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QUESTÕES SOBRE DIREITO AMBIENTAL Prof. Dr. Roberto Covolo Bortoli FATEC-SP DISCIPLINA: AMMA 2022 – 2º Sem AMMA 2º SEM 2022 P ág in a2 SOCIEDADE AMBIENTE DESENVOLVIMENTO AMMA 2º SEM 2022 P ág in a3 A grande Invocação: Do ponto de Luz na mente de Deus, flua Luz à mente dos homens. Que a Luz desça sobre a terra. Do ponto de Amor do coração de Deus. Flua Amor ao coração dos homens. Que Cristo retorne a terra. Do centro onde a vontade de Deus é conhecida, guie o propósito as pequenas vontades dos homens - O propósito que os Mestres conhecem e a que servem. Do centro que chamamos de raça dos homens, Realize-se o Plano de Amor e Luz, E possa ele selar a porta onde habita o mal. Que a Luz, o Amor e o Poder restabeleçam o Plano sobre a Terra. Os filhos dos homens são um, e eu sou um com eles. Eu quero amar, não odiar. Quero servir e não ser servido. Quero curar, não ferir. Que a dor traga a merecida recompensa de Luz e de Amor. Que a alma controle a forma externa da vida e tudo o que acontece, e traga à Luz o Amor que está na base de todos os eventos Que a visão e a intuição se manifestem. Que o futuro se revele. Que a união interior se evidencie e as divisões exteriores se dissolvam. Que o Amor prevaleça. Que todos os homens amem. E disse o Mestre: De que adianta o conhecimento se não o colocas em prática? AMMA 2º SEM 2022 P ág in a4 AMMA 2º SEM 2022 P ág in a5 Sumário ProVA .................................................................................................. 7 O CONCEITO DE LÍDER ................................................................. 8 OBJETIVOS E FUNÇÕES DE UM LÍDER ...................................... 8 A AUTOESTIMA E A CRÍTICA ...................................................... 9 CONCEITO DE AUTOESTIMA .................................................... 10 MATERIAL DE AULA PARA REFERÊNCIAS RÁPIDAS ..... 11 1. Globalização ................................................................................ 11 2. Conceito de globalização .......................................................... 11 3. Antecedentes históricos da globalização: Guerra fria ......... 12 5. Corrida Armamentista ............................................................... 13 6. Crises do Petróleo 1973 e 1980 .................................................. 14 7. Ronald Reagan e Margaret Tatcher e o Estado Interventor 14 8. Informática e telecomunicações ............................................... 14 9. Conceito de Globalização ......................................................... 15 10. Produção industrial em um mundo globalizado ................ 15 12. Importância do Direito ............................................................ 17 13. Aspectos do direito ................................................................... 19 14. Vida social e coercibilidade da norma .................................. 23 15. Ética ......................................................................................... 33 Exercícios de Ética ....................................................................... 36 AMMA 2º SEM 2022 P ág in a6 QUESTÕES SOBRE ÉTICA ........................................................ 42 ATIVIDADE MINERÁRIA E MEIO AMBIENTE ................... 45 BIBLIOGRAFIA ....................................................................... 942 AMMA 2º SEM 2022 P ág in a7 ProVA PROJETO DE VALORIZAÇÃO DO ALUNO Formando os líderes do amanhã Na formação dos líderes do futuro é importante ressaltar, que o bom andamento de uma carreira depende da autoestima, por vezes tão negligenciada pelas instituições de ensino. Todos e, principalmente os centros de formação, deveriam ter extremo cuidado com a autoestima dos alunos, pois é ela importante na gênese e desenvolvimento dos futuros profissionais e líderes. Entendo que a autoestima é um importante motor na busca de melhores condições de vida, de crescimento e de desenvolvimento da própria pessoa e, consequentemente do país e, indo mais além, da Civilização. Os ataques à nossa autoestima podem ocorrer por diversas formas. Veja, por exemplo, que no dia a dia, somos bombardeados por informações provenientes das propagandas comerciais, que podem, em alguns momentos, diminuir nossa autoestima. Se você verificar as propagandas veiculadas na televisão, como por exemplo, a de alguns grandes bancos, verá que o conceito de sucesso, não corresponde à realidade de vida de mais de 90% da população brasileira. Neste exemplo, a quantidade de bens de alto luxo, como casas e carros, vai determinar a diferença entre uma pessoa que tem sucesso de outra que não tem. Quando procuramos inserir esta imagem na realidade, verificamos que nosso país carece de habitações para maioria pobre da população e que esta mesma população sequer tem transporte decente até o local de trabalho. O que se dirá da segurança... Entendo que este conceito que a televisão passa, mostrando que o sucesso e a felicidade são alcançados com a posse de bens, cria na grande maioria da população sem recursos, um sentimento de impotência e de desacerto, que certamente reflete na autoestima. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a8 Interfere de forma negativa na construção de seus sonhos e nas metas do que pretende realizar nesta vida. Creio que embora não se trate de uma propaganda enganosa (o que é crime, segundo os arts. 37 e 66 do Código de Defesa do Consumidor), não deixa de passar uma noção falsa sobre a realidade, induzindo nas pessoas um sentimento de menos valia de si mesmo. Algumas pessoas na sociedade são mais suscetíveis às propagandas do que outras. Veja como exemplo as crianças, que segundo os especialistas em marketing, quanto mais cedo forem bombardeados com as mensagens da propaganda, mas rápido e mais fácil se tornarão consumidores fiéis . O CONCEITO DE LÍDER O líder, aqui em nosso contexto, pode ser qualquer um, qualquer um mesmo. Isso pode espantar você que está lendo, porque você tem a falsa noção que o líder é uma pessoa que já nasceu sabendo liderar, ou que tem qualidades especiais e raras. Mas isso não é bem assim. Como tudo na vida, a liderança se constrói, se desenvolve, se edifica e se aprimora. Parafraseando Hermógenes: “quando eu disse para a semente de laranja que dentro dela dormia um laranjal, ela me olhou estupidamente incrédula”. É claro, você é muito mais que uma semente de laranja, muito mais. Mas, em um ponto, talvez, você e a semente de laranja são semelhantes: você não acredita suficientemente em você mesmo, você não acredita que é um líder, ou que um dia possa ser um. O líder a que nos referimos é aquele que lidera pelo exemplo. Não lidera baseado em sua força, sua astúcia ou sua inteligência. Então, a primeira dica para se tornar um líder é trabalhar a si mesmo. É tentar melhorar a si mesmo, o tempo todo. OBJETIVOS E FUNÇÕES DE UM LÍDER Os futuros líderes têm que reconhecer a importância de alcançar seus objetivos e de entender suas funções. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a9 E esta tarefa de conhecer seus objetivos e a sua função, a meu ver, deve passar, necessariamente, pelo autoconhecimento. Seria incrível conhecer o objetivo do Universo, seria incrível conhecer a função do Universo. E, quando digo Universo estou me referindo a tudo: todas as galáxias e planetas e todos os sóis, tudo, tudo mesmo, cada partícula atômica e subatômica, cada aglomerado de galáxia e cada ser vivo, desde as amebas, até o ser humano e outros tantosseres que acredito existirem por aí no Universo. Isto para mim seria magnífico, talvez porque eu seja professor, talvez porque eu seja apaixonado pelas coisas ocultas enfim, pode ser um sonho muito particular meu, que de tão distante, diriam alguns, não é prático e não é necessário. Posso até concordar com quem pensa assim, afinal há uma liberdade de pensamento e uma liberdade de expressão e cada um é livre para ir à direção que quiser. Posso concordar, também, que não devemos nos preocupar com isso.... mas, vamos nos fazer mais claros. O Universo tem uma função e um objetivo. Não temos a compreensão desta função e deste objetivo, porque isto está além de nosso entendimento, muito além. Mas você foi concebido dentro deste Universo para realizar uma função e cumprir um objetivo, do qual você não pode abdicar. Cada um de nós, portanto, é importante para o Universo atingir seus designíos! As funções e objetivos dos líderes, no meu entender, é de possibilitar que cada um alcance seus próprios objetivos e realize suas funções, sempre, pensando aqui, em um nível mais alto e elevado de realizações, em um nível que seja benéfico à toda sociedade. E isso, como vimos, deve ocorrer pela liderança dada pelo exemplo. A AUTOESTIMA E A CRÍTICA Na educação alguns pensam que repetir as críticas de forma incessante e contundente, melhoram o comportamento do aluno e seu aprendizado. Isto não é verdade. Você não deve aceitar qualquer coisa de qualquer jeito na sua vida, isso nunca. E uma crítica incessante e contundente, muito menos. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a1 0 Na realidade, se isto ocorre, é porque você permite. Ninguém invade um espaço se ele está limitado por uma cerca, se não existe cerca, qualquer um se sente no direito de entrar. Esta cerca, neste caso, se chama autoestima. CONCEITO DE AUTOESTIMA Como enfrentar os desafios do nosso cotidiano? Como entender a vida? Como empreender nossa busca pela felicidade? Como responder as perguntas acima, respeitando os próprios interesses e as necessidades como um ser humano, digno de respeito e consideração? A boa autoestima nos coloca em uma situação de reconhecermos nossas competências e de nossos sentirmos dignos; se ela for ruim, você se sentirá desajustado e se for mais ou menos, ora você se sentirá certo ou errado, agindo ora bem, ora mal. De acordo com o Dicionário, autoestima é: “Apreço ou valorização que uma pessoa confere a si própria, permitindo-lhe ter confiança nos próprios atos e pensamentos”. Portanto, não caia na auto sabotagem e procure se conhecer. O que realmente sentimos e porque agimos de determinada maneira? Devemos examinar estas situações, sem desculpas e sem meias verdades, bem como, nossos desejos, nossos pensamentos e nossos dons e nossas habilidades. Enfrentar cada problema, como uma chance para melhorar, como uma forma de galgar um novo aprendizado e de ter um novo nível de consciência. Uma das melhores armas para você enfrentar a vida e seus problemas é a autoestima. Jamais entregue a sua autoestima a quem quer que seja e, sob qualquer motivo ou circunstância, nem ao menos de brincadeira. Saiba que: Você pode! Você é capaz! AMMA 2º SEM 2022 P ág in a1 1 MATERIAL DE AULA PARA REFERÊNCIAS RÁPIDAS 1. Globalização A globalização é um fenômeno importante, influente em todas as sociedades ao redor do globo, assim, significante verificar alguns aspectos desse fenômeno para que se possa levar adiante o estudo e compreensão do Direito. 2. Conceito de globalização Conceituar os termos que serão utilizados no nosso estudo é conveniente, pois, as informações devem ser passadas com precisão, de tal modo que as acessa tenha a exata noção da mensagem que está sendo transmitida, como se estivesse observando aquilo que está sendo descrito. A linguagem ambígua e imprecisa torna a mensagem pouco clara e confusa, dando margem a erros, conceitos dúbios, incompatíveis com a ciência do Direito. As descrições de objetos do mundo real são sempre mais simples de serem feitas, em comparação com o mundo imaterial do pensamento, por exemplo. Do mesmo modo, é difícil conceituar um fenômeno que está se desenvolvendo dentro da sociedade humana, pois a cada momento ele adquire uma nova faceta e se desenvolve, como um ser vivo, que passa por várias fases, distintas umas das outras. Conceituamos a globalização – por uma de suas facetas – como a busca, pelas empresas, de novos mercados para as vendas de seus produtos, livre circulação de mercadorias e dinheiro, no comércio internacional, facilitadas pela informática e telecomunicações. Desde quando existe a globalização? Desde a época das grandes navegações1, da expansão de Portugal 1 O período compreendido entre o final do século XV e início do século XVI, ficou conhecido como o período das grandes navegações européias em direção à Ásia e América. A Ordem de Cristo herdou os bens dos Templários portugueses e teve importância nos descobrimentos de novas terras. Isso explica porque as caravelas portuguesas tinham suas velas pintadas com a cruz templária. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a1 2 e Espanha, o homem procura novos mercados para vender seus produtos, utilizando a tecnologia como meio de alcançar novos modos de fabricação e de atingir novos espaços comerciais. Globalização, contudo, é um conceito cunhado nas escolas de marketing na década de 70, com significado de que o mercado a ser conquistado não é a de alguns países somente, mas de todo o globo. 3. Antecedentes históricos da globalização: Guerra fria A Guerra Fria, assim chamada a Era de 45 anos de enfrentamento, mantida pelos Estados Unidos da América - EUA com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS, nos campos político, econômico e militar está compreendida desde a explosão da primeira bomba atômica (1945) até o fim da URSS (1991). Essa era foi marcada pela expectativa muito real de início de uma guerra nuclear devastadora, que poria fim à humanidade, extinguindo a vida no planeta Terra. Essa política, mantida por essas duas superpotências, era denominada de MAD (=Mutually Assurred Destruction – Destruição Mútua Assegurada)2, ou seja, a possibilidade de destruição mútua inevitável impedia que um lado ou outro iniciasse a destruição total da civilização. Assim, buscou-se o equilíbrio de forças pela sua distribuição em zonas de influência através do mundo. Como exemplo famoso, temos a divisão da Alemanha em duas, por um Muro (1961): Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental. A situação continuou estável até a década de 70, quando o sistema internacional entrou em uma crise política e econômica. Antes desse período as duas superpotências procuravam resolver suas disputas de demarcação sem o choque aberto de suas forças armadas, acreditando que uma coexistência pacífica era possível em longo prazo. Confiava-se na moderação mútua quando se achavam oficialmente à beira da guerra ou já dentro dela. (A exemplo disso tivemos diversas guerras apoiadas indiretamente pelos EUA e URSS, 2Mad significa louco na língua inglesa. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a1 3 como na Guerra da Coréia de 1950-1953, a crise dos Mísseis Cubanos de 19623, a guerra do Vietnam de 1965-1975, a guerra do Yom Kipur de 1973 entre Israel de um lado e, Síria e Egito do outro). A preocupação dos dois lados era impedir que gestos belicosos (=guerreiros, militares) fossem interpretados como gestos efetivos para a guerra. Por outro lado, ocorria uma verdadeira guerra oculta travada pelos serviços secretos (CIA e KGB), inclusive com assassinatos clandestinos4. Criou-se um imenso complexo industrial militar, com crescimento cada vez maior de homens e recursos que viviam da preparação da guerra, exportando os excedentes de produção. AGuerra Fria estava baseada na crença da época de que o futuro do capitalismo5 mundial e da sociedade livre não estava de modo algum assegurado. 5. Corrida Armamentista EUA e URSS mantinham uma corrida armamentista buscando armas cada vez mais poderosas e precisas. Nesse passo, a URSS conseguiu fabricar a primeira bomba atômica quatro anos depois de Hiroxima (1945) e a primeira bomba de hidrogênio nove meses depois dos Estados Unidos (1953). Os EUA haviam decidido ganhar a Guerra Fria levando seu 3 Foi criada a “linha quente” que ligava diretamente a Casa Branca ao Kremlin, em 1963. 4 A respeito disso o filme Syriana - A Indústria do Petróleo trata desses de outros assuntos de forma interessante. 5 Capitalismo entendido aqui como o complexo social e político, além do agir econômico, ou modo de produção, baseado na propriedade privada dos meios de produção, com trabalho assalariado e livre; sistema de mercado baseado na livre iniciativa e na empresa privada e dos processos de racionalização diretos e indiretos de valorização do capital e a exploração das oportunidades de mercado para efeito de lucro in Bobbio, Norberto; Mateucci, Nicola; Pasquino, Gianfranco. Dicionário de Política, 5ª edição, Brasília: Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado: 2000, p. 141. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a1 4 antagonista à bancarrota e o regime de Leonid Brejnev6 começou um processo de autofalência, mergulhando num programa de armamentos que elevou os gastos com defesa numa taxa anual de 4% a 5% (em termos reais) durante vinte anos após 1964. Os dois, desde o início da corrida armamentista, podiam reduzir um ao outro a entulho. 6. Crises do Petróleo 1973 e 1980 A partir de 1973, a primeira crise do Petróleo, seguida da segunda, no início da década de 80, com a elevação dos preços do Barril de Petróleo pelos países produtores, afetaram as economias mundiais. 7. Ronald Reagan e Margaret Tatcher e o Estado Interventor Papéis importantes desempenharam o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan7 (1980-88) e a primeira ministra da Grã- Bretanha, Margaret Tatcher (1979-90). Foram dois governos de direita, comprometidos com uma forma de dominação dos mercados e total liberdade comercial, dando fim ao Estado Interventor, ao Estado do Bem Estar Social, ao capitalismo intervencionista patrocinado pelo Estado das décadas de 50 e 60, que de certa forma se assemelhava ao socialismo.8 8. Informática e telecomunicações Com o fim da guerra fria e a abertura econômica e a completa desregulamentação do mercado financeiro internacional, com os avanços da microinformática e das telecomunicações, formou-se um 6 Leonid Ilitch Brejnev, presidente da URSS entre 1977 e 1982, ano da sua morte. 7 Segundo uma frase atribuída a Ronald Reagan (1991-2004): Política é a segunda profissão mais antiga do mundo, muito semelhante à primeira, aliás. In Revista História Viva, agosto de 2004, p. 13. 8 Hobsbawm, Eric. Era dos extremos – O breve século XX 1914-1991. São Paulo: 2001, 2ª edição, p. 223-245. Segundo Kenichi Ohmae, em seu livroContinente Invisível, Rio de Janeiro: Campus, 2001, p. 35, a iniciativa comum dos dois, em iniciar a derrubada de barreiras e regulamentos das telecomunicações, finanças e transportes, irá acelerar o processo de globalização. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a1 5 gigantesco mercado único de dinheiro, com as praças interligadas em tempo real, funcionando 24 horas por dia, fazendo surgir a especulação financeira. Podemos dizer que a desregulamentação financeira se tornou um dos motores da globalização. 9. Conceito de Globalização O termo globalização foi cunhado nas escolas de administração e marketing dos EUA e logo foi adotado nos discursos políticos dos neoliberais9, indicando a liberalização dos mercados e a sua desregulamentação. Em 1990 chegam, ao público, às primeiras obras que fazem a defesa de um mundo sem fronteiras, com empresas sem nacionalidade, uma vez que divididas em unidades produtivas nos diversos países, voltadas para o mercado global, não mais para apenas alguns países. As grandes empresas, antes chamadas de multinacionais, porque participavam nos mercados de diversos países, passam a montar uma estratégia para atuar em todo globo. As atuações dessas empresas, portanto, passam a ser global. Produção, comercialização, gerenciamento são descentralizados em diversas praças ao redor do mundo. Dentro desse contexto as fronteiras dos países não fariam mais sentido, ainda mais se pensarmos na formação dos grandes blocos da União Europeia, Mercosul, etc.10 É inserido nesse panorama que o Direito será estudado. 10. Produção industrial em um mundo globalizado Em um mundo globalizado, procura se retirar, do local onde se instala algum empreendimento, as maiores vantagens possíveis. 9 Em resumida síntese, podemos entender o neoliberalismo, em um de seus sentidos, como a idéia de que o Estado não deve intervir na economia, a não ser naquelas funções que o mercado não se interessa. 10 Nesse sentido, já diziam os astronautas, que o que mais os surpreende quando estão no espaço e examinam a terra é que não existem fronteiras demarcando os territórios. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a1 6 O empreendimento é desestruturado em unidades que melhor aproveitam as vantagens locais. Desse modo, a produção se realizará onde a mão-de-obra é mais barata, a administração financeira se dará onde maiores facilidades existirem para guarda e aplicação dos recursos e a logística de comercialização se realizará onde a rede de transporte se encontra bem aparelhada, consolidada e desenvolvida. Isso resulta que as empresas recolham os impostos, quando o fazem, não em seus países de origem, mas em outros localidades, com maiores vantagens. Há, ao mesmo tempo, uma divisão internacional de mão-de-obra. O hemisfério norte, em grande parte, utiliza uma mão-de-obra mais qualificada, com produtos de maior e melhor tecnologia e alto valor agregado, enquanto o hemisfério, praticamente utiliza uma mão-de- obra pouco qualificada, produzindo mercadorias de baixo valor agregado11. 11. Noções gerais de Direito O Direito prescreve uma norma para o futuro: é o dever-ser. A elaboração da regra jurídica depende das necessidades da sociedade, que vão se modificando com o curso do tempo. Cada sociedade, portanto, tem seu Direito e, o que é permitido em nosso país pode ser proibido em outro e vice-versa. O Direito tem três elementos: sujeito, objeto e relação. Sujeito: pessoa física ou jurídica12. Objeto: bem ou vantagem determinada pela ordem jurídica em relação à pessoa. Relação: garantia dada pela ordem jurídica para proteger o sujeito de direito e o objeto. Um dos símbolos do direito é a balança com dois pratos colocados no mesmo nível, como o fiel (ponteiro) no meio, quando este 11 Valor agregado do produto ou do serviço representa o conjunto de valores adicionados ao seu preço, em função dos benefícios agregados por melhoria de qualidade. 12 Uma ficção jurídica, admitida pela legislação, dotadas de personalidade. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a1 7 existia, em posição perfeitamente vertical13. Os antigos gregos colocavam essa balança com dois pratos, mas sem o fiel no meio, na mão da deusa Diké (deusa da justiça, filha de Zeus, senhor dos céus, deus supremo da mitologia grega e de Themis, deusa da lei e da ordem, da justiça e protetora dos oprimidos), em cuja mão direita estava uma espada e que, estando em pé e de olhos bem abertos declarava solenemente existir o justo quando os pratos estavam em equilíbrio, ou íson, (de onde vem a palavra isonomia). Assim, para os antigos gregos, o justo (o direito) significar o que era visto com igualdade. O símbolo romano, entre as várias representaçõescorrespondia à deusa Iustitia, a qual distribuía a justiça por meio da balança, com os pratos e o fiel bem no meio, que ela segurava com as duas mãos. Ela permanecia de pé e tinha os olhos vendados e dizia o direito (jus) quando o fiel estava completamente vertical – direito (rectum, quer dizer perfeitamente reto, reto de cima a baixo = de + rectum). Os olhos abertos da deusa grega Diké apontavam uma concepção mais abstrata, especulativa e generalizadora, que precedia em importância o saber prático. Por outro lado, a deusa Iustitia dos romanos, mostram que a sua concepção do direito era mais de um saber-agir, de uma prudência, de um equilíbrio entre a abstração e o concreto. A espada da deusa grega demonstrava que os gregos aliavam o conhecer o direito à força para executá-lo (iudicare), enquanto para os romanos, bastava segurar a balança com as duas mãos, com uma atitude firme, para dizer o direito por meio do jurista. 12. Importância do Direito O Direito pode ser visto como a forma que a sociedade se organiza. Quando pensamos no Direito temos que entendê-lo em relação à sociedade e ao ambiente em que ela está inserida. Não é possível falar em Direito como algo isolado e absoluto, como algo que 13 Ferraz, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do Direito – técnica, decisão, dominação. São Paulo: Atlas, 1989, p. 33/35. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a1 8 existe fora de um contexto de existência de relações entre seres humanos. Todos os direitos estão voltados para os seres humanos, todos, são, portanto, por assim dizer, direitos humanos. Não é possível pensar em direitos, que não sejam humanos, nem quando falamos dos direitos dos animais ou do direito ambiental, porque mesmo esses ramos sempre levarão em conta as necessidades e anseios dos seres humanos. Os homens necessitam de regras para viver em sociedade. Conceituar o Direito não é uma tarefa simples. Essa é a missão da Filosofia do Direito. Nosso direito provém do direito romano. O direito romano é o complexo de normas vigentes em Roma, desde a sua lendária fundação no Século VIII a. C. até a codificação de Justiniano no século VI d. C.. Para os romanos, o direito era a arte do bom e do eqüitativo (do respeito à igualdade de direitos de cada um). Direito pode ser conceituado como o conjunto de regras e princípios, destinados a regular a vida humana em sociedade. O Direito está organizado em um conjunto, pois é composto de várias partes organizadas formando um sistema. Miguel Reale diz que o Direito é um conjunto de regras obrigatórias que garantem a convivência social, graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um dos membros da sociedade14. Podemos dizer que o Direito é um conjunto de regras obrigatórias que garante a convivência social, graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um dos membros da sociedade15. O objetivo do Direito é regular a vida humana em sociedade, visando à paz e a ordem social, atingindo, também as relações individuais. O Direito tem princípios próprios, como qualquer ciência, ainda que não seja exata, por exemplo: da legalidade, da boa-fé, da razoabilidade. É de uso corrente a expressão: o meu direito termina onde começa o 14 Reale, Miguel. Lições preliminares de direito. Editora Saraiva, São Paulo: 1984, 11ª edição, p.1/2. 15 Reale, Miguel. Idem. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a1 9 do outro. Pensamos que não é exatamente dessa maneira. Em realidade o meu direito não termina onde começa o do outro. Isto é uma visão extremamente individualista. Os direitos das pessoas se entrelaçam, formando direitos e obrigações recíprocas. O entrelaçamento é necessário para manter a sociedade. O tecido social deve estar coeso e deve ser mantido por uma fibra ética. Na visão de Tercio Sampaio Ferraz Junior: “...o Direito é um dos fenômenos mais notáveis da vida humana, compreendê-lo é compreender uma parte de nós mesmos. É saber em parte porque obedecemos, porque mandamos, porque nos indignamos, porque aspiramos mudar em nome de ideais, porque em nome de ideais conservamos as coisas como estão. Ser livre é estar no direito e, no entanto, o direito nos oprime e nos tira a liberdade. Por isso compreender o direito não é um empreendimento que se reduz facilmente a conceituações lógicas e racionalmente sistematizadas. O encontro com o direito é diversificado, às vezes conflitivo e incoerente, às vezes linear e conseqüente. Estudar o direito é assim uma atividade difícil, que exige não só acuidade, inteligência, preparo, mas também encantamento, intuição, espontaneidade. Para compreendê-lo é preciso, pois, saber e amar. Só o homem que sabe pode ter-lhe o domínio. Mas só quem o ama é capaz de dominá-lo rendendo-se a ele. Por tudo isso o direito é um Mistério, o mistério do princípio e do fim da sociabilidade humana. Suas raízes estão enterradas nessa força oculta que nos move a sentir remorso quando agimos indignamente e que se apodera de nós quando vemos alguém sofrer uma injustiça. Introduzir-se ao estudo do direito é, pois, entronizar-se num mundo fantástico de piedade e impiedade, de sublimação e perversão, pois o direito pode ser sentido como uma prática virtuosa que serve ao bom julgamento, mas também usado como instrumento para propósitos ocultos ou inconfessáveis.(...)16. 13. Aspectos do direito A palavra direito vem do latim directum e quer dizer aquilo que é conforme a regra. 16 Ferraz Junior, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito – técnica, decisão, dominação. São Paulo: Atlas:, 1989, p. 25. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a2 0 Há, no entanto, uma plurivalência semântica17 do vocábulo direito, que comporta numerosos conceitos: quando alguém repele a agressão ao seu direito de propriedade, dizemos que está defendendo seus direitos; quando o juiz resolve a controvérsia usando a norma ditada pelo poder público, dizemos que ele aplica o direito, quando o cidadão critica as leis em vigor em nome do ideal de justiça, está dizendo que essas leis se afastam do direito.18 O direito pode ser visto pelo ângulo interno, que é a prática jurídica, quanto pelo ângulo externo, que é o das modalidades por meio das quais, o direito se insere na vida social, política e econômica.19 Assim, é difícil encontrar uma forma sucinta que dê a noção de direito, independentemente de qualquer restrição, devido às suas características, entre as quais podemos citar a coercibilidade da norma e na sujeição, tanto do indivíduo, quanto do Estado, ao seu imperativo. Por outro lado, pode-se dizer que o direito é o princípio de adequação à vida social.20 O Direito, como ciência social que é, só pode ser imaginado em função do homem vivendo em sociedade. Não se pode conceber a vida social sem pressupor a existência de certo número de normas reguladora das relações entre os homens, julgadas, por estes mesmos, obrigatórias e que irão determinar, de um modo menos ou mais intenso, o comportamento do homem no grupo social21. Qualquer agrupamento humano, por mais rudimentar que seja seu estágio de desenvolvimento, possui um conjunto de normas, vistas pelos componentes como obrigatórias, disciplinado o comportamento de tais indivíduos e aplicando uma sanção no caso de 17 Semântica: estudo da mudança da significação das palavras no tempo e no espaço. 18 Pereira, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, vol I, Editora Forense, Rio de janeiro: 1990, p. 4/5. 19 Lafer, Celso. In apud Ferraz, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do Direito - técnica decisão, dominação, Editora Atlas, São Paulo: 1989, p. 17. 20 Pereira, Caio Mário da Silva. Idem. 21 Rodrigues, Silvio. Direito Civil – Parte Geral, vol I, Editora Saraiva, São Paulo: 1989, 20 ª edição, p. 1. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a2 1 descumprimento.22 Primeiros códigos de leisque temos conhecimento são os Códigos de Ur-Namu e o Código de Hamurabi. Assim, sob o ponto de vista das normas, o Direito é o conjunto de normas, ou regras de conduta. Nossa vida se desenvolve em um mundo de normas. Acreditamos ser livres, mas na realidade, estamos envoltos em uma rede muito espessa de regras de conduta, desde o nascimento até a morte, dirigindo nossas ações. Muitas dessas normas já se tornaram tão habituais que nem percebemos. O desenvolvimento do ser humano se dá pela atividade educadora dos pais, da escola, do trabalho e assim por diante. Isso se dá, guiado pelas regras de conduta, num contínuo processo educativo. Toda a nossa vida é repleta de normas umas mandam fazer, outras, proíbem fazer e ainda outras permitem fazer.23 Há sem dúvida um ponto de vista normativo na compreensão da história humana, pois as civilizações podem ser estudas de acordo com as regras que regulam as ações dos homens que as criaram. As normas, nesse contexto, se sucedem, se sobrepõem, se contrapõem e se integram.24 O Direito apesar de ser uma ciência, não é exata. O Direito faz parte da vida humana em sociedade. Não se pode querer apartar o Direito dos seres humanos. O homem é resultado da integridade de todas as coisas e de tudo que existe. Dividimos a vida humana em vários departamentos apenas para fins de aprendizado e às vezes de trabalho, mas a vida humana forma um todo indivisível. Desde o momento da criação o ser humano vive em completa harmonia com o todo. Somos parte integrante do todo. O Universo nunca quis se separar, nunca almejou a separação entre os homens e entre os homens e ele mesmo25. 22 Rodrigues, Silvio. Direito Civil – Parte Geral, vol I, Editora Saraiva, São Paulo: 1989, 20 ª edição, p. 1. 23 Bobbio, Norberto. Teoria da norma jurídica, Bauru, SP: EDIPRO, 2001, p. 23. 24 Idem. 25 Nas palavras de Goffredo Telles Jr: “Convenci-me de que a ordem jurídica é um simples setor da ordem cósmica” in Bucci, Eugênio. Uma entrevista (com Goffredo AMMA 2º SEM 2022 P ág in a2 2 Em algumas religiões, como o Cristianismo, o homem se separa do paraíso, do todo, para viver uma vida de exilado, sem os benefícios que antes existiam, uma vida diferente, agora sob as novas regras, próprias de novo momento, escolhidas pelos próprios homens e, que em dados momentos, por meio de sacrifícios e oferendas, fazem lembrar a existência de um tempo, de um lugar paradisíaco já esquecido e que não lhe pertence mais, por ter o homem quebrado essas regras. De acordo com essa religião, retornará o homem, algum dia, a esse paraíso depois de uma longa jornada. Essa é a busca de uma sociedade ideal26 que motiva alguns seres humanos. É a caminhada do homem, feita de acordo com as normas, cada vez mais próximas da perfeição ou pelo menos do desejo de perfeição. Interessante notar que o homem pouco a pouco, mais devagar que o desejável, vai aumentando o rol de deveres e direitos por meio da legislação. Estende-os não só a si próprio como espécie, mas a todos as outras também, como a fauna e flora, embora a preocupação sempre se dê entorno de sua figura humana. Os direitos dos animais, por exemplo, levam em consideração os anseios e necessidades próprias do ser humano, sob o ponto de vista humano, é claro. Tudo isso representa a luta entre o antropocentrismo – o homem como centro de tudo – e o biocentrismo – a vida como centro de tudo. Nesse ponto vale lembrar as palavras de Goffreddo Teles Jr.: “Uniforme é o fenômeno da vida. A célula de uma ameba e a célula de um homem são indústrias muito semelhantes. No protozoário, na árvore, nas flores, na lagarta, na andorinha, no meu cachorrinho, em Beethoven; a oficina primordial da vida é sempre a mesma. Somos todos irmãos, nós os vivos. Somos irmãos, porque somos biologicamente semelhantes. “Todos são iguais perante a lei”, diz o Direito. Tal é o mandamento jurídico mais sublime. Com realismo científico, logo após as descobertas modernas sobre a engenharia uniforme de Telles Jr.). Revista do Advogado, ano XXII, nº 67, agosto de 2002, Publicação da associação dos advogados de São Paulo, p. 50. 26 Utopia. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a2 3 todas as células, afirmamos, extasiados, que todos nós somos irmãos de todos os seres vivos. Como irmãos, somos criaturas de um mesmo pai. E não seria de surpreender que, em meio do deslumbramento que nos ilumina, nossos lábios se ponham a murmurar as palavras que nos ensinaram quando éramos crianças: “Pai nosso que estais nos céus... ”27. 14. Vida social e coercibilidade da norma A sanção no Direito existe para que a norma seja cumprida (embora a norma possa ser cumprida espontaneamente). As dimensões do Direito são: a) os fatos que ocorrem na sociedade; b) a valoração que se dá a esses fatos; c) a norma que regula as condutas de acordo com os fatos e valores. 14.1 Exercício Leia o texto, extraído de uma decisão judicial do Supremo Tribunal Federal (Acórdão) e responda: No Brasil a legislação permite a cobrança de dívidas de jogo? Fundamente. (resposta depois do texto) CR 9970 / EU - ESTADOS UNIDOS DA AMERICA CARTA ROGATÓRIA, Relator(a): Min. PRESIDENTE Julgamento: 18/03/2002 Presidente, Min. MARCO AURÉLIO, Publicação, DJ 01/04/200, PP- 00003, Partes, JUST. ROG. : TRIBUNAL DO DISTRITO DOS ESTADOS UNIDOS PARA O DISTRITO DE NEW JERSEY, INTDO.: CITAÇÃO Despacho DECISÃO DÍVIDA DE JOGO - ATIVIDADE LÍCITA NA ORIGEM - AÇÃO - CONHECIMENTO - CARTA ROGATÓRIA - EXECUÇÃO DEFERIDA. 1. Trata-se de carta rogatória originária do Tribunal do Distrito dos Estados Unidos para o Distrito de New Jersey, nos Estados Unidos da América, com o objetivo de citar Osmar Zambardino, a fim de que responda a processo ajuizado por Trump Plaza Associates. Segundo consta do documento de folha 21 a 23, o interessado teria perdido, em jogo, no cassino, o montante de US$ 50.000,00 (cinqüenta mil dólares), vindo então a efetuar o pagamento por 27 Bucci, Eugênio. Uma entrevista (com Goffredo Telles Jr.). Revista do Advogado, ano XXII, nº 67, agosto de 2002, Publicação da associação dos advogados de São Paulo, p. 50. e p. 58. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a2 4 meio de cheques, alfim devolvidos em face da falta de fundos. À folha 58, determinei que se procedesse à intimação do interessado, consoante previsto no artigo 226 do Regimento Interno desta Corte, estando certificado, à folha 64, que não se conseguiu localizar o destinatário. O parecer do Procurador-Geral da República, de folha 68, é pelo indeferimento da execução - por implicar atentado à ordem pública brasileira -, devendo ser devolvida, assim, a carta à Justiça de origem. 2. Após pedir vista dos autos da Sentença Estrangeira Contestada nº 5.404, relatada pelo ministro Sepúlveda Pertence, cujo julgamento encontra-se suspenso, tive oportunidade de refletir sobre a espécie e elaborei voto que não cheguei a proferir, mediante o qual: Na assentada em que teve início a apreciação do pedido de homologação de sentença estrangeira, pronunciou- se o Relator, Ministro Sepúlveda Pertence, no sentido da incidência, na espécie, do disposto na parte final do artigo 17 da Lei de Introdução ao Código Civil: Art. 17 As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. Considerou o Relator a circunstância de as dívidas de jogo ou aposta não obrigarem a pagamento - artigo 1.477 do Código Civil. Pedi vista dos autos para maior reflexão sobre a matéria e exame das peculiaridades do caso. Sr. Presidente, de há muito os brasileiros somos estigmatizados por uma tão suposta quanto propalada malemolência, secundada pelo não menos famoso "jeitinho", traduzido, na maior parte das vezes, como um atalho ilegal ou pouco éticocom vistas à rápida obtenção de algo que demandaria mais esforço se conseguido pelas vias normais. Não passa de lenda, sem a mínima comprovação, a frase atribuída a De Gaulle, no sentido de este não ser um país sério. Entretanto, tal folclore bem revela a visão debochada que têm de nós outros países nem sempre assim tão prósperos: a pouca seriedade de propósitos, o hedonismo generalizado no comportamento das massas populares (consoante o qual toda bem-aventurança advém tão- somente do prazer, e nele se resolve), uma quase atávica passividade teriam engendrado paulatinamente o epíteto de "país do samba, suor e cerveja", de recanto exótico do carnaval e do futebol. Eis a imagem do Brasil no exterior. No campo da Antropologia, houve quem propagasse, como que para reforçar a já baixíssima auto-estima brasileira, que tantas mazelas AMMA 2º SEM 2022 P ág in a2 5 resultaram da fatalidade de termos descendido de degredados, expatriados, enfim, bandidos de toda sorte, miscigenados inicialmente com tribos e mais tribos de índios ignorantes e preguiçosos, e ao depois com contingentes de negros inconformados, macambúzios e insurretos. Tal ideologia foi-nos ministrada em lentas, mas contínuas e eficazes doses durante séculos, a exemplo das distorcidas lições sobre História colonial, aplicadas ainda hoje, já no curso primário. Pois bem, chegamos às portas do terceiro milênio conquistando a duras penas o direito de pelo menos sermos considerados com respeito. Pagamos, com imensos sacrifícios e durante séculos, o tributo da miséria, do medo, do servilismo. Curvamo-nos seguidamente à prepotência dos poderosos, à ambição desmedida dos mais fortes, e por várias vezes tivemos que engolir a seco humilhações profundas à nossa soberania nacional. Sobrevivemos a ditaduras subservientes e à exploração gananciosa de todos os nossos valores - materiais e morais. Não obstante, superando uma história de privações e abusos, com muito trabalho e criatividade, com o sacrifício de gerações inteiras - relembre-se a perdida década de 80 - estamos conseguindo impor-nos como país livre, democrático, em plena maturidade civil. Ainda que não tenhamos atingido a desejada democracia econômica, o estado de bem-estar social, lentamente, mas a passos firmes, estamos chegando à tão sonhada inserção na ordem econômica mundial, haja vista a incontestável liderança brasileira entre os países sul-americanos. Somos a oitava economia do mundo, o quarto exportador de alimentos. Sim, a duras penas vamos conquistando nosso espaço. Repita-se: com o sacrifício de milhões que viveram e morreram à míngua de alguma assistência do Estado. É preciso ressaltar um ponto de supina importância. Nesta quadra de festejada globalização - cujo verdadeiro nome é hipercapitalismo -, a credibilidade vem da segurança. Nos dicionários, as duas palavras se entrelaçam. E aí chegamos ao ponto nevrálgico desta discussão aparentemente banal, mas em cujo âmago residem valores caros à sociedade brasileira. Caberia à Suprema Corte do País dar como que um bill de indenidade, referendar um álibi de modo a tornar impune o comportamento irresponsável e amoral de inescrupulosos para quem a dignidade é valor menor? Há poucos dias, Sr. Presidente, V. Exa. manifestava preocupação ante as repercussões de uma possível greve de juízes na imagem do País. Guardadas as devidas proporções, sustento AMMA 2º SEM 2022 P ág in a2 6 também neste caso que a honra de uma nação não pode ficar comprometida, sequer arranhada, por obra e graça, em última análise, da desfaçatez sem peias de playboys inconseqüentes: não esqueçamos em momento algum que, na hipótese ora examinada, houve o reconhecimento consciente - até com o pagamento de uma primeira parcela - de uma dívida licitamente contraída, de acordo com a lei do local em que avençado o débito. A mim parece que, numa época na qual o famigerado hipercapitalismo corrói todos os valores, à Suprema Corte não cabe emprestar aval a procedimento escuso de quem se pendura nas filigranas obscuras da letra fria - quiçá morta - da lei, mormente se o texto legal padece de notória longevidade. À data em que engenhado o texto civil em comento - 1916 - objetivou-se proteger, em derradeira instância, os alimentos dos mais necessitados contra a insanidade trazida pelo vício hediondo, a corromper inexoravelmente perdulários irresponsáveis. Entrementes, hoje, o que temos? Grassa no nosso País a oficialização da jogatina. Às escâncaras, jogos de azar - bingos e loterias em incontáveis e inimagináveis formas - são abundantemente oferecidos em todas as esquinas, a cada dia de uma maneira mais surpreendente, com ilusórios atrativos, mil chamarizes. A antinomia, na hipótese, é flagrante: a proibição de antigamente contrasta com a habitualidade dos jogos patrocinados pela Administração Pública (em todas as esferas - federal, estadual e municipal) porque somente aos mais cínicos é possível diferenciar os azares da roleta dos reluzentes números - anunciados até pela mídia, em propaganda explícita de incentivo, na maioria das vezes de reconhecida qualidade - relacionados com loterias, bingos, "raspadinhas" e outros concursos de igual jaez, nos quais também se manipula e explora o contexto de esperança num possível revés da sorte. Atente-se para o agravante de que, nas roletas e cassinos, normalmente adentram os mais aquinhoados, cujas dívidas são supostamente incobráveis segundo o arbítrio da velha lei, o que não ocorre na jogatina oficial: quem paga um jogo de loteria com cheque destituído de provisões de fundo é processado e sumariamente executado, sem poder usar os argumentos ora articulados pelo Requerido. Por outro lado, imagine-se o rebuliço que adviria se o Governo, escancarando as cortinas da hipocrisia, e encastelando-se na jurisprudência que agora se almeja recrudescida, retrucasse em brado altissonante: não posso pagar o prêmio AMMA 2º SEM 2022 P ág in a2 7 prometido porque se trata de dívida de jogo, incobrável, portanto. Ainda que se abandone tal argumento, tido talvez por extremado, não se há de recusar que os tempos mudaram bastante de 1916 para cá: a impostura, o imediatismo, o despudor, enfim, os escândalos são maiores e dissociam-se em muito do verdadeiro espírito que norteou a elaboração da lei que agora, em meio a sofismas e falso tecnicismo, pretende-se fazer valer. Vale repisar: a intenção do legislador não foi no sentido de resguardar esbanjadores tão inconseqüentes quanto argutos, e assim, por vias transversas, prejudicar a imagem desgastada, vilipendiada do País, com dano irreparável. Se o vezo, o mau costume pega, não há quem controle a repercussão dessa nefasta jurisprudência, mormente nos dias de hoje, em que a notícia é sempre tão on line no mundo inteiro. Não será inverídica, então, a notícia de que no Brasil é possível gastar-se no exterior sem arcar com custos, isso com o endosso definitivo, irrecorrível do Supremo Tribunal Federal. Close para o devedor que, displicentemente, explica, mascando chicletes: devo, não nego, mas não pago porque a legislação do meu país protege pessoas como eu. Senhor Presidente, é preciso que seja observado um mínimo de decoro, principalmente se a questão envolve o respeito a normas legítimas de outros países. Frisemos, sublinhando, que a harmonia só acontece ante o absoluto respeito ao direito de outrem. Veja-se, por absurdo, a seguinte hipótese. Até recentemente, a venda de pílulas anticoncepcionais era terminantemente proibida no Japão. Vamos imaginar que um determinado cidadão japonês houvesse comprado de nossa indústria farmacêutica algumas toneladas desse medicamento e faturasse a operação. Recebida a partida, na hora de pagar, retruca: esse contrato é nulo porque a origem da transação é obscura e rechaçada no meu país. Por isso, não pago e muitomenos devolvo o que adquiri. A hipótese beira as raias do ridículo, de tão absurda se afigura aos olhos do homem mediano. No entanto, rechaçamos a mesma lógica no caso em tela, em que o Requerido adquiriu bens e serviços, usufruiu de um crédito, participou de uma atividade lícita pela qual se comprometeu a pagar. Daí a minha perplexidade e um certo inconformismo diante de situação que reputo das mais esdrúxulas. Assumindo a postura do Juiz atento à almejada Justiça, sem menosprezo à Lei e ao Direito, concluo de forma diversa da externada pelo Relator, vinculada a vetusta jurisprudência - e estou certo não fosse isso, à mercê AMMA 2º SEM 2022 P ág in a2 8 de grande sensibilidade, outro seria o voto de S. Exa. sobre o real alcance das normas de regência. Aliás, pesquisa realizada nos anais da Corte mostrou- se infrutífera. Não encontrei um único acórdão do Plenário sobre o tema. Os precedentes dizem respeito a decisões da Presidência da Corte negando o exequatur, sendo que nestas não foi analisada a questão relativa à observância do artigo 9º da Lei de Introdução ao Código Civil. Confira- se com os processos de concessão de exequatur nºs 5332-1, 7424-7 e 7426- 3. Conclamo a Corte a uma reflexão sobre o tema, mormente nesta quadra em que o artigo 1.477 do Código Civil ganha contornos mitigados, revelando ser fruto de proibição relativa. Ninguém desconhece a inexistência, no ordenamento jurídico nacional, de ação para cobrar dívida de jogo ou aposta proibidos. Todavia, não se está diante, em si, de ação ajuizada com o fito de impor ao Requerido sentença condenatória de pagamento. O caso é diverso. O Requerido contraiu, nos Estados Unidos da América do Norte, obrigação de satisfazer a quantia de quatrocentos e setenta mil dólares em prestações sucessivas, havendo honrado o compromisso somente no tocante a cinqüenta e cinco mil dólares. A origem do débito mostrou-se como sendo a participação em jogos de azar, mas isso ocorreu nos moldes da legislação regedora da espécie. No país em que mantida a relação jurídica, o jogo afigura-se como diversão pública propalada e legalmente permitida. Ora, norma de direito internacional, situada no mesmo patamar do artigo regedor da eficácia das sentenças estrangeiras, revela que "para qualificar e reger as obrigações aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem" - cabeça do artigo 9º da Lei de Introdução ao Código Civil. Esse dispositivo apenas é condicionado, quando a obrigação deva ser executada no Brasil, à observância de forma essencial, mesmo assim admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato - § 1º do aludido artigo 9º. Portanto, não cabe, no caso, aplicar, relativamente à obrigação contraída e objeto de homologação em juízo, o artigo 1.477 do Código Civil, mas ter presente o direito estrangeiro. É certo estar a homologação de sentença estrangeira subordinada à ausência de desrespeito à soberania nacional, à ordem pública e aos bons costumes. Entretanto, na espécie não concorre qualquer dos obstáculos. Dos três, todos previstos no artigo 17 da Lei de Introdução ao Código Civil, o que aqui se faz merecedor de análise é o AMMA 2º SEM 2022 P ág in a2 9 concernente à ordem pública, porquanto impossível é cogitar-se, em se buscando homologação de sentença estrangeira, de afronta à soberania nacional e aos bons costumes, no que envolvem conceitos flexíveis. Ora, sob o ângulo do direito internacional privado, tem-se como ordem pública a base social, política e jurídica de um Estado, considerada imprescindível à própria sobrevivência. É o caso de indagar-se, à luz dos valores em questão: o que é capaz de colocar em xeque a respeitabilidade nacional: a homologação de uma sentença estrangeira, embora resultante de prática ilícita no Brasil, mas admitida no país requerente, ou o endosso, pelo próprio Estado, pelo Judiciário, de procedimento revelador de torpeza, no que o brasileiro viajou ao país-irmão e lá praticou o ato que a ordem jurídica local tem como válido, deixando de honrar a obrigação assumida? A resposta é desenganadamente no sentido de ter-se a rejeição da sentença estrangeira como mais comprometedora, emprestando-se ao território nacional a pecha de refúgio daqueles que venham a se tornar detentores de dívidas contraídas legalmente, segundo a legislação do país para o qual viajarem. Uma coisa é assentar-se que o jogo e a aposta, exceto as loterias federal e estadual, a quina, a supersena, a megasena, a loteria esportiva, a lotomania, a trinca, as diversas formas de raspadinha e os bingos, não são atos jurídicos no território nacional, ficando as dívidas respectivas no campo do direito natural, na esfera da moral. Quanto a isso, a disciplina pátria não permite qualquer dúvida. Outra diversa é, olvidando-se a regra de sobredireito do artigo 9º da Lei de Introdução ao Código Civil - a afastar a normatização pelas leis do Brasil da prática implementada e segundo a qual, para qualificar e reger as obrigações há de ser aplicada a lei do país em que se constituírem - vir-se a recusar a prevalência de sentença prolatada consoante as normas do país em que situado o órgão julgador. Nem se diga que a homologação da sentença estrangeira ganha, em si, aspectos ligados a um verdadeiro julgamento. As situações são díspares. Enquanto, defrontando-se com uma ação, o julgador deve apreciá-la na extensão total que possua, relativamente à homologação de sentença estrangeira cumpre perquirir tão-só a existência de situação válida e a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e aos bons costumes. Aliás, aqui mesmo no Brasil, restando prolatada sentença sobre dívida de jogo ou aposta ilegais e transitada em julgado (ante o fato de não AMMA 2º SEM 2022 P ág in a3 0 se haver percebido a origem da dívida), admite-se a execução do título respectivo que, enquanto não desconstituído, tem força de sentença transitada em julgado. A hipótese equipara-se a ação versando sobre os jogos admitidos no Brasil. Ninguém se atreveria a dizer carecedor da ação alguém que viesse - e muitos já o fizeram - a demandar visando a receber prêmio de uma das nossas múltiplas loterias. Somente o que passível de ser rotulado como contravenção é que não gera a possibilidade de exigir-se em juízo. Repita-se: o jogo nos Estados Unidos está em tudo igualizado àqueles jogos endossados pela nossa ordem jurídica. Concluindo, as regras do artigo 9º da Lei de Introdução ao Código Civil e do artigo 1.477 do Código Civil são incompatíveis. A primeira exclui a incidência da segunda, revelando lícito o jogo praticado na América do Norte, como, aliás, é o que, no Brasil, tem cunho oficial, sendo que a participação do Estado abre margem, por isso mesmo, a questionamentos na Justiça. Aqui, somente conflita com os bons costumes o jogo ligado à contravenção, não aquele revelado pelos bingos e loterias supervisionados pelo Estado. Conclui-se, assim, sob pena de flagrante incoerência, estar o jogo gerador da dívida constante da sentença que se quer homologada em tudo equiparado aos permitidos no solo pátrio. Fora isso, é sofismar; é adotar postura em detrimento da melhor brasilidade; é enveredar por caminho tortuoso; é solapar a respeitabilidade de nossas instituições, tornando o Brasil um país desacreditado no cenário internacional, porque refúgio inatingível de jogadores pouco escrupulosos, no que, após perderem em terras outras, para aqui retornam em busca da impunidade civil, da preservação de patrimônio que, por ato próprio, de livre e espontânea vontade, em atividade harmônica com a legislação de regência - do país- irmão (artigo 9º da Lei de Introdução ao Código Civil) -, acabaram por comprometer. Em última análise, peço vênia ao nobre Ministro Relator para entender que, relativamente à obrigaçãoque deu margem à sentença, cumpre observar não o disposto no artigo 1.477 do Código Civil, mas a regra do artigo 9º da Lei de Introdução dele constante, que direciona ao atendimento da legislação do país em que contraída a obrigação. Com isso, afasto algo que não se coaduna com a Carta da República, que é o enriquecimento sem causa, mormente quando ligado ao abuso da boa-fé de terceiro, configurado no que o Requerido se deslocou do Brasil para a AMMA 2º SEM 2022 P ág in a3 1 América do Norte, vindo a praticar jogos de azar legitimamente admitidos, e até incentivados como mais uma forma de atrair turistas, contraindo dívida e retornando à origem onde possui bens, quem sabe já tendo vislumbrado, desde o início, que não os teria ameaçados pelo credor. O Requerido assumiu livremente uma obrigação, e o fez, repita-se, em país no qual agasalhada pela ordem jurídica, devendo o pacto homologado ser, por isso mesmo, respeitado. Sopesando as peculiaridades do caso, concluo que não se tem, na espécie, a incidência do disposto no artigo 1.477 do Código Civil e, por via de conseqüência, que descabe falar em sentença estrangeira contrária à ordem pública e, portanto, no óbice à homologação prevista no artigo 17 da Lei de Introdução ao Código Civil. Aliás, outro não foi o entendimento que acabou por prevalecer no julgamento, pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, dos embargos infringentes interpostos por Wigberto Ferreira Tartuce - Processo nº 44.921/97, quando, em 14 de outubro do ano findo de 1999, a Desembargadora Revisora Dra. Adelith de Carvalho Lopes, autora do primeiro voto divergente que formou na corrente majoritária, deixou consignada a incidência, na espécie, do artigo 9º em comento, isso ao defrontar-se com situação concreta menos favorável que a destes autos, porque ligada ao novo instituto de monitória. Eis a ementa redigida: DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. DÍVIDA DE JOGO CONTRAÍDA NO EXTERIOR. PAGAMENTO COM CHEQUE DE CONTA ENCERRADA. ART. 9º DA LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL. ORDEM PÚBLICA. ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. 1. O ordenamento jurídico brasileiro não considera o jogo e a aposta como negócios jurídicos exigíveis. Entretanto, no país em que ocorreram, não se consubstanciam tais atividades em qualquer ilícito, representando, ao contrário, diversão pública propalada e legalmente permitida, donde se deduz que a obrigação foi contraída pelo acionado de forma lícita. 2. Dada a colisão de ordenamentos jurídicos no tocante à exigibilidade da dívida de jogo, aplicam-se as regras do Direito Internacional Privado para definir qual das ordens deve prevalecer. O art. 9º da LICC valorizou o locus celebrationis como elemento de conexão, pois define que, "para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem." 3. A própria Lei de Introdução ao Código Civil limita a interferência do AMMA 2º SEM 2022 P ág in a3 2 Direito alienígena, quando houver afronta à soberania nacional, à ordem pública e aos bons costumes. A ordem pública, para o direito internacional privado, é a base social, política e jurídica de um Estado, considerada imprescindível para a sua sobrevivência, que pode excluir a aplicação do direito estrangeiro. 4. Considerando a antinomia na interpenetração dos dois sistemas jurídicos, ao passo que se caracterizou uma pretensão de cobrança de dívida inexigível em nosso ordenamento, tem-se que houve enriquecimento sem causa por parte do embargante, que abusou da boa fé da embargada, situação essa repudiada pelo nosso ordenamento, vez que atentatória à ordem pública, no sentido que lhe dá o Direito Internacional Privado. 5. Destarte, referendar o enriquecimento ilícito perpretado pelo embargante representaria afronta muito mais significativa à ordem pública do ordenamento pátrio do que admitir a cobrança da dívida de jogo. 6. Recurso improvido. No mesmo sentido, ante o artigo 9º da Lei de Introdução ao Código Civil, decidiu o Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo - apelações nºs 577.331 e 570.426 - precedentes citados pelo Requerente e noticiados no voto do relator. Portanto, acolho o pedido de homologação formalizado. 3. Pelas razões acima, defiro a execução desta carta rogatória, a ser remetida à Justiça Federal de São Paulo, para a ciência pretendida. Ressalto a necessidade de todo o empenho possível na localização do interessado. 4. Publique-se. Brasília, 18 de março de 2002. Ministro MARCO AURÉLIO Presidente Resposta: AMMA 2º SEM 2022 P ág in a3 3 15. Ética Definir a ética não é tarefa fácil. Segundo Álvaro L.M Valls, em sua obra: O que é ética? 22ª edição, Ed. Brasiliense, 2006, p.7: “A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta”. (...) “Tradicionalmente ela é entendida como um estudo ou uma reflexão, científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as ações humanas. Mas também chamamos de ética a própria vida, quando conforme aos costumes considerados corretos”. (...) “A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode ser a própria realização de um tipo de comportamento28”. A Ética é a parte da filosofia que estuda a moralidade do obrar humano, isto é, considera os atos humanos enquanto são bons ou maus. A Ética é uma ciência29 prática, porque não se detém pela contemplação da verdade, mas aplica esse saber nas ações humanas livres. Nesse sentido o filósofo grego Aristóteles30 entende que as virtudes éticas são alcançadas pelo exercício, pelo hábito, pela ação, uma vez que decorrem do saber prático31. O Direito deve ser pautado pela Ética, para atender aos interesses da sociedade, do bem comum e da democracia32. É contra a ética impor verdades33. Até mesmo porque, o que é verdade nessa época de incerteza a respeito do nosso futuro como humanidade? Vale lembrar, ainda, que algumas das teorias mais 28Valls, Álvaro L.M. O que é ética? 22ª edição, Ed. Brasiliense, 2006, p.7. 29 Vale lembrar os ensinamentos de Alfredo Augusto Becker em sua obra Teoria Geral do Direito Tributário, 3ª edição, São Paulo: Lejus, 1998, p. 66: a criação da regra jurídica é arte, mas sua interpretação é ciência. 30 Aristóteles, pensador grego que teria vivido entre 384-322 a.C.. 31 Martins, Ives Gandra da Silva. Ética no Direito e na economia in Fischer, Octavio Campos. Tributos e Direitos Fundamentais, coord., São Paulo: Dialética, 2004, 125 in apud Angel Rodrigues Luño, Ética, Pamplona: Eunsa, 1984, p. 17. 32 Martins, Ives Gandra da Silva. Ética no Direito e na economia in Fischer, Octavio Campos. Tributos e Direitos Fundamentais, coord., São Paulo: Dialética, 2004, 129. 33Dallari, Dalmo de Abreu. Ética. Palestra na fundação Abrinq em dezembro de 2003. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a3 4 importantes da ciência são a teoria da relatividade de Einstein e a teoria da incerteza da Física Quânticade Werner Heisemberg, o que, sob um ponto de vista simplificador e de um leigo, demonstra que a própria ciência, que busca uma verdade absoluta, vê o universo sob o domínio de infinitas variáveis, incertas e relativas. A ética ou é praticada ou não existe. A questão ética não é uma questão teórica, mas essencialmente prática. Não há, em nosso mundo, uma fibra ética que mantenha unida toda a sociedade dita globalizada e isso nos faz muita, muita falta mesmo. A ética não pode ser artificial, criada por uma elite a partir de princípios abstratos próprios, únicos e parciais, imposta à população e que não resistiria a uma reflexão interior mais profunda. Uma discussão a respeito da ética pode nos ajudar a viver com mais consciência do que nós próprios somos, mais conscientes das nossas possibilidades e responsabilidades, mais conscientes dosimensos problemas que estamos enfrentando e que teremos que enfrentar, para levar a vida mais adiante em níveis aceitáveis para as próximas gerações. Devemos ter a percepção de que a ética é muito mais do que uma formalidade, de regras estabelecidas às quais nos adaptamos. É necessária uma interiorização do sentimento e da consciência ética para que nós possamos nos dar conta das atitudes que tomamos. Os primeiros valores éticos são a pessoa humana e a socialidade34 necessária para a vida em comum. Hoje, em nossa sociedade, 34 A socialidade (ver e pensar a pessoa dentro do coletivo) assumiu importância na propriedade privada (função social da propriedade) e nos contratos (função social dos contratos), fazendo valer os valores coletivos sobre os individuais, sem perder de vista o valor fundamental da pessoa humana.Valoriza-se a pessoa humana e sua dignidade acima de qualquer interesse patrimonial. Ver a respeito da socialidade a obra dos autores: Martins-Costa, Judith; Branco, Gerson Luiz Carlos. Diretrizes teóricas do novo Código Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 131: "Ambas – eticidade e socialidade – constituem perspectivas reversamente conexas, pois as regras dotadas de alto conteúdo social são fundamentalmente éticas, assim como as normas éticas têm afinidade com a socialidade. A distinção ora procedida, de cunho meramente metodológico, não faz mais do que assinalar ênfases, ora pendendo para o fundamento axiológico das normas, ora inclinando-se às suas características numa AMMA 2º SEM 2022 P ág in a3 5 predomina o individualismo que permeia todos os campos de atuação do ser humano. Até na formação profissional somos elevados a uma especialização cada vez maior em determinado ramo do conhecimento científico, esquecendo do todo. Em um dado momento, por volta dos séculos XVII e XVIII, quando – assim como hoje – as camadas sociais discriminadas não eram respeitadas como pessoas e, não havia garantia pessoal ou de suas atividades, do seu patrimônio, ou de seus negócios, surgiram pensadores que escreveram a respeito do indivíduo, da igualdade inerente a todos os indivíduos, do respeito que todos merecem e dos direitos que todos têm. Isso acarretou com o desenrolar da história, em uma super valorização do indivíduo e da excessiva individualidade e aos poucos fomos esquecendo que todos, necessariamente, dependemos uns dos outros. A palavra indivíduo pode ser entendida como aquilo que não está dividido e que, portanto, pertence ao todo, uma vez que dele não se separou. Aristóteles disse que o homem é um animal político. Isso significa que a pessoa pertence à polis, na época o núcleo de convivência. O homem só existe na convivência, não existe sozinho. A evolução da humanidade tornou a sociedade mais complexa e especializada, o que aumentou a dependência de uns com os outros. Nós não vivemos apenas, convivemos. Assim, por exemplo, um ponto que é fundamental é a necessidade afetiva. Todos querem amar, todos querem ser amados e, em parte, os problemas da nossa época, de violência, de desajuste da infância e da juventude, são devidos às carências afetivas em momentos cruciais da vida, com a infância e a adolescência. sociedade que tenta ultrapassar o individualismo, não significando, de modo algum, que uma regra ética não se ponha, também, na dimensão da socialidade, e vice-versa" (MARTINS-COSTA, Judith; BRANCO, Gerson Luiz Carlos. Diretrizes teóricas do novo código civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 131). AMMA 2º SEM 2022 P ág in a3 6 Todos nós temos necessidades afetivas. O ser humano necessita do outro, o ser humano, apesar de ser racional necessita viver as emoções para se tornar completo. E na nossa sociedade os sentimentos estão sendo colocados em segundo plano, porque para essa sociedade o que importa é ter e não ser. O ser humano tem a necessidade de expressão, por isso o direito de expressão é um direito humano, um direito resguardado pela nossa constituição, que faz parte das necessidades essenciais da pessoa humana. A pessoa humana tem necessidade de se comunicar, que só se satisfaz na convivência. A pessoa humana tem, portanto, necessidades materiais, afetivas, intelectuais e espirituais. Quando dizemos os direitos de cada um terminam onde começa o direito do outro, estamos esquecendo que os direitos se entrelaçam em direitos e obrigações recíprocas para e com toda a sociedade. Os direitos foram feitos para a convivência em sociedade. A boa convivência implica a existência de uma fibra ética. Ética tem origem na palavra grega ethos que era usada para se referir a costume informado por valores e que, portanto, pode ser adotado. A expressão latina para os costumes é mores e decorrendo daí a moral. Ética e moral têm, desse modo, uma origem comum e dizem respeito aos costumes apoiados por valores. Entre os valores predominantes em nossa sociedade encontramos o poder econômico, que passou a ser medida de tudo, colocando de lado a ética. Infelizmente predomina em nossa sociedade o materialismo. Exercícios de Ética Leia os quatro textos que se seguem e a seguir responda as questões propostas. 1º Texto AMMA 2º SEM 2022 P ág in a3 7 “Assassinos Econômicos (AEs), são profissionais altamente remunerados cujo trabalho é lesar países ao redor do mundo em golpes que se contam aos trilhões de dólares. Manipulando recursos financeiros do Banco Mundial, da Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), além de outras organizações americanas de "ajuda" ao exterior, eles os canalizam para os cofres de enormes corporações e para os bolsos de algumas famílias abastadas que controlam os recursos naturais do planeta. Entre os seus instrumentos de trabalho incluem-se relatórios financeiros adulterados, pleitos eleitorais fraudulentos, extorsão, sexo e assassinato. Eles praticam o velho jogo do imperialismo, mas um tipo de jogo que assumiu novas e aterradoras dimensões durante este tempo de globalização. Eu sei do que estou falando; eu fui um AE35.(...) O meu trabalho, disse ela, era fazer as previsões dos efeitos de investir bilhões de dólares num país. Especificamente eu produziria estudos que projetassem crescimento econômico 20 a 25 anos no futuro e que avaliassem as consequências de diversos projetos. Por exemplo, se uma decisão fosse tomada para emprestar 1 bilhão de dólares a um país a fim de persuadir os seus líderes a não se alinharem com a União Soviética, eu compararia os benefícios de investir aquele dinheiro em usinas elétricas com os benefícios de investir numa nova rede ferroviária nacional ou num sistema de telecomunicações. Ou poderia ser informado de que aquele país estava tendo a oferta de uma oportunidade de receber um moderno sistema de abastecimento elétrico, dependeria de mim, demonstrar que aquele sistema resultaria em crescimento econômico suficiente para justificar o empréstimo. O fator crítico, em cada caso, era o produto nacional bruto. O projeto que resultasse na maior média anual de crescimento do PNB36 venceria. Se apenas 35 Perkins, John. Confissões de um assassino econômico. Tradução de Henrique Amat Rego Monteiro. São Paulo: Cultrix, 2005, p. 9. 36 PNB – Produto Nacional Bruto é o valor agregado de todos os bens e serviços resultante da mobilização de recursos nacionais (pertencentes a residentes no país) independentemente do território econômico em que foram produzidos. Incluem-se nele o valor da depreciação e o resultado, positivo ou negativo, da conta de rendimento do capital do balanço de pagamentos. Ou seja, os rendimentos recebidos em decorrência de investimentos no exterior são agregados ao PNB; paralelamente, deduzem-se os rendimentos remetidos ao exterior em virtude de inversões do capital estrangeiro no país. Por outro lado, oPNB resulta o valor bruto AMMA 2º SEM 2022 P ág in a3 8 um projeto estivesse em consideração, eu precisaria demonstrar que desenvolvê-lo traria benefícios superiores ao PNB. O aspecto velado de cada um desses projetos era que eles pretendiam criar grandes lucros para os contratantes, e fazer a felicidade de um punhado de famílias ricas e influentes nos países recebedores, enquanto assegurava a dependência financeira a longo prazo e, portanto, a lealdade política de governos ao redor do mundo. Quanto maior o empréstimo, melhor. O fato de que a carga da dívida colocada sobre um país privaria os seus cidadãos mais pobres de saúde, educação e de outros serviços sociais por décadas no futuro não era levado em consideração37. Claudine e eu discutíamos a natureza enganosa do PNB. Por exemplo, o crescimento do PNB pode ocorrer mesmo quando ele favorece apenas uma pessoa, como um sujeito que seja proprietário de uma empresa prestadora de serviços públicos, e mesmo que a maioria da população seja sobrecarregada com a dívida. Os ricos ficam mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Ainda da produção, deduzidas as transações intermediárias. (...) Quando o PNB é inferior ao PIB – Produto Interno Bruto, o país em questão remete para o exterior mais renda do que recebe, conforme: Sandroni, Paulo. Dicionário de administração e finanças. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2000, p. 410/411. 37 A dívida externa brasileira em 2006 era aproximadamente US$ 230 bilhões de dólares, pouco menos de 40% do PIB. Deste total, cerca de US$ 98 bilhões correspondem à dívida pública. O Brasil devia aos países do Clube de Paris cerca de US$ 3,7 bilhões, que deviam ser desembolsados até o final de 2006. Outros US$ 13 bilhões correspondem às dívidas com organismos bilaterais e multilaterais de fomento ao desenvolvimento. O perdão da dívida é muitas vezes a única alternativa possível para países menos desenvolvidos. (...) Segundo recente relatório da UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura, em parceria com a CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, a América Latina precisa aumentar em US$ 13,5 bilhões seus investimentos anuais em educação, a fim de alcançar as metas de Educação Para Todos. O Brasil é o país da região que maior volume de recursos adicionais necessita, algo em torno de US$ 3,6 bilhões ao ano. Isso representaria um crescimento de, aproximadamente, 15% dos investimentos em educação atualmente realizados pelo país. Representa, contudo, pouco mais de 0,5% do PIB brasileiro. Conforme http://www.unesco.org.br/noticias/opiniao/index/comitesocialdivida/mostra_docu mento, acessado em 05 de agosto de 2006. http://www.unesco.org.br/noticias/opiniao/index/comitesocialdivida/mostra_documento http://www.unesco.org.br/noticias/opiniao/index/comitesocialdivida/mostra_documento AMMA 2º SEM 2022 P ág in a3 9 assim, do ponto de vista da estatística, isso é registrado como progresso econômico38”. 2º Texto Assim como os problemas teóricos morais não se identificam com os problemas práticos, embora estejam estritamente relacionados, também não se podem confundir a ética e a moral. A ética não cria a moral. Conquanto seja certo que toda moral supõe determinados princípios, normas ou regras de comportamento, não é a ética que os estabelece numa determinada comunidade. A ética depara com uma experiência histórico-social no terreno da moral, ou seja, com uma série de práticas morais já em vigor e, partindo delas, procura determinar a essência da moral, sua origem e as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a natureza e a função dos juízos morais, os critérios de justificação destes juízos e o princípio que rege a mudança e a sucessão de diferentes sistemas morais. A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é ciência de uma forma específica de comportamento humano. (...) Se por moral entendemos um conjunto de normas e regras destinadas a regular as relações dos indivíduos numa comunidade social dada, o seu significado, função e validade não podem deixar de variar historicamente nas diferentes sociedades. Assim como umas sociedades sucedem as outras, também as morais concretas, efetivas, se sucedem e substituem umas as outras. Por isso, pode-se falar da moral da Antiguidade, da moral feudal própria da Idade Média, da moral burguesa, na sociedade moderna etc. Portanto, a moral é um fato histórico e, por conseguinte a ética, como ciência da moral, não pode concebê-la como dada de uma vez para sempre, mas tem de considerá-la como um aspecto da realidade humana mutável com o tempo. Mas a moral é histórica precisamente porque é um modo de comportar-se de um ser – o homem – que por natureza é histórico, isto é, um ser cuja característica é a de estar-se fazendo ou se autoproduzindo constantemente tanto no plano de sua existência material, prática, como no de sua vida espiritual, incluída nesta a moral. (...) A moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que 38 Perkins, John. Idem p. 38/39. AMMA 2º SEM 2022 P ág in a4 0 estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livre e conscientemente, por uma convicção íntima, e não uma maneira mecânica, externa ou impessoal”39. 3º Texto Para a ética, o que importa não é o benefício de um indivíduo ou de um específico grupo de indivíduos: o ponto de vista da ética não é egoístico, individual ou pessoal, mas coletivo, universal, visando toda a coletividade humana. As ações ditas éticas devem se reportar a um público maior, a uma base mais ampla, pois a ideia de ética traz consigo a ideia de uma coisa maior40. O preceito Cristão, comum em outras religiões41, é essencialmente ético: “amai-vos uns aos outros como ama a ti mesmo”, porque estabelece uma igualdade na forma de amar e porque estabelece a necessidade de se autoconhecer42. Para Emmanuel Kant43 a maneira de agir ética, conforme expresso em seu imperativo categórico é atuar: “sempre de tal maneira que a máxima de tua ação possa ser lei universal ou bem atua sempre de tal modo que o ser humano, seja você ou seja o outro, sejam sempre tomados como um fim, não como um meio” (tradução livre)44. 39 Sánchez Vasquez, Adolfo. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, p. 22, 23, 37 e 84. 40 ALMEIDA, Guilherme Assis de; Christmann, Martha Ochsenhofer. Ética e direito: uma perspectiva integrada, 2ª edição, São Paulo: Atlas, 2004, p. 15/16. 41 A chamada regra de ouro. 42 Idem, p. 16. 43 Emmanuel Kant, (1724-1804) Kant nasceu, viveu e morreu em Konisberg, uma cidade da Prússia Oriental (Alemanha). Era filho de um humilde comerciante de descendência escocesa. Frequentou a Universidade a partir de 1740, como estudante de filosofia e matemática. Dedicou-se ao ensino, vindo a desempenhar as funções de professor adjunto (1755-1770) e depois de professor ordinário (1770-1796) na Universidade de Konisberg. Inhttp://afilosofia.no.sapo.pt/12Kant.htm 44E. Kant. Hacia la paz perpetua, Biblioteca Nueva, Madrid, 199, p. 113, in Apud GARZA, MARIA Teresa de la. Política de la memória: Una mirada sobre ocidente desde el margen. Rubi (Barcelona): Anthropos Editorial; México: Universidad Iberoamericana, 2002, p94. http://afilosofia.no.sapo.pt/12Kant.htm AMMA 2º SEM 2022 P ág in a4 1 Já em relação à política, afirmava Kant: a política diz – se astutos como as serpentes. A moral (acrescenta) como condição limitativa: e sem malícia, como as pombas. Se não podem coexistir ambas em um mesmo preceito, então, existe realmente um choque entre a política e a moral; porém, se se unem, resulta absurdo conceito
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