uniforme. Nessa etapa, essa profundidade de preparo deve ser mantida, mesmo se material restaurador antigo ou pontos de cárie na parede pulpar permaneçam, pois eles serão removidos du- rante a fase final do preparo. Por outro lado, os ân- gulos cavossuperficiais das paredes circundantes devem alcançaro esmalte íntegro (Fig. 10.4G e H). Deve-se observar no contorno da cavidade que o contato oclusal com o dente antagonista não deve se localizar na interface. Caso isso ocorra, ele deve ser alterado para que o contato ocorra sobre o ma- terial restaurador. Forma de resistência Para proporcionar resistência a esse prepa- ro, as paredes devem ser planas, regulares e lisas, melhorando a adaptação do material restaurador. A planificação e a lisura das paredes são obtidas com a movimentação do instrumento rotatório num movimento de "pintura" ou "escovação".15 A profundidade da cavidade deve proporcionar uma espessura mínima de 1,5 mm para o amálgama nas áreas de contato ou no centro da restauração, na região do sulco central.5 A parede pulpar deve ser plana, o que é conseguido pela superfície pla- na das pontas ativas dos instrumentos rotatórios.5 A parede plana permite uma melhor distribuição das tensões e evita a rotação da restauração (Fig. 6.28A-C). Na maioria dos dentes posteriores, a pa- rede pulpar deve ser paralela ao plano oclusal da arcada, fazendo com que ela fique perpendicular à direção das forças oclusais. Para tal, o instrumen- to deve ser posicionado paralelo ao longo eixo do dente (Fig. 10.6A). Uma exceção a essa regra é no primeiro pré-molar inferior, onde existe uma dife- rença muito grande no volume das cúspides vesti- bular e lingual, o que determina a necessidade de que a parede pulpar seja paralela ao plano que tan- gencia a ponta das duas cúspides, evitando dessa 1 O Prepares para Restaurações de Amálgama forma a exposição do corno pulpar vestibular, além de preservar a dentina sob as cúspides linguais (Fig. 6.14A e B). Para tal, o instrumento rotatório deve se posicionado perpendicular ao plano intercuspí- deo (Fig. 10.5C e D). A resistência é obtida ainda com o uso de ins- trumentos com bordas arredondadas, o que pro- porciona ângulos diedros do segundo grupo arre- dondados, e possibilitando uma melhor distribui- ção das tensões, diminuindo a possibilidade de fratura do remanescente dental (Fig. 6.39). 5•10•11 Isso é particularmente importante no caso de cavida- des extensas, onde a estrutura dental encontra-se enfraquecida.8•14 Além disso, os ângulos arredon- dados proporcionam uma melhor adaptação do material restaurador. 10•11 O uso das brocas cilíndri- cas 56 ou 57 ou das pontas diamantadas 1090, 1092 tradicionais, embora proporcione paredes parale- las, resulta em ângulos diedros nítidos e concen- tração de tensões, exatatamente na situação onde esse detalhe mostra-se mais relevante, que são as grandes lesões. A resistência das margens da restauração é con- seguida, primeiramente, evitando que o contato do antagonista ocorra sobre ela, protegendo-a das for- ças oclusais.5 Em segundo, pela convergência das paredes vestibular e lingual, o que proporciona um maior ângulo de margem do material restaurador, com cerca de 70°.5•15 Essa maior espessura de mate- rial restaurador nas margens diminui a degradação marginal da restauração. Contudo, em cavidades extensas, a configuração com paredes paralelas en- tre si é mais favorável, pois o uso de paredes con- vergentes pode enfraquecer ainda mais a estrutura já fragilizada (Fig. 6.36A e B). É extremamente importante certificar-se de que o longo eixo do instrumento rotatório esteja adequadamente posicionado, perpendicular ao plano oclusal do dente. Caso contrário, em um dos lados do preparo existirá esmalte socavado e susce- tível à fratura, com ângulo cavossuperficial menor que 90º, enquanto no outro existirá uma margem de material restaurador fina e mais chances de ex- posição pulpar (Fig. 10.6A e B).16 Para preservar a resistência do remanescente em cavidade extensas, as paredes mesial e distal em contato com a crista marginal devem ser ligei- ramente expulsivas para oclusal.4•5•14•15 Isso evita 349 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica Fig. 10.6 - Inclinação das paredes em relação à inclinação da broca. (A) Correta; (B) incorreta. que todo o remanescente de dentina sob a crista seja removida, o que ocorre caso paredes perpen- diculares à pulpar ou retentivas para oclusal, dei- xando o esmalte sem suporte e suscetível à fratura (Fig. 6.41A-F).4 Essa característica é conseguida inclinando-se o instrumento rotatório no senti- do da superfície proximal em 10º ou menos (Fig. 10.7B).2 Embora a resistência do remanescente seja preservada, isso proporciona bordas finas para a restauração, e uma chance maior de fratura. 14 Por outro lado, em cavidades conservadoras, onde a crista marginal apresenta-se com mais de 1,6 mm de espessura para pré-molares ou 2 mm para mo- lares, essas paredes podem ser convergentes para oclusal. 2.17 Pode-se ter uma ideia desse remanes- cente tendo como referência a ponta ativa do ins- trumento rotatório que tem dimensões conhecidas (Fig. 10.7 A).2 No caso dos dentes com pontes de esmalte, co- mo pré-molares inferiores e molares superiores, é extremamente importante que a ela seja preser- vada para garantir a resistência do remanescen- te dental. Segundo Howard, 15 uma tendência co- mum é do CD preparar cavidades muito largas na área oclusal. Deve-se lembrar de que a estrutu- ra dental precisa suportar e reter a restauração, e que uma restauração larga e muito estendida é mais suscetível à fratura e deterioração frente ao estresse oclusal do que uma cavidade pequena, suportada adequadamente pela estrutura sadia e com desenho cavitário conservador. A resistência da estrutura dental sadia é muito maior do que a do amálgama. 350 Forma de retenção A retenção da restauração é obtida pela conver- gência das paredes vestibular e lingual quando se utiliza um instrumento cônico invertido longo, ou pela obtenção de uma cavidade mais profunda do que larga, quando se utiliza um instrumento cilín- drico. Quando as paredes forem paralelas e após o término da conformação a cavidade resultante for mais larga do que profunda, uma retenção mecâni- ca adicional deve ser obtida, através da confecção de pequenas reentrâncias sob as cúspides, que são os locais com maior volume de dentina (Fig. 10.SA e B).5 Pode-se utilizar para tal um instrumento troncocônico invertido, como a ponta diamantada 1031 ou a broca 33 Vi. Também pode-se usar uma broca esférica com diâmetro pequeno como a Y2 ou ponta diamantada 1011 (Fig. 10.1).17 Segundo Stur- devant,2 as retenções realizadas com instrumentos esféricos são melhores que as preparadas com ins- trumento troncocônico invertido, pois o amálgama pode ser condensado melhor em áreas arredonda- das do que em áreas agudas, resultando em melhor adaptação do material restaurador. Os desgastes devem ser realizados exclusivamente à custa das paredes vestibular e lingual (Fig. 6.44A e B). Pode- se testar a retenção tracionando-se a ponta de uma sonda exploradora no sentido oclusal (Fig. 10.SB).14 Nos casos em que uma base cavitária for utilizada, as retenções adicionais devem ser realizadas ape- nas após as paredes estarem planificadas com o material de preenchimento.17 1 O Prepares para Restaurações de Amálgama Fig. 10.7 - (A) Avaliação do remanescente de crista tendo como referência a ponta diamantada 1048; (B) preparo das paredes proximais ligeiramente expulsivas para oclusal. Fig. 10.8 - Retenções adicionais sob as cúspides. (A) Realização, (B) teste da retenção. Forma de conveniência Em relação ao preparo de Classe 1, a forma de conveniência está limitada aos casos em que as le- sões são pequenas. Nesse caso, deve-se checar se o menor instrumento condensador é capaz de pene- trar na cavidade e proporcionar uma condensação adequada do material restaurador. Caso a abertura da cavidade seja muito pequena, ela deve ser ligei- ramente ampliada, apenas o suficiente para possi- bilitar uma restauração adequada. Remoção do tecido cariado Nesse momento, no caso de lesões pequenas, todo o tecido cariado jádeve ter sido removido. Caso sobre remanescentes de tecido altamente in- fectado em alguma região, ele deve ser removido com uma broca esférica, de maior tamanho com- patível com a lesão em baixa rotação, ou cureta. Es- sas regiões podem ser posteriormente planificadas com uma base e o esmalte socavado preenchido com cimento de ionômero de vidro (Fig. 6.6A-D). Acabamento das paredes de esmalte Segundo Gilmore,5 a lisura das margens da ca- vidade proporciona a eliminação do esmalte sem suporte suscetível à fratura. Porém, nesse tipo de cavidade, o preparo com os instrumentos rotató- rios posicionados adequadamente proporcionarão uma superfície lisa, não devendo restar prismas sem suporte, proporcionando um apoio adequado em es- trutura íntegra para a escultura e o polimento da res- tauração. Deve-se fazer a checagem final da cavidade com uma sonda exploradora, quanto à presença de resíduos de cárie, adequação das margens e paredes.5 351 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica Limpeza da cavidade Deve-se lavar a cavidade com jatos de ar e água e, a seguir, aplicar uma solução detergente aniônico com uma bolinha de algodão ou aplica- dor tipo microbrush, seguido por lavagem com água e secagem.2 Pode-se completar a antissep- sia da cavidade com solução de clorexidina2 ou aplicar uma solução neutra de flúor a 2% por 2 a 4 minutos seguido apenas por secagem. 17 A apli- cação da solução de flúor reduz em 60% o índi- ce de cárie recidiva ao redor das restaurações de amálgama. 18 Características finais da cavidade • Cavidades pequenas e médias (tamanhos 1 e 2) >- Paredes planas, regulares e lisas. >- Paredes vestibular e lingual ligeiramente convergentes para oclusal. >- Paredes mesial e distal em contato com as cristas marginais expulsivas para oclusal, quando existir pouco remanescente, ou con- vergentes para oclusal, quando existir um remanescente maior de crista marginal. >- Ângulos diedros dos 1 n e 2 n grupos arredon- dados. >- Paredes em contato com as pontes de esmal- te convergentes para oclusal. • Cavidades extensas (tamanhos 3 e 4) >- Paredes planas, regulares e lisas. >- Paredes vestibular e lingual paralelas entre si. >- Paredes mesial e distal em contato com as cristas marginais expulsivas para oclusal. >- Ângulos diedros dos 1 n e 2 n grupos arredon- dados. >- Paredes em contato com as pontes de esmal- te paralelas entre si. Cavidade composta Para fins ilustrativos, utilizaremos o dente 26, embora os mesmos princípios possam ser aplica- dos em outras situações semelhantes, como nos molares inferiores (Fig. 10.9A-R). Fig. 10.9-Preparo de Classe I ou local 1 composta em molar superior. (A) Demarcação dos pontos de contato; (B) abertura com ponta diamantada esférica; (C-0 ) preparo da porção oclusal do sulco com ponta diamantada cônica invertida. 352 1 O Prepares para Restaurações de Amálgama • Fig. 10.9- (E) Caixa oclusal preparada; (F, G) preparo do sulco lingual com o longo eixo da ponta diamantada paralela à superfície; (H) checagem da cavidade para a verificação de tecido cariado remanescente; (1, J) remoção do tecido cariado; (K) preenchimento da reg ião com cimento de ionômero de vidro; (L) definição do ângulo MA com a ponta diamantada perpendicular à parede axial. 353 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica • • . '-" Fig. 10.9 - (M) Definição do ângulo DA; (N, O) arredondamento do ângulo AP com o extremo da ponta diamantada ou com o recortador de margem gengival. (PJ Aplainamento do ângulo CSG com o recortador de margem gengival; (Q, R) aspecto final do preparo dental. Abertura e forma de contorno Pode-se utilizar um instrumento esférico per- pendicular ao plano oclusal ou cilíndrico ou tron- cocônico invertido longo inclinado a 45º em re- lação à superfície, como descrito para a cavidade simples (Fig. 10.9B). Nos molares superiores e infe- riores, nos quais tanto a superfície oclusal quanto a vestibular ou lingual foram acometidas pela lesão de cárie, o contorno pode ser muito variável, como pode ser observado na figura 10.lOA-D. A cavidade oclusal pode se unir à cavidade lingual ou podem existir duas cavidades simples independentes. A extensão deve ser a mais conservadora possí- vel, mas o suficiente para remover o tecido cariado e 354 atingir um esmalte hígido. 2 A profundidade de pene- tração deve ser restrita a 0,2 a 0,5 mm além do limite amelodentinário na região do sulco central. Inicia- -se o preparo pela delimitação do contorno oclusal, com o instrumento rotatório paralelo ao longo eixo do dente, mantendo-se uma profundidade constan- te e se aproximando do sulco da superfície lisa (Fig. 10.9C-E).2 A seguir, insere-se a broca na região do sul- co lingual, com seu longo eixo paralelo à superfície, determinando uma profundidade de O, 75 mm (Fig. 10.9F).2 Considerando-se que a ponta diamantada 1148 e 1090A tem 0,8 mm de diâmetro, temos como saber se o desgaste atingiu um nível mínimo desejado ao se perceber que o instrumento penetrou quase que completamente na estrutura dental (Fig. 10.9G). 1 O Prepares para Restaurações de Amálgama Fig. 10.1 O-Variações no contorno cavitário em virtude da extensão da lesão nos dentes 16 e 47. (A, C) Lesão estendendo- -se por todo o su lco na face livre; (D) lesões restritas às fossetas nas faces livres, não devendo ser unidas. Forma de resistência As paredes devem ser planas, regulares e lisas, para melhorar a distribuição das tensões e adapta- ção do material restaurador. A profundidade míni- ma deve ser de 1,5 mm na região do sulco central e 0,75 mm na superfície lisa, para proporcionar resistência à restauração. A parede pulpar deve ser paralela ao plano oclusal.3 Em cavidades pequenas ou médias (tamanhos 1 e 2), as paredes circundan- tes da caixa oclusal são convergentes para oclusal para aumentar a espessura da borda da restaura- ção, aumentando sua resistência. 2 Caso a crista marginal esteja muito fragilizada, a parede que a contata deve ser expulsiva para oclusaL Para tal, devemos usar a ponta diamantada 1148 ou 1150 ou a broca 245. Em cavidades extensas (tamanhos 3 e 4), as paredes circundantes da caixa oclusal de- vem se paralelas entre si. Para tal, deve-se utilizar a ponta diamantada 1090A ou 1092A. A parede dis- tal da caixa oclusal, em contato com a crista margi- nal, deve ser expulsiva para oclusal, para preservar o seu suporte dentinário.2 Os ângulos diedros do segundo grupo devem, de preferência, ser arredon- dados, o que é conseguido ao se utilizarem os ins- trumentos rotatórios descritos. A parede axial deve ser expulsiva para oclusal, de forma a acompanhar a inclinação da face lingual e proporcionar uma espessura homogênea de ma- terial restaurador, aumentando a resistência final da restauração. Isso é obtido posicionando-se o longo eixo do instrumento paralelo à face lingual no sen- tido vestibulolingual, penetrando cerca de 0,2 a 0,5 mm além do limite amelodentinário ou o suficiente para que o tecido cariado seja removido e propor- cionando a espessura mínima de material restau- rador (Fig. 10.9F e G).2 A ponta da broca deve ser posicionada no extremo cervical da lesão, sendo que ela já definirá a parede gengival, com os ângu- los de 1 ° grupo arredondados. O cirurgião-dentista precisa ter um grande controle da broca para não permitir que ela role para fora da cavidade e sobre a superfície lingual, o que pode danificar a mar- gem cavossuperficial.2 Caso uma ponta diamanta- da troncocônica invertida longa 1148 ou 1150 ou broca 245 seja utilizada para o preparo da caixa lingual, as paredes mesial e distal serão levemente convergentes para oclusal e lingual (Fig. 10.9R).2 355 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica Caso um instrumento cilíndrico seja utilizado, es- sas paredes serão paralelas entre si. Para melhor definir os ângulosrnesioaxial e axiodistal, o instrumento troncocônico inverti- do longo ou cilíndrico deve ser posicionado com seu longo eixo perpendicular à face lingual, com a extremidade tocando a parede axial, sendo movi- mentado no sentido oclusocervical,2 sem alterar a parede axial (Fig. 10.9L, M). Caso as pontas ou bro- cas troncocônicas invertidas longas sejam usadas, as paredes rnesial e distal serão retentivas para lin- gual, enquanto se os instrumentos utilizados forem cilíndricos, elas serão paralelas entre si.2 A parede gengival deve ser paralela à pulpar e ao plano oclusal, permitindo distribuição dos es- forços oclusais, por se posicionar perpendicular à direção das forças incidentes. 3 Isso é obtido posi- cionando-se a broca paralela ao longo eixo do den- te. Os ângulos internos devem ser arredondados, o que já é obtido pela borda arredondada das pontas e brocas, com exceção do axiopulpar. Esse deve ser arredondado com um recortador de margem gen- gival nº 29, movimentado no sentido rnesiodistal ou com a ponta do instrumento rotatório adequa- damente posicionado para tal (Fig. 10.9N e 0).19 Forma de retenção Na caixa oclusal, a retenção é conseguida pela convergência das paredes circundantes para oclu- sal. Quando as paredes forem realizadas paralelas entre si e a cavidade for mais larga do que profun- da, retenções adicionais podem ser confeccionadas sob a cúspide distovestibular (DV), corno descrito para a cavidade simples (Fig. 10.llA e B). Na caixa lingual, quando se utiliza a broca cônica invertida, a cavidade já é autorretentiva nos sentidos oclusal e lingual.2 Quando se emprega a broca cilíndrica, o paralelismo das paredes rnesial e distal já propor- ciona retenção no sentido oclusal. Porém, ela pode ser insuficiente no sentido lingual, em especial se a caixa oclusal for rasa e pouco retentiva nesse sen- tido. Nesse caso, pode-se lançar mão de retenções mecânicas adicionais através de sulcos retentivos nos diedros rnesioaxial e distoaxial, à custa das pa- redes rnesial e distal em dentina, nunca em esrnal- te.2 Essas retenções podem ser realizadas com um instrumento cônico corno a ponta diarnantada 1061 356 ou a broca 169, ou um instrumento esférico corno a ponta diarnantada 1011 ou a broca Y.i. Quando for utilizada urna broca cônica, ela deve ser inclina- da no sentido rnesiodistal para que a ponta toque primeiro a região próxima aos ângulos rnesiogen- gival ou distogengival, resultando em retenção em forma de pirâmide que não deve ultrapassar o ân- gulo axiopulpar (Fig. 10.llC-E).2 A retenção deve ser testada inserindo-se a ponta de um explorador e movendo-o no sentido lingual.2 Elas devem im- pedir o explorador de se mover diretamente para lingual (Fig. 10.llF).2 Forma de conveniência Ela se restringe nesse preparo à amplitude ne- cessária para que o instrumento condensador pos- sa alcançar as áreas mais profundas do preparo. Remoção do tecido cariado Geralmente, nessa etapa do preparo, não deve restar mais tecido cariado. Porém, se ele existir, de- ve ser removido corno já descrito para a cavidade simples, e a área socavada preenchida por cimento de ionôrnero de vidro (Fig. 10.9H-K). Acabamento das paredes de esmalte O esmalte sem suporte na região do ângulo ca- vossuperficial gengival deve ser aplainado com o recortador de margem gengival n• 29, movimenta- da no sentido rnesiodistal (Fig. 10.9P). Limpeza da cavidade Deve ser realizada corno já descrito para a ca- vidade simples. Características finais da cavidade • Cavidades pequenas e médias (tamanhos 1 e2) >- Paredes planas, regulares e lisas. >- Paredes vestibular e lingual ligeiramente convergente para oclusal. >- Parede rnesial em contato com a ponte de esmalte convergente para oclusal. >- Parede distal em contato com a crista margi- nal convergente para oclusal. 1 O Prepares para Restaurações de Amálgama Fig. 10.11 - Preparo de retenções adicionais. (A, B) Confecção das retenções na ca ixa oclusal; (C-E) confecção das restau- rações na caixa lingual nos diedros mesioaxial e distoaxial; (F) teste da retenção. >- Ângulos diedros arredondados dos 1 ° e 2° e 3g grupos. >- Paredes mesial e distal da caixa lingual con- vergentes para oclusal e lingual. • Cavidades extensas (tamanhos 3 e 4) >- Paredes planas, regulares e lisas. >- Paredes vestibular e lingual paralelas entre si. >- Parede mesial em contato com a ponte de esmalte perpendicular à pulpar. >- Parede distal em contato com a crista margi- nal expulsivas para oclusal. >- Ângulos diedros arredondados dos 1 º e 2º e 32 grupos. >- Paredes mesial e distal da caixa lingual para- lelas entre si. 357 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica >- Retenção adicional nos diedros mesioaxial e distoaxial. Preparo de Classe 11 ou Local 2 Esse tipo de cavidade envolve as superfícies proximais dos dentes posteriores, onde as lesões de cárie estão localizadas abaixo do ponto de contato. Quando não existem lesões de cárie na superfície oclusal, ou quando as lesões oclusais estão distantes das cristas marginais, os preparos devem ser inde- pendentes. O acesso à lesão proximal deve ser feito pela crista marginal, sendo denominado slot verti- cal (Fig. 10.12A-D'). Caso a superfície oclusal tam- bém tenha sido acometida pela lesão e seja extensa o suficiente pode se aproximar da lesão proximal, o preparo da superfície oclusal deve unir-se ao da superfície proximal, resultando em cavidades MO, OD ou MOD (Fig. 10.13A-G'). Quando a lesão de cárie se localiza muito distante da superfície oclu- sal, como nos casos de dentes com coroas clínicas longas ou em dentes com recessão gengival e lesões de cárie no limite esmalte-cemento, o acesso pode ser feito pela superfície vestibular ou lingual, sen- do esse preparo denominado slot horizontal (Fig. 10.16A-L). Fig. 10.1 2 - Preparo tipo s/ot vertical. (A) Demarcação dos pontos de contato; (B) aspecto da lesão proximal; (C) preparo independente das lesões oclusais; (D) acesso à lesão pela crista marginal com ponta diamantada esférica; (E) sensação de cair no vazio ao se atingir a lesão; (F) acesso obtido. 358 1 O Prepares para Restaurações de Amálgama ---------------------------- Preparo de Classe V ou Local 3 em Superfície Livre São cavidades localizadas no terço cervical da coroa dental. Segundo Black é considerada Oasse V apenas as lesões localizadas nas faces vestibular e lin- gual, enquanto segundo Mount e Hume é considerado local 3 as lesões cervicais também nas faces mesial e distal. No texto a seguir será abordado apenas o prepa- ro das lesões local 3 nas faces vestibular e lingual. Na atualidade, o uso do amálgama nesse tipo de cavida- de está restrito aos dentes posteriores, onde não existe nenhum envolvimento estético, principalmente nos molares. São lesões rasas do ponto de vista mecânico, mas profundas do ponto de vista biológico, devido à proximidade com a câmara pulpar, devendo-se tomar o cuidado de evitar uma eventual exposição. Na figura 10.17 A-0, é demonstrada a realização de uma cavida- de extensa na face vestibular do dente 37. Fig. 10.17 - Preparo de Classe V ou local 3 na face vestibular. (A) Aspecto inicial da lesão de cárie; (B, C) início do preparo da parede oclusal com a ponta diamantada troncocónica; (D-F) preparo das paredes mesial e gengival. 375 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica Lc-_--,1 Fig. 10.1 7 - (G) Preparo da parede distal; (H) remoção do tecido cariado remanescente com broca esférica; (1, J) tratamen- to da dentina e regularização da parede axial com cimento de ionômero de vidro. (K, L) preparo das retenções no ângulo axiogengival. Abertura e forma de contorno Em geral, esse tipo de cavidade já se encontra aberta pelo colapso do esmalte. Caso ela esteja fe- chada, apenas como wna lesão de mancha branca ou castanha com a superfície íntegra, essa lesãosub-superficial presente deve ser tratada apenas por métodos preventivos. O contorno é realizado com 376 wn instrwnento troncocônico como uma ponta dia- mantada 1061, 1063 ou broca 169 posicionado per- pendicular à superfície, onde suas laterais executam as paredes circundantes do preparo e a sua base faz a parede axial, 15 restringindo-se a profundidade de penetração do instrumento a 0,5 mm além do limite amelodentinário, independentemente se ainda exis- ta tecido cariado além dessa região (Fig. 10.17B e 1 O Prepares para Restaurações de Amálgama Fig. 10.17- (M, N) Preparo das retenções no ângulo axio-oclusal; (O) aspecto do preparo terminado. C).5 Isso resulta numa profundidade de 1 a 1,25 mm até o ângulo cavossuperficial gengival, permitindo que retenções possam ser posteriormente aplicadas sem deixar esmalte sem suporte.2 No caso de mar- gens gengivais em cemento, a penetração deve ser de 0,75 mm.2 A margem gengival em geral acompa- nham a curvatura da gengiva marginal, quando esta se apresenta normal, por ser um local de acúmulo de placa, sendo levadas até a região onde exista esmal- te hígido. Nas lesões extensas, em geral as margens mesial e distal são estendidas até os ângulos axiais vestibulomesial e vestibulodistal ou linguomesial e linguodistal. Geralmente, estas cavidades tomam a forma ovalada ou riniforme. 5 Contudo, devemos ter em mente que as dimensões finais e a forma da ca- vidade devem ser ditadas pela forma e extensão da lesão, preservando-se ao máximo a estrutura dental sadia (Fig. 10.lBA-C).4 Forma de resistência Nesse tipo de cavidade, a futura restauração não será submetida a cargas diretas da mastigação, mas apenas às tensões distribuídas por dentro da estrutura dental. Porém, características específicas podem favorecer a durabilidade da mesma. Du- rante o preparo, a parede axial deve acompanhar o contorno da face vestibular do dente no sentido 377 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica Fig. 10.18 - (A-C) Variações na forma do contorno das cavidades de Classe V. A extensão deve ser a mais conservadora possível, envolvendo apenas a estrutura dental afetada pela lesão. mesiodistal, proporcionando wna espessura homo- gênea do material restaurador e resistência à restau- ração definitiva (Fig. 10.19A e B).2•4 Caso a cavidade seja extensa gengivo-oclusalmente, a parede axial também deve acompanhar a curvatura do dente nesse sentido.2 Em cavidades estreitas, elas são ge- ralmente planas no sentido gengivo-oclusaL 15 Devido à convexidade das faces vestibular e lingual, para que elas acompanhem a inclinação dos prismas, as paredes circundantes devem ser expulsivas para a face externa do dente, de forma a se obter um ângulo cavossuperficial de 90º (Fig. 10.20), o que é obtido com o uso dos instrumentos rotatórios com formato troncocônico de topo pla- no (Fig. 10.17C-G).2•15 No sentido mesiodistal, em virtude da conve- xidade da superfície na proximidade dos ângulos axiais, as paredes mesial e distal devem ser ligei- ramente divergentes para a superfície externa, de 378 forma a acompanhar a inclinação dos prismas e formar um ângulo reto com a superfície externa do dente. 15 Para melhorar a adaptação do material restaurador e o comportamento mecânico da res- tauração, as paredes devem ser planas, regulares e lisas. Forma de retenção Em virtude da expulsividade das paredes cir- cundantes, uma retenção adicional precisa ser preparada. Para tal, executa-se wn sulco ao longo de toda a extensão dos diedros oclusoaxial e gen- givoaxial, à custa das paredes oclusal e gengival, com a ponta troncocônica invertida curta 1031 ou a broca troncocônica invertida nº 33 Y.i, posiciona- da com o longo eixo perpendicular à parede axial, ou com um instrumento rotatório esférico diaman- tado 1011 ou broca Y.i, com uma profundidade de 1 O Prepares para Restaurações de Amálgama Fig. 10.19 - Inclinação da parede axial em cavidades pequenas e extensas no sentido mesiodistal. Fig. 10.20 - Inclinação das paredes gengiva l e oclusal dos preparos de Classe V. 0,25 mm, o que corresponde a Y2 ponta ativa do instrumento (Fig. 10.17K-N).2•4•14 O uso do instru- mento rotatório esférico é especialmente interes- sante nos molares superiores, uma vez que o acesso dificulta o posicionamento correto do instrumento conicoinvertido. 14 Para verificar a qualidade da re- tenção, traciona-se a ponta de uma sonda explo- radora posicionada na região do sulco, no sentido externo.14 Forma de conveniência No caso de cavidades extensas no sentido me- siodistal, a face vestibular do dente é convexa, sen- do que a parede axial do preparo também deve ser convexa (Fig. 10.19B).15 Dessa forma, também é considerada uma forma de conveniência, pois evita uma eventual exposição pulpar caso ela fosse rea- lizada numa linha reta (Fig. 6.50).4•14 No caso de ca- vidades estreitas mesiodistalmente, a parede axial em geral é plana (Fig. 10.19A). Remoção do tecido cariado Nessa etapa, qualquer remanescente de tecido cariado deve ser removido com uma broca esférica em baixa rotação, compatível com o tamanho da cavidade, ou uma cureta para dentina (Fig. 10.17H). As áreas socavadas dos remanescentes devem ser preenchidas por cimento de ionômero de vidro e a forma geométrica, concluída sobre o material (Fig. 10.171 e J). Caso essa base seja necessária, as re- tenções adicionais devem ser realizadas após sua colocação, de forma a evitar que elas sejam o obs- truídas pelo material de preenchimento. 379 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica Acabamento das paredes de esmalte Em virtude da expulsividade das paredes cir- cundantes, não devem restar prismas de esmalte sem suporte após o uso do instrumento rotatório. Limpeza da cavidade Realizada da mesma forma como descrito para as outras cavidades. Características finais da cavidade >- Paredes planas, regulares e lisas. >- Ângulos diedros de 1 • grupo arredondados. >- Ângulos diedros de 22 grupo nítidos. >- Parede axial convexa no sentido mesiodistal, acompanhando o contorno da face vestibu- lar ou lingual do dente nas cavidades gran- des, ou plana nas cavidades pequenas. >- Paredes circundantes expulsivas. >- Retenções adicionais nos diedros oclusoa- xial e gengivoaxial. Referências 1. Baratieri LN, Monteiro Junior S, Andrada MAC, Ritter A V, Cardoso AC. Odontologia rest auradora: fundamen- tos e possibilidades São Paulo: Ed. Santos; 2001. 2. Roberson T, Heymann H, Swift E. Sturdevant's a rt and sei- ence of operative dentistry. 5• ed. St. Louis: Mosby; 2006. 3. Garone Neto N, Carvalho RCR, Russo EMA, Sobral MAP, Luz MAC. Dentística Restauradora: Restaurações diretas. São Paulo: Ed. Santos; 2003. 4 . Simon WJ. Clinicai operative dentistry. Philadelphia: Saunders; 1956. 5. Gilmore HW, Lund MR. Operative Dentistry. St. Louis: Mosby; 1973. 6. Vale WA. Cavity preparation. Ir Dent Ver 1956;2:8. 7. Osbome JW, Summitt JB. Extension for prevention: is it relevant today? Am J Dent 1998;11(4):189-96. 8. Fichmann DM, Santos \V. Restaurações à amálgama. São Paulo: Sarvier; 1982. 9. Durand T. Marginal failure of amalgam class II restora- tions. J Dent Res 1977;56:5. 380 10. Rodda JC. Modern class 2 amalgam cavity preparations. N Z Dent J 1972;68(312):132-8. 11. Almquist TC, Cowan RD, Lambert RL. Conservative amalgam restorations. J Prosthet Dent 1973;29(5):524-8. 12. Crockett \VD, Shepard FE, Moon PC, Creal AF. Toe in- fluence of proximal retention grooves on the retention and resistance of class II preparations for amalgams. J Am Dent Assoe 1975;91(5):1053-6. 13. Mount GJ, Hume \VR. A revised classification of carious lesions by site and size. Quintessence lnt 1997;28{5):301- 3. 14. Mondelli J, Ishikiriama A, Galan Jr J, Navarro MFL. Den- tistica Operatória. São Paulo: Sarvier; 1976. 15. Howard \VW. Atlas of operative dentistry. 2• ed.St. Louis: Mosby; 1973. 16. Stratis S, Bryant R\V. Toe influence of modified cavity de- sign and finishing techniques on the clinicai performance ofamalgam restorations: a 2-year clinicai study. J Oral Re- habil 1998;25{ 4):269-78. 17. Baratieri LN. Dentística: Procedimentos preventivos e restauradores. São Paulo: Ed. Santos; 1993. 18. Alexander W E, McDonald RE, Stookey GK. Effect of stan- nous fluoride on recurrent caries-results after 24 months. J Dent Res 1973;52(5): 1147. 19. Mondelli J, Franco EB, Pereira JC, Ishikiriama A, Francis- 20. 21. 22. 23. 24. 25. chone CE, Mondelli RF, et ai. Dentística: Procedimentos Pré-clínicos. São Paulo: Ed. Santos; 2002. p. 265. Mertz-Fairhurst EJ, Curtis J\V, Jr., Ergle JW, Ruegge- berg FA, Adair SM. Ultraconservative and cariostatic sealed restorations: results at year 10. J Am Dent Assoe 1998;129(1):55-66. Quist V, Johannessen L, Brunor M. Progression of ap- proximal caries in relation to iatrogenic preparation dam- age. J Dent Res 1992;71:3. Browner FJ. Engineering principies applied to class II cavities. J Dent Res 1930;10:115. Elderton RJ. Toe prevalence of failure of restorations: a literature review. J Dent 1976;4{5):207-10. Boyde A, Knight PJ. Scanning electron microscope stud- ies of Class II cavity margins. Matrix band application. Br Dent J 1972;133(8):331-7. Roggenkamp CL, Cochran MA, Lund MR. Toe facial slot preparation: a nonocclusal option for Class 2 carious le- sions. Oper Dent 1982;7(3):102-6. 26. Mooney B. Operatoria Dental. Buenos Aires: Editorial Panamericana; 1995. 27. Ewoldsen N. Facial slot Class II restorations: a conservative technique revisited. J Can Dent Assoe 2003;69(1):25-8.
Compartilhar