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2 Panorama das Religiões e Religiosidades

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Prévia do material em texto

História das
Religiões no Brasil
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Edgar Silva Gomes
Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos
Panorama das Religiões e Religiosidades 
no Brasil Contemporâneo
• Introdução;
• O Brasil Também é (Neo) Pentecostal;
• A Persistência da Relação Religião-Política no Brasil.
 · Entender a diversidade religiosa do brasileiro e a persistência da 
relação Religião-Estado.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Panorama das Religiões e Religiosidades 
no Brasil Contemporâneo
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você 
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão 
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e 
de aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Panorama das Religiões e Religiosidades no Brasil Contemporâneo
Introdução
Nesta Unidade, nosso enfoque será abordar de forma sucinta a “oferta” religiosa 
no Brasil. Nosso estudo aqui será menos sobre a forma de como o brasileiro ex-
pressa sua religiosidade e mais como a “mistura”, entendendo esta mistura como 
uma polifonia salutar em torno do que o brasileiro tem para escolher no “mercado” 
religioso como forma de atingir o sagrado e a salvação de sua alma, sendo que a 
religião é um componente histórico que está arraigado na forma de ser do brasi-
leiro, pois até quando se diz ateu o brasileiro recorre a “deus” para expressar sua 
credulidade ou incredulidade em alguma ocorrência cotidiana.
Segundo Léa Freitas Perez, “[...] em nosso país, a primeira coisa que se costuma 
observar é que o brasileiro é profundamente religioso. Diz-se, mesmo, que Deus 
é brasileiro e que somos o maior país católico do mundo. Mas observa-se que 
nossa religiosidade é muito particular” (PEREZ, 2000, p. 40).1 É como se diz 
em um famoso ditado popular: o brasileiro ascende uma vela para deus e a outra 
para o diabo, entre outros ditados com que podemos mostrar esta “polivalência” 
do brasileiro ao manifestar sua religiosidade, ou seja, “o brasileiro não somente 
é profundamente religioso como também tem à sua disposição uma fantástica 
multiplicidade de crenças e práticas religiosas” (PEREZ, 2000, p. 40).
O brasileiro tem grande facilidade para se expressar e isto pode ter lhe dado 
alguma dianteira na disseminação de novas denominações religiosas cristãs, como, 
por exemplo, o budismo, bastante praticado no país. Mas, voltando para nosso foco, 
a religião é parte integrante da vida do brasileiro, que a todo momento tenta buscar 
novas formas de suprir suas “necessidades” espirituais dentro de um “mercado 
religioso” ávido por “converter” almas para Cristo. E não estamos fazendo nenhum 
juízo de valor com este comentário, estamos apenas tentando dialogar sobre o fato 
religioso que pulsa nas veias do brasileiro de forma bastante rica e diversificada; se 
existem “falsos profetas” e ou “homens santos” com boas intenções em alargar a 
oferta de crenças, para quem crê, todos estes homens terão sua consciência julgada 
por Deus!
O cenário contemporâneo sobre a religião no Brasil e sua diversidade, de opções 
para os fiéis escolherem uma religião, ou mais de uma, dentre tantas, nos diz muito 
sobre a sociedade em que vivemos. De acordo com Perez, o caráter da nossa 
religiosidade profunda “é no sentido de qualificá-la: trata-se de uma religiosidade 
festiva e carnal, vivida mais teatralmente, pública e coletivamente, do que sentida 
na solidão do foro interior, no fundo de si mesmo” (PEREZ, 2000, p. 41). Outra 
questão é que é impossível “falar de religião em nosso país sem falar do próprio 
Brasil, de sua multiplicidade de modos de organização da experiência humana 
em sociedade. Esta diversidade de modos de organização está na base de nossa 
formação histórica” (PEREZ, 2000, p. 41).
1 Este texto foi publicado na Edição Especial Brasil 500 anos, junho de 2000. Belo Horizonte, Imprensa Oficial dos 
Poderes do Estado, pp. 40-58.
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9
Somos moldados por uma pluralidade de registros e de códigos de civilizações: o 
branco europeu, o negro africano e o nativo “índio”. Nossa economia colonial de 
início foi quase “feudal”, desenvolvendo-se uma formação agrária e pastoril, com 
pequena incidência mineradora, que lentamente se transforma em industrial, sem 
muito planejamento, ela foi mais resultado do acúmulo do excedente vindo dos 
barões do café, que não tiveram grandes preocupações com o desenvolvimento 
tecnológico. Somos uma sociedade guiada pelo catolicismo ibérico, que se en-
controu com as religiões dos povos autóctones e dos africanos, causando, assim, 
uma “miscigenação” religiosa onde inúmeros personagens contribuíram para seu 
desenvolvimento, como, por exemplo, os jesuíta, o senhor de engenho, o grande 
fazendeiro, o minerador, o gaúcho, o escravo negro, o índio, o mestiço, o caboclo, 
o doutor e o malandro, entre outros, e tudo isso dentro de um imenso território. É a 
partir desta polifonia que vamos comentar sobre algumas denominações religiosas 
cristãs e outras religiões no Brasil contemporâneo.
O Brasil Também é (Neo) Pentecostal
Segundo dados do Datafolha, o número de evangélicos no Brasil chega a 29% da 
população, enquanto que os católicos somam 50% dos que dizem crer em alguma 
confissão religiosa; ainda temos um número crescente e bastante considerável 
dos que se dizem sem religião, que é de 14% dos brasileiros acima de 16 anos. 
2Estes números não deveriam ser vistos como uma disputa de um campeonato de 
futebol e ou uma competição esportiva qualquer, mas, infelizmente, devido à falta 
de comprometimento de muitos fiéis com o verdadeiro chamado de Jesus para 
ser “servidor”, ainda teremos que nos conformar com as ignorâncias daqueles que 
enxergam na religião um refúgio para ostentar um símbolo qualquer de poder e 
não um chamado à vida, e como diz João, vida e vida em abundância para todos.
O importante aqui é saber que em nosso país cada vez mais as pessoas estão 
se abrindo para a prática religiosa sem vinculação com uma “placa” vistosa na 
frente de um prédio, uma grife para se ostentar egos pessoais, e com isso podemos 
contar com uma diversidade maior na hora de escolher um local onde se possa 
“adorar” a Deus. Temos as religiões cristãs crescendo exponencialmente desde o 
final do século XIX, quando houve a exclusão da oficialidade de uma religião de 
Estado no Brasil, abrindo, assim, o precedente para que se instalassem no país, 
de forma“oficial”, outras denominações religiosas e que outras religiões também 
pudessem se expressar sem nenhum tipo de perseguição por parte do governo e 
do catolicismo, apesar de na prática as perseguições a religiões não terem cessado, 
em especial contra as religiões afro-brasileiras. As demais religiões foram sendo 
cada vez mais toleradas.
2 DATAFOLHA INSTITUTO DE PESQUISAS. 44% dos evangélicos são ex-católicos. Disponível em: <https://bit.
ly/2uEgL7r>. Acesso em: 20 jun. 2018.
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UNIDADE Panorama das Religiões e Religiosidades no Brasil Contemporâneo
Três em cada dez (29%) brasileiros com 16 anos ou mais atualmente são evangélicos, dividindo-se 
entre aqueles que podem ser classificados como evangélicos pentecostais (22%), em maior número e 
frequentadores de igrejas como Assembleia de Deus, Universal do Reino de Deus, Congregação Cristã e 
Quadrangular do Reino de Deus, e 7%, como evangélicos não pentecostais, pertencentes a igrejas como 
Batista, Presbiteriana e Metodista, entre outras. Esse segmento evangélico fica abaixo do formado por 
católicos (50%), e ainda há 14% sem religião, 2% de espíritas, kardecistas e espiritualistas, 1% de 
umbandistas, 1% de praticantes do candomblé, 1% de ateus e 2% de outras religiões. Desde a década 
de 90, quando o Datafolha iniciou sua série histórica de consultas sobre o tema, esse quadro tem se 
alterado, com a diminuição na diferença dos índices de católicos e evangélicos e, mais recentemente, 
o aumento no número de brasileiros sem religião.
Fonte: DATAFOLHA INSTITUTO DE PESQUISAS. 44% dos evangélicos são ex-católicos. Disponível em: <https://bit.ly/2uEgL7r>. Acesso em: 20 jun. 2018.
Nossa gênese pentecostal
O berço do pentecostalismo é os Estados Unidos e vem mais especificamente 
da cidade de Los Angeles, Califórnia; os protestantes desse seguimento ficaram 
conhecidos no Brasil vulgarmente como “crentes”. Nos Estados Unidos, os pente-
costais surgiram no ano de 1906 com o início de um “movimento de santidade”. 
Segundo Ingo Wulfhorst, “esse movimento, fortemente influenciado pelo conceito 
de Wesley acerca da perfeição humana, acentuava que se deve diferenciar a san-
tidade da justificação e que a santidade é uma segunda obra da graça de Deus” 
(WULFHORST, 1995, p. 20).
Uma das expressões mais fortes deste grupo que se inicia nos Estados Unidos e 
se concentrava na Escola Bíblica de Topeka era o “falar em línguas” e a justificativa 
para falar em línguas se dava na crença de que este era um sinal do “Batismo do 
Espírito Santo”. Um pregador afrodescendente chamado William J. Seymour foi o 
grande divulgador desta nova forma de expressar a fé cristã, baseado nas escrituras 
sagradas (Atos 2,4); ao pregar na igreja negra da evangelista Nelly Terry, Seymour 
sustentava que além da “justificação e santificação” haveria uma terceira benção 
concedida por Deus, o “Batismo no Espírito Santo”. 
Seymour foi expulso da igreja, mas não desistiu de propagar esta ideia e passou 
a realizar reuniões de oração na “Rua Azuza, n. 312”. Neste local, segundo consta, 
um menino negro de apenas 6 anos de idade falou em línguas e foi seguido por 
outros membros do grupo de orações. Desta forma se firmava o pentecostalismo, 
expressão de fé vinculada fortemente aos negros americanos, mas que também 
acolheu os brancos. Porém, inicialmente, o movimento pentecostal se vinculava à 
luta dos negros contra a dominação e opressão econômica imposta pelos brancos 
americanos. As canções de libertação negra tinham a força cultural do afrodescen-
dente e ficaram conhecidas como “negro spirituals”, tidas como verdadeira reve-
lação divina, isto fez com que os americanos brancos ligados ao pentecostalismo 
fossem se separando deste movimento no ano de 1908.
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O Pentecostalismo brasileiro deriva da vertente branca norte-americana, pois 
para os pentecostais negros Cristo era um Cristo negro dos pobres e oprimidos, 
também em sua dimensão política; os pentecostais brancos se limitaram à 
experiência religiosa unicamente voltada para o sagrado, separando a prática 
religiosa da missão sociopolítica (WULFHORST, 1995, p. 8). E nossa vertente 
pentecostal se liga mais estreitamente ao pastor Batista William Howard Durham, 
da cidade de Chicago. O Pastor Durham, presente em uma reunião realizada por 
Seymour, também falou em línguas e leva a “novidade” para sua igreja em Chicago. 
Segundo Wulfhorst, “ele ressaltava que a justificação já é o início da santificação 
e que, por conseguinte, o Batismo do Espírito Santo seria a segunda bênção” 
(WULFHORST, 1995, p. 8). No Brasil, o pentecostalismo derivado da experiência 
de Durham estará presente em três denominações religiosas brasileiras de viés 
pentecostal: na Igreja do Evangelho Quadrangular, na Assembleia de Deu e na 
Congregação Cristã do Brasil.
As igrejas precursoras do pentecostalismo no Brasil
O termo grego pentecostes, de onde se origina a palavra pentecostal, a que nos 
referimos aqui, tem sua origem na celebração judaica conhecida como “Festa das 
semanas” ou “Pentecostes”; para os cristãos é o evento da descida do “Espírito 
Santo” sobre os apóstolos de Cristo, conforme descreve o livro dos Atos dos 
Apóstolos em seu capítulo 2. Originalmente, o Brasil começa a expandir esta fé 
renovada a partir do norte do país na primeira década do século XX. Com o passar 
do tempo, o pentecostalismo no Brasil foi se reformulado por dentro, ou seja, 
surgiram novas formas de viver a fé renovada do início do século, que adquiriu 
novas formas organizacionais com diferentes “entendimentos” teológicos, ou seja, 
novas interpretações foram sendo dadas pelos seus seguidores. Vejamos a história 
de algumas dessas igrejas que estão por toda parte levando a “Boa Nova”.
Igreja Assembleia de Deus
No ano de 1910, os missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren 
chegaram ao Brasil para missionar e depois de algum tempo fundaram o que 
seria a Igreja Assembleia de Deus, depois de terem deixado seu país de origem, a 
Suécia, que passava por uma séria crise econômica no início do século XX, mais 
especificamente no ano de 1902, que os fez migrar para os Estados Unidos, e 
como todo migrante, eles, batistas de formação, foram atrás de trabalho e melhores 
condições de vida. Chegando aos Estados Unidos, Daniel teve contato com a Igreja 
de Chicago, comandada por Durham, e se converteu ao pentecostalismo, enquanto 
que Vingren foi estudar por quatro anos em um seminário batista sueco na cidade 
de Chicago. Segundo a história, no ano de 1909, Vingren recebeu o “Batismo 
pelo Espírito Santo”.
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UNIDADE Panorama das Religiões e Religiosidades no Brasil Contemporâneo
Naquele tempo, um frequentador dos cultos de Durham entrou em contato 
com Daniel Berg e Gunnar Vingren para lhes contar que teve “uma visão celestial 
na qual aparecia a palavra “Para”. Crendo que essa visão seria o chamado para 
a missão, foram consultar o mapa-múndi e encontraram no mapa do Brasil o 
estado do Pará” (WULFHORST, 1995, p. 8). Os missionários suecos acreditaram 
que este seria de fato um chamado divino para missionar no local indicado pelo 
sonho do irmão. A dupla conseguiu o financiamento necessário para se deslocar 
até a cidade de Belém do Pará, onde chegaram no ano de 1910. Os missionários, 
assim que chegaram ao Pará, foram procurar o pastor da Igreja Batista local. “Não 
demorou muito e já dirigiam reuniões de oração e de estudo, nas quais ressaltavam 
o Batismo no Espírito Santo, o falar em línguas e a cura. O pastor batista reagiu 
de forma contrária a essas ideias e o conflito resultou numa cisão” (WULFHORST, 
1995, p. 8).
Um grupo de vinte pessoas, contando com os dois missionários suecos, fundou 
no ano de 1911 a primeira Igreja Assembleia de Deus na cidade de Belém. Aos 
poucos a Igreja foi sendo disseminada pelo Nordeste do país, porém demorou 
dezesseis anos para atingir a região sul do Brasil, chegando à cidade de São Paulo 
no ano de 1927. Segundo Ingo Wulfhorst, nos Estados Unidos “[...] as Assembleias 
de Deus aos poucos foram alcançandocamadas sociais mais elevadas. Entretanto, 
a composição de seu quadro de membros continuava se caracterizando pelas 
camadas mais populares das cidades e da área rural” (WULFHORST, 1995, p. 
8). No Brasil, a Assembleia de Deus conseguiu penetrar na massa operária urbana 
de baixa renda durante o processo de acentuada industrialização que ocorreu no 
país na década de 1950, que coincidiu com o que Wulfhorst chamou de “explosão 
pentecostal”.
Segundo a Associação evangélica Brasileira, a Assembleia de Deus passou de 
quinze mil membros da década de 1930 para cerca de treze milhões de fiéis no 
final do século XX. Segundo Wulfhorst,
Não há dúvida de que a Assembleia de Deus cresceu na medida do 
crescimento da pobreza na periferia das cidades e do campo. As classes 
populares são atraídas pelo apoio e solidariedade, pela liberdade de 
expressão e manifestação religiosa nos cultos e outras reuniões e pelo 
acesso direto às lideranças. Mas a ascensão social e o acesso à instrução 
de alguns membros começaram a trazer conflitos entre os conservadores 
e aqueles que desejavam mudanças nos costumes tradicionais pentecostais 
de não assistir a TV, rádio e cinema, p. ex., e de proibir vestimenta 
feminina com características masculinas ou indecorosa. (WULFHORST, 
1995, p. 9).
O grupo que vem predominando na Igreja, ou seja, os que procuram maior nível 
de instrução e inserção no contexto social da modernidade, levou a Assembleia 
de Deus a criar seu “Instituto Bíblico” e a fundar uma editora que tem diversas 
publicações religiosas, entre elas destacam-se revistas religiosas, livros e textos 
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teológicos, além de um semanário, o “Mensagem de Paz”. O Instituto Bíblico 
começou a sistematizar sua teologia centrada na conversão pessoal.
A organização nas Assembleias de Deus se dá através de uma Convenção Nacional, 
mas as igrejas locais gozam de grande autonomia, há também ministérios regionais 
“semiautônomos”, que fazem lembrar a organização das igrejas presbiterianas. 
O ponto a ser destacado é que os obreiros fazem parte do povo e dele não se 
distingue através de formação de classes, os obreiros não se apartam de suas 
ovelhas - um exemplo disto se dá na igreja de São Leopoldo, onde “há somente um 
pastor que coordena o trabalho dos demais obreiros em 25 igrejas na cidade. Com 
isso eles continuam fazendo parte do povo, não havendo uma separação de classe 
entre povo e obreiros” (WULFHORST, 1995, p. 9), mas isto não isenta algumas 
alas da igreja de impor uma formação hierárquica onde o pastor seria o topo da 
pirâmide social da Assembleia.
Igreja Cristã do Brasil
Para Wulfhorst, o início da história da Congregação Cristã do Brasil tem o 
mesmo perfil da Assembleia de Deus, e sua gênese se dá com a migração do 
operário italiano Luigi Francescon para os Estados Unidos no ano de 1907, devido 
às dificuldades financeiras em que se encontrava em sua terra natal. Francescon 
chegou a Chicago e buscou se congregar na igreja Presbiteriana Italiana local, mas 
ao assistir um culto na igreja de Durham diz ter recebido o batismo no Espírito Santo 
e logo falou em línguas. Outra semelhança que podemos observar em relação aos 
missionários suecos Berg e Vingren foi que segundo o relato do italiano, ele teve 
uma visão para levar a palavra de Deus para a América do Sul.
Francescon seguiu então para Buenos Aires, na Argentina, depois foi para 
o estado do Paraná e, finalmente chegou à cidade de São Paulo, instalando-se 
no bairro do Brás, onde temos um grande contingente de imigrantes italianos.
O pregador italiano chegou em um contexto marcado por grandes transformações 
sociais, os movimentos operários estavam começando a se insurgir contra a 
opressão dos industriais, fazendo emergir greves por melhores condições de vida 
dessa classe de trabalhadores. Era o ano de 1909 e Francescon foi pregar em uma 
igreja Presbiteriana. Porém, assim como aconteceu com os missionários suecos em 
Belém, a pregação do italiano causou um racha na igreja e dela surgiu no ano de 
1910 a “Congregação Cristã”.
O que difere Francescon dos missionários suecos Berg e Vingren é que o 
italiano não era missionário e nunca foi sustentado por uma missão estrangeira, 
ou seja, segundo Wulfhorst, “[...] essa Igreja pode ser considerada a primeira 
Igreja Pentecostal brasileira. Além disso, a Congregação só manteve os cultos em 
língua italiana durante duas décadas, passando então definitivamente para a língua 
nacional” (WULFHORST, 1995, p. 9). Outro dado interessante é que na década de 
1950 houve a conversão de um grande número de nordestinos para a Congregação 
Cristã e mais tarde, estes nordestinos convertidos passariam a ocupar o lugar dos 
13
UNIDADE Panorama das Religiões e Religiosidades no Brasil Contemporâneo
imigrantes italianos e de seus descendentes no bairro do Brás, isto fez com que o 
número de fiéis aumentasse muito a partir da adesão “nordestina”. Houve uma 
grande expansão desta igreja para outros estados brasileiros e para outros países.
Não se sabe exatamente o número de fiéis que frequentam a igreja Congregação 
Cristã por causa de se apegarem a uma determinação “veterotestamentária”, que 
proíbe contar “o povo de Deus”, porém estimativas não oficiais dão conta de que o 
número de seus adeptos gire em torno de um milhão de membros. A Congregação 
Cristã acredita na doutrina da predestinação e isto se deve a seu fundador, que 
era presbiteriano. “[...] Essa doutrina serve para a Igreja explicar por que alguns 
membros batizados na Congregação saem da mesma, pois afirma que só os “eleitos”, 
os “verdadeiramente chamados” permanecem na Igreja” (WULFHORST, 1995, p. 
9). É também por causa da crença na predestinação que a igreja Congregação 
Cristã não faz evangelização e também não apela à conversão, no batismo também 
não se formulam perguntas ao batizando.
Os membros da Congregação Cristã são em sua maioria provenientes da classe 
pobre trabalhadora, apesar de haver uma boa parcela de seus fiéis no estrato médio 
da população; seus fiéis acreditam na ascensão social como prêmio da obediência 
a Deus, e este é um dos elementos mais importantes da tradição calvinista. Um 
ponto a se ressaltar é a solidariedade existente entre os membros desta comunidade 
de fé. A unidade de fé, ou seja, a uniformidade doutrinária na Congregação Cristã, 
“é mantida pela assembleia anual dos obreiros na grande sede no Bairro do Brás. 
A Congregação publica apenas o relatório anual e nada mais. Não publica nem 
recomenda literatura religiosa” (WULFHORST, 1995, p. 10).
Na Congregação Cristã, os seus membros não estão submetidos a nenhuma 
disciplina rígida, a exceção se dá quando é descoberto algum caso de adultério 
entre seus membros, pois isso é passível de expulsão da comunidade de fé; outro 
ponto que distingue a Congregação de outras igrejas pentecostais é o seu culto 
muito bem ordenado.
Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil
Segundo Wulfhorst, uma jovem canadense filiada ao metodismo, chamada 
Aimée Semple McPherson, converteu-se em 1907 ao pentecostalismo depois de 
ouvir a pregação de um missionário pentecostal. O lema da Igreja do Evangelho 
Quadrangular fica gravado em todos os seus templos: “Jesus salva”, “Jesus batiza 
no Espírito Santo”, “Jesus cura”, “Jesus volta”, são estes os quatro pilares da 
doutrina da Igreja do Evangelho Quadrangular. Segundo sua fundadora, ela teve a 
visão desses quatro ministérios de Cristo durante uma pregação em um tabernáculo 
no ano de 1922, na cidade de Oakland, nos Estados Unidos.
Aimée teve uma experiência da cura divina na Igreja de Durham, e com isso 
a ênfase na pregação da cura divina faz parte da característica desta Igreja. Sua 
fundadora foi como missionária para a China e posteriormente retornou a Los 
Angeles, quando fundou naquela cidade a Igreja do Evangelho Quadrangular. 
14
15
A história desta igreja começa no Brasil através da pregação de Harold Williams, 
com a ajuda do pregador de cura divina Raymond Bootright, os dois realizaram uma 
intensacampanha missionária debaixo de tendas de lona de circo espalhadas por 
todo o Brasil. Esta cruzada era denominada “Cruzada Nacional de Evangelização” 
e, como não poderia deixar de ser, a ênfase na pregação era a cura divina.
No início de sua caminhada à institucionalização, chegaram os missionários da 
Igreja do Evangelho Quadrangular na cidade de Santo Ângelo. Falavam contra 
a existência de templos de igrejas cristãs, pois Deus não morava em templos, e 
sim no coração das pessoas. Falavam também contra a formação de pastores e 
missionários, bem como contra a institucionalização das igrejas; na “sua forma 
“liberal” de vestir-se os membros desta Igreja se assemelham às igrejas tradicionais, 
em contraste com as normas rígidas de vestir-se na maioria das igrejas pentecostais” 
(WULFHORST, 1995, p. 11).
Com o crescimento institucional, a Igreja do Evangelho Quadrangular foi perdendo 
seu ímpeto pessoal e tornou-se uma Igreja institucionalizada como as demais. Ela 
ainda é bastante dependente de recursos financeiros e de suas lideranças dos 
Estados Unidos, isso talvez esteja relacionado ao estrato social médio da sociedade 
com que esta Igreja se relaciona e que não abrange todas as camadas populares. 
Segundo Wulfhorst, administrativamente, esta Igreja está subdividida em regiões e 
distritos, a exemplo da Igreja Metodista, e é importante observar a constatação que 
faz Antônio G. Mendonça, para quem “a Cruzada Nacional de Evangelização da 
Igreja do Evangelho Quadrangular foi o rastilho de pólvora da explosão pentecostal 
no Brasil”.
A Persistência da Relação
Religião-Política no Brasil
Neste tópico, vamos abordar alguns pontos importantes, e sem fazer juízo de 
valor, mas baseados em estudos de sociólogos como Francisco Rolim e no artigo 
base desta unidade, escrito por Ingo Wulfhorst, onde se coloca a respeito da fé 
“comercial”, quando a ênfase passa a ser “o que posso receber” de Deus e não no 
seguimento apostólico e missionário que leva a “Boa Nova” para os quatro cantos 
do mundo sem pedir nada em troca. Também vamos abordar de forma sucinta 
a gênese republicana das alianças entre religião e política dentro do catolicismo 
e mais adiante a mesma prática realizada por outras confissões cristãs. Segundo 
Ingo Wulfhorst,
Alguns sociólogos e historiadores afirmam que o início dessa explosão 
pentecostal no Brasil se deu na década de 1940, associando-a ao início do 
processo de industrialização, com a migração e o crescimento dos centros 
urbanos, onde os pentecostais iriam evangelizar. Outros veem o início da 
explosão pentecostal a partir da década de 50. Seja como for, claro está 
que a pregação insistente e ampla da cura divina foi o rastilho para essa 
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UNIDADE Panorama das Religiões e Religiosidades no Brasil Contemporâneo
explosão, pois pastores e outras lideranças tanto de igrejas evangélicas 
tradicionais quanto de pentecostais, bem como lideranças de missões 
estrangeiras, foram envolvidas pela pregação da cura divina, surgindo 
cisões e fundações de inumeráveis igrejas pentecostais. (WULFHORST, 
1995, p. 11).
Para Wulfhorst, “Quem vem à procura de cura e da bênção não vem com a 
intenção de filiar-se à Igreja. Por isso a relação com a Igreja caracteriza-se como 
descompromissada”. Estudiosos classificam esta e muitas outras igrejas como 
agências de cura” (WULFHORST, 1995, p. 11). Segundo estes estudiosos, este é 
o contraponto que dá origem ao prefixo “neo” à frente de “pentecostais”, ou seja, 
neo como novo, onde esse novo se refere não apenas à forma de religiosidade, 
mas também à forma como a religião é “administrada” por esses novos grupos 
que estão surgindo em contraposição aos pentecostais tradicionais. Também 
podemos encontrar outras formas de designação dos estudiosos para estas igrejas, 
como, por exemplo, “pentecostalismo autônomo”, pois se formam congregações 
independentes e autônomas numa articulação maior para os novos grupos; “a cura 
é o objetivo final e não apenas um elemento no percurso da fé, como é o caso nas 
igrejas pentecostais tradicionais” (WULFHORST, 1995, p. 11).
Entre os estudiosos do tema, um “adjetivo” que ficou consagrado em seus 
estudos é o termo “agência de cura divina”, para designar a forma como estas 
novas igrejas foram sendo conduzidas por seus fundadores, ou seja, elas (as igrejas) 
passaram a ser um “empreendimento personalista”, bastante ligadas à imagem 
de seu fundador, como se este fosse o “dono da igreja”. Um exemplo dado por 
Wulfhorst é o da igreja “O Brasil para Cristo”. No caso da igreja pentecostal O Brasil 
para Cristo, o pedreiro pernambucano Manoel de Mello e Silva, ex-pastor da igreja 
pentecostal Assembleia de Deus, ao se desligar desta Congregação, “destacou-se 
por sua pregação direta, sem rodeios e de uma emoção contagiante para as massas 
populares [...] tomou-se pastor da Quadrangular e, como evangelista, foi com a sua 
tenda de pregação e de cura de lugar para lugar” (WULFHORST, 1995, p. 11).
A igreja Brasil para Cristo não é um caso original, pois baseou-se no movimento 
pentecostal chileno “Chile para Cristo”. Isso se deu após Mello sentir a crescente 
atração que despertava no público que o assistia em sua peregrinação, com isso se 
autointitulou “missionário” para fundar sua igreja no ano de 1950. Em sua igreja, 
Manoel de Mello inseriu vários elementos que constituíam suas antigas “casas”, a 
Assembleia e a Quadrangular, como, por exemplo, “a bênção e a unção de óleo 
para enfermos, a oração coletiva espontânea e os depoimentos pessoais”, porém 
Wulfhorst observa que um elemento pentecostal que não é acentuado por Manoel 
de Mello em sua igreja é o “falar em línguas” ou “glossolalia”, bastante presente nas 
denominações de cunho pentecostal, inclusive bastante acentuado nos movimentos 
carismáticos católicos.
A sede da igreja Brasil para Cristo foi por algumas décadas o maior templo evan-
gélico da América Latina. Construído no bairro da Lapa, na zona Oeste da capital 
paulista, chegou a ter capacidade de acomodação para quinze mil pessoas, além de 
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ter salas para cursos e estudos, assistência social e médica. Esta igreja foi a primeira 
igreja pentecostal genuinamente brasileira, pois foi gestada sem a influência direta 
de missionários estrangeiros.
O crescente envolvimento político
das igrejas pentecostais no Brasil
Pelo menos dois aspectos diferenciavam a igreja “Brasil para Cristo” das 
demais instituições. O primeiro aspecto foi a solicitação que Manoel de Mello fez 
à Confederação Evangélica do Brasil e ao Conselho Mundial de Igrejas para se 
tornar membro afiliado destas associações. Um segundo aspecto que o diferencia 
dos outros líderes das grandes denominações neopentecostais brasileiras foi seu 
envolvimento direto na política partidária, pois ele acreditava que o engajamento 
político deveria ser valorizado pelos “crentes”. Hoje isto está bastante natural, 
porém o ponto interessante é que a filiação de seus pastores, candidatos eleitos 
para o legislativo estadual e federal, se deu no partido de oposição à Ditadura 
Militar da época, o partido era o antigo MDB.
Uma atitude que Manoel de Mello tomou e pode ser bastante elogiada no 
aspecto político, e por que não dizer diplomático, foi o seu envolvimento na 
“celebração ecumênica-política na Catedral da Sé que lembrou a morte de Vladimir 
Herzog nas mãos da ditadura militar. Mas em 1982 fez campanha aberta para o 
PDS e procurou eleger o seu filho vereador de São Paulo pelo mesmo partido” 
(WULFHORST, 1995, p. 12). Como vemos, a oposição que Mello fazia à Ditadura 
Militar não durou muito. Apesar de já estar no período da abertura política, que 
durou até o ano de 1985, o presidente do Brasil ainda foi eleito de forma indireta, 
mas os cargos legislativos tinham um verniz “democrático” e a campanha política 
para eleger seu filho se deu através dos cultos e programas de rádio. Apesar do 
grande número de seguidores, seu filho não foi eleito, o que demonstra que muitos 
fiéis não “misturam” fé e política. Seus fiéisainda hoje são predominantemente 
pessoas pobres da periferia das cidades. Seu sucessor no comando da igreja é o 
filho Paulo Lutero de Mello.
Entre as denominações neopentecostais de forte apelo popular e que cresceram 
bastante na esteira da primeira igreja pentecostal genuinamente brasileira, como 
dissemos acima, que foi a igreja “O Brasil para Cristo”, são as igrejas “Deus é 
Amor”, do cunhado de Manoel de Mello, o missionário, Davi Miranda; e a Universal 
do Reino de Deus, hoje uma das maiores igrejas do país, fundada pelo pastor Edir 
Bezerra Macedo, assim definida por Wulfhorst:
Igreja Universal do Reino de Deus - Hoje o exemplo mais atual e conhecido 
de uma Igreja como “empresa de cura divina” centrada no seu fundador, 
que é considerado “dono” da Igreja, é a de Edir Bezerra Macedo. Ex-
-funcionário da Loteria Esportiva do Rio de Janeiro, era católico e 
umbandista. Um amigo seu relatou, numa entrevista na TV, que em 1977 
foi convidado por Edir para fundar uma religião a fim de ganhar muito 
dinheiro. O amigo disse que não aceitou o convite. Mas Edir não desistiu 
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UNIDADE Panorama das Religiões e Religiosidades no Brasil Contemporâneo
e, no mesmo ano ainda, fundou a Igreja Universal do Reino de Deus 
num salão onde funcionava uma funerária no Rio de Janeiro. Começou 
a alugar salas, salões, oficinas e cinemas, propagando rapidamente a 
sua Igreja pelo Brasil afora [...] Edir auto intitula-se pastor e, desde que 
levou a Igreja para os Estados Unidos, também se auto intitula bispo. 
(WULFHORST, 1995, p. 13).
A característica mais marcante da pregação da IURD é sua cruzada contra 
as religiões afro-brasileiras, estigmatizadas pelo líder desta congregação como 
religiões demoníacas, como se sua congregação tivesse um salvo conduto para 
salvação apenas das almas que estão sob seu “comando”. É como se todas as 
divindades cultuadas nas religiões afro-brasileiras fossem “orixás demônios” que 
causam todos os males e sofrimentos, desde os males materiais, como doenças, 
desemprego, pobreza e fome, até os espirituais, com sofrimentos relacionados ao 
relacionamento interpessoal, matrimonial e familiar. Nos vários cultos cotidianos, 
boa parte é dedicada a “expulsar os demônios” das pessoas, seus pastores fazem 
exorcismos na tentativa de acabar com a macumbaria. “Qualquer pessoa que venha 
procurar ajuda na Igreja deve ser exorcizada, sem refletir ou dialogar [...] O homem 
gago foi para a Universal para ser curado. O pastor imediatamente lhe ordenou: 
“Ajoelha, pois você está com o demônio. Vou tirá-lo” (WULFHORST, 1995, p. 13).
A Igreja Universal do Reino de Deus tem uma pregação de longo alcance 
internacional e chegou com seus templos à África, Europa e América do Norte. 
O seu jornal “Folha Universal” apresenta uma série de matérias sobre política 
e cotidiano, além, é claro, de tratar de religião. Seu envolvimento na política é 
bastante forte e conseguiu eleger recentemente o prefeito da cidade do Rio de 
Janeiro, pelo PRB, partido ligado visceralmente à igreja de Edir Macedo, além, 
é claro, de eleger inúmeros candidatos aos legislativos estaduais e federal. Um 
fato marcante na política foi a campanha do bispo Macedo contra a eleição do 
ex-presidente Lula no ano de 1994, a pregação-comício da Igreja Universal do 
Reino de Deus. “Nesse encontro, chamado de ‘O Clamor da Nação’, Edir Macedo 
ressaltou que as eleições presidenciais seriam uma disputa entre os candidatos de 
Deus e do diabo, referindo-se indiretamente a Lula” (WULFHORST, 1995, p. 15).
E o Espírito Santo veio para todos: Igreja Cristã Nova Vida
Uma igreja neopentecostal que destoa do público preferencial das igrejas citadas 
acima, ou seja, que tem seu foco direcionado para as pessoas mais “abastadas” da 
sociedade, é a “Igreja Cristã da Nova Vida”, fundada pelo pastor estadunidense 
Robert McAlister, que foi inicialmente pregador nas igrejas Assembleia de Deus e 
Quadrangular. O pregador Robert McAlister, no final da década de 1950, circulava 
em São Paulo pregando e dando bênçãos numa barraca de lona, característica da 
igreja Quadrangular da qual fez parte, teve também um programa de rádio. “O seu 
programa radiofônico diário em São Paulo lhe daria o último empurrão para fundar 
a sua Igreja em 1960, pois o número de simpatizantes e adeptos ia crescendo dia 
após dia em torno do seu programa de rádio” (WULFHORST, 1995, p. 15).
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A igreja fundada pelo “bispo Roberto” alugou um 
auditório para suas pregações na ABI (Associação Bra-
sileira de Imprensa), mas logo iniciou a construção de 
sua sede própria com recursos oriundos do exterior e 
de fiéis que acompanhavam suas pregações radiofônicas; 
sua igreja sede fica localizada no bairro de Botafogo, na 
cidade do Rio de Janeiro. Segundo Wulfhorst, o templo 
da igreja Cristã da Nova Vida destoa dos demais por ter 
um salão com extensa galeria com poltronas estofadas e 
ar con dicionado, onde o intuito de seu fundador é atrair 
um público alvo das camadas média alta e alta da sociedade, com a justificativa de 
que “o Espírito Santo foi enviado para todos”. Outro dado interessante é o de que 
suas pregações e gestos são mais comedidos, sem as explosões espontâneas de pa-
lavras e gestos que podem ser facilmente encontrados nas igrejas pentecostais que 
atraem um público mais pobre e de zonas periféricas das cidades brasileiras, porém 
“sempre há espaço para orações espontâneas, repetidas em alta voz pelos fiéis”.
Catolicismo e política no Brasil republicano
Já vimos em outras unidades desta disciplina que o catolicismo chegou ao Brasil 
como um braço político do estado português e sua relação com o poder de estado 
estava firmada por meio da aliança elaborada pelos papas católicos e os monarcas 
portugueses através do “Padroado Régio”. Foi apenas com a separação do Estado 
e da Igreja no Brasil através do Decreto 119-A de 7 de janeiro de 1890 que pelo 
menos oficialmente o Estado deixou de manter relações políticas e econômicas 
com o catolicismo, mas sabemos que não se desfaz uma aliança como esta através 
de decretos e leis, pois na prática as coisas não mudaram muito.
Havia forte ingerência da igreja nos assuntos de estado, até porque o governo 
dependia da igreja para manter alguns serviços de seu interesse funcionando como 
antes da lei de separação. Entre os serviços prestados pela igreja antes da separação 
e que continuaram sendo oferecidos pelas Ordens Religiosas e até mesmo pelo clero 
secular, podemos citar a educação, os serviços hospitalares e o assistencialismo aos 
pobres e desvalido. A elite brasileira também continuou sendo favorecida por esta 
ligação com a igreja Católica.
[...] As relações institucionais estavam tão arraigadas que fica difícil separar 
por decreto algo que faz parte da ‘cultura’ de um povo, mesmo as relações 
de poder [...] A Igreja Católica continuou mantendo naquele contexto 
alianças estratégicas, como, por exemplo, no campo educacional, 
onde as elites não conseguiram, de imediato, cumprir as prerrogativas 
constitucionais de um estado liberal e laico, até porque neste problema 
específico os prejudicados seriam os filhos da elite. Este é um aspecto 
negativo desta permanência, pois se tratou de um jogo de interesses 
particulares, foi mantida a conveniência da velha ordem. (GOMES, 2009, 
p. 205).
Figura 1
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UNIDADE Panorama das Religiões e Religiosidades no Brasil Contemporâneo
O catolicismo esteve e está envolvido na política desde sua chegada no Brasil. 
Durante toda a Primeira República, houve tentativas de se fundar um partido 
católico. “Nesse período, as tentativas de organização do Partido católico podem 
ser catalogadas em dois momentos significativos em que há uma concentração 
dos esforços dos católicos” (LUSTOSA, 1983, p. 12). O clero tentou dar força 
à ideia de um partido católico com receio de que a laicidade do estado pudesse 
se transformar em um jacobinismo à moda francesa, isto compreendeu os anos 
de 1890 a 1894; um segundo momento se dá entre os anos de 1909 e 1911, 
com uma articulaçãoque partiu do estado de Minas Gerais e que evolui para uma 
composição com viés suprapartidário.
Durante toda a Primeira República, houve algumas tentativas políticas para 
organizar os católicos em torno de uma pauta política e isso de dava com a 
fundação de Centros e Ligas Católicas. Após a década de 1930, outras tentativas 
frustradas de fundação de um partido católico surgiram. Na impossibilidade da 
criação do partido católico, surgiram outras articulações, principalmente entre o 
Cardeal Leme, bispo do Rio de Janeiro, e o intelectual católico Alceu de Amoroso 
Lima, pois “todos estavam entretanto convencidos da necessidade de formar a 
consciência política dos católicos no Brasil e de descobrir fórmulas práticas para 
a mobilização e canalização dos eleitores em favor dos postulados da Igreja” 
(LUSTOSA, 1983, p. 18).
As articulações para influenciar politicamente os brasileiros e intervir nos partidos 
políticos não param e atravessam todo o século XX. Segundo Scott Mainwaring, 
“no caso dos interesses da instituição, a noção do exercício de influência não é 
politicamente neutra. A influência da Igreja pode ser tanto uma questão de qual 
grupo ela escolhe [...] para favorecer, também de quanta influência ela exerce” 
(MAINWARING, 2004, p. 19). Durante a Ditadura Militar, o catolicismo esteve 
tanto do lado dos perseguidos políticos, denunciando os abusos dos ditadores 
através de bispos como D. Paulo Evaristo Arns, D. Helder Câmara e D. Pedro 
Casaldáliga, como de outro lado, dos bispos que faziam “vistas grossas” e até eram 
contra a atuação da igreja contra o estado de opressão do estado brasileiro, como 
o bispo de Diamantina (MG) D. Geraldo Proença Sigaud, que dizia combater o 
“comunismo” na igreja.
Este recuo até o final do século XIX para demonstrar a relação política que o 
catolicismo mantinha com o estado brasileiro é para demonstrar que em nosso país 
é “lugar comum” falar de religião e política, nascemos como nação sob a bandeira 
do cristianismo católico e permanecemos ainda hoje reféns da política partidária 
das religiões no Brasil. Existem dois pontos a se ressaltar nesta relação. O primeiro 
é “positivo” e diz respeito à liberdade de expressão que qualquer cidadão deve ter, 
inclusive os religiosos cristãos ou não. Mas a parte negativa desta relação e este 
seria o segundo aspecto da relação, porém de conotação negativa, é que toda 
religião tem seus dogmas e visões de mundo, mas cada religião deveria trabalhar 
suas visões de mundo em âmbito privado-institucional; a visão de mundo católica, 
protestante, espírita ou de qualquer outra religião não deve ser imposta a ninguém 
que não faça parte de seu círculo de crenças, pois o político aceita voto inclusive 
de ateus e, portanto, as leis devem atingir os interesses de todos os cidadãos e não 
interesses de grupos e instituições privadas.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
Religião e política se misturam?
Política e religião. Entrevista com Contardo Calligaris e Reinaldo Azevedo. Por 
Veja ponto com. Aqui entre nós. Religião e política se misturam? Publicado por 
Vejapontocom em 19 set. 2014.
https://youtu.be/HbK07KWhvY4
 Filmes
 Papa João XXIII - História Completa
The good pope. Papa João XXIII - história completa. Um filme de Ricky Tognazzi e Bob 
Hoskins. Publicado por Geovani Alves Apologética da Fé Católica em 12 mar. 2011.
A história de William Seymour e o avivamento da rua Azusa
Verdadeiro fundador da igreja pentecostal no mundo é o afro-americano William 
Seymour da rua Azusa. Publicado por Assembleia de Deus 1911 em 29 jul. 2017.
Martin Luther
Por Louis de Rochemont. Martinho Lutero, ano 1953: o primeiro filme clássico sobre 
a vida do reformador! Publicado por Deixe Deus falar em 02 mar. 2014.
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UNIDADE Panorama das Religiões e Religiosidades no Brasil Contemporâneo
Referências
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