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Geovana Sanches, TXXIV HIPERTENSÃO RENOVASCULAR HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA Epidemiologia No Brasil, a HAS atinge 32,5% (36 milhões) dos indivíduos adultos e mais de 60% dos idosos, contribuindo direta ou indiretamente para 50% das mortes por doença cardiovascular. É importante verificar, ainda, que há muitos pacientes que apresentam a doença e não tem o diagnóstico, de forma que não fazem tratamento e, consequentemente, não estão em controle adequado. Dados norte-americanos de 2020 relevaram que HÁ estava presente em 69% dos pacientes com primeiro episódio de IAM, 77% de AVE, 75% com IC e 60% com DAP. Além disso, a hipertensão arterial é responsável por 45% das mortes cardíacas e 51% das mortes decorrentes de AVE. Trata-se da primeira causa de doença renal no Brasil. Etiologia • Hipertensão do avental branco: diz respeito aos pacientes que não são hipertensos no dia-a-dia, porém, ao aferir a pressão arterial no consultoria, esta encontra-se aumentada. o Corresponde a aproximadamente 20 a 25% dos pacientes o Apresentam risco de lesão em órgão-alvo maior do que os pacientes normotensos • Normotensão ou hipertensão controlada • Hipertensão ou hipertensão não controlada • Hipertensão mascarada: diz respeito àqueles pacientes que fora do consultório médico são hipertensos, mas, durante a consulta e aferição, estão normotensos. Não há uma explicação bem definida. o Corresponde a aproximadamente 20% dos pacientes o É de difícil diagnóstico, sendo que em geral é descoberta principalmente ao verificar lesões de órgãos-alvo Exames de rotina para o paciente hipertenso Auxiliam tanto no diagnóstico da hipertensão, quanto para análise de comorbidades associadas. • Análise de urina (Urina I) o Verifica dano glomerular e causa renal para hipertensão secundária • Potássio plasmático o Impacto no hiperaldosteronismo primário e na avaliação da terapêutica (iECA ou BRA não podem ser utilizados nos casos de hiperpotassemia) • Glicemia de jejum o Associação com DM aumenta risco cardiovascular • Ritmo de filtração glomerular estimado (RFG-e) o Verificar alteração renal • Creatinina plasmática • Colesterol total, HDL-c e triglicérides plasmáticos o Dislipidemia aumenta ainda mais o risco cardiovascular • Ácido úrico plasmático o Demonstrou-se a hiperuricemia como fator de risco isolado para mortalidade cardiovascular • Eletrocardiograma convencional o Realizado com o intuito de detectar dano no coração, buscando hipertrofia de ventrículo esquerdo ou alterações isquêmicas por coronariopatias relacionadas a hipertensão arterial Abordagem terapêutica • Diagnóstico o Consultório o MAPA: monitorização ambulatorial da pressão arterial – faz-se média da PA através das medidas de 24h. § Durante o sono, deve-se ter queda da PA em 10%. Caso isso não ocorra, há maior incidência de lesão em órgão-alvo o MRPA: monitorização residencial da pressão arterial – mimetiza o MAPA, porém com aferições realizadas em casa. Um dos problemas é a aferição correta da pressão arterial, com aparelhos adequados. Faz-se 6 aferições no dia, durante 5 dias e, Geovana Sanches, TXXIV posteriormente, a média da PA baseada em 30 aferições. • Estratificação de risco cardiovascular através de escalas de risco, como a Framingham o Classificação § Baixo risco: até 10% de chance de ECV em 10 anos § Médio risco: 10 a 20% de chance de ECV em 10 anos § Alto risco: acima de 20% de chance de ECV em 10 anos • Pesquisa de lesões em órgãos-alvo o Retinopatia hipertensiva (avaliação através do exame de fundo de olho) o Hipertrofia ou dilatação do ventrículo esquerdo o Lesão renal o Aumento da espessura da camada média da carótida (avaliação através do doppler de artérias carótidas) • Tratamento o Uso de drogas com ação sinérgica o Pacientes com HAS grau I com alto risco cardiovascular e em estágios II e III à recomendação de associação de classes anti- hipertensivas § Controle com monoterapia nesses casos é inferior a 30% o Tratamento não medicamentoso § Mudança do estilo de vida § Perda de peso § Sono reparador § Atividade física regular § Cessação do tabagismo Urgência hipertensiva X Emergência hipertensiva Urgência Emergência Nível pressórico elevado acentuado, com PAD > 120 mmHg Nível pressórico elevado acentuado, com PAD > 120 mmHg Sem lesões em órgão alvo (LOA) aguda e progressiva Com LOA aguda e progressiva Combinação medicamentosa oral Medicamento parenteral (nitroprussitato de sódio) Sem risco iminente de morte Com risco iminente de morte Acompanhamento ambulatorial precoce (7 dias) Internação em UTI HIPERTENSÃO ARTERIAL SECUNDÁRIA Correspondem a cerca de 5% dos casos de hipertensão arterial. Etiologia • Causas renais o Doença renal parenquimatosa § Insuficiência renal crônica o Doença renovascular: obstrução das artérias renais, com estímulo exacerbado da renina • Causas endócrinas o Hiperaldosteronismo primário o Síndrome de Cushing o Feocromocitoma o Hipertireoidismo: há aumento do débito cardíaco o Hipotireoidismo: há diminuição do débito cardíaco, com aumento compensatório da resistência vascular periférica à HA sistólica o Acromegalia o Hiperparatireoidismo primário • Coarctação da aorta: cursa com grande diferença entre os pulsos de membros superiores e inferiores, além de grande hipertrofia do ventrículo esquerdo • Síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS): é comum em pacientes obesos e com aumento da circunferência do pescoço. Apresenta diversos distúrbios relacionados ao sono não reparador (desatenção, diminuição da libido, irritabilidade etc.) • Causas medicamentosas o Anti-inflamatórios não hormonais o Anti-inflamatórios hormonais o Contraceptivos orais o Anabolizantes o Ciclosporina o Tacrolimus o Eritropoetina humana o GH o Cafeína o Anfetamina o Sibutramina o Ritalina Geovana Sanches, TXXIV o Cocaína o Álcool Antes de investigarmos causas secundárias de HAS, devemos excluir: • Medida inadequada da PA • Hipertensão do avental branco • Tratamento inadequado (por medicações com doses inadequadas ou falta de associação de medicações sinérgicas) • Não adesão ao tratamento • Progressão das lesões nos órgãos-alvo da hipertensão, indicando controle inadequada da pressão arterial • Presença de comorbidades • Interação com medicamentos HIPERTENSÃO RENOVASCULAR A hipertensão renovascular (HR) é definida como HAS decorrente de uma isquemia renal, geralmente causada por uma lesão obstrutiva parcial ou completa de um ou ambas as artérias renais – há grande estímulo para a liberação de renina, ativando todo o SRAA. Sua prevalência pode atingir 5% dos pacientes com HAS e ela pode ser causada por: • Aterosclerose: é a causa mais comum, com prevalência em torno de 90%. Em geral, ocorrem em pacientes mais idosos, que já apresentam aterosclerose em outros locais do organismo. o A estenose aterosclerótica de artéria renal é geralmente progressiva, sendo que 40% das obstruções acima de 75% evoluem para obstrução total entre 1 e 5 anos. • Displasia fibromuscular: é uma doença adquirida, encontrada com mais frequência em mulheres jovens de cor branca - pacientes por volta da 3ª década de vida e com maior prevalência no sexo feminino. o Entre os vários tipos de lesões fibrodisplásicas, a mais comum é aquela que envolve a camada média da parede do vaso. Geralmente seu acometimento é bilateral, envolvendo as porções distais da artéria renal Características sugestivas de hipertensão renovascular • Início abrupto da hipertensão arterial antes dos 30 ou após os 50 anos • Hipertensão estágio II ou III, acelerada ou maligna • Hipertensão refratária à múltipla terapia o Necessário 3 ou mais drogas anti- hipertensivas, sendo uma delas um diurético • Hipertensão estágioII ou III na presença de aterosclerose difusa (em outros territórios) • Presença de sopro epigástrico sistólico / diastólico, refletindo a dificuldade de passagem de sangue pela artéria renal o Encontrado em 30 a 35% dos pacientes • Hipertensão estágio II ou III com insuficiência renal sem explicação • Azotemia significante induzida por inibidor da enzima conversora da angiotensina ou por bloqueador do receptor da angiotensina • Assimetria no tamanho renal: diferença > 1,5 cm entre um rim e o outro, o que pode denotar uma diminuição da perfusão no rim que está diminuído. • Edema pulmonar sem causa aparente em paciente com hipertensão Geovana Sanches, TXXIV Indicadores clínicos de probabilidade de hipertensão renovascular Probabilidade Características clínicas Baixa (0,2%) HA limítrofe ou leve / moderada não complicada Média (5 – 15%) > HA grave ou resistente > HA recente < 30 anos ou > 50 anos > Presença de sopro abdominal > Assimetria de pulsos radiais ou carotídeos > HA moderada associada a tabagismo ou a aterosclerose em outro local (coronária ou carótida) > Déficit da função renal indefinido > Resposta pressórica exagerada ao iECA Alta (25%) > HA grave ou resistente com IR progressiva > HA acelerada ou maligna > EAP súbito > Aumento de creatinina induzido por iECA > Assimetria de tamanho ou função renal Recomendações da ACC/AHA para pesquisa de estenose de artéria renal • Início de hipertensão < 30 anos (B) • Início de hipertensão grave > 55 anos (B) • Hipertensão acelerada / maligna (C) • Hipertensão resistente (C) • Uremia ou piora da função renal após uso de iECA ou BRA, com > 30% de queda na filtração glomerular (B) • Rim atrófico de causa não esclarecida ou discrepância de tamanho entre os dois > 1,5 cm (B) • Edema pulmonar súbito inesperado, sobretudo em pacientes urêmicos (B) Diagnóstico Existem diversos exames diagnóstico, sendo o mais utilizado o renograma com captopril. Trata-se de uma cintilografia com contraste radioativo (como o DPTA) que tem predileção pelo parênquima renal; o captopril é utilizado para aumentar a sensibilidade do teste. Com isso, há avaliação da funçõa tubular e glomerular dos rins direito e esquerdo. É importante lembrar que, em condições normais, a função renal é dada 50% por cada um deles e, em caso de lesão, essa relação estará alterada. Outro exame importante é a ultrassonografia com doppler, mas este é extremamente dependente do observador. Além disso, é muito influenciado pela anatomia do paciente, sendo que a presença de flatus em excesso ou obesidade podem dificultar a observação da artéria renal no exame. A angiotomografia por sua vez, necessita do contraste iodado para sua realização, o qual é nefrotóxico e, portanto, não muito indicado. Já a angioressonância, apesar de utilizar contraste não nefrotóxico, é um exame mais caro e por isso, com baixa disponibilidade. Arteriografia Fluxograma Tratamento Há três possibilidade terapêuticas na hipertensão renovascular: medicamentosa, dilatação da estenose da artéria renal com ou sem Geovana Sanches, TXXIV implante de stents no vaso acometido e abordagem cirúrgica por revascularização ou autotransplante (retirada do rim do paciente e realocação na artéria ilíaca). Tratamento medicamentoso • Mudança do estilo de vida • Abandono do tabagismo • Anti-hipertensivo o Associação de drogas sinérgicas o Não pode utilizar iECA ou BRA quando há estenose bilateral da artéria renal ou unilateral em paciente com rim único, pois nesses casos a TFG depende da renina. § Boa opção para pacientes com estenose unilateral em um indivíduo com 2 rins – nesses casos, há grande resposta ao tratamento. • Antiagregantes plaquetários o AAS 100 mg, objetivando reduzir o risco cardiovascular (prevenção secundária) • Estatina o Manter LDL-c abaixo de 70 (prevenção secundária) o Retardo na progressão da placa aterosclerótica Cirurgia versus procedimento percutâneo Considera-se estenose significativa de artéria renal a que oclui pelo menos 60% da luz do vaso estimada visualmente, com gradiente de lesão maior que 20 mmHg ou gradiente médio maior que 10 mmHg. Estudos demonstraram que os procedimentos invasivos (cirurgia e procedimento percutâneo) são superiores no tratamento apenas da doença fibrodisplásica, sendo que nos demais casos, não se demonstrou benefício superior ao tratamento medicamentoso. A única constatação benéfica foi que os pacientes passaram a utilizar menos drogas anti-hipertensivas, mas não se tornaram normotensos. Além disso, não foi demonstrada melhora da função renal, tendo em vista que ao realizar a cirurgia a perda de néfrons já está instalada e a reperfusão não consegue alterar isso. Associadamente, postula-se que a aterosclerose atinge também as artérias intra-renais, de forma que a simples reperfusão da artéria renal não desobstruirá os demais segmentos. Através desses estudos, a abordagem invasiva é cada vez menos utilizada, perdendo seu espaço para o tratamento medicamentoso. Assim, atualmente é quase exclusiva para os casos de doença fibrodisplásica ou para pacientes que, apesar de utilizarem 3 ou 4 medicamentos, não conseguem controlar a pressão arterial – sendo que nesses casos a angioplastia pode auxiliar nesse controle.
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